Assimilação de Novas Tecnologias em Propriedades Rurais do Centro Oeste Brasileiro Autoria: Adelice Minetto Sznitowski, Yeda Swirski de Souza Propósito Central do Trabalho O agronegócio segundo Nantes e Scarpelli (2012) e Canziani (2001) demanda aperfeiçoamento em tecnologia e métodos de gestão necessários para a competitividade do setor. Setor este com representatividade nacional e responde, no Brasil, pelo saldo positivo da balança comercial brasileira (EMBRAPA, 2013). Em relacão as tecnologias, sua adoção no agronegócio possui importante papel no seu desempenho (SANTOS et al, 2012). O caminho percorrido quanto ao uso de tecnologia e inovação na agricultura, resultante da revolução tecnológica experimentado pelo agronegócio ao longo das gerações, proporcionou resultados visíveis na competitividade e no dinamismo desse setor. Para Vieira Filho e Silveira (2012; 2013), o desempenho da agricultura brasileira é resultado do processo de inovação. A agricultura não é um setor marginal da economia, ela incorpora de forma contínua inovações tecnológicas. Tal cenário motiva estudar a absorção de conhecimento, haja vista que o processo produtivo agrícola exige o uso de modernas tecnologias, as quais são determinantes para o aumento da produtividade, sendo isso dependente da capacidade dos agricultores em identificarem, assimilarem e explorar o conhecimento novo pretende-se assim, avançar no conhecimento dos fatores internos inerentes a tal questão, como citam Vieira Filho e Silveira (2012; 2013). Desse modo, apresenta-se como indagação pertinente neste cenário: de que forma acontecem os processos relativos à assimilação de novas tecnologias em propriedades rurais do Centro Oeste brasileiro? O aporte teórico trazido pela capacidade absortiva, contribui para identificar fatores que favoreçam a assimilação do conhecimento relativo as tecnologias de produção. Marco Teórico Cohen e Levinthal (1990) conceituam a capacidade absortiva como a capacidade de uma empresa para reconhecer o valor da informação externa, assimilá-la e aplicá-la para fins comerciais. Zahra e George (2002, p. 186) redefinem o conceito anterior e entendem capacidade absortiva (ACAP) como um “conjunto de rotinas e processos pelos quais as empresas adquirem, assimilam, transformam e exploram o conhecimento para produzir uma capacidade organizacional dinâmica”. Quanto ao entendimento de capacidade absortiva, há um consenso implícito do papel e os resultados da ACAP como um conjunto de habilidades para gerenciar o conhecimento (ZAHRA; GEORGE, 2002). Há concordância de ACAP como um construto de múltiplas dimensões (ZAHRA; GEORGE, 2002) que abrange a capacidade de reconhecer valor, assimilar e aplicar conhecimento (COHEN; LEVINTHAL, 1990) ou é uma combinação de esforço e bases de conhecimento (KIM, 1997, MOWERY; OXLEY 1996). A capacidade de absorção permite a firma mudar para corresponder à dinâmica do mercado (COHEN; LEVINTHAL, 1989, 1990; ZAHRA; GEORGE, 2002). Zahra e George (2002) reconceituaram essa abordagem tendo por base a perspectiva das capacidades dinâmicas da empresa tonando possível distinguir entre a capacidade potencial da empresa e a capacidade de realização. A nova abordagem visualiza a ACAP como uma capacidade dinâmica, que permite aumentar a capacidade de uma empresa para obter e sustentar vantagem competitiva baseada no conhecimento. Quanto a exploração do conhecimento, a habilidade para tal é um componente importante para capacidade de inovar. Cohen e Levinthal (1990) entendem que a capacidade de avaliar e utilizar conhecimentos externos é em grande parte relacionada ao conhecimento prévio, o qual pode incluir num nível mais elementar habilidades básicas e, num nível mais avançado, o conhecimento científico e tecnológico recente em uma determinada área. Cohen e Levinthal (1990) afirmam que para entender as fontes de capacidade de absorção de uma empresa, é preciso concentrar-se na 1 estrutura de comunicação entre a empresa e o ambiente externo e também entre as subunidades da organização bem como sobre o caráter e a distribuição de competências dentro desse ambiente. Esses autores enfatizam a facilidade ou dificuldade no processo de comunicação interna e também no nível de capacidade de absorção de uma organização, a