Brazilian Journal of Sports Nutrition
Vol. 1, No. 1, Março, 2012, 37–45
Avaliação antropométrica na infância: uma revisão
Marcelle de Miranda1, Osana Campos Bernardes1, Tainah Camagos Vaz de Mello1, Thafnys
Alves Silva1, Ana Elisa Madalena Rinaldi2, Cibele Aparecida Crispim2
Autor correspondente: Cibele Aparecida Crispim*
1
Alunas do Curso de Graduação em Nutrição, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Uberlândia.
2
Docentes do Curso de Nutrição, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A avaliação antropométrica de crianças é essencial para verificar se o
crescimento destas está próximo ou distante de um padrão esperado, sendo que alterações
neste sentido podem ser provocadas por doenças ou outras condições ambientais
desfavoráveis. OBJETIVO: Realizar uma revisão bibliográfica sobre a temática dos
métodos antropométricos em crianças. Método: O levantamento bibliográfico foi realizado
nas bases de dados SciELO, LILACS e BIREME, cruzando as palavras-chave “avaliação
nutricional”, “infância” e “antropometria”. RESULTADOS: A avaliação antropométrica,
mesmo de forma isolada, tem se mostrado um método simples e eficaz para realizar
avaliação nutricional na infância, uma vez que o crescimento da criança reflete possíveis
agravos à saúde e nutrição. Essa avaliação envolve especialmente as medidas de peso e
comprimento ou estatura. Para esta avaliação existem na literatura diversas referências,
como as de Gomez, a de Waterlow, as preconizadas pelo National Center for Health
Statistics (NCHS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Atualmente a da OMS é
mundialmente recomendada para crianças. CONCLUSÃO: A partir desta revisão foi
possível observar que a avaliação antropométrica é o método mais utilizado e referenciado
para avaliação do estado nutricional de crianças.
Palavras- chave: avaliação nutricional, infância, antropometria.
ABSTRACT
INTRODUCTION: The anthropometric assessment of children is essential to verify if the
growth pattern is appropriated, and if alterations in the nutritional status can be caused by
disease or other unfavorable environmental conditions. OBJECTIVE: To review the
literature related to the anthropometric methods in children. Method: The literature review
was conducted in the databases SciELO, LILACS, BIREME, using the key words
"nutritional assessment", "childhood" and "anthropometry". RESULTS: The
anthropometric assessment has showed to be a simple and effective method for nutritional
evaluation in children, since children's growth reflects possible damage to health and
nutrition. This assessment involves in particular the measures of weight and length or
height. For this assessment there are several references in the literature, such as Gomez, the
Waterlow, recommended by the National Center for Health Statistics (NCHS) and the
World Health Organization (WHO). Currently the WHO reference is widely recommended
for children. CONCLUSION: It was observed that the anthropometric assessment is the
most widely used and referenced to assess the nutritional status of children.
Key-words: nutritional assessment, childhood, anthropometry.
Recebido em 23 de Dezembro de 2010; aceito em 27 de Fevereiro de 2011.
*Corresponding author: Endereço: Av. Pará 1720, Bloco 2U, Sala 20. CEP
38.405-320. E-mail: [email protected]
Associação Brasileira de Nutrição Esportiva
http://www.abne.org.br
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Introdução
Nos últimos trinta anos tem se observado uma inversão nas taxas de desnutrição e excesso de
peso e aumento crescente na prevalência mundial de sobrepeso e obesidade em crianças de todo o
mundo. O desenvolvimento precoce da obesidade vem se tornado alarmante entre crianças,
caracterizando um problema de saúde pública que tende a se manter em todas as fases da vida. Já o
excesso de peso como problema de saúde pública tem suplantado, o baixo peso para estatura no
Brasil1. Neste sentido, a avaliação antropométrica de crianças é fundamental para verificar se o
crescimento destas está próximo ou distante de um padrão esperado, sendo que alterações neste
sentido podem ser provocadas por doenças ou outras condições ambientais desfavoráveis. Esta é
uma maneira de definir as condições nutricionais do organismo, bem como o crescimento e
proporções corporais da criança, a fim de prevenir e tratar as desordens nutricionais 2.
