Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida FCECA 23 Infra-estrutura urbana O conjunto de sistemas técnicos de equipamentos e serviços necessários ao desenvolvimento das funções urbanas é conhecido como infra-estrutura urbana. ZMITROWICZ e NETO (1997) definem estas funções sob os seguintes aspectos: − Aspecto social: visa promover adequadas condições de moradia, trabalho, saúde, educação, lazer e segurança. − Aspecto econômico: deve propiciar o desenvolvimento de atividades de produção e comercialização de bens e serviços. − Aspecto institucional: deve oferecer os meios necessários ao desenvolvimento das atividades político-administrativas da própria cidade. A atividade econômica, em conjunto com a evolução social, ocasiona um aumento nas migrações, que gera um crescimento populacional localizado e, conseqüentemente, uma escassez de habitações. Para suprir a necessidade de habitações, há um aumento na área urbana, geralmente com falta de infra-estrutura devido à falta de recursos para a administração da cidade. Neste contexto surgem as favelas, os cortiços e casas precárias da periferia; sendo, normalmente, constituídas por uma ou mais edificações construídas em lote urbano cujo acesso e uso comum dos espaços não edificados e instalações sanitárias, circulação e infraestrutura, no geral, são precários. Isto pode ocasionar a poluição da água devido às condições precárias de saneamento, culminando em doenças. (ABIKO, 1995 e ZMITROWICZ, 2002) Sendo assim, a infra-estrutura urbana tem como objetivo final a prestação de um serviço, pois, por ser um sistema técnico, requer algum tipo de operação e algum tipo de relação com o usuário. O sistema de infra-estrutura urbana é composto de subsistemas que refletem como a cidade irá funcionar. Para o perfeito funcionamento da cidade são necessários investimentos em bens ou equipamentos que devem apresentar possibilidades de utilização da capacidade não utilizada ou de sua ampliação, de forma a evitar sobrecargas que impeçam os padrões de atendimento previstos. Pode-se classificar o sistema infra-estrutura como o conjunto dos seguintes subsistemas técnicos setoriais: Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida FCECA 24 a) Subsistema Viário: é composto de uma ou mais redes de circulação, de acordo com o tipo de espaço urbano, sendo complementado pelo subsistema de drenagem de águas pluviais, que assegura o uso sob quaisquer condições climáticas. b) Subsistema de Drenagem Pluvial: tem como função promover o adequado escoamento da água das chuvas que caem nas áreas urbanas, assegurando o trânsito público e a proteção das edificações, bem como evitando os efeitos das inundações. c) Subsistema de Abastecimento de Água: tem como função prover toda a população de água potável suficiente para todos os usos. Sendo assim, a qualidade e a quantidade da água são, pois, as duas condições primordiais a serem observadas. d) Subsistema de Esgotos Sanitários: tem a função de afastar a água distribuída à população após o seu uso, sem comprometer o meio ambiente. Sendo assim, este subsistema constitui-se no complemento necessário do subsistema de abastecimento de água e cada trecho da rede de distribuição de água deve corresponder ao da rede coletora de água servida. e) Subsistema Energético: fundamentalmente tem a função de prover a população com dois tipos de energia: elétrica e de gás. Basicamente, para ter-se o fornecimento de energia elétrica é necessário um conjunto de elementos interligados com a função de captar energia primária, convertêla em elétrica, transportá-la até os centros consumidores e distribuí-la neles, onde é consumida por usuários residenciais, industriais, serviços públicos, entre outros. f) Subsistema de Comunicações: compreende a rede telefônica e a rede de televisão a cabo, sendo as conexões feitas por condutores metálicos. As redes de infra-estrutura que compõem este subsistema (cabeamento e fios) seguem especificações similares às do sistema energético. Porém, os subsistemas da infra-estrutura urbana estão relacionados ao conceito de habitação e de meio