Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO LEITE NO PROCESSAMENTO DE PRODUTOS LÁCTEOS M. L. Gigante Universidade Estadual de Campinas/Faculdade de Engenharia de Alimentos Caixa Postal 6121. CEP 13083-979 – Campinas - SP. E-mail: [email protected] Introdução No atual mercado competitivo, produzir não é mais suficiente. Para fazer frente à dura concorrência, onde os consumidores têm o papel principal no mercado, as indústrias devem, obrigatoriamente, investir em qualidade. Garantir um produto de qualidade constante tornou-se uma necessidade para manter o mercado e assim prorrogar o direito de produzir. A qualidade do leite e dos produtos lácteos que a indústria pode disponibilizar, para o mercado interno ou para a exportação, depende da qualidade da matéria prima que recebe para processamento. Esta é inicialmente definida pelas condições de saúde dos animais ordenhados e pelas condições de armazenamento e transporte até a unidade processadora. Um dos critérios utilizados para a estimativa da qualidade do leite é a contagem de células somáticas (CCS). Sua utilização como índice de qualidade é possível porque a mastite, processo infeccioso da glândula mamária de vacas leiteiras, caracteriza-se pelo aumento da CCS. Na Austrália, União Européia, Nova Zelândia, Suíça e Noruega o limite máximo de células somáticas admitidas no leite é de 400.000 cel/mL. O Canadá adota 500.000 cel/mL e os Estados Unidos fixaram em 750.000 cel/mL. Em todos esses países, desenvolvem-se pesquisas e programas constantes para reduzir o limite máximo de CCS, uma vez que a sua elevação diminui significativamente a qualidade do leite, além de estar associada ao aparecimento de defeitos nos produtos processados com essa matéria-prima. Se a mastite é um problema, o seu controle através do uso de antibióticos impõe outro desafio para a manutenção da qualidade do leite: o resíduo de antibióticos no produto. Este é um problema tanto para a saúde pública como para a indústria, pois ele interfere na fabricação de produtos lácteos, principalmente para produtos fermentados. O Brasil tem empreendido grandes esforços para melhorar a qualidade do leite. Este esforço iniciou-se com o Programa Nacional de Melhoria de Qualidade do Leite e culminou com a Instrução Normativa n° 51 de 18 de setembro de 2002 (Brasil, 2002). Através desta instrução, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento reformulou os itens utilizados para a avaliação da qualidade do leite, incluindo, pela primeira vez no Brasil, a CCS como um critério para a aceitação do leite na plataforma de recepção. Esta norma estabelece que o limite máximo legal fixado a partir de 2005 será de 1.000.000 cél./mL nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e a partir de 2007, nas regiões Norte e Nordeste. Ainda como parte do esforço brasileiro para melhoria da qualidade do leite, observou-se a implantação da refrigeração do leite nas fazendas em larga escala, e o conseqüente aumento do tempo entre a ordenha e da chegada do leite nos estabelecimentos processadores. Esta condição, entretanto, seleciona o desenvolvimento de microrganismos psicrotróficos, os quais têm considerável potencial de deterioração do leite e dos produtos lácteos. Desta forma, para abordar a importância da qualidade do leite para a indústria, três aspectos serão considerados: o efeito da CCS e as conseqüências da presença de psicrotróficos e de resíduos de antibióticos para o leite e para os produtos lácteos processados. Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 1 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. Efeito da contagem de células somáticas (CCS) sobre a qualidade do leite e dos produtos lácteos Os principais fatores que afetam a composição do leite são a raça, o estágio de lactação, a alimentação, o clima e o estado de saúde do animal, particularmente a mastite (Walstra et al. 1999). A mastite pode ser definida como uma inflamação da glândula mamária, que resulta no aumento da CCS do leite. O aumento da CCS resulta da transferência de leucócitos do sangue para o leite. Leucócitos polimorfonucleares são os glóbulos brancos dominantes em leite durante a mastite (Verdi e Barbano, 1991). É atualmente bem estabelecido na literatura que a mastite é associada à