Café e Doença Cardiovascular Dr. Miguel A. Moretti Coordenador de Pesquisa Médica da Unidade de Café e Coração [email protected] Café e Doenças Cardiovasculares • Consumo per capita anual – – – – EUA 3,8 Kg Brasil 5,5 Kg França 6 kg Escandinávia 15 Kg Por ser uma bebida de alto consumo mundial, o café tem motivado pesquisas relacionadas a possíveis alterações metabólicas que poderiam predispor ao desenvolvimento de doenças do coração. Jee HS et al. Am J Epidemiol 2001;153(4):353-62 Richele M et al. Agric Food Chem 2001;49:3438-42 O CAFÉ LEVARIA A 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. INSÔNIA HIPERTENSÃO TAQUICARDIA ARRITMIA COLESTEROL AUMENTADO INFARTO DO MIOCÁRDIO E até IMPOTÊNCIA SEXUAL, se muito quente. Consumo de Café x Mortalidade RR ajustado para idade, tabaco e outros fatores de risco para câncer e DCV (41 mil homens e 86 mil mulheres acompanhados por 18 anos) Variação de RR % 20% Homem Mulher 10% -10% -20% -30% < 1 ch/m 1ch/m – 4ch/sem 5–7 ch/sem 2-3 ch/dia 4-5 ch/dia >6 ch/dia Lopez-Garcia E , 2008. Consumo de Café e Mortalidade N Engl J Med 2012;366:1891-904. ASPECTOS POSITIVOS DA CAFEÍNA A Cafeína é segura se consumida com moderação : até 500 mg diários (1 mg/mL) Meio Litro de CAFÉ = 4 xícaras de 125 Ml Cafeína aumenta a atenção, a concentração e a memória 08:00 hs 10:00 hs 13:00 hs 15:00 hs Principais componentes do Café Cafeína Cafestol e Kahweol Ácidos clorogênicos (Polifenois) Grupos com Relação Forma de Preparo do Café • • • • • Filtrado Fervido Solúvel Expresso Descafeinado • • • • • Puro Blend Arábica Robusta Torra Café e Coração • Consumo de café ou chá protege contra eventos cardiovasculares. – Klatsky, Ann Epidemiol 1993 – Woodward M, J Epidemiol Community Health 1991 • A maior morbi-mortalidade na população masculina deve-se ao aumento do Col. e do Tab. – Kleemola P, Arch Int Med 2000 A confusa relação entre beber café e a doença coronaria. • Após décadas de estudos conflituosos, essa relação continua não resolvida. • A relação entre consumo de café e aumento no risco de doença coronária só esta demonstrada em fumantes ou ex-fumantes com controle inadequado. – De 127.212 pacientes, 8.357 internados por DAC. Nos 58.888 não fumantes não houve relação com café. Mas nos ex-fumantes ou tabagistas houve correlação. Klatsky AL. Am J Cardiol. 2008 Mar 15;101(16) Café e Lípides Séricos Café e Colesterol OR da variação das concentrações plasmáticas de lípides MAM04 Col.T LDL Regular vs Descaf. 1.4 (-4.2 – 7.0) 0.7 (-3.1 – 1.7) p=0.63 p=0.59 Col.T LDL Tgl Fervido vs Filtrado 18.2 (12.4 – 24) 17.8 (11.1 – 24.5) 9.6 (3.6 – 15.6) p<0.001 p=0.003 p=0.01 Jee SH. Am J Epidemiol 2001 Café e Lípides Séricos Modo e Técnica de Preparo do café e Colesterol Plasmático Modo de preparo Técnica de preparo Cafestol (mg) O pó colocado no FILTRADO filtro de papel e despeja-se a Kahweol (mg) ↑ colesterol (mg/dL) 0,1 0,1 0,38 0,1 0,1 0,38 0,2 0,2 0,38 1,5 1,8 3,86 água quente O pó é misturado na COADO água quente e posteriormente despejado no coador de pano Os grânulos são INSTANTÂNEO EXPRESSO MAM04 misturados à água quente O pó é colocado no filtro da máquina e a água sob pressão, Por 10 a 20 seg., a 90oC, passa Através dele. Urget R, Katan MB. J R Soc Med. 1996;89:618-23. Café e Lípides Séricos Modo e Técnica de Preparo do café e Colesterol Plasmático Modo de preparo MOCHA CAFÉ ESCANDINAVO Técnica de preparo Cafestol Kahweol ↑ colesterol (mg) (mg) mg/dL) O