ambiente e devem ser analisados em conjunto, pois segundo ZMITROWICZ; NETO (1997), temos que: A qualidade do espaço urbano se prende a um conjunto complexo de fatores ligados, não apenas à tipologia da construção como ao meio ambiente interno e externo, apoiados em equipamentos sociais e urbanos Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida FCECA 25 próximos, e nas redes de infra-estrutura e serviços correspondentes. E deve estar dentro das possibilidades de desempenho da população, nas suas condições econômicas e culturais específicas. O próprio conceito de habitação não se restringe apenas à unidade habitacional, mas necessariamente deve ser considerado de forma mais abrangente envolvendo também o seu entorno, envolvendo serviços urbanos, infra-estrutura urbana e equipamentos sociais. De acordo com o Habitat, Agência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, uma habitação adequada, considerandose a infra-estrutura, deve contar com serviços de abastecimento de água seguro e em quantidade suficiente, serviços de eliminação de dejetos domésticos e humanos (ABIKO, 1995). Sendo assim, pode-se afirmar que quando há densidades populacionais inadequadas aos tipos de edificações implantadas como, por exemplo, em um conjunto habitacional com moradias individuais (adequadas a baixas densidades) implantadas com uma densidade alta, tem-se um espaço urbano desagradável e uma qualidade de vida obviamente baixa. Outro problema ressaltado é colocar blocos de apartamentos (adequados a altas densidades) em densidades populacionais baixas, pois a qualidade de vida não seria necessariamente alta, havendo dificuldades de se manter os espaços vazios entre os blocos, resultando em áreas urbanas pouco agradáveis. (ZMITROWICZ; NETO, 1997) O agrupamento de indicadores de infra-estrutura e meio ambiente pode ser observado no estudo realizado pelo Núcleo de Gestão Municipal do Instituto Pólis. Neste estudo, denominado "Evolução Comparada da Qualidade de Vida nos Municípios Brasileiros - O Melhor Desempenho de uma Prefeitura", foram construídos índices de qualidade de vida e de gestão municipal, tomando como referência os 181 mais populosos municípios brasileiros com informações do censo de 1991. Foi obtido um índice único, o Índice Municipal do Instituto Pólis, que é o agrupamento de quatro índices, sendo eles: − Índice de Renda: composto por renda média dos chefes de domicílios e por percentual de chefes de domicílios com renda até dois salários mínimos; − Índice de Habitação: número médio de habitantes por domicílio, número médio de cômodos por domicílio e porcentagem de domicílio com até três cômodos; Núcleo de Pesquisas em Qualidade de Vida FCECA 26 − Índice Ambiental: porcentagem de domicílios com abastecimento de água inadequado, porcentagem de domicílios com coleta de lixo inadequada e porcentagem de domicílios com esgoto inadequado; − Índice de Alfabetização: porcentagem de pessoas analfabetas acima de 15 anos e porcentagem de crianças que vivem em domicílios cujos chefes têm menos de um ano de escolaridade. No caso de cidades menores, como a de Maringá, os índices de qualidade de vida da população com relação à infra-estrutura estão relacionados aos seguintes indicadores: domicílios com água encanada, consumo per capita de água, nível de fluoretação de água, índice de qualidade de água distribuída, proporção de tratamento de esgoto coletado, domicílios com ligação de energia elétrica, consumo per capita mensal de energia residencial, rede compacta de distribuição de energia, quantidade de pessoas por veículo, veículos por grupo de 10 pessoas, quantidade de pessoas por telefone fixo, telefone fixo por grupo de 10 pessoas. Considerando-se o que foi exposto, para a elaboração do Índice Econômico de Qualidade de Vida (IEQV), percebe-se que para a análise da qualidade de vida referente à infra-estrutura do município de São Paulo, normalmente, os dados necessários não são atualizados ou são escassos. Por este motivo, optou-se por agrupar infra-estrutura com o meio ambiente e, primeiramente, usar os dados do censo de 2000.