Título: A FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOS LICENCIADOS EM
CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIPLAC : DILEMAS E TENDÊNCIAS
Área Temática: Educação e Trabalho
Autor: GILBERTO BORGES DE SÁ
Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina - Pós-Graduação em
Educação do Centro de Ciências da Educação
A Licenciatura de Ciências Sociais da Uniplac
A UNIPLAC – Universidade do Planalto Catarinense se constrói como
uma Instituição de caráter comunitário, originada na década de 60, e motivada,
também, pelo surgimento de um contexto de descentralização e interiorização
do ensino superior.
Localizada à cerca de 250 km de Florianópolis, na região central de
Santa Catarina, a UNIPLAC conta, hoje, com 14 cursos de graduação e 10
cursos
de
pós-graduação,
reunindo
aproximadamente
2700
alunos
matriculados.
Fica a cargo da UNIPLAC, portanto, a formação da maioria dos
profissionais que exercem suas funções em empresas públicas e privadas no
planalto serrano de Santa Catarina e,ainda, cabe a ela a formação dos
professores que atuam nesta região, através de seus cinco cursos de
licenciatura (1).
Entre as cinco licenciaturas, oferecidas pela UNIPLAC, encontra-se o
curso de Ciências Sociais. Criado pelo Decreto 79.948/77 - CFE, atualmente,
este esse curso funciona no período noturno, oferecendo 50 vagas anuais e
habilita seus profissionais para atuarem nas disciplinas de Geografia e História,
de 5ª a 8ª série do ensino fundamental, ainda, Sociologia, Elementos de
Economia e Geografia Humana, no ensino médio, nas várias escolas da rede
pública e privada do planalto serrano. Faz-se necessário salientar que ao longo
dos seus vinte e dois anos, este curso já graduou aproximadamente 1100
alunos, sendo que uma parte significativa deles exercem a docência.
O quadro atual de Ciências Sociais, entretanto, demanda algumas
preocupações quanto ao seu presente e ao seu futuro, pois os acadêmicos que
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o integram são, em geral, trabalhadores que, à noite, tornam-se estudantes de
licenciatura. Observa-se, ainda, muitas dificuldades por parte desses alunos,
para manter sua formação acadêmica, devido à fatores como: falta de tempo,
baixo poder aquisitivo, desinteresse pela profissão e outros. Além disso, há
acadêmicos que emitem uma avaliação negativa sobre a qualidade do curso.
No que concerne aos professores, observa-se que boa parte deles
carecem de titulação e formação profissional, muito embora alguns já estejam
buscando aperfeiçoamento em nível de mestrado e doutorado.
E foi, justamente, fundamentados nas informações a respeito do perfil do
acadêmico e do docente deste curso e, diante da necessidade de mudanças e
exigências do mercado de trabalho do profissional, oriundo de Ciências
Sociais, apontadas pelo Documento de Especialistas designados pelo
MEC/Sesu para indicar novos “Padrões de qualidade para os cursos de
Ciências Sociais no Brasil”, que o curso de Ciências Sociais da Uniplac deu
início a um processo de avaliação e indicação de novas perspectivas para ele,
tais como: revisão de currículo, concepção e prática no estágio, novas
habilitações e necessidade de pesquisa e extensão os quais já se integraram
às preocupações e medidas a serem tomadas pelo seu colegiado, até porque é
unânime entre seus profissionais que existe a necessidade de compreendê-lo
sob o prisma de uma nova dimensão, principalmente, a licenciatura.
Procurando-se, desta forma, revitalizar a formação dos professor em Ciências
Sociais, também, a partir das investigações já feitas e daquelas a ser
realizadas pelos pesquisadores integrados ao curso.
Dilemas das Licenciaturas no Brasil
As licenciaturas são caracterizadas por cursos que formam professores
especialistas em áreas específicas do saber, para atuarem de 5ª a 8ª série do
ensino fundamental e no ensino médio. Elas foram criadas, no Brasil, nas
antigas Faculdades de Filosofia, nos anos 30, com uma preocupação
fundamental: regulamentar e preparar docentes para a escola secundária. Sua
organização curricular inicial foi seguir a fórmula “3 + 1” onde as disciplinas de
natureza pedagógica, cuja duração prevista era de um ano, estavam justaposta
às disciplinas de conteúdo, com duração de três anos.