diminuição de rendimento, ao aumento da contaminação microbiana e às mudanças na composição do leite cru. Estas mudanças podem significar prejuízo para o rendimento e a qualidade dos produtos lácteos, sendo que os produtos derivados da caseína são os mais severamente afetados (Auldist e Hubble, 1998). Estas alterações são conseqüência das perturbações do funcionamento das células epiteliais mamárias, do aumento da concentração celular e da modificação da atividade enzimática do leite. Uma importante alteração da atividade enzimática do leite mastitico amplamente descrita na literatura é o aumento de plasmina. A plasmina é a principal enzima proteolítica do leite fresco com baixa CCS e baixa contagem bacteriana. Ela é derivada do seu precursor inativo, o plasminogênio. O leite tem quatro vezes mais plasminogênio do que plasmina e ambas são associadas à micela de caseína. Qualquer fator que converta plasminogênio a plasmina pode ter um impacto negativo sobre a proteína do leite, uma vez que esta hidrolisa prontamente αs- e β-caseínas (Fox e McSweeney, 1998). A composição e as características de coagulação do leite com diferentes CCS (Tab.1) foram avaliadas por O’Brien et al. (2001). Neste trabalho verificou-se que as concentrações de gordura, lactose, frações nitrogenadas e propriedades de coagulação não foram significativamente afetadas pelo nível de contagem de células somáticas até 650 x 103cél./ml. A atividade de plasmina aumentou significativamente quando a CCS aumentou de < 230 x 103cél/ml para > 300 x 103cél/ml. O plasminogênio diminuiu quando a CCS foi > 300 x 103cél/ml, entretanto a diferença não foi estatisticamente significante. A relação plasminogênio:plasmina reduziu nos mais altos níveis de contagem de células somáticas. A utilização de leite com CCS entre 500-650 x 103cél/ml para a fabricação de queijos, mesmo não se observando diferença significativa no teor de proteínas (Tabela 1), pode implicar em menor rendimento e em qualidade inferior do produto. A hipótese amplamente aceita de que a elevada atividade de plasmina poderia alterar as propriedades de coagulação do leite por renina foi recentemente demonstrada por Srinivasan e Lucey (2002). Através de microscopia confocal revelou-se que a matriz protéica de géis induzidos por renina a partir de leite com caseína altamente hidrolisada apresentou menor número de interações protéicas, o que favoreceu a formação de géis mais frágeis. A variação da composição do leite de tanque de rebanhos brasileiros distribuídos segundo sua contagem de células somáticas foi estudada por Machado et al. (2000). As amostras foram classificadas em quatro grupos segundo a CSS: (1) < 500 mil cél/ml; (2) 500 < CCS < 1000 mil cél/ml; (3) 1000 < CCS < 1500 mil cél/ml e (4) >1500 mil cél/ml. Segundo os autores, o leite de tanques com CCS mais alta apresentou maior porcentagem de gordura, menor de proteína e lactose e igual de sólidos totais. As mudanças significativas nas concentrações dos componentes do leite ocorreram a partir de 1000 mil cél/ml para gordura e 500 mil cél/ml para proteína e lactose. Grupos de tanques com maiores CCS apresentaram maior variabilidade nas concentrações dos constituintes do leite. Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 2 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. Tabela 1: Composição e propriedades de coagulação do leite com diferentes contagens de células somáticas. Faixa de variabilidade da contagem de células somáticas (x 103cél/ml) Composição Gordura (g/kg) Lactose (g/kg) Propriedades de coagulação Tempo coagulação (min.) Taxa de agregação do gel (min.) Firmeza do coágulo (min.) Frações Nitrogenadas Proteína (g/kg) Caseína (g/kg) Caseína (% proteína total) Proteína do soro (g/kg) Atividade proteolítica Plasmina Plasminogênio plasminogênio:plasmina 30-60 (n = 6) 120-230 (n = 6) 300-370 (n=6) 500-650 (n = 6) Desvio Padrão Sig. 41,0 41,6 40,9 42,6 41,7 43,2 45,5 42,7 3,64 1,12 ns ns 16,0 6,7 16,9 6,7 15,4 6,3 17,8 7,9 1,85 1,45 ns ns 40,4 37,6 42,7 40,9 4,51 ns 35,4 26,8 75,5 6,1 36,5 27,2 74,5 6,5 36,9 27,0 73,4 7,4 39,5 28,9 73,0 7,7 2,52 1,96 1,73 0,87 ns ns ns ns 0,11a 1,35 14,6a 0,12a 1,48 13,4a 0,20b 1,18 6,8b 0,25b 1,09 6,5b 0,048 0,240 2,790 * ns * O’Brien et al. (2001). P< 0,05. A qualidade do