1 2 Anuário Brasileiro do Leite 2009 Brazilian Dairy Yearbook 2009 Grupo Editorial Sumário Um ano difícil para o setor Começa a produção em Passo Fundo O leite de que o Brasil precisa E a Bom Gosto segue crescendo Selo garante pureza Impactos da crise mundial no mercado de lácteos Leite é a quarta bebida mais consumida Exportações recuam no primeiro semestre Importações em alta A aposta no mercado internacional Perspectivas para o agronegócio do leite: a visão da indústria Cenário para o agronegócio do leite no Brasil: a visão do setor primário Produção de lácteos cresce no RS Paraíba sai na frente na produção de leite de cabra em pó Inovar para crescer Summary A difficult year for the sector Production in Passo Fundo commences The milk that Brazil needs And Bom Gosto keeps on growing Stamp guarantees purity Impacts of the world crisis in the dairy products Milk is the fourth most consumed beverage Exports retreat in the first semester Imports on the top The bet in the international market Perspectives for milk agribusiness: the view of the industry Scenario for milk agribusiness in Brazil: the view of the primary sector Dairy production grows in RS Paraíba is ahead in goat milk powder production Innovating to grow 5 8 14 16 20 24 26 30 34 36 38 44 52 54 58 4 10 15 18 22 25 28 32 35 37 41 48 53 56 60 Múcio de Castro 1915 1981 Diretor Presidente: Múcio de Castro Filho Diretor Executivo: Múcio de Castro Neto Editora-Chefe: Zulmara Colussi Conselho Editorial Múcio de Castro Filho Clarice Martins da Fonseca de Castro Milton Valdomiro Roos Antero Camisa Junior Dárcio Vieira Marques Paulo Sérgio Osório Valentina de Los Angeles Baigorria Múcio de Castro Neto MC- Rede Passo Fundo de Jornalismo Ltda Rua Silva Jardim, 325 A - Bairro Annes CEP 99010-240 – Caixa postal 651 Fone: (54) 3045-8300 - Passo Fundo RS www.onacional.com.br Fones Geral: (54) 3045 8300 Redação: (54) 3045 8326 Assinaturas: (54) 3045 8336 Classificados: (54) 3045 8344 Contatos Circulação: [email protected] Comercial: [email protected] Redação: [email protected] Administrativo: [email protected] Sucursal em Porto Alegre: GRUPO DE DIÁRIOS Rua Garibaldi, 659, conj. 102 – Porto Alegre-RS. Representante para Brasília: CENTRAL COMUNICAÇÃO. Representante para São Paulo e Rio de Janeiro: TRÁFEGO PUBLICIDADE E MARKETING LTDA Avenida Treze de Maio, sala 428 Rio de Janeiro – RJ. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações sem a referida citação de autoria. Filiado à Leite 2009 Anuário Brasileiro do Brazilian Dairy Yearbook 2009 4 Editor: Daiane Colla Fotos: Rodrigo Deggerone (Studio Arte) e Banco de Imagens O Nacional Projeto gráfico e diagramação: Pablo Tavares Revisão: Mara Rúbia Alves Tradução: Regina Kátia Fritsch Impressão: Gráfica Editora Pallotti Um ano difícil para o setor A difficult year for the sector Enquanto 2008 foi considerado um dos melhores anos para o mercado de lácteos, o de 2009 foi sensivelmente afetado pela crise econômica mundial. O setor sofreu uma forte redução nas exportações, com queda de 61,5% no volume de derivados que foram para o mercado externo. Com o câmbio favorável, a indústria precisou enfrentar também a forte concorrência dos produtos importados, que entraram com facilidade no país, produzindo uma reação negativa em toda a cadeia produtiva. Enquanto a produção vem se mantendo nos mesmos patamares do ano passado e as exportações ficaram em queda, os produtores comemoraram os preços recordes pagos pelo leite no mercado interno. Em julho, a média nacional de preços pagos ao produtor foi de R$ 0,72 o litro de leite. O preço deverá sofrer a queda normal registrada no período de safra, mas a tendência é que se mantenha em alta, mesmo com o aumento da produção. O ano também foi impor- While 2008 was considered one of the best years for dairy market, 2009 was slightly affected by the world crisis. The sector suffered a strong reduction in its exports, with fall of 61.5% in the volume of dairy towards the external market. With the exchange favorable, the industry also needed to face the strong competition of imported products that easily entered the country, producing a negative reaction in all productive chain. While the production is being kept in the same levels and the exports were falling, producers celebrated the prices record paid for milk in the internal market. In July, the national average of prices paid to the producer was R$ 0.72 liter of milk. The price shall suffer the normal fall recorded in the harvest period, but the tendency is that it is kept high, even with the increase of the production. The year was also important tante para muitas empresas de laticínios. Muitas registraram o início de suas operações, como é o caso da Italac, que começou a produzir leite e derivados na planta industrial de Passo Fundo. Neste cenário, o Rio Grande do Sul tem se consolidado como um dos estados mais importantes. Segundo maior produtor de leite do país, tem recebido investimentos pesados das maiores indústrias de laticínios do Brasil. Dentre suas vantagens está a grande capacidade produtiva aliada a maior taxa de leite inspecionado por órgãos federais. Cada vez mais o setor vem se consolidando. A despeito das mudanças pelas quais passou o setor lácteo brasileiro nos últimos anos, ainda há diversas oportunidades, como a redução da informalidade, consolidação da indústria e maior integração, ganhos de produtividade na fazenda, antecipação de preços de leite por toda a indústria, melhoria na qualidade do leite e maior acesso a outros mercados. for many dairy companies. Many of them recorded the beginning of their operations, as Italac, which began to produce milk and dairy in the industrial plant of Passo Fundo. In this scenario, Rio Grande do Sul has consolidated as one of the main important states. Second greater milk producer in the country, it has received great investments from the largest dairy industries in Brazil. Among its advantages is its large productive capacity allied to the milk rate inspected by federal organs. The sector is increasingly consolidating. Despite changes by which the Brazilian sector experienced in the last few years, yet, there are several opportunities, like the reduction of informality, consolidating the industry and greater integration, gains of productivity in the farm, milk prices anticipation for all over the industry, milk quality improvement and greater access to other markets. 5 Começa a produção em Passo Fundo Plano de expansão da Italac prevê ainda a aquisição de mais três unidades processadoras de leite. Investimento total no município atinge R$ 80 milhões Em agosto de 2009 a planta de processamento de leite da Italac em Passo Fundo (RS) iniciou as operações. A empresa deverá investir cerca de R$ 80 milhões nas três fases de instalação. Nesse primeiro momento, a Italac produz leite tipo longa vida. A médio prazo deverá ser introduzida também a produção de achocolatados e leite condensado e a longo prazo, leite em pó. As segunda e terceira etapas serão implementadas de acordo com o funcionamento da unidade e da expansão da bacia leiteira da região de Passo Fundo, já que a empresa pretende trabalhar com um milhão de litros/dia 8 de leite. Ao final da terceira etapa, a empresa estima que terá gerado mais de 500 empregos diretos. Na primeira etapa, a Italac investiu R$ 20 milhões e gerou 150 empregos diretos e aproximadamente mil indiretos, entre produtores, transportado- res, comércio e serviços ligados ao agronegócio. Inicialmente a indústria tem capacidade de produção para 300 mil litros/ dia. Para um segundo momento está programado um investimento de mais R$ 20 milhões e por último mais R$ 30 mi- > Capacidade industrial de leite UHT: 7,4 milhões de litros/dia > Capacidade industrial de leite em pó: 3,3 milhões de litros/dia > Produção média de matéria-prima em 2008: 8,2 milhões de litros/dia lhões serão investidos na ampliação do empreendimento. Ao final de três anos acredita-se que os R$ 80 milhões previstos tenham sido transformados em tijolos, máquinas, pessoal, leite longa vida, aromatizado e em pó, creme de leite e leite condensado. “Ao final desse período pretendemos estar processando 385 milhões de litros de leite ao ano”, salientou o diretor da Italac Alimentos, Cláudio Teixeira. A construção da planta de Passo Fundo faz parte de um plano de expansão da Italac para outras cidades da região Sul do País. Quando ain- da faltavam dois anos para começar a operar em Passo Fundo, a Italac comprou a Laticínios Sarandi, de Rondinha (RS). A empresa assumiu a unidade em 2008 e em sua estratégia está a aquisição de mais três unidades processadoras. A empresa A Italac Alimentos é sediada no estado de Goiás e conta com unidades voltadas para produção em quatro estados: Goiás, Minas Gerais, Pará e Rondônia e unidades de distribuição em São Paulo (SP) e Manaus (AM). A filial de Passo Fundo atenderá a um mercado novo para a empresa, além do Rio Grande do Sul, a unidade de Passo Fundo irá fornecer produtos para os demais estados da região Sul. Local estratégico A escolha de Passo Fundo pela direção da Italac não aconteceu devido à insistência das lideranças municipais. Uma pesquisa de mercado foi realizada, com auxílio também de outras instituições, e os diretores da empresa puderam constatar que a cidade está lo- calizada no centro da maior bacia leiteira do Estado, com ampla capacidade logística e de mão-de-obra. Havia ainda a necessidade da certeza de que a produção leiteira seria capaz de atender à demanda. A preocupação foi grande já que além da Italac, outras três empresas do setor de laticínios estão se instalando na região. Parceria A Italac firmou um acordo de cooperação técnica com a Cotrijal, de Não-Me-Toque, para fomentar a bacia leiteira da região do Planalto Médio. O acerto permite aos fornecedores de leite da Italac utilizar a estrutura da Cotrijal para assistência técnica e na disseminação de novas tecnologias. O presidente da Cotrijal, Nei Mânica, afirma que, com esse acordo, a cooperativa busca fortalecer sua atuação junto aos seus cooperados, principalmente na região de instalação da Italac, contribuindo com o crescimento da bacia leiteira e com a profissionalização dos produtores. A parceria é uma ação da empresa, que pretende se aproximar dos produtores de leite da região Sul do País. 9 9 In August 2009 the plant of milk processing of Italac in Passo Fundo (RS) began tits works. The company shall invest approximately R$ 80 million in the three stages on installation. In this first moment, Italac produces UHT milk. In medium term the production of chocolate powder and condensed milk shall also be introduced and in long term, milk powder. The second and third stages will be implemented according to the running of the unit and the expansion of the milk basin of Passo Fundo region, since the company intends to work with one million liters/day. In the end of the third stage, the company estimates that it will have generated more than 500 direct jobs. In the first stage, Italac invested R$ 20 million and generate 50 direct jobs and approximately thousand indirect jobs, among producers, conveyers, commerce and services connected to agribusiness. Initially, the industry has production capacity for 300 thousand liters/day. To a second moment, an investment of R$ 20 million and finally, R$ 30 million more are scheduled to be invested in the enlargement of the enterprise. In the end of three years, it is believed that R$ 80 million predicted have been changed to bricks, machines, personnel, UHT milk, flavored and powder, cream, condensed milk. “In the end of this period we intend to process 385 million liters per year”, highlights the director of Italac, Claudio Teixeira. The construction of the plant in Passo Fundo makes part of an expansion plan of Italac to other cities of the country’s South region. When it was two years to begin running in Passo Fundo, Italac purchased Laticínios Sarandi, of Rondinha (RS). The company took over the unit in 2008 and in its strategy is the acquisition 10 Production in Passo Fundo commences Italac expansion still estimates the acquisition of three more processing milk units. Total investment in the town reaches R$ 80 million of three processing units more. The company Italac Alimentos is settled in the state of Goiás and is comprised of units directed to production in four states: Goiás, Minas Gerais, Pará and Rondônia and distribution units in São Paulo (SP) and Manaus (AM). The branch in Passo Fundo will meet a new market for the company, besides Rio Grande do Sul, the unit of Passo Fundo will provide products to other states of the South region. Strategic local The choice of Passo Fundo by the direction of Italac did not happen because of municipal leaders’ insistence, but as a consequence of a research on the market with the assistance of other institutions, and the company’s directors could also observe that the city is located in the center of the greatest milk basin of the state, with wide logistic and labor capacity. Furthermore, certainty was necessary so that milk production would be able to meet the demand. There is concern about it, since that, besides Italac, other three companies of dairy sector are being installed in this region. Partnership Italac dealt an agreement of technical cooperation with Cotrijal, of Não-Me-Toque, to foment the milk basin of Planalto Médio region. The deal allows Italac milk suppliers to use the structure of Cotrijal for technical assistance and propagation of new technologies. Cotrijal’s president, Nei Mânica, asserts that, with this agreement, the cooperative searches to strengthen its action with its cooperated, mainly in the region of Italac installation, therefore, contributing with the milk basin growth and with the producers’ professionalization. The partnership is an action of the company that intends to approach milk producers in the South region of the country. > Milk Industrial Capacity UHT: 7.4 million of liters/day > Milk powder Industrial Capacity: 3.3 millions of litters/day > Average production of raw material in 2008: 8.2 million liters/day 11 12 13 O leite de que o Brasil precisa Rosangela Zoccal* Dados do Ministério da Saúde demonstram que o brasileiro deveria consumir, em média, 200 litros de leite por ano, seja na forma fluida ou na de produtos lácteos. No entanto, o consumo médio no País, cerca de 120 litros por habitante/ano, está muito aquém do recomendado. O leite é uma das principais fontes de proteína da alimentação humana. A necessidade do produto varia conforme a faixa etária da pessoa (veja tabela abaixo). Uma vida saudável depende desse alimento que, pela potencialidade da pecuária de leite nacional, pode se tornar acessível à totalidade da população. O Brasil é o sexto maior produtor de leite do mundo (21 bilhões de litros em 2001), ocupando posição de destaque no cenário mundial. No período de entressafra, porém, ainda recorremos à importação para atender a demanda interna. Não obstante, os produtores brasileiros já demonstraram uma grande capacidade de ampliar a produção sempre que o preço do leite atinge patamares razoáveis, compensando novos investimentos. Além do mais, a pesquisa agropecuária desenvolveu, nos últimos anos, tecnologias capazes de quadruplicar 14 a produção nacional. Com algum esforço, poderíamos atingir a marca de 80 bilhões de litros/ano, o que, da condição de importador, nos transformaria em grande exportador. Mas manter a estabilidade dos preços pagos aos produtores, em um processo de expansão da produção, exige que o mercado interno também seja ampliado. Do contrário, o resultado pode ser a queda dos preços pagos ao produtor, como já aconteceu em anos anteriores. A demanda por produtos alimentícios pode ser influenciada por diversos fatores. Entre eles está o crescimento da renda, o aumento da população, a redução de preços e as mudanças nos hábitos alimentares. No caso do Brasil, a inclusão de uma camada da população no mercado consumidor de lácteos já poderá significar uma grande revolução no setor. O País possui uma população carente que pouco ou nada consome. Se tomarmos por base apenas o consumo mínimo recomendado (146 litros/ ano), teríamos que incremen- tar nossa produção anual em 4,5 bilhões de litros. Para atender o mercado interno potencial, composto por 175 milhões de pessoas, um consumo per capita de 600 ml/dia demandaria uma produção anual de 38,3 bilhões de litros de leite. E mesmo assim estaríamos explorando apenas dois terços da nossa capacidade produtiva, restando ainda um amplo mercado externo a conquistar. O primeiro passo para nos tornarmos exportadores de lácteos já foi dado, recentemente, com a assinatura da Instrução Normativa 51, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As novas normas estabelecem critérios para a produção com qualidade. O Brasil já produz o leite mais barato do mundo (cerca de 10 centavos de dólar/litro). O incremento na qualidade que a instrução normativa pretende produzir tornará o nosso produto um dos mais competitivos no mercado internacional. * Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite O Ministério da Saúde recomenda que o consumo mínimo de leite seja de: Volume mínimo Faixa etária 400 ml/dia (146 l/ano) Crianças até 10 anos 700 ml/dia (256 l/ano) Jovens entre 11 e 19 anos 600 ml/dia (219 l/ano) Adultos acima de 20 anos (inclusive idosos) The milk that Brazil needs Rosangela Zoccal* Data from the Ministry of Health showed that the Brazilian should consume an average of 200 liters per year, either in liquid form or in dairy products form. However, the mean consumption in the country, around 120 liters per inhabitant/year is far beyond the recommended. The milk is one of the main sources of protein of human food. The need for the product varies according to the person’s age group (see table below). A healthy life depends