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Além disso, as licenciaturas convivem e sofrem a influência das
transformações de toda ordem que ocorrem no conjunto da sociedade,
deixando-as, muitas vezes, sem rumo, até porque são fatores como a
globalização excludente e a tecnologia que chega cada vez mais nos espaços
humanos, que levam a educação a procurar encontrar seu papel neste mundo
cada vez mais complexo, incerto e cheio de riscos onde
“...a inovação é permanente, todos os dias acordamos um pouco mais
ignorante e indefesos... A técnica é a grande banalidade e o grande enigma, e
é como enigma que ela comanda a nossa vida, nos impõe relações, modela
nosso entorno, administra nossas relações com o entorno” (SANTOS, Milton
apud SCHEIBE, 1997).
Diante deste contexto, as licenciaturas apontam dilemas embutidos
nelas desde seu nascimento, gerando questionamentos como: que caminhos
tomar diante do novo momento histórico?
PEREIRA (1998) conclui que há o consenso entre os pesquisadores da
área de que, atualmente, as licenciaturas estão fragilizadas e precarizadas,
sendo que, se persistir esta situação, elas só alimentarão sentimentos de
impotência aos educadores.
Vários atores sociais coletivos estão buscando saídas para o quadro
caótico da formação de professores no Brasil, dentre eles os mais importantes
são: ANFOPE – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação - instituída juridicamente em 1999, entidade científica que congrega
pessoas e instituições interessadas na questão da formação do profissional da
educação (BRZEZINSKI apud SCHEIBE, 1997), e pesquisadores da área
vinculados a ANPED – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Educação e o MEC, através da Secretaria de Educação Superior, hoje
amparada pela nova lei da LDB N.º 9.394/96, a qual dedica um capítulo à
formação dos professores. Esses são os principais atores que refletem e
buscam dar um novo cenário das licenciaturas no Brasil.
A intenção que move esta pesquisa é contribuir para a grande reflexão
e grupo de trabalho da ANPED que é a formação de professores no Brasil.
Para tal buscar-se-á apontar, através de investigações realizadas por
pesquisadores da área, os grandes dilemas que envolvem a formação de
professores como um todo. Num segundo momento, buscar-se-á a
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compreensão destes dilemas, vistos sob a perspectiva da Licenciatura em
Ciências Sociais da Uniplac.
Um primeiro dilema, considerado um fator externo às licenciaturas, é
apontado por PEREIRA (1996), assinala que os problemas conjunturais trazem
graves conseqüências aos cursos de licenciaturas e provocam a diminuição da
procura de vagas no vestibular, para ingressar na universidade, e uma
mudança no perfil do aluno que opta por seguir a carreira de magistério.
PEREIRA vai buscar em LUDKE (1994) a configuração do perfil dos
alunos que vêm ingressando nas licenciaturas, afirmando que eles buscam
esses cursos mais por pressão, no sentido de obter um possível emprego
imediato em um mercado de trabalho cada vez mais difícil do que,
propriamente, em decorrência de uma inclinação especial pelo magistério.
Esses alunos, em geral, são trabalhadores não, necessariamente do
magistério, e dispõem de pouco tempo e poucos meios para desenvolver um
curso de qualidade. Outros dilemas aparecem inerentes aos cursos de
licenciatura, embora já conhecidos por todos, devido ao fato de existirem desde
a sua criação, para os quais ainda não se encontrou solução que satisfaça as
necessidades do curso e dos profissionais que ali buscam sua formação.
PEREIRA (1996) levanta esses dilemas como sendo: a) separação
entre disciplinas de conteúdo e disciplinas pedagógicas, isto se dá, uma vez
que as disciplinas de conteúdos específicos pouco se articulam com as
disciplinas pedagógicas. A fórmula curricular “3 + 1” ainda está presente nos
centros de formação, até porque os institutos de conteúdos específicos não
assumem a co-responsabilidade pela formação do professor, deixando esta
tarefa aos centros de educação. A separação é clara entre aqueles que estão
só preocupados com o que ensinar e aqueles só preocupados com como
ensinar. Conforme PEREIRA, a separação entre disciplinas de conteúdo e
disciplinas pedagógicas constitui-se em um dilema para a formação de
professores; b) a dicotomia entre Bacharelado e Licenciatura. Essa dicotomia
revela, na maioria das vezes, uma valorização maior nos bacharelados e um
certo descaso para com as licenciaturas. PEREIRA argumenta em estudos de
CARVALHO & VIANNA (1988), quando afirmam que boa parte dos professores
de áreas específicas têm mais interesse em lecionar em curso de pósgraduação e, depois, no bacharelado. Desprezam a licenciatura por
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entenderem que nela os alunos são de “pior formação”, aqueles que não tem
“queda” para a pesquisa, ou até mesmo, “aqueles que não querem nada”. A
dicotomia entre ensino e pesquisa reaparece na relação entre bacharelado e
licenciatura. CARVALHO E VIANA enfatizam que esta dicotomia aparece no
currículos dos cursos; c) a desarticulação entre formação acadêmica e
realidade prática. O dilema consiste na falta de integração entre as
licenciaturas e a realidade onde os licenciados irão atuar. Os currículos das
licenciaturas e todo o processo de formação (estágio) estão em profunda
desarticulação com as redes de ensino fundamental e médio.
