www.ricardoalmeida.adm.br Administração de produto 1. O que é produto Geralmente, as pessoas não estão propensas a consumir aquilo que nem sequer sabem se existe ou o que é. Portanto, a primeira etapa do processo de compra é a consciência de que o produto existe e o que é. Existe o caso de uma senhora que, apesar de residente numa grande metrópole, nunca estivera numa estação de metrô ou num shopping center e, assim, não conhecia ainda uma escada rolante. Pois bem, essa senhora, quando assistia pela televisão a cenas com pessoas deslocando-se de um piso a outro pelas escadas rolantes, ficava a se perguntar: como é que esse pessoal da televisão faz para que o chão ande e as pessoas subam pelas paredes? Moral da história: sem saber quais as necessidades que as características e o funcionamento de um produto podem atender, jamais compreenderemos a sua finalidade e associá-lo à satisfação de uma idêntica necessidade nossa, quanto mais nos interessarmos pela sua compra. Dessa forma, recebendo informação adequada e clara, o consumidor em potencial saberá que o produto existe e compreenderá quais são suas características básicas. Mas o que é um produto? Um produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo. Os produtos comercializados incluem bens físicos, serviços, experiências, pessoas, lugares, títulos patrimoniais, organizações, informações e idéias. Todos esses tipos de produtos são oferecidos ao mercado para satisfazer a uma necessidade ou desejo do ser humano. Toda vez que uma pessoa passa por um estado de carência, sede por exemplo, sente uma necessidade que se manifesta por meio de diferentes tipos de desejos (água, refrigerante, cerveja etc.) e, para satisfazêlos, estará disposto a fazer um esforço, que tem custos financeiros, de tempo, físicos, sociais etc. Vamos ver, então, o significado de cada tipo de produto que pode ser utilizado para satisfazer desejos e necessidades. Bem físico: O bem físico é o produto tangível que pode ser apalpado, cheirado, apertado etc. É uma solução para uma necessidade ou desejo específico, e a pessoa só compra porque ele tem uma finalidade. Por exemplo: o martelo é a solução para pregar um quadro na parede. Serviço: O serviço é o produto em que a pessoa não leva nada físico com ela. São os bens intangíveis, que não podem ser vistos antes de serem adquiridos. Por exemplo: numa aula a pessoa não leva nada físico, mas obtém algo intangível, no caso, a aprendizagem. Administração Mercadológica 07 1 www.ricardoalmeida.adm.br Experiência: Uma experiência também é um produto. Por exemplo: ter a oportunidade, como hobbista de gastronomia, de conviver com um chef famoso, durante um fim de semana e, com esta convivência, aprender receitas e dicas, trocar idéias com esse ídolo e sentir-se um pouco como ele. Pessoa: Entre pessoas e personalidades temos o marketing pessoal, ou seja, o desenvolvimento da imagem de um funcionário, artista, cantor, escritor, consultor etc., que se oferece como resposta a necessidades de mercado. Lugar: Um lugar também pode ser um produto. Uma cidade, região, Estado ou país que deseje atrair turismo. Por exemplo: na virada do milênio diversas cidades se oferecem como o lugar ideal para passar o reveillon – Paris, Londres, Nova Iorque, Rio de Janeiro etc. Título patrimonial: Um produto também pode ser um título patrimonial, que é um direito de propriedade de bens imóveis e financeiros, como ações. Organização: As organizações desenvolvem problemas para manter uma boa imagem corporativa e reconhecimento público de sua responsabilidade social. Informação: Informações também podem ser produzidas e comercializadas como produtos, principalmente nessa nova era em que a sua oferta e uso são tão grandes. Idéia: A idéia representa uma proposta ou conceito a ser defendido. Um exemplo é o das ONGs (Organizações Não Governamentais), que têm como base uma idéia de fundo social – combate do desemprego, proteção da Mata Atlântica, assistência veterinária para cães de rua – e buscam outras pessoas que tenham essa idéia em comum para solicitar trabalho e contribuições voluntárias. 