SUMÁRIO CAPA SETEMBRO 2008 PRODUÇÃO Performance CG FOTOS Plantação: Coagrosol Banco de Imagens do Ibraf 14 07 ENTREVISTA 07 MAIS ÁREAS E MAIS TECNOLOGIA 27 33 Aureliano Nogueira da Costa, presidente do XX Congresso Brasileiro de Fruticultura, fala sobre o congresso e a fruticultura capixaba e nacional. FRUTAS FRESCAS 14 DOIS MELHOR QUE UM O consórcio de frutas com duas ou mais culturas gera benefícios no manejo, na rentabilidade e na sustentabilidade da propriedade. SEÇÕES 04 06 10 editorial espaço do leitor campo de notícias Panorama dos principais acontecimentos do trimestre. ORGÂNICOS 18 SUSTENTÁVEL E ECONOMICAMENTE VIÁVEL Um pomar de oportunidades está à disposição de interessados no crescente setor de frutas orgânicas, que exige planejamento e profissionalismo para ser rentável. AGROINDÚSTRIA DE RESÍDUOS 27 LIMITES No campo e na indústria, agentes físicos, químicos e biológicos podem trazer problemas, mas leis orientam processos. MEIO AMBIENTE 33 MUDANÇAS A CAMINHO Pesquisadores apontam como certo a influência das mudanças climáticas sobre a produção frutícola. 12 no pomar Novos abacaxis IAC Fantástico e BRS Ajubá, hora de cuidar do maracujá e brasileiríssima cereja-do-mato. 30 tecnologia País desenvolve pesquisas com frutas usando a tecnologia da transgenia, mas ainda não há liberação comercial. 36 opinião Lenice Magali do Nascimento, do Centro de Citricultura, enfoca importância de produtos fitossanitários regulamentados. 37 agenda Acontecimentos do trimestre. 38 eventos Fenagri e Expofruit movimentam fruticultura nacional em Mossoró, Rio Grande do Norte, e Petrolina, Pernambuco. 41 artigo técnico Processamento mínimo do morango prolonga vida útil de comercialização, mas a técnica simples é pouco aplicada. 44 45 46 campo & cultura classificados fruta na mesa Jabuticaba, pequena e poderosa. editorial Caros leitores, A edição, que antecede o aniversário do terceiro ano da Frutas e Derivados, aborda na matéria de capa um dos temas mais comentados na atualidade: a produção orgânica, em nosso caso, de frutas. Acompanhe a luta deste setor e suas vitórias, inclusive na aprovação de leis: produtores que migraram do convencional para os orgânicos, empresas que apostaram nessa linha de produtos, quando o tema era ainda motivo de descrédito e risos. Mais de 20 anos depois, os orgânicos brasileiros são comprovadamente rentáveis e cumprem sua missão de sustentabilidade e produção em equilíbrio com a natureza. Outro destaque desta edição, que também contribui para a preservação ambiental e, claro, para a rentabilidade do fruticultor, é o cultivo em consórcio de fruteiras. São boas histórias como a do Projeto Reca, na Amazônia, já com 20 anos, ou da Emater, que faz da técnica uma indicação rotineira, com resultados positivos inclusive na redução de uso de agroquímicos. Acompanhe ainda a questão dos resíduos, que podem contaminar alimentos industrializados e são um problema internacional, segundo a Organização Mundial de Saúde. A solução está em aplicar as muitas normas reguladoras, bastante rígidas, assim como as boas práticas de produção e de fabricação para assegurar saúde e comercialização. Por falar em comércio, Estados Unidos e China produzem e comercializam mamão transgênico, enquanto aqui diversos institutos têm pesquisas prontas para frutas transgênicas e outras em estudo. São mudanças a caminho, como as climáticas que os pesquisadores asseguram: vão, sim, interferir na produção de frutas – e em toda a vida na Terra. A solução está em ter um modo de vida mais em harmonia com o ambiente, freando atitudes que coloquem em risco a vida. É uma nova caminhada. Boa leitura para vocês e aproveitem as delícias da brasileiríssima jabuticaba, em fruta na mesa, que começa a pintar de negro os troncos de suas árvores frondosas em alguns poucos pomares comerciais e em muitos quintais brasileiros. Até dezembro, se Deus quiser! Marlene Simarelli Editora [email protected] fale conosco REDAÇÃO para enviar sugestões, comentários, críticas e dúvidas [email protected] ASSINATURA a assinatura é gratuita e para solicitar seu exemplar [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 ANUNCIOS para anunciar na Frutas e Derivados [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lílian Torres Viticultora e Enóloga, Cidade Nova – BA ○ ○ ○ ○ ○ Daniel F. Miqueletto Vinhos Micheletto - Sítio Santa Rita - B. Cestarolli , Louveira – SP ○ ○ ○ ○ ○ “Sou leitor da revista Frutas e Derivados e gostaria de parabenizá-los pelo excelente trabalho.” ○ ○ ○ ○ “A Biblioteca da Embrapa Semi-Árido tem recebido uma demanda considerada da revista Frutas e Derivados. No nosso acervo consta alguns exemplares que são doados, normalmente pelos pesquisadores, com artigos sobre a nossa região. Gostaríamos de parabenizá-los pela qualidade das matérias e d o s a s s u n t o s a b o r da d o s q u e s ã o relevantes para a pesquisa da fruticultura tropical.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Estou concluindo o curso de Viticultura e Enologia promovido pelo Cefet Petrolina. Fiquei encantada com o teor das matérias encontradas na revista. Sem dúvida nenhuma, permitiu-me ampliar mais os conhecimentos referentes à minha área.” “Sou leitor e admirador da revista Frutas e Derivados. Atuo há 10 anos na produção de mamão, melão e melancia, totalizando uma área de 400 hectares irrigados.” ESCREVA PARA 6 ○ Gislene F. Brito Gama Bibliotecária, Petrolina – PA ○ ○ ○ Prof. Dr. Renato Trevisan Universidade Federal de Santa Maria – RS ○ ○ “ A revista aborda assuntos de grande importância aos aspectos ligados à fruticultura, tanto técnico como científico, que, em aula, são ferramentas relevantes para desenvolver o raciocínio dos alunos, bem como no interesse que os assuntos despertam. Parabéns à revista e esperamos sempre contar com ela no auxílio didático do dia-a-dia.” ○ ○ ○ Diretor-Presidente da Coopernova ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Idemir Citadin Pesquisador - Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Pato Branco – PR ○ Daniel Robson Silva “Acabo de receber a revista e ler a reportagem “Fitorreguladores em ação”, pela qual parabenizo a jornalista Daniela Mattiaso pela qualidade. Aliás, as outras reportagens me pareceram muito boas e a qualidade geral da revista também.” ○ ○ “ E m nome de todos os associados da Coopernova - Cooperativa Agropecuaria Mista Terranova, quero parabenizar e agradecer à equipe da revista Frutas e Derivados pela reportagem sobre ASSOCIAÇÕES FRUTIFERAS, que exibe com clareza e muita percepção as experiências das cooperativas destacadas na reportagem da edição 10 de junho de 2008.” ○ ESPAÇO DO LEITOR José Caetano Davi Jr Engenheiro Agronomo, Mossoró – RN Av. Ipiranga, 952 • 12º andar • CEP 01040-906 • São Paulo/SP • Fax (11) 3223-8766 • e-mail [email protected] ENTREVISTA DIVULGAÇÃO AURELIANO NOGUEIRA DA COSTA MAIS ÁREAS E MAIS TECNOLOGIA Marlene Simarelli A fruticultura é o terceiro produto mais importante do Espírito Santo, representando 15% do Produto Interno Bruto do agronegócio capixaba, perdendo apenas para o café e a pecuária. O Estado vai ampliar ainda mais a participação das frutas, lançando três novos pólos frutícolas, em outubro, na capital Vitória. O lançamento ocorre durante o XX Congresso Brasileiro de Fruticultura, que acontece simultaneamente ao 54 o Encontro Anual da Sociedade Interamericana para Horticultura Tropical. À frente da comissão organizadora do congresso está o pesquisador capixaba Aureliano Nogueira da Costa, que trabalha com fruticultura há 25 anos. Especialista em nutrição, Nogueira da Costa é coordenador de Fruticultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e membro da Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF). Durante o congresso, ele vai lançar duas novas tecnologias que desenvolveu para o di- agnóstico do estado nutricional do abacaxi e do mamão Formosa, com recomendação de adubação. Em entrevista à Frutas e Derivados, Nogueira da Costa fala do congresso, da fruticultura no Espírito Santo e sugere: “A fruticultura nacional precisa investir em tecnologias, para melhorar cada vez mais a qualidade das frutas, e no marketing, para divulgação.” Frutas e Derivados - “Frutas para todos: estratégias, tecnologias e visão sustentável” é o tema do XX Congresso Brasileiro de Fruticultura. Qual a razão da escolha do tema? Aureliano Nogueira da Costa - O tema foi escolhido porque as frutas são altamente diversificadas em todo País e por serem consideradas excelente fonte de saúde. Pretendemos abordar toda a diversidade frutícola do País, de norte a sul, com todas as suas inovações tecnológicas, estratégias e a visão sustentável para o setor. Realiza7 ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO AURELIANO NOGUEIRA DA COSTA do a cada dois anos, o congresso reúne a cadeia completa da fruticultura e, por meio das câmaras técnicas, são indicadas as tendências futuras. Frutas e Derivados - O que falta para que haja fruta para todos nas mesas brasileiras? É questão de hábito ou falta poder aquisitivo? Aureliano Nogueira da Costa - O brasileiro não come frutas por falta de poder aquisitivo, pois as frutas ainda são caras. Além disso, nosso custo de produção ainda é elevado e não temos oferta suficiente para atender a toda demanda. Temos que ampliar as áreas cultivadas e inserir mais tecnologia. Com isto, haverá aumento da produtividade, reduzindo custos de produção e as frutas poderão chegar à mesa do consumidor com preços mais baixos, atendendo a toda população. Quando o custo de produção for mais baixo, as frutas terão preços mais competitivos e passarão a ser um item da cesta básica. Para isso, é preciso desenvolver políticas agrícolas e de marketing. “A fruticultura nacional precisa ampliar áreas e investir em tecnologias para melhorar qualidade das frutas.” Frutas e Derivados - E quanto ao consumo de sucos à base de frutas? Aureliano Nogueira da Costa - Sucos também são uma forma de consumir frutas. Acho que o preço dos sucos é mais competitivo, porque a partir do momento que entra no processo industrial têm condições de atender à demanda na entressafra, quando as frutas in natura tem um preço muito alto. Além do poder aquisitivo, aqui entra também a questão cultural. O Brasil ainda consome pouco suco: apenas 1,5 litro por pessoa por ano, enquanto na Argentina, a média é de 15 litros, e na Europa, 35 litros. Frutas e Derivados - Qual é o potencial da fruticultura no Espírito Santo? Aureliano Nogueira da Costa - Este é um dos setores do agronegócio capixaba de maior sucesso. Temos a cadeia agroindustrial das frutas completa, desde a produção, passando pelas empresas 8 de ciência e tecnologia, além de universidades e órgãos de pesquisa, que fornecem tecnologia e apóiam o produtor rural. A assistência técnica é feita pelo Incaper. Há a rede de comercialização, que são as centrais de abastecimento (Ceasas). Com a recente instalação da Trop Frutas do Brasil, temos agora o outro elo instalado no Estado, que é o processamento das frutas. A empresa adquire grande parte da safra de frutas, transforma em polpas e fornece para a empresa Sucos Mais, que comercializa para os mercados nacional e internacional. Frutas e Derivados - Quais frutas o Estado já cultiva e quais são os destaques? Aureliano Nogueira da Costa - As frutas estão em vários pólos, como o de manga da variedade Ubá, com teor de açúcar mais elevado, destinada para indústria. Há ainda os pólos de abacaxi, maracujá, morango, coco e uma grande produção de banana, referência nacional e internacional. O pólo mais antigo e de grande sucesso é o de mamão, que produz tanto o papaia quanto o formosa. Frutas e Derivados - O Espírito Santo pode ser classificado como Estado fruticultor? Aureliano Nogueira da Costa - Sim, porque temos aqui o menor e o melhor resumo do País em condições de clima e solo. O litoral, com clima tropical, produz frutas, como abacaxi e goiaba; na região serrana com até 1100 metros de altitude, a 100 km da capital Vitória, estão as frutas de clima temperado, como pêssego, amora preta, framboesa, morango e caqui. E na região intermediária, são produzidos coco, maracujá e banana. Frutas e Derivados - Em que regiões se concentram as produções e para quais mercados se destinam? Aureliano Nogueira da Costa - O principal pólo frutícola está na região Norte, onde se concentram as empresas de processamento e sucos. Está sediado em Linhares e é composto pelos municípios de Pinheiros e São Mateus. O mamão capixaba é a única fruta exportada para Estados Unidos e Europa. Também atende ao mercado interno, seguindo para Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, em função da logística, pois está num raio de mil quilômetros destes grandes centros consumidores, com fácil acesso por via rodoviária. De 70 a 80% da safra de morango segue para o Nordeste, em caminhões frigorificados. ENTREVISTA AURELIANO NOGUEIRA DA COSTA Frutas e Derivados - O que representam as frutas na balança comercial do Estado? Aureliano Nogueira da Costa - É o terceiro produto mais importante, representando 15% do PIB do agronegócio capixaba, perdendo apenas para o café, cultura tradicional, e a pecuária. Frutas e Derivados - Há incentivos do governo estadual para atração de empresas do setor? Aureliano Nogueira da Costa - O Governo do Estado é o grande incentivador, traçando planejamento com metas, como o novo Planejamento Estratégico de Desenvolvimento do Agronegócio Capixaba (Novo Pedeag), que prevê o desenvolvimento do setor, abrangendo o período de 2007 a 2025. Com metas traçadas, o governo estadual estabelece parcerias, com ações específicas para cada segmento do agronegócio. Frutas e Derivados - O que o Pedeag prevê para a fruticultura? Aureliano Nogueira da Costa - Prevê, em primeiro passo, levantar necessidades de mercado. Se o Estado não estiver produzindo o suficiente para atender, são feitas ações de fomento. O que são estas ações? O Estado adquire mudas para atender o pequeno produtor a custo mínimo (se custa R$ 5,00, repassa a R$ 0,40, por exemplo). É um incentivo. Além de prestar assistência técnica por meio do Incaper, que também desenvolve ações de pesquisa e de proteção ao meio ambiente, em parceria com outros órgãos governamentais. Com isso, organiza a base de produção, incentivando a instalação de novas empresas, como o caso da Trop Frutas do Brasil. Frutas e Derivados - Como está o parque industrial de polpa na região? Aureliano Nogueira da Costa - A cadeia agroindustrial tem boa representatividade. Entretanto, como a demanda por frutas é crescente, a tendência é que se instalem novas empresas. Temos também empresas de processamento de coco, com filiais em outros estados. Frutas e Derivados - Há planos para incentivo e inserção de novas frutas? Por quê? Para atender a qual mercado? Aureliano Nogueira da Costa - Tem, desde que haja demanda. Há planejamento para instalação de três pólos: um pólo de tangerina ponkan na região serrana, nas cidades de Domingo Martins, Marechal Floriano e Venda Nova do Imigrante; o pólo de limão, na região Noroeste, nas cidades de Itarana e Itaguaçu; e o pólo de laranja, em Jerônimo Monteiro, na região centro-serrana. Já existem algumas lavouras implantadas. Agora, estamos na fase de organização e aquisição de material para distribuir aos produtores. Os novos pólos deverão ser lançados, oficialmente, durante o XX Congresso. “Espírito Santo terá três novos pólos de frutas: tangerina, limão e laranja.” Frutas e Derivados - Como são constituídos os fruticultores do Estado? Aureliano Nogueira da Costa - A produção frutícola capixaba é baseada na agricultura familiar, com pequenos proprietários, realidade a que se ‘adequa’ a fruticultura. A estimativa é que empregue diretamente 50 mil pessoas no campo, em uma área cultivada de 85 mil hectares. Frutas e Derivados - O Incaper tem previsão de lançamento de novas variedades adaptadas para a região? Aureliano Nogueira da Costa - Haverá o lançamento de um novo híbrido de abacaxi, resistente a pragas e doenças e com maior rendimento de polpa, além do Vitória, lançado recentemente. Será lançado também um novo híbrido de mamão formosa. Ambos chegarão ao mercado produtor até o final do ano. Frutas e Derivados - Qual a necessidade mais premente da fruticultura nacional? O que sugere para atingi-la? Aureliano Nogueira da Costa - A fruticultura nacional precisa investir em tecnologias para melhorar cada vez mais a qualidade das frutas. Precisa ainda desenvolver variedades adequadas e ajustar o sistema de produção de tal forma que do período de colheita, classificação até a comercialização, o fruto não sofra injúrias, com uma logística mais eficiente e tecnologias pós-colheita. É necessário também desenvolver mais ações de marketing para dar visibilidade às frutas e aumentar o consumo, pois as ações ainda são insuficientes. 