PEREIRA busca em LUDKE (1994) estudos onde os docentes
formadores desconhecem, muitas vezes a realidade dos sistemas de Ensino
Fundamental e Médio, e não têm, em sua maioria, nenhuma vivência desse
ensino como professores. Isto aumenta em muito as distâncias entre a
formação acadêmica recebida e a realidade escolar que o futuro professor
deverá enfrentar depois de formado.
PAGOTTO (1996) é outro pesquisador que também aponta a dicotomia
existente na formação do professor, para ele a fragmentação entre a
licenciatura e o bacharelado implica fortes reflexos sobre a profissionalização
do educador. Essa falta de definição – formar bacharéis ou licenciados caracterizando uma identidade dúbia, dificulta uma formação mais sólida do
professor e afinada com as necessidades iniciais da profissão. GATTI (1992,
p72 apud Pagotto). Os cursos mostram, dificuldades para se apresentarem
como formadores de professores e as diferentes posições dos seus docentes
convivem no mesmo espaço e tempo, já que se observa múltiplas posições dos
docentes em um mesmo curso, frente a uma mesma questão. Outra
dificuldade, apresentada por PAGOTTO, refere-se à ausência de um projeto
pedagógico que dê conta de propor um curso que explicite, com nitidez, a
participação de outras atividades curriculares e disciplinas que não sejam as
pedagógicas.
Outro pesquisador estudado foi BALZAN (1987). Ele aponta duas
grandes categorias: “internas” e “externas” para a compreensão dos dilemas
das licenciaturas. Para ele os cursos de licenciatura não oferecem condições,
para que o futuro profissional possa adquirir consciência de sua atuação social
– suas limitações e suas possibilidades no processo histórico. A escola ainda
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se encontra presa ao “pedagogismo ingênuo”, manifestando-se aqui a
tendência de que a escola tem o poder de mudar a sociedade, bastando bons
professores para que o “mundo endireite”.
Outro dilema apontado refere-se às licenciaturas que não preparam os
profissionais para atuarem num campo heterogêneo, isto é, em escolas
consideradas de “alto nível” e em escolas da periferia, consideradas de “baixo
nível”. A realidade de hoje diz que os educadores estão atuando em várias
escolas num mesmo dia e essa heterogeneidade traz exigências na formação,
tais como: romper com pré-conceitos de raça, de linguagem e de cultura.
PAGOTTO também afirma que as licenciaturas ainda não têm claro que
a sociedade vive um rápido processo de mudança, onde os conteúdos das
disciplinas são logo superados, não permitindo distinguir nitidamente as
limitações da própria educação formal. Hoje, as licenciatura não conseguem ter
clareza sobre o que é mais importante: os métodos de aquisição de informação
– processo de aprender – ou aquisição de uma cultura geral razoável que
implica o domínio, em profundidade, de conceitos e conteúdos?
Outro dilema é quanto ao processo de ensinar. As licenciaturas ainda
adotam, hegemonicamente, um processo educativo baseado na aula
expositiva, onde o professor traz a solução dos problemas para os alunos,
tornando-se prática comum entre os educadores dar aulas aos alunos de
licenciaturas – o domínio do discurso. Predomina, dessa forma, a crença de
que eles irão se tornar bons professores num passe de mágica, somente pela
força do discurso, da palavra. A partir desta concepção a pesquisa não se
constrói como um elemento chave na formação do educador.
RONCA (1987) observa que as licenciaturas não conseguem romper
com o envolvimento do professor com ilusões e mistificação. Sua formação
ainda o está levando a descobrir somente aquilo que vê, ouve e sente,
impedindo-o de desvelar o real. RONCA aponta alguns elementos que
justificam esta questão: a) as licenciaturas ainda não conseguiram romper com
a dissociação entre reflexão e ação. O conceito de práxis ainda se apresenta
como uma dificuldade para as licenciaturas; b) nossas licenciaturas levam o
professor ao envolvimento com a cotidianidade, impedindo-o de tomar distância
dela e desvelar os mitos e ilusões que cercam sua profissão e seu mundo.