2. Níveis de produto Agora que já sabemos o que é um produto e também conhecemos seus diversos tipos, vamos discutir sobre os seus níveis. Ao planejar sua oferta ao mercado, o profissional de marketing precisa pensar em cinco níveis de produto. Cada um agrega mais valor para o cliente e, juntos, constituem uma hierarquia de valor. Benefício Central: Constitui o benefício ou serviço fundamental que realmente está sendo comprado. Produto Básico: Representa a transformação do benefício em um pacote tangível, que entrega o benefício. Administração Mercadológica 07 2 www.ricardoalmeida.adm.br Produto Esperado: São condições e atributos que normalmente os clientes esperam receber quando compram o produto. Produto Ampliado: Corresponde a uma série adicional de ofertas que tornam o produto ainda mais atrativo, agregando mais valor e excedendo as expectativas. Produto Potencial: Inclui todos os aumentos e modificações possíveis de se realizar sobre o produto. É o nível maior de agregação de valor, em que as empresas podem buscar novas alternativas que possam encantar o cliente, além de satisfazê-lo. Vamos ver um exemplo prático de níveis de produto. Imagine um hotel e os serviços que ele pode prestar aos seus clientes. Benefício central → seria o nível fundamental e o benefício central: um quarto para descansar e pernoitar. Produto básico → o profissional de marketing deve transformar o benefício central em produto básico. Assim, o quarto de hotel inclui cama, banheiro, toalhas, escrivaninha, penteadeira e armário. Produto esperado → nesse nível o profissional de marketing prepara o produto esperado: cama arrumada, toalhas limpas, lâmpadas que funcionem, relativo grau de tranqüilidade etc. Produto ampliado → tudo o que excede as expectativas do cliente: um aparelho de TV com controle remoto, flores frescas, registro rápido, check-out expresso, boas refeições, serviço de quarto etc. Produto potencial → inclui ações que procuram novas maneiras de satisfazer o cliente e se diferenciar: suítes especiais com uma série de quartos, doces sobre o travesseiro, bandeja de frutas, aparelho de vídeo com fitas opcionais etc. Estes cinco níveis de produto são o referencial do administrador de marketing para aumentar a oferta de valor agregado a seus clientes. Com o nível de competição que encontramos hoje no mercado, cada vez mais a disputa ocorre por meio de ações ligadas aos dois últimos níveis (produto ampliado e produto potencial). Encontramos, por exemplo, churrascarias que vão buscar seus clientes de van nos hotéis, lojas de confecções que mandam um alfaiate e costureiras à casa ou ao escritório do cliente para preparar seus ternos, pet shops que oferecem cursos de nutrição animal, empresas de eventos que organizam todos os detalhes de um casamento, supermercados que oferecem cursos de culinária e muito mais. A luta pelo consumidor nunca pára e vence aquele que consegue oferecer maior valor, sem onerar tanto seus custos. O profissional de marketing deve se perguntar se os clientes pagarão o suficiente para cobrir os custos extras, considerando que os benefícios extras logo se tornarão benefícios esperados e outros deverão ser criados e, além disso, alguns concorrentes podem oferecer uma versão mais simples a um preço mais baixo. Administração Mercadológica 07 3 www.ricardoalmeida.adm.br 3 - Classificações de produto As empresas têm classificado tradicionalmente os produtos em termos de características, já que cada tipo de produto tem uma estratégia apropriada de mix marketing. Uma das classificações diz respeito à durabilidade e tangibilidade dos produtos, que podem ser distribuídos em três grupos: bens não-duráveis, bens duráveis e serviços. Os bens não-duráveis são produtos tangíveis que normalmente são consumidos rapidamente ou usados poucas vezes. Geralmente são