A avaliação antropométrica envolve a obtenção de medidas físicas de um indivíduo ou
população, a fim de comparar a um padrão que reflita seu crescimento e desenvolvimento global 3.
Uma vez que a antropometria é um método de fácil aplicação, prático e econômico, esse tem se
mostrado a melhor maneira de se realizar a avaliação do estado nutricional de crianças e
adolescentes. Deste modo, este artigo realizará uma revisão bibliográfica sobre a temática dos
métodos antropométricos em crianças.
Avaliação antropométrica de criança
O uso da antropometria para avaliar o estado nutricional de crianças tem se mostrado um
método simples e eficaz, uma vez que seu crescimento reflete possíveis agravos à saúde e
nutrição4. Os parâmetros antropométricos mais utilizados na infância são o peso e a
altura/comprimento. Na análise dos dados antropométricos é necessário considerar a idade e o
sexo da criança, sendo estes os principais fatores que evidenciam seu desenvolvimento. A união
das medidas antropométricas à idade e ao sexo recebe o nome de índices antropométricos (Ex: peso
para idade, peso para estatura e estatura para idade) e o resultado destes índices comparados a uma
referência ou padrão antropométricos é denominado de indicador antropométrico.
Desse modo, a avaliação antropométrica, mesmo de forma isolada, tem grande importância no
diagnóstico nutricional da criança, principalmente pelas vantagens descritas anteriormente. As
referências para a classificação do estado nutricional mais utilizadas e citadas, em décadas
anteriores e atuais, são as propostas por Gomez, Waterlow e as curvas de crescimento propostas
pelo National Center for Health Statistics (NCHS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Historicamente, vários destes procedimentos têm sido utilizados na avaliação nutricional de
crianças, mas em geral o uso de referências - a representação da distribuição de determinada
medida antropométrica segundo diferentes variáveis -, é muito comum e têm sido mais indicado na
avaliação desta faixa etária. As curvas de referência representam o modelo empírico saudável, e
servem, a um só tempo, para classificar e diagnosticar o estado nutricional de um indivíduo ou
população5.
A seguir, serão apresentados alguns métodos utilizados no passado e no presente. Nas
últimas décadas, devido à transição nutricional, o principal enfoque dos métodos e referências
antropométricos é o diagnóstico precoce das crianças com o excesso de peso.
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Classificação de Gomez
Proposta na década de 50, esta classificação tinha como objetivo determinar o prognóstico de
morbimortalidade de crianças hospitalizadas de acordo com a sua condição nutricional6. Contudo,
esse critério passou a ser utilizado como classificação nutricional e, embora tenha sofrido críticas,
devido a sua simplicidade e facilidade de aplicação, foi implementado em vários países,
particularmente na América Latina. Essa classificação é recomendada para crianças menores de dois
anos (Tabela 1), uma vez que nesta faixa etária o peso é o parâmetro que tem maior velocidade de
crescimento, variando mais em função da idade do que da estatura da criança, o que o torna mais
sensível às deficiências nutricionais, sendo o primeiro a modificar-se nestas condições. Desta forma, a
classificação de Gomez é considerada sensível para diagnóstico de desnutrição em crianças. Baseia-se
no índice de peso para a idade e sexo (P/I) proposto por SIGULEM; DEVINCENZI e LESSA2 que é
calculado pela seguinte fórmula:
Peso observado
———————————————————
Peso esperado para idade e sexo (p50)
Percentil 50 (p50) – Padrão de referência NCHS
Tabela 1- Classificação do estado nutricional segundo critério de GOME 6
% Adequação P/I
Estado de nutrição
91-110
Eutrofia
76-90
Desnutrição leve ou de 1º grau
61-75
Desnutrição moderada ou de 2º grau
< 60
Desnutrição severa ou de 3ºgrau*
Fonte: SIGULEM, D. M. ; DEVINCENZI, M. U. ; LESSA, A. C. Diagnosis of child and adolescent nutritional status.
