Curso Online A Escola no Combate ao Trabalho Infantil Professora Walderez Nosé Hassenpflug1 Trabalhar por Projetos Olá, professor, olá professora Neste texto reunimos algumas dicas e reflexões no sentido de colaborar com você na definição do seu projeto educativo. Para início de conversa Se você já tem alguma experiência com esse tema, ótimo! Assim, você poderá enriquecer este texto com seus aprendizados e colocá-los à disposição de seus colegas e aprender com eles também. Se esta é a sua primeira experiência com projetos educativos, não se preocupe, ao contrário, anime-se. O trabalho por projetos é um convite para que você se predisponha a enriquecer a sua rotina diária ao ousar e experimentar uma nova forma de atuação em que você, os alunos, colegas, comunidade escolar estarão igualmente envolvidos em aprender e buscar resultados. O projeto a ser desenvolvido lhe dará a oportunidade de se tornar um curioso e entusiasmado caçador de novos conhecimentos e transformador da realidade, sempre pronto a fazer boas perguntas e descobrir como respondê-las. Nesse processo, você deixa de ser a única fonte de conhecimento para se tornar um organizador e coordenador das ações, um mediador competente entre a sua turma e o conhecimento, um incentivador do diálogo, da cooperação e da participação. 1 www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 1 Walderez Nosé Hassenpflug, é pedagoga e trabalhou por 23 anos na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, onde ocupou os cargos de professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola e supervisora de ensino. Na Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo foi diretora de escola por dois anos. Por nove anos trabalhou no Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), na formação de professores, educadores sociais e técnicos de ensino público e na produção de materiais didáticos. Coordenou por quatro anos o Programa Educação pelo Esporte do Instituto Ayrton Senna. Projetos educativos e concepção de aprendizagem Como você já deve ter percebido, o trabalho por projetos pressupõe uma certa concepção de aprendizagem, segundo a qual o professor não é um transmissor de conhecimentos, nem os alunos são receptores passivos de informações, mas ativos participantes da construção e reconstrução de conhecimentos. Por esta concepção de aprendizagem, aprendemos agindo e interagindo com pessoas, objetos, lugares, com as nossas estruturas internas e com o próprio conhecimento. Ao trabalhar com projetos, professores e alunos têm a oportunidade de (re)construir novos saberes, participando ativamente de um conjunto de atividades em que planejam, refletem, tomam decisões, pesquisam, coletam e organizam dados, discutem e tiram conclusões e em que aprimoram sua capacidade de observação e reflexão. Criamos disposição para aprender quando a proposta de aquisição de conhecimento mobiliza nossos interesses e quando nos sentimos desafiados, mas com condições de enfrentar o novo desafio. Nesse processo vamos ampliando, transformando, (re)construindo novos conhecimentos e significados sobre o mundo em que vivemos, sejam eles atitudes, conceitos, valores, competências. Quando aprendemos, mobilizamos todas as nossas dimensões e de tal forma que qualquer impacto em uma dimensão se reflete nas demais. Assim, aprender algo novo afeta não só nossa estrutura mental, mas nossas emoções, atitudes e valores. Quando aprendemos qualquer coisa, aprendemos também que somos capazes de aprender, o que reforça a nossa autoconfiança e nos predispõe a novas aprendizagens. A aprendizagem é sempre contextualizada, se dá no ambiente cultural em que o aluno vive, intermediada pelas relações que mantém. Assim, é preciso que o contexto sociocultural do aluno, suas experiências e seus conhecimentos sejam considerados como uma base de sustentação para a aquisição de novos conhecimentos, para que ocorram aprendizagens que, ao se relacionarem com sua vida, tenham significado para o aluno. Ao definir seu projeto educativo, lembre-se de que ele deve refletir a sua concepção de aprendizagem, que deve manter coerência com as ações que estão sendo propostas. Etapas de um projeto educativo www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 2 As etapas podem variar de acordo com a amplitude e duração do projeto. Uma forma de organizá-las é a seguinte: Primeira etapa: Escolha do tema a ser proposto. Envolvimento dos parceiros. Discussão sobre o projeto: expressão de ideias, dúvidas, crenças e definição das linhas