produtos baratos, que o cliente compra com freqüência. Os bens duráveis são bens tangíveis que normalmente são usados por períodos mais longos e de preço mais alto. O risco da compra é maior, já que o cliente pode gastar muito dinheiro por um produto que não dura tanto quanto ele esperava ou que não faz tão bem quanto ele gostaria. Geralmente são produtos mais complexos e, portanto, o cliente precisa encontrar, assimilar e avaliar muita informação para resolver suas dúvidas antes de decidir pela compra. Os serviços possuem características próprias que os tornam um grupo à parte. O serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta em propriedade. Eles são intangíveis, porque não podemos tocá-los, só sabemos o que realmente recebemos depois que aconteceu sua execução. Por exemplo: quando contratamos os serviços de um pintor, só vamos saber se foi bom depois que ele pintou a casa ou, quando compramos um pacote de viagem em uma agência de turismo, só poderemos saber se o serviço foi bom depois que voltamos. São inseparáveis, já que não podemos separar sua produção do seu consumo. Não podemos estocar cortes de cabelo, por exemplo, para serem consumidos posteriormente, conforme a necessidade. Em conseqüência, a capacidade de atendimento da demanda é mais limitada. Ao contrário do fabricante de ovos de Páscoa, que pode produzir e estocar seus produtos bem antes da Páscoa, um hotel, que vende o serviço de hotelaria, a cada dia pode oferecer apenas o número máximo de quartos de que dispõe. Agora que você já sabe como é feita a classificação dos produtos segundo sua durabilidade e tangibilidade, vamos ver como deve ser a estratégia de marketing para cada uma delas. Para os bens não-duráveis a estratégia é tornar os produtos disponíveis em muitos locais, ter uma pequena margem de lucro no varejo, anunciar maciçamente para induzir à experimentação e ganhar a preferência do consumidor. O preço dos produtos deve ser acessível para que, com a repetição das compras, a empresa ganhe volume e gere um lucro alto. Para os bens duráveis a estratégia é usar a venda pessoal, trabalhar com uma margem de lucro mais alta e fornecer garantias de troca, manutenção, assistência técnica etc. por parte do fabricante. Administração Mercadológica 07 4 www.ricardoalmeida.adm.br O cliente deve obter muitas informações sobre o produto para resolver suas dúvidas antes de decidir a compra. Além disso, deve-se mostrar uma boa relação custo x benefício. Já para os serviços a estratégia é usar um controle de qualidade mais apurado, credibilidade de fornecedor e adaptabilidade. Além disso, existe um treinamento contínuo e padronizado para todos os funcionários. Ainda sobre a classificação por durabilidade e tangibilidade, é importante comentar que, nos bens não-duráveis, a comunicação deve buscar criar uma associação forte entre o produto e a necessidade, para que o consumidor, ao sentir a necessidade, logo tenha desejo pelo seu produto. Como exemplo temos o refrigerante Coca-Cola. Seu consumo ocorre de forma repetida, em unidades pequenas e de preço baixo. A propaganda cria a associação entre o produto e as situações em que a pessoa sente sede, em particular momentos de alegria, de festas, de comemorações, entre amigos, em família etc. A distribuição extensiva e pulverizada garante que o consumidor não precise andar muito para encontrar a satisfação de sua necessidade – a cada esquina existe um ponto que vende o produto. Já nos bens duráveis, a comunicação tem uma participação especial nas estratégias, uma vez que o cliente deve se sentir seguro e bem informado sobre o produto a ponto de decidir efetuar a compra. Aqui o importante não é ter tantos pontos de vendas quanto para produtos nãoduráveis, mas sim que no ponto existam vendedores treinados para atender bem e responder a dúvidas. Uma outra classificação utilizada em produtos diz respeito aos hábitos de consumo. Existe uma grande variedade de bens de consumo, o