qual não depende somente dos “porteiros”, depende também da experiência de indivíduos a quem o “porteiro” transmite a informação. Por assim entenderem, são enfáticos em afirmar que o conhecimento prévio permite a assimilação e exploração de novos conhecimentos. Desse modo, a acumulação de capacidade de absorção num período, permitirá sua acumulação mais eficiente na próxima. Isso deriva do fato da empresa ter desenvolvido alguma capacidade de absorção em uma área particular, o que permite acumular mais facilmente conhecimento necessário em períodos posteriores para explorar qualquer conhecimento externo disponível (COHEN; LEVINTHAL, 1990). Se a empresa possuir o conhecimento prévio relevante necessário para reconhecer o conhecimento externo como valioso, o próximo desafio que enfrenta é a forma de internalizá-la. A estrutura é importante, pois as firmas processam conhecimento, sendo que os membros da organização interagem não apenas como indivíduos, mas também como atores realizando papéis organizacionais (LANE; LUBATKIN, 1998). Método de investigação se pertinente A estratégia de pesquisa adotada foi a análise de casos múltiplos. Foram investigadas três propriedades produtoras de soja. As três propriedades rurais escolhidas são de grande porte que cultivam soja localizadas no município de Campo Novo do Parecis-MT que se destaca como quinto maior produtor de soja no estado de Mato Grosso e a nível nacional é o terceiro colocado na produção de grãos, conforme dados do IBGE (2010) e também de Nascimento (2012). Os empreendimentos pesquisados mantêm características familiares, tem em sua estrutura de governança a presença do proprietário e sua esposa na maioria dos casos e são de grande porte. São enquadradas como propriedade rural de grande porte, conforme define a Resolução nº 4.174, de 27 de dezembro de 2012 do Banco Central, a que possui renda anual acima de R$ 800.000, 00. O critério de seleção se deu por indicação da entidade de classe representativa desse setor – o Sindicato Rural do município, a partir da indagação de quais propriedades rurais são as que atingem maior produtividade. O estudo apoiou-se em dados primários e secundários. Os dados primários foram coletados por meio de entrevista estruturada com os gestores/proprietários, com base em um roteiro de entrevista utilizado, adaptado de Padilha (2009) que estudou o tema capacidade absortiva em propriedades rurais. Primeiramente os respondentes foram indagados quanto a aspectos característicos das propriedades e na sequencia sobre a capacidade de absorção. Em relação a capacidade absortiva, esta foi agrupada em subtemas e estes em categorias para facilitar a coleta de dados e posterior análise conforme segue: a) trajetória e antecedentes, b) necessidade de aprender, c) efeitos do mercado/ambiente na gestão, d) fatores internos que influenciam a ACAP, e) resultados da ACAP. Para facilitar o tratamento dos dados, utilizou-se o software para pesquisa qualitativa destinado a análise de conteúdo, o NVivo versão 10, o qual é meio válido para examinar dados qualitativos. O programa não dispensa envolvimento do pesquisador, pelo contrário, o que contribui aumentando o alcance e a profundidade das análises. A análise de conteúdo constitui um método de tratamento de comunicações e, softwares qualitativos como o NVivo facilitam e qualificam o processo de análise (FLICK, 2009). Resultados e contribuições do trabalho para a área Sobre a trajetória e antecedentes, quando indagados sobre o início do empreendimento rural, disseram que desde a infância tinham contato com a agricultura pelo fato de acompanharem o pai nas lavouras. Quanto ao conhecimento prévio sobre agricultura, este foi primordial ao se 2 instalarem no Mato Grosso, sendo por vezes necessário adaptá-lo em face das diversidades climáticas, de solo e estruturais dentre outras. Observa-se que o conhecimento prévio nos casos estudados, facilitou a implementação de práticas lucrativas (LENOX; KING, 2004) e que o recurso conhecimento permite o desenvolvimento de capacidades únicas para realizar atividades (LANE; LUBATKIN, 1998). É consenso entre os pesquisados a necessidade em buscar constantemente novos conhecimentos nas áreas de gestão da propriedade rural, mercado da