gerais do projeto. Definição dos resultados e produtos que se pretende alcançar. Segunda etapa: Definição do Plano de Ação: o que vai ser feito e de que jeito vai ser feito (estratégias/atividades), o que se pretende com cada ação (objetivos), de que jeito vai ser feito, quem vai participar, quais as responsabilidades de cada um, em que espaço, em que tempo (cronograma). Implementação do plano. Terceira etapa: Acompanhamento das ações. Avaliação de processo e avaliação final. Quarta etapa Disseminação dos produtos e resultados. Decisão sobre novos projetos. Escolha do tema São inúmeras as possibilidades de projetos educativos. Como escolher a mais adequada? Lembre-se de que um projeto educativo é definido em função de uma necessidade específica, que pode ser a solução de um problema ou a busca de alguma melhoria. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 3 Um ponto de partida pode ser elencar algumas situações nas quais se quer intervir e estabelecer prioridades, valendo-se da sua sensibilidade e conhecimento da situação. É importante considerar que a escolha do tema central do projeto deve considerar os interesses e motivações da turma ou das turmas com quem você trabalha. São várias as situações que podem dar origem a um projeto. O tema pode nascer de uma roda de conversa envolvendo você e seus alunos em que eles manifestem interesse por um tema que esteja no centro das atenções, por exemplo, um campeonato de esportes, os Jogos Olímpicos, os processos eleitorais, epidemias e outros problemas de saúde etc. Outra possibilidade para a definição de um tema são eventos realizados pelas escolas como festas, comemorações, campeonatos, gincanas etc. Nestes casos, é importante que tais eventos não se constituam em um fim em si mesmo, mas que propiciem aos alunos o exercício de competências como: aprender a planejar, organizar e realizar eventos; estimular a participação de pais e alunos nas decisões; ampliar e qualificar a relação entre os componentes da comunidade escolar; valorizar as tradições culturais da comunidade etc. A necessidade de aprofundar algum tema que não foi esgotado em um projeto anterior e que continua gerando o interesse dos alunos pode gerar um novo tema a ser pesquisado. Por exemplo: um projeto de educação ambiental que se proponha a estudar a flora, visando aprender a preservá-la pode gerar um outro estudo sobre a fauna (aves, animais), e sua importância para a disseminação de sementes, que resulte em um projeto de alimentação de pássaros na escola, nas casas, nas praças públicas etc. Um projeto educativo pode surgir ainda de uma demanda diagnosticada por você, professor. Você constatou, por exemplo, que apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente estar em vigor há mais de dez anos, e apesar de todos os esforços para sua divulgação, há muito que fazer para que ele seja conhecido e reconhecido como um instrumento importante para a efetivação dos direitos das crianças e adolescentes. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 4 Você acredita que é importante que as crianças e adolescentes conheçam seus direitos e aprendam a exigi-los, envolvendo também nessa luta os pais e toda a equipe escolar, uma vez que esse trabalho, pela sua importância e envergadura, não é só seu, mas de todos os envolvidos com as questões da infância e adolescência. Você se depara então com as questões: como conseguir a adesão dos parceiros? Como envolver os alunos? Como trabalhar a corresponsabilidade de todos com os resultados? É preciso então preparar-se para envolver os parceiros. Envolvimento dos parceiros Elabore um plano de apresentação do projeto e prepare-se bem para esse momento. Lembre-se de levantar bons argumentos e demonstrar firmeza e convicção. Mais do que apresentar respostas, preocupe-se em problematizar, levantar questionamentos sobre o tema, para criar um certo “desconforto” que mobilize os ouvintes para a ação. Quando sentir que o seu projeto se transformou no nosso projeto é hora de dar prosseguimento ao planejamento e detalhamento das ações. Desde o início é importante deixar claro quais são os principais resultados e os produtos que todos esperam alcançar: aprender mais sobre determinado tema, organizar um evento esportivo ou uma festa, montar uma peça de teatro, uma biblioteca na sala, produzir um caderno de receitas, de poesias, fazer uma intervenção em uma rua ou praça pública do bairro, conhecer a história do bairro etc. É importante que seja escolhido um coordenador do projeto ou formada