que permite uma outra forma de classificação baseada nos hábitos de compra do cliente para melhor estabelecer estratégias de marketing. Podemos distinguir entre bens de conveniência, de compra comparados, de especialidade e não-procurados. Os bens de conveniência são aqueles que o consumidor compra com freqüência, imediatamente e com um mínimo de esforço. Exemplos: cigarros, sabonetes, jornais, chiclete, chocolate etc. Eles podem ser subdivididos em três categorias: os básicos são aqueles comprados regularmente e geralmente da mesma marca (biscoito Bauducco e ketchup Cica); os bens de impulso são comprados sem qualquer planejamento nem esforço de busca, e geralmente são colocados em locais de fácil acesso, como próximos ao caixa (chocolates e chicletes); e os bens de emergência são comprados quando há uma necessidade urgente e, por isso, devem ser colocados em vários pontos de venda para que o cliente possa encontrá-lo quando precisar (guarda-chuva numa tempestade e lanterna durante um blecaute). Os bens de compra comparados são bens que o cliente, durante o processo de seleção e compra, compara em termos de adequação, qualidade, preço e modelo. Exemplos: móveis, vestuário, carros usados e os principais eletrodomésticos. Administração Mercadológica 07 5 www.ricardoalmeida.adm.br Eles podem ser divididos em duas categorias: bens de compra homogêneos, que são semelhantes em qualidade mas têm diferenças significativas no preço para justificar as comparações de compra; e bens de compra heterogêneos, que diferem em aspectos do produto e serviços e podem ser mais importantes que o preço. Os bens de especialidade são bens com características singulares ou identificação de marca, pelos quais um número suficiente de compradores está disposto a fazer um esforço extra de compra. Exemplos: carros, equipamentos de som, equipamento fotográfico, ternos masculinos etc. Os compradores investem tempo e energia para chegar aos revendedores e estes não precisam, necessariamente, estar convenientemente localizados. Contudo, devem deixar clara sua localização aos compradores potenciais. Os bens não procurados são bens que o consumidor não conhece ou normalmente não pensa em comprar. Exemplos: detectores de fumaça, seguros de vida, jazidos perpétuos, lápides, enciclopédias etc. Resumindo, a estratégia de marketing dos bens de conveniência tem foco na distribuição; dos bens não procurados na comunicação e na informação; dos bens de especialidade no atendimento; e dos bens de compra comparados na comunicação. Os bens de consumo são comprados pelo cliente final, que vai utilizá-lo para satisfazer a uma necessidade própria. Portanto, para desenvolver uma estratégia de marketing adequada, em primeiro lugar é preciso conhecer esse consumidor e saber como ele desenvolve e satisfaz suas necessidades. Há mais uma classificação de produtos que se refere aos bens empresariais. Eles podem ser classificados de acordo como eles entram no processo de produção e de seu custo relativo. Esses bens são adquiridos por empresas e organizações que não compram para consumo ou uso próprio, como acontece com os bens de consumo, mas sim visando obter lucro por meio deles para garantir sua sobrevivência. É preciso, portanto, conhecer essas empresas e seus processos para que sejam oferecidas soluções que agreguem valor e que permitam que ela tenha lucro. Podemos distinguir três grupos: materiais e peças, bens de capital e suprimentos e serviços. Materiais e peças são bens que entram no processo de fabricação dos produtos manufaturados. A empresa os compra para incorporá-los a seu produto final e espera que com eles possa obter maior demanda ou melhor preço e, em conseqüência, maior lucro. Eles dividem-se em duas classes: matérias-primas e materiais e peças manufaturados. A matéria-prima divide-se em duas classes principais: produtos agropecuários (trigo, algodão, gado, frutas, legumes etc.) e produtos naturais (peixes, madeira, óleo