leite processado e dos produtos lácteos depende da composição da matéria-prima. A elevada CCS do leite resultou em diminuição da vida de prateleira do leite pasteurizado, afetando negativamente sua qualidade sensorial (Santos et al. 2003a, b). O iogurte produzido a partir de leite com alta CCS (> 800.000 células/mL) apresentou decréscimo na qualidade sensorial, especialmente nos atributos consistência e sabor (Oliveira et al., 2002). No que diz respeito à fabricação de queijos, tanto para os obtidos por coagulação enzimática (Auldist et al., 1996; Barbano et al., 1991; Cooney et al., 2000; Grandisson e Ford, 1986; Leavitt et al., 1982; Mitchell et al., 1986b; Politis e Ng-Kwai-Hang, 1988a, b, c; Rogers, 1987; Rogers e Mitchell, 1994) como para os obtidos por coagulação ácida (Klei et al., 1998), a alta CCS tem sido associada ao menor rendimento, a pior característica microbiológica e à qualidade sensorial inferior dos produtos. Segundo Lucey (1996), leite com alta CCS, produzido por animais em final de lactação ou atingidos por mastite, deve ser identificado e descartado para não ser fornecido às indústrias leiteiras. Quando a fabricação de queijo foi feita a partir de leite com alta CCS, observou-se no soro um aumento da quantidade de proteínas totais (Barbano et al., 1991; Cooney et al., 2000; Grandisson e Ford, 1986; Klei et al., 1998; Politis e Ng-Kwai-Hang, 1988a; Rogers, 1987; Rogers e Mitchell, 1994), mais especificamente um aumento em caseínas e finos (Rogers, 1987; Rogers e Mitchell, 1994), um aumento do conteúdo de gordura (Ali et al. 1980; Barbano et al., 1991; Rogers, 1987; Rogers e Mitchell, 1994) e um aumento da concentração de lactose (Grandisson e Ford, 1986). Paralelamente, a utilização de leite de alta CCS para a elaboração de queijo foi associada à diminuição do teor de sólidos totais e proteína do queijo (Cooney et al., 2000; Grandisson e Ford, 1986; Politis e Ng-Kwai-Hang, 1988a). Também se observou a Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 3 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. diminuição do teor de gordura (Barbano et al., 1991; Mitchell et al., 1986b; Politis e NgKwai-Hang, 1988a; Rogers, 1987) e o aumento do conteúdo de umidade (Auldist et al, 1996; Barbano et al., 1991; Grandisson e Ford, 1986; Mitchell et al., 1986b; Politis e Ng-KwaiHang, 1988a; Rogers, 1987; Rogers e Mitchell, 1994). Efeito do resíduo de antibióticos sobre a qualidade do leite e dos produtos lácteos processados A contaminação do leite, e conseqüentemente dos produtos lácteos, por antimicrobianos deve-se, principalmente, ao tratamento de vacas em lactação com problemas de mastite, ou ao tratamento durante o período seco, para controlar a mastite. Ela ocorre porque após a aplicação dos antimicrobianos pelas vias parenteral, oral ou intra-uterina, estes passam do sangue para o leite. Mesmo após a aplicação intramamária, os quartos não tratados podem apresentar resíduo do antibiótico utilizado. Isto se deve à passagem via corrente sanguínea, e não pela passagem direta de um quarto para outro (Brito, 2000). A presença do resíduo de antibiótico no leite constitui um problema por duas razões principais. Primeiro, porque é um problema de saúde pública e segundo porque, mesmo em baixos níveis de contaminação, podem afetar o comportamento e a atividade das culturas lácticas, causando perdas consideráveis para a qualidade dos produtos e para a indústria laticinista. Uma vez que o leite contaminado com resíduo de antibiótico dê entrada na indústria, praticamente nada pode ser feito para evitar sua presença no leite fluido ou nos produtos lácteos. Os tratamentos usuais aos quais o leite é submetido, filtração, resfriamento e tratamento térmico na faixa de 72-75°C/15 a 20 segundos tem pouca ou nenhuma influência sobre se conteúdo de antimicrobianos. Mesmo o tratamento UHT a 130-140°C/2-4 segundos não é suficiente para destruir 100% os antimicrobianos. A fervura ou o aquecimento do leite a 100°C destrói 50% da penicilina, 66% da estreptomicina e 90% da oxitetraciclina e tetraciclina. O clorafenicol é completamente resistente a esta condição de aquecimento (Brito, 2000). Tramer (1973), citado por Tamime e Robinson (2001) demonstrou que o tratamento térmico do leite a 72°C/15seg. inativou