pó é colocado no filtro metálico na parte superior da cafeteira, e na 1,1 parte inferior coloca-se a água. Ao ferver, o vapor d’água sobe pelo filtro passando pelo pó. O pó é fervido com a água e decantado depois 1,4 2,70 3,0 3,9 7,33 3,5 4,4 8,87 3,9 3,9 9,65 O pó é adicionado CAFETEIRA à água fervida numa cafeteira própria. A mistura passa por um coador O pó é misturado à água CAFÉ ÁRABE MAM04 fervente. Depois é servido decantado e sem filtar. Urget R, Katan MB. J R Soc Med. 1996;89:618-23. Café e Lípides Séricos Conclusão • O cafestol e Kahweol podem aumentar os níveis de colesterol total e LDL-colesterol, dependendo do modo de preparo do café.1 • O filtro de papel retém mais de 80% dessas substâncias gordurosas presentes nos grãos, impedindo assim o aumento do perfil lipídico.2 1. MAM04 Urget R, Schulz AGM, Katan MB. Am J Clin Nutr. 1995;61:149-54. 2. Ahola I, Jauhiainen M, Aro A J Inter Med 1991;230:293-7. Café e Diabetes Café e DM • RR 50% (95% CI 0,35-0,72 p=0,0002) com 7 xícaras dia / Holanda – Van Dam, Lancet 2002 • > 41mil masc. e > 84mil fem., seguidos por 12 e 18 anos. Os usuários de café tiveram menos DM2. – Martinez ES, Ann Intern Med 2004 Café e DM Incidência de DM em Mulheres. Estudo “cohort” prospectivo longitudinal RR depois de ajuste para idade, tabagismo, sedentarismo e IMC (1361 mulheres) < 2 xícaras de café dia = referência 3-4 = 0.55 (0.32 – 0.95) 5-6 = 0.39 (0.20 – 0.77) >7 = 0.48 (0.22 – 1.06) Rosengren A. J Intern Med 2004 Café e Pressão Arterial Café e Hipertensão • Aumenta os níveis pressóricos e a HAS? • 1017 mulheres seguidas por 33a • Café vs Não café – Café elevou a incidência de hipertensão (18.8% vs 28.3% p=0,03) com RR 1,60 (1.06-2.40) • Com ajuste para: antec. fam.; IMC; tabagismo; etilismo e atividade física essa diferença desaparece. Klag MJ. Arch Int Med 2002 Café reduz Pressão Arterial Italian Study – 500 voluntários (18-62a) PAS PAD S/Café 1x/d 2-3x/d 4-6x/d >6x/d 130.4 129.4 128.4 124.9 124.1 81.5 82.2 81.4 78.8 78.7 Correção para ingesta de álcool e tabagismo, redução de: 0.80 mmHg na PAS 0.48 mmHg na PAD, por xícara de café Periti M. Clin Sci 1987;72:443-7 Café e Hipertensão Variação da Pressão Arterial 12 ∆ mmHg 10 PAS PAD 8 6 4 2 0 Café H Café NH Descaf. NH Corti, Circulation 2002 ∆ PAS mmHg Café e Hipertensão 7 6 5 4 3 2 1 0 -1 -2 3 4 5 6 7 Xícaras de Café / Dia 8 Lee SH – Hypertension 1999 Hábito de beber café promove um pequeno aumento na PA sem elevar o risco de desenvolver HAS. Klag MJ, Arch Int Med 2002 Café e Hipertensão Metanálise de estudos randomizados 1966 – 2001, determinando o Risco Atribuído a População para HAS (PAR%). Impacto da dieta e do estilo de vida na prevalência de hipertensão na população. Obesidade 11-25% Inatividade 5-13% > Sódio 9-17% < Potássio 4-17% < Magnésio 4-8% Alcool 2-3% Café 0-9% Geleijnse JM. Eur J Public Health, 2004 Café e Infarto do miocárdio MAM04 Café e Infarto do miocárdio • Alguns estudos nos países nórdicos mostram aumento de infarto em homens, que tomam café não filtrado, e a partir de 7chícaras ao dia. • Na Finlândia isto não é demonstrado. • Relação com lípides sangüíneos? MAM04 Café e IAM Mortalidade após IAM - 1902 pacientes durante 5 anos consumo de café xícaras / dia zero 0–7 8 – 14 >14 Óbito 109(22%) 87(17%) 54(19%) 65(11%) Tx/100pcts /ano 6.27 4.71 4.91 2.8 0.77 0.93 0.74 Ajuste para Idade e sx MAM04 Mukanal KJ. Am Heart J 2004 Café e Coração • 17 voluntários masculinos