Agindo assim, ele não consegue adotar uma postura problematizadora da
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educação; c) ausência nas licenciaturas de clareza e comprometimento com
um projeto de sociedade (análise da realidade nacional, compreensão dos
condicionamentos ideológicos e uma percepção das reais vinculações da
escola com a sociedade global) e de educação, levando os formadores a
reduzirem suas ações ao treinamento, a um conjunto de técnicas e de métodos
de ensino, escancarando muito bem a dicotomia existente entre teoria e
prática.
Para finalizar, RONCA apresenta alguns mitos que merecem análise
crítica mais cuidadosa das licenciaturas com o objetivo de desmistificá-la: a) a
melhoria do ensino depende apenas de um melhor planejamento. É o mito da
racionalidade do real que se exprime nas idéias de organização e
planejamento; b) através da educação o indivíduo pode subir na vida. É o mito
da ascensão social que se utiliza de exemplos individuais e os toma como
regra geral, gerando o ufanismo pedagógico; c) numa sociedade onde está
presente a livre iniciativa você pode escolher a profissão que deseja abraçar. É
o mito da escolha vocacional; d) A educação é a alavanca da transformação da
sociedade. É a crença ingênua no poder da educação.
As pesquisas de GATTI (1997) mostram estudos onde constata a baixa
satisfação dos licenciados e licenciandos com a formação profissional recebida.
Estas pessoas evidenciam que a formação teórica-prática, oferecida por estes
cursos, não assegura um mínimo necessário para sua atuação enquanto
professores. Alguns disseram que só trabalhando, realmente, poderão
aprender alguma coisa. Muitos ressaltam que a formação recebida acha-se,
excessivamente, distante da prática escolar, sem nenhum valor e utilidade na
escola e que o estágio não favorece o início de sua prática, sendo, em geral,
mal conduzido, mal orientado e mal supervisionado. Para GATTI esse
descontentamento ocorre devido: a) os professores não dão atenção às suas
próprias aulas e aos processos de ensino e de aprendizagem; b) os conteúdos
curriculares não sofrem revisões; c) os conteúdos omitem reflexões sobre o
dia-dia da sala de aula; d) os cursos de formação pedagógica não assumem
um caráter prático de forma a colocá-los diante de situações reais – Estágio
Supervisionado.
Outra pesquisa bem interessante sobre os dilemas das licenciaturas foi
realizada por BICUDO (1996), na UNESP. Para ele a concepção dicotômica
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presente nas licenciaturas revela uma postura epistemológica. A falta de
articulação entre as disciplinas do curso e entre as demais atividades
curriculares gera uma dicotomia entre as disciplinas do ciclo básico e as do
ciclo profissionalizante. Além disso, sua pesquisa revela outros dilemas, como:
reduzido preparo do aluno que ingressa nos cursos de licenciatura, fato
evidenciado pela sua vida escolar precedente e seu fraco desempenho no
vestibular. Em geral esses alunos têm médias bem abaixo de outros alunos
que optam por outros cursos. Outro dilema se refere às condições de trabalho
do professor do ensino fundamental e médio das escolas públicas, em sua
grande maioria, essas escolas são mal-equipadas, faltando infra-estrutura bem
como apoio técnico, pedagógico e psicológico. Além disso, o salário dos
professores é, incompativelmente, menor do que o de outros profissionais do
mesmo nível. Para completar os dilemas das licenciaturas, a pesquisa apontou
a ausência do Projeto Pedagógico ou desconhecimento dele e pouca ou quase
nenhuma avaliação permanente no curso.
Dilemas das licenciaturas em Ciências Sociais
Fica evidente que no interior do curso de Ciências Sociais também se
fazem presentes os dilemas postos acima, assumindo, porém, algumas
especificidades inerentes ao curso.
OLIVEIRA (1992) aponta que a institucionalização do ensino de Ciências
Sociais se deu por volta dos anos 30 até os anos 50. Neste tempo falava-se em
“profissionalização”, ou seja, profissionais das Ciências Sociais. A necessidade
em se ter este tipo profissional veio no bojo da necessidade de se adquirir um
conhecimento específico sobre à sociedade brasileira, conhecimento este
capaz de auxiliar na resolução dos impasses que se colocavam à sociedade. A
idéia era a obtenção de um conhecimento sociológico sobre a realidade
brasileira.
Após sua implantação muito se caminhou no ensino das Ciências
Sociais e muitos dilemas também vieram à tona, entretanto poucas pesquisas
foram
feitas
neste
campo.