9 CAMPO DE NOTÍCIAS Daniela Mattiaso e Luciana Pacheco Legislação para Pequenas Culturas em Fase Final Os produtores de frutas como melancia, caqui, goiaba, pêssego, figo, abacaxi, abacate e maracujá, que são consideradas pequenas, poderão finalmente sair da ilegalidade e utilizar produtos fitossanitários para suas culturas. Já está em fase final de análise um projeto de Instrução Normativa que estabelecerá critérios e procedimentos para a inclusão destas culturas na monografia dos ingredientes ativos registrados para uso agrícola. Até então a legislação obrigava o registro do produto para cada cultura. Com isso, as empresas de defensivos não registravam seus produtos para frutas com menor produção, devido ao baixo retorno econômico comparado com grandes culturas como banana, laranja, etc. Além disso, a mesma legislação exigia o registro por marca comercial e não por agente químico como ocorre em vários outros países. “Desde 2003, estamos batalhando para mudar esta legislação e tirar o produtor das pequenas culturas da ilegalidade”, afirma Luiz Borges, presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Frutas. “Com esta lei,será oferecido um produto mais controlado, pois será possível usar o receituário agronômico” complementa Borges. A Instrução Normativa dividiu as pequenas culturas em grupos e elegeu uma cultura representativa para comparar os Limites Máximos de Resíduos (LMR). Por exemplo, o abacaxi, está no grupo de frutas com casca não-comestível, que possui como culturas representativas os citrus e o melão. Desta forma, o abacaxicultor poderá utilizar os produtos registrados tanto para citrus quanto para melão, porém com doses de aplicação iguais ou inferiores àquelas indicadas para estas culturas. No entanto, estudos para identificar a dose exata deverão ser realizados num prazo máximo de dois anos. “Esta normativa irá, inclusive, permitir a permanência dos sucos e frutas tropicais brasileiras no mercado in- 10 ternacional”, complementa Borges. Isto porque para conseguir uma certificação internacional, como o GlobalGap, o produtor e futuro exportador precisam assegurar que utilizam produtos registrados no Brasil para a sua cultura. Interpoma: Variedades e Inovação para Maçã O mercado internacional de maçã e seu desenvolvimento serão assuntos da 6ª Interpoma 2008, feira internacional para produção, armazenamento e mercado da maçã. O evento será realizado entre os dias 6 e 8 de novembro, em Bolzano, sul da região do Tyrol, na Itália, com o tema “A maçã no mundo”. A Interpoma deve apresentar um balanço da evolução da fruta pelo mundo, abordando, especialmente, as variedades Golden, Gala, Granny Smith e Red, campeãs de vendas este ano. Em 2006, mais de 63 milhões de toneladas foram produzidas no mundo. Deste valor, 55% estão situados na Ásia, seguidos de Europa, com 22%, e América do Norte, 15%. O congresso também vai analisar e discutir a implementação de tecnologias inovadoras no cultivo da fruta, além de novidades já aplicadas, com o objetivo de elevar, continuamente, o potencial e a qualidade da maçã. Viamão terá Associação de Fruticultores Uma nova associação de fruticultores acaba de ser criada na cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de difundir a fruticultura e estimular o trabalho de forma conjunta e comunitária. A iniciativa teve apoio da Emater/RS-Ascar, Prefeitura e do Ministério da Agricultura que, desde 2006, incentivam a fruticultura em Porto Alegre e na região, para promover a diversificação da produção e atender à demanda do mercado institucional com o fornecimento de alimentação escolar, etc. Atualmente, 52 produtores se dedicam à atividade frutícola, numa área de 70 hectares, com diversas variedades, sendo as principais o caqui, a goiaba e o figo. Fair Trade para Melão Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, um pequeno grupo de produtores está transformando o “comércio justo” em alternativa para o crescimento da fruticultura nacional, assim como para valorização e reconhecimento do melão no exterior. A princípio, apenas oito produtores estão envolvidos no cultivo que terá 32 hectares, com perspectiva de aumentar o número para 50 hectares. Segundo Ubiratan Carvalho, presidente da Associação de Desenvolvimento Agroindustrial Potiguar (Adap), já há contratos fechados com a Inglaterra, para onde será exportado um container por semana. “Espero que a demanda aumente, já que a certificação Fair Trade é nova para o melão”, afirma. Fundada em 2007, a Adap tem como objetivo melhorar as práticas de venda e tornar o comércio justo uma saída para os produtores. Segundo Carvalho, os agricultores estão apenas aguardando a certificação, que sairá entre seis e oito meses, para começar o cultivo do melão. Snacks de Frutas Uma nova linha de frutas desidratadas, chamada FruitCo., acaba de ser lançada no mercado pela empresa Vale do Rio Pardo. Com oito opções - banana, maçã, melão, abacaxi, mamão, manga, caqui e pêra -, o snack de frutas pretende ser uma alternativa saudável para os consumidores, já que é 100% natural, sem adição de açúcar ou conservantes químicos. Ele pode ser consumido por pessoas com restrições alimentares ou que fazem dieta, pois mantém o mesmo valor calórico da fruta. O produto tem um período de validade de 12 meses. Mais informações: www.fruitco.com.br Lançado mix com 19 Frutas Proveniente da combinação de 19 frutas, entre elas, açaí, acerola, cupuaçu, blueberry, cranberry e romã, a empresa MonaVie acaba de trazer para o mercado nacional uma alternativa no segmento de bebidas: o mix de frutas MonaVie Original. Ele possui antioxidantes, vitamina C e não contém adição de açúcar ou adoçantes artificiais. Em sua composição, é utilizada a combinação do purê de açaí com o exclusivo pó de açaí, obtido pela tecnologia freezedrying. O processo, que consiste na desidratação por congelamento da fruta, diferente da desidratação por calor, utilizada tradicionalmente, inibe a perda de sabor e nutrientes, preservando, assim, as propriedades naturais do açaí. O produto é fabricado e engarrafado no Brasil. Mais informações: http:// www.monavie.com.br Fécula de Mandioca para a Manga Durar Mais A manga embalada já descascada e fatiada pode durar até 15 dias, se coberta com fécula de mandioca. A cobertura, desenvolvida pela engenheira agrícola Marcela Chiumarelli, foi testada nos laboratórios da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) em mangas da variedade ‘Tommy Atkins’, demonstrando ser uma maneira eficaz de aumentar a vida de prateleira do produto. Na forma minimamente processada, explica Marcela, apesar da praticidade e conveniência, a manga pode apresentar escurecimento enzimático depois de cortada, podendo ocorrer também mudanças indesejáveis de textura. Segundo a pesquisa divulgada no jornal da Unicamp, a engenheira utilizou o ácido cítrico, para evitar o escurecimento das fatias, e a cobertura de fécula de mandioca, produto nacional e barato, para promover uma barreira ao vapor de água e às trocas gasosas em torno do produto, retardando sua deterioração e possibilitando sua comercialização. Para outras informações, ligue para (19) 3521-5111 ou mande e-mail para [email protected] Infância Saudável Melhorar a saúde das crianças e mudar seus hábitos alimentares. Esses são os dois principais objetivos da Comissão Européia, que propôs, no início de julho, a criação de um programa que funcionará em toda a União Européia, com financiamento inicial de 90 milhõe de euros. A distribuição será co-financiada em uma base de 50 ou 75%, nas chamadas zonas de convergência, cujo PIB – Produto Interno Bruto, é mais baixo. A ação, que terá início no ano letivo de 2009/2010, além de distribuir as frutas e legumes, financiará atividades nacionais em curso ou a criação de novas iniciativas. No entanto, ainda precisa ser aprovada pelo Parlamento Europeu. Segundo as regras do programa as autoridades nacionais deverão criar uma estratégia de cooperação entre os responsáveis pela saúde pública e pelo ensino incluindo a participação da indústria e grupos que apresentem interesse. Para maiores informações acesso o site: ec.europa.eu/agriculture/ markets/fruitveg/sfs/ index_en.htm Novo Trator para Culturas Perenes Atualmente, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, 77% da mão-de-obra agrícola do Brasil e 60% de todo o alimento que chega à mesa dos brasileiros vem da atividade agrícola familiar. Apostando neste mercado crescente, a Agritech Lavrale apresenta um novo produto para o segmento: o trator Agritech 1175 - com super-redução, motor Yanmar de 75 cv e 16 válvulas. O projeto é nacional e foi criado e desenvolvido pela empresa. O trator é voltado, principalmente, para culturas perenes, como maçã, manga, uva, nectarina, citros, café e etc. Mais informações: www.agritech.ind.br Novos Fertilizantes no Mercado A Nutriplant, fabricante de micronutrientes e fertilizantes foliares para frutos, hortaliças e flores, acaba de lançar três novos fertilizantes foliares. O NutriOrganic, da linha Equilibrium, contém aminoácido, que ajuda no equilíbrio e melhora a absorção e transporte dos nutrientes. Segundo a empresa, o produto amplia a resistência das plantas a situações de estresse por condições ambientais ou ataque de pragas e doenças. A linha Foskalium é composta de fertilizantes foliares à base de fosfitos de cobre, manganês, zinco e molibdênio para suprir as necessidades nutricionais. Já o Derivat, da linha TechNutri, composto de nitrogênio e fósforo, tem características especiais, segundo a Nutriplant, para melhorar a nutrição, impedir precipitações de nutrientes e reduzir o desvio da calda (solução de água, fertilizantes e defensivos para as plantas) pela ação do vento. Parceria Ibraf & Kibon Fruttare A linha Fruttare, da Kibon, acaba de receber do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), um selo atestando que os picolés são feitos com fruta de verdade. O certificado, que será impresso nas embalagens da linha, é o primeiro e único concedido pelo Instituto para uma empresa fabricante de sorvetes. Para comemorar a conquista e celebrar a diversidade e riqueza do solo brasileiro, Fruttare apresenta, a partir de setembro, a edição especial de verão “Raízes do Brasil” com dois novos picolés de frutas tipicamente brasileiras: Açaí e Acerola. Os produtos foram desenvolvidos com a polpa 100% natural das frutas. O açaí é colhido e selecionado na Amazônia e a acerola é cultivada em Junqueirópolis, cidade do oeste paulista, conhecida como “capital da acerola”. Envie suas notícias para: [email protected] 11 NO POMAR Daniela Mattiaso UM ABACAXI FANTÁSTICO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ASSESSORIA DE IMPRENSA IAC Um novo abacaxi, resistente à principal doença da cultura no Brasil, a fusariose, causada pelo fungo Fusarium subglutinans, será lançado no final do ano. É o abacaxi IAC Fantástico. O coordenador do Projeto de Melhoramento Genético do Abacaxizeiro, Ademar Spironello, conta que a nova cultivar pode reduzir despesas e é mais fácil de cultivar, por necessitar de menos defensivos agrícolas. “Sua resistência à fusariose ficou comprovada em ensaios com inoculação do agente causal, o fungo. Mesmo com a doença, a fruta teve sua muda desenvolvida, ao contrário das demais variedades, que apodreceram”. Entusiasmado, relata ainda outras vantagens do abacaxi: “ele tem excelente durabilidade pós-colheita: após 12 dias, o fruto apresentou ótimo estado de conservação, sem refrigeração. O IAC Fantástico tem melhores condições de exportação, com cor mais atraente na casca, tamanho médio, polpa muito saborosa, macia e pouco ácida, indicada para consumo in natura, podendo também, ser industrializado”. As folhas têm poucos espinhos, semelhante à variedade Smooth Cayenne, conhecida por Havaí ou Bauru. As regiões indicadas para cultivo são as quentes e ensolaradas, com solos arenosos e bem drenados. Spironello acredita que o novo abacaxi vai, a médio e longo prazo, substituir o Havaí e o Pérola no consumo in natura no País. O IAC Fantástico foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas, Instituto Biológico, Instituto de Tecnologia de Alimentos e Pólos Regionais da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. São eles: Walter José Siqueira, José Alfredo Usberti Filho e José Emilio Bettiol Neto, Antônio Lúcio de Mello Martins, Josiane Takassaki, Iêda M. Louzeiro e José Maria M. Sigrist. Encomendas de mudas já podem ser feitas pelos telefones: (19) 3241-5847ou 3241-5188 ou pelo e-mail: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PRIMEIRA CULTIVAR DE ABACAXI PARA O SUL A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical acaba de lançar a primeira cultivar de abacaxi adaptada ao clima temperado da Região Sul. A BRS Ajubá não tem espinhos nas folhas e apresenta sabor ainda mais doce no verão e é recomendada para consumo in natura e para indústria. Além de adaptado ao frio, o Ajubá apresenta resistência à fusariose, principal doença da cultura, segundo José Carlos Nascimento, chefe geral da unidade. Desde 1984, o centro de pesquisa mantém programa de melhoramento genético do abacaxizeiro em busca de variedades que aliem resistência à fusariose a boas características sensoriais exigidas pelo mercado. Segundo a supervisora de mudas da Gerência de Sementes e Mudas da Embrapa Transferência de Tecnologia, Soraya Barrios, a cultivar foi avaliada durante três ciclos. Os testes de validação foram realizados no Noroeste do Rio Grande do Sul, região para a qual é recomendada. Mais informações pelo telefone: (61) 3448-4510 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ NOVA OPÇÃO DE BANANA ANA LEDO/EMBRAPA ○ 12 A Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju (SE), em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das Almas (BA), lançou sua primeira cultivar de banana, a BRS Princesa. A produtividade da fruta é de 15 a 20 toneladas por hectare, mas pode chegar a 25, dependendo do manejo. Os cachos pesam, em média, 15,56 kg, com frutos de 116,6 g, de cor esbranquiçada. “Entre as vantagens da ‘Princesa’ estão tolerância ao mal-do-Panamá e resistência à Sigatoka-amarela, principais doenças desta cultura”, afirmam os pesquisadores Ana da Silva Lédo, Josué Francisco da Silva Junior e Sebastião de Oliveira, das Embrapas. A ‘Princesa’ é muito semelhante à banana maçã, cujas áreas foram dizimadas em quase todo o País devido ao mal-do-Panamá. As plantas de porte médio de 3,60m podem ser cultivadas no espaçamento 3 m x 2 m. A BRS Princesa está sendo recomendada para cultivo no Baixo São Francisco, em Sergipe e Alagoas, e no Recôncavo Baiano, onde o clima é quente e úmido, com estações seca e chuvosa definidas. A indicação é para plantio o ano todo em áreas irrigadas ou no período chuvoso, quando cultivada em sequeiro. A primeira colheita se dá, em média, cerca de 13 meses após o plantio. Os produtores interessados devem enviar um e-mail para [email protected] ou ligar para (79) 4009-1300 LAURA MARIA MOLINA MELETTI /IAC RENOVAÇÃO E PODA DO MARACUJÁ A maioria dos pomares de maracujá produz por duas safras e nesta época, dependendo da região e da idade das plantas, há pomares em renovação e outros em plena produção. Esta situação gera diferentes cuidados. “Caso esteja renovando seu pomar, o produtor deverá extrair totalmente as plantas, mantendo o local sem vegetação por uns 40 dias, a fim de eliminar simultaneamente todos os fungos, bactérias e pragas que estavam alojadas nas plantas velhas”, explica Laura Maria Molina Meletti, coordenadora do Programa Maracujá do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP). Laura acrescenta que “o produtor deve retirar toda a massa vegetal e queimar fora do pomar. Enquanto prepara o solo para o novo plantio, deve obter sementes ou mudas sadias, de cultivares selecionadas e registradas, de origem conhecida e características superiores. Frutas bonitas dependem inicialmente de semente selecionada”. No centro-sul, os meses de setembro e outubro são os mais recomendados para plantio, embora possa haver plantio em campo de setembro a março. “Quanto mais tarde o plantio neste período, mais curta será a safra do ano seguinte”, alerta. “Para evitar o aparecimento de doenças limitantes, é necessário o uso de quebra-ventos no pomar, que reduz significativamente a incidência de doenças foliares. Para os fungos de solo, não se deve plantar maracujá em baixadas, em áreas com tendência ao encharcamento e utiliza-se irrigação com os devidos cuidados para garantir boa drenagem,” orienta a coordenadora. Ao optar por duas safras agrícolas, os cuidados para o maracujazeiro são outros. Nesse caso, segundo Laura, “ele deverá fazer a poda de renovação até no máximo início de setembro, preparando as plantas com adubação prévia de NPK e pulverizando com fungicida à base de cobre, para que a rebrota seja vigorosa e saudável. Em outubro e novembro, observa-se o início do florescimento dos pomares, mais cedo para os que não foram podados, o que exige adubação regular, mensal e bem feita. Isso garante a permanência das flores e o elevado pegamento dos frutos.”A pesquisadora afirma que “nos pomares devidamente podados, a eliminação do excesso da massa vegetal de plantas velhas e doentes resulta numa produção de frutos maiores e mais saudáveis, desde que acompanhados por adubação adequada e completa. Já, nos pomares onde não se fez a poda apenas uma pulverização preventiva para fungos e bactérias não é suficiente, porque a densa massa vegetal do ano anterior permanece; há necessidade de complementar com aplicação de fungicidas e/ou bactericidas curativos, dependendo do estágio das doenças existentes”. Em dezembro, começa a colheita, “exigindo os cuidados normais do pomar, que são adubações mensais, pulverização preventiva de cobre a cada 15 dias, se houver baixa umidade, e a cada 7 dias, em condições de elevada umidade, além do controle de pragas após constatação de sua presença em nível de dano econômico”. A pesquisadora explica ainda que em função do maracujazeiro crescer, florescer e produzir quase ao mesmo tempo, e por um longo período do ano, os cuidados com adubações equilibradas e controle de doenças são permanentes e devem ser observados o ano inteiro. ○ ○ ○ ○ ○ RODRIGO C. FRANZON ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ BRASILEIRÍSSIMA, CEREJA-DO-MATO “Muitas espécies frutíferas nativas representam grande potencial econômico, principalmente, para o pequeno produtor rural, que pode passar a investir em frutos diferenciados. Uma destas espécies é a cereja-do-mato (Eugenia involucrata), fruta encontrada de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul”. A conclusão é resultado de estudo conduzido pelos pesquisadores Juliana Degenhardt, da Embrapa Clima Temperado; e Rodrigo Cezar Franzon e Raquel Rosa da Costa e da Universidade Católica de Pelotas, RS. Conhecida também pelos nomes populares de cerejeira-da-terra, cereja-doriogrande, cereja-preta, ibaiba e ivaí, a fruta tem coloração brilhante, negro-violeta, além de ser doce e delicada. De acordo com os pesquisadores, “a espécie tem bom potencial econômico devido às qualidades de seus frutos, que podem ser consumidos in natura ou na forma de doces, geléias e licores. Ela ainda pode ser utilizada como componente na recuperação de áreas degradadas ou como espécie ornamental, devido à beleza de suas plantas. Além disso, a cereja-do-mato tem despertado interesse na área de fitoterápicos, pois na medicina popular, as folhas são empregadas em forma de chás, com ação antidiarréica e digestiva. A avaliação da composição química do óleo volátil revelou a presença de 11 substâncias principais, representando aproximadamente 92% do conteúdo total de óleos voláteis”. Mas apesar de seu potencial, a espécie ainda precisa de mais pesquisa. A Embrapa Clima Temperado possui um Banc o Ativo de Germoplasma (BAG) para a cereja-do-mato, formado há mais de 20 anos. O produtor que tiver interesse em cultivar a fruta deve entrar em contato com a unidade pelo telefone (53)3275-8100 ou pelo e-mail: [email protected] 13 ○ ○ ○ O plantio de duas ou mais variedades de frutas traz benefícios no campo, rentabilidade para o fruticultor e contribui com preservação ambiental Maria Finetto Coco com mandioca, feijão e batata-doce, cupuaçu mais banana com rambutão. O que parece ser ingredientes de uma receita exótica, na verdade, são exemplos de culturas – duas ou mais cultivadas num mesmo local. A prática, conhecida como plantio consorciado, é uma alternativa de renda para produtores de Norte a Sul do País. O consórcio também proporciona a diversificação da produção, maior racionalização na atividade e a preservação do meio ambiente. Há boas histórias para contar. O produtor José Roberto Foganholo começou o cultivo da banana como uma barreira de proteção da propriedade onde planta café orgânico. O consórcio das duas culturas, que era mais uma solução a um problema, transformou-se em fonte de renda. Passados três anos, o produtor mantém a propriedade com a comercialização de bananas nanicas. São cinco alqueires em Iporã, noroeste do Paraná. A região é muito quente e o café gosta da sombra da banana. As bananas, cerca de 300 quilos por dia, são vendidas direto ao mercado local. Foganholo é o primeiro a adotar o plantio consorciado na região. Ele diz que o custo da produção é baixo, porque o adubo orgânico usado no café serve para a banana e não precisa ter uma área reservada somente para uma lavoura. Ao todo, são 7 mil pés de banana e 20 mil de café. E garante: “A banana produzida em regime consorciado é de excelente qualidade; os cachos pesam, em média, 20 quilos.” 