on this nourishment which, by the potentiality of the national dairy cattle, it may become accessible to the entire population. Brazil is the sixth greater milk producer worldwide (21 billion of liters in 2001) and it ranks a central position in the world scenery. In the between-season period, thus, we still appeal to the importance in attending the internal demand. Nevertheless, Brazilian producers show a great capacity to enlarge the production every time the milk price reaches reasonable levels, thus counterbalancing new investments. Furthermore, the cattle research has developed in the last few years technologies able to quadruplicate the national production. With some effort, we could reach the mark of 80 billion of liters/year, what, as an importer, it would make us a great exporter. But keeping the price stability paid to the producers, in an expansion process of the production and it requires that the internal market is also enlarged. Otherwise, the result might be the fall of the prices paid to the producer, as it has already happened in previous years. The demand for food products can be influenced by several factors. Among them is the income growth, the increase of the population, the reduction of the prices and the changes in nourish habits. In the case of Brazil, the inclusion of a population layer in the consumer market of dairy products shall mean a great revo- The Ministry of Health recommends that the minimum consumption of milk is: Minimum volume Age group 400 ml/day (146 l/year) Children up to 10 years old 700 ml/day (256 l/year) Young between 11 and 19 years old 600 ml/day (219 l/year) Adults over 20 years old (including the elderly) lution in the sector. The country has a deprived population which consumes little or do not consume it. If we take as base the minimum consumption recommended only, (146 liters/year), we would have to improve our yearly production in 4.5 billion of liters. To attend the potential internal market which is comprised of 175 million of people, a per capita consumption of 600 ml/day, it would demand a yearly production of 38.3 billion of milk litters. And even then we would be exploring two thirds of our productive capacity only, still remaining a wide external market to conquer. The first step to us to become exporters of dairy has already been given, recently, with the signature of the Normative Instruction 51 by the Ministry of Agriculture, Cattle-raising and Supplies. The new norms establish criteria to the production with quality. Brazil produces the cheapest milk in the world (approximately 10 cents of dollar/liter). The increment on quality which the normative instruction intends to produce will make our product one of the most competitive in the international market. *Researcher of Embrapa Dairy Cattle 15 Beneficiada pelo aporte do BNDESPar, a empresa do interior do Rio Grande do Sul chama a atenção do setor de lácteos no País e cresce em ritmo impressionante 16 E a Bom Gosto segue crescendo Em 15 anos de existência, a Laticínios Bom Gosto já soma diversas aquisições de indústrias, arrendamentos e ainda uma fusão, com a Líder Alimentos, operação que contou com aporte do BNDESPar. Antes da fusão com a Líder, em novembro de 2008, a empresa já tinha adquirido o controle da Nutrilat e da Corlac, no Rio Grande do Sul, e da Laticínios DaMatta e da Laticínios Santa Rita, ambos em Minas Gerais, em 2007. A empresa também constrói no Uruguai, com investimentos de US$ 30 milhões. Em 2009, a empresa adquiriu da Parmalat a fábrica de Garanhuns, em Pernambuco, por R$ 31 milhões. Além da fábrica de Garanhuns, o negócio entre a Bom Gosto e a Parmalat inclui nove postos de captação localizados em Tapejara (RS), Enéas Marques (PR), Monte Castelo (SP), Exu (PE), Ipira (BA), Alegre (ES), Jacaré dos Homens (AL), Santa Cruz de Goiás (GO) e Itarumã (GO). Em junho de 2009, a Nestlé do Brasil fechou um acordo com a Bom Gosto, para arrendamento da fábrica da Garanhuns. Da unidade pernambucana da Bom Gosto sairá toda a linha de lácteos refrigerados da Nestlé, como iogurtes, leites fermentados e sobremesas. “Vamos construir no local em que já existe a fábrica e traremos linhas inteiras de equipamentos de produção, com contratação de pessoal.” O contrato é válido por cinco anos, com possibilidade de renovação. A Bom Gosto, que produz iogurte somente no Paraná, com a marca Líder, receberá pelo arrendamento da área e pelo fornecimento de leite para a multinacional. Também em 2009, a Laticínios Bom Gosto fechou a compra da fábrica da Nestlé em Barra Mansa (RJ) por R$ 9 milhões. De acordo com o diretor presidente da Bom Gosto, Wilson Zanatta, além do valor destinado à aquisição, a empresa vai aplicar outros R$ 20 milhões na modernização das instalações que estavam sem operar há cerca de dois anos. A usina de Barra Mansa tem capacidade de processamento de 300 mil litros de leite por dia, e o plano da Bom Gosto é produzir leite longa vida, bebidas lácteas, achocolatado e creme de leite. Com a aquisição da planta fluminense, a Bom Gosto, que processa atualmente 3 milhões de litros de leite “Após a fusão com a Líder e o aporte do BNDES, a empresa ficou capitalizada e existe possibilidade de crescimento.” Diretor presidente da Bom Gosto, Wilson Zanatta por dia, passa a operar 20 unidades industriais, localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. A empresa cresce no Brasil por meio de aquisições, além de ter um projeto de construção de fábrica no Uruguai, com capacidade inicial para processamento de 400 mil litros/dia. “Após a fusão com a Líder e o aporte do BNDES, a empresa ficou capitalizada e existe possibilidade de crescimento”, afirma o diretor Wilson Zanatta, um veterinário e filho de produtor de leite, visto como audacioso por seus concorrentes. Ele acrescenta que a companhia sempre avalia “oportunidades de investimento”. Mas Zanatta mantém a cautela em relação ao comportamento do mercado de lácteos, que está abastecido no front doméstico e tem estoques elevados e preços baixos no exterior. “[O mercado] Deve melhorar quando a crise acabar, em 2010, 2011”, torce o empresário. Uma fusão positiva Atrás da Nestlé, Perdigão e Itambé, a gaúcha Laticínios Bom Gosto e a paranaense Líder Alimentos criaram a quarta maior produtora de lácteos do País. Juntas, elas somam um faturamento de R$ 1,5 bilhão por ano e uma captação de 3 milhões de litros de leite por dia, processados em 20 unidades espalhadas pelo Brasil. Os fundadores das duas empresas - Wilson Zanatta (Bom Gosto) e os irmãos Aparecido e Agenor Stuani (Líder) - dividirão o controle da nova companhia, com mais de 60% das ações. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social já é sócio da Bom Gosto e detém cerca de 30% do negócio. Com a operação, o banco fará um novo aporte de capital. “As duas empresas são complementares. Enquanto a Líder é forte no varejo, a Bom Gosto é forte na captação”, afirma Fortunato Bergamo, executivo da Líder. 17 Benefited by the support of BNDESPar, the company from the country of Rio Grande do Sul attracts the dairy sector attention in Brazil and grows at an impressive pace And Bom Gosto keeps on growing 18 In 15 years of existence, Laticínios Bom Gosto holds several acquisitions of industries, land rent and still a merger with Líder Alimentos, operation that counted on the support of BNDESPar. Before the merge with Líder, on November 2008, the company has already acdquired the control of Nutrilat and Corlac, in Rio Grande do Sul, and Laticínios DaMatta and Laticínios Santa Rita, both in Minas Gerais, in 2007. The company also builds in Uruguay, with investments of US$ 30 million. In 2009, it acquired from Parmalat the plant Garanhuns, in Pernambuco, by R$ 31 million. Besides the plant Garanhuns, the business between Bom Gosto and Parmalat includes nine collection posts located in Tapejara (RS), Enéas Marques (PR), Monte Castelo (SP), Exu (PE), Ipira (BA), Alegre (ES), Jacaré dos Homens (AL), Santa Cruz de Goiás (GO) and Itarumã (GO). On June 2009, Nestlé do Brazil dealt an agreement with Bom Gosto, for land renting of the plant Garanhuns. From the unit pernambucana of Bom Gosto will leave all dairy cooled line of Nestlé, like yogurts, fermented milk and desserts. “We will build in the local where there is a plant already, and we will bring complete lines of production equipments with personnel hiring.” The contract is valid for five years, with possibility of renewal. Bom Gosto, which produces yogurt in Paraná only, with the brand Líder, will receive by the land rent of the area and by the supplying of milk to the multinational. In 2009 as well, Laticínios Bom Gosto closed the purchase of the plant Nestlé in Barra Mansa (RJ) by R$ 9 million. According to the Bom Gosto’s Director-President, Wilson Zanatta, besides the value for the acquisition, the company is going to invest other R$ 20 million in the modernization of installations that were without running for more than two years. The plant Barra Mansa has capacity of processing 300 thousand liters milk per day, and Bom Gosto’s plan is to produce UHT milk, dairy beverage, chocolate powder and cream. With the acquisition of the plant fluminense, Bom Gosto, which processes 3 million “After the merger with Líder and the support of BNDES, the company was descapitalized and there is the possibility of growth.” Diretor president of Bom Gosto, Wilson Zanatta currently, begins to run 20 industrial units, located in the states of Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco and Mato Grosso do Sul. The company grows in Brasil by means of acquisitions, besides having a project of plant construction in Uruguay, with initial capacity of for processing of 400 thousand liters/day. “After the merge with Líder and the support of BNDES, the company was descapitalized and there is the possibility for growing”, asserts the Director Wilson Zanatta, a vet and milk producer’s son, seen as a daring person by his competitors. He adds that the company always evaluates “opportunities of investment”. But Zanatta keeps prudence in relation to dairy market’s behavior, which is supplied in the domestic front and has high stocks and low prices overseas. “[The market] shall be better when the crisis ends, in 2010, 2011”, thus hopes the producer. A positive merger Behind Nestlé, Perdigão and Itambé, the gaúcha Laticínios Bom Gosto and the paranaense Líder Alimentos created the fourth greater producer of dairy products in the country. Together, they sum an income of R$ 1.5 billion per year and capture of 3 million liters of milk per day, processed in 20 units spread all over Brazil. The founders of both companies - Wilson Zanatta (Bom Gosto) and the brothers Aparecido and Agenor Stuani (Líder) – will share the control of the new company, with more than 60% of the shareholdings. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social is Bom Gosto’s partner already and it holds approximately 30% of the business. With the operation, the bank will achieve a new capital support. “Both companies are complementar. Líder is strong at retail whereas Bom Gosto is strong at capture”, asserts Fortunato Bergamo, Líder’s executive. 19 Selo garante pureza A Associação Brasileira de Criadores de Búfalos deve encerrar 2009 com aumento de 15% na produção de leite de búfala com selo 100% de pureza Foram 31 milhões de litros de leite e 5,2 milhões de quilos de mozarela. Esse foi o desempenho em 2008 dos laticínios fiscalizados pela comissão do selo de pureza 100% Búfalo da ABCB (Associação Brasileira de Criadores de Búfalos). Foram 20 3,4 milhões de litros de leite e 573 mil quilos de queijo a mais do que em 2007. Para 2009, a comissão espera um aumento de 15% em relação ao ano passado. Esses números representam o movimento dos estabelecimentos que não misturam leite de vaca ao leite de búfala na produção da mozarela e permitem a fiscalização da ABCB. Sendo assim, os dados se referem à produção formal da mozarela de búfala autêntica no Brasil. Para cumprir com os padrões italianos desse tipo de queijo e respeitar a característica gastro- nômica e qualidades nutricionais da autêntica mozzarella di bufala, o queijo tem de ser feito sem a adição de leite de vaca e sem a utilização de branqueadores. A ABCB alerta para que os consumidores procurem pelo Selo de Pureza 100% Búfalo nas embalagens dos produtos. Diversidade de produtos Os laticínios que integram o Selo de Pureza 100% Búfalo da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos apresentam uma opção para quem deseja substituir o tradicional provolone de leite de vaca por um queijo com menos sal, mais proteínas e sabor bem mais suave, embora defumado. A solução foi simples, mas o resultado foi um produto nobre e surpreendente, feito exclusivamente com leite de búfala e obedecendo aos padrões de produção italianos da verdadeira mozarela. Depois de a mozarela de búfala estar pronta, parte-se para o processo de defumação. O resultado é um sabor leve e muito menos salgado. Ricota, queijo coalho, mozarela defumada, recheada, doce de leite, borrata e frescal. Não é só mozarela de búfala que os laticínios brasileiros estão produzindo com o leite proveniente dessa raça. São nove laticínios hoje no País que, além de fabricar a genuína mozzarella di bufala italiana, utilizando apenas leite de búfala em sua composição, descobriram que é possível inovar para ter produtos com características gastronômicas e nutritivas muito especiais. Os laticínios que têm o direito de exibir o Selo de Pureza 100% Búfalo na embalagem de seus queijos são: Laticínios Bom Destino (MG), Laticínios Búfalo Dourado (SP), Lavera Mozzarella di Bufala (SP), Queijaria Búfalo D’Oeste (SP), De Búfala Almeida Prado (SP), Fábrica de Laticínios Fazenda Santo Anjo Ltda. (SP), Agropecuária Alambari Ltda. (SP), Laticínio Natal (BA) e Tapuio Agropecuário Ltda. (RN). Segundo Maria Cecília de Almeida Prado, coordenadora do Selo de Pureza 100% Búfalo, a divulgação sobre a existência do selo é importante, pois impede que fabricantes, com o fim de baratear a produção, levem às prateleiras “falsas mozzarellas di bufala”, contendo, em alguns casos, até 80% de leite de vaca. “Esperamos com esse programa difundir cada vez mais a bubalinocultura no Brasil e no mundo, divulgando os produtos fabricados com puro leite de búfala, bem como garantir aos consumidores um produto puro, sem mistura”, afirma. Para mais informações sobre os laticínios que têm o Selo de Pureza 100% búfalo acesse www.bufalo.com.br. A mozarela de búfala defumada é menos seca e substitui perfeitamente o provolone derivado de bovinos na culinária, sanduíches e aperitivos. A diferença é que o consumidor leva mais nutrientes para o prato, pois o produto concentra propriedades como melhores índices de proteínas, menos colesterol, mais cálcio e mais vitamina A. Além disso, por ser o búfalo um animal mais rústico e mais resistente às doenças que em geral atacam os bovinos, o leite, matéria-prima da mozarela defumada, possui menos resíduos de medicamentos, como antibióticos, já que o animal é menos exposto às substâncias químicas. 21 Stamp guarantees purity The Associação Brasileira de Criadores de Búfalos shall terminate 2009 with increase of 15% in the production of buffalo milk with stamp 100% purity 22 The dairy that hold the Certification 100% Buffalo of the Associação Brasileira de Criadores de Búfalos show an option to whom wish replace the traditional provolone made with cow milk for one cheese with less salt, more proteins and much milder flavor, although it is smoked. The solution was simple, but the result was a noble and amazing product, made exclusively with buffalo milk and following the standards of the Italian production of the real mozzarella. After buffallo mozzarella is ready, it starts the process of smoking. The result is a lighter and much less salty flavor. Smoked buffallo mozzarella is less dry and can perfectly replace the provolone derivate from bovine in the culinary, sandwiches and appetizers. The difference is that the consumer take more nutrients to the dish, thus the product concentrates properties with greater indexes of proteins, less cholesterol, more calcium and more vitamin A. Furthermore, because buffalo is a more rustic animal and more resistant to diseases that bovine, in general, milk, smoked mozzarella raw-material have less waste of medicaments like antibiotics, since the animal is less exposed to chemical substances. There were 31 million liters of milk and and 5.2 million pounds of mozzarella cheese. This was the performance in 2008 of dairy inspected by the certification commission 100% Bufffalo of ABCB (Associação Brasileira de Criadores de Búfalos). It was 3.4 million liters of milk and 573 thousand pounds of cheese more than in 2007. For 2009, the commission expects an increase of 15% in relation to last year. These numbers present the movement of the establishments than do not mix cow milk to buffalo milk in the production of mozzarella cheese and allow the inspection of ABCB. Then, the data refer to the authentic buffalo mozzarella formal production in Brazil. To accomplish Italian patterns of this type of cheese and respect the gastronomic characteristic and nutritional quality, the cheese have to be made without addition of cow milk and without the use of whitening. ABCB warns the consumers to search for certification 100% Buffalo in the product packages. Diversity of products Ricotta, coalho type cheese, smoked mozzarella, recheada, doce de leite, borrata and frescal. It is no only buffallo mozzarella that Brazilian dairy are producing with milk resulting from this breed. There are nine dairy producers nowadays in the country that, besides manufacturing the genuine Italian mozzarella di bufala, by using buffalo milk only in its composition, found out that it is possible to innovate in order to have products with very special gastronomic and nutritional characteristics. The dairy that has the right to show the Certification 100% Buffalo on the package of their cheese are: Laticínios Bom Destino (MG), Laticínios Búfalo Dourado (SP), Lavera Mozzarella di Bufala (SP), Queijaria Búfalo D’Oeste (SP), De Búfala Almeida Prado (SP), Fábrica de Laticínios Fazenda Santo Anjo Ltda. (SP), Agropecuária Alambari Ltda. (SP), Laticínio Natal (BA) and Tapuio Agropecuário Ltda. (RN). According to Maria Cecília de Almeida Prado, coordinator of the Certification 100% Buffalo, the spread of the Certification existence is important, thus it prevent the manufacturers, who want to lower the prices, from taking to the shelf “false mozzarella di búfala”, containing in some cases up to 80% cow milk. “We wish through this program increasingly spread bubalino farmers in Brazil and in the world, spreading the products manufactured with pure cow milk, as well as to guarantee to consumers a pure product without mixture”, he asserts. For more information on dairy that have Certification 100% buffalo, access www.bufalo.com.br. 23 Impactos da crise mundial no mercado de lácteos Rodrigo Alvim* e Bruno B. Lucchi** A crise financeira mundial originada nos Estados Unidos espalhou-se pelo mundo, criando uma situação adversa ao mercado de lácteos. Sem crédito, os países importadores reduziram suas compras, deprimindo expressivamente as cotações, com repercussões nos preços internos de todos os países exportadores, inclusive o Brasil. Os preços médios do leite em pó na Oceania e União Europeia, no primeiro semestre de 2008, cotavam acima de US$ 4.000/ton., mas até a primeira semana de junho deste ano a média não chegou a US$ 2.200/ton. O comportamento de queda nos preços, observado na maioria das commodities agrícolas, deve-se em grande parte à recessão vivida pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Aliado a isso, há ainda o fato da retomada de subsídios por parte dos Estados Unidos e da União Europeia. Os primeiros seis meses de 2008 apresentaram um incremento de 13,9% na produção formal de leite, comparado a igual período do ano anterior, proporcionado principalmente pelos estímulos de mercado ocorridos em 2007. No entanto, a partir do segundo semestre, a baixa atratividade no cenário internacional somado ao excedente de produção no mercado interno, desencadearam a redução nos preços rece- 24 bidos pelo produtor. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Universidade de São Paulo, houve redução de quase 18% no preço corrigido do leite, em 2008. No entanto, de acordo com os painéis realizados pelo projeto Campo Futuro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, nos principais estados produtores de leite, os custos de produção aumentaram quase 10%. Essa relação inversa entre preço e custo prejudicou de maneira significativa a situação econômica do produtor, que se viu obrigado a reduzir o uso de tecnologias na tentativa de baixar o custo de produção. E foi dessa forma que 2009 começou - com custos altos, preços baixos e estagnados e queda na produção de leite. O Índice de Captação de Leite do Cepea registrou redução de 7% na captação, de janeiro a abril desse ano, ante o mesmo período do ano passado. Se não bastasse a desaceleração do mercado, a forte estiagem que ocorreu no sul do País, somada às enchentes nas regiões Norte e Nordeste, também contribuiu para a redução da produção de leite. Diante desse cenário pessimista, a boa notícia é o aumento no consumo de alimentos que, no primeiro trimestre deste ano, cresceu 0,7% frente ao último trimestre de 2008, cuja redução foi de 1,8%. O bom desempenho no consumo das famílias se deve, entre outros fatores, à valorização do salário mínimo em relação aos produtos da cesta básica. A análise da quantidade de cestas básica adquiridas com um salário mínimo mostra um incremento de 22% no poder de compra dos alimentos entre junho do ano passado, quando iniciou a queda nos preços do leite, e abril de 2009. Nesse período, essa relação de troca passou de 1,69 cestas/salário, em junho de 2008, para 2,06, em abril de 2009. Com redução na oferta e aumento da demanda, os preços tendem a se elevar, estimulados pelo consumo de leite longa vida, que apresenta estimativa de crescimento de 5% no ano. Grandes laticínios realizaram investimentos consideráveis na produção desse tipo de produto. Vale salientar que, como o leite em pó, o longa vida é um dos derivados lácteos que possuem maior correlação com o preço pago ao produtor. No entanto, entre abril e maio de 2009, os preços do leite UHT nas gôndolas de supermercados apresentaram valores maiores que a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao consumidor. Em algumas regiões do País, os aumentos foram acima de 24% ao longo do mês de maio, enquanto a variação no preço pago ao produtor foi de 5,8%, tendo sido a melhor do ano até o momento. A valorização do leite UHT, aliado ao aumento do consumo de alimentos, é vista como fator positivo para a recuperação dos preços de leite ao produtor. No entanto, é preciso certa ponderação, pois elevações constantes no preço do longa vida não se estendem, na mesma proporção, aos demais produtos lácteos, a exemplo do leite em pó. Outro ponto a ser analisado é a reação dos consumidores à elevação dos preços, que os leva a substituir o leite por outro produto ou a reduzir seu consumo. Por outro lado, maior equilíbrio deve ser dado na distribuição das margens entre os elos da cadeia, do produtor à rede varejista, pois caso contrário dificilmente o mercado se ajustará. * Rodrigo Sant’Anna Alvim engenheiro-agrônomo, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite ** Bruno Barcelos Lucchi - zootecnista, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Leite Impacts of the world crisis in the dairy products Rodrigo Alvim* and Bruno B. Lucchi** The world economic crisis originated in the United States has been spread around the world, creating a situation which had an adverse effect on the dairy market. Without criterion, important countries have reduced their purchasing, depressing significantly quotations that have impacted the internal prices of all exporter countries, including Brazil. The average prices of milk powder in Oceania and European Union, in the first semester of 2008, quoted over US$ 4.000/ ton., but until the first week of June this year the average did not reach US$ 2.200/ton. The fall performance on the prices, observed in the majority of the agricultural commodities, is mostly because of the recession experienced by the developed and in development countries. Allied to this there is the fact of the recapture of subsidies by the United States and European Union. The first six months in 2008 presented an increase of 13.9% in the formal production of milk, compared to equal period of the previous year, provided mainly by the market stimulus occurred in 2007. However, from the second semester, the low attractiveness in the international scenario with the surplus of the production in the internal market has triggered the reduction in the prices received by the producer. According to data from Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), of the University of São Paulo, there was reduction of almost 18% in the corrected price of milk in 2008. Nevertheless, in agreement with the panels achieved by the project Campo Futuro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, in the main milk producers states, the costs of production increased almost 10%. This inverse relation between prices and cost jeopardized significantly the producer’s economic situation that was forced to reduce the use of technologies in order to lower the cost of production. Therefore, that is the way that 2009 began – with high costs, low and stagnated prices and fall in the milk production. The index of Milk Extraction of Cepea has recorded reduction of 7% in the extraction of milk, from January to April this year, before the same period last year. However, not only with the market downturn, the severe drought which occurred in the South of the country together with floods in the North and Northeast regions has also contributed to the reduction of milk production. Before this pessimist scenario, the good news is the increase of the consumption of food that, in the first semester this year, increased 0.7% unlike the last semester of 2008, which reduction was 1.8%. The good performance in the families’ consumption is because of, among other factors, the value of the minimum wage in relation to the products of the basic basket. The analysis of the quantity of basic baskets acquired with a minimum wage show an increase of 22% in the purchase power of food between June last year, when the fall of the milk prices began, and April 2009. In this period, this exchange relationship was from 1.69 baskets/salary in June 2008 to 2.06 in April 2009. With reduction in the supply and increase in the demand the prices tend to raise, stimulated by the consumption of ultra high temperature (UHT) milk that presents an estimate growth of 5% throughout the year. Great dairy accomplished important investments in the construction of this type of product. To emphasize, as the milk powder, the UHT milk is one of the dairy which has greater correlation with the price paid to the consumer. Therefore, between April and May 2009, the prices of the UHT milk in the gondolas of the supermarkets presented values higher than the inflation measured by the National Consumer Prices Index. In some regions of the country, the increase was over 24% throughout May, while the variation in the price paid to the producer was 5.8%, being the best of the year so far. The appreciation of the UHT milk, allied to the increase of food consumption, has been seen as positive factor to the recovery of the milk prices to the producer. Nevertheless, caution is needed, thus constant raisings in the price of the UHT milk do not extend in the same proportion to the other dairy products, as the milk powder. Another point to be evaluated is the consumers’ reaction to the raise of the prices, which take them to substitute the milk for another product or to reduce their consumption. On the other hand, greater balance must be given to the margins distribution between the chain links, from the producer to the retailer, thus on the contrary, the market will hardly adjust. * Rodrigo Sant’Anna Alvim - agronomist, president of the Dairy Cattle National Commission ** Bruno Barcelos Lucchi - zootechnist, technical assistant of the Dairy Cattle National Commission 25 O brasileiro está mudando o perfil das bebidas consumidas. A razão é a conveniência e o aumento do poder aquisitivo Leite é a quarta bebida mais consumida 26 O que os brasileiros andam bebendo mais? O que estão deixando de tomar? Para responder a essas perguntas e também avaliar a quantas anda o consumo de café no País, a TNS InterScience conduziu uma pesquisa nacional, com mais de 2 mil pessoas, segundo o especialista em branding Luiz Alberto Marinho. Dois fenômenos se destacam quando se compara o consumo de determinadas bebidas em 2003 e agora - conveniência e aumento do poder aquisitivo da população. “Para se ter uma ideia, em 2003, 83% dos entrevistados tomavam sucos naturais, índice que caiu para 72% no ano passado. Enquanto isso, a penetração dos sucos prontos subiu de 36% para 43% no mesmo período”, explica. Outro exemplo, o leite estava presente na rotina de 86% dos brasileiros em 2003, mas hoje faz parte da dieta de somente 81%. Já o achocolatado, que não deixa de ser leite, mas já vem misturado ao chocolate, subiu de 40% para 51% de penetração em quatro anos. Marinho esclarece que em ambos os casos, tanto a praticidade quanto a elevação da renda das classes B e C foram fatores essenciais para a mudança de hábito. Outro movimento importante é o crescimento de segmentos praticamente inexistentes em 2003, como o de água de coco, que era consumida por 0,5% da população em 2003 e hoje já frequenta a lista de compras de 37% dos brasileiros. Da mesma forma, os sucos à base de soja passaram de 6% para 16% de penetração. Apesar dessas tendências, a pesquisa mostra que as principais bebidas presentes no dia-a-dia dos consumidores tupiniquins ainda são, pela ordem, água, café, refrigerante e leite. O café continua em alta no País, apesar de 5% dos entrevistados terem abandonado a bebida no ano passado. > No Brasil são 1.676 indústrias de laticínios > No Rio Grande do Sul são 232 indústrias de laticínios Região Norte consome mais leite Um levantamento conduzido pelo Ministério da Saúde em 27 municípios brasileiros, mostrou que o hábito de beber leite muda conforme a região. Em Porto Alegre, por exemplo, 46,4% dos adultos bebem leite integral. Já o hábito de consumir leite é mais difundido no Norte do que nas demais regiões brasileiras. É o que mostra o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, do Ministério da Saúde, realizado em 2008. Nele é confirmado que 64% dos habitantes da cidade de Belém são consumidores de leite, contrastando com os habitantes da cidade de Vitória que registrou o menor consumo com 42,7%. No Brasil, 53,2% da população declararam que consomem leite. A maior frequência de consumo de leite integral entre homens foi registrada em Manaus (61,7%) e entre as mulheres, em Belém (66,5%). > Principais produtos no RS: leite UHT, leite em pó, leite pasteurizado, queijos, bebidas lácteas, doce de leite e leite condensado 27 The Brazilian has changed their most consumed beverage profile. The reason is the convenience and the increase of the per capita income Milk is the fourth most consumed beverage What do the Brazilian have been drinking the most? What are they no longer drinking? To answer these questions and also evaluate how coffee consumption is in the country, the TNS InterScience led a national research with more than two thousand people, according to the expert in branding Luiz Alberto Marinho. Two phenomena are emphasized when comparing the consumption of certain beverages in 2003 and now – convenience and increase of the per capita family income of the population. “To have an idea, in 2003, 83% of the interviewed used to drink natural juices, index that fell to 72% last year. In the meantime, the expansion of ready-to-drink juices raised from 36% to 43% in the same period”, he explains. Another example, the milk was present in 86% of the Brazilian in 2003, but today it makes part of the diet of 81% only. But the chocolate powder, which in other words is milk, but it comes with chocolate already, raised from 40% to 51% its expansion within four years. Marinho enlightens that in both cases, the feasibility as well as the income increase of classes B and C were factors essential for the habit change. Another important movement is the growth of segments that are quite non-existent in 2003, like the coconut water, which was consumed by 0.5% of the population in 2003 and today is already in the purchase list of 37% of the Brazilian. The same way, soybased juices passed from 6% to 16% expansion. Despite these trends, the research shows that the main beverages present in every day life of the tupiniquins consumers are, water, coffee, soda and milk. Coffee keeps on being in significant position in the country, in spite of 5% of the interviewers have quit drinking last year. > There are 1.676 dairy industries in Brazil 28 > There are 232 dairy industries in Rio Grande do Sul The Northern region consumes more milk A survey led by the Ministry of Health in 27 Brazilian towns has shown that the milk drinking habit changes according to the region. In Porto Alegre, for instance, 46.4% of adults drink whole milk. But the habit of consuming milk is more spread in the North than in other Brazilian regions. This is what the Surveillance System of Risk Factors and Protection for Chronic Diseases by Telephone survey of the Ministry of Health, accomplished in 2008, demonstrates. In it, it is confirmed that 64% of inhabitants of the city of Belém are milk consumers, as opposed to the inhabitants of Vitória city that recorded the lower consumption with 42.7%. In Brazil, 53.2% of the population asserts that consume milk. The highest frequency of the whole milk consumption among men in Manaus (61.7%) and among women, in Belém (66.5%) was recorded. > Main products in RS: UHT milk, milk powder, pasteurized milk, cheese, dairy beverage, doce de leite and condensed milk A ITALAC quer fazer cada vez mais, parte do seu dia a dia. Nova fábrica e novas embalagens nas prateleiras. Tudo isso, graças a uma parceria que já é um sucesso: a ITALAC e você. Queremos ser parte do seu dia a dia, como um verdadeiro parceiro que oferece um braço forte na luta constante pelo desenvolvimento da nossa região, pra nossa gente. Por isso, continue contando com a ITALAC, parceira para o crescimento dessa terra. 