Jornal de pediatria. Rio de Janeiro, v. 76, p. S275-S28, 2000. * Na presença de edema comprovadamente
nutricional, independente do índice P/I, a criança será considerada como desnutrida de 3º grau.
Classificação de Waterlow
A classificação foi proposta em 1973, permitindo prioridades de intervenção, uma vez que
estabelece o tipo de desnutrição 7. Baseia-se nos índices de estatura/idade (E/I) e peso/estatura (P/E).
Seu uso é preconizado para crianças entre 2 a 10 anos de idade. Nessa fase, o crescimento é mais
lento e constante, fazendo com que o peso da criança seja modificado mais em função de seu
comprimento do que da idade. Consequentemente, as deficiências nutricionais serão mais bem
avaliadas pela relação E/I, seguida de P/E 2. Nesta classificação as seguintes fórmulas são utilizadas:
Altura observada
———————————————————
Altura esperada para idade e sexo (p50)
Peso observado
———————————————————
Peso esperado para a altura observada
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Eutrofia: E/I superior a 95 % e P/E superior a 90 % do p50;
Desnutrido atual ou agudo (wasting): E/I superior a 95 % e P/E inferior a 90 % do p50;
Desnutrido crônico (wasting and stunting): E/I inferior a 95 % e P/E inferior a 90 % do
p50;
Desnutrido pregresso (stunting): E/I inferior a 95 % e P/E superior a 90 % do p50.
As classificações propostas por Gomez e Waterlow não são mais preconizadas atualmente,
sendo substituídas por outras.
Classificação da NCHS
A primeira ideia para a construção de curvas para avaliação de crianças surgiu pelos estudos
da National Center for Health Statistics (NCHS), que elaborou em 1977 curvas baseadas em
estudos americanos com crianças de 0-18 anos de idade de ambos os sexos. Neste estudo, foram
descritos os valores de Peso/Idade (P/I), Peso/Altura (P/A), Comprimento (C/I), Altura/Idade (A/I)
e Circunferência Cefálica/Idade (CC/I) 8. Preconizado por agências de saúde de todo o mundo e
muito utilizado em diversos países durante anos, a referência da NCHS de 1977 começou a ser alvo
de críticas na década de 90. Em 1993, e o Comitê de especialistas da OMS destacou como uma das
principais limitações desta referência o fato de alguns lactentes participantes do estudo serem
amamentados com fórmulas infantis. Bebês com aleitamento materno costumam dobrar de peso
mais tarde em relação aos demais 9. Ainda assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
reconheceu, posteriormente, a referida referência como adequada para avaliação de diferentes
grupos raciais e o recomendou para uso internacional, sendo o mesmo adotado pelo Ministério da
Saúde do Brasil 10.
Com a finalidade de corrigir o parâmetro proposto pela NCHS, o Centers for disease control
and prevention (CDC) utilizou análises estatísticas para ampliar a amostra com a finalidade de
reconhecer a diversidade étnica dos Estados Unidos. Entretanto, como apenas a metade dos
lactentes receberam leite materno, a OMS não recomendou seu uso como um padrão CDC
internacional11.
Classificação da OMS
Esta classificação possui ampla aplicação, uma vez que pode ser empregada para crianças
independente da faixa etária. Entretanto, é inadequada para ser utilizada em nível de assistência
primária, uma vez que identifica apenas as formas moderadas e graves de desnutrição proteicoenergéticas, o que impediria uma intervenção mais precoce junto às crianças com formas leves ou
em risco nutricional. Utiliza-se a seguinte fórmula para seu cálculo:
Medida (infantil) – Mediana de referência
————————————————————
Desvio padrão (para idade e sexo)
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Para se estabelecer uma comparação de um conjunto de medidas antropométricas com um
referencial antropométrico, recomenda-se o uso do percentil e do escore Z.