uma equipe de coordenação que vai se encarregar, entre outras funções, de estabelecer um cronograma de reuniões para estudo e acompanhamento das ações e responsabilizar-se pela convocação e comunicação com os demais envolvidos. Planejamento das ações Envolvidos os parceiros, é hora de prosseguir no planejamento das ações com vistas à definição e registro do Plano de Ação. No processo de planejamento, retomam-se as decisões iniciais para aprofundamento e detalhamento dos aspectos que vão compor o Plano de Ação como: - qual é o público-alvo do nosso projeto? Pais? Alunos? Comunidade? Todos? - como vamos envolver o público-alvo? - que resultados pretendemos alcançar? Que objetivos descrevem os resultados a serem alcançados? - como vamos nos organizar para realizar o que foi planejado? - que ações vamos desenvolver? Que estratégias vamos utilizar? www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 5 - como vamos documentar/registrar o desenvolvimento do projeto? - de quanto tempo vamos necessitar para desenvolver este projeto? - como saber se estamos atingindo ou não nossos objetivos? - a quem vamos comunicar os resultados do projeto? Quais as estratégias que vamos utilizar para isso? Registro do Plano de Ação Podemos dizer que o plano de ação é um mapa que mostra o roteiro a ser seguido pelos participantes de uma viagem de descobertas: nele estão o ponto de partida, o percurso, os lugares a serem visitados, pontos de parada para avaliar o percurso até que se chegue ao final da viagem. Para preservar a memória do caminho percorrido na viagem, diários são escritos, fotos e vídeos são produzidos, pois, na volta, queremos partilhar com os amigos as alegrias da viagem. Pois bem, o registro de um plano de ação referente a um projeto educativo guarda semelhanças com o que acabamos de dizer. Embora não exista um modelo padrão de registro, algumas etapas sempre estão presentes: público-alvo, justificativa, objetivos, conteúdos, estratégias/atividades, cronograma, responsáveis, avaliação e disseminação. Gostaria de salientar entre todos os itens acima mencionados a questão da definição de objetivos, estratégias/atividades, avaliação e disseminação. Definição dos objetivos Se o plano de ação é um mapa que registra o roteiro de todo o projeto, os objetivos são a bússola que orienta o percurso. Diz um ditado popular que nenhum vento ajuda quem não sabe aonde quer chegar. Portanto, a definição de objetivos é uma tarefa de suma importância para alcançar os resultados esperados. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 6 No caso de um projeto multidisciplinar, o ideal é que os objetivos gerais sejam definidos coletivamente por todos aqueles que participam do projeto. Essa prática permite a formação de uma comunidade de sentido, isto é, de um grupo de pessoas que se unem em torno de um objetivo comum, que todos consideram importante para a criação de condições e oportunidades de aprendizagens significativas para os envolvidos. Com base nos objetivos gerais do projeto, cada professor define seu plano de ação em alinhamento com as decisões do grupo. Como já vimos, os objetivos refletem os resultados que queremos alcançar com o projeto. Indicam que conceitos, competências, atitudes, procedimentos, valores você quer que seus alunos adquiram, ampliem, reformulem ou substituam. Cabe a você, professor, escolher objetivos que reflitam as mudanças que você quer alcançar com sua turma. Para isso, defina suas prioridades, isto é, o que é mais importante focar, considerando as necessidades da sua turma. Assim você não se perde e fica mais fácil acompanhar os avanços da sua turma. Nesse sentido, é importante que os objetivos gerais sejam desdobrados em outros mais específicos, de tal forma que possibilitem uma avaliação mais consistente. Por exemplo, você tem como objetivo que seus alunos aprendam a trabalhar em grupo. Pense então: que comportamentos evidenciam que eles estão efetivamente aprendendo a trabalhar em grupo? O que indica que esse objetivo está sendo alcançado? Alguns comportamentos podem funcionar como indicadores, quando eleitos por você, de acordo com as necessidades de seus alunos: O aluno olha para quem fala; espera a vez de falar; contribui com o grupo; oferece ajuda a quem pede; toma iniciativas etc. O importante não é o número de indicadores que você vai eleger, mas a relação deles com as necessidades de avanço de seus alunos. O trabalho por projetos possibilita o desenvolvimento de várias competências, atitudes, valores, entre