14 PIONEIRO NO CEARÁ José Silva Cruz planta coco com graviola, há cinco anos, em dois hectares em Paraipaba, CE, e está feliz com o resultado. “A graviola recebe o sombreamento dos coqueiros e tenho os mesmos custos com duas culturas numa mesma área”, explica. A produção é em torno de 8 mil quilos de graviola por hectare/ano e o coco, de 2 mil frutos por hectare/mês. É considerado um pioneiro na região, pois a maioria prefere plantar feijão e mandioca a consorciar com frutas. Cruz prefere não falar da receita com a venda dos produtos, que são vendidos parte in natura (direto na propriedade), outra para a Ceasa de Fortaleza e o restante para produção de “pasta” (polpa+sementes). ”A idéia de consorciar duas culturas ou até mais visa maximizar a utilização da área e diminuir custos, em função dos investimentos anteriormente aplicados”, explica Francisco Chagas Santos Rocha, gerente de Fruticultura do Ematerce. No Nordeste, por exemplo, pode se plantar goiaba com abóbora e maracujá, três culturas que não concorrem entre si. A abóbora é colhida em 70 dias, o maracujá em oito meses e a goiaba, a partir de 18 meses, tendo, assim, receitas para reaplicar dentro da propriedade e para a manutenção das mesmas. Rocha também é produtor e consorciou as culturas do sapotizeiro com mamoeiro. “Já tive retorno financeiro do mamoeiro, visto que o sapotizeiro só SXC FRUTAS FRESCAS inicia a produção a partir do 3º ano. É como se fosse uma jogada financeira com as duas culturas, na mesma área.” Ele calcula que esse sistema é praticado por cerca de 1.2 mil pequenos produtores cearenses, em área de um hectare, em média. Eles vendem o coco in natura ou para indústrias que envazam a água. A goiaba é vendida in natura, parte do maracujá e da graviola maracujá vão para a indústria. SISTEMAS AGROFLORESTAIS Assim é chamado o cultivo em consórcio nas propriedades rurais do Sul da Bahia, que tem base econômica centralizada no cacau e na pecuária extensiva. O clima local, caracterizado por elevadas temperaturas (24oC) e alta precipitação pluviométrica (1.800 a 2.200 mm por ano), bem distribuídos, e relevo bastante acidentado favorecem o desenvolvimento florestal com abundância de árvores de grande porte. Essas características beneficiam os diversos consórcios com arranjos ou combinações diversificadas: árvores, arbustos e palmeiras com frutíferas das mais variadas, combinadas com culturas anuais. O primeiro sistema agroflorestal na região ocorreu com a implantação do cacaueiro sob mata brocada (raleada), que ficou conhecido como cacau cabruca. O sistema foi diversificado e passou a ter cultivos consorciados diversos, a exemplo do cacau sob a seringueira. São mais de 6 mil hectares. Em cada agroecosistema foram desenvolvidos diversos consórcios, de acordo com aptidão agrícola de cada um. “Coco e nas entrelinhas com mandioca, feijão, milho e batata-doce. Depois abacaxi, maracujá, mamão, durante o ciclo médio. E no final do ciclo, frutíferas perenes, como cupuaçu, cacau, e outras frutíferas que conseguem tolerar um pouco mais a sombra”, exemplifica José Basílio Vieira Leite, pesquisador da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Leite explica que nos sis- Cacau, na Bahia, é cultivado em consórcio com seringais temas agroflorestais há melhoria e diversificação da fonte de renda, o que permite ao produtor não ficar vulnerável à variação de preços de um produto só. Na região, há 21 mil produtores, segundo o Ceplac, sendo que 20% desenvolvem algum tipo de consórcio. A produtividade individual das culturas consorciadas tende a ser menor que quando solteiras. “Mas a produção total por área é maior e, por isso, gera maior renda (entre 10% a 25% a mais) e ainda promove melhoria dos solos pela reciclagem de restos vegetais e por cobertura do solo”, observa. As áreas com sistemas agroflorestais são de 5 a 10 hectares, em média. Leite explica que há consórcios temporários envolvendo culturas de ciclo curto e bianual, como feijão, milho, batata-doce, maxixe, quiabo, mandioca, abacaxi, mamão, maracujá, banana, etc. - plantadas nos dois primeiros anos do consórcio principal com plantas perenes. Para 15 PROJETO RECA FRUTAS FRESCAS Arranjos com cupuaçu, pupunha, araçá-boi, castanha, açaí, bacaba entre outras espécies compõem o sistema agroflorestal do projeto Reca os arranjos permanentes, há diversas combinações, como cacau com cajá, seringueira, flores tropicais, jenipapo, madeireiras, jaqueira ou palmeiras (açaí, coco, pupunha e piaçava) com cupuaçu, graviola, pinha, café, cacau e banana. Tem também seringueira com cacau, açaí, cupuaçu; especiarias com café, cacau, piaçava, mamão, banana, e frutíferas com frutíferas (cupuaçu e coco; cupuaçu com banana e rambutão; mangostão mais banana e coco). O consórcio também ajuda no controle às pragas, que ocorrem com maior intensidade por causa do clima local. Leite diz que “o mamão, por exemplo, não pode ser cultivado por mais de 2 a 3 anos na mesma área por problemas fitossanitários”. A saída é cultivar embaixo do mamão, graviola, pinha e outras frutíferas perenes, como mangostão e cupuaçu ou rambutão e cacau. AMAZÔNIA A Associação dos Pequenos Agrossilvicultores do Projeto Reca - Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado – apóia os sistemas agroflorestais. O projeto começou em 1989 e hoje conta com 500 famílias envolvidas - algumas estão na divisa da Bolívia com Brasil, outras no Acre e divisa e o restante dentro de Rondônia. A área alcança cerca de 800 hectares de frutas em consórcio. São arranjos com cupuaçu, pupunha, araçá-boi, castanha, açaí, bacaba, café, mogno, cedro, andiroba, copaíba, teca, rambutão, acerola, nim, graviola e banana, segundo Hamilton Condack de Oliveira, gerente comercial do Reca. Ele diz que o consórcio é de grande importância para preservação e reflorestamento de áreas degradadas, sustentabilidade e viabilidade econômica, e sustentação das famílias envolvidas no campo. Na safra de 2007, o Reca beneficiou 350 mil quilos de polpa de cupuaçu e iniciou o processo de preparação para extração da manteiga do cupuaçu. Há previsão para fabricar 50 mil quilos de manteiga de cupuaçu e 15 mil quilos de sementes de pupunha lisa, com certificado de garantia e registro no Ministério da Agricultura. 16 PARA SEMENTE O plantio consorciado é prática comum em Minas Gerais. “Nossos técnicos são orientados a recomendar o consórcio aos produtores”, diz Deny Sanábio, coordenador técnico estadual de Fruticultura da Emater-MG. O que predomina é o cultivo de feijão com frutíferas, como laranja, pêssego, pêra, goiaba e manga. Mas têm ainda frutas com milho, e até com leguminosas, visando fixação de nitrogênio no solo e, também, retirada de sementes para plantar em outras áreas da propriedade. A manga, por exemplo, por causa dos espaçamentos maiores (10 x 10 metros) é consorciada com amendoim, girassol, milho e feijão. Recentemente, a mamona também é indicada nos primeiros anos do pomar. Sanábio aponta os benefícios: aumenta os inimigos naturais, segura a umidade no solo, diminui a incidência de pragas e doenças e isso é bom para as mudas. “E o produtor terá um subproduto que, depois de comercializado, ajuda a custear a produção ou, então, é consumido dentro da propriedade.” Ele calcula que do primeiro ao terceiro ano de plantio da manga, por exemplo, haja redução de 20% a 30% do custo de produção da frutífera implantada, com a venda do produto da cultura consorciada. RENOVAÇÃO O produtor Antonio Roberto Losqui, de Jundiaí, (SP), começou a plantar milho no meio das videiras e dos pêssegos. Percebeu que o plantio, além de resultar na produção do cereal, proporcionou melhor qualidade de solo. “Além de suas raízes fazerem a descompactação e ter maior absorção das chuvas, a palhada ajudava a fazer cobertura”, explica. Roberto Losqui conta que com a venda do milho, este ano, comprou 140 toneladas de esterco de gado. O fruticultor afirma que também percebeu melhora na qualidade de suas plantas. O engenheiro agrônomo, José Augusto Maiorano, diretor da Cati-EDR Campinas, (SP), diz Cuidados com o plantio consorciado que o consórcio, às vezes, acontece na renovação de um pomar, do tipo figo para goiaba, por período em comum, no máximo de um ano a um ano e meio, quando uma cultura é eliminada. A finalidade é diminuir o tempo de substituição, assim como não cessar ou minimizar a perda da renda da área. Mais de 50% dos produtores da região de Campinas, quando fazem a substituição, utilizam este sistema, segundo Maiorano. As formas mais comuns são goiaba para substituir figo, pêssego para substituir figo ou goiaba, e lichia em substituição a figo ou pêssego (devido ao lento crescimento da lichia, o tempo de permanência das duas culturas na mesma área pode chegar a três anos). O consórcio de culturas é muito mais do que plantar diferentes culturas numa mesma área para usufruir os benefícios. Se não for bem conduzido, pode acabar gerando prejuízos. George Duarte Ribeiro, pesquisador da área de Fruticultura Tropical da Embrapa-Rondônia, alerta para alguns cuidados antes e durante o plantio de frutas em consórcio. “O primeiro passo começa na escolha das espécies, que devem ser definidas em função de suas aptidões e capacidades de se harmonizar umas com as outras”, alerta. Francisco Chagas Santos Rocha, gerente de Fruticultura da Emater-CE, recomenda: “Não deve haver competição entre elas por luz, água e nutrientes. O sistema de irrigação, já dimensionado, deverá atender às necessidades das culturas selecionadas. A adubação química de manutenção deverá ser aplicada, obedecendo a critérios técnicos, após análises de solos e/ou de tecidos vegetais. Atentar para o ciclo de cada cultura: perene, semi-perene ou temporária, a fim de evitar a concorrência e facilitar os tratos culturais, sobretudo épocas favoráveis de mercado (melhor preço).” Duarte Ribeiro acrescenta que é necessário indicar os espaçamentos adequados no estabelecimento dos sistemas, que depois devem ser conduzidos, procurando compatibilizar as culturas. E, também, propiciar as condições para cada uma das espécies componentes (podas, eventuais desbastes, adubações etc.), para o favorecimento delas da melhor forma possível. Para melhores resultados no consórcio com frutas, o fruticultor deve procurar a orientação de um engenheiro agrônomo, pois, além do conhecimento sobre as culturas, as condições ambientais no País são muito diversificadas. 17 A produção orgânica de frutas é um pomar de oportunidades pronto para ser explorado, mas exige planejamento e profissionalismo para ser rentável Marlene Simarelli e Gustavo Henrique Martinez 18 ORGÂNICOS bre a cadeia produtiva de orgânicos. A diretora Maria Beatriz Martins Costa acredita que “a experiência do Ibraf, aliada ao banco de dados e à rede de contatos do Planeta Orgânico, permitirá elaborar estratégias de promoção e desenvolvimento da fruticultura orgânica no Brasil”. A BioFach América Latina e a Carla Salomão, autoridade ExpoSustentat 2008 serão os primeiinternacional ros eventos onde a parceria será sobre orgânicos divulgada internacionalmente, numa preparação para a BioFach em Nuremberg, em fevereiro de 2009. O evento deste ano está programado para 23 a 25 de outubro, no Transamérica Expo Center, em São Paulo (SP), e reunirá frutas, algodão, mel, açúcar, café, cosméticos, etc, produzidos no sistema. A Biofach nasceu na Alemanha, em 2001, e veio para o Brasil, em 2003. A feira também acontece na China, Japão e Estados Unidos. ESSENCIALMENTE COMPRADOR Assim se apresenta este mercado, com demanda crescente por frutas orgânicas nos últimos cinco anos. Sua exploração depende de ofertas regulares e diversificadas, que o Brasil ainda não tem. Há procura, mas falta capacidade de resposta, segundo Carla Salomão. Temos muito espaço para crescer, da fruta in natura aos processados, confirma Valeska de Oliveira, gerente de Negócios do Ibraf. “Estamos atrasados no setor de frutas. Uma oportunidade não aproveitada vai para outro lugar, o que já tem acontecido”, complementa Carla. Para quem pretende investir, o valor das trocas internacionais é de US$ 30 bilhões, com frutas ocupando a 3ª posição. “Até 2010, a estimativa é que o mercado orgânico movimente US$ 60 bilhões. Alemanha e Estados Unidos são os principais consumidores. A Alemanha possui mais de 300 supermercados especializados e deve aumentar em 50% até 2012”, afirma Maria Beatriz. A previsão é que os Estados Unidos superem a Alemanha no consumo de orgânicos até 2010. O crescimento norte-americano, segundo a diretora do Planeta Orgânico, está sendo impulsionado pelo SAINT´CLAIR DE VASCONCELOS Os orgânicos já foram motivo de descrédito, brincadeiras e olhares desconfiados. Frutas orgânicas, então, nem se fale. Mas hoje açúcar, café, algodão, hortaliças, frutas, doces, sucos, geléias, cosméticos, tecidos e outros processados estão na pauta da imprensa, das conversas, na lista de compras. O que era utopia tem admiradores, treinamentos técnicos, feiras, eventos, desenvolvimento de tecnologias pelos órgãos de pesquisa e, melhor ainda, legislação adequada para dar diretrizes, como o decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007, que regulamenta a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Do processo de produção à distribuição e comercialização, das normas de trabalho à proteção ao ambiente, tudo está definido, incluindo multas que variam de R$100 a R$ 1 milhão (consulta no www.agricultura.gov.br). O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, considera que “o decreto foi um marco. A nossa expectativa é desenvolver políticas públicas voltadas a essa produção”. Primeiro País do mundo com regulamentos escritos pelo próprio movimento, não é de hoje que o setor luta por seu espaço. Carla Salomão, engenheira agrônoma e diretora presidente da Agromark & Sastro Ltda., é personalidade internacional quando se trata do tema. “Quando se falava em orgânicos na década de 80, as pessoas mudavam o assunto”, relembra. Hoje é uma realidade mundial, concebida na Europa, por pessoas que buscavam consumo de alimentos sem agrotóxicos com produção integrada ao meio ambiente. Carla assumiu em julho a Coordenação da Divisão de Orgânicos do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), criada, segundo seu Diretor-Presidente, Moacyr Fernandes, para apoiar o desenvolvimento da produção frutícola orgânica com informações de mercado, divulgar seus benefícios ao consumidor e promover eventos, acompanhando as demandas do setor. “O grande desafio inicial é a estruturação e disseminação da informação. É preciso reunir e estruturar dados do País e do mundo, para apoiar a tomada de decisão dos agentes da cadeia. Negócios precisam de dados para dimensionar riscos e transformar-se em oportunidades”, complementa Carla. “Para formar um banco de dados, precisamos da participação de produtores e de empresas no fornecimento de informações e o registro dos produtos”, sugere Eduardo de F. Caldas, gerente de Projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Outra iniciativa do Ibraf foi a assinatura de protocolo de cooperação com o site Planeta Orgânico, representante oficial BioFach na América Latina, maior feira mundial do setor. O site foi o primeiro endereço virtual nacional a reunir informações so- 19 ORGÂNICOS nas. Um quarto aumento da obede todas as banasidade infantil, nas é agora cerque lá se tornou tificado, a maior um caso de saúde cota na Europa. pública. Ela inforO mesmo movima que a Organimento seguiu em zação Mundial da direção ao norte Saúde propôs plaeuropeu, na Finno para combate lândia, Suíça e à obesidade mediAlemanha. O esante dieta global. tudo mostra ainPara isso, disponida que comprabilizará verbas padores europeus ra campanhas em estão desenvolcantinas escolares, vendo fornecepara conscientizar dores internaciosobre a imporFonte: Pró-Orgânico/Ministério da Agricultura nais para assegutância da alimenrar fornecimento tação saudável. No Brasil, os números giram em torno de de orgânicos, pois a produção européia não atende US$ 250 milhões de faturamento no mercado or- a demanda. Vários países europeus tem tido degânico, com potencial de crescimento anual médio créscimo de áreas de produção orgânica, pois o aude 25%. A área destinada ao cultivo aumenta cerca mento de preços dos produtos está desencorajando de 30% ao ano, devendo atingir 3 milhões de hec- fazendeiros para conversão das áreas. Mesmo astares no curto prazo (IBD - Instituto Biodinâmico). sim, o Organic Monitor projeta que os dois setores Estima-se que 60% da produção é exportada. Os devem dobrar o crescimento nos próximos anos. Em supermercados, a escalada pela compra de principais compradores são países desenvolvidos da Europa (Alemanha, Inglaterra, Itália, França), mais orgânicos continua na Alemanha e em países viziEstados Unidos, Canadá e Japão. América Latina e nhos. O faturamento é de 5,4 milhões de euros, Europa. Juntos possuem 68,5% das unidades de representando 3 % do mercado total de alimentos produção, em franca expansão de produção e con- e dos exportadores. Em 2007, a Alemanha teve um sumo. O Brasil tem a sexta maior área com 887,6 aumento de 7% de crescimento de área cultivada, mil hectares, contra 100 mil, em 2000, envolvendo sendo o principal comprador, os supermercados. 