Percentis são valores que determinam uma medida de posição, ou seja, onde o indivíduo se
localiza em relação aos 100% da distribuição de referência. Assim, os percentis derivam de uma
distribuição em ordem crescente dos valores de um parâmetro, observados para uma determinada
idade ou sexo. Por exemplo, se uma criança com determinada idade tem o valor da estatura
localizada no percentil 50 (p50), significa que ela mede mais do que 50% da população de
referência para crianças de mesma idade 12.
O valor de escore Z corresponde a uma medida de dispersão (desvio-padrão_DP) em um
grupo de dados. De modo geral, indica quanto o indivíduo está distante de uma média do grupo de
dados de sua referência. Os valores considerados normais se encontram entre -2DP e +2DP para
P/E, P/I, E/I e Índice de Massa Corporal/Idade 13.
Na Tabela 2 encontram-se os valores de escore Z para classificação da desnutrição proteicoenergética. Segundo a OMS são consideradas como desnutridas moderadas crianças com índices
inferiores a –2 escores Z abaixo da mediana de referência. Quando este índice se encontra abaixo
de –3 escores Z ou menos de 70% de adequação em relação à mediana, ou ainda na presença de
edema comprovadamente nutricional, as crianças são consideradas desnutridas graves 14.
Tabela 2: Estado nutricional de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Desnutrição proteico-energética
Escore Z Altura/ Idade
Escore Z Peso/Altura
Moderada
Entre - 2 e- 3
Entre – 2 e – 3
Severa
Menor que – 3 (nanismo severo)
Menor que – 3
Fonte: SIGULEM, D. M.; DEVINCENZI, M. U.; LESSA, A. C. Diagnosis of child and adolescent nutritional status.
Jornal de pediatria, Rio de Janeiro, v. 76, p. S275-S28, 2000.
Para avaliação do estado nutricional no primeiro trimestre de vida, o aspecto clínico,
vitalidade, movimentação, número de micções, evacuações e sono devem ser consideradas. Nessa
fase, coloca-se como esperado o ganho de peso médio de aproximadamente 30g/dia. Se o ganho de
peso for semelhante ou inferior a 20g/dia, estabelece-se a situação de risco nutricional.
Outra maneira a qual são dispostos os valores padronizados de crescimento da criança é na
forma de curvas. No caso das curvas da OMS, estas são organizadas de acordo com o sexo e idade .
O uso das curvas da OMS (2006) é preconizado para crianças do nascimento até os cinco anos
de idade; enquanto as curvas da OMS (2007) criadas a partir das curvas da CDC citadas
anteriormente, é recomendado para crianças e adolescentes de 5 anos 19 anos de idade 15 16 17.
Novo padrão: curvas de crescimento propostas pela Organização Mundial da Saúde
Em 1994, a Assembleia Mundial da Saúde reconheceu a necessidade de desenvolver um novo
referencial antropométrico, sendo a própria OMS responsável por desenvolver um padrão
internacional, mediante a elaboração de curvas de crescimento para avaliar o estado nutricional de
crianças em todas as partes do mundo. Assim, para a elaboração das curvas da OMS foi realizado a
combinação de um estudo longitudinal com crianças do nascimento aos 24 meses e um transversal
de crianças entre 18-71 meses, somando um total de 8500 lactentes e crianças sadias. A amostra
envolveu crianças de quatro continentes (Ásia, África, América e Europa) e seis países (Brasil,
Ghana, Índia, Noruega, Oman e Estados Unidos), que representavam as seis principais regiões
geográficas do mundo 18.
