Considerações sobre a Lei da Partilha Adriano Pires Junho de 2015 Mudanças propostas • Extinguir a obrigatoriedade da Petrobras de ter um mínimo de 30% dos campos do pré-sal que vierem a ser leiloados no modelo de partilha e a exclusividade na operação desses campos; • A Petrobras poderá participar de qualquer leilão de pré-sal no modelo da partilha, comprando qualquer percentual do campo como também ser a operadora. A Petrobras deixa de ter o ônus da obrigatoriedade e passa a ter o bônus da escolha. 2 O que é mantido • É mantido o modelo da partilha; • É mantido o Art. 12 da Lei N° 12.351, que permite à União de entregar campos do pré-sal à Petrobras sem licitação, caso considere essas áreas estratégicas; • É mantida a PPSA como membro de todos consórcios vencedores da licitação do pré-sal; • É mantida a ANP como responsável pela regulação e fiscalização desses campos, por exemplo a medição da produção. 3 Por que mudar a lei? • A Petrobras encontra-se numa grave situação financeira e de endividamento. Hoje, a empresa possui a maior dívida entre as corporações mundiais, cerca de R$ 400 bilhões. Em 2009, a dívida era de R$ 106 bilhões. A Petrobras está extremamente alavancada, com 5 vezes mais dívida do que EBITDA anual (geração de caixa). • Desse aumento de dívida de R$106 bilhões, em 2009, para R$400 bilhões, hoje, R$60 bilhões foram gastos em subsídio de combustível e outros R$80 bilhões em sobrecusto nas refinarias, que nunca vão gerar um único centavo para a empresa. • A geração de receita atual é da ordem de US$ 25 bilhões e a contratação de dívida nova, anualmente, é de US$ 20 bilhões. Nesse ritmo, o faturamento não será suficiente para produzir o equilíbrio financeiro necessário, ou seja, desalavancar a empresa no médio prazo. • A empresa terá dificuldade em reduzir sua relação dívida líquida sobre EBITDA de 5 vezes pelos próximos dez anos. Só até junho deste ano, a Petrobras tomou cerca de US$18,7 bilhões, incluindo empréstimos com investidores chineses, com Bradesco, Caixa e Banco do Brasil, com o banco inglês Standard Chartered e a emissão do bônus de dívida de 100 anos. 4 Plano divulgado ontem corrobora necessidade de mudança • O novo Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 da Petrobras, baseado na atual situação financeira da empresa, reduziu em 41% os Investimentos Totais em relação ao antecedente Plano de Negócios e Gestão 2014-2018. Redução de 37% sem considerar os projetos em avaliação do plano anterior. • Neste contexto, as metas de produção futuras foram obrigatoriamente revisadas. A Petrobras calculou que, com esse nível de redução dos investimentos, a produção doméstica de petróleo será de 2,8 milhões de barris em 2020, e não de 4,2 milhões como no plano anterior. A previsão de receitas futuras terá que ser reduzida considerando a projeção de menor crescimento de produção de petróleo. 5 Fonte: Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 da Petrobras Por que mudar a lei? • Na carteira de desenvolvimento de campos de petróleo da Petrobras, destaca-se que a empresa prevê desenvolver a produção de cerca de 22 bilhões de barris petróleo em reservas no pré-sal (sendo 5 bilhões na Cessão Onerosa, mais 13 bilhões de sua Extensão e outros 4 bilhões no Campo de Libra). Estima-se que o custo de exploração deste petróleo do pré-sal seja algo em torno de US$ 15 por barril, de modo que se calcula que a Petrobras já está comprometida com investimentos de cerca de US$330 bilhões nos próximos anos. Se agregarmos mais 16 bilhões de barris das atuais reservas esses investimentos vão para US$570 bilhões. • Enquanto a estatal não tiver condições econômicas e financeiras de expandir sua carteira, juntamente com a obrigação de participar com pelo menos 30% e de ser operadora exclusiva dos campos no pré-sal, o país fica impedido de realizar Leilões de Pré-Sal. Perde o Brasil e perde a Petrobras. • O Brasil não pode ficar sem fazer leilões se quisermos nos apropriar das riquezas do pré-sal. Já ficamos cinco anos sem leilões entre 2008 e 2013. Sem leilões, a indústria petrolífera fica estagnada, sem novas áreas para explorar e com reflexos claros na arrecadação de royalties, novos investimentos e geração de empregos. 6 Por que mudar a lei? • • • • O mercado internacional passa por um momento muito interessante, com o gigantesco crescimento da produção norte-americana, decorrente da Revolução do Shale Gas (e Shale Oil/Tight Oil). Com a decisão dos países da OPEP de manter a produção em nível alto, para não perder participação no mercado, a oferta mundial permanece acima da demanda, levando o preço do petróleo para patamares muito abaixo dos US$105/barril, em que havia se estabilizado no mundo pós-crise de 2008. A estimativa é a consolidação dos preços em um intervalo de US$55 a US$65/barril por um bom tempo. Para o Brasil e para a Petrobras, isso significa três pontos importantes: (1) muitos projetos de desenvolvimento deixarão de ser atrativos e precisarão ser cancelados/adiados; (2) a geração de receita com a produção de petróleo será menor e; (3) haverá uma maior disputa em atrair investidores para participar de leilões de petróleo. Neste contexto, países como Colômbia e México já estão discutindo, em fase avançada, a mudança em seus regimes de exploração e produção do petróleo para atrair mais investidores. É uma tendência da qual o Brasil também não poderá fugir. Além da questão da oferta e demanda, há fatores ambientais que fundamentam a tese de que preço do petróleo a US$100/barril nunca mais. O G7 emitiu uma resolução que define que em 2100 o mundo não vai mais estar queimando combustível fóssil. Mesmo as empresas de petróleo da Europa já pediram aos seus governos que os combustíveis fósseis sejam tributados por emissão de CO2. O presidente mundial da Shell afirmou que as estratégias das empresas petrolíferas, daqui em diante, serão determinadas pela política do clima. 7 As vantagens e benefícios das mudanças • O Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 mostra de forma clara a necessidade de atrair investimentos para manter a indústria petrolífera do país em crescimento e gerar riquezas com o pré-sal. Isso não significa que a Petrobras ou o país perderão protagonismo ou importância. • O Brasil e as gerações futuras têm pressa em crescer, gerar empregos e aumentar a arrecadação fiscal com royalties do petróleo do pré-sal. É preciso entender que o consumo de combustíveis fósseis tenderá a diminuir e que o petróleo, cada vez mais, será uma fonte de energia dinossáurica. Portanto é um urgente um calendário de Leilões. • Os que querem mudar os pontos da obrigatoriedade dos 30% e da operação exclusiva dos campos do pré-sal querem readaptar a Petrobras e o Brasil à nova realidade do mercado de petróleo. O primeiro passo foi a divulgação no Plano de Negócios o segundo será a aprovação do PLS 131. 8