29 Exportações recuam no primeiro semestre Crise mundial e a desvalorização do dólar reduziram em 61,5% o volume de exportações de lácteos brasileiros Alguns marcos recentes são lembrados com entusiasmo no setor leiteiro, como em 2004 quando ocorreu o primeiro saldo positivo da balança comercial no ano. O ano de 20078 também é recordado pelo saldo extraordinário de US$ 300 milhões, considerando somente produtos do item 04 da Nomenclatura Comum do Mercosul - os leites especiais não foram contabilizados. No entanto, o desempenho observado neste ano está bem diferente. O saldo da balança comercial dos lácteos fechou o primeiro semestre com déficit de US$ 35,4 milhões, valor totalmente díspar dos US$ 129 milhões positivos do ano passado. Esse foi o pior desempenho dos últimos seis anos, ou seja, antes da virada do mercado brasileiro em 2004 – quando o País passou a exportar mais do que importou. No primeiro semestre, o valor total das exportações foi de US$ 87,4 milhões, 61,5% menor que o do mesmo período de 2008 quando foram arrecadados US$ 226,8 milhões. Ao mesmo tempo, 30 30 as importações foram 25,6% maiores no primeiro semestre deste ano em relação à igual período do ano passado. Nos primeiros seis meses de 2009, as importações somaram US$ 122,8 milhões, contra US$ 97,8 milhões no mesmo período do ano passado. O desempenho ruim do primeiro semestre é resultado do impacto dos preços dos produtos comercializados internacionalmente. O efeito do dólar, nesse caso, não foi preponderante porque o valor médio da moeda norte-americana no primeiro semestre deste ano foi de R$ 2,194/US$, 29% maior que no primeiro semestre do ano passado (R$ 1,696/US$). O valor médio do produto brasileiro embarcado nos seis primeiros meses deste ano foi de US$ 2,91/kg, contra US$ 4,02 em igual período do ano passado. A queda foi de 27,6% no período, conforme consta no Índice de Preços de Exportação de Lácteos, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, e que refletem o preço médio dos produtos lácteos exporta- dos pelo Brasil. Isso não ocorre somente com o mercado brasileiro, mas para todos os mercados. O produto mais comercializado internacionalmente é o leite em pó. Em 2007, o preço médio do lácteo ultrapassou os US$ 5.000/t em julho para o produto da Oceania – mercado referência -, e mais recentemente recuou para valores ao redor de US$ 2.000/t. Em junho de 2008, o produto daquele país era cotado a pouco menos de US$ 3.000/t. O peso da Venezuela Nos primeiros seis meses de 2009, as exportações de lácteos brasileiros somaram US$ 97,4 milhões, 59,1% a menos do que os US$ 238,2 milhões do mesmo período de 2008. Desse total, US$ 31,255 milhões foram para a Venezuela, recuo de 69,2% na mesma comparação. Para se ter uma ideia do baque, de janeiro a junho de 2008, o país governado por Hugo Chávez tinha comprado US$ 101,501 milhões em lácteos do Brasil, isto é, mais do que tudo o que o País embarcou no semestre que passou. Mas é claro que a culpa não é toda da Venezuela, que importa alimentos por meio da PDVAL, subsidiária da petrolífera PDVSA, e viu suas receitas recuarem após a forte queda nos preços do petróleo no mercado internacional desde o ano passado. Alfredo de Goeye, presidente da Serlac, trading que em 2008 respondeu por metade das exportações de lácteos do País, faz um cálculo rápido que explica o atual quadro. Considerando que para produzir um quilo de leite em pó são necessários 8,5 litros de leite e o preço pago ao produtor nacional hoje está na casa dos R$ 0,75 por litro, o custo chega a cerca de R$ 6.370 por tonelada, ou o equivalente a US$ 3.190. Ocorre que no mercado internacional, os preços pagos pelo leite em pó estão na casa dos US$ 2.200, segundo Goeye. “As cotações internacionais não estimulam [a exportação]”, observa o presidente da Serlac. Pela primeira vez nos sete anos de sua existência, a Serlac não exportou nada de leite em pó em um mês (junho). De acordo com Rodrigo Alvim, da Confederação da Agricultura e Pecuária, a Nova Zelândia tem conseguido vender para a Venezuela porque tem “preços melhores” do que o Brasil. No ano passado, o país da Oceania evitava fazer vendas para governos, mas voltou a fornecer para os venezuelanos por meio de leilões. Em um dos mais recentes, segundo Alvim, a tonelada de leite em pó foi negociada a US$ 1.829.(Fonte: Cepea/Esalq e Valor Econômico) 31 31 Exports retreat in the first semester World crisis and the dollar depreciation reduced in 61.5% the volume of Brazilian dairy exports Some recent points are remembered with enthusiasm in the dairy sector, as in 2004 when the first positive trade balance in the year occurred. The year of 2008 is also remembered because of the extraordinary balance of US$ 300 million, considering products of item 04 of the Common Nomenclature of Mercosul – the special milk were not accounted. Therefore, the development observed this year is quite different. The balance of the dairy trade balance closed the first semester with deficit of US$ 35.4 million, value completely unequal from the positive US$ 129 million last year. This was the worst performance in the last six years, that is, before the turn of the Brazilian market in 2004 – when the country began to export more than it imported. In the first semester, the total value of the exports was US$ 87.4 million, 61.5% lower than the value in the same period of 2008 when US$ 226.8 million were collected. At the same time, the imports were 25.6% higher than in the first semester this year in relation to equal period last year. In the first six months of 2009, the imports added up US$ 122.8 million, unlike US$ 97.8 million in the same period last year. The bad development in the first semester is result of the price impact of internationally commercialized products. The dollar effect, 32 32 in this case, was not significant because the mean value of the North American currency in the first semester this year was R$ 2.194/US$, 29% higher than in the first semester last year (R$ 1.696/US$). The average value of the Brazilian product shipped in the first six months this year was US$ 2.91/kg, unlike US$ 4.02 in equal period last year. The fall was 27.6% in the period, according to the Dairy Exports Prices Index, calculated by the Center of Advanced Studies in Applied Economy, and that reflect the mean price of dairy products exported by Brazil. This not occurs with the Brazilian market only, but with all markets. The most internationally commercialized product is milk powder. In 2007, the average price of the dairy was over US$ 5.000/t in July for the product from Oceania – market reference – and more recently retreat to the values around US$ 2.000/t. In June 2008, the product of that country was quoted at little lower than US$ 3.000/t. The importance of Venezuela In the first six months in 2009, the exports of Brazilian dairy products added up US$ 97.4 million, 59.1% less than US$ 238.2 million in the same period 2008. From these total, US$ 31.255 million were to Venezuela, retreat of 69.2% in the same comparison. To have an idea of the shock, from January to June 2008, the country governed by Hugo Chávez had purchased US$ 101.501 million in Brazilian dairy products, that is, more than everything the country shipped in the last semester. But surely, Venezuela that imports nourishment by means of PDVAL, subsidiary of PDVSA oil, and had seen its income retreat after the strong fall in the oil prices in the international market since last year, is not guilty at all. Alfredo de Goeye, president of Serlac, trading which in 2008 responded by half of exports of dairy in the country, makes a rapid calculation that explains the current scenario. Considering that to produce a pound of milk powder 8.5 liters of milk are needed and the price paid to the national producer today is around R$ 0.75 per liter, the cost reaches approximately R$ 6.370 per ton, or the equivalent to US$ 3.190. However, in the international market, the prices paid by the milk powder are approximately US$ 2.200, according to Goeye. “The international quotations do not encourage [the export]”, observes the president of Serlac. For the first time, in seven years of its existence, Serlac did not export any milk powder in one month ( June). In agreement with Rodrigo Alvim, of the Agriculture and Cattle livestock Confederation, New Zealand has gotten to purchase to Venezuela because it has “better prices” than Brazil. In the last year, Oceania avoided to sell to governments, but began to provide to Venezuelan again through auctions. In one of the most recent, as per Alvim, the milk powder ton was negotiated at US$ 1.829. (Source: Cepea/Esalq and Economic Value) 33 33 Importações em alta Com a desvalorização do dólar, importações crescem e criam desconforto no setor. Entidades defendem a criação de regras de proteção ao mercado interno “Recentemente, tivemos informações fidedignas de que Argentina e Uruguai estão subsidiando seus produtores”, afirmou o presidente das Comissões de Pecuária de Leite da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Rodrigo Sant’Anna Alvim. A declaração ressalta a situação do mercado lácteo brasileiro, que está sendo prejudicado pelo grande volume de leite importado dos países vizinhos. Em abril, um compromisso entre pecuaristas brasileiros e o Centro da Indústria Leite Argentina limitou as exportações do produto do leite em pó para o Brasil em até 2,5 mil toneladas por mês até dezembro. 34 De acordo com Alvim, os pecuaristas argentinos já solicitaram aumento dessa cota, pelo menos até o início do período de safra, em outubro. “Não queremos proteger, mas defender o mercado interno brasileiro de possíveis práticas desleais de comércio, que estão previstas pela Organização Mundial do Comércio”, destaca Alvim. A preocupação deve-se à queda das exportações brasileiras de produtos lácteos, que registrou o primeiro déficit comercial do País desde 2004. Entre janeiro e julho de 2008, o saldo na balança atingiu um superávit de US$ 166,5 milhões. Em 2009, no mesmo intervalo, o resultado foi um déficit de US$ 41,1 milhões. Diante disso, a Faemg e a CNA aguardam a adoção de medidas contra as importações predatórias de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai. “É preciso moralizar o mercado”, afirma Alvim. Ele adverte que o País assiste a um verdadeiro surto de importações de derivados do leite. De janeiro a julho de 2009, entraram no país 39,9 mil toneladas de produtos oriundos da Argentina e 16 mil toneladas de lácteos do Uruguai – o dobro do volume médio anual vendido pelos dois países para o Brasil nos últimos cinco anos. O setor pediu ao governo o estabelecimento de um acordo para administrar o fluxo de exportação do Uruguai ao Brasil, de modo que atenda suas expectativas, sem prejudicar os produtores bra- sileiros, a exemplo do que já foi tratado com a Argentina. “É importante ressaltar que o que se pretende é defender o País de possíveis práticas desleais de comércio”, ressalta Rodrigo Alvim. Conforme decisão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, um grupo de trabalho vai estudar a proposta de elevar a Tarifa Externa Comum do Mercosul incidente sobre os lácteos que estão na Lista de Exceções dos atuais 27% para os valores máximos consolidados na OMC (Organização Mundial do Comércio) – entre 31,5% e 55%. Isso significaria retirar os lácteos da Lista de Exceção, aumentando os impostos de importação para os percentuais acordados na OMC. Reação em cadeia “Nos últimos 90 dias o Brasil não conseguiu exportar nada”, diz o diretor executivo do Sindilat, Darlan Palharini. Para ele, a desvalorização do dólar e a falta de protecionismo do governo federal têm provocado uma reação negativa na cadeia nacional do leite, o aumento das importações. Ele explica que o real valorizado impulsiona o preço da matéria-prima no mercado interno. Esse valor acaba ficando acima do preço internacional, dificultando a exportação. “É grande o risco de revés no setor lácteo, visto que o impacto da importação de leite em pó vai impactar também no preço do produtor”, destaca. Ele afirma que entidades do setor já estão unidas para pressionar o governo federal. A intenção é que sejam criadas regras para equalizar o mercado. “Não podemos permitir que chegue ao País, por exemplo, leite em pó a R$ 4, sendo que o produzido aqui custa R$ 7”, explica. “Estamos diante de um dado preocupante, que é justamente um dos gargalos da produção leiteira no Brasil. É preciso que o governo atenda a cadeia como um todo, caso contrário, todos acabam sofrendo as consequências, produtor, indústria, consumidor”, frisa. Imports on the top With de dollar depreciation, imports grow and create discomfort in the sector. Entities defend the creation of rules of protection to the internal market “Recently, we have received reliable information that Argentina and Uruguay are subsidizing their producers”, asserted the president of the Comissões de Pecuária de Leite da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) and of the CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Rodrigo Sant’Anna Alvim. The assertion highlights the situation of the Brazilian dairy market, which is being jeopardized by the large volume of milk imported from neighboring countries. In April, a commitment among Brazilian agronomists and the Centro da Indústria Leite Argentina limited the exports of the milk powder product to Brazil to 2.5 thousand tons per month until December. According to Alvim, Argentinian dairy farmers have already requested increase of these quotas, at least until the beginning of the crop, that is, in October. “We do not wish to protect, but defend the Brazilian internal market from disloyal business practices, which are reviewed by the World Trade Organization”, highlights Alvim. The concern is due to the fall of the Brazilian exports of dairy products that recorded the first trade deficit of the country since 2004. Between January and July 2008, the balance of on the trade balance reached a superavit of US$ 166.5 million. In 2009, in the same period, the result was a deficit of US$ 41.1 million. Before this, Faemg and CNA wait for the adoption of measures against predatory imports of dairy products from Argentina and Uruguay. “It is necessary to moralize the market”, he asserts. He advises that the country observes a real irruption of dairy products imports. From January to July 2009, 39.9 thousand of products resulting from Argentina and 16 thousand tons of dairy from Uruguay enter the country – the double of the yearly average volume purchased by both countries to Brazil in the last five years. The sector requested to the government the establishment of an agreement to administrate the flux of exportation from Uruguay to Brazil, to meet its expectations without jeopardizing the Brazilian producers, as an example that has already dealt with Argentina. “It is important to emphasize that what it is intended is to defend the country from probable disloyal trade practices”, he says. In agreement with the decision of the Ministry of Development, Industry, and Foreign Trade (MDIC), a work group is going to study the proposal of raising the Common External Tariff of Mercosul which affected the dairy that are in the List of Exceptions of the current 27% for maximum values consolidated in the Trade World Organization (TWO) – between 31.5% and 55%. This would mean to withdraw the dairy products from the List of Exception, increasing the import taxes to the percentage in agreement in the TWO. Chain reaction “In the last 90 days Brazil did not exported anything”, says the director of Sindilat, Darlan Palharini. As per him, dollar depreciation and the lack of protectionism by the federal government have caused a negative chain reaction in the milk national chain, that is, the increase of imports. He enlightens that the real valued stimulates the price of the raw-material in the internal market. This value ends up over the international price, making exports difficult. “It is big the risk mishap in the dairy sector, since the impact of the milk powder import will have an impact on the price of the producer as well”, he highlights. He asserts that entities of the sector are joined to put pressure on the federal government. The intention is that rules to equalize the market are created. “We can not allow that milk powder at R$ 4,00 get in the country since the product produced here costs R$ 7,00”, he asserts. “We are before concerning data, which is one of the necks of Brazilian milk production. It is necessary that the government meets the chain as a whole, otherwise, everybody will end up suffering the consequences, producer, industry and consumer”, he emphasizes. 