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Entre estes trabalhos foi utilizada uma pesquisa brasileira com aproximadamente 1.273
crianças da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, no período de 1989 a 1993 19.
Entre os critérios de inclusão adotados no estudo, as populações deveriam ter condições
socioeconômicas favoráveis, baixa mobilidade para permitir o acompanhamento; pelo menos 20%
mães deveriam estar dispostas a seguir as recomendações de aleitamento materno, bem como
possuir suporte ao mesmo; e a presença de instituições colaborativas qualificadas. Em nível
individual, entre os critérios estavam: a ausência de restrições ambientais, econômicas ou de saúde
que limitem o crescimento; as mães não podiam ser fumantes e deveriam estar dispostas a
amamentar; gravidez não gemelar; nascimento a termo; e ausência de morbidade significativa 20.
As curvas da OMS propõem que, pela aferição do peso e da altura, podem ser calculados
quatro índices antropométricos mais frequentemente empregados: peso/idade (P/I), estatura/idade
(E/I), peso/estatura (P/E) e índice de massa corporal para idade (IMC/I). O déficit do índice
estatura/idade indica que a criança tem o crescimento comprometido em processo de longa duração
devido consumo insuficiente de macro e micronutrientes, além de precárias condições de saúde
(em inglês, “stunting”, que significa nanismo 21). Para CUERVO; AERTS e HALPERN 22 os baixos
valores no índice peso/estatura refletem um comprometimento mais recente do crescimento com
reflexo mais pronunciado no peso (em inglês, “wasting”, que significa emaciamento). Já o índice
peso para idade refletem ganho insuficiente de massa corporal ou catabolismo de tecidos, retardo
do crescimento linear, deste modo, este índice explicita múltiplos agravos nutricionais de acordo
com CONDE e GIGANTE 21.
Segundo as novas curvas de crescimento, os pontos de corte de normalidade são aqueles
valores de P/I, P/A, E/I e IMC/I entre -2 e +2 desvios padrão (Tabela 3). A OMS recomenda o uso
do IMC/I ou P/E como os melhores índices para o diagnóstico do excesso de peso.
Tabela 3. Valores críticos dos índices antropométricos e o diagnóstico nutricional para crianças
menores de cinco anos.
Valores críticos
< Escore-z -3
> Escore-z -3 e
<
Escore-z -2
> Escore-z -2 e
<
Escore-z +1
> Escore-z +1 e
<
Escore-z +2
> Escore-z +2 e
<
Escore-z +3
> Escore-z +3
Índices antropométricos – Diagnóstico nutricional
Peso/Idade
Estatura/Idade
Peso/Altura
Muito baixo
Muito baixa
Magreza
peso para a
estatura para a
acentuada
idade
idade
Baixo peso
para a idade
IMC/Idade
Magreza
acentuada
Baixa estatura
para a idade
Magreza
Magreza
Peso adequado
para a idade
Estatura
adequada
Eutrofia
Eutrofia
Peso adequado
para a idade
--
Risco de
sobrepeso
Risco de
sobrepeso
Peso elevado
para idade
--
Sobrepeso
Sobrepeso
Peso elevado
-Obesidade
Obesidade
para idade
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Incorporação da curvas de crescimento da Organização
Mundial da Saúde de 2006 e 2007 no SISVAN. Disponível em:
<http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/curvas_oms_2006_2007.pdf>. Acesso em: 14 dez.
2010.
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Interpretação dos índices propostos pelas curvas da OMS
Comprimento/Estatura por Idade
Descreve o crescimento linear da criança. Por ser um processo lento, variações na altura da criança podem
revelar carências nutricionais aliadas às condições ambientais desfavoráveis de longo período. Porém, a
aferição da estatura de crianças é um procedimento complicado, especialmente em lactentes e recém-nascidos,
por serem estes muito pequenos, o que necessita de um maior treinamento e precisão da mensuração. O déficit
deste índice reflete o stunting (nanismo), que representa um problema de desnutrição crônica (estado de
subnutrição contínuo); ou simplesmente revela uma baixa estatura que não envolve nenhum tipo de problema
de saúde 13.