somente 8% a potência da penicilina. Utilizando tratamento térmico mais intenso, 87,7°C/30min. e esterilização comercial a inativação foi de 20 e 50%, respectivamente. A 85°C/30min. a tetraciclina perdeu 2/3 de sua potência, entretanto, estreptomicina e cloranfenicol permaneceram inalterados. Desta forma, através do consumo do leite fluido, o resíduo do antibiótico chega à mesa do consumidor e constitui um problema de saúde pública, cujos aspectos toxicológico, microbiológico e de desenvolvimento de reações de hipersensibilidade são de grande importância, porém não serão aqui discutidos. Quando o leite com resíduo de antibiótico é utilizado para o processamento de produtos lácteos fermentados ele pode tanto impedir a fabricação do produto como prejudicar a sua qualidade. A utilização de culturas lácticas ativas e equilibradas são a chave para o sucesso de fabricação de produtos lácteos fermentados, representados principalmente pelos queijos e iogurtes, e cumpre papéis distintos nos diferentes produtos. Por exemplo, na fabricação de queijos, as culturas lácticas são adicionadas ao leite antes da coagulação. Sua principal função é produzir ácido láctico e em alguns casos compostos de sabor, particularmente ácido acético, acetaldeído e diacetil. Na etapa inicial de fabricação do queijo, a produção do ácido no tanque de fabricação favorece a atividade da renina, que é responsável pela coagulação do leite. Durante o tratamento da massa, a redução Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 4 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. do pH promove a contração da matriz protéica favorecendo desta forma a sinérese do coágulo, e a obtenção de queijos menos úmidos. A deficiência da atividade da cultura compromete a identidade e qualidade de todos os queijos, pois afeta diretamente sua composição, estrutura e propriedades reológicas, presumivelmente porque o pH altera fortemente as interações químicas entre os componentes estruturais dos queijos (proteína, água e minerais). Além disso, as mudanças proteolíticas e microbiológicas que contribuem para o sabor e textura do produto são também fortemente influenciadas pelo pH. (Lawrence et al., 1987). Além disso, o desenvolvimento da acidez desde o tanque de fabricação, ajuda a prevenir o desenvolvimento de bactérias indesejáveis no queijo, sendo de grande importância na qualidade e segurança do produto (Fox et al., 2000). Os microrganismos utilizados em culturas lácticas pertencem aos gêneros Streptocococcus, Lactococcus, Leuconostoc e Lactobacillus. Quanto à fermentação da lactose, elas podem ser homofermentativas, ou produtoras de ácido láctico, e heterofermentativas, as quais produzem outros metabólitos (dióxido de carbono, acetaldeído, diacetil) importantes tecnologicamente, além do ácido láctico. Quanto à temperatura de crescimento, elas se dividem em culturas mesófilas, com temperatura ótima de crescimento em torno de 30°C, e termófilas, com temperatura ótima em torno de 42°C (Waltra et al. 1999). A escolha da cultura láctica é dependente do tipo de queijo a ser produzido. A cultura mesófila homofermentativa mais comum é constituída de Lactococcus lactis ssp. cremoris e Lactococcus lactis ssp. lactis. Ela é utilizada para variedades de queijos produzidos a baixa temperatura, com tratamento da massa a 40-42°C, como queijo Prato, por exemplo. É também utilizada para queijos frescos, como o queijo Minas Frescal, cuja temperatura de tratamento da massa é 32°C. Ainda para queijos de massa semi-cozida, porém com pequenas olhaduras pode-se utilizar culturas a base de Leuconostoc mesenteroides ssp. cremoris e Leuconostoc lactis, que são mesófilas e heterofermentativas (fermentam citrato, produzem CO2 e diacetil). Normalmente se usa misturas de cocos e bacilos, por exemplo, Streptococcus thermophilus e Lactobacillus helveticus, para variedades com alta temperatura de tratamento da massa, tais como queijos Mussarela e Suiço. A conseqüência do resíduo de antibiótico no leite para a qualidade do queijo é dependente não só do tipo e da quantidade do contaminante, mas também do queijo que se deseja produzir e conseqüentemente da cultura láctica utilizada. De um modo geral, culturas mesófilas são menos sensíveis a penicilina e espiramicina e mais