cru, minério de ferro etc.) Administração Mercadológica 07 6 www.ricardoalmeida.adm.br Os materiais e peças manufaturados também dividem-se em duas categorias: materiais componentes (ferro, fibras têxteis, cimento etc.) e peças componentes (pequenos motores, pneus, peças moldadas etc.). Os bens de capital são bens de maior duração que facilitam o desenvolvimento ou o gerenciamento do produto acabado. Eles estão divididos em dois grupos: instalações e equipamentos. As instalações consistem em construções (fábricas, escritórios etc.) e equipamentos, que podem ser geradores, prensas, computadores de grande porte, elevadores etc. Os equipamentos correspondem a máquinas e ferramentas portáteis de fábrica (ferramentas de mão, empilhadeiras etc.) e equipamentos de escritório (microcomputadores, mesas de trabalho etc.). Os suprimentos e serviços empresariais são bens de curta duração que facilitam o desenvolvimento ou gerenciamento do produto acabado. Existem dois tipos de suprimentos: suprimentos operacionais (lubrificantes, carvão, papel para escrever, canetas etc.) e suprimentos de manutenção e reparos (tinta, pregos, vassouras etc.). Os serviços empresariais incluem: serviços de reparo e manutenção (limpeza de janelas, consertos de copiadoras etc.) e serviços de consultoria empresarial (consultoria jurídica, gerencial e de propaganda). Vamos ver a seguir quais estratégias são mais eficazes para cada tipo de produto, segundo Philip Kotler. Produtos agropecuários: Os produtos agropecuários são fornecidos por muitos produtores que os repassam a intermediários que, por sua vez, fornecem serviços de estocagem, classificação, armazenagem, transporte e venda. Sua natureza perecível e sazonal exige práticas de marketing especiais. Seu caráter de commodity resulta em relativamente pouca atividade publicitária e promocional, com algumas exceções. Às vezes, grupos de produtores poderão lançar campanhas a fim de promover seus produtos – leite, batata, ameixa – enquanto outros atribuem marcas a seus produtos – laranjas Sunkist, bananas Chiquita. Produtos naturais: Diferentemente dos produtos agropecuários, os produtos naturais têm um fornecimento limitado, normalmente são vendidos a granel, têm baixo valor unitário e devem ser transportados do produtor ao usuário, onde um pequeno número de grandes produtores normalmente os comercializa diretamente aos usuários empresariais. Como os usuários dependem desses materiais, os contratos de fornecimento de longo prazo são comuns. A homogeneidade dos materiais naturais limita a atividade de criação de demanda e a confiabilidade de preço e entrega são os fatores que mais influenciam a seleção de fornecedores. Administração Mercadológica 07 7 www.ricardoalmeida.adm.br Materiais e peças componentes: A natureza padronizada dos materiais e das peças componentes normalmente significa que o preço e a confiabilidade do fornecedor são fatores-chave de compra. A maioria desse tipo de bem é vendida diretamente aos usuários empresariais, sendo os pedidos muitas vezes feitos com um ano ou mais de antecedência. Portanto, preço e serviço são as considerações principais de marketing, enquanto a gestão da marca e a propaganda tendem a ser menos importantes. Instalações: As instalações são compras mais importantes, feitas diretamente do fornecedor e, em geral, a venda é precedida por um longo período de negociação. A força de vendas do fornecedor inclui o pessoal técnico e os fornecedores devem estar dispostos a adequar projetos à especificações e a fornecer suporte pós-venda. A propaganda é muito menos importante que a venda pessoal. Equipamentos: Os equipamentos não se tornam parte de um produto acabado. Eles têm uma vida mais curta que as instalações, porém uma vida mais longa que os suprimentos de operação. Embora alguns fabricantes de equipamentos façam vendas diretas, geralmente usam intermediários, visto que o mercado é geograficamente disperso, os compradores são numerosos