com Ico cr, o uso de 1 ou 2 xícaras de café aumentou em 8 e 12% a tolerância ao exercício, o mesmo não aconteceu com o descafeinado. – Pitus KM, Am J Cardiol 1985 • Apesar de leve, mas significativa, elevação da pressão arterial, 32 voluntários com Ico cr não tiveram piora da função ventricular ou do tempo para desenvolver angina ou alteração ECG durante prova de esforço. – Hirsch AT, Ann Intern Med 1989 MAM04 Coffee consumption (by cups) and relative risk of coronary heart disease in men and women* Outcome <1/mo 1/mo–4/wk 5-7/wk 2-3/d 4-5/d >6 /d p for trend Total CHD (men) 1.0 1.04 (0.91-1.17) 1.02 (0.91-1.15) 0.97 (0.86-1.11) 1.07 (0.88-1.31) 0.72 (0.49-1.07) 0.41 Total CHD (women) 1.0 0.97 (0.83-1.14) 1.02 (0.90-1.17) 0.84 (0.74-0.97) 0.99 (0.83-1.17) 0.87 (0.68-1.11) 0.08 Fatal CHD (men) 1.0 1.04 (0.84-1.29) 1.04 (0.85-1.28) 1.04 (0.84-1.30) 1.08 (0.76-1.54) 0.60 (0.26-1.36) 0.82 Fatal CHD (women) 1.0 1.09 (0.83-1.42) 1.01 (0.80-1.27) 0.81 (0.64-1.03) 0.97 (0.72-1.31) 0.61 (0.37-1.02) 0.08 Nonfatal MI (men) 1.0 1.02 (0.88-1.19) 1.01 (0.87-1.17) 0.94 (0.80-1.10) 1.06 (0.84-1.34) 0.81 (0.52-1.26) 0.49 Nonfatal MI (women) 1.0 0.93 (0.77-1.13) 1.04 (0.89-1.22) 0.86 (0.73-1.02) 0.99 (0.80-1.22) 0.99 (0.75-1.31) 0.47 *Adjusted for all variables at baseline Garcia-Lopez E, et al. 2006; 113: 2045 - 2053. Coffee Consumption and Risk of Myocardial Infarction among Older Swedish Women Rosner AS. Am J Epidemiol 2007;165 Café, CYP1A2 Gene e Risco de Infarto do Miocárdio A cafeína é metabolizada pelo citocromo polimórfico P450 1A2 (CYP1A2). Homozigóticos metabolizam rapidamente a cafeína. Mais de 2000 pacientes com 1º infarto e 2000 controles na população. Seguimento de 10 anos. Cerca de 55% de cada grupo tinham padrão heterozigótico. Consumo / Alelos OR (95% IC) para infarto não fatal e consumo de café 1A/1F 1A/1A Ref. Ref. 1 0,99 0,75 2-3 1,36 0,78 >4 1,64 0,99 < 1/dia p=0,04 Cornelis MC. JAMA. 2006;295 Café e Acidente Vascular Cerebral Coffee Consumption and Risk of Stroke in Women • Prospective cohort of 83,076 women in the Nurses’ Health Study Consumption RR <1 cup per month ≥4 per day 1,0 0,8 (0.64 to 0.98) Circulation. 2009;119:1116-1123 Café e Cafeína vs Risco de Doença Coronária • • • • • Café é uma complexa mistura que possui efeitos benéficos e prejudiciais ao sistema cardiovascular. Estudos randomizados e controlados mostram impacto negativo com café fervido e não filtrado (maior risco de doença coronária, aumento colesterol). Substâncias como os Diterpenos presentes no café fervido não filtrado e a caféina aumentam o risco de doença coronária. Vários outros estudos mostram um efeito protetor com consumo moderado de café. Provavelmente relacionados a outras substâncias presentes no café como alguns antioxidantes e fitosteróis. Recente estudo avaliando a relação entre café e risco de IAM incorporados ao polimorfismo genético associado ao baixo metabolismo da cafeína mostram fortes evidencias de que a cafeína aumenta o risco de doença coronária Cornelis MC, Univ Toronto. 