sensíveis a estreptomicina e cloranfenicol do que culturas termófilas. Schiffmann et al. (1992) avaliaram a influência de resíduos de antibióticos no leite sobre a produção de ácido de culturas lácticas e observaram que com o aumento de concentração de antibióticos a produção de ácido decresceu. O Streptococcus thermophilus apresentou maior susceptibilidade aos antibióticos do que culturas mesófilas constituídas de Lactococcus lactis ssp. lactis e Lactococcus lactis ssp. cremoris. Entretanto, a sensibilidade também varia para as diferentes cepas. Pouca informação é disponível sobre os níveis de antibióticos requeridos para inibir leuoconostoc ou bactérias ácido propiônicas usadas em queijo duros (Salminen e Wright, 1993). Observa-se na Tabela 2 que mesmo baixos níveis de antibióticos podem afetar negativamente a qualidade do queijo Edam, produzido com cultura mesófila, e do queijo Emmental, produzido por cultura termófila. Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 5 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. Tabela 2: Efeito de diferentes antibióticos sobre a qualidade dos queijos Edam e Emmemtal. Antibiótico Penicilina 0,003 UI/ml 0,005 UI/ml 0,008 UI/ml 0,01 UI/ml Espiramicina 1,0 UI/ml 5,0 UI/ml Estreptomicina 1,0µg/ml Tetraciclina 0,3µg/ml 0,7µg/ml a Edama Qualidade do queijo Emmentalb Sem defeito Sem sabor Sem defeito Sabor estranho e formação anormal de olhadura Sabor amargo e textura desigual Sabor estranho forte e fermentação do ácido butírico Sabor estranho forte, textura Não testado desigual Sem sabor, textura superfície úmida desigual, Cheiro de ácido butírico, sabor estranho severo, distribuição desigual de olhaduras Sabor estranho forte, textura Não testado desigual, superfície pegajosa Sabor estranho forte Sem sabor Sem sabor, superfície cheiro Manchas marrom no corpo, sabor estranho forte forte Sabor estranho na Não testado Avaliação com 14 semanas Avaliação com 3 meses Mäyrä-Mäkinen, dados não publicados citados por Salminen e Wright (1993) b No caso da fabricação do iogurte, a flora essencial é constituída por Streptococcus thermophilus e Lactobacillus belbrueckii ssp. bulgaricus. Para o desenvolvimento satisfatório da consistência e do sabor do produto, aproximadamente igual número destes microrganismos deve estar presente no produto final e durante a etapa de fermentação do leite eles têm um efeito estimulante sobre o crescimento um do outro. A ação proteolítica do bacilo favorece o crescimento do estreptococos pela formação de pequenos peptídeos e aminoácidos, principalmente valina. O leite contém muito pouco destes aminoácidos e os cocos, fracamente proteolíticos, produzem ácido muito lentamente. Os cocos por sua vez, favorecem o crescimento dos bacilos através da formação de ácido fórmico e pela rápida produção de CO2. Devido à estimulação mútua, o ácido láctico é produzido muito mais rápido do que seria esperado para estas culturas individuais puras. A produção do ácido desestabiliza a proteína, que precipita na forma de um gel firme, que garante a estrutura do iogurte. Além da estrutura, o sabor do produto também depende da associação adequada destes microrganismos. O acetaldeído, que é um componente essencial para o aroma do iogurte, é produzido principalmente pelos bacilos a partir da treonina, que é um componente natural do leite presente em pequena concentração. Desta forma, a ação proteolítica do bacilo liberando treonina favorece a produção do acetaldeído. O S. thermophilus, e em menor grau o L. belbrueckii ssp. bulgaricus, formam diacetil. Entretanto, como estas bactérias não decompõem ácido cítrico, o ácido pirúvico formado pelos estreptococos durante a fermentação do açúcar é o único precursor do diacetil formado no produto (Walstra et al, 1999, Tamime e Robinson, 2001). Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 6 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. O resíduo de antibiótico no leite utilizado para fabricação do iogurte promove a quebra do crescimento associado entre o S. thermophilus e L. belbrueckii ssp. bulgaricus ou retarda a taxa de produção de ácido (Tamime e Robinson, 2001). No primeiro caso, não é possível a fabricação do produto e depois de horas no tanque de fermentação o leite deverá ser descartado com prejuízo para o fabricante. No segundo caso, o maior tempo de processamento leva a obtenção de um produto de qualidade inferior: com gel frágil, sabor deficiente e separação de soro (sinérese). A sensibilidade destes microrganismos é diferente frente aos diversos antibióticos, porém, baixas concentrações são suficientes para inibir ou retardar sua ação, impedindo ou prejudicando a fabricação do iogurte (Tabela 3). Tabela 3: Sensibilidade da cultura de iogurte a vários antibióticos (ml-1) Antibiótico S. thermophilus Penicilina Estreptomicina 0,004-0,01 UI 0,38 UI 12,5 – 21,0 µg 0,13-0,5 µg 0,06-1,0µg 0,4 UI 0,3-1,3mg 0,8-13,0mg Tetraciclina Clortetraciclina Oxitetraciclina Eritromicina Clorofenicol Microrganismo L. belbrueckii ssp. bulgaricus 0,02-0,1 UI 0,38 UI 6,6 mg 0,3-2,0µg 0,06-1,0µg 0,7 UI 0,7-1,3mg 0,8-13mg Cultura Mista (UI) 0.01 1.0 Não determinado 1,0 0,1 0,4 0,1 0,5 UI, Unidade Internacional Dados compilados por Tamime e Robinson (2001) O efeito inibitório dos antibióticos sobre as culturas lácticas depende da droga utilizada e da sua concentração no leite, entretanto, o modo de ação dessas drogas sobre o S. thermophilus e L. belbrueckii ssp. bulgaricus pode ser resumido da seguinte forma: (a) interferência sobre a estrutura e a permeabilidade da membrana celular, (b) interferência sobre o metabolismo celular de proteínas, carboidratos e lípides, (c) inibição de várias enzimas e sistema de fosforilação, (d) bloqueio da síntese de DNA e RNA durante a divisão celular (Tamime e Robinson, 2001). Efeito do desenvolvimentos de microrganismos psicrotróficos sobre a qualidade do leite e dos produtos lácteos processados De todos os tratamentos conhecidos para reduzir o crescimento microbiano no leite cru, somente o abaixamento da temperatura é geralmente viável. Quando o leite é mantido sem refrigeração ocorre a acidificação devido ao crescimento de bactérias lácticas, que fermentam a lactose produzindo ácido láctico. No entanto, hoje se sabe que o resfriamento por si só não garante a qualidade do leite. Os microrganismos psicrotróficos, se presentes na flora inicial do leite cru, podem crescer a 7°C ou menos, independente da temperatura ótima de crescimento. Desta forma, a melhor condição para a manutenção da qualidade do leite é, naturalmente, a combinação de baixa contagem inicial e baixa temperatura de armazenamento. Para o leite cru manter sua qualidade por diversos dias o tipo de contaminação é, provavelmente, mais importante do que a contagem total de microrganismos. Por exemplo, a contaminação por bactérias causadoras de mastite da ordem de 105 tem menos efeito sobre a Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 7 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. qualidade do leite cru mantido a baixa temperatura do que a contaminação por bactérias psicrotróficas da ordem de 103. Isto se deve ao menor tempo de geração desta bactéria a baixa temperatura quando comparado a outros microrganismos (Walstra et al., 1999). Bactérias psicrotróficas pertencentes a vários gêneros têm sido isoladas do leite, incluindo Pseudomonas, Enterobacter, Flavobacterium, Klebsiella, Aeromonas, Acinetobacter, Alcaligenes e Acromobacter. Alguns gêneros isolados do leite são psicrotróficos e termodúricos, incluindo Bacillus gram-positivos, Clostridium, Microbacterium, Micrococcus e Corynebacterium. A maioria dos microrganismos psicrotróficos não representam um problema grave para o leite e os produtos lácteos porque são destruídos pela pasteurização ou pelo tratamento UHT. No entanto, durante seu desenvolvimento os psicrotróficos produzem enzimas, protease, lipase e fosfolipase, que são estáveis a altas temperaturas e sobrevivem à pasteurização e ao tratamento UHT (Walstra et al., 1999). O acúmulo e a ação de enzimas extracelulares, proteolíticas e lipolíticas, são normalmente correlacionados com a deterioração da qualidade do leite e dos produtos lácteos como pode-se observar na Tabela 4 (Sørhaug e Stepaniak, 1997). Tabela 4: Efeito do crescimento de psicrotróficos no leite cru antes do tratamento térmico sobre a qualidade dos produtos lácteos. Produto Leite UHT Leite em pó Leite Pasteurizado Queijos duros Cotage Cheese Manteiga Iogurte Psicrotrófico em leite cru (Log ufc/ml) 5,9 Efeito sobre a