Peso por Idade
Reflete o peso corporal em relação à idade cronológica da criança. O peso é um valor antropométrico que
sofre oscilações em resposta a qualquer alteração aguda na saúde da criança. Além disso, a aferição do peso
consiste em um método não invasivo e relativamente fácil, o que torna este índice adequado para
acompanhamento do crescimento infantil. Entretanto, o valor de peso por idade é um indicador antropométrico
de déficit global, ou seja, não diferencia se o comprometimento nutricional é atual (agudo) ou pregresso
(crônico) 13. A desnutrição aguda pode ser causada por um processo patológico e/ou fome extrema, enquanto a
desnutrição crônica pode ter suas raízes na subnutrição contínua de tal maneira que afeta o crescimento normal
da criança. Para a análise deste índice deve-se considerar ainda os fatores genéticos, que podem influenciar as
diferenças de peso em crianças em determinada idade, não sendo estas variações causadas por problemas de
saúde 12. Os fatores genéticos começam a exercer influência a partir dos 5 anos.
Peso por Comprimento
Revela a distribuição do peso corporal pela altura. Apesar de sua sensibilidade para diagnosticar sobrepeso
e obesidade, precisa de outras medidas complementares para determinar um diagnóstico preciso que estabelece
o real estado nutricional do avaliado. Possui como indicadores antropométricos o wasting (emaciação), que
reflete um quadro de desnutrição aguda; o overweight (excesso de peso); ou demonstra apenas o baixo peso
para altura, bem como o excesso de peso para estatura 22. Assim como os dois índices descritos anteriormente, a
análise dos valores de peso por comprimento deve ser feita com cuidado, pois algumas crianças são possuem
constituição física pequena ou grande, que pode alterar a interpretação deste índice 13.
Índice de Massa Corporal para a Idade
O uso das curvas baseadas no IMC para idade para definição do estado nutricional em crianças e
adolescentes proporcionou uma solução prática para tal; entretanto gerou debates sobre o uso dessas curvas
para avaliação do estado nutricional de grupos em crescimento. Os principais pontos em debate são: 1) a
natureza universal ou particular da composição corporal, aspecto refletido no debate sobre a adoção de curva de
referência local ou internacional; 2) os fundamentos e propriedades do sistema classificatório baseado no IMC
para idade, o que se reflete no debate sobre o uso de critérios estatísticos ou epidemiológicos e; 3) a influência
da maturação sexual sobre a composição corporal e a necessidade de levar em conta ou não o estágio de
maturação sexual do avaliado 23 24.
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Limitações das técnicas antropométricas
Ao definir métodos antropométricos para a avaliação do estado de nutrição, deve-se escolher
aqueles que detectem melhor o problema nutricional que se pretende corrigir. Além disso, devem
ser considerados, ainda, os custos, o nível de habilidade do avaliador para realização da medida, o
tempo disponível para realização, a aceitação por parte da população estudada e os possíveis riscos
para a saúde 22.
Uma das desvantagens do uso isolado da antropometria é o não diagnóstico de desvios
nutricionais como as deficiências de nutrientes e as anemias. Mesmo com algumas desvantagens, a
antropometria tem sido o método mais usado mundialmente, sendo o método proposto pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) 13.
Conclusão
A partir desta revisão foi possível observar que a avaliação antropométrica em relação a outros
métodos de avaliação nutricional mostra ser eficaz para avaliação do estado nutricional de crianças
principalmente pela rapidez, facilidade, baixo custo tanto no nível individual como populacional.
Dentre os referenciais antropométricos propostos, as curvas da OMS são atualmente preconizadas
para crianças e adolescentes do nascimento aos 19 anos de idade.
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