A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO PLASTICIDADE DO TRABALHO E COOPERATIVISMO RURAL NO ALTO SERTÃO SERGIPANO: CONTRADIÇÕES ATUAIS DA REPRODUÇÃO CAMPONESA Fabio Ferreira Santos1 RESUMO As contradições do mundo do trabalho no século XXI nos instigam a pensar as diferentes formas que o capital busca para subordinar e explorar a classe trabalhadora. Não obstante, as discussões das transformações verificadas no trabalho a partir da dinâmica territorial do capital são fundamentais para a leitura geográfica sobre as formas diferenciadas de resistência dessa classe. Nesse aspecto, este texto tem como objetivo analisar a plasticidade do trabalho na Cooperativa Regional de Assentados do Alto Sertão Sergipano e suas contradições na produção do espaço. Sabe-se que o espaço é produto do trabalho, nesse sentido as diferentes formas de produção de mercadorias nos assentamentos rurais vinculados a cooperativa submetem-se as diferentes formas de trabalho e suas divisões na organização e produção do espaço geográfico. Para desmistificar essa questão, recorremos ao materialismo histórico e dialético, pois nos permite compreender a relação capital-trabalho e as formas em que a plasticidade do trabalho aparece na cooperativa dos assentamentos rurais do alto sertão de Sergipe. Metodologicamente, para o desenvolvimento da nossa analise, partimos das pesquisas bibliográficas que retratam o tema da discussão, no qual será crucial para desvelar as formas que o desenvolvimento desigual do capital produz um complexo de divisões do trabalho no seio da cooperativa de assentados de Reforma Agrária do Alto Sertão de Sergipe(COOPRASE). Nesse viés, interessa-nos também levantar as contradições originadas pela efetivação de programas e ações de Politicas Públicas, em especial o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), nos assentamentos que participam com seu trabalho vivo das cooperativas que participam da produção e comercialização de produtos agrícolas para a merenda escolar. Contraditoriamente, a cooperativa como forma de organização do trabalho e a produção, contribui para a reprodução do campesinato através da comercialização de produtos oriundos da agricultura camponesa. Importante frisar que a cooperativa tem uma grande importância para os assentamentos rurais pesquisados, visto que contribui para o escoamento e a comercialização de produtos agrícolas oriundos dos assentados, garantindo renda. PALAVRAS-CHAVES: plasticidade do trabalho, capital, cooperativa, assentados, produção do espaço. 1 Doutorando do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail de contato: [email protected] 2117 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO INTRODUÇÃO O sistema capitalista é em sua essência e aparência contraditório, desigual e combinado. Sob essa égide que nas ultimas décadas presenciamos o que Mészáros (2002) denominou de crise estrutural do capital. Um em que percebemos os altos índices de desempregos, desigualdades sociais e pobreza sendo uma das características marcantes deste sistema perverso, desigual e contraditório. Perceber que o capital busca áreas de exploração e expropriação da força de trabalho para a extração da mais valia é apenas mais uma peça no tablado que compõe o mundo do trabalho e suas peculiaridades. Afinal, o sistema capitalista busca incessantemente explorar a classe trabalhadora e ampliar (re) produção. Diante desse aspecto, vemos no espaço agrário um avanço das relações capitalistas que contraditoriamente (re) cria o campesinato através de suas formas de subordinação. Dentre elas podemos citar as politicas publicas direcionadas a agricultura camponesa2. Dessa forma, o nosso texto tem como objetivo analisar e desvelar a plasticidade do trabalho e do cooperativismo rural no alto sertão sergipano e suas contradições na reprodução camponesa. Oriundo de discussões teóricas e pesquisas bibliográficas no campo da ciência geográfica, em especial no espaço agrário, buscamos levantar as contradições originadas pela efetivação de programas e ações de Politicas Públicas, em especial o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), nos assentamentos que participam com seu trabalho vivo das cooperativas que participam da