15 mil produtores (MAPA). Citros, goiaba, mamão, manga, maracujá, banana, uva e morango lideram SUSTENTÁVEL, PELA o plantio. “Grandes marcas vêm ao Brasil buscar PRÓPRIA NATUREZA parcerias e estão investindo no setor pela pressão A alavancada dos produtos orgânicos se deve a do consumidor“, observa Maria Beatriz. regulamentação feita pelo Governo Federal, segun- MERCADO EUROPEU ASCENDENTE O crescimento do consumo consciente (ethical consumerism) e do comércio justo está elevando a demanda por orgânicos na Europa, apontou pesquisa feita pelo site Organic Monitor www.organicmonitor.com. Os números indicam vendas superiores a 5 bilhões de euros, pela primeira vez, em 2007. A comercialização de frutas e hortaliças teve expansão de 92%. Hortaliças lideram, mas a expectativa é que frutas orgânicas assumam o lugar, à medida que maior quantidade e variedade de espécies tropicais e exóticas forem introduzidas. Maior crescimento aconteceu no Reino Unido, onde as redes Sainsbury´s e Waitrose mudaram todo o fornecimento da cadeia de bana20 do Maria Beatriz. “É um divisor de águas, pois o consumidor terá um selo de segurança. Os orgânicos se anteciparam à demanda da rastreabilidade. Atualmente, nenhum negócio internacional está sendo fechado sem rastreabilidade e sustentabilidade comprovadas”. “É um negócio ‘do bem’, um compromisso com a população e o planeta. Cada dia mais o consumidor quer saber como foi a produção, o tratamento dispensado à mão de obra, entre outros, condições que ganham mais destaque ao redor do mundo”, declarou Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na abertura do lançamento da Biofach, em julho. Eduardo Caldas, da Apex, acredita que “o Brasil poderá sair na frente com pa- PANORAMA DO MERCADO POR PRODUTORES E PROCESSADORES A produção e o processamento de orgânicos no Brasil está em plena expansão. Produtores e empresários do setor têm percebido crescimento anual médio acima de 20% nos últimos anos. Previsões altas animam, mas também trazem preocupações, como alto preço para o consumidor, provocando superelitização dos orgânicos, e falta de produtores com estrutura adequada para fornecimento de produtos in natura e matéria-prima. Para garantir o fornecimento, a Korin, uma das principais distribuidoras de alimentos orgânicos do País, desenvolve ações diretamente com o agricultor. “Parte de nossos fornecedores recebe da empresa assistência técnica e insumos em troca do comprometimento no fornecimento de produtos específicos”, explica Reginaldo Morikawa, gerente geral da empresa. Com uma linha de hortifruti de 65 produtos, sendo 15 variedades de frutas, a Korin registra crescimento de demanda em torno de 20% ao ano. “Acreditamos que chegue em 30% em alguns produtos”, afirma Morikawa. “Além de trabalharmos com fornecedores, a empresa produz boa parte do que distribui. Este ano, produziremos 80 toneladas de morangos orgânicos em Atibaia (SP)”, conta Morikawa. Apesar da atuação focada na Região Sudeste, a Korin apresenta números que, segundo Morikawa, demonstram o quanto este mercado ainda pode ser desenvolvido. “Acreditamos que menos de 1% dos alimentos comercializados no Brasil é orgânico”, afirma. KORIN A empresa Fazenda & Casa, de Gaspar (SC), também trabalha para garantir fornecimento ao seu catálogo orgânico com seis sabores de geléias e passa de banana, além de cereais, conservas, óleos e suco de tomate. “Em um mercado que cresce mais de 20% ao ano, a busca para garantir matéria-prima é constante; por isso disponibilizamos assistência técnica e materiais, como adubos e sementes, a alguns produtores”, afirma seu diretor, Carlos Mendonça. A dificuldade no fornecimento de matérias-primas é hoje um das principais queixas das processadoras de orgânicos. A Natus, fabricante de geléias e doces elaborados com frutas orgânicas, em Hortolândia (SP) convive com essa preocupação. “Temos dificuldade de encontrar fornecedores certificados e estruturados. Via de regra, eles são pequenos e sem muita estrutura, o que pode complicar a permanência no mercado”, relata o diretor administrativo, Nilson David. A Nutribox também exemplifica bem os dois lados do mercado de orgânicos. Ela lança em setembro uma linha de sorvetes orgânicos. Os picolés NUTRIBOX drões de transparência e rastreabilidade para que o consumidor tenha certeza do que consome. O setor de orgânicos é, pela própria natureza, sustentável”. Reginaldo Morikawa, ações diretas com produtor garante fornecimento Fernando Barcelini, dificuldade para encontrar fornecedores para sorvetes orgânicos 21 EMBRAPA MEIO AMBIENTE ORGÂNICOS Fernando Ataliba Nogueira: planejamento é ferramenta essencial para plantio e comercialização que sejam mais caras. Se o consumidor tiver esse tipo de informação, pode escolher o que comprar. Assim, temos certeza que os preços dos orgânicos se aproximariam bastante dos produtos convencionais de qualidade”. Ele considera como ideal uma diferença de 100% nos preços finais dos produtos orgânicos em relação à média dos convencionais. PLANEJAMENTO ESSENCIAL ELITIZAÇÃO A elitização dos produtos orgânicos também é barreira a ser superada. Com a demanda crescendo de forma acelerada, algumas redes de supermercados e lojas aproveitam para otimizar seus lucros no setor. “Não raro encontram-se frutas e legumes até 400% mais caro que o similar convencional” aponta Morikawa. Um dos fatores da elitização dos vegetais orgânicos, segundo ele, é a concorrência desleal. Ele acredita que o varejo pode diminuir a prática diferenciando os produtos entre orgânicos e convencionais e também por características como sabor, regionalidade, procedência e variedade. “Essa prática inibiria a concorrência de ‘combate’, na qual produtos de características inferiores, e, portanto mais baratos, são comercializados como produto padrão. A idéia é fornecer ao consumidor informações para que possa escolher entre diferentes produtos, hoje vendidos como um só”. Morikawa exemplifica: “Uma melancia produzida no Nordeste tem características diferentes de sabor das produzidas no Paraná. As do Nordeste são mais doces e tem o frete incorporado ao custo. Natural 22 Parreiral orgânico: saúde e produtividade no Sítio Catavento JOSEMAR RODRIGUES (MAZINHO) nos sabores açaí, banana, morango, manga, uva, goiaba e abacaxi têm previsão inicial de produção em torno de 10 toneladas -30% da produção total da empresa. A meta, segundo o diretor Fernando Barcelini, é chegar em 2010 com os orgânicos representando 70%. É mais que o dobro em menos de dois anos. Mas, ao mesmo tempo em que planeja a rápida expansão no setor, a empresa confessa sua maior dificuldade: “encontrar fornecedores”. Interessados podem se cadastrar pelo email [email protected] ou telefone (11) 5083-3785, informa. Para o produtor Fernando Ataliba Nogueira, proprietário do Sítio Catavento, em Indaiatuba (SP), a causa da superelitização é política comercial do varejo, principalmente das grandes redes. “A política dos supermercados em vender pouco, porém com margem alta, faz com que o mercado de orgânicos não cresça como deveria. O consumidor está disposto a pagar mais, pelos benefícios que esses produtos trazem à sua saúde, ao meio ambiente, à organização social e econômica do País, mas não muito mais. Já vi casos em que o tomate convencional custava R$ 2,90 o quilo enquanto o orgânico estava a R$ 22. Esse é um dos gargalos do setor”, afirma. A falta de planejamento dos produtores também contribui com a situação, na opinião de Nogueira. “Vemos agricultores convencionais e até orgânicos sendo obrigados a vender suas produções a preços abaixo dos custos, como forma de minimizar prejuízos, pois o mercado está saturado daquele produto. Isso acontece direto. Prejudica o setor, pois os produtos chegam ao consumidor a preços baixos, porém não justos, elevando a diferença de preço entre convencionais e orgânicos”. Nogueira compartilha como se planeja: “Aqui só semeio depois de ter acertado com meu cliente quantidade, prazo e preço. Eu me planejo, faço as contas e fechamos contrato. Todos saem satisfeitos. Acontece, às ve- JOSEMAR RODRIGUES (MAZINHO) ORGÂNICOS Aplicação de técnicas e conceitos orgânicos na produção resulta em frutas de qualidade zes, de, na época da entrega, meu produto estar com o preço abaixo do similar convencional. Mas não importa. Foi contratado”. Atualmente, seus 20 hectares de plantações geram de 12 a 15 empregos diretos. Seu sítio, uma das unidades de pesquisa e demonstração da Embrapa Meio Ambiente, produziu comercialmente, em 2007, quatro variedades de frutas: mamão formosa, lichia, morango e uvas. compradores porque a oferta é bem menor que a procura”. Ele iniciou a produção já no sistema orgânico e encontrou bastante dificuldade para obter informações. “A produção de pequenas frutas ainda é uma novidade e não há quase nada de literatura técnica desenvolvida para nossas condições de clima e de solo”. Para suprir a carência, participou de seminários e visitas técnicas no Chile, Argentina e Uruguai e manteve intercâmbio com técnicos da Embrapa-Pelotas e da Emater de Vacaria (RS). A opção pela agricultura orgânica se deu por vários motivos, entre eles, a crença de que “é a melhor forma de produzir alimentos, o custo da produção tende a ser menor do que a cultura tradicional e o fato de ser uma boa forma de agregar valor aos pequenos produtores”. Segundo Vasconcellos, o preço da fruta orgânica é de 30 a 50% mais alto, além de ter maior facilidade de aceitação pelo mercado. NA LINHA DE PRODUÇÃO No setor industrial, alguns casos mostram que apostar em produtos orgânicos foi essencial. É o caso da Milani S.A., que inovou ao lançar a linha de su- COMPENSA? Compensa. É a resposta dos produtores e empresários ouvidos pela reportagem. Tanto para aqueles que já iniciaram na agricultura orgânica, quanto os que vieram do modelo convencional, caso de Valdecir José do Nascimento, produtor em Cambuí, MG. Sua família está há 20 anos na produção de morangos no Sul de Minas Gerais, mas há quatro anos resolveu migrar para o sistema orgânico. “É minha terceira safra e estou satisfeitíssimo”. O motivo? “São vários: o primeiro é a questão da saúde e do meio ambiente, o segundo é o preço, cerca de 50% a mais, e o terceiro a tranqüilidade no trabalho de cultivo”, responde. Sua plantação de 100 mil pés em 1,2 hectare produz cerca de 75 toneladas por safra. “É uma produção menor do que a convencional, mas mesmo assim compensa”. De acordo com ele, cada caixa de morango orgânico com 6 gavetas de 250 gramas (1,5 quilo) é vendida entre R$ 7 e R$ 8, enquanto o convencional, com 4 gavetas de 300 gramas cada (1,2 quilos) é comercializada na roça entre R$ 3 e R$ 3,50 (valores de agosto). “Ainda tem a questão do sossego, pois a planta exige menos pulverizações e a gente fica tranqüilo vendo a criançada na roça comendo fruta direto do pé. Antes nem deixava eles entrarem”, conta. Outro muito satisfeito é o produtor de frutas vermelhas Saint’Clair de Vasconcellos. Ele colhe cerca de 48 toneladas de framboesas e amoras em Campos do Jordão (SP) e diz que “é fácil encontrar 23 cos Maraú em 2001. “Foi uma manobra audaciosa, visto que na época os consumidores pouco conheciam sobre alimentos orgânicos. Foi necessário um trabalho conceitual no ponto de venda para o consumidor compreender e diferenciar o produto, perceber o valor agregado em relação aos convencionais”, conta Auleo Carvalho, administrador de vendas da empresa. “Começamos produzindo 140 mil litros de suco, ano passado fechamos com 650 mil e até o final de julho já produzimos 440 mil litros”, comemora. No final de 2007, a empresa lançou a linha Betamix, novo conceito que adiciona frutas aos vegetais como alface, agrião, berinjela, trigo, espinafre. Hoje, as duas linhas somam 11 sabores de sucos orgânicos, vendidos em garrafas de 1 litro e 300 ml. E apresentam taxa de crescimento que varia de 30% a 40% ao ano, segundo Carvalho. A Natus, que fabrica geléias e doces orgânicos, é outra indústria que acreditou. Atuando no mercado de alimentos diferenciados há 25 anos, “a empresa anteviu esse mercado e optou por marcar presença, como forma de assegurar opções mais naturais de consumo. Em 97, começamos com cereais e em 2001, iniciamos a produção de doces e geléias”, conta Nilson David, diretor administrativo. Na época, a produção era em torno de 30 toneladas. “A expectativa para este ano é fechar em 120 toneladas, representando 6% do faturamento da empresa”, revela David. Na Cooperativa dos Agropecuaristas Solidários de Itápolis (Coagrosol), a orientação para manejo orgânico de citros começou em 2000, no auge da crise do preço da laranja. Eram oito pequenos produtores que buscavam alternativa para sobreviver. Hoje a cooperativa soma 80 associados e, a cada ano, cerca de 10 novos agricultores entram no período de conversão. A Coagrosol processa 100% da produção de frutas orgânicas de seus associados. “São 200 toneladas de suco de laranja, 200 toneladas de suco de li- A CABEÇA DO PRODUTOR ARQUIVO PESSOAL Saint’Clair de Vasconcelos: faltam informações sobre produção mão, 300 toneladas de polpa de goiaba e 400 toneladas de polpa de manga produzidas e exportadas anualmente para Europa e Estados Unidos, com preços que chegam a 70% acima dos processados com frutas convencionais. E não nos faltam compradores. Isso estimula muito a agricultura da região”, conta Reginaldo Vicentim, gerente de negócios da cooperativa. Erra quem pensa que a agricultura orgânica tem baixos índices de produtividade. Esse fator, assim como na produção convencional, depende de vários elementos, como adubação, irrigação e manejo. “Quando se aplica bem os conceitos e as técnicas, é possível ter produtividade tão boa quanto na convencional. O fundamental é ter conhecimento. Conhecer as plantas, suas necessidades e funcionamento. A grande diferença entre ambas é a cabeça do produtor”, acredita Fernando Ataliba Nogueira, do Sítio Catavento. “É preciso enxergar a produção com visão holística, levando em conta vários recursos naturais, diferente do que se ensina na maioria das universidades, que forma agrônomos e biólogos para atuação na agricultura convencional. Não dá pra desvencilhar a agricultura do saber antigo. Eu, por exemplo, não uso agrotóxico e não tenho problemas com pragas. Nem uso essa palavra. Praga é coisa da agricultura convencional. Não brigo com a natureza, busco manter tudo em equilíbrio”, completa Nogueira. Quanto à produtividade no sítio, ele conta que não difere da convencional. “Usamos a mesma genética, preparamos bem o solo, cuidamos bem da roça. Não tem diferença”. A experiência de Valdecir José do Nascimento aponta para a mesma teoria. “A produtividade da minha plantação cresce a cada ano. Ainda não cheguei na produtividade da roça convencional. Faltam uns 20%. Mas estou cuidando do solo e, com certeza, produzirei tanto quanto, daqui uns dois anos”. O período de conversão é o mais crítico, pelo menos na citricultura, afirma Reginaldo Renato Calori, consultor técnico para produtos orgânicos da Coagrosol. “Nesse período, que pode durar mais de três anos, dependendo do destino dos produtos, a produtividade cai cerca de 20%, podendo chegar a 30% no primeiro ano, e os custos aumentam cerca de 40%. Mas, a partir daí, com a menor necessidade de intervir na correção do solo, os custos caem a ponto de se equiparar aos custos da produção convencional quando não ficam abaixo,” explica Calori. PROJETO EXPORTADOR A regulamentação da agricultura orgânica no Brasil trouxe credibilidade internacional ao setor. 24 Esse foi um dos fatores que levaram o Projeto Organics Brasil a registrar grande crescimento no volume de transações comerciais de produtos orgânicos com o mercado externo, segundo Isabela Rebêlo Gloger, coordenadora do projeto. O Organics Brasil é desenvolvido em parceria pelo Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD), Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para fomentar a exportação dos orgânicos nacionais. A iniciativa, lançada em 2005, mostra como o Estado do Paraná está buscando o posto de principal fomentador do setor no Brasil. Nos seis primeiros meses deste ano, produtores e empresas associadas comercializaram US$ 29 milhões, oito a mais do que o ano de 2007. Em 2005, o volume foi de R$ 9,5 milhões de dólares. A previsão do Projeto é fechar 2008 com movimento de cerca de US$ 40 milhões nos mercados interno e externo. “Os produtores nacionais têm muito que crescer. Nesse semestre participaremos de outros eventos internacionais, como a Biofach COAGROSOL ORGÂNICOS Reginaldo Renato Calori, da Coagrosol, em plantio de limão, onde foi implantado Brachiaria para adubação verde América Latina. Traremos 12 compradores internacionais da Ásia, Europa e Estados Unidos para conhecerem nossos produtos”, afirma Isabela. Recentemente, o Projeto intermediou a exportação de 20 toneladas de kiwi orgânico para a Europa. Os produtores Lucilda Chenmes Pereira e Luismar Antonio Martins Pinto contam que apesar de esta- 25 ORGÂNICOS rem preparados para o mercado internacional, há pelo menos 5 anos, foi o Organics Brasil que deu segurança para que a transação ocorresse. “Tanto para os compradores, que perceberam que estávamos dentro de um movimento sério, em parceria com entidades idôneas e importantes como a Apex, quanto pra gente, já que ficávamos inseguros, pois exportar significava concordar com que a precificação e o aceite de compra sejam realizados no destino”, conta Lucilda. De acordo com ela, o investimento deve trazer bons frutos. “O preço foi muito parecido com o praticado no mercado interno, mas tivemos custos altos com embalagens, seleção e armazenagem. O volume exportado foi pequeno, mas o produto foi bem aceito e o comprador já deu sinais de nova compra para a próxima safra, em maio”, anima-se a produtora do município de Cerro Negro (SC). INCLUSÃO SOCIAL A agricultura orgânica também contabiliza bons resultados no setor social. Isso porque dissemina a filosofia de vida de que o homem deve estar integrado à natureza, respeitando a preservação dos recursos naturais, saúde e condições adequadas de trabalho. Na prática, significa dignidade para uma boa parte dos agricultores orgânicos. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Biodinâmica, 90% dos produtores de alimento orgânico pertencem, basicamente, a dois grupos: pequenos produtores familiares, ligados a associações, e movimentos sociais. Juntos, são responsáveis por cerca de 70% da produção. É por meio deste sistema que a Associação dos Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo (SP) e Adrianópolis (PR) está garantindo a inclusão social e econômica de quase uma centena de famílias. A banana é o principal produto produzido pelos 83 associados, distribuídos ao longo de 70 quilômetros. A região possui o menor Índice de Desenvolvimento Humano do Estado de São Paulo e 23% do remanescente da Mata Atlântica. A Cooperafloresta, como é conhecida, utiliza o modelo agroflorestal. “Nesse modelo, a roça parece uma floresta e essa é uma das diferenças do orgânico tradicional. Aqui nós aceitamos o uso de todos os insumos naturais permitidos pela agricultura orgânica, mas não os recomendamos. Interferimos de forma mínima”, diz Nelson Eduardo Corrêa Netto, engenheiro agrônomo, que assessora o desenvolvimento do sistema agroflorestal da associação. Ele conta que desta forma, os associados estão ao mesmo tempo, reconstruindo a Mata Atlântica e produzindo alimentos. “Pegamos áreas totalmente degradadas, com solo de baixa qualidade, e as recuperamos, semeando várias espécies de árvores, que proporcionassem a produção de alimentos numa floresta com vários andares, permitindo o fornecimento de energia solar às várias espécies, na medida ideal para cada planta”, explica. Os resultados também aparecem no bolso dos produtores. Algumas famílias, no início da associação, tinham renda familiar de cerca de dois salários mínimos por ano. Hoje a média é de um e meio por mês. “Não é muito, mas é um dinheiro que entra livre”, explica Corrêa Netto. A produção é vendida diretamente ao consumidor, por meio de feiras organizadas pela entidade parceira: a Rede Ecovida de Agroecologia. 26 Como se tornar um produtor orgânico Quem pretende começar o cultivo de frutas no sistema orgânico, caso da leitora Rosemary Gouveia Cleto, que tem um sítio no meio da Mata Atlântica em Juquiá (SP), deve seguir alguns passos. “O primeiro deles é buscar informações, para a escolha das espécies que quer plantar, na Casa da Agricultura de sua cidade”, orienta José Augusto Maiorano, mestre em gestão agroambiental e diretor do Escritório de Desenvolvimento Rural da Cati, em Campinas (SP). Decidida a espécie, é preciso comprar mudas, que não precisam necessariamente ser produzidas pelo sistema orgânico. É possível encontrar fornecedores nos suplementos agrícolas de grandes jornais, sites e publicações especializadas. Reginaldo Renato Calori, da Coagrosol, salienta que buscar apoio técnico nessa fase é importante e pode ser obtido também em cooperativas e associações de produtores orgânicos. “Ajuda o agricultor a escolher a área mais apropriada, e a ter orientações quanto aos cuidados com solo, utilização de equipamentos e de produtos, registro de ocorrências, além de informações sobre áreas de proteção permanente (APP), cercas com vizinhos, etc. Assim, o produtor já começa a adotar as práticas da produção orgânica”, explica. É preciso também contratar uma certificadora. Existem pelo menos 17 atuando no Brasil. O site Planeta Orgânico www.planetaorganico.com.br - traz lista com telefone e endereço. Normalmente, cada certificadora disponibiliza manual de orientação ao produtor, indicando documentos e prazos. Cabe a ela, começar o processo de certificação agendando inspeção na lavoura, para avaliar aspectos relacionados à produção e à propriedade. Na ocasião, poderão ser coletadas amostras de solo, água e folhas para análises. Os dados geram relatório, que será a base para emissão do certificado de conformidade, com validade de um ano, quando haverá nova inspeção. Apurada a continuidade das práticas, a certificadora emite selo válido para comercialização. A certificação de produtos para o mercado externo deve contemplar as regras de cada país ou bloco. Enquanto o Brasil considera orgânica a produção resultante do primeiro plantio após 12 meses para culturas anuais ou 18 meses, para perenes, na União Européia os prazos são de 24 e 36 meses, respectivamente. Nos Estados Unidos, o prazo de manejo para culturas anuais perenes é de 36 meses. No Japão, é de 2 anos para anuais e 3 anos para perenes. Mas nem sempre é necessária certificação para comercializar produtos orgânicos. A exceção é dada aos produtores que vendem diretamente ao consumidor. “Se vender em feiras, a lei não obriga certificar, desde que seja associado à organização de produtores orgânicos da região onde planta. Se for comercializar em locais de terceiros (mercados, supermercados e varejões), a produção deve ser certificada e identificada com selo”, explica Maiorano. Uma dica do produtor Fernando Ataliba Nogueira é buscar informações em livros. Ele indica como bibliografia básica “todos os livros da Ana Primavesi e outros como Monoculturas da Mente, de Vandana Shiva; Plantas Doente pelo Uso de Agrotóxico, de Francis Bhaboussou; Reconstrução Ecológica da Agricultura, de Carlos Armênio; Teia da vida, de Fritjof Capra e Alimentos Orgânicos, de Elaine de Azevedo”. AGROINDÚSTRIA LIMITES DE RESÍDUOS Agentes físicos, químicos e biológicos em processados podem trazer problemas; leis colaboram para comercialização e saúde A contaminação por agentes físicos (pedras, parafusos, pêlos), químicos (metais pesados, pesticidas, sanitizantes), biológicos (bactérias, fungos) e radioisotopos (resíduos de radiação) em produtos processados são os principais responsáveis pelos problemas de comercialização e de saúde no Brasil e no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que anualmente cerca de 1,8 milhão de pessoas morrem, exclusivamente, por ingestão de bebidas e alimentos contaminados e pelo menos 200 casos de fraude e contaminação de grandes proporções são identificados no mundo. Para a entidade, globalização do comércio de alimentos, urbanização, mudanças no estilo de vida, degradação ambiental, contaminação deliberada e desastres naturais, estão incrementando os riscos. “Hoje, na indústria de alimentos processados, é cada vez maior a exigência do mercado para a aquisição de produtos controlados ou com isenção de resíduos de pesticidas e metais pesados”, afirma Marco Antonio Mendes, diretor industrial da Via Nectare, empresa especializada na produção de polpas de frutas tropicais. “É urgente a necessidade das entidades governamentais responsáveis reforçarem seus programas de conscientização e extensão rural junto aos produtores de frutas, intermediários e às indústrias - que, por vezes, buscam um lucro maior e não cumprem todos os requisitos definidos pela legislação aplicável ao setor. O mercado externo está de portas abertas aos produtos brasileiros, desde que cumpram os requisitos exigidos por ele”, alerta Luis Filipe Sousa Dias Reis, diretor da PGP Consultoria e Assessoria, especializada na prestação de serviços para empresas de agronegócios e atividades relacionadas à segurança alimentar (cadeia campo-mesa). LEGISLAÇÃO, NORMAS RIGOROSAS Por afetarem a segurança alimentar mundial, os produtos processados seguem regras rígidas de importação e exportação, mas que variam de país para país. “O Brasil, como membro da FAO (Food and Agriculture VIA NECTARE Daniela Mattiaso e Maria Finetto Marco Antonio Mendes, o importante é seguir regras e prevenir Organization), está obrigado a cumprir determinados requisitos definidos e aprovados pelos comitês que compõem a organização. Na questão alimentar, temos o Codex Alimentarius, fórum internacional de normalização de alimentos estabelecido pela Organização das Nações Unidas, em 1963, para proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas eqüitativas nos comércios regional e internacional de alimentos. As normas Codex abrangem os principais alimentos processados, semiprocessados ou crus; e também substâncias e produtos usados para a elaboração dos alimentos. As diretrizes referem-se aos aspectos de higiene e propriedades nutricionais, abrangendo: código de prática e normas de aditivos alimentares, pesticidas e resíduos de medicamentos veterinários, substâncias contaminantes, rotulagem, classificação, métodos de amostragem e análise de riscos”, explica Dias Reis. Existem também programas específicos voltados para a resolução ou minimização destes problemas, tais como o de Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), os protocolos de Boas Práticas Agrí27 IBRAF AGROINDÚSTRIA colas (BPA), como Produção Integrada de Frutas (PIF) e o GlobalGAP, etc. “Entre os objetivos do PIF estão a diminuição dos custos de produção, melhoria da qualidade, redução dos danos ambientais e aumento do grau de credibilidade do consumidor em relação às frutas brasileiras. Já, a APPCC é um programa de segurança alimentar que define onde devem ser exercidos controles e realizadas análises para garantir a inocuidade dos alimentos na produção ou industrialização de alimentos à base de frutas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) editou a NBR 14.900, que trata das diretrizes para a implantação deste programa e é adequado, principalmente, para as agroindústrias, embora possa ser aplicado em toda a cadeia. Não sendo de aplicação obrigatória por lei, a certificação APPCC é uma exigência dos clientes do mercado interno (grandes redes de supermercados) e do exterior, que buscam a garantia da inocuidade dos alimentos, com um sistema de controle de qualidade minimamente aceitável na indústria. De aplicação obrigatória, podemos ressaltar, entre outras, a legislação aplicável para o setor da Anvisa (RDC 275, de 2002; Portaria SVS/MS 326, de 1997; Portaria MS 1.428, de 1993; e a RDC 352, de 2002 para frutas e hortaliças em conserva). Cabe salientar, também, que não se pode basear somente nestes dados. Por exemplo, no site do Inmetro (www.inmetro.gov.br) há informações sobre exigências dos países importadores”, informa o consultor. PRODUÇÃO, COMEÇO DO PERIGO Na prática, podem ser encontrados todos os tipos de resíduos, físicos e químicos, em processados. Porém, o grande perigo está nos resíduos químicos, não visíveis a olho nu, que podem ser muito prejudiciais para a saúde. “Os resíduos físicos são facilmente detectados pelas indústrias, pois há equipamentos e tecnologia para detecção e eliminação, mas os resíduos agroquímicos não”, observa Dias Reis. Por esta razão a Anvisa possui o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que monitora e fornece subsídios às entidades responsáveis para controle e definição de políticas de segurança alimentar e mesmo ambiental, minimizando a contaminação do solo por moléculas químicas dos agrotóxicos e adubos químicos. Pesquisadores nacionais têm analisado os problemas provocados pelos resíduos em produtos processados e os seus impactos para a saúde e comercialização nos mercados interno e externo. “Os resíduos de contaminantes em processados refletem a qualidade da matéria-prima usada na formulação durante o processo de fabricação”, explica Izabela Miranda Castro, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos. O ponto mais importante de qualquer linha de produção, ressalta a pesquisadora, é a utilização de matérias-pri28 Resíduos físicos são facilmente detectados pela indústria, com equipamentos e tecnologia para detecção e eliminação mas saudáveis, isto é, isentas da presença de contaminantes. Para minimizar e solucionar este problema, é preciso colocar em prática algumas iniciativas no campo. A aplicação de Boas Práticas Agrícolas (BPAs) nos diferentes sistemas de produção propicia melhora da qualidade do alimento colhido. O manejo integrado de pragas e doenças (MIP) e o manejo e a conservação de solo reduzem a quantidade de defensivos nas lavouras e reduzem os custos de produção, afirma ela. “Através deste tipo de monitoramento, a qualidade dos alimentos pode ser comprovada e problemas nas diferentes cadeias produtivas podem ser detectados, permitindo que ações corretivas sejam adotadas.” As agroindústrias podem adotar dois tipos de ação, segundo Dias Reis, “o primeiro é desenvolver seus próprios fornecedores de frutas, repassando a tecnologia de BPAs, monitorando o processo produtivo e atestando a qualidade das frutas fornecidas.O segundo é colocar barreiras na entrada das frutas, o que exige um sistema laboratorial mais complexo e, sem dúvida, mais oneroso. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Frutas, Moacyr Saraiva Fernandes, este sistema laboratorial é de difícil execução devido ao tempo requerido para realização de certos tipos de análises. “Uma alternativa que, em tese, daria garantia total, seria a produção de frutas pela própria empresa”, diz. Dias Reis acredita que “o segredo está na junção de boas práticas agrícolas na produção, boas práticas de fabricação e análise dos perigos e pontos críticos de controle na indústria, além da avaliação de risco do alimento. E apesar das agroindústrias já possuírem processo de boas práticas de produção, por exigência da Anvisa, ele, por si só, não é suficiente para dar as garantias que os clientes, principalmente do mercado externo, querem. Por isso, é recomendado, também, a implantação e certificação pela ISO 22000, que assegura, que todos os processos envolvidos na produção e industrialização das frutas foram adequadamente monitorados”. O diretor industrial da Via Nectare também acredita nisso e recomenda: “A indústria deve analisar as matérias-primas para o controle de pesticidas e AGROINDÚSTRIA metais pesados; criar uma carteira de produtores que possam garantir matérias-primas livres de resíduos e usar critérios de seleção, fazendo com isso que os demais se enquadrem dentro das normas. O importante é seguir regras e prevenir.” COMERCIALIZAÇÃO, REGRAS RÍGIDAS “Os países importadores da Comunidade Européia, dos Estados Unidos e do Japão possuem normas técnicas, bastante rigorosas, que estabelecem concentrações máximas de resíduos baixíssimas. Estas normas, não sendo atendidas, inviabilizam a entrada de produtos agropecuários em seus territórios. O efeito destas barreiras técnicas, não-alfandegárias, nas exportações brasileiras, é enorme, pois afeta integralmente várias cadeias produtivas”, explica a pesquisadora Izabela Miranda Castro. “É necessário dizer que os níveis de resíduos de praguicidas encontrados em alguns alimentos no País não são de importância do ponto de vista de saúde pública, pois são muito baixos. E o Limite Máximo de Resíduo (LMR) - parâmetro que estabelece níveis aceitáveis de resíduos de praguicidas, sem comprometer a saúde - de cada um deles já possui um fator de segurança de 100 e para crianças de 1000 vezes, o que confere uma proteção aos consumidores de alimentos”, segundo o professor doutor Angelo Zanaga Trapé, coordenador da área de Saúde Ambiental, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Para a comercialização interna, o País não dispõe de programa de monitoramento sistemático, que di- vulgue os resultados dos níveis de contaminação. “Quando isso vier a ocorrer (o que será em breve, com a implementação da legislação de controle preventivo e monitoramento em elaboração) é que se poderá avaliar o impacto na comercialização”, diz Fernando Penariol, coordenador da área de Qualidade Vegetal, do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura. Já, no mercado externo, nos países onde há legislação estabelecida de controle, a ocorrência de contaminações traz grande impacto na comercialização. Segundo Penariol, o que está sendo feito atualmente é o cadastro de empresas exportadoras no Mapa, com exigência de controle para atender à legislação dos países importadores e, futuramente, legislação complementar ao Decreto 6.268/2007, que tratará da prevenção, do controle e monitoramento de resíduos de agrotóxicos e contaminantes químicos e biológicos em produtos de origem vegetal. A Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) não possui dados de resíduos de produtos para alimentos in natura e processados. “Não é o escopo da associação a realização de estudos de resíduos”, explica Guilherme Guimarães, gerente de Regulamentação Federal da entidade. Segundo ele, “a indústria preocupase com resíduos em alimentos in natura para consumo interno e exportações, principalmente, em frutas. Programas de monitoramento têm informado que os níveis de resíduos encontrados, superiores aos limites estabelecidos, estão dentro das estatísticas mundiais, mas não estamos incluindo resíduos provenientes de usos não autorizados.” Programa APPCC Foi para evitar maiores problemas com a saúde dos astronautas que a National Aeronautics and Space Administration (Nasa) desenvolveu um sistema de controle da qualidade alimentar. No final da década de 50, a empresa norte-americana Pillsbury Company foi contratada pelo governo americano para produzir alimentos 100% seguros para seus astronautas. Baseado num sistema denominado Análise e Efeito do Módulo da Falha (FMEA), nasceu o Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP), que quer dizer Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Antes, as inspeções eram feitas a partir do produto acabado. Se detectado algum problema ou contaminação, decidia-se o destino final do alimento. A partir do momento em que o HACCP foi implantado, as análises passaram a ser realizadas durante o processo de fabricação. O Programa tem foco preventivo para identificar os pontos críticos de uma linha de produção e, a partir daí, tomar as ações necessárias e/ou aplicáveis. A elaboração de um plano APPCC pode ser dividida em três etapas: • Análise dos perigos e determinação dos riscos associados com a produção, manipulação do alimento ou bebida, em toda a sua cadeia produtiva, desde a obtenção das matérias -primas até a mesa do consumidor; • Identificação de pontos críticos de controle ao longo de toda a cadeia produtiva e distribuição do produto; • Estabelecimento de plano de monitoramento de todo o sistema APPCC (check list dos pontos críticos de controle). O Programa APPCC é, também, uma ferramenta de redução de custos operacionais, permitindo às empresas a obtenção de melhor qualidade do alimento e maior produtividade de seus processos. Fonte: Luis Filipe Sousa Dias Reis, PGP Consultoria e Assessoria 29 FRUTAS MODIFICADAS País já realiza diversos estudos com plantas frutíferas transgênicas, mas ainda não há liberação para