35 A aposta no mercado internacional Com capacidade instalada para chegar aos 18 milhões de litros/dia em 2012, o Rio Grande do Sul prepara-se para atender as demandas do mercado internacional de lácteos, de olho em países como a Rússia Com uma capacidade instalada para processar atualmente 14 milhões de litros de leite/dia, o Rio Grande do Sul configura-se como o segundo maior produtor de leite do País. Entretanto, muitas das plantas industriais do Estado não utilizam toda sua capacidade instalada. O Sindilat aposta em novos mercados para que a capacidade industrial do Estado não fique na ociosidade. Com a expectativa no aumento da produção de matéria-prima em 30% ao ano, a entidade quer sair na frente quando o assunto é mercado externo. O diretor executivo do Sindilat, Darlan Palharini, destaca que o Estado já está à frente em pelo menos uma das exigências internacionais de ex- 36 portação. “Diferente de outros estados, como Minas Gerais, que é o maior produtor de leite brasileiro, cerca de 90% do leite produzido no Rio Grande do Sul passa por inspeção federal para chegar à indústria”, destaca. Para ele, esse certamente foi um dos motivos do grande interesse das indústrias de laticínios em se instalar no Estado. “Temos um percentual maior de leite inspecionado, uma cultura diferente do resto do País quanto ao cumprimento de normativas que são o critério básico para acessar mercados internacionais”, garante. Palharini é realista quando o assunto são os entraves que o Estado precisa superar para atingir o mercado internacional. “Estamos no início da caminhada”, observa. Dentre as vantagens do Rio Grande do Sul está o Fundo Estadual de Sanidade, uma parceria público-privada, que garante que os produtores de leite sejam indenizados caso seu rebanho seja “Se o Estado tivesse capacidade para atender toda a indústria, não haveria mercado para consumir esse produto. A existência de um parque industrial muito maior do que a geração de matéria-prima causa uma situação tranquila para o produtor, mas o mercado consumidor de lácteo não tem evoluído ou crescido na mesma velocidade, por isso precisamos acessar mercados externos” atacado por doenças, como a tuberculose ou a brucelose. “Os outros estados também têm fundo de sanidade, mas, normalmente, ele atende somente a aftosa.” Além disso, por meio de um convênio com a Universidade Federal da Santa Maria está em fase de desenvolvimento um software que será capaz de fazer o georeferenciamento de todo o rebanho leiteiro do Estado. “Isso também é um requisito para que você possa avançar no mercado internacional”, destaca. “A Rússia, por exemplo, sempre quis comprar produto lácteo do Brasil, mas ela impõe a condição de que a propriedade que produz a matéria-prima seja livre da tuberculose e brucelose”, complementa. The bet in the international market With capacity installed to reach 18 million liters/day in 2012, Rio Grande do Sul prepare to meet the demands of the international dairy market, targeting countries like Russia With capacity installed for processing 14 million liters of milk per day, Rio Grande do Sul appears as the second greater producer of milk in the country. Nevertheless, many industrial plants of the state do not use its entire capacity installed. Sindilat bets in new markets so that the industrial capacity of the state is not useless. Expecting the increase in the production of raw-material to be 30% per year, the entity wants to be ahead when the issue is external market. The director of Sindilat, Darlan Palharini, emphasizes that the state is already ahead of at least one of the export international demands requirements. “Unlike other states, like Minas Ge- rais, that is the greatest Brazilian milk producer, around 90% of the milk produced in Rio Grande do Sul has federal inspection to reach the industry”, he says. As per him, this was certainly one of the reasons why dairy industries have had interest in installing in the state. “We have a greater milk percentage inspected, a culture different from the rest of the country as for the fulfillment of norms that are the basic criterion to access international markets”, he guarantees. Palharini is realist when the matter is regarding obstacles that the state needs to overcome to reach the international market. “We are in the begin- ning of the way”, he observes. Among the advantages of Rio Grande do Sul is State Fund of Sanity, a public-private partnership that guarantees that milk producers are indemnified if their herd were attacked by diseases, like tuberculosis or brucellosis. “The other states also have sanity fund, but, normally, it attends the foot-andmouth disease only.” Furthermore, by means of an agreement with the Federal University of Santa Maria, a software, which is in development, will be able to achieve of all cattle herd geocoding of the state. “This is also a requirement so that you can advance in the international market”, he asserts. “Russia, for instance, always wanted to purchase dairy product from Brazil, but it impose the condition that the property which produces raw-material is free from tuberculosis and brucellosis”, he says. “If the state had capacity to meet all industries’ requirements, there would not have market to consume this product. The existence of an industrial park much larger than the generation of raw-material causes a calm situation to producers, but the consumer of dairy products have not evolved or grown in the same speed, that is why we need access external markets” 37 Perspectivas para o agronegócio do leite: a visão da indústria Clea Santos Rahal Mendonça de Barros* Pedro Simão Filho** Muitos têm sido os avanços do setor lácteo brasileiro nos últimos anos em virtude da atuação dos distintos elos da cadeia. Dentre eles, pode-se citar a granelização do leite com o fim da coleta de leite não resfriado, o pagamento pelo leite, valorizando sólidos e qualidade, a instituição da Instrução Normativa 51 e da Rede Leite em busca da melhoria da qualidade do leite, a rastreabilidade, entre outras. Vamos discutir alguns dos avanços logrados pela atuação da indústria e quais são as perspectivas sob o ponto de vista desse elo da cadeia. No início de 1997, quando os produtores receberam a notícia: “Prepare-se desde já: seu leite acabará saindo da fazenda dentro de um tanque”, não imaginavam o impacto que a granelização do leite traria tanto para o produtor quanto para a indústria e o consumidor. Para o produtor, a granelização trouxe aumento da produção/produtividade uma vez que facilitou o manejo para segunda ordenha; reduziu custos de transporte para a indústria e facilitou o manuseio do produto nas fábricas, além de ter sido o primeiro passo para a melhoria da qualidade do leite ao consumidor. O controle e conhecimento da origem do leite contido em um produto, ou seja, a rastreabilidade total do produto terminado já ocorre em alguns 38 laticínios. Um exemplo é a DPA/Nestlé; analisando-se uma lata de leite Ninho, por exemplo, é possível identificar quais são as propriedades rurais cujo leite está contido no produto. A rastreabilidade reforça a segurança do alimento. Em meados de 2005 entraram em vigor a IN 51 (criada em 2002) e a Rede Brasileira de Controle de Qualidade do Leite (Rede Leite), com o propósito de melhorar a qualidade desse produto no País e trazer maior transparência às análises. Previamente à vigência da normativa, iniciouse, em maior escala, uma diferenciação no pagamento do leite ao produtor, com o objetivo de valorizar o produto com maior teor de sólidos e melhor qualidade. E para garantir a transparência, todo o leite passou a ser analisado pelos laboratórios da Rede Leite e a remuneração por sólidos e qualidade passou a ser feita de acordo com esses resultados. A implementação desse sistema veio para reforçar a importância da qualidade do leite para a indústria, consumidor e também para o futuro do setor lácteo brasileiro. Essas são algumas mudanças importantes pelas quais o setor lácteo passou nos últimos anos. E o que se vê para o futuro? O futuro do setor lácteo brasileiro A despeito das mudanças pelas quais passou o setor lácteo brasileiro nos últimos anos, ainda há diversas oportunidades, dentre elas pode-se citar: a redução da informalidade, consolidação da indústria e maior integração, ganhos de produtividade na fazenda, antecipação de preços de leite por toda a indústria, melhoria na qualidade do leite e maior acesso a outros mercados. Consolidação da indústria A consolidação da indústria láctea que vem ocorrendo nos últimos anos é positiva, uma vez que deve elevar o padrão de qualidade e de integração/coordenação na cadeia. Deve-se esperar que essa consolidação continue, já que uma parcela ainda pequena do volume de leite concentra-se nas dez maiores empresas (30% do leite total, aproximadamente). Ao compararmos os dados de concentração da compra de leite no Brasil com outros países, ainda há espaço para consolidações. Informalidade Dos 16,5 bilhões de litros de leite produzidos em 1995, pouco mais de 36% era considerado informal. Em 2007, a despeito do volume de leite informal ter aumentado, em termos percentuais esse valor reduziu-se a 31%. Houve re- dução na informalidade do setor; no entanto, ainda há muito a melhorar. A informalidade é um concorrente desigual e desleal que precisa ser combatida, pois, acima de tudo, põe em risco a segurança do alimento e a saúde do consumidor. Ganhos de produtividade A produção de leite no Brasil vem obtendo ganhos de produtividade nas últimas duas décadas. Sustentando esse argumento, pode-se citar o aumento da produção brasileira de 1990 a 2007. Em 1990, o Brasil produziu 14,9 bilhões de litros de leite. Em 1998, produziu 18,7 bilhões de litros de leite e ainda importou, liquidamente, 384 mil toneladas de produtos lácteos para atender a toda sua demanda interna. Já em 2004, o País produziu 23,5 bilhões de litros e ainda exportou, liquidamente, 22 mil toneladas de produtos lácteos. O Brasil passou da posição de um dos maiores importadores mundiais de lácteos a exportador, em apenas sete anos, graças aos ganhos de produtividade logrados no período. Ainda há oportunidade para mais ganhos. O Brasil é o quinto maior país em produção de leite (26,1 bilhão de litros de leite em 2007, de acordo com o IBGE) tendo apresentado, nos últimos cinco anos, taxas de crescimento da produção ao redor de 4% ao ano. Além disso, o País possui o terceiro maior rebanho do mundo, de acordo com USDA (21 milhões de cabeças). Não obstante, ainda estamos muito aquém dos principais países exportadores de lácteos, em termos de produtividade animal. Ocupamos a décima posição do ranking elaborado pelo USDA, enquanto países como Austrália, Argentina e Nova Zelândia ocupam a quarta, quinta e sextas posições, respectivamente. Aí está uma grande oportunidade. Potencial do Brasil como exportador O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, carne de frango, café, açúcar, suco de laranja e tabaco, segundo maior exportador de soja e farelo de soja e o quarto maior exportador de suínos. Portanto, além da vocação para a produção de commodities, o País é competitivo para exportar tais produtos. O fato de o Brasil possuir diversas cadeias completas traz grande competitividade também à cadeia do leite, uma vez que a produção pode valer-se de distintos insumos/subprodutos disponíveis a custos também competitivos. Somando-se a isso a disponibilidade de terras de pastagens, o potencial para aumento de produtividade, os distintos e flexíveis sistemas de produção, o futuro do Brasil como grande exportador de leite está, de certa forma, próximo. Os recentes investimentos em aumento de capacidade para produção de leite em pó confirmam essa posição. E quais são os entraves para isso? 39 Os entraves Qualidade do leite Em termos de qualidade do leite, item inexorável a um país exportador de lácteos, ainda estamos atrasados com relação à qualidade do leite de países exportadores (Argentina) e países desenvolvidos (Estados Unidos e Canadá). Para exportar para países da União Europeia, por exemplo, é necessário ter 100% do leite com menos de 100 mil UFC (Unidades Formadoras de Colônia) por mililitro de leite. De acordo com dados da Clínica do Leite, a média das amostras do Brasil está em 462 mil UFC/ml. 40 Muito embora a qualidade do leite não esteja nos padrões de excelência internacionais, os resultados de melhoria dessa característica, desde a implementação do sistema de valorização da qualidade, são bastante animadores. O nível bacteriano (UFC) do leite dos fornecedores analisados baixou de um índice 100, em 2005, para 20 em 2008 (dados internos DPA), uma melhoria significativa. A implementação desse sistema mostrou que, havendo estímulo, o setor produtivo responde rapidamente. Acesso aos mercados Pelo fato de o Brasil ter sido um grande importador mundial de lácteos, pequena ainda é a credibilidade do mercado internacional em vê-lo como um exportador. Portanto, acordos bilaterais de comércio com países importadores de produtos lácteos poderiam trazer a velocidade necessária à concretização das exportações brasileiras. O setor lácteo brasileiro evoluiu muito nas últimas duas décadas e alguns exemplos importantes disso são a melhoria da qualidade do leite e o fato de ter passado de grande importador a exportador em apenas sete anos. Ainda há um caminho a percorrer rumo à excelência. No entanto, enfatiza-se que o leite brasileiro reúne todas as condições para ter, em um futuro próximo, a mesma relevância que o boi e o frango possuem no mercado global, sem deixar de satisfazer as necessidades dos brasileiros por esse alimento imprescindível para todas as idades. * Chefe de inteligência de mercado regional da Dairy Partners Americas Manufacturing ** Presidente do Conselho Nacional das Indústrias de Laticínios e da Associação Brasileira das Indústrias de Leite Desidratado Perspectives for milk agribusiness: the view of the industry The future of the Brazilian dairy sector In spite of the changes by which the Brazilian dairy sector has passed in the last few years, there are still several opportunities, among them, namely: informality reduction, industry consolidation and greater integration, productivity gains in the farm, anticipation of milk prices for all over the industry, milk quality improvement and greater access to other markets. Clea Santos Rahal Mendonça de Barros* Pedro Simão Filho** There have been many advances in the Brazilian dairy sector in the last few years due to the action of different chain links. Among them is the bulk milk with the end of the collection of non-cooled milk, the payment for the milk, appreciating solids and quality, the establishment of the Normative Instruction 51 and the Milk Net to seek for the improvement of milk quality, the traceability, among others. We will discuss some of the advances fulfilled by the action of the industry and what are the perspectives under the point of view of this chain link. In the beginning of 1997, when the producers received the news: “Prepare yourself now: your milk will end up leaving the farm inside a tank”, they did not realize the impact that bulk milk would bring about to the producer as well as to the industry and the consumer. To the producer, bulk brought about the increase of the production/productivity since it make the handling easier for the second milking; reduced costs of transportation to the industry and made the product handling easier in the factories, besides have been the first step towards the improvement of milk quality to the consumer. The control and the knowledge of the milk origin inside the product, that is, the total traceability of the product finished, have already occurred in some dairy already. An example is DPA/Nestlé; by examining a tin of Ninho milk, for instance, it is possible to identify which are the rural properties which milk is inside the product. The traceability strengthens the nourishment security. In the early 2005, IN 51 (created in 2002) and the Brazilian Net of Milk Quality Control (Milk Net) came into force, with the purpose of improving the quality of this product in the country and bring more transparence to the analysis. Previous the normative validity, a differen- tiation in the payment of the milk to the producer began, aiming to value the product with greater content of solids and better quality. And to guarantee the transparence, all milk started to be examined by the laboratories of the Milk Net and the remuneration of solids and quality made according to these results. The implementation of this system strengthens the importance of milk quality to the industry, to the consumer and to the future of the Brazilian dairy sector as well. These are some important changes by which the dairy sector has passed through in the last few years. And what can be seen in the future? 41 Informality From 16.5 billion liters of milk produced in 1995, little more than 36% was considered informal. In 2007, despite the volume of the informal milk has increased, in terms of percentage this value reduced to 31%. There was reduction in the informality of the sector; however, there is still much to be improved. Informality is an unequal and unreliable competitor that needs to be stroked, because it put the nourishment security and the consumer’s health at risk. Industry consolidation The consolidation of the dairy industry that has occurred in the last few years is positive, since it might raise the pattern of quality and integration/coordination in the chain. It is supposed to be expected that this consolidation continues, as a parcel still small of milk volume is concentrated in the ten largest companies (30% of total milk, approximately). When purchasing the data of milk purchase concentration in Brazil with other countries, there is still space for consolidations. Productivity gains The milk production in Brazil has been obtaining gains of productivity in the two decades. By supporting this argument, it can be asserted the increase of the Brazilian production from 1990 to 2007. In 1990, Brazil produced 14.9 billion liters of milk. In 1998, it produced 18.7 billion liters of milk and imported 384 thousand tons (net weight) of dairy products to meet all its internal demand. But in 2004, the country produced 23.5 billion liters (net weight) and exported 22 thousand tons of dairy products. Brazil changed its position of one of the greatest world dairy importers to an exporter, in seven years only, because of the productivity gains fulfilled in the 42 period. There are still more opportunities for more gains. Brazil is the fifth larger country in milk production (26.1 billion liters of milk in 2007, according to IBGE) and it has shown, in the last five years, growth rates of production around 4% per year. Furthermore, the country has the third greater herd in the world, in agreement with the USDA (21 million heads). Notwithstanding, we are still much beyond the main dairy exporter countries, in terms of animal productivity. We rank the tenth position by the USDA, whereas countries like Australia, Argentina and New Zealand rank the fourth, fifth and sixth positions, respectively. There it is a great opportunity. Potential of Brazil as exporter Brazil is the greatest world exporter of beef, chicken, coffee, sugar, orange juice and tobacco, second greatest exporter of soy and soybean and the fourth greater exporter of pork. Therefore, besides the vocation to commodities production, the country is competitive to export such products. Because of Brazil has several complete chains, it brings large competitiveness to the milk chain as well, as the production may make use of different inputs/sub-products available at costs also competitive. Together with this availability of pasture lands, the potential to productivity increase, the different and flexible production systems, the future of Brazil as great milk exporter is, in a certain manner, nowhere near. The recent investments in capacity increase for production of milk powder confirm this position. And what are the barriers to this? The barriers Milk quality In terms of milk quality, inexorable item to an exporter country of dairy products, we are still late in relation to milk quality of exporter countries (Argentina) and developed countries (the United States and Canada). To export to countries of the European Union, for instance, it is necessary to have 100% of the milk with less than 100 thousand colony-forming units (CFU) per ml of milk. According to data from the Clínica do Leite, the average of samples in Brazil is in 462 thousand CFU/ml. Although milk quality is not within international excellence standard, the results of improvements of this characteristic, since the implementation of quality valorization system, are quite encouraging. The bacterial level (CFU) of the suppliers’ milk tested lower from an index of 100 in 2005 to 20 in 2008 (internal data DPA), a significant improvement. The implementation of this system showed that, when having encouragement, the productive sector responds immediately. Access to the markets Because Brazil has been a great world dairy importer, yet, it has little credibility by the international market to see it as an exporter. Therefore, bilateral business agreements with dairy importer countries could bring the necessary speed to materialize Brazilian exportations. The Brazilian dairy sector has evolved in the two last decades and some important examples of this are the improvement of milk quality and the fact it has changed from importer to exporter in seven years only. Yet, there is a way to run towards the excellence. Nevertheless, it has been emphasized that the Brazilian milk holds all conditions to have, in an early future, the same relevance that beef and chicken have in the global market, but still satisfying the needs of the Brazilian people for this nourishment, indispensable for all ages. * Regional Chief of market intelligence of the Dairy Partners Americas Manufacturing ** President of the National Border of the Dairy Industries and the Brazilian Association of the Dehydrated Milk Industries. 