produção e comercialização de produtos agrícolas para a merenda escolar. Para tal, o esclarecimento sobre o programa de alimentação escolar torna-se necessário para que o desenvolvimento da nossa analise. Assim, o programa PNAE faz 2 Utilizo o termo agricultura camponesa em contra-posição ao modelo agrícola posto pelo Estado brasileiro, no qual determinou e denominou chama agricultura familiar, como forma de extinguir a classe camponesa de qualquer discussão teórica, impondo chamar agricultor familiar. Aliás, a categoria agricultor familiar tende a negar a existência histórica de uma classe camponesa. Nesse sentido, optamos em trabalhar com a agricultura camponesa, pois resulta de um processo histórico de luta pela terra e na terra. 2118 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO parte de um dos eixos de acesso aos alimentos, no qual está inserido dentro da política nacional de segurança alimentar e nutricional (PNSAN) desde o ano de 2005. Nesse sentido, O PNAE vincula-se como um programa suplementar a política educacional, uma vez que direciona a produção de alimentos da agricultura para a alimentação escolar. Ambos os programas estão englobados como ação estrutural do programa fome zero e têm como objetivos o fortalecimento da política nacional de segurança alimentar e nutricional. Esse programa atende os camponeses do campo que produzem alimentos que serão direcionados as escolas e à distribuição de alimentos para pessoas em situação de insegurança alimentar. Imperceptivelmente, o PNAE é um programa importante para os camponeses, pois os ajudam na comercialização dos seus produtos via compra e venda, gerando trabalho e renda no campo. As políticas públicas para o campo, em especial o PNAE, têm sido uma alternativa camponesa de reprodução familiar, embora, a forma em que está ocorrendo o processo vem sendo alvo de cooptação pelo o capital, no qual busca subordinar o camponês as suas relações desiguais. Sob esse aspecto que a plasticidade do trabalho e o cooperativismo rural no seio da reprodução camponesa nos instigam a pensar o papel de a Geografia no desvelamento das contradições que existem na produção do espaço. 1. O Programa Nacional de Alimentação Escolar e sua relação com os assentados A leitura do Programa nacional de alimentação escolar se insere nesse contexto para desvelamento da plasticidade do trabalho e do cooperativismo rural, pois esta politica publica contribui para que os assentados desenvolvam a produção agrícola direcionada a venda de seus produtos ao programa. Nesse aspecto, desvelaremos algumas questões sobre o programa para que possamos entender e compreender o nosso objetivo do texto. O PNAE faz parte de um dos eixos de acesso aos alimentos, no qual está inserido dentro da política nacional de segurança alimentar e nutricional (PNSAN) 2119 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO desde o ano de 2005. Para tal, o contexto em que se insere o PNAE no Brasil deve ser posto em evidencia para que fique claro o programa e sua atuação. Alguns autores no dar suporte teórico nas análises do PNAE como: Carvalho e Castro (2009), Belik (2006), Coimbra (1982), Fialho (1993), Costa (2001), Sturion (2003), entre outros que nos mostram que o programa nacional de alimentação escolar tem possibilitado aos camponeses a permanência na terra e que o PNAE é o mais antigo programa social do Governo Federal na área de educação e é o maior programa de alimentação em atividade no Brasil. Nesse âmbito a importância do PNAE para a educação é de extrema importância, pois visa a merenda escolar. Segundo Carvalho e Castro (2009) O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) foi criado em 1979, mas somente com a promulgação da Constituição Cidadã em 1988, foi assegurado o direito à alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental, como programa suplementar à política educacional. Logo na primeira metade da década de 1990, os formulados foram totalmente abolidos dos cardápios. (CARVALHO; CASTRO, 2009, p.3) Nesse sentido, O PNAE vincula-se como um programa suplementar a política educacional, uma vez que direciona a produção de alimentos da agricultura para a alimentação escolar. De acordo com Carvalho e Castro (2009), a