qualidade Gelificação após 20 semanas 6,9-7,2 Gelificação após 2-10 semanas, desenvolvimento gradual de sabores de sujo, amargo e envelhecido 6,3-7,0 Redução da estabilidade térmica e aumento da capacidade de formar espuma em leite reconstituído 5,5 Sabor de qualidade inferior quando comparado com leite pasteurizado produzido com leite fresco 6,5-7,5 Rancidez 7,5-8,3 Alteração no sabor, principalmente rancidez e sabor de sabão. Redução do rendimento de fabricação 5-7,8 Correlação significante entre a contagem psicrotróficono leite cru e sabor amargo de Não determinado Desenvolvimento mais rápido da rancidez em manteiga feita a partir de leite refrigerado do que de leite fresco, lipase de Pseudomonas estava ativa na manteiga congelada 7,6-7,8 Gosto amargo, sabor sujo ou de fruta, dependendo de microflora Dados compilados por Sørhaug e Stepaniak (1997) Quando o leite é mantido a baixa temperatura, uma característica bastante conhecida é a dissociação das caseínas da micela, especialmente da β-caseína. Com a manutenção do leite a 4°C, aproximadamente 30% da β-caseína pode se encontrar na fase não micelar (Fox e McSweeney, 1998). Nesta condição a ação das proteases é favorecida e responsável pela liberação de peptídeos que causam sabor desagradável no leite pasteurizado. Da mesma Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 8 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. forma, a maior proteólise do leite cru durante a estocagem é o principal evento que diminui o rendimento queijeiro, pois durante o processo de coagulação esta fração protéica removida da micela não será incorporada ao coágulo. A proteólise controlada é desejável na fabricação de queijos e é responsável pelo desenvolvimento da textura da maioria dos produtos (Fox et al., 2000). Embora alguma lipólise seja normal e desejável na fabricação de queijos, uma vez que ácidos graxos livres, por si só, são componentes de sabor e aromas dos queijos, o desenvolvimento da rancidez pode ser responsável por consideráveis perdas na indústria. Segundo Deeth e Fitz-Geraldo citado por Deeth (2002) se traços de lipases bacterianas termorresistentes estiverem presentes em queijo Cheddar elas podem atuar durante a estocagem e causar o desenvolvimento de sabor de ranço e de sabão no produto. Mesmo a estocagem em condição adequada e por tempo não muito longo (dois dias) pode afetar a qualidade dos produtos lácteos. Por exemplo, Celestino et al. (1997) avaliaram o efeito da estocagem refrigerada (4°C ± 1°C/48 ± 2h) sobre a qualidade do leite em pó integral e verificaram que o leite refrigerado resultou em pó com valores mais altos de ácidos graxos livres, embora ambos os pós tenham se mantido em condições adequadas para a reconstituição. Atualmente, um problema importante para a indústria nacional é a estabilidade do leite UHT. Os dois principais problemas que limitam a vida de prateleira deste produto são o desenvolvimento de sabor e odor desagradáveis e a gelificação durante o armazenamento. A gelificação é o fenômeno através do qual o leite aumenta a viscosidade durante a estocagem e eventualmente perde a fluidez, formando um gel que impede sua utilização. Ambos os problemas podem estar relacionados com o desenvolvimento de psicrotróficos no armazenamento do leite cru. A plasmina, principal protease natural do leite, é possivelmente responsável pela gelificação do leite UHT produzido com leite de boa qualidade, enquanto proteases de psicrotróficos são provavelmente responsáveis se o leite cru é de baixa qualidade. Além disso, é possível que fenômenos físico-químicos também estejam envolvidos, como por exemplo interação entre proteína do soro e micela de caseína (Fox e McSweeney, 1998). Na presença de psicrotróficos, além da ação de suas proteases sobre as principais frações protéicas do leite, deve-se considerar a possibilidade da sua ação na conversão de plasminogênio a plasmina, o que pode acelerar a gelificação. Trabalhos têm demonstrado que esta possibilidade é dependente do tipo de contaminação e da cepa do microrganismo contaminante. Por exemplo, as enzimas extracelulares produzidas por Pseudomonas putida TP-14, P. putida TP-32, P. putida TP-129, Enterobacter agglomerans E-2, Enterobacter cloacae E-3, P. fluorescens PS-8 e P. fluorescens