comercialização Daniela Mattiaso LAB. DE BIOTECNOLOGIA, EMBRAPA UVA E VINHO Planta in vitro de videira Chardonnay obtida do processo de engenharia genética 30 rente. A transgenia quebra a barreira sexual entre as diferentes espécies (microbiana, vegetal ou animal), permitindo que novas combinações gênicas, impossíveis de ocorrerem naturalmente, possam surgir, como entre uma planta e um animal ou uma bactéria e um vírus, por exemplo. O resultado é chamado de Organismo Geneticamente Modificado (OGM) ou transgênico. Apesar das vantagens oferecidas à primeira vista, há uma grande polêmica mundial acerca dos potenciais riscos e benefícios dos transgênicos, já que seus efeitos no ser humano e na natureza ainda não são conhecidos a longo prazo. PESQUISAS NACIONAIS As pesquisas com frutas transgênicas no mundo começaram no final dos anos 80. “As primeiras pesquisas foram na Itália, culminando no desenvolvimento de kiwis geneticamente modificados, capazes de formar raízes mais facilmente, mas que nunca foram comercializados”, contam Francisco Ricardo Pesquisas com laranja transgênica estão em desenvolvimento no Iapar LABORATÓRIO DE BIOTECNOLOGIA - IAPAR O novo século traz para a humanidade uma série de novos desafios. O aumento da população mundial é um deles. Até 2050 estima-se que o mundo terá 2,5 bilhões de habitantes a mais, elevando o total para 9 bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, “a produção alimentar tem que aumentar em 50% até 2030 para dar conta da demanda”. Mas como superar este desafio alimentar, sem colocar em risco os recursos naturais e a saúde humana? Os cientistas ainda não encontraram a solução, mas têm apostado em uma nova tecnologia como alternativa: a transgenia. A técnica começou a ser desenvolvida na década de 70, com a promessa de conseguir melhor produtividade em frutas e vegetais, além de aumentar a vida em prateleira, agregar resistência contra pragas ou doenças e produzir tolerância a determinados herbicidas. Ela consiste em retirar uma seqüência do código genético de um ou mais organismos e inseri-la em outro organismo de espécie dife- Ferreira e Juliano Gomes Pádua, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen). No início dos anos 90, um mamão resistente ao vírus que provoca a mancha anelar foi lançado no mercado para resolver um grave problema de perda de produção no Havaí e nos Estados Unidos. “O transgênico americano foi desenvolvido pela Universidade de Cornell e testado no campo pela Universidade do Havaí. É vendido desde 1999 (e exportado para o Canadá), ocupando uma área de mil hectares de produção. A China também desenvolveu um mamão transgênico, comercializado desde 2006, com plantação de 3.5 mil hectares”, afirmam eles. No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é umas das instituições que se dedica ao estudo e desenvolvimento de diversos alimentos transgênicos, sendo a responsável pelo desenvolvimento do primeiro mamão transgênico nacional. Outras frutas, como maracujá, laranja, uva, maçã e banana, também, têm sido desenvolvidas em outros institutos nacionais. No Paraná, um trabalho com laranja transgênica é realizado desde 1999, no Laboratório de Biotecnologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Coordenado pelo pesquisador Luiz Gonzaga Vieira, o projeto conta com a participação dos pesquisadores Luiz Filipe Pereira, da Embrapa Café; Adilson Kobayashi, da Embrapa Meio Norte; Hugo Molinari, da Embrapa Agroenergia; e João Carlos Bespalhok, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Na época, um dos principais problemas da citricultura era o controle do cancro cítrico. Por meio da cooperação com pesquisadores do National Institute of Agrobiological Resources em Tsukuba, no Japão, eles obtiveram um gene para resistência a bactérias. “O gene produz uma pequena proteína da família das cecropinas, encontradas principalmente em insetos. Produzimos várias plantas transgênicas da variedade Pêra, contendo esse gene. Os estudos em casa de vegetação demonstraram que elas eram mais resistentes ao cancro cítrico”, explica Luiz Filipe Pereira, da Embrapa Café. Atualmente, os pesquisadores reiniciaram os trabalhos para verificar a resistência ao HLB (considerada a doença mais devastadora de citros no mundo por afetar todas as variedades e sua bactéria se multiplicar rapidamente na planta e dentro do inseto vetor). “Caso os resultados sejam satisfatórios, e se houver interesse e apoio do setor citrícola, iniciaremos os processos para verificar se as características observadas em casa de vegetação serão mantidas em condições de campo”, observa o pesquisador. Em outra linha de trabalho, o grupo obteve porta-enxertos citrange Carrizo e citrumelo Swingle transformados com um gene, que aumenta EMBRAPA RECURSOS GENETICOS E BIOTECNOLOGIA TECNOLOGIA Francisco Ricardo Ferreira, curador de Germoplasma de Fruteiras a quantidade de prolina, um aminoácido relacionado a tolerância à seca. “As plantas transgênicas apresentaram tolerância a estresse hídrico severo. Dentro desta linha, o próximo passo será verificar como uma copa de laranja não-transgênica enxertada nas plantas transformadas se comporta com relação ao estresse”, explica ele. Em 2002, um trabalho com maracujás transgênicos começou, por meio de um projeto de cooperação entre os professores Jorge A. M. Rezende e Maria Lúcia C. Vieira, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), com as pesquisadoras Beatriz M.J. Mendes do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) e Laura M.M. Meletti, do Instituto Agronômico (IAC), além do pesquisador Ricardo Harakawa, do Instituto de Biociências (IB/USP). A iniciativa surgiu da necessidade de encontrar uma alternativa para controlar o vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro. Rezende explica que “a virose é endêmica no Brasil e limitante para a produção do maracujazeiro, pois reduz a longevidade da planta de três para um ano ou um ano e meio. Não há variedades resistentes ou tolerantes e o controle químico do vetor do vírus (pulgões) é ineficaz. A única forma viável no momento é por meio da erradicação sistemática de plantas doentes. Portanto, a tentativa de obtenção de plantas transgênicas resistentes ao vírus poderá ser uma alternativa viável para o futuro”. As variedades utilizadas são o maracujá amarelo IAC-275, IAC-277 e FB-100, além do maracujá-doce. As tentativas de transformação estão sendo feitas com o gene da proteína capsidial do próprio vírus. Na Embrapa Uva e Vinho, estudos com uvas transgênicas começaram há cinco anos, com as variedades Chardonnay e BRS Clara. Segundo Vera Quecini, pesquisadora da unidade, o principal objetivo é aumentar a tolerância às doenças fúngicas nas videiras. Os materiais frutícolas, até agora manipulados no País, estão sendo produzi31 TECNOLOGIA dos inicialmente com finalidade científica em ambientes controlados, como casas de vegetação, laboratórios e campos experimentais. Por enquanto não há previsão de uso comercial. LEGISLAÇÃO No Brasil, a Lei de Biossegurança (nº 11.105, de 24 de março de 2005) estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização nas atividades com organismos geneticamente modificados e seus derivados. Além disso, há a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), uma instância colegiada multidisciplinar, que presta apoio técnico, consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança, bem como no estabelecimento de normas de segurança e pareceres referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, em atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de trangênicos e derivados. ”Toda instituição que usar técnicas e métodos de engenharia gené- tica (DNA recombinante) também precisa criar uma Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) e indicar para cada projeto um pesquisador principal, definido na regulamentação como ‘Técnico Principal Responsável’. As CIBios são componentes essenciais para monitoramento e vigilância dos trabalhos de engenharia genética, manipulação, produção e transporte de OGMs e para fazer cumprir a regulamentação de Biossegurança”, explica a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos (CTAA), Edna Maria Morais Oliveira. Vale lembrar que após conclusão da pesquisa e todos os testes de biossegurança realizados, necessários para a aprovação de uma nova cultivar transgênica, ainda é preciso a aceitação do mercado consumidor. “Não há como prevermos um cenário futuro sobre a produção de frutas transgênicas para cinco ou dez anos, pois, por melhor que a fruta seja, se o consumidor não quiser comprar, não adianta o produtor plantar, porque não haverá como comercializá-la. A não ser que as doenças tenham avançado ao ponto de não se obter mais a fruta da forma tradicional, obrigando o uso de material transgênico”, explica o pesquisador da Embrapa Café. Esclarecendo Dúvidas Qual a diferença entre transgenia e melhoramento genético? A transgenia é uma técnica completamente diferente do melhoramento genético. O melhoramento é um procedimento inerente à natureza, baseado na combinação genética de duas plantas da mesma espécie por meio de cruzamento sexual ou entre plantas de espécies diferentes. O melhoramento trabalha com a diversidade genética denJuliano Gomes Pádua, pesquisador da Embrapa tro do pool gênico da espécie, que Recursos Genéticos e é o conjunto de todas as espécies, Biotecnologia do mesmo gênero ou não, capazes de cruzar com a espécie em questão. Os descendentes do cruzamento são selecionados, optando-se sempre por aqueles que contêm as características desejadas, como maior produtividade, resistência a insetos ou doenças, entre outras. Atualmente, todas as frutas são melhoradas geneticamente. Frutas sem sementes, com colorações, cascas ou gomos diferenciados, resistentes a doenças e com maior tempo de prateleira, por exemplo, são resultados de um trabalho contínuo de melhoramento genético. 32 As espécies transgênicas podem ‘contaminar’ as naturais? “Sim”, afirmam os pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), Francisco Ricardo Ferreira e Juliano Gomes Pádua. “Uma planta transgênica pode ter seu pólen transportado até um cultivo convencional (natural e da mesma espécie) e gerar frutos transgênicos. Para evitar isso, estudos são conduzidos para verificar até qual distância o pólen de uma planta pode chegar, só podendo ser realizado em distâncias superiores ao limite. Outra forma de contaminação possível é pela introdução acidental de uma semente transgênica em plantação convencional. Durante o transporte, a queda dos frutos do caminhão pode acarretar na sua entrada. Caso a semente germine, poderá ocorrer a introdução do transgene na lavoura convencional. A introdução de transgenes em populações naturais também pode acontecer. Mas neste caso, como a maioria dos genes introduzidos confere resistência a pragas e doenças, elas passam a ter uma vantagem em relação às plantas silvestres, com maior chance de sobrevivência e geração de descendentes. Com o passar do tempo, o número de plantas transgênicas tende a aumentar em detrimento das demais. Para evitar tais efeitos, a CTNBio exige a realização de avaliações de risco à saúde humana, animal e ao meio ambiente e, além disso, que seja apresentado plano de monitoramento, antes da liberação doOGM para cultivo.” Fonte: Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), Francisco Ricardo Ferreira e Juliano Gomes Pádua MEIO AMBIENTE MUDANÇAS A CAMINHO As mudanças climáticas na Terra, em função da ação do homem, deverão afetar as fruteiras, apontam pesquisadores Maria Finetto Bernadete Radin, da Fepagro/RS, alteração mesmo que de 1ºC influenciará fruteiras de clima temperado ARQUIVO PESSOAL Ondas de calor e frio, ciclones, vendavais, geleiras derretendo. O que está acontecendo em nosso Planeta? Alterações no meio ambiente estão relacionadas ao aquecimento global. O aumento da temperatura terrestre chama a atenção em todo o mundo e, no Brasil, pesquisadores também têm estudado as mudanças do clima e seus reflexos. No caso da fruticultura, há muitas incertezas, mas se sabe que algumas culturas sentirão muito mais o impacto do que outras; haverá redução na produtividade dependendo da região; e ainda agravamento de doenças e escassez de água, por exemplo. Vamos a possíveis cenários. O aumento na temperatura mínima do ar, mesmo que em 1º C, prejudicará as fruteiras, como pessegueiro, ameixeira, kiwi, pereira, morango e, especialmente, a macieira, que requer uma maior quantidade de número de horas de frio, normalmente abaixo de 7º C, para que haja quebra de dormência e, conseqüentemente, floração e frutificação. Quem afirma é a engenheira agrônoma Bernadete Radin, doutora em Agrometeorologia e coordenadora do Programa de Pesquisa de Frutas e Hortaliças da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), no Rio Grande do Sul. Para ela, fruteiras como citros, nativas em geral, uva entre outras, que não têm necessidade de horas de frio para a floração, não deverão sofrer interferências com as mudanças climáticas. “Mas, se a amplitude térmica (que é a diferença entre a temperatura máxima e a mínima) for reduzida, poderá ocorrer queda na qualidade do sabor de algumas frutas. No caso das frutas cítricas, há produção de frutos de qualidade inferior; o suco fica mais aguado, perdendo em sabor e a coloração torna-se mais pálida. Na uva, ocorre redução da cor, que irá prejudicar a coloração do vinho”, alerta ela. Bernadete diz que se considerarmos os efeitos da temperatura, umidade relativa do ar e demanda evaporativa atmosférica, deverá haver aumento na demanda hídrica das culturas, apontando para um aumento na freqüência e na intensidade de estresse por déficit hídrico, podendo, assim, causar reduções na produtividade, mas poderá ter efeitos benéficos no sabor da uva. “Para que tenha sabor mais adocicado, ou seja, com maior grau Brix (teor de açúcar) a uva necessita de pouca chuva durante o período final do seu ciclo. Frutas, como pêssego e ameixa, também ganham em qualidade, se não ocorrer chuvas durante a colheita, desde que haja irrigação. Pois nessas condições haverá mais radiação solar e menor umidade relativa do ar, propiciando frutos mais sadios e de melhor qualidade no sabor”, explica. 33 te súbita e a antracnose. Segundo Gasparotto & Pereira, para a bananeira, na região Sul do Brasil e no Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, no período de maio a setembro, a partir de 2020, a severidade da sigatoka-negra tende a ser mais alta; já, na região central da Amazônia, a condição será mais desfavorável à doença e haverá redução na incidência. Para citros, de modo geral, há tendência de aumento da intensidade de doenças, especialmente nas regiões Centro e Sul do Estado de São Paulo”. Na opinião de Bernadete, as mudanças climáticas podem diminuir, aumentar ou não ter efeito sobre os diferentes problemas fitossanitários. A maioria dos patógenos necessita de condições ambientais adequadas para o seu desenvolvimento. E, de acordo com a pesquisadora, um dos fatores que mais interfere nesse desenvolvimento é a temperatura, que dependendo do seu grau afeta diretamente o ciclo, podendo aumentar ou reduzir o período de incubação (período de tempo compreendido entre a chegada do inóculo e o aparecimento dos sintomas), o qual afetará o número de ciclos do patógeno por ciclo da cultura. “Os patógenos têm como faixa ótima temperaturas entre 23ºC a 30ºC. Pelos cenários, o aumento de temperatura se dará com maior intensidade sobre a mínima e não sobre a máxima, portanto, não afetando a incidência das doenças”, explica. Para saber quais as áreas aptas para cada uma dessas culturas, segundo a pesquisadora, é necessária a atualização do zoneamento agroclimático para cada cultura específica, para analisar as áreas preferenciais e as áreas de risco. Bernadete cita exemplos: “Nas condições climáticas do Nordeste, onde há predominância de alta luminosidade, elevadas temperaturas e baixa umidade, ocorrem o favorecimento da produtividade e a qualidade da produção de fruteiras tropicais. Essas condições proporcionam, às plantas, maior acúmulo de carboidrato, maior concentração de açúcar e melhor ajustamento nos processos fisiológicos de maturação. Já, no Sul do Brasil, onde se cultiva muitas fruteiras de clima temperado, há necessidade de temperaturas mais amenas para que as mesmas possam produzir”. A tendência, segundo ela, é que as culturas com exigência de mais horas de frio sejam trabalhadas geneticamente, para conseguir cultivares que exijam menos horas ou sejam mais tolerantes a temperaturas mais elevadas e, ainda, se busque produtos e/ou processos para quebrar a dormência, sem que haja necessidade de frio. Pode-se dizer que essas culturas terão que se adaptar às mudanças climáticas que irão ocorrer. Há, contudo, o lado positivo com o aumento da temperatura, segundo Bernadete. “Haverá mais área disponível para aquelas fruteiras de clima tropical e subtropical, que não necessitam de frio, portanto, poderá haver mudanças de culturas em muitas regiões.” DOENÇAS As mudanças climáticas certamente vão alterar o atual cenário dos problemas fitossanitários da agricultura no País. O alerta é da pesquisadora do Laboratório de Microbiologia Ambiental da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e professora do curso de pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu), Raquel Ghini, uma das coordenadoras do livro Mudanças climáticas: impactos sobre doenças de plantas no Brasil, lançado em agosto. De modo geral, explica Raquel, haverá alteração no cenário fitossanitário, isto é, doenças hoje importantes podem se tornar secundárias no futuro e vice-versa. “Essa modificação inclui alterações no período de ocorrência e região geográfica.”Para meloeiro, por exemplo, segundo Brunelli, Kobori & Gioria, algumas doenças deverão continuar sendo importantes, como o oídio, a mor- Fábio Marin, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária EMBRAPA ADAPTABILIDADE 34 A pesquisadora do Cepagri/Unicamp, Ana Maria Heuminski de Ávila, diz que espécies, como a maçã e a pêra, migrarão para regiões mais frias, não se desenvolvendo no Brasil. Isso ocorrerá porque a maioria das frutíferas tem maior adaptabilidade ao clima mais frio e exige temperaturas inferiores a 7,2ºC para produzir. Entretanto, afirma ela, MEIO AMBIENTE RESTRIÇÕES Luiz Cláudio Costa, chefe do Departamento de Engenharia Agrícola PhD em Agrometeorologia, líder da