alimentação escolar envolve aspectos cultural-territoriais; interações socioeconômico-ambientais; políticos-institucionais; de respeito ao ciclo da natureza de ofertar alimentos para atender à necessidade básica do indivíduo de não sentir fome; entre outros, a fim de promover a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). (ibid., p.5) Nesse sentido, a alimentação escolar conhecida como merenda escolar, é importante para os estudantes durante o período em que está na escola, pois é uma pequena refeição no intervalo da atividade escolar. Observamos que o PNAE é um programa socioeducacional coordenado pelo FNDE/MEC, responsável pela sua normatização, coordenação, monitoramento e controle; definindo suas diretrizes, princípios e 2120 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO objetivos; financiando os programas estaduais e municipais em caráter suplementar; e fiscalizando com outros órgãos federais e locais, a aplicação dos recursos. (ibid., p.7) Em Sergipe o PNAE atua consorciado com as cooperativas de abastecimento de alimentos da agricultura. Uma das cooperativas é a COOPRASE, na qual diversos alimentos produzidos no assentamento rural Jacaré Curituba vão para a alimentação escolar em diversos municípios do Estado. O PNAE vem se constituindo como um programa importante para que os trabalhadores do campo possam escoar seus produtos agrícolas e conseguirem melhores condições de vida. A diversidade de produtos é um fator importante a se destacar uma vez que a cooperativa reuni um grande número de associados para produzir alimentos direcionados a PNAE. Nesse emblema que a pesquisa nos remete pensarmos de que forma a plasticidade do trabalho e o cooperativismo rural contribui para a reprodução camponesa através do PNAE. Dessa forma, como a Plasticidade do trabalho e cooperativismo rural promove a inclusão social e o fortalecimento da agricultura camponesa? 2. Plasticidade do trabalho e cooperativismo rural e seus rebatimentos na reprodução camponesa Para efeito de analise sobre esse item, buscaremos primeiro esclarecer a ideia de plasticidade do trabalho para depois vim entender como o cooperativismo rural vem permitindo uma reprodução camponesa e sua recriação frente ao capital. Nesse sentido, o desvelamento da categoria trabalho será crucial para a compreensão de plasticidade do trabalho. A leitura da plasticidade do trabalho que um esclarecimento anterior do que vem ser a categoria trabalho para que possamos debruçar melhor sobre o mundo do trabalho e suas peculiaridades. Dessa forma, o sistema capitalista é caracterizado como um sistema desigual, contraditório e combinado, pois criar as desigualdades entre classe sociais através de suas relações sociais na busca de sua reprodução e ampliação da mais 2121 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO valia. Nesse aspecto, têm-se de um lado, os capitalistas que detém os meios de produção, e do outro, o proletariado que detém a força de trabalho. É nesse bojo que Marx nos permite entender que o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano não se desfez ainda de sua primeira forma instintiva. (MARX, 1996, p. 297) Essa passagem de Marx nos permite compreender o trabalho na sociedade capitalista, no qual O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista a quem pertence seu trabalho. O capitalista cuida de que o trabalho se realize em ordem e os meios de produção sejam empregados conforme seus fins, portanto, que não seja desperdiçada matéria-prima e que o instrumento de trabalho seja preservado, isto é, só seja destruído na medida em que seu uso no trabalho o exija. (ibid. p.304) Sob a forma do capital-trabalho que aparece às desigualdades sociais, no qual o capital explora e expropria a força de trabalho na ampliação e reprodução da mais valia. Nesse âmbito, o campesinato é uma classe trabalhadora que busca se reproduz e recriarse frente à ordem metabólica do capital, das contradições e desigualdades que regem esse sistema de produção perverso e contraditório. Devemos esta ciente de que a classe trabalhadora é heterogênea, multifacetária, fragmentada e não deve ser contextualizada apenas a explicação sobre a ótica da relação capital-trabalho, visto que as mudanças nas relações de trabalho oriunda das reestruturações produtiva do capital nos faz pensar como o trabalho se modifica nas novas formas de organização das estruturas produtivas. 