soja, tendências em função das mudanças constantes. Já visitaram outros países, no entanto ponderam que a realidade brasileira em termos estruturais é diferente e por isso, pouco do que veem lá pode ser aplicado aqui. Nesse caso não reconheceram o valor da informação (COHEN; LEVINTHAL, 1990) e assim julgaram irrelevante. Participam de feiras locais e regionais, Dias de Campo promovidos pela Fundação-MT. Quanto aos efeitos do mercado/ambiente na gestão no que se refere aos consumidores/compradores, nessas propriedades são as empresas que exportam matéria-prima (principalmente soja e algodão), constatou-se que há algumas exigências sobre requisitos sociais e ambientais a serem atendidos e para tanto, existem certificações que garantem o atendimento destes. Observa-se que a capacidade de absorver conhecimentos permite a organização mudar para corresponder as transformações (COHEN; LEVINTHAL, 1990; ZAHRA; GEORGE, 2002). Quanto aos resultados, o que se denomina dentro da capacidade absortiva como exploração, verificou-se que uma das fazendas se destaca em relação aos demais na produtividade no cultivo do algodão. O fato de envolver os membros internos permitiu melhorar a qualidade do solo, a adubação, adoção de tecnologias diferentes. O segundo caso pesquisado se diferencia a quanto a integração lavoura pecuária (a terra é utilizada tanto para produção animal quanto vegetal por meio de revezamento). No terceiro caso o que torna a fazenda diferente as outras, foi citado o processo de diversificação de culturas, ou seja, o cultivo de outros produtos além da soja para as próximas safras. Conforme observado, quanto a trajetória e antecedentes, os agricultores pesquisados tem em comum o conhecimento prévio (experiência) na agricultura, o qual foi determinante para iniciarem seus empreendimentos agrícolas no Mato Grosso. Também foi constatado que necessitam no seu trabalho buscarem novos conhecimentos por conta das tecnologias que precisam ser incorporadas e que lhes garantem produtividade. Para tanto, participam de feiras, Dias de Campo e contatam instituições como o SENAR-MT. A disseminação das informações obtidas, quando estas são buscadas pelo agrônomo e/ou proprietário, após avaliarem se é aplicável a sua realidade ou não em termos de custo beneficio, são compartilhadas no dia a dia de trabalho e flui do proprietário e/ou agrônomo para o gerente encerrando nos trabalhadores operacionais, tendo para isso, uma estrutura de comunicação eficiente. Sobre o processo de assimilar informações para obterem resultados como apresentado pela ACAP, verificou que as propriedades se diferenciam umas das outras quanto às habilidades adquiridas no decorrer do tempo que lhe conferem diferenciais e isso foi conseguido com a participação de todos os envolvidos: proprietário, agrônomo, gerente e trabalhadores, o que fecha o ciclo relativo a capacidade se absorverem novos conhecimentos que se inicia com reconhecer o valor, adquirir, assimilar, transformar e explorar. Tendo em vista o exposto, ou seja, as análises realizadas, a finalidade deste estudo que teve como objetivo analisar como acontecem os processo relativos a assimilação de novas tecnologias nas propriedades rurais do Centro Oeste brasileiro, foi alcançado, evidenciando como ocorre tal processo em termos de fontes, partes envolvidas e fluxo de informações. Referências bibliográficas COHEN, W LEVINTHAL, D. Absorptive capacity: a new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, v. 35, n. 1, p. 128–152, 1990. LANE, P. J. 3 LUBATKIN, M. Relative absorptive capacity and interorganizational learning. Strategic Management Journal, v. 19, n. November 1996, p. 461-477, 1998. VIEIRA FILHO, J. E. R. VIEIRA A. C. P. A inovação na agricultura brasileira: uma reflexão a partir da analise dos certificados de proteção de cultivares. Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica. Aplicada.Brasília : Rio de Janeiro : Ipea , 2013. VIEIRA FILHO, J. E. R. DA SILVEIRA, J. M. F. Mudança tecnológica na agricultura: uma revisão crítica da literatura e o papel das economias de aprendizado. Revista de economia e sociologia rural, v. 50, n. 4, p. 717-738, out./dez. 2012. ZAHRA, S., GEORGE, G. Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 2002, p. 185–203. 4