Entre
elas
encontra-se
o
trabalho
de
SCHWARTZMAN (1991), mostrando que ninguém está contente com as
Ciências Sociais e a insatisfação hoje é maior do que em outros tempos e
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aponta várias razões para isso, no entanto também afirma que a “crise” não é
só das Ciências Sociais e sim das ciências como um todo. Schwartzman
identifica em suas pesquisas, realizadas no curso de Ciências Sociais da USP
(1991), diferentes expectativas dos alunos em relação ao curso, tais como: a)
pessoas para as quais o curso é uma atividade complementar a outros estudos
e interesses; b) pessoas para as quais o curso é um caminho para a atividade
de pesquisa e de pós-graduação; c) pessoas para as quais o curso é uma
forma de qualificação genérica para um mercado de trabalho que requer
pensamento crítico, iniciativa e capacidade de leitura e expressão escrita e
verbal; d) pessoas para as quais o curso é um momento de transição, tempo de
espera de outras oportunidades e outros rumos. Para Schwartzman essa
diversidade, não tratada no curso, pode constituir-se como um dilema.
Para LUZ (1991) o dilema das Ciências Sociais está associado à
existência de uma deterioração progressiva do ensino universitário nos últimos
dez anos, ocasionado, entre outras causas, pelas perdas salariais dos
professores, perda das condições de vida dos alunos e seus pais, políticas
educacionais que promovem a alienação cultural e pedagógica, através de
pseudo-reformas, e políticas sociais (educação e as universidades) relegadas.
Isso tudo tem contribuído para a existência das altas taxas de abandono no
curso.
BOAS (1991) aponta que o novo momento internacional e nacional tem
desafiado os instrumentais explicativos das Ciências Sociais, necessitando de
uma revisão em seus conhecimentos.
OLIVEIRA (1991) reconhece que a sociedade moderna tem muita
expectativa em torno deste intelectual, pois o considera um cientista capaz de
dar respostas à crise. O grande dilema é que este profissional, tanto na escola
como em outros órgãos da sociedade, está tímido e passível diante desta
expectativa.
LARAIA (1991) observa que há nos programas do curso uma pobreza na
transmissão dos conhecimentos teóricos. Os alunos que optaram pela
licenciatura deste curso são considerados inferiores, incapazes de terem
audácia suficiente, para disputar um espaço no magistério superior.
VEIGA (1991) tem detectado, que nos congressos científicos e nas
publicações à cerca da formação nas Ciências Sociais, acontecem abordagens
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inadequadas, para enfrentar os problemas teóricos, metodológicos ou
pragmáticos. Outro dilema apontado são as frágeis coordenações e
consolidação da comunidade científica desta área.
PAIXÃO (1991) afirma que um dos dilemas do curso é seu baixo
prestígio na hierarquia profissional, afastando os melhores jovens, como
conseqüência, os alunos que ingressam neste curso tem limites de dedicação,
lêem e escrevem mal e pouco esforço fazem para aprender.
Em avaliações recentes sobre o curso de Ciências Sociais, no Brasil,
realizadas pela Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Sociais (2)
foram constatados os seguintes dilemas: os currículos de ciências sociais não
tem sido objeto constante de revisões, encontrando-se hoje bastante
anacrônicos e inadequados. O curso apresenta limitações de conteúdos e de
metodologia, já um tanto superados em relação ao mundo de hoje; as taxas de
evasão são altas; os professores do curso não se dedicam à nenhuma reflexão
sistemática sobre o ensino de graduação; redução de quase 28% da oferta
deste curso entre 1992 a 1994, caracterizando uma falta de demanda do curso
em nível nacional; a falta de dinamismo nestes cursos impede que a sociedade
tenha informações sobre o que a formação em Ciências Sociais oferece em
termos de conteúdo e de perspectiva no mercado profissional. Verificou-se,
também, uma redução da oferta de licenciaturas em 25%, este fenômeno
resulta da falta de mercado no magistério de 2ª grau e do desinteresse pelas
licenciaturas.
Notas
(1) Licenciaturas de Ciências Sociais, Letras, Pedagogia, Matemática e
Biologia.
(2) Esta comissão foi constituída pela SESu/MEC, para definir padrões de
qualidade que orientem a criação e funcionamento dos cursos de graduação
em Licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais, de acordo os requisitos
legais (LDB 9394/96, art. 9º, inciso IX; arts 88 e 90); Decreto 2.207/97 (art. 9ª) e
Portarias 640 e 641/ MEC/97 (art. 9ª).
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