2122 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Autores como (ALVES, 2000, 2009; THOMAZ JUNIOR, 2004, 2006, 2009. ANTUNES, 2004, 2005; BEZERRA, 2013) nos apontam para uma compreensão ampliada da classe trabalhadora no mundo atual. Sob esse aspecto que surge a ideia de plasticidade do trabalho como forma de explicar a morfologia do trabalho e os desafios que a classe trabalhadora tem sob a hegemonia do capital. O conceito de plasticidade do trabalho vem sendo destacado no grupo de pesquisa CEGET, sob a tutela do professor Tomaz Junior, no qual ele analisa as novas expressões do mundo do trabalho e suas transformações na dinâmica territorial do trabalho. Para Bezerra (2009), “a plasticidade do trabalho é um aspecto das relações sociais de produção e do trabalho diante da nova configuração do capitalismo”. Essas diferentes formas de expressões do trabalho nos instiga a pensar o conteúdo da dinâmica territorial do capital. De acordo com Thomaz Junior (2009) Quando nos ocupamos com a (des)realização e as novas identidades do trabalho territorialmente expressas na plasticidade que se refaz continuamente, estamos preocupados com os desdobramentos para os trabalhadores da constante redefinição de profissões, habilitações, especializações, inserções autônomas etc., entremeada, em vários casos, com experiências de despossessão. Essa trajetória de fragmentações atinge em cheio o trabalho, de sorte que são essas as evidências mais profundas do estranhamento a acrescentarem desafios à compreensão do trabalho, na perspectiva de classe. (Thomaz Junior, p.318, 2011) Percebe-se que o autor nos aponta características importantes para entender a plasticidade do trabalho como diferentes formas de expressão do trabalho frente as transformações no mundo capitalista. Sob essas diferentes formas do mundo do trabalho que o cooperativismo rural aparece em áreas de assentamentos rurais, como uma forma de associação entre os trabalhadores assentados para enfrentar as contradições do sistema capitalista. Nesse aspecto, as cooperativas não devem se organizar apenas com objetivos econômicos, mas também com objetivos políticos de longo prazo, que permitam conscientizar os trabalhadores para fortalecer as suas lutas, tendo em vista a transformação da sociedade. Os assentamentos devem transformar-se em retaguarda política de luta contra a 2123 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO burguesia para Ír acumulando forças para a realização da Reforma Agrária. (GORGEN e STÉDILE, 1991:146). Dessa forma, as cooperativas englobam a luta na terra trazendo perspectivas de luta e envolvimento em diferentes dimensões como politica, ideológica, social, econômica e simbólica. Essa forma de se organizar fortalece os assentamentos e permite desenvolver novas formas de transformação da sociedade. Para Fabrini (2000), Nos assentamentos, a cooperativa não deve ser vista como um empreendimento essencialmente capitalista, porque esta não produz exclusivamente para o mercado: produz também para as famílias. Entretanto, é importante observar que existe uma grande preocupação em produzir excedentes, viabilizados, principalmente, através da mecanização e uso de instrumentos e equipamentos modernos, adquiridos no mercado. É evidente que a produção destinada ao consumo no próprio assentamento/ cooperativa (gêneros alimentícios, instrumentos, produtos de sustentação de outras atividades) têm importância fundamental na produção de excedentes, com barateamento de produtos destinados ao mercado. (FABRINI, p. 73) A cooperativa agrícola camponesa tem sido uma proposta feita pelos assentados como forma de emancipação frente ao domínio do mercado capitalista. Alias, a cooperação permite ao camponês quebrar com a produção individual camponesa na qual esta subordinada aos interesses do capital via apropriação da renda da terra na circulação dos produtos agrícolas e não na produção. Analisando as cooperativas COAGRI (Cooperativa Regional de Assentados) e a COOPROSERP (Cooperativa do Assentamento Novo Paraíso), ambas situadas na região sul