equipe de Especialistas em Mudanças Climáticas: Secas e Temperaturas Extremas da Organização Meteorológica Mundial, enumera os aspectos das mudanças climáticas que irão afetar a fruticultura brasileira: produtividade, qualidade e área potencial de exploração. “Com base em alguns dos cenários revistos pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, diria que algumas regiões, hoje, aptas para certas espécies, passarão a ter restrições ou até mesmo serão inaptas”, diz. Para o pesquisador, um dos fatores que mais irá afetar a fruticultura é o aumento da freqüência e da intensidade de fenômenos extremos, como seca, chuvas intensas e ondas de calor. “Eles afetarão diretamente a ocorrência de pragas e doenças, bem como a disponibilidade de água para irrigação”, compara. O pesquisador defende como ‘urgente’ os estudos integrados para a análise desses efeitos. Inicialmente, diz ele, deve-se desenvolver estudos integrados que busquem analisar os impactos, as adaptações e a possibilidade de mitigação de emissão de gases de efeito estufa. Os estudos devem considerar as especificidades das diversas regiões produtoras, bem como devem fazer parte de um plano nacional estratégico e envolver setores do governo, sociedade, universidades e instituições de pesquisa. “Pois os desafios das mudanças climáticas só poderão ser vencidos com participação coletiva, conscientização e mudança de valores”, justifica. Fábio Marin, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, explica que a mudança Luiz Cláudio Costa, da Organização Meteorológica Mundial, produtividade, qualidade e área potencial de exploração serão afetadas com mudanças no clima ARQUIVO PESSOAL algumas medidas podem ser tomadas, como o desenvolvimento de espécies que não necessitem de horas de frio para a quebra da dormência e que possam se adaptar a climas mais secos ou criar mecanismos que substituam a quebra da dormência por baixas temperaturas. Segundo a pesquisadora, há frutíferas que se desenvolvem perfeitamente em locais mais quentes, como o figo, que é altamente adaptado ao clima da região central do Brasil e do Nordeste, no Vale do São Francisco, no entanto necessitam de irrigação para o seu cultivo. Agora, com o aquecimento global, a água potável tenderá a se escassear, pois haverá uma maior demanda hídrica pela atmosfera, maior evapotranspiração pelas plantas e maior consumo de água por elas. “Portanto não haverá água suficiente para a irrigação agrícola. A água se tornará cara, inviável”, afirma. do clima deve afetar todos os setores produtivos que de alguma forma são dele dependente. “Isso, contudo, deve servir mais como um alerta para que mais estudos sejam desenvolvidos no sentido de se traçar cenários de suscetibilidade e quais os meios de se adaptar às novas condições do que como uma mensagem de que tudo está perdido”, argumenta. Para ele, todo o sistema produtivo pode ser alterado em maior ou menor grau, já que a tempera- Regiões produtivas sofrerão impactos em diferentes proporções tura e a disponibilidade hídrica são fundamentais para o desenvolvimento das plantas, assim como das pragas e doenças. Os sistemas irrigados também precisarão ser adaptados às novas condições e a tendência é de aumento de uso da água para atender às diferentes necessidades dos cultivos. O pesquisador explica que algumas alterações já foram observadas em diversas regiões brasileiras. “A elevação na temperatura noturna, no número de geadas e de ondas de calor, nos eventos de chuvas muito forte”, ilustra. Mas, na sua avaliação, a fruticultura continua produzindo e tentando se adaptar às novas condições, ainda que em alguns locais os prejuízos possam ter sido mais elevados em decorrência dos fenômenos. Marin também defende um novo modo de vida, reduzindo o uso de combustíveis fósseis (e de todos os produtos produzidos a partir deles) no diaa-dia. “Mas isso não é fácil, pois todo o sistema produtivo está ainda baseado num conceito de que a energia derivada do petróleo é abundante, barata e não causa efeitos ambientais danosos. Perceba que as três premissas, hoje em dia, não são mais verdadeiras”, argumenta. 35 OPINIÃO IMPORTÂNCIA DO USO DE PRODUTOS CENTRO DE CITRICULTURA IAC FITOSSANITÁRIOS REGULAMENTADOS Lenice Magali do Nascimento Pesquisadora do Centro de Citricultura - IAC/APTA/SAA O Brasil, em 11 de julho 1989, com a edição da Lei 7.802 (regulamentada pelo Decreto 4.074/02), que dispõe sobre o uso de produtos fitossanitários, assegurou crescimento sustentável ao agronegócio, em quantidade e qualidade suficientes para atender consumo interno e externo, levando-se em consideração a segurança para a saúde humana e o meio ambiente. A legislação incorporou os padrões internacionais de segurança alimentar e proteção ambiental, aliados à qualidade dos produtos registrados e licenciados para comercialização no País. Pesquisas realizadas sobre uso de produtos fitossanitários mostram que resistência dos organismos, desequilíbrio ambiental, doenças decorrentes de agrotóxicos (denominadas iatrogênicas), eliminação do controle biológico natural e menor resistência das plantas às pragas e doenças têm aumentado seu uso, mesmo considerando a evolução dos produtos. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindag), o mercado brasileiro de agrotóxicos gerou cerca de R$ 10 bilhões, equivalente a US$ 5,2 bilhões em 2007, crescimento de 18,5% em relação ao ano anterior. Desse total, 43% eram herbicidas; 23% fungicidas, 30% inseticidas e os 4% restantes, outros produtos fitossanitários. Agrotóxicos, que não têm registro no Brasil, para aplicação em determinada cultura, podem provocar danos à saúde dos consumidores dos produtos, onde foram aplicados. Podem, também, causar intoxicações desconhecidas aos trabalhadores agrícolas uma vez que, pela falta de registro, não há estudos nem lau36 dos específicos, inclusive de impacto ambiental. Além disso, os agricultores não terão a quem reclamar se os mesmos não produzirem o efeito esperado. Como se sabe, importação, produção, transporte, comercialização e uso de agrotóxicos são regulados por lei. Somente aqueles previamente testados e registrados no País para cada cultura específica podem ser comercializados, sendo que a utilização final pelos agricultores, em especial pelos fruticultores, só pode ser feita mediante a emissão de receituário agronômico por técnico competente. Cabe ressaltar que o uso indevido conduz a pena de reclusão do usuário, com conseqüente destruição da produção, além de outras penas, conforme consta no dispositivo da Lei 7.802/ 89 – Lei dos Agrotóxicos -, onde o artigo 15 determina que aquele que comercializa, transporta ou usa agrotóxicos não registrados e em desacordo com a lei, pratica crime, sujeito à pena de reclusão de 2 a 4 anos, mais multa. Considerando os crescentes mercados interno e externo de frutas frescas e as exigências cada vez maiores dos consumidores em relação à boa qualidade e as imposições da legislação, em relação aos tratamentos fitossanitários aplicados aos frutos colhidos, a utilização de produtos químicos deve garantir a saúde do fruto, fortalecendo o combate à infecção e a deterioração, mas sem causar prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente. Considerando-se ainda que Programas de Produção Integrada de Frutas (PIF) não acontecem somente no Brasil, mas em outras regiões do mundo, verifica-se que se o uso dos produtos fitossanitários brasileiros não se adequar às exigências, provavelmente o País perderá o espaço conquistado nos mercados internacionais ao longo dos anos, gerando prejuízos irrecuperáveis. A perda de mercado externo refletirá no crescimento interno da economia, diminuindo rendas e aumentando o índice de desemprego, conseqüentemente, elevando muito os problemas sociais existentes. Além disso, há uma preocupação muito grande com a preservação ambiental. Se não houver conscientização sobre uso correto e aplicação de produtos nocivos, haverá aumento da degradação dos recursos naturais, mesmo que lentamente e pouco perceptível ao olho humano. Por isso, é que programas como o PIF, vêm para incentivar a sustentabilidade e conservação do meio ambiente. Deve-se, cada vez mais, ter preocupação com preservação ambiental, caso contrário, haverá prejuízos difíceis de serem reparados. Assim, é indispensável a conscientização dos produtores e exportadores de produtos frutícolas sobre a importância da adequação do uso de produtos legalizados e das tecnologias empregadas, visando crescimentos cada vez maiores, na busca de mais divisas e manutenção do espaço mercadológico conquistado. Deve-se ter sempre em alta consideração as exigências legais impostas pelo país exportador, no caso o Brasil, e aquele importador União Européia (UE) e outros -, pois a fiscalização brasileira e a européia vêm aumentando quanto a limites de resíduos permitidos (LMR) de agroquímicos e outros produtos, como, ceras aplicadas na pós-colheita durante beneficiamento nas casas de embalagem, para melhorar a aparência e prolongar a vida útil dos frutos. Atualmente, a legislação brasileira permite, para citros destinados ao mercado interno, como exemplo, o uso de ceras à base de carnaúba e colofonia, o que não acontece em relação à UE, onde só é permitida a entrada de frutos tratados com ceras obtidas da mistura de carnaúba com goma laca ou polietileno. Ressalta-se que a UE não aceita a aplicação de ceras contendo colofonia na sua composição. Dessa forma, aconselha-se àqueles que, porventura, não tenham informações necessárias quanto a produtos registrados, buscar orientação no Ministério da Agricultura ou com técnico especializado na cultura desejada, para não correr risco de sofrer sanções e prejudicar seus trabalhos. O não-acompanhamento da evolução do mercado sempre afetará negativamente a comercialização. Se, hoje, o mercado exige produtos isentos ou com quantidades mínimas de resíduos químicos, os produtores, mercadistas e exportadores de frutas frescas necessitam estar atentos e cumprir as exigências legais referentes ao uso de agrotóxicos e produtos para conservação póscolheita. Lembrando que o Brasil possui registrados os mais importantes produtos internacionais, cabendo apenas ao produtor a escolha correta para conservar melhor a sua fruta, e, concomitantemente, a sua marca e o nome do Brasil no exterior. AGENDA 27 • CURSO DE HORTICULTURA E FRUTICULTURA ORGÂNICA (Associação de Agricultura Orgânica - AAO) Sítio Catavento - Indaiatuba (São Paulo/SP) Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625 [email protected] • www.aao.org.br 11 • IV SEMINÁRIO DE ALTERNATIVAS PARA A PEQUENA PROPRIEDADE ORGÂNICA (Associação de Agricultura Orgânica - AAO) Parque Água Branca (São Paulo/SP) Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625 [email protected] • www.aao.org.br 09 a 12 • SAUDI FOOD 2008 - RIYADH (Overfair) Riyadh Exhibition Center (Riyadh/Arábia Saudita) Info: William Atui (11) 3891-0227 / 3891-0075 • www.recexpo.com 02 a 04 • SOUTHERN HEMISPHERE CONGRESS (Eurofruit) Grand Hyatt Santiago (Santiago/Chile) Info: Alexandra Walker 44 0 20 7501 3725 / 44 0 20 7498 6472 http://www.eurofruitmagazine.com dez 08 nov 08 dez 08 19 a 23 • SIAL - PARIS (Promosalons Brasil) Paris Nord Villepinte Exhibition (Paris/França) Info: Organização do Evento (11) 3168-1868 [email protected] • www.promosalons.com • www.sial.fr 26 a 27 • WORLD FOOD MARKET (Expomedia Events) Excel London (Londres/Inglaterra) Info: Jon Irwin 44-20 8387-3201 / 44-20 8387-3201 [email protected] • http://www.worldfoodmarket.co.uk 06 • AGRIMARK BRASIL 2008 (Instituto Universal de Marketing em Agribusiness (I-UMA) e Canal Rural (Grupo RBS)) Hotel Plaza São Rafael (Porto Alegre/RS) Info: I-UMA (51) 3224-6111 • [email protected] www.i-uma.edu.br 13 • CURSO DE HORTICULTURA E FRUTICULTURA ORGÂNICA (Associação de Agricultura Orgânica - AAO) Sítio Catavento - Indaiatuba (São Paulo/SP) Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625 [email protected] • www.aao.org.br 13 a 16 • WORLD JUICE (Foodnews) Hotel Fira Palace (Barcelona/Espanha) Info: 44 0 20 7017 7499 • [email protected] www.worldjuice.com 06 a 08 • INTERPOMA Fair Bolzano (Modena/Itália) Info: Fiera Bolzano Spa 39 0471 516000 • [email protected] www.fierabolzano.it/interpoma2008 23 a 25 • BIOFACH AMÉRICA LATINA (Planeta Orgânico) Transamérica Expo Center (São Paulo/SP) Info: Planeta Orgânico (21) 2239-2395 [email protected] • www.exposustentant.com.br 22 • AGRICULTURA ORGÂNICA: CONCEITOS E PRINCÍPIOS, PRINCIPAIS PRÁTICAS, COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO (Associação de Agricultura Orgânica - AAO) Parque Água Branca (São Paulo/SP) Info: Associação de Agricultura Orgânica - AAO (11) 3875-2625 [email protected] • www.aao.org.br 24 a 26 • IFE AMERICAS (Montgomery Exhibitions Limited) Miami Beach Convention Center (Miami/USA) Info: Organização do Evento +44 207 8863000/8863013 [email protected] • www.ifefreshproduce.co.uk 24 a 27 • PMA - FRESH SUMIT Orange County Convention Center (Flórida/USA) Info: PMA 1 (302) 738-7100 x 3023 • [email protected] www.pma.com • www.pma.com/freshsummit 12 a 17 • CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA (Sociedade Brasileira de Fruticultura) Centro de Convenções de Vitória (Vitória/ES) Info: Incaper (27) 3137-9887 • [email protected] www.incaper.es.gov.br/congresso_fruticultura 20 e 21 • 6º ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA UVA E VINHO (Embrapa Uva e Vinho, o Cefet - BG e a Uergs - BG) Durante a Semana de Ciência e Tecnologia (Bento Gonçalves/RS) Info: Embrapa Uva e Vinho (54) 3455-8086 [email protected] • www.cnpuv.embrapa.br/eventos/ cientifica2006/info.html 23 a 26 • WORLD FOOD 2008 Expocentr (Moscou/Rússia) Info: Ibraf (11) 3223-8766 • [email protected] www.brazilianfruit.org.br • www.worldfood-moscow.com 08 e 09 • WORLD FRUIT AND VEGETABLE SHOW ExCeL London (Londres/Inglaterra) Info: Green World Exhibitions 0044 1429-864466 [email protected] • www.wfvexpo.com out 08 30 a 02/10 • EXPOPORTOS 2008 – 5ª FEIRA DE LOGÍSTICA, TRANSPORTE E COMÉRCIO EXTERIOR (Rota Service Ltda) Pavilhão de Exposições de Carapina (Serra/ES) Info: Organização do Evento (27) 3319-8110 [email protected] • www.rotaeventos.com.br out 08 internacionais nov 08 set 08 15 a 18 • FRUTAL 2008 - 15ª SEMANA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA, FLORICULTURA E AGROINDÚSTRIA (Instituto de Desenvolvimento da Fruticultura e Agroindústria) Centro de Convenções (Fortaleza/CE) Info: Instituto Frutal (85) 3246-8126 • [email protected] www.frutal.org.br set 08 nacionais 04 a 06 • FHC CHINA (OES All World) Novo Centro de Exposições Internacionais de Shangai (SNIEC) (Shangai/China) Info: Christopher McCuin 44 20 7840 2146 [email protected] • www.fhcchina.com 04 a 06 • IFE INDIA 2008 - NOVA DELHI (Montgomery) (Nova Delhi/Índia) Info: www.ifefreshproduce.com • [email protected] 09 a 12 • 2º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE PAPAYA (Fruit Cops) Tamil Nadu (Madurai/Índia) Info: Dr. N. Kumar (91) 4546-231726 • [email protected] www.ishs-papaya2008.com Para mais eventos acesse: www.ibraf.org.br 37 FRUTAS nordestinas Feiras no Nordeste movimentam a fruticultura de exportação, geram negócios e troca de experiências entre visitantes nacionais e internacionais Luciana Pacheco / Carolina Peres Fotos: Ibraf O Nordeste é responsável por 26% da produção brasileira, representando 11 milhões de toneladas de um total de 41 milhões. Quando o assunto é exportação este número salta para 63%, com 574 mil toneladas embarcadas em 2007. Este avanço deve-se a diversos fatores, como: clima, posição geográfica, entre outros. Segundo Maurício de Sá Ferraz, gerente da Central de Serviços de Exporta38 ção do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), “houve uma migração de algumas culturas para a região devido a maior proximidade com a Europa e ao clima favorável, com mais horas de sol e pouca chuva, o que diminui a incidência de pragas”. Os principais estados produtores e exportadores do nordeste são Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, que produzem principalmen- EVENTOS te banana, mamão, laranja, manga, melão, melancia, uva e coco. É desta região que saem mais de 90% das três principais frutas exportadas pelo Brasil: melão, manga e uva; que juntas representam 43% da pauta de exportação de frutas frescas. Devido à importância que o Nordeste alcançou nos últimos anos no cenário frutícola, feiras de negócios são realizadas na região há vários anos, como: a Expofruit, que acontece em Mossoró, no Rio Grande do Norte; e a Fenagri, realizada no Vale do São Francisco, entre as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Para mostrar as potencialidades desta região, o Ibraf em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação de Investimentos (Apex-Brasil), levou compradores e jornalistas estrangeiros para participar destes dois eventos. A ação integra o Projeto Comprador e Imagem, cujo objetivo é consolidar a imagem da marca Brazilian Fruit no mercado internacional. Timothy Linden, jornalista americano do jornal The Produce News e colaborador da revista Produce Business, ficou impressionado com a tecnologia de produção empregada nos cultivos tanto de mangas quanto de uvas. Ele acredi- ta que “a força do Brasil está em produzir um ótimo produto com todas as ferramentas tecnológicas disponíveis” e complementa “já viajei para diversas áreas de produção durante minha carreira e os packing houses que visitamos aqui são os melhores que já vi; são muito limpos, com tecnologia avançada e o produto embalado é de alta qualidade”. Para que pequenos produtores pudessem conhecer esta tecnologia, o Ibraf, em parceria com o Sebrae-SP, levou um grupo de produtores do Projeto Fruta Paulista para missão comercial na Fenagri. “Os integrantes participaram das rodadas de negócios nacional e internacional e ao mesmo tempo conheceram o sistema de produção, embalamento nos packing houses, e indústrias de vinho de região”, complementa Ferraz, que também é coordenador do projeto. FRUTICULTURA POTIGUAR NA EXPOFRUIT Devido à localização geográfica privilegiada e às 3.5 mil horas de sol por ano, o Rio Grande do Norte tornou-se um pólo importante para a fruti- 39 EVENTOS Produtores do Fruta Paulista visitaram vinícolas cultura irrigada brasileira, com destaque para o agropolo Mossoró-Assu. Além do grande potencial produtivo, recentemente foi implantado no porto de Natal um frigorífico com capacidade para armazenar