e os pedidos são pequenos. Qualidade, atributos, preço e serviços são os principais elementos a considerar. A força de vendas tende a ser mais importante que a propaganda, embora essa possa ser usada de maneira eficaz. Suprimentos: Os suprimentos são o equivalente dos bens de conveniência. São normalmente comprados com o mínimo de esforço em uma base direta de recompra e, em geral, são comercializados por intermediários, devido ao seu baixo valor unitário e ao grande número de clientes dispersos geograficamente. O preço e os serviços são considerações importantes porque esses produtos são padronizados e a preferência pela marca não é alta. Serviços empresariais: Os serviços de reparos e manutenção em geral são fornecidos por pequenas empresas especializadas ou pelos fabricantes do equipamento original, enquanto os serviços de consultoria empresarial são normalmente procurados com base na reputação e na equipe de fornecedores. 4 - Mix de produtos Um mix de produtos, também chamado de sortimento de produtos, é o conjunto de todos os produtos e itens que um vendedor põe à venda. Por exemplo: o mix de produtos da Kodak consiste em duas fortes linhas de produtos – produtos de informação e produtos de imagem. Já a Michelin possui três linhas de produtos – pneus, mapas e serviços de classificação de restaurantes. A Parmalat apresentou crescimento muito rápido, tornando-se uma das maiores empresas alimentícias do Brasil em pouco mais de uma década. Apesar de hoje Administração Mercadológica 07 8 www.ricardoalmeida.adm.br (2004) sua matriz estar envolta em uma crise financeira, sua história no Brasil é muito interessante. Depois de construir uma imagem forte na linha de leites com as campanhas dos “Mamíferos”, ela estendeu sua marca para outras categorias. Veja sua lista de produtos. Extensão e Profundidade de Composto de Produtos selecionados da Parmalat Extensão P r o f u n d i d a d e Leite Longa Biscoitos Vida Biscoito de Leite com Parmalat Integral Recheio de Chocolate Parmalat SemiVitaminado Desnatado Biscoito de Leite com Parmalat Coco Vitaminado Desnatado Recheado Vitaminado Parmalat Dietalat Morango Wafer Morango/ Wafer Parmalat Light Parmalat Lactose Chocolate Palitos de Chocolate Reduzida Coberto de Chocolate Alimba SemiBiscoito Água e Sal Mariadesnatado Vitaminado Alimba Desnatado Massas Spaghetti Spaghettini Fettuccine Cavatappi Farfalle Fusilli Penne Rigate Rigatoni Cereais Parmalat Derivados de Tomate Cereal de Milho Polpa de com Chocolate Tomate Choco Bol Molho de Cereal de AveiaTomate c/ Tomate sem marshmallows pele em Corn Flakes pedaços Biscoito Maizena Vitaminado Fonte: P. Gayle Fuguitt, Marketing Research Director, Big “G” Division, General Mills O mix de produtos de uma empresa possui quatro características: abrangência, extensão, profundidade e consistência. • Abrangência: refere-se à quantidade de diferentes linhas de produto que a empresa oferece. • Extensão: refere-se ao número total de itens do mix. • Profundidade: refere-se à quantidade de opções que são oferecidas em cada linha de produto. • Consistência: refere-se à proximidade com que as várias linhas de produtos estão ligadas quanto ao uso final, às exigências de produção, aos canais de distribuição ou a algum outro critério. Quanto à consistência, podemos dizer que ela existe nesse mix de produtos, uma vez que os produtos envolvem bens de consumo não-duráveis, alimentícios, e que utilizam os mesmos tipos de canais de distribuição. As quatro dimensões do mix de produtos permitem à empresa expandir seus negócios de quatro maneiras: Administração Mercadológica 07 9 www.ricardoalmeida.adm.br • • • • ela pode adicionar novas linhas de produtos, ampliando assim a abrangência do seu mix; pode aumentar a extensão de cada linha de produtos; pode adicionar mais opções para cada produto e aprofundar seu mix; pode perseguir maior consistência na linha de produtos. Mas antes de tomar qualquer decisão sobre o seu mix de produtos, é importante que análises de viabilidade, de custo, de benefício, de retorno etc. sejam feitas, para que ações precipitadas não venham a gerar prejuízos depois de implantadas. Todas as ações devem ser precedidas de pesquisas e análises diversas, para que os riscos eminentes sejam diminuídos ao máximo. Vamos ver no próximo tópico algumas análises e decisões que devem ser consideradas em relação à linha de produtos. 