PS-20 não converteram plaminogênio à plamina (Verdi e Barbano,1991). Entretanto, o crescimento Pseudomonas fluorescens M3/6 e Pseudomonas spp SRM 21A e SRM28A, e sua concomitante produção de protease, causaram a ativação do sistema plasmina-plasminogênio do leite (Fajardo-Lira e Nielsen, 1998). No que diz respeito a influência do crescimento de psicrotrófico sobre a aceitabilidade sensorial do leite UHT, Collins et al. (1993) observaram que a contagem de psicrotrófico no leite cru foi fortemente correlacionada com a extensão da proteólise (r = 0,9476), mas não com a extensão da lipólise (r = 0,18) em leite UHT desnatado. A avaliação sensorial indicou que a correlação entre a extensão da proteólise e o sabor amargo foi alta no leite armazenado a 30°C (r = 0,916) e a 40°C (r = 0,896), mas não no armazenado a 20°C (r = 0,233). As correlações entre a extensão da lipólises e o sabor de ranço não foram significativas. Em trabalho mais recente (Korel e Balaban, 2003), que avaliou o odor do leite UHT integral, desnatado e com teor reduzido de gordura, inoculados com Pseudomonas Disponível em: http://www.cbql.com.br/biblioteca.php 9 Como citar este capítulo: GIGANTE, M.L. Importância da qualidade do leite no processamento de produtos lácteos. In: DURR, J.W., CARVALHO, M.P., SANTOS, M.V. O Compromisso com a Qualidade do Leite. Passo Fundo: Editora UPF, 2004, v.1, p. 235-254. fluorescens ou Bacillus coagulans, utilizando um nariz eletrônico (electronic nose, e-nose), os autores sugerem que o nariz eletrônico pode correlacionar a alteração do odor de leite com a contagem microbiana e a avaliação sensorial. Além disso, a presença dos psicrotróficos têm gerado um problema para o controle da adição fraudulenta de soro de queijo ao leite fluido. Recio et al. (2000) demonstraram que proteases de Pseudomonas fluorescens B52, embora sejam menos específicas que a quimosina, também hidrolisam a κ-caseína na ligação 105-106, levando a formação do caseinomacropeptídeo (CMP). Desta forma, a presença do CMP no leite UHT não pode ser considerada como um indicador exclusivo da adulteração do leite por adição do soro. Conclusão A variabilidade natural da composição do leite já é, por si só, um desafio para a indústria na tentativa de manter constante a qualidade do leite e dos produtos lácteos processados. Quando as variações decorrentes do estado de saúde do animal e das condições de armazenamento e transporte se somam às variações naturais do leite, são evidentes os prejuízos para fabricantes e consumidores do leite e dos produtos lácteos. A mastite causa decréscimo no rendimento leiteiro e mudanças significativas na composição do leite, as quais afetam negativamente as características fisico-químicas, microbiológicas e sensoriais dos produtos lácteos. O leite com resíduo do antibiótico, decorrente do tratamento da mastite, constitui-se num problema, tanto de saúde pública, como para a industria láctea, especialmente para a fabricação de produtos fermentados. O armazenamento e transporte refrigerados do leite, embora conservem sua flora natural, podem permitir a seleção de microrganismos psicrotróficos, os quais produzem enzimas lipolíticas e proteolíticas que são altamente prejudiciais para a qualidade do leite e dos produtos lácteos. Somente o esforço conjunto dos produtores, veterinários e responsáveis técnicos nas indústrias laticinistas é que pode garantir, com o apoio do estado, a obtenção de matéria-prima de qualidade, que é requisito fundamental para a obtenção do produtos lácteos seguros e com qualidade constante. Referências 1. Ali, A. E.; Andrews, A. T.; Cheeseman, G. C. (1980), Influence of elevated somatic cell count on casein distribution and cheese-making. Journal of Dairy Research, 47, 393 – 400. 2. Auldist, M. J.; Hubble, I. B. (1998), Effects of Mastitis on Raw Milk and Dairy Products. Australian Journal of Dairy Technology, 53, 28 – 36. 3. Auldist, M. J.; Coats, S.; Sutherland, B. J.; Mayes, J. J.; McDowell, G. H.; Rogers, G. L. (1996), Effects of somatic cell count and stage of lactation on raw milk composition and the yield and quality of Cheddar cheese. Journal of Dairy Research, 63, 269 – 280. 4. Barbano, D. M.; Ramussen, R. R.; Lynch, J. M. 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