2007. PROTOCOLO DE INTENÇÕES PARA APOIO A PESQUISAS NA ÁREA DE CAFÉ E SAÚDE HUMANA COM ÊNFASE NA RELAÇÃO DO CONSUMO DE CAFÉ E O CORAÇÃO (PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES ) Firmado entre o INSTITUTO DO CORAÇÃO – INCOR, HCFMUSP, a FUNDAÇÃO ZERBINI, e a ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café, aos dez dias do mês de Maio de 2004. Unidade de Pesquisa Médica do Café – Projeto Café e Coração • Promover e coordenar diferentes linhas de pesquisa – Pós Graduação – Projeto Nacional (intl) • • • • Estudo Epidemiológico Café e Coração Café e DM Componentes do Café – Formas de preparo e consumo Perfil da amostra Região SUDESTE 2.200 indivíduos > 55 anos 1.100 Tomadores de café 550 Sem DCV 550 Com DCV 1.100 Não tomadores de café 550 Sem DCV 550 Com DCV Preparo Padronizado Doses diárias (em ml) ideais para o consumo moderado de café Consumo/Hora 6 –7h 10h 13 – 14h 15 – 16h Até 10 anos 50 50 50 50 50 100 10 – 15 a 100 100 15 – 20 a 100 150 100 100 150 150 150 20 – 60 a 150 > 60 anos 100 50 50 Obs.: dose de cafeína diária adequada = máximo 500mg (300 – 400) Café = Torra padronizada – Tratamento A tipo controle – moagem média Preparo: 100g para 1 litro de H2O papel adequado (tamanho) distribuição uniforme, pré ebulição, não mexer. Não reutilizar pó Materiais e Métodos • 80 indivíduos (26 com DAC e 54 voluntários saudáveis). • 35 homens e 45 mulheres. • Idade média de 53,4 ± 13,5 anos. Lab Lab Lab Torra Escura – 28d Torra Escura – 28d Torra Média – 28d Torra Média – 28d Washout – 21d RDM Cronograma A Cronograma B Unidade Café e Coração Basal Torra Escura Torra Média p Col. Total 195,1 ± 42,9 193,4 ± 47,8 196,9 ± 40,4 0,84 HDL 52,2 ± 12,6 54,2 ± 11,7 54,1 ± 12,3 0,26 LDL 127,1 ± 36,4 128,2 ± 36,3 127,0 ± 35,4 0,93 Glicemia 91,40 ± 12,69 91,61 ± 10,81 91,35 ± 12,09 0,945 PCR 2,27 ± 2,74 2,24 ± 2,45 2,53 ± 3,66 0,543 Medidas de pressão por 24 horas PAS (Media) PAD (Media) 1900ral Pressão em mmHg 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral Basal “washout” Basal “washout” PAS (Média) 109,26 ±10,20 PAD (Média) 66,51±7,86 Tostado Oscura Torra escura Tostado Media Torra média 109,18 ±11,12 112,86 ±11,42 66,41 ± 8,36 68,68 ± 8,83 p 0,002 0,18 Teste de esforço ∆t Exercício 1901ral Tempo em segundos 1901ral 1901ral 1901ral 1901ral 1901ral 1901ral 1901ral 1901ral Basal “washout” ∆T Exercício 601,7±185,6 Tostado Oscura 641,6±207,4 Tostado Media 645,3±198,4 p <0,001 Arritmias cardíacas em saudáveis e com doença coronária Supraventriculares Ventriculares 1901ral 1900ral 1901ral 1900ral 1900ral Extrasístoles por hora Número de extrasístoles Ventriculares 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral Supraventriculares 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral Basal Tostado Oscura Extrasístoles Tostado Media 1900ral Basal Tostado Oscura Basal Torra escura Torra média p Numero 297,6 ± 1.556,6 88,3 ± 340,3 398,3 ± 2.228,6 0,84 Por hora 13,28 ± 67,87 3,81 ± 14,84 7,19 ± 22,86 0,11 Numero 55,9 ± 131,5 156,7 ± 675,1 53,3 ± 127,4 0,14 Por hora 2,43± 6,19 6,71 ± 28,30 2,26 ± 5,90 0,03 Ventriculares Supraventriculares Tostado Media Resultados da reatividade vascular da arteria braquial por fluxo e nitrato Basal (“washout”) Torra escura p Diâmetro inicial (mm) 3,98 ± 0,74 (3,995) 4,08 ± 0,73 (4,070) 0,16 Dilatação mediada por fluxo 0,05 ± 0,07 (0,050) 0,05 ± 0,06 (0,045) 0,46 Dilatação mediada por nitrato 0,18 ± 0,12 (0,179) 0,17 ± 0,08 (0,169) 0,54 Conclusões • Aparentemente não há nenhuma repercussão negativa do café, tomado em quantidades habituais, na saúde das pessoas. Nem naqueles com doença coronária. • Precisamos esperar mais tempo por dados a respeito das diferenças entre os graus de torra do café, escuro ou médio claro, e sua influência na pressão arterial e outros parâmetros. Unidade de Pesquisa Médica Café e Coração