LIDERANÇA AUTÊNTICA Bill George afirma que o mundo necessita de novas lideranças. Para o especialista, a geração que vai comandar as empresas nas próximas décadas deve fugir do modelo de controle e comando forjada ao longo do século 20. “Agora temos um século global, diferente. No passado, tivemos duas guerras mundiais, a Grande Depressão e outros acontecimentos. O que funcionava naquela época era um modelo militar de liderança”, afirmou. Na opinião do especialista, um gestor precisa se cercar de pessoas que saibam mais do que ele. Deve sabe delegar, alinhar, servir e criar colaboração, além de ter paixão pelo próprio trabalho. Alinhar as pessoas em torno da missão e dos valores é uma das funções mais importantes do líder. Numa empresa global, isso é desafio, pois os valores têm de estar em todas as partes e as pessoas devem se comprometer com eles. Os verdadeiros líderes devem saber que liderança tem a ver com servir, ou seja, manter o cliente satisfeito e criar espírito de colaboração. Delegar e dar poder (empower) são papéis do líder do século 21. George explicou que exercer poder sobre as pessoas não funciona, se a meta é conseguir alto desempenho. “As empresas precisam de milhares de líderes espalhados pela organização”, resumiu. Às vezes, porém, há líderes que não têm ninguém que se reporte a eles. Ele citou o caso de uma funcionária da Medtronics, que fabricava mil válvulas para coração por ano – o dobro da média– com qualidade superior à média. Ao perguntar para a trabalhadora o que a motivava, ouviu: “Penso nas vidas que posso salvar, mas também penso que esta válvula teria de servir para meu pai, meu marido ou meu filho, e não posso aceitar falhas, pois sei que podem significar a morte e não conseguiria conviver com isso”. George foi taxativo: “Ela é uma verdadeira líder. E não tem nenhum subordinado”. O palestrante terminou sua apresentação falando sobre as sete lições que aprendeu sobre crises nos últimos anos: 1) Enfrente a realidade. Há muitos lideres que se recusam a isso e culpam os outros. A primeira coisa é olhar o espelho: é você quem está fracassando. 2) Não tente carregar o mundo nas costas. Procure auxílio na sua equipe e mostre sua vulnerabilidade. As pessoas não vão recusar ajudá-lo. 3) Busque a raiz dos problemas. Se cortarmos a erva daninha superficial, ela cresce de novo. Devemos tratar a causa e não apenas o sintoma. 4) Prepare-se para o longo prazo. É como uma tempestade no mar: você pode achar que vai passar logo, mas algumas podem durar muito tempo. 5) Nunca desperdiçe uma boa crise. Não pense na crise como a GM fez. Use-a para transformar sua organização, para torná-la competitiva no futuro. 6) Não jogue na defensiva, parta para o ataque. Foi o que fez a Apple. Quando Steve Jobs voltou à companhia, o grupo estava em crise. Mas Jobs partiu para o ataque: lançou o iMac, mudou o ramo da música com o iPod e o iTunes, e, agora, está transformando o mundo da telefonia com o iPhone. Por isso, enquanto seus concorrentes se escondem, crie condições e invista para ter melhor desempenho mais adiante. 7) Faça agora o que puder para mudar a vida das pessoas ao redor. Imagine se, no final de sua vida, sua neta perguntar o que você fez para mudar o mundo. A hora de pensar sobre esse legado é agora e não no leito de morte. Não existe nada mais satisfatório do que poder dizer: “eu fiz diferença no mundo”. O especialista respondeu à pergunta em uma verdadeira aula de como assumir um papel relevante dentro de organizações e da sociedade. O pesquisador se dirigiu à plateia e provocou: “Gostaria que vocês pensassem em seu papel como líderes e o que estão fazendo para que o mundo seja um lugar melhor”. Para George, Iiderança vai muito além de ganhar dinheiro: “É usar nossos talentos para ajudar os outros e melhorar o planeta”. O professor de Harvard usou, como outros palestrantes, a crise econômica mundial para explicar a verdadeira natureza de um líder. “Não dá para ensinar liderança. A única maneira de aprender a ser líder é liderando”, ressaltou, para arrematar: “As empresas se omitiram durante muitos anos e agora estamos numa crise interior. Novas lideranças surgirão dessa crise”. Bill George citou o presidente da GE, Jeff Inmelt, para definir o que é liderança. Segundo o executivo, “È uma jornada longa dentro da sua própria alma”. Os estudos do professor mostraram que muitos líderes fracassam porque não sabem quem são. “Você precisa ser testado quando o mar está agitado e não na calmaria. Precisa buscar seus valores, suas crenças sobre quem você é num nível mais profundo, além de se conscientizar sobre como reage sob pressão”, ensinou. Em sua visão sobre as causas da crise, George considerou o caos econômico como fruto de uma falha de liderança. “Todos dizem que o problema da crise é no setor imobiliário e um problema de ganância. Mas a ganância existe desde a Grécia Antiga. As organização fracassaram na liderança.” Na avaliação do especialista, a falência da GM, por exemplo, não aconteceu de uma hora para outra. O prenúncio ocorreu há 30 anos. A liderança não enfrentou o problema e se norteou em uma única meta, a de criar valor ao acionista. “O próprio Jack Welch, um campeão em gerar valor aos acionistas, declarou que esse objetivo, como estratégia, é uma besteira. O foco tem de ser no funcionário, nos clientes e nos produtos”, completou. Bill George citou o caso da empresa da qual foi presidente, a Medtronics, fabricantes de produtos médicos que, durante sua gestão, saltou de US$ 1 bilhão para US$ 60 bilhões em termos de valor de mercado. “Conseguimos isso, porque o nosso foco era o cliente, ou seja, os pacientes”. O palestrante contou que, na visão do fundador da companhia, o paciente estar saudável era sinônimo de missão cumprida. “O valor do acionista, como o Jack Welch já disse, é apenas o resultado”, concluiu. Mas o que define um líder autêntico? George explicou que há três qualidades. Em primeiro lugar, o líder preciso saber aonde vai. Ou seja, saber quem ele mesmo é, quais são seus valores. Isso leva ao segundo fator: é preciso praticar seus valores todos os dias. “Não só viver com a cabeça, mas também com o coração”, afirmou. Essa conduta ajuda a estabelecer relações de longo prazo, nas quais as pessoas têm confiança. E, terceiro, gerar resultados, desde que sabendo conferir poder para as pessoas.