até 2 mil toneladas, distribuídas em seis câmaras independentes e dois túneis de pré-resfriamento. Neste cenário promissor, Mossoró sediou, em junho deste ano, a Expofruit. Uma importante feira do setor frutícola que reuniu importadores, produtores, distribuidores, exportadores, entre outros. “A Expofruit cresce a cada edição. Hoje, com 330 estandes, é uma vitrine importante para as nossas frutas e tem atraído compradores nacionais e internacionais, transformando a região em referência nacional para o setor”, afirmou Francisco Segundo, presidente do Comitê Executivo de Fitossanidade (Coex). ciação dos Exportadores do Vale do São Francisco (Valexport), a manga cresceu 6% e a uva 5%, em comparação a 2007. “Apesar da taxa cambial estar baixa, o mercado internacional é atrativo. Além disso, só o Brasil produz uva entre outubro e a primeira quinzena de dezembro”, afirmou Junior. “Este ano a estimativa é que haja um aumento entre 4% e 4,5% com relação às exportações do ano passado”. Soma-se a este fator de crescimento, além da produção contínua, a tecnologia aplicada na produção. A Feira Nacional de Agricultura Irrigada (Fenagri) acontece anualmente nesta região e traz rodadas de negócios, simpósios internacionais, serviços, exportadores, importadores, produtores, etc. A 19ª edição da feira aconteceu em Petrolina, em julho, mesmo mês que ocorrerá a 20ª edição no próximo ano, em Juazeiro. Segundo o coordenador técnico da Valexport, a Fenagri foi excelente para os negócios. “A feira é o grande acontecimento da região, porque é o momento no qual o produtor pode ter acesso à tecnologia de ponta e informações sobre o mercado”. VALE DO SÃO FRANCISCO FRUTÍCOLA É nessa região, com área superior a França e Portugal juntos, e com o maior rio genuinamente brasileiro, o São Francisco, que a fruticultura cresceu significativamente, tanto para o mercado interno quanto o externo. Segundo o site da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a Produção Integrada de Frutas – PIF, implantado ali, agrega qualidade, produtividade, sustentabilidade e credibilidade ao setor frutícola brasileiro, além de transformar a região no segundo centro vinícola do País, perdendo apenas para a Região Sul. A fruticultura na região evolui com cautela. Segundo Jeziel Junior, coordenador técnico da Asso40 Jornalista Timothy Linden ficou impressionado com tecnologia de produção de frutas brasileiras ARTIGO TÉCNICO PARA REDUZIR PERDAS COM O O processamento mínimo do morango, técnica relativamente simples, prolonga a vida útil na comercialização em até cinco dias e agrega valor ao fruto, mas ainda é pouco aplicada Sergio Agostinho Cenci* Fotos: Embrapa Agroindústria de Alimentos A cultura do morango é um segmento da produção agrícola de extrema importância para a economia mundial e nacional. A produção mundial de morango é de 3,1 milhões de toneladas por ano. Estados Unidos, Espanha, Polônia e Japão são os maiores produtores. No Brasil, a produção anual é de 40 mil toneladas, com destaque para os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Além de gerar muitos empregos diretos e indiretos, a cultura é típica da agricultura familiar, sendo cultivado em reduzidas extensões. O morango é um fruto de alto consumo, mas muito suscetível ao ataque de fungos, bactérias, vírus e micoplasmas, podendo registrar perdas na etapa pós-colheita superiores a 50%. Devido a perecibilidade, a comercialização e a disponibilidade são restritas. A vida útil na etapa de comercialização acaba ficando restrita a dois ou três dias. Desta forma, o processamento mínimo surge como um fator determinante para eliminar ou reduzir as perdas pós-colheita e prolongar a vida útil, além de permitir aos produtores e processadores Sérgio Cenci redigiu comunicado técnico sobre processamento de morangos 41 ARTIGO TÉCNICO agregar valor a seus produtos e expandir os canais de distribuição, que são o varejo moderno, o mercado institucional (restaurantes, caeterings, fast-food, hospitais e hotéis) e os canais consolidados (feiras livres, sacolões, Ceasas e lojas de conveniência), que comandam a dinâmica da cadeia produtiva e estabelecem os padrões exigidos para esse produto. A procura por alimentos minimamente processados tem despertado o interesse de produtores e consumidores. Se por um lado, o processamento contribui para reduzir os desperdícios de alimentos até o consumo, por outro, garante praticidade e melhor conservação de nutrientes e aspectos sensoriais do produto. No caso do morango, a vida útil na etapa de comercialização, observadas as condições de processamento e a refrigeração, pode aumentar de três para até oito dias. maturação caracterizada pela cor. O excesso de sujidade compromete a eficácia do agente sanificante, diminuindo sua ação sobre os microorganismos, uma vez que sua concentração sofre decréscimo em decorrência da interação com a matéria orgânica. Sanificação: imersão dos frutos em água resfriada (5ºC a 8ºC) com 150 ppm de cloro ativo por 10 minutos. O preparo de soluções sanificantes, normalmente, é indicado no rótulo do produto. A imersão em água com 50 ppm a 200 ppm de cloro ativo é comumente recomendada pela literatura para frutas, entretanto, em estudo recente foi comprovado que a concentração de 150 ppm foi mais efetiva na inibição do crescimento fúngico sem alterar negativamente as características sensoriais do morango (Fig. 2) Passo a Passo DETALHES FAZEM A DIFERENÇA FIG. 1 A tecnologia de processamento mínimo de morango é relativamente simples, podendo ser adotada por produtores, associações de produtores e pequenas agroindústrias. Ela consiste na organização de etapas, como recepção da matéria-prima, pré-resfriamento, seleção, sanificação, enxágüe, corte, drenagem, embalagem, pesagem, armazenamento e transporte refrigerados. Observe as características de cada uma: Recepção: o intervalo de tempo entre a colheita e o pré-resfriamento deve ser mínimo, objetivando reduzir as alterações por perda de massa relacionadas ao processo de transpiração do fruto. Se essa perda for elevada, a aparência do fruto fica comprometida. Recomenda-se também que a colheita seja feita nas primeiras horas do dia, quando a temperatura é mais baixa. O fruto deve ser protegido da incidência direta da luz solar. Durante o transporte do campo à fábrica, o fruto deve estar acondicionado de forma adequada para evitar danos físicos à sua estrutura (Fig. 1). Pré-resfriamento: resfriamento dos frutos em túneis de resfriamento ou em câmaras específicas a 5ºC para deixá-los mais firmes para o processamento e com menor taxa respiratória. A temperatura é um fator de extrema importância, pois diminui o metabolismo do fruto, permitindo o controle das atividades enzimáticas, da respiração e transpiração. Seleção: remoção das sujidades, dos frutos danificados e atacados por fungos. Na seqüência, classificam-se os frutos por tamanho e estágio de 42 FIG. 2 Morangos são pré-resfriados antes de seguirem para sanificação, corte e embalagem Enxágüe: após a sanificação, deve ser realizado enxágüe com água clorada a 5 ppm a uma temperatura variando entre 0ºC e 5ºC para que o excesso de cloro seja retirado e haja redução dos efeitos do corte sobre o metabolismo do tecido vegetal. Corte: retirada da sépala e pedicelo dos frutos (fo- ARTIGO TÉCNICO lhas verdes) que concentram alta carga microbiana. Usar facas afiadas com lâmina de aço inoxidável para que o tecido vegetal não seja demasiadamente danificado, minimizando a liberação de enzimas que degradam o fruto (Fig. 3) Embalagem: bandejas ou copos de polietileno tereftalato (PET) de tampas seladas com fita plástica encolhível, próprios para armazenamento de morangos, de modo que o fruto seja protegido de agressões físicas e mecânicas, além de permitir perda mínima por desidratação e reduzir a taxa respiratória (Figs. 7 e 8) FIG. 3 Armazenamento/Transporte: a 5ºC, por 10 dias, em atmosfera ambiente. O armazenamento e o transporte refrigerados são condições fundamentais para prolongar a vida útil do produto minimamente processado, pois retardam o crescimento da maioria dos microorganismos, sendo também eficazes na redução da atividade enzimática que degrada sua qualidade. FRIO É ESSENCIAL A técnica, embora simples, exige muito cuidado na separação e corte dos frutos delicados do morango Drenagem/Secagem: a retirada do excesso de água da superfície dos frutos controla o crescimento de microorganismos. FIG. 7 FIG. 8 Fora do país, morangos processados são oferecidos em diversas embalagens Nas etapas elencadas, devemos destacar a importância do pré-resfriamento, a sanitização e a refrigeração do produto. Estes fatores são cruciais na redução de perdas pós-colheita por podridões. O corte é outro destaque. A retirada das folhas verdes, que concentram alta carga microbiana nesta região do fruto, reduz a contaminação fúngica. No entanto, o corte tem que ser cuidadoso para preservar o tecido vegetal, minimizando a liberação de enzimas que degradam o fruto. A sanitização póscolheita com solução clorada permite reduzir as perdas tanto em morango minimamente processado quanto em morango “in natura”, pela menor perda de massa e redução da incidência de fungos. Por fim, embalagens adequadas e refrigeração a 5ºC retardam ainda mais o ataque de microorganismos e a taxa metabólica do fruto. A refrigeração é considerada o meio mais efetivo para estender a vida útil de frutas e hortaliças processadas minimamente. A Embrapa Agroindústria de Alimentos detalha esse tema no Comunicado Técnico Etapas do Processamento Mínimo do Morango. Os interessados na tecnologia para outras frutas e hortaliças podem entrar em http://www.ctaa.embrapa.br/ projetos/fhmp/. Para finalizar, acredito que produtores e processadores de alimentos deveriam atentar para as vantagens do processamento mínimo de frutas e hortaliças. Prolongar a vida útil, agregar valor ao produto, reduzir perdas e evitar o desperdício de alimentos estão na ordem do dia. * Sergio Agostinho Cenci Doutor em Ciências dos Alimentos, Pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. e-mail: [email protected] 43 artigos técnicos podem ser enviados para [email protected] CAMPO E CULTURA AGROECOLOGIA – PRINCÍPIOS E TÉCNICAS PARA UMA AGRICULTURA ORGÂNICA SUSTENTÁVEL GESTÃO AMBIENTAL NA AGROPECUÁRIA A publicação G e s t ã o A m opecuária tem Agropecuária biental na Agr o objetivo de apresentar formas para minimizar os impactos ambientais da atividade agro-pecuária no País. Fruto de estudos e práticas de técnicos qualificados e conhecedores do assunto, o livro é uma ferramenta para toda a cadeia produtiva que interage com a natureza e precisa ter consciência de seu papel na manipulação dos recursos naturais. Com 310 páginas, publicada em papel reciclável, a obra aborda com uma visão global, a gestão ambiental na agropecuária, dividindo por capítulos temas como: legislação, desenvolvimento sustentável, sistemas de gestão da qualidade, certificação, dispersão de poluentes e gestão ambiental por cadeia produtiva. O livro integra questões teóricas e práticas fundamentais para quem deseja se aprofundar no tema da agricultura orgânica, com a perspectiva de sua sustentabilidade. A agroecologia é uma ciência iniciada a partir dos anos 1970 que procura vencer o desafio de criar agroecossitemas sustentáveis, utilizando princípios ecológicos, agronômicos, econômicos e sociais. Resultado da parceria entre instituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento, bem como comunidades agrícolas, a publicação espera colocar em discussão os problemas, as perspectivas e os desafios das pesquisas feitas em agroecologia, além de contribuir para a reflexão de indivíduos diretamente ligados ao tema. Editora: Embrapa Informação Tecnológica Editores Técnicos: Adriana Maria de Aquino e Renato Linhares de Assis Autores: Vários Preço: R$ 80,00 Onde Encontrar: www.sct.embrapa.br/liv Telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 Fax (61) 3340-2753 e-mail [email protected] Editora: Embrapa Informação Tecnológica Editores Técnicos: Luciano Gleber e Julio Cesar Pascale Palhares Autores: Vários Preço: R$ 30,00 Onde Encontrar: www.sct.embrapa.br/liv Telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 Fax (61) 3340-2753 e-mail: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ TRANSGÊNICOS: A REZA, O ESPANTALHO E OS MITOS, MEDO E CIÊNCIA NA AGRICULTURA Além de definir a técnica de cultivo dos transgênicos e descrever em 22 capítulos as fases deste desenvolvimento, o livro, escrito pelo especialista em agricultura, Ivaldo Tasca, possui informações sobre biotecnologia e engenharia genética. Uma publicação sustentada em conceitos de diversos pesquisadores, que garantem que os alimentos transgênicos constituirão um avanço seguro para colocar a agricultura em um novo patamar, reduzindo custos, impactos ambientais e aumentando a quantidade e a qualidade dos produtos. Editora: Aldeia Sul Autor: Ivaldino Tasca Preço: R$ 20,00 Onde Encontrar: www.sct.embrapa.br/liv Telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 Fax (61) 3340-2753 e-mail: [email protected] 44 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ POTENCIALIDADES DA ÁGUA DA CHUVA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO O livro aborda a questão da falta de água e a convivência do homem no semi-árido brasileiro com o objetivo de auxiliar na compreensão e avaliar o potencial da “água pluvial” em regiões de escassez hídrica. Na publicação, são apresentadas informações sobre técnicas de adaptação, captação e manejo da água da chuva. São oito capítulos que abordam desde a captação até a produção de alimentos, com este recurso natural, buscando proporcionar uma melhoria da convivência dos produtores que vivem nessas regiões. Editora: Embrapa Semi-Árido Editores Técnicos: Luiza Teixeira de Lima Brito, Magna Soelma Meserra de Moura e Gislene Feitosa Brito Gama Autores: Vários Preço: R$ 22,00 Onde Encontrar: www.sct.embrapa.br/liv Telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 Fax (61) 3340-2753 e-mail: [email protected] CLASSIFICADOS 45 FRUTA NA MESA Daniela Mattiaso Nativa do Brasil, a jabuticabeira ocorre no Sul, Sudeste e em parte do Centro-Oeste, com frutificação de agosto a novembro. Com casca negra e polpa branca, possui frutos ricos em antocianina: poderosa substância com princípio antioxidante, que ajuda no combate aos radicais livres, ligados ao câncer e envelhecimento. Segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a jabuticaba é a fruta com o maior teor da substância. São 314 mg de antocianinas por 100 g, valor superior ao das uvas tintas. “Sua casca também possui pectina, fibra solúvel que contribui na diminuição dos níveis de colesterol. A polpa contém ferro, fósforo e vitamina C, que ajuda na redução do envelhecimento celular, além de niacina, vitamina do Complexo B estimulante do apetite, auxiliar no processo de eliminação de toxinas”, acrescenta Silvia Honorato da Silva, nutricionista da Divisão de Alimentação do Sesi-São Paulo e do Programa Alimente-se Bem. Segundo Celso V. Pommer, professor visitante da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), autor do livro Jabuticaba - instruções de cultivo (Ed. Cinco Continentes), existem várias espécies da fruta. As mais conhecidas são a Myrciaria peruviana var. trunciflora (Berg) Mattos, chamada de jabuticaba de cabinho, que ocorre de Minas Gerais até os municípios de Orleans (SC) e Sarandi (RS); a Myrciaria cauliflora (DC.) Berg, encontrada em Minas Gerais e Rio de Janeiro com os nomes de jabuticaba paulista, jabuticaba-assu e jabuticaba ponhema; e a Myrciaria jaboticaba (Vell.) Berg, conhecida como jabuticaba-sabará, que ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo. Há, ainda, diversos tipos de ocorrência regional, como a “branca” e a “rajada”. Apesar de nativa e com tantas propriedades, a fruta ainda é pouco cultivada e está restrita a chácaras e quintais. “Um fator limitante é a péssima condição pós-colheita, dificilmente podendo ser exportada. A própria comercialização regional ou estadual é bastante complicada”, afirma ele. “Isso acontece porque a jabuticaba é muito delicada e tem grande quantidade de açúcar, o que a faz fermentar rapidamente, deteriorando-se com facilidade. Para conservá-la é preciso mantê-la sob refrigeração, acondicionada em embalagens plásticas”, explica Silvia. Outra questão é como conseguir uma produção mais cedo. Pommer diz que “diversas técnicas têm sido testadas, mas a propagação por enxertia, sem dúvida atende razoavelmente bem, propiciando uma produção bem mais precoce do que quando se planta uma muda vinda de semente”. 46 RECEITAS DO PRODUTOR PEDRO FERNANDO GRANDO GELÉIA DE JABUTICABA Ingredientes: 500 g de jabuticaba,, 1/2 l de água,, 500 g de açúcar,, 3 colheres (sopa) suco de limão Modo de Preparo: Lave as frutas, amasse-as um pouco e leve ao fogo com água. Cozinhe 20 minutos em fogo baixo. Passe por peneira fina, retirando o bagaço. Acrescente o açúcar ao líquido, mexendo bem. Junte o suco de limão. Leve ao fogo alto. Cozinhe até o ponto de geléia, sem mexer para não açucarar, apenas retirando a espuma rósea que se forma na superfície e pronto. SORVETE CASEIRO DE JABUTICABA Massa: 500 g de jabuticaba,, 500 ml de água,, 3 colheres(sopa) de amido de milho,, 5 colheres (sopa) de leite em pó,, 2 xícaras (chá) de água,, 5 colheres (sopa) de açúcar,, 1 lata de creme de leite Modo de preparo: Lave as frutas, amasse-as um pouco e leve ao fogo com a água. Cozinhe 20 minutos em fogo baixo. Passe por peneira fina e retire o bagaço. Leve o líquido ao fogo baixo e acrescente aos poucos o amido de milho, o leite em pó e o açúcar. Mexa até formar um creme. Leve para congelar por 3 horas. Retire e bata com o creme de leite sem soro. Leve para congelar de novo. Depois é só servir. Pedro Fernando Grando, proprietário da Flora Estação Brasil, produz jabuticabas nos municípios de Cerquilho, Tietê e Araçoiaba, no Estado de São Paulo, há 40 anos. E há cinco, comercializa as plantas, que vão desde mudas de 40 cm até árvores de 8 metros. São cultivadas: Sabará, Híbrida, Branca, Paulista e Olho de Boi. Atualmente possui 15 hectares, com 45 mil mudas, mas a perspectiva é de crescimento. “Vamos ampliar mais 25 hectares, para 150 mil mudas”. Ele também tem um projeto em parceria com outros produtores do Estado de Goiás para viabilizar a exportação da fruta. “Enviamos amostras para Europa e Canadá, e a aceitação foi excelente. Só falta produto para enviar.”