43 Cenário para o agronegócio do leite no Brasil: a visão do setor primário Rodrigo Sant’Anna Alvim* Bruno Barcelos Lucchi** Marcelo Costa Martins*** Como era de se esperar, a crise mundial originada nos Estados Unidos espalhou-se por todo o mundo, criando uma situação adversa ao mercado. Sem crédito, os países importadores de lácteos reduziram suas compras, deprimindo expressivamente as cotações, com repercussões nos preços internos de todos os países exportadores, inclusive o Brasil. Os preços médios do leite em pó na Oceania e União Europeia, no primeiro semestre de 2008, cotavam acima de US$ 4.000/tonelada, enquanto até a primeira semana de junho de 2009, a média não chegou a US$ 2.200/tonelada. O comportamento de queda nos preços, observado na maioria das commodities agrícolas, deve-se em grande parte à recessão vivida pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento, além da retomada dos subsídios por parte dos Estados Unidos e União Europeia. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em 2008, houve variação de quase 18% no preço corrigido do leite. Por outro lado, de acordo com os painéis realizados pelo Projeto Campo Futuro da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária), nos principais estados produtores de leite, os custos de produção aumentaram perto de 10%. Essa relação inversa entre preço e custo prejudicou de maneira significativa a situação econômica do produtor, que se viu obrigado a reduzir o uso de tecnologias na tentativa de baixar seu custo de produção. Dessa forma, o ano de 2009 iniciou com custos altos, preços baixos e estagnados e queda na produção de leite. O Índice de Captação de Leite do Cepea registrou redução de 7% na captação de janeiro a abril deste ano ante o mesmo período de 2008. Se não bastasse a desaceleração do mercado, a forte estiagem que ocorreu no Sul do País e as enchentes nas regiões Norte e Nordeste também contribuíram para a redução da produção de leite. Diante desse cenário pessimista, a boa notícia é o aumento no consumo de alimentos, que no primeiro trimestre desse ano cresceu 0,7% frente aos últimos três meses de 2008, cuja redução havia sido de 1,8%. Com redução na oferta e aumento na demanda, os preços tendem a se elevar e, desta vez, estimulados pelo leite longa vida, com crescimento estimado de 5% para este ano. A valorização do leite UHT e o aumento do consumo de alimentos são vistos de forma positiva na recuperação dos preços de leite ao produtor. No entanto, deve-se ter certa ponderação, pois elevações constantes no preço do longa vida não se estendem na mesma proporção aos demais produtos lácteos, como o leite em pó. Outra questão a ser analisada é que, a partir de certo ponto, os consumidores passam a se incomodar com os preços, substituindo o leite por outro produto ou reduzindo seu consumo. Por outro lado, maior equilíbrio deve ser garantido na distribuição das margens entre os elos da cadeia produtiva, do produtor à rede varejista, pois, caso contrário, dificilmente o mercado irá se ajustar. Retomada das importações Após encerrar 2008 com o melhor resultado nas exportações de lácteos, fruto de 44 investimentos em produção, qualidade do leite e ampliação do parque industrial, o setor apresentou déficit na balança comercial de US$ 17 milhões no primeiro quadrimestre de 2009. No ano anterior, nesse período, o superávit havia sido de US$ 88,5 milhões. Somente nos primeiros quatro meses de 2009, os embarques argentinos de leite em pó totalizaram 26,3 mil toneladas, quantidade praticamente superior às médias anuais de todas as importações oriundas daquele país nos últimos cinco anos, conforme apresentado na tabela 1. Esse aumento repentino de importações representa uma ameaça concreta ao desenvolvimento do setor leiteiro nacional. Não obstante, a ampliação das importações e os valores de algumas operações com os parceiros do Mercosul ficaram abaixo dos transacionados no mercado internacional. No mês de abril, foi enviado ao Brasil leite em pó a US$ 1.390 por tonelada, bem abaixo do preço médio do mercado internacional, de US$ 2.200. Tais indícios demandam investigações quanto à existência de práticas desleais de comércio que possam estar ligadas ao subfaturamento para reduzir a base de incidência de tributos bem como relacionadas a produtos de qualidade inferior. A retomada das importações preocupa à medida que potencializa o desestímulo do produtor. A CNA, em conjunto com entidades do setor e órgãos governamentais, está empenhada no combate às importações desleais e predatórias à produção interna. Dessa forma, solicitou ao governo federal a suspensão da licença automática de importação do leite em pó, que gerou um acordo entre o setor privado lácteo brasileiro e o argentino, sem afetar as relações entre os dois países. Nesse acordo, a Argentina poderá exportar somente a média dos últimos cinco anos do respectivo mês acrescido de 50%, a preços não inferiores ao menor preço cotado na Oceania, divulgados quinzenalmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O próximo passo é tentar um acordo semelhante com o Uruguai. Outra ação necessária é a consolidação da TEC (Tarifa Externa Comum) em 30% para países de fora do Mercosul. Atualmente, importações originadas da União Europeia são tributadas em 27% (lista de exceção à TEC) acrescidas de 14,8% de direito antidumping. Para os demais membros do Mercosul, aplica-se tão somente a TEC (16%). Essa situação pode levar à prática de triangulação nas importações brasileiras via Argentina e/ou Uruguai. Potencialidades do Brasil para a produção de leite Apesar de o Brasil ocupar a sexta posição entre os maiores produtores de leite do mundo (FAO, 2007), é o país que apresenta o maior potencial de crescimento. Sendo o décimo maior PIB nominal do mundo, há uma capacidade de aumento de consumo de produtos lácteos latente; é o quinto em extensão territorial, o que lhe dá condições de expansão de área para produção; e tem a quinta maior população, que lhe garante um grande mercado doméstico. China e Estados Unidos são os países que mais se aproximam em relação a essas características, conforme dados da tabela 2. No entanto, o Brasil ainda consegue ser superior, pois apesar de ter o território menor que esses países, sua área agricultável é muito maior – são 106 milhões de hectares disponíveis para produção. Além disso, sua produtividade por vaca é muito baixa, de 1.237 litros/ano, o que signifi- ca que apenas com melhorias na eficiência produtiva (manejo, genética e nutrição) consegue-se elevar a produção sem a necessidade de expansão de área ou ampliação do rebanho. Tais dados contribuem para que o Brasil fique em vantagem no cenário internacional, uma vez que os grandes players do mercado têm seu crescimento limitado por questões relacionadas à água, meio ambiente, custos de produção, competição por terra e, até mesmo, por distorções de mercado, como quotas de produção e subsídios à exportação. O grande desafio é saber aproveitar essas vantagens em sua plenitude. Pois não adianta ter área, animais e tecnologias para produção se a demanda interna ainda é baixa e a qualidade do produto não atende as exigências de mercados mais rigorosos. Ações visando à ampliação do consumo interno e das exportações serão o foco do planejamento para os próximos anos. 45 Questões emergentes Marketing do leite De acordo com estudos realizados pelo IBGE, a população brasileira vem apresentando menores taxas de crescimento a cada ano. Em 1980, o crescimento populacional foi de 2,4% ante o ano anterior e para 2025 a previsão é que este indicador seja somente 0,8%. Aliado a isso, tem-se o envelhecimento da população: a idade média do brasileiro em 1980 era de 20,2 anos; para 2025, o IBGE prevê 33,2 anos. O percentual de pessoas entre 0 a 19 anos em 1980 era de 50%; em 2025, cai para 30%. Em contrapartida, passa de 6% para 15% o percentual de brasileiros com mais de 60 anos de idade, em igual período. A julgar que o maior consumo de lácteos se dá nas faixas etárias mais jovens, tudo indica que o consumo não apresentará grandes taxas de crescimento nos próximos anos, salvo se for promovido um aumento per capita, o que é desejável, inclusive sob o aspecto da saúde. Um segundo ponto que pode ser analisado é a mu- dança nos hábitos alimentares dos consumidores via elevação de renda. Estudo feito pela Embrapa Gado de Leite demonstrou que o consumo não responde de forma tão significativa ao aumento da renda. A pesquisa avaliou o consumo de leite e derivados, em diversas faixas de renda familiar mensal, nas várias regiões do País. Essa realidade é o motivo que está levando a cadeia produtiva do leite a se organizar para desenvolver ações de marketing institucional. O setor está consciente de que a única maneira de elevar o consumo é valorizando o produto e esclarecendo o consumidor sobre a importância dos lácteos para a saúde humana. Daí a importância do fortalecimento da Láctea Brasil, com maior adesão de indústrias de laticínios e insumos, cooperativas e produtores que acreditem que essa seja a ferramenta que impulsionará o crescimento do consumo, praticamente estagnado há mais de dez anos. Qualidade do produto Desde a implantação da Instrução Normativa nº. 51/2002 do Mapa, indústrias e produtores têm tentado se adequar ao cumprimento das metas dentro dos prazos estabelecidos por essa legislação. Mesmo assim, para o produtor, a principal motivação para o investimento em qualidade ainda é o pagamento. Enquanto algumas indústrias resistirem a essa realidade, dificilmente se terá evolução nesses indicadores. Além disso, maior rigor deve ser dado 46 à fiscalização de laticínios que ainda compram leite de má qualidade, pois competem de maneira desleal com aqueles que estão trabalhando conforme regulamenta a IN-51. No início deste ano, representantes do Mapa estiveram na Rússia visando à ampliação das exportações de produtos brasileiros. Embora tenha sido proposto aos russos que aceitassem o tratamento térmico da manteiga e do leite em pó como garantia de anulação do risco de brucelose e tuberculose, eles, no entanto, foram enfáticos em dizer que no mercado interno vigora a exigência da certificação e que qualquer pretenso exportador deve atender a essa exigência. Como no Brasil as propriedades livres dessas enfermidades são cerca de cem – ou seja, número insignificante frente ao total de propriedades produtoras –, o assunto foi encerrado. Para aumentar a competitividade e incrementar ainda mais a demanda por produtos lácteos, o setor tem a missão de melhorar a qualidade da matéria-prima, ponto de extrema importância para o futuro da cadeia produtiva do leite no Brasil. Com a melhoria da qualidade, pode-se almejar o crescimento ain- da maior das exportações e a elevação do consumo no mercado interno. Para atingir esses objetivos, a estratégia é garantir ao consumidor um produto seguro, com excelentes características nutricionais e maior vida útil. Meio ambiente Nos últimos meses, as discussões sobre a reformulação do Código Florestal Brasileiro têm gerado polêmica em todo o País. Ministros, instituições de pesquisas e demais órgãos civis e do governo têm travado batalhas ferrenhas em torno do tema. Segundo estudos da Embrapa, se a lei atual fosse aplicada ao pé da letra, restariam apenas 29% de áreas disponíveis para agropecuária, cidades e infraestrutura, reduzindo para menos da metade as áreas utilizadas para a produção de alimentos. Ademais, a maior bacia leiteira do Brasil, Minas Gerais, teria 70% da produção de leite na ilegalidade, ou seja, 19,5% da produção nacional estariam comprometidos, considerando somente aquele Estado. A revolução agrícola foi fruto da maior demanda por alimentos, causada pelo aumento da população e mudança no seu perfil tanto no mercado nacional quanto internacional. Veja na tabela 3 a evolução ocorrida nesse segmento nos últimos 40 anos. Tais informações corroboram a necessidade de se reavaliar as leis vigentes para que esses índices continuem a prosperar e não a regredir. Dentre os pontos de maior relevância que devem ser alterados, estão: a soma das APP (Áreas de Preservação Permanente) às áreas de reserva legal das propriedades; a permissão das atividades agropecuárias em áreas de APP já consolidada e em uso há mais de dez anos e o aumento do prazo previsto para compensação de reserva legal, iniciando-se a partir da publicação da lei. * Engenheiro-agrônomo, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA ** Zootecnista, assessor técnico da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA *** Engenheiro-agrônomo, Msc. Economia, coordenador dos programas especiais do sistema Faeg/Senar 47 Scenario for milk agribusiness in Brazil: the view of the primary sector Rodrigo Sant’Anna Alvim* Bruno Barcelos Lucchi** Marcelo Costa Martins*** As it was supposed to be expected, the world crisis originated in the United States has been spread for all over the world, creating an adverse situation to the market. Without credit, dairy importer countries reduced their purchases, then depressing the quotations, affecting internal prices of all exporter countries, including Brazil. The average prices of the milk powder in the Oceania and European Union, in the first semester 2008, were over US$ 4.000/tons, while until the first week of June 2009, the average did not reach US$ 2.200/tons, (data of figure 1). The fall performance in the prices, observed in the majority of the agricultural commodities, is mostly because of the recession experienced by developed and in developed countries, besides the recapture of subsidies by the United States and European Union. According to data from Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), in 2008, there was a variation of almost 18% in the milk corrected price. On the other hand, as per the panels accomplished by the Projeto Campo Futuro da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária), in the main milk producer states, the costs of production increased close to 10%. This inverse relation between price and cost jeopardized significantly the producer’s economic 48 situation, which had to reduce the use of technologies to try to lower costs of production. This way, the year of 2009 began with high costs, low and stagnated prices and fall in the milk production. The index of Milk Extraction of Cepea recorded a reduction of 7% in the extraction of milk from January to April this year before the same period in 2008. yet, not only with the market downturn, the severe drought that occurred in the same period in the South of the country and the floods in the North and Northeast regions also contributed to the reduction of milk production. Before this pessimist scenario, the good news is the increase in the consumption of nourishment, which in the first trimester this year increased 0.7% unlike the last three months of 2008, which reduction had been 1.8%. With reduction in the offer and increase in the demand, the prices tend to rise and, this time, encouraged by the ultra high temperature (UHT) milk, with estimated growth of 5% to this year. The UHT milk valorization and the increase of the nourishment consumption are seen in such a positive manner in the recovery of the milk prices to the producer. Nevertheless, caution is needed, thus, constant risings in the UHT milk price do not extend in the same proportion to the other dairy products, like milk powder. Other issue to be evaluated is that, from certain point, the consumers begin to con- cern with the prices, replacing the milk for other product or reducing their consumption. However, greater balance must be guaranteed in the distribution of the margins between the productive chain links, from the producer to the