do país, a Franciosi (2007), nos mostra que A adesão ao cooperativismo por parte dos assentados tem sido incentivada pelo MST, que conhece a realidade e as dificuldades do dia-a-dia nos assentamentos e reconhece que há necessidade da adoção de ações coletivas que garantam resultados positivos na atividade agropecuária. (FRANCIOSI, 2007, p.2) Nesse âmbito, percebe-se que o coletivismo passa a ser influenciado e incentivado pelo MST na busca de enfrentar as contradições do sistema capitalista e os camponeses pudessem emancipar-se diante do capital. O autor ainda nos mostra que Uma das soluções para os assentamentos seria a adoção de ações coletivas, organizadas em cooperativas que possuam condições de 2124 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO sustentar os assentados e se sustentar, através da produção e comercialização de diversas culturas. E mais, as complexas práticas de mercado e a acirrada concorrência que derrubam os preços dos produtos agrícolas, indicam um novo perfil para os assentamentos, que além da cooperativa é necessário à implantação de agroindústrias. (Ibid., p.8) A adoção coletiva nas cooperativas dos assentamentos rurais cria uma possibilidade de desenvolvimento para os camponeses, pois o campesinato passa a ter acesso às politicas publicas e a comercializar frente aos ditames do capital. Em Sergipe, em especial no alto sertão sergipano, a cooperativa que se destaca nessa região é a COOPRASE (Cooperativa regional do alto sertão sergipano), no qual tem 1200 camponeses filiados. Para ter ideia, a região do alto sertão de Sergipe tem 96 assentamentos, segundo o boletim data luta, publicados em 2012. 2125 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Fonte: DATALUTA Sergipe – Banco de Dados da Luta pela Terra, 2012. LABERUR/NERA, 2013.www.laberur.ufs.br O grande número de assentamentos no alto sertão sergipano possibilitou a criação de uma cooperativa regional pelos assentados, como forma de somar forças para 2126 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO a aquisição de politicas de crédito e a comercialização dos assentados no estado. O trabalho na cooperativa é coletivo, havendo divisões de trabalho para dinamizar a produção e a produtividade de alimentos. Nessa divisão, as mulheres ficam no setor de empacotamento, embalagem, entre outros, e os homens se encarregam de ficar no setor de transporte dos alimentos dos assentamentos para a cooperativa. Percebe-se nessa divisão de tarefa a plasticidade do trabalho, na qual homens e mulheres desempenham suas funções individuais, mas tendo a coletividade entre os setores para dinamizar a agilidade e rapidez no setor produtivo agrícola. A eficácia dos camponeses na cooperativa vem ganhando destaque no mercado interno sergipano, e prestigio na sociedade. A aquisição de alimentos pelo PNAE promoveu uma condição favorável ao assentado para comercialização de seus produtos via programa escolar. O PNAE é importante para a cooperativa e os camponeses do alto sertão, pois o direcionamento produtivo comercial ligado a esta politica publica, permite ao camponês produzir alimentos que possam ser inseridos na compra das prefeituras e do Estado pelo programa de alimentação escolar. Dessa forma, a plasticidade do trabalho na cooperativa ascende uma luz de esperança camponesa para quebrar com o domínio do capital e estabelecer uma emancipação camponesa na região. CONSIDERAÇÕES FINAIS O avanço das contradições no sistema capitalista tem fortes rebatimentos no mundo do trabalho. Nesse aspecto, a classe trabalhadora busca diferentes formas para sobreviver a barbárie do capital. A dinâmica territorial e a plasticidade do trabalho são imprescindíveis para entender as transformações que vem ocorrendo no mundo trabalhista. Nesse aspecto, esse texto, nos possibilitou compreender a forma que a plasticidade do trabalho e o cooperativismo rural vêm transformações as relações sociais de produção em áreas de assentamentos rurais. 