eles a capacidade de aprender a aprender. Participando de projetos, os alunos aprendem como se constrói conhecimento e quais os fatores que entram em jogo nesse processo. Aprendem que se aprende ouvindo, participando, lendo, nos debates, nos conflitos, com as diferentes formas de agir e pensar, com os erros e acertos, com os desafios e que é preciso estar aberto e disposto a revisões e mudanças. O resultado da vivência de muitos projetos é a construção de um método pessoal para aprender por toda a vida - uma exigência cada vez mais presente nas nossas vidas e na sociedade em que vivemos frente à velocidade e ritmo acelerado de transformações em todos os níveis da atividade humana. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 7 Em relação às competências cognitivas, o trabalho por projetos permite aos alunos aprender a planejar e executar projetos pessoais e coletivos; acessar e selecionar informações; analisar, interpretar e relacionar dados, fatos e situações; compreender e operar no seu entorno social; expressar-se de forma competente; elaborar relatórios, sínteses etc. Em relação às competências sociais, é possível aprender a trabalhar em equipe, a expor suas ideias com clareza, argumentar, contra argumentar, a ouvir, a propor sem impor, a discordar sem romper o diálogo, a ceder sem se sentir perdedor, a conviver com as diferenças, a submeter a vontade pessoal a uma proposta coletiva. Hábitos, atitudes e valores também podem ser desenvolvidos: aprender a organizarse no tempo e no espaço, a valorizar o saber social e o conhecimento acumulado historicamente, a corresponsabilizar-se pelo aperfeiçoamento da sociedade, pela preservação ambiental; a participar da vida pública, a ser solidário, respeitar as ideias e sentimentos alheios, a valorizar a família e a comunidade como espaços de identidade e pertencimento e tantos outros. Atividades/estratégias Definidos os objetivos, é hora de planejar e registrar no seu Plano de Ação as atividades e estratégias que você vai desenvolver para atingir os objetivos programados: o que você quer que seus alunos aprendam. Para que ocorra aprendizagem são necessárias duas condições. Em primeiro lugar, o aluno precisa ter vontade e disposição para aprender. Em segundo lugar, o tema do projeto tem que ser potencialmente significativo, ou seja, fazer sentido para o aluno. Carlos Byington, psicanalista, nos alerta que só aprendemos bem aquilo que podemos vivenciar profundamente. Conhecimentos e conceitos distanciados da vida, do corpo, da natureza e da sociedade que nos envolve tendem a ser rejeitados, esquecidos por mentes saudáveis. Assim, é importante prever no seu Plano de Ação como você pretende envolver seus alunos e estabelecer conexão com a experiência que trazem para a sala de aula. A seguir, algumas sugestões. Envolvimento dos alunos www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 8 Prepare um ambiente que desperte o interesse dos alunos pelo tema. No caso do ECA, você pode, por exemplo: - Espalhar cartazes pela sala de aula com algumas perguntas que possam despertar a curiosidade e o interesse dos alunos, entre elas: Criança tem diretos? Você conhece os seus direitos? Você já ouviu falar no Estatuto da Criança e do Adolescente? Observe a reação de seus alunos, deixe que conversem um pouco antes de interferir. - Espalhar pela sala recortes de revistas com crianças no gozo de seus direitos e/ou excluídas dessa fruição. Peça que observem, descrevam e depois comentem as cenas. - Escolher um vídeo que trate dos direitos das crianças e, após exibi-lo, formar uma roda de conversa para comentar o vídeo. - Selecionar uma poesia, uma história em quadrinhos que trate de direitos e depois formar a roda de conversa. - Convidar algum especialista para falar do ECA e motivar seu estudo. Levantamento dos conhecimentos prévios Após esse momento inicial, forme uma roda de conversa e ouça os comentários de seus alunos para mapear seus conhecimentos prévios, ou seja, o ponto de partida para a sua ação: o que precisa ser compreendido, ampliado, transformado ou substituído. A seguir, apresente a proposta de explorarem os direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros e fale sobre a importância desse conhecimento para cada um deles e suas famílias. Vá aos poucos trabalhando com seus alunos a finalidade do projeto. O ideal é que todos sejam capazes de expressar com clareza o porquê do estudo que estão realizando. Envolvimento da família e da comunidade www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 