retailer, thus on the contrary, the market will hardly adjust. Recapture of imports After the ending of 2008 with the best result in the dairy exports, resulting from investments in production, milk quality and the industrial park enlargement, the sector showed deficit in the trade balance of US$ 17 million in the first quarter of 2009. in the previous year, in this period, the superavit had been US$ 88,5 million. In the first four months of 2009 only, the Argentinian milk powder shipments totalized 26.3 tons, quantity quite superior to the yearly averages of all imports resulting from that country in the last five years, as presented in table 1. This abrupt increase of imports represents a real threat to the development of the national milk sector. Notwithstanding, the enlargement of the imports and the values of some operations with the partners of the Mercosul was lower the ones in the international market. In April, milk powder at US$ 1.390 per tons was sent to Brazil, right lower the average price of the international market, US$ 2.200. Such evidences demand investigations regarding the existence of unreliable business practices that can be linked to the under invoicing to reduce the base of the incidence of taxes as well as related to products of inferior quality. The recapture of imports concerns as it potentiates the producer’s discouragement. The CNA, together with entities of the sector and governmental bodies, is committed in combating the disloyal imports and predatory to the internal production. This way, it requested the automatic license suspension of milk powder importation to the federal government that created an agreement between the Brazilian and Argentinian private dairy sector without affecting the relations between both countries. In this agreement, Argentina shall export the average of the last five years only of the respective month plus 50% to prices not inferior to the lower price quoted in Oceania, weekly spread by the Agriculture Department of the United States. The next step is to try a similar agreement with Uruguai. Another necessary action is the consolidation of the Common external tariff (CET) in 30% to countries that are not in Mercosul. Currently, the imports originated from the European Union are taxed in 27% (list of exception to CET) plus 14.8% antidumping right. To other members of Mercosul, TEC (16%) is applied only. This situation may lead to the practice of triangulation in the Brazilian imports through Argentina and/or Uruguai. Potentialities of Brazil for milk production Despite Brazil ranks the sixth position between the greatest world milk producers (FAO, 2007), it is the country which shows the greatest growth potential. It has the tenth greatest nominal GDP in the world, there is an increase capacity of consumption of dairy products; it is the fifth in territorial extension, what gives it conditions of expanding the area for production; and it has the fifth greater population that guarantees it a large domestic market. China and the United States are the countries that mostly approach in relation to these characteristics, according to data in table 2. However, Brazil can even be superior, thus despite having the territory smaller than these countries, its growth area is much bigger– 106 million hectares available for production. Furthermore, its productivity per cow is very low, 1.237 liters/year, what means that only with improvements in the productive efficiency (handling, genetics and nutrition) it can raise its production without the need for area expansion or herd enlargement. Such data contribute so that Brazil is in advantage in the international scenario, since the great players of the market have their growth limited by issues related to water, environment, costs of production, competition for land and, even then, for market distortions, like production quotations and subsidies to exportation. The great challenge is to know how to take these advantages in their completeness. Because it is not worth having area, animals and technologies for production if the internal demand is still low and the quality of the product does not meet the requirements of more rigorous markets. Actions aiming the enlargement of the internal consumption and the exports will be the focus of the planning for the years to come. 49 Emerging issues Milk Marketing In agreement with studies accomplished by IBGE, the Brazilian production has been showing smaller growth rates each year. In 1980, the population growth was 2.4% unlike the previous year and to 2025 the expectation is that this indicator is 0.8% only. Allied to this, the aging of the population, that is, Brazilian average age in 1980 was 20.2 years old; for 2025 IBGE expects 33.2 years old. The percentage of people between 0 to 19 years old in 1980 was 50%; in 2025, it might drop to 30%. However, the percentage of Brazilian people with more than 60 years old changes from 6% to 15%, in the same period. By judging that the greatest dairy consumption is in the youngest age groups, it indicates that the consumption shall not present large growth rates in the next years, except if an increase per capita is promoted, what is desirable, including under the aspect of health. A second point that can be evaluated is the change in the consumers’ nourishment habits via income raise. Study achieved by Embrapa Dairy Cattle showed that the consumption does not correspond in such a significant manner to the income increase. The research evaluated the consumption of milk and dairy products in several levels of monthly familiar income, in the various regions of the country. This reality is the reason that is leading the milk productive chain to organize to develop actions of institutional marketing. The sector is aware that there is only one manner to raise the consumption that is, giving value to the product and making the importance of dairy products for human health clear to the consumer. Then, the importance of the strengthening of Láctea Brasil, with more association of dairy industries and inputs, cooperatives and producers that believe that this is the tool which will foster the consumption growth stagnated for more than 10 years. Product quality Since the implantation of the Normative Insstruction nº. 51/2002 of Mapa, industries and producers have tried to adequate themselves to the fulfillment of goals within the deadlines established by this legislation. Nevertheless, to the producer, the main motivation to the investment in quality is the payment. While some industries resist to this reality, there will hardly be evolution in these indicators. In addition, greater rigor shall be given to the inspection of dairy industries that still purchase bad 50 quality milk, thus they compete in such a disloyal manner with those which are working in accordance with IN-51 regulations. In the beginning of thus year, Mapa representatives were in Russia aiming at the enlargement of the exports of Brazilian products. Although it has been proposed to the Russian that they accept the end of butter and milk powder as guarantee of nullification of brucelosis and tuberculosis risk, they, however, were emphatic when saying that in the internal market the requirement of the certification is in force and that any supposed exporter must meet this demand. As in Brazil, the free properties of these diseases are about a hundred – that is, insignificant number before the total of producing properties – the subject was ended. To increase the competitiveness and improve even more the demand for dairy products, the sector has the mission of improving raw material quality, point of extreme importance for the future of the milk productive chain in Brazil. With the improvement of quality, it is possible to aim an even greater growth of exports and the raise of the consumption in the internal market. To reach these objectives, the strategy is to guarantee a safe product to the consumer with excellent nutritional characteristics and greater shelf-life. Environment In the last few months, the discussions about the reformulation of the Brazilian Forest Code have created controversy in the whole country. Ministers, research institutions and other civil and government bodies have had severe arguments on this subject. According to Embrapa’s studies, if the current law were literally applied, it would remain only 29% of areas available for agriculture, cities and infrastructure, reducing for less than half areas used for the production of nourishments. Furthermore, the largest dairy basin of Brazil, Minas Gerais, it would have 70% of milk production and in illegality, that is, 19.5% of the national population would be committed, considering that state only. The agricultural revolution was consequence of the grea- ter demand for nourishment, caused by the increase of the population and change in its profile in the national as well as in the international market. See table 3 the evolution occurred in this segment in the last 40 years. Such information corroborates the need for reevaluating the law in force so that these indexes continue to succeed and not regress. Following are some points of greater relevance which must be changed: the sum of the PPA (Permanent Preservation Areas) to the areas of properties legal reserve; the permit of the agricultural activities in areas of PPA already consolidated and in use for more than ten years and the increase of the deadline predicted for compensation of legal reserve, commencing from the publishing of the law. * Agronomist, president of the National Commission of Dairy Cattle of CNA ** Zootechnist, technical assistant of the National Commission of Dairy Cattle of CNA *** Agronomist, Msc. Economy, coordinator of special programs of the system Faeg/Senar 51 Produção de lácteos cresce no RS Estado deve encerrar 2009 com o processamento de 3,2 bilhões de litros Segundo maior produtor de leite do país - atrás apenas de Minas Gerais -, o Rio Grande do Sul deve ter crescimento de 8% na produção e chegar a 3,2 bilhões de litros em 2009, segundo o Sindilat. Entre 2005 e 2008, o volume cresceu de 1,87 bilhão para 2,94 bilhões de litros anuais, e o Estado pulou do quarto para o segundo lugar no ranking nacional. Mesmo com a captação em linha ascendente, ainda será pequena para fazer frente à capacidade das empresas que se instalam ou ampliam plantas em solo gaúcho. Até 2012 devem ser inauguradas unidades da Bom Gosto, em Tapejara, da Cosuel, em Arroio do Meio, e da Perdigão, em Três de Maio. De 2005 até agora, foram feitas ampliações pela Perdigão e Bom Gosto, e entraram em operação plantas da Lactivale, Italac, Nestlé, CCGL e Cosulati. Com isso, a capacidade industrial do Estado chegou a 14 milhões de litros por dia e, até 2012, será de 18 milhões de litros por dia. “Para atender às indústrias, a produção média ainda teria de ser aumentada de 10% a 12% até 2012 e, mesmo assim, as empresas vão trabalhar de maneira ociosa. Sou otimista quanto a esse crescimento”, afirma o diretor executivo do Sindilat, Darlan Palharini. Ele explica que é normal as indústrias operarem com média de 70% da capacidade; no entanto, as empresas estão funcionando abaixo desse índice, o que justifica a necessidade de aumento da produção gaúcha e a captação em Santa Catarina. Para o presidente do Sindilat, Carlos Feijó, a chegada de grandes empresas é positiva e confirma o Rio Grande do Sul como polo produtor de matéria-prima de qualidade. “Agora o Estado deve cobrar das empresas uma contrapartida, a confirmação de investimentos na bacia”, avalia. Na avaliação do presidente da Fetag, Elton Weber, se as empresas garantirem preços remuneradores e verba para fomento, os agricultores gaúchos têm condições de ampliar em até 30% por ano a produção de leite. “Se for atrativo financeiramente, os produtores vão corresponder.” A diferença nos valores exercidos nos variados elos é um dos principais gargalos do setor. > Matéria-prima no Brasil em 2008: 30 bilhões de litros > Rebanho leiteiro: 1,2 milhão de animais > Matéria-prima no Rio Grande do Sul em 2008: 3 bilhões de litros > 449 municípios com produção leiteira > Produtores no RS: 121.416 52 > 2,67% do PIB do RS é da cadeia láctea - R$ 4,93 bilhões Dairy production grows in RS The state shall end 2009 with processing of 3.2 billion liters Second greatest producer of milk in the country - behind Minas Gerais only - Rio Grande do Sul might have growth of 8% in the production and reach 3.2 billion liters in 2009, according to Sindilat. Between 2005 and 2008, the volume increased from 1.87 billion to 2.94 billion liters yearly, and the state ranked from fourth to second in the national ranking. Even with fundraising in ascendant line, it will still be small to be ahead of the companies’ capacity that install or enlarge plants in gaúcho soil. Until 2012 units of Bom Gosto must be inaugurated, in Tapejara, of Cosuel, in Arroio do Meio, and of Perdigão, in Três de Maio. From 2005 so far, Perdigão and Bom Gosto enlarged these units and plants of Lactivale, Italac, Nestlé, CCGL and Cosulati began to operate. Subsequently, the industrial capacity of the state reached 14 million liters per day and until 2012 it might be 18 million liters per day. “To attend the industries, the average production would be increased from 10% to 12% until 2012 and, even this way, the companies will work unnecessarily. I am optimistic as for this growth”, asserts the director of Sindilat, Darlan Palharini. He explains that it is normal the industries run with average 70% of their capacity; however, the companies are lower this index, what justifies the need for increase of the gaúcha production and the fundraising in Santa Catarina. To the president of Sindilat, Carlos Feijó, the arrival of lar- ge companies is positive and confirms Rio Grande do Sul as producing pole of raw-material with quality. “Now, the state must charge the companies a counterpart, an approval of investments in the basin”, he evaluates. In the Fetag president’s evaluation, Elton Weber, if the companies guarantee remunerative prices and funds for fomentation, gaúchos farmers will have conditions to enlarge to 30% per year the milk production. “If it were financially attractive, producers will correspond.” The difference in the value applied in the several links is one of the main necks of the sector. > Raw material in Brazil in 2008: 30 billion liters > Raw material in Rio Grande do Sul in 2008: 3 billion liters > Producers in RS: 121.416 > Dairy herd: 1.2 millions of animals > 449 towns with milk production > 2.67% of the gross domestic product (GDP) of RS is of the dairy chain R$ 4.93 billion 53 Paraíba sai na frente na produção de leite de cabra em pó O Estado é o primeiro do Nordeste a investir no segmento. Região do Cariri é destaque em todo o País e responsável pela produção de meio milhão de litros/mês, a maior do Brasil A Paraíba passou a ser o principal fornecedor do Nordeste para a produção de leite de cabra em pó. A sedap (Secretaria do Desenvolvimento Agropecuário e Pesca) firmou uma parceria com a CCA Laticínios, produtora de leite de cabra de Nova Friburgo (RJ), detentora das marcas Caprilat e Scabra, que importava a matéria-prima da Europa. Há mais de dez anos o Estado negocia com os empresários para comprar o leite direto da Paraíba. Neste primeiro momento, 1.500 produtores estão envolvidos no fornecimento do produto in natura. A meta da Sedap é a inclusão direta de 6 mil caprinocultores familiares. A caprinocultura leiteira concentra-se no Estado da Paraíba, que tem a maior produção do Brasil, com quase 600 mil litros/mês, de acordo com informações do coordenador do Programa do Leite da Paraíba, o veterinário Aldomário Rodrigues. > Cerca de meio milhão de litros/ mês são produzidos por 800 criadores agregados em 22 associações e a bacia leiteira desperta atenção de investidor 54 “A Paraíba tem hoje uma produção de leite de cabra em torno de 20 mil litros por dia, o que representa uma escala de produção capaz de atrair empresários interessados em participar da caprinocultura paraibana”, come- e produção de frutas tropicais, além da caprinocultura, que renderá um financiamento da fábrica de processamento do leite em pó em território paraibano. Avaliada em quase R$ 8 milhões, a usina será instalada com apoio financeiro do Fida, conforme informa o coordenador do Programa do Leite, Aldomário Rodrigues. “Projetamos uma indústria com uma produção diária de 100 mil litros. A fábrica permitiria que o produto do Cariri atendesse ao mercado nordestino com um diferencial”, explicou. Dos 32 municípios do Cariri, o projeto da caprinovinocultura abrange 22 cidades, entre elas, Monteiro, Sumé, Cabaceiras, morou. O rebanho nacional de cabras é de 13 milhões de cabeças. Desse total, 91% se encontram no Nordeste, onde a criação é extensiva e de corte. Fábrica própria O governo do Estado está negociando com o Fida (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agropecuário) verbas para várias atividades como artesanato, extração de minérios Riacho de Santo Antônio, Livramento, Amparo, São Sebastião do Umbuzeiro, São João do Tigre, Zabelê, Camalaú e Congo. Maior região produtora O Cariri paraibano é a região que mais produz leite de cabra no país e onde ocorre mais rapidamente a ascensão da caprinocultura leiteira. E a expectativa dos produtores de caprinos e ovinos ganha dimensão ainda maior com um abatedouro-frigorífico, que será inaugurado este ano na cidade de Monteiro (distante 293 km da capital), como resultado de ações conjuntas do governo do Estado e o Sebrae PB com os criadores e outros parceiros públicos. Meio milhão de litros/mês são produzidos por 800 criadores, agregados em 22 associações. Com a comercialização do produto, esse setor injeta na economia local cerca de R$ 750 mil. Nos últimos três anos, devido ao acesso às tecnologias de reprodução animal desenvolvidas pela Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária, mais a assistência técnica aos criadores, o rebanho caprino teve o crescimento mais significativo, de 24,24% no período de 2000/06, evoluindo de 526.179 para 653.730 cabeças, representando um acréscimo de 127.551 animais. Crescimento de 532% A Paraíba passou a liderar a produção de leite de cabra em todo o País em 2007. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nos últimos quatro anos, aponta que o crescimento no setor chegou a 532% entre dezembro de 2003 a março de 2007. O período corresponde ao início do Programa do Leite da Paraíba criado pelo governador Cássio Cunha Lima. Calcula-se em mais de 20 mil empregos diretos e indiretos que o setor oferece hoje. Atualmente, a Paraíba está no alvo de investidores que buscam melhorar e ampliar a indústria láctea. Por causa da maior produção leiteira de cabra do Brasil, o VI Enel - Encontro Nordestino do setor do leite e derivados – atraiu um dos produtores de leite de cabra do Rio de Janeiro, Paulo Cordeiro. Ele está interessado no processo de industrialização do leite caprino em pó nas terras paraibanas. Ele já fabrica o leite de cabra em forma de UHT e em pó para todo o Brasil e quer apoiar a instalação do processo do leite caprino em pó no Estado. As entidades estaduais têm conversado com o empresário para chegarem a um acordo em breve, conforme esclarece o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico do Estado, Roberto Braga. A estimativa é de que 3 mil caprinos e ovinos por mês sejam abatidos, quando o abatedouro-frigorífico estiver operando com sua capacidade máxima, o que expandiria a cadeia produtiva da carne e couro dos animais. Atingindo regiões como o Curimataú e o Sertão, além de atender Pernambuco, do Moxotó ao Pajeú, essa indústria fará cobertura do maior núcleo da caprinocultura de corte do semiárido do Nordeste, conforme explica o agrônomo e técnico do Sebrae em Monteiro, Samuel Mayer. O abatedouro-frigorífico consumiu investimentos de quase R$ 1 milhão. E a atividade leiteira na região pretende atingir o mercado nacional em até dois anos, com previsão de instalação de uma unidade de produção de leite em pó, de cabra e de vaca. Samuel Mayer ainda aposta no mercado nacional para dobrar em 100% a atual produção, chegando a 1 milhão de litros de leite por mês. Por intermédio de 22 associações de caprinocultores, o leite é fornecido para oitos unidades de beneficiamento de leite de cabra, que pasteurizam, envasam e distribuem para mais de 3 mil famílias, com filhos de 0 a 3 anos, em programas de compras governamentais, um deles é o Leite da Paraíba, informa o técnico do Sebrae de Monteiro. Para se ter uma ideia da produtividade leiteira dos animais, já houve o registro de até 9 litros de leite por dia em algumas propriedades da região do Cariri. 55 56 The state is the first of the Northeast to invest in this segment. Cariri region is projection in the whole country and it is responsible for the production of half million liters /month, the greatest of Brazil Paraíba is ahead in goat milk powder production Paraíba started to be the main supplier of the Northeast for the production of goat milk powder. Sedap (Secretaria do Desenvolvimento Agropecuário e Pesca) dealt a partnership with CCA Laticínios, producer of goat milk of Nova Friburgo (RJ), Caprilat and Scabra holder, that imported raw-material from Europe. For more than 10 years the state deals with businessmen to purchase milk direct from Paraíba. In this first moment, 1.500 producers are involved in the supply of the in natura product. Half Sedap is the direct inclusion of 6 thousand familiar milk goat producers. Dairy sheep husbandry is concentrated in the state of Paraíba, which has the largest production of the country with almost 600 thousand liters/month according to information of the coordinator of the Programa do Leite da Paraíba, the vet Aldomário Rodrigues. “Paraíba has nowadays a milk goat production around 20 thousand liters per day, what represents a production scale of able to attract businessmen interested in attend the sheep husbandry paraibana”, he celebrated. The national herd of goats is 13 million heads. From this total, 91% are in the Northeast, where breeding is extensive dairy goat. Own Factory The government of the state is dealing with Fida (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agropecuário) funds for several activities like craftwork, mining and tropical fruits production, besides sheep husbandry that will yield a financing of the milk powder processing factory in territory paraibano. The plant estimated in almost R$ 8 million will be installed with Fida’s financial support, as informs the coordinator of the Programa do Leite, Aldomário Rodrigues. “We designed an industry with a daily production of 100 thousand liters. The factory would allow that the product of Cariri serviced the market nordestino with a differential”, he explained. From the 32 towns of Cariri, the project of sheep goat farmers is comprised of 22 cities, among them, Monteiro, Sumé, Cabaceiras, Riacho de Santo Antônio, Livramento, Amparo, São Sebastião do Umbuzeiro, São João do Tigre, Zabelê, Camalaú and Congo. animal reproduction developed by Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária, plus technical assistance to producers, the sheep herd increased significantly, that is, from 24.24% in the period of 2000/06, evolving from 526.179 to 653.730 heads, representing an increase of 127.551 animals. Growth of 532% Paraíba started to lead the goat milk production in the whole country in 2007. Survey achieved by the Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, in the last four years, asserts that the growth in the sector reached 532% between December 2003 and March 2007. The period Greater producer region corresponds to the beginning of Cariri paraibano is the grea- the Programa do Leite da Paraítest producer of goat milk in the ba created by the governor Cáscountry and where dairy sheep sio Cunha Lima. It is estimated and goat producers’ growth oc- more than 20 thousand direct curs quickly. And the producers’ and indirect jobs that the sector expectation of sheep and goat offers today. Currently, Paraíba is the target gains dimension even greater with a slaughterhouse that will of investidor who tries to improbe inaugurated this year in the ve and enlarge the dairy industry. city of Monteiro (293 km dis- Because of the greatest dairy goat tant from the capital, as result of production in Brazil, VI Enel action of the state government Encontro Nordestino of the milk and Sebrae PB with the produ- sector and dairy – it attracted one cers and other public partners. of the goat milk producers of Rio Half million liters/month are de Janeiro, Paulo Cordeiro. He is produced by 800 farmers, aggre- interested in the process of indusgated in 22 associations. With trialization of sheep milk powder the commercialization of the in lands paraibanas. product, this sector applies apHe already manufactures goat proximately R$ 750 thousand in milk in form of UHT and powder the local economy. to the entire Brazil and wishes to In the last three years, because support the installation of powof the access to technologies of der and sheep milk processing in > Approximately half million liters/month are produced by 800 farmers aggregated in 22 associations and the dairy basin attracts the investidor attention the state. The state entities have spoken with the businessmen to have an agreement soon, as the secretry of Turismo e Desenvolvimento Econômico do Estado, Roberto Braga highlights. The estimate is that 3 thousand sheep and goat per month are slaughter when the slaughterhouse is working in its maximum capacity, what would extend the productive chain of meat and leather of the animals. Reaching regions like Curimataú and Sertão, besides servicing Pernambuco, from Moxotó to Pajeú, this industry will cover the largest center of sheep-goat producer of the semi-arid Northeast, as per the agronomist and technician of Sebrae in Monteiro, Samuel Mayer. The slaughterhouse consumed investments of almost R$ 1 million. And the dairy activity in the region intends to reach the national market within two years, with estimate to install one milk powder production unit, goat and cattle. Samuel Mayer still bets in the national market to double in 100% the current production, reaching 1 million liters per month. Through 22 sheep-goat producer associations, the milk is supplied to eight packing-houses of goat milk that pasteurized milk in pouches and deliver to more than 3 thousand families, with 0-3 years old children, in governmental purchase programs, one of them is Leite da Paraíba, informes the technician of Sebrae of Monteiro. To have an idea about the dairy productivity of the animals, there has already been the record of up to 9 liters of milk per day in some properties of Cariri region. 57 Inovar para crescer Agrotecno Leite 2009 deve contar com mais de 60 expositores e um público superior a 12 mil pessoas Em sua terceira edição, a Agrotecno Leite 2009 apresenta-se como um evento completo, contando com demonstrações reais de tecnologia, visando suprir as necessidades detectadas pelos produtores rurais em seu ambiente de trabalho, envolvendo estações de campo, dinâmicas de máquinas e equipamentos, mostra e comercialização de produtos, palestras e discussões sobre o cenário atual, o que nos remete a decisões econômicas, superações e conquistas, buscando o fortalecimento de parcerias e a qualificação de profissionais envolvidos no agronegócio. Para atrair um público superior a 12 mil pessoas, a organização do evento apresenta novidades. O coordenador técnico da Agrotecno Leite 2009, Carlos Bondan, destaca as novas estações incluídas na Via Láctea. “Temos uma estação que ensina como produzir leite sem degradar o meio ambiente, que está com a Emater, dinâmica de máquinas que irão demonstrar como fazer feno e silagem e demonstração de pastagens tropicais para serem cultivadas no verão”, destaca. Outra novidade é a montagem de uma sala de ordenha no campo. “O propósito dessa estação é divulgar o manejo correto da ordenha, os procedimentos de higiene da vaca e do equipamento de ordenha e também como manter e regular a ordenhadeira.” Além disso, uma passarela será construída ligando a área dos expositores aos campos experimentais. Todo o público que comparecer ao evento poderá também degustar derivados de leite que serão produzidos em um espaço próprio. Alunos e professores do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade de Passo Fundo estarão produzindo iogurte, bebidas lácteas e queijo. “Nessa estação queremos apresentar também as boas práticas de fabricação, mostrando o que precisa ser feito para produzir um produto seguro”, frisa. Além de poder conhecer um pouco mais nos Caminhos Técnicos do Leite, o produtor poderá saber mais sobre alimentação e manejo dos animais na palestras. Elas ocorrem pela manhã e à tarde, nos dias 1º e 2 de outubro. Histórico A Agrotecno Leite surgiu por meio da iniciativa de um grupo de líderes e instituições voltadas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do leite na região Norte do Estado do Rio Grande do Sul, que se configurou em um importante cenário para a produção de leite e derivados em função da sua localização geográfica, clima favorável e a concentração de empresas líderes no setor. Com o objetivo de proporcionar momentos de discussão e orientação aos produtores, técnicos e estudantes assim como apresentar as potencialidades desse setor em termos de novas tecnologias e a busca por melhores resultados econômicos, as instituições parceiras desse projeto - Sicredi, UPF, Cotrijal, Emater, Embrapa Trigo, Prefeitura de Passo Fundo, Programa Juntos para Competir (Sebrae/Senar/Farsul) -, em setembro de 2007, realizaram a primeira edição da Agrotecno Leite nos campos de pesquisa da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo, em Passo Fundo (RS). O evento contou com a participação de 22 empresas ligadas ao setor e com a visitação de cerca de 3 mil produtores de leite da região Norte do Esta- > Capacidade industrial instalada: 14 milhões de litros/dia > Capacidade industrial do RS até 2012: 18,9 milhões de litros/dia > Crescimento da oferta de matéria-prima de 2005 a 2008 foi de 41,6% 58 do favorecendo assim o desenvolvimento da aprendizagem, > O que: Agrotecno Leite 2009 > Quando: 30 de setembro a 2 de outubro > Onde: Centro de Eventos e campos experimentais da UPF, Passo Fundo – RS que envolve desde o planejamento das pastagens para uma maior produção de leite até a retirada da matéria-prima para a fabricação de derivados. Na sua segunda edição, em setembro de 2008, além dos campos de pesquisa, o evento abriu espaço em pavilhão coberto para a apresentação e mostra de produtos, tecnologias e serviços, ampliando a participação de empresas ligadas ao segmento. Ao mesmo tempo criou-se o Caminho do Leite, espaço destinado à difusão de informações pertinentes a pontos fundamentais para incrementos da produtividade e qualidade do leite, fatores indispensáveis para o sucesso na atividade. O evento em 2008 consolidou-se com a participação de mais de 40 empresas e a visitação de 7 mil produtores, técnicos e estudantes dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 59 Innovating to grow Agrotecno Leite 2009 shall have more than 60 stands and an audience superior to 12 thousand people In its third edition, Agrotecno Leite 2009 presents itself as a complete event relying on demonstrations of real technologies, aiming to provide the needs detected by farmers in their work place, thus involving field stations, machines and equipments dynamics, show and commercialization of products, lectures and discussions on the current scenery, what takes us to economic decisions, overcoming and achievements, seeking to strengthen partnerships and qualification of professionals involved in the agribusiness. In order to attract an audience superior to 12 thousand people, the organizers of the event present some innovations. The technical coordinator of Agrotecno Leite 2009, Carlos Bondan, emphasizes the new stations included at Via Láctea. “We have a station that teaches how to produce milk without degrading the environment, which is with Emater, machine dynamics that will demonstrate how to make hay and silage and tropical pasture demonstration to be growth in the summer”, he asserts. Another innovation is the > What: Agrotecno Leite 2009 > When: from September 30th to October 2nd > Where: Convention Center and experimental fields of UPF, Passo Fundo – RS assembly of a room of milking in the filed. “The purpose of this station is to spread the milking correct handling, the cow and milking equipment hygiene procedures and how to keep and regulate the milking machine.” Furthermore, a walkway will be built linking the exhibitor’s areas to the experimental fields. All audience that shall attend the event might taste dairy products which will be produced in their own space. Students and professors of Food Engineering of the University of Passo Fundo will produce yogurt, dairy beverage and cheese. “In this edition we wish to present good manufacturing practices by showing what is necessary to be done to produce a safe product as well”, he emphasizes. Besides knowing a little more in the Caminhos Técnicos do Leite, the producer shall know more about nourishment and animal handling in the lectures. The lectures will happen in the mornings and afternoons, on October 1st and 2nd. History Agrotecno Leite appeared by means of the initiative of a group of leaders and institutions devoted to the development of the milk productive chain in the Northern region of Rio Grande do Sul state, which configures an important scenery to the production of milk and dairy because of its geographic location, favorable climate and the concentration of leader companies in the sector. The objective of this event is to provide moments of discussion and direction to producers, technicians and students as well as to present the potentialities of this sector in terms of new technologies and the seek for better economic results, the partner institutions of this project - Sicredi, UPF, Cotrijal, Emater, Embrapa Trigo, Prefeitura de Passo Fundo, Programa Juntos para Competir (Sebrae/Senar/Farsul) -, on September 2007, accomplished the first edition of > Industrial Capacity installed: 14 million liters/day > Industrial Capacity of RS until 2012: 18.9 million of liters/day The supply growth of raw material from 2005 to 2008 was 41.6% 60 Agrotecno Leite in the fields of research of the Agriculture and Veterinary Medicine college of the University of Passo Fundo, in Passo Fundo (RS). The event was attended by 22 companies linked to the sector and the visit of approximately 3 thousand milk producers in the Northern region of the state, thus favoring the development of learning which involves from planning of pastures to a greater milk production to the withdrawal of the raw material for manufacturing of derivates. In its second edition, on September 2008, besides the research fields, the event opened space in covered pavilion for the presentation and show of the products, technologies and services, then expanding the participation of companies linked to the segment. At the same time, Caminho do Leite was created, that is, a space for the dissemination of information relevant to important points to incre- ments of milk productivity and quality, factor which are essential for the success in activity. The event, in 2008, was consolidated with the participation of more than 40 companies and the visit of 7 thousand producers, technicians and students from the states of Rio Grande do Sul and Santa Catarina. 61 62 63 64