2127 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Perceptível às transformações do espaço fruto do trabalho humano, no qual a cooperativa regional do alto sertão de Sergipe tem um papel crucial nos rebatimentos territoriais da região. A cooperação camponesa contribui pra um dinamismo e desenvolvimentos dos assentamentos rurais e uma melhoria de condições da vida camponesa. A cooperativa de assentados de Reforma Agrária do Alto Sertão de Sergipe(COOPRASE) foi fundamental para a aquisição e efetivação de programas e ações de Politicas Públicas, em especial o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nestas região. A cooperação camponesa alia-se a plasticidade do trabalho, no qual os camponeses participam com seu trabalho vivo na cooperativa nos setores de produção e comercialização de produtos agrícolas para comercialização no mercado interno e principalmente para a venda de gêneros alimentícios direcionados a merenda escolar. Dessa forma, percebe-se que a cooperativa como forma de organização do trabalho e a produção, contribui para a reprodução do campesinato através da comercialização de produtos oriundos da agricultura camponesa. Aliás, a cooperativa tem uma grande papel importante para os assentamentos rurais do alto sertão sergipano, visto que contribui para o escoamento e a comercialização de produtos agrícolas oriundos do campesinato, garantindo trabalho e renda para os camponeses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2000. ALVES, Giovanni. A. P. A condição de proletariedade: a precariedade do trabalho no capitalismo global. Londrina: Editora Práxis, 2009. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2004. ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha: Ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005. 2128 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO BELIK, W.; CHAIM, N. A. A gestão do programa nacional de alimentação escolar e o desenvolvimento local. Brasília/DF: Sober, jul., 2006. p. 1-19. BEZERRA, Juscelino Eudâmidas. Perspectivas teóricas nos estudos da classe trabalhadora: apontamentos e reflexões. Presidente Prudente: Revista Pegada – vol. 14 n.1. CARVALHO, Daniela Gomes de; CASTRO, Vanessa Maria de. O programa nacional de alimentação escolar – PNAE como política pública de desenvolvimento sustentável: políticas públicas e instrumentos de gestão para o desenvolvimento sustentável. In: Encontro da sociedade brasileira de economia ecológica, 8., 2009. COIMBRA, Marcos (et. al.). Comer e aprender: uma história da alimentação escolar no brasil. Belo Horizonte: MEC, 1982. DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra: Relatório 2012 – Sergipe. FIALHO, A. M. R. Merenda escolar no Brasil: a ilustração da assistência como política social de lógicas contrárias. Dissertação. Mestrado em Política Social-UnB. Brasília: 1993. FRANCIOSI, Ernesto Odilo. O sistema cooperativo dos assentamentos rurais: o exemplo das cooperativas COAGRI E COOPROSERP. Informe Gepec – Vol. 12, nº 2, jul/dez. 2007. GORGEN, F.A.S., STÉDILE, J.P. (Orgs). Assentamentos: Resposta Econômica da Reforma Agrária. Petrópolis: Vozes, 1991. MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1996. MESZÁROS, Istvan. Para além do capital. Campinas: Boitempo editorial/ editora UNICAMP, 2002. STURION, G.L. et al. perfil dos usuários do programa nacional de alimentação escolar: estudo realizado em 10 municípios brasileiros. V Simpósio Latino Americano de Ciência de Alimentos. Universidade Estadual de Campinas, 2003 THOMAZ JÚNIOR, Antônio. A (des)ordem societária do trabalho (os limites para a unificação orgânica). In: MARQUES, M. I. M. Marques; A.U. Oliveira. (Org.). O campo no início do século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Paz e Terra/Casa Amarela, 2004. 2129 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO THOMAZ JÚNIOR. Antônio. Se camponês, se operário: limites e desafios para a compreensão da classe trabalhadora no Brasil. In: THOMAZ JÚNIOR, Antonio; CARVALHAL, Marcelo Dorneles; CARVALHAL, Terezinha Brumatti. Geografia e trabalho no século XXI. Presidente Prudente: Centelha, 2006. THOMAZ JÚNIOR, Antônio. Dinâmica geográfica do trabalho no século XXI: limites explicativos, autocríticas e desafios teóricos. Volume 1. Tese (Livre-Docência), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, 2009. THOMAZ JÚNIOR, A. Intemperismo do trabalho e as disputas territoriais contemporâneas. Revista da ANPEGE, v. 7, n. 1, número especial, p. 307-329, out. 2011. 2130