9 Preveja no seu Plano de Ação como se dará o envolvimento da família e da comunidade e que estratégias você vai utilizar: reuniões de pais, visitas a pessoas e organizações públicas envolvidas com os direitos das crianças e adolescentes, jornal do bairro, jornal mural da escola etc. Preparação da sala de aula A sala de aula é um espaço para construção de conhecimentos e por isso deve ser organizada para facilitar esse propósito. Planeje e registre no seu Plano de Ação rotinas diárias que auxiliem nessa direção como, por exemplo: Cuidar do clima emocional Muitas vezes os alunos chegam à escola carregando emoções desgastantes como o medo, raiva, ansiedade, frustração que acabam interferindo negativamente no processo de aprendizagem, uma vez que existem conexões entre a cognição e as emoções. Nem sempre poderemos agir em relação às tensões emocionais de nossos alunos, mas podemos abrir espaço para que elas sejam minimizadas ao serem compartilhadas com o professor e com os colegas. Uma estratégia bastante adequada para aliviar tensões, criar um clima de harmonia e preparar os alunos para um dia de trabalho é a roda de conversa. A roda de conversa A roda é uma assembleia, um espaço coletivo, um ponto de encontro democrático entre educadores e seus alunos. Ali se sentam todos para conversar e contar uma novidade, esclarecer dúvidas, compartilhar sentimentos. Conversar não é perder tempo. Existe uma inter-relação entre pensamento e linguagem, marcada pela influência mútua. A linguagem atua como ferramenta psicológica que possibilita a criança aprender a pensar e desenvolver funções mentais cada vez mais complexas, bem como expressá-las adequadamente. A roda acolhe e integra professor e alunos, mas é também um espaço para monitorar o andamento do projeto, fazer ajustes, planejar o que vai ser feito no dia ou na semana e combinar o modo como vai ser feito. Os combinados www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 10 Quaisquer que sejam as ações planejadas, elas sempre se desenvolvem no tempo e no espaço em que se encontram os objetos que vamos utilizar e as pessoas com as quais convivemos. E é preciso aprender a coordenar essas variáveis de modo a tornar nossas ações mais produtivas e funcionais. Daí a importância dos combinados para desenvolver valores, atitudes de responsabilidade pessoal e corresponsabilidade com o trabalho coletivo. Em relação ao tempo Combine quanto tempo vão durar as atividades. Isso ajuda aos alunos a aprender a administrar e valorizar o tempo, selecionar prioridades, estabelecer agendas. Em relação ao espaço Combine se o trabalho será individual, em duplas, em trios, em grupos maiores ou no “grupão” e que espaços poderão ocupar. Em relação aos objetos Aqui, os combinados auxiliam os alunos a aprender como utilizar e guardar os objetos, como conservá-los, recuperá-los ou descartá-los com responsabilidade e cuidado com o meio ambiente. Em relação à convivência Estabeleça, com a participação dos alunos, regras básicas de convivência: utilizar tom de voz adequado, ouvir os colegas, expor com respeito as próprias ideias, esperar a vez de falar, garantir a fala de todos etc. Com o tempo, incentive os alunos a introduzir regras de convivência cada vez mais elaboradas. Pesquisas em livros ou internet Prepare o material de pesquisa com antecedência e em número suficiente para a classe ou grupos de alunos. Providencie um roteiro de pesquisa para orientá-los na busca de informações e combine de que forma serão divididos para a realização da pesquisa. Leia, corrija e comente os roteiros, que servirão de base para a elaboração de sínteses e relatórios. Lembre-se de que todo material escrito a ser divulgado deve estar de acordo com norma culta da língua. Outras atividades que podem constar do seu Plano de Ação: debates, palestras com especialistas, elaboração de vídeos, entrevistas, leitura de textos etc. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 11 Use a sua criatividade, consulte colegas mais experientes, seja um pesquisador e lembre-se de que as atividades de um projeto não são um fim em si mesmas, mas um meio para o desenvolvimento das diversas aprendizagens, por isso elas devem ser cuidadosamente planejadas e executadas. Avaliação A avaliação de um projeto educativo pode ocorrer durante o processo de desenvolvimento (acompanhamento ou monitoramento), e ao final dele (avaliação de resultados). O que orienta a avaliação são os objetivos, de onde se parte para determinar em que medida estes foram ou não atingidos. A avaliação em processo é importante para que se tomem providências imediatas em relação a correções de rumo no sentido de aperfeiçoar a ação, não deixando essa tarefa para o final do projeto. Na avaliação final, o objetivo é refletir sobre os produtos e resultados alcançados. É a fase da colheita, de comemorar os bons resultados e aprender com o processo. Nesta fase, os dados coletados são analisados, interpretados: o que foi bom, o que poderia ter sido melhor, o que faríamos diferentes numa próxima vez, no que temos de avançar. A avaliação deve envolver não só os resultados apresentados pelos alunos, mas também o trabalho docente. Assim, aprende-se não somente sobre o tema do projeto, mas sobre o processo e as estratégias que selecionamos para ensinar e aprender. Entre as estratégias avaliativas estão auto avaliações, avaliações orais e/ou escritas, depoimentos espontâneos e/ou entrevistas com os envolvidos, aplicação de questionários, relatórios de reuniões de avaliação etc. Colecione esses produtos para elaborar sínteses periódicas a serem compartilhadas com os envolvidos no projeto. Uma boa avaliação depende em parte dos registros que foram produzidos durante o desenvolvimento do projeto. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 12 Geralmente nos preocupamos mais em fazer do que em documentar o que fazemos, mas é preciso dar ao registro o seu devido valor. O registro do que fazemos é importante para documentar o nosso trabalho, subsidiar as avaliações e servir de referência para projetos futuros. Vídeos produzidos na escola, fotografias, entrevistas, depoimentos, tabulação de questionários avaliativos, produções dos alunos são estratégias importantes tanto para as sínteses periódicas de avaliação como para a avaliação final. Disseminação Uma pergunta fundamental que você e a equipe de coordenação do projeto devem fazer ao final do projeto, depois de tanto trabalho e empenho e de tantas aprendizagens construídas é: Quem mais pode se beneficiar com o que aprendemos com este projeto? Que conteúdos e de que forma poderemos disseminar o que aprendemos? Visto que a escola é o lócus privilegiado para a criação e transmissão de conhecimentos produzidos pelo currículo escolar e os pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, ela tem legitimidade para partilhar esses conhecimentos com as famílias dos alunos e com a sua comunidade. Assim, os aprendizados resultados do desenvolvimento de projetos educativos devem ser disseminados a alunos de outras turmas, equipe técnica e operacional da escola, famílias e agentes educativos da comunidade, beneficiando a todos. Como os diversos públicos têm características próprias é importante definir a forma de divulgação, cuidando que a linguagem utilizada seja adequada a cada público. Os meios de disseminação das aprendizagens podem ser: a rádio comunitária, o jornal do bairro, um jornal mural, uma exposição dos produtos e trabalhos dos alunos, uma festa, uma revista, uma cartilha para os pais etc. Retomada do ciclo Terminado um projeto e após os procedimentos de avaliação, é hora de reiniciar o ciclo, considerando sempre as necessidades do contexto e os interesses dos alunos. Uma palavra final www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 13 O recado que deixamos aqui para você, professor, é que confiamos em sua capacidade de criar, inovar e enfrentar desafios. Educadores são criadores de oportunidades de desenvolvimento e crescimento para seus alunos. Nesse sentido, cabe a você, professor, planejar e reorganizar continuamente as experiências de aprendizagem para que elas se tornem significativas para seus alunos e provoquem os avanços necessários. O trabalho por projetos é sem dúvida um caminho desafiador, mas repleto de oportunidades de aprendizagem para você e seus alunos, portanto, mãos a obra! Bibliografia GALVÃO, Izabel. Henri Wallon, uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1995. (Educação e conhecimento) HASSENPFLUG, Walderez Nosé. Educação pelo Esporte: educação para o desenvolvimento humano pelo esporte. São Paulo: Saraiva: Instituto Ayrton Senna, 2004. (Coleção Biblioteca Instituto Ayrton Senna). HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998. www.fundacaotelefonica.org.br/escolasrurais - [email protected] Página Projeto Escolas Rurais Conectadas Fundação Telefônica Vivo 14 MACED0, Lino. Reflexões sobre o cotidiano na sala de aula. In: Pátio revista pedagógica. Artmed Editora, ano VI, nº 22, jul- agos, 2002.