5. Portfolio de produtos (matriz BCG) A matriz BCG foi desenvolvida em 1970, pelo Boston Consulting Group, sendo, ainda hoje uma das ferramentas mais utilizadas para análise de portfolio de produtos, tomando como base de sustentação a curva de experiência, se fundamentando em duas variáveis básicas: a fatia relativa de mercado e o crescimento da indústria. Tomando por base estes parâmetros a matriz BCG divide os produtos em quatro grandes grupos baseado na sua efetiva contribuição financeira atual e provável contribuição futura, determinada pelo seu potencial de crescimento e provável ganho de participação de mercado. Esta matriz é dividida em quatro quadrantes que simbolizam estes tipos de produtos chamados de: estrela, vaca leiteira (ou geradores de caixa), abacaxi (ou cachorro) e oportunidade (ou criança problema, ou ainda menino prodígio, incógnitas ou dilemas) cada um com características específicas. Administração Mercadológica 07 10 www.ricardoalmeida.adm.br Case Oggi O Oggi adotava a frente do Spazio com um grande porta-malas. Não fez muito sucesso, provavelmente por sua traseira alta e retilínea destoar bastante do conjunto. Lançado em 1983, saiu de linha em 1985. Como isso podemos notar que o produto pode nascer oportunidade e virar abacaxi sem sequer passar perto de estrala e vaca leiteira. Erros de estratégia de lançamentos de produtos são cometidos mesmo pelas grandes empresas. Ciclo de Vida Essa matriz trouxe consigo a idéia do ciclo de vida do produto que também contribui muito para o entendimento (leitura) da situação dos produtos da empresa e dessa forma contribui para uma melhor formulação de estratégias. Sendo assim na Introdução do produto no mercado nós teríamos o produto “oportunidade”, no crescimento o “Estrela”, na maturidade o “vaca leiteira” e no declínio o “abacaxi”. Podemos lembrar também que para que o ciclo continue em harmonia é necessário que a empresa tenha sempre um novo produto sendo introduzido no mercado para substituir aquele que entrou em declínio. Como antes da introdução do produto no mercado é necessário o seu desenvolvimento, e como na maturidade de um produto a empresa tem o seu melhor fluxo de caixa, se faz necessário nessa fase realiza os investimento no desenvolvimento de novos produtos ou ainda dependendo da situação realizar a reformulação desse produto com o objetivo de aumentar seu ciclo de vida. Administração Mercadológica 07 11 www.ricardoalmeida.adm.br Case Havaianas Tudo leva a crer que foi a Zori, sandália japonesa, a fonte de inspiração para a criação das sandálias Havaianas em 14 de junho de 1962. Mas a versão nacional trazia um diferencial: eram feitas de borracha. Um produto natural, 100% nacional e que garantia calçados duráveis e confortáveis. Era tão simples a idéia da nova sandália que sua fama se espalhou feito rastilho de pólvora. Em menos de um ano, a São Paulo Alpargatas fabricava mais de mil pares por dia, o que levou ao aparecimento das imitações. A concorrência bem que tentou...mas não contava com a qualidade das “legítimas”, as únicas que "não deformam, não têm cheiro e não soltam as tiras". Quem primeiro apresentou o produto, por muitos anos, foi Chico Anysio. Na década de 90, voltou em um dos anúncios do lançamento das Havaianas Top proclamando “Isso é amor antigo”. A simbiose entre o produto e o artista foi tão grande que houve um tempo em que se acreditava ser ele o dono da empresa. Em 1986 a Grendene lança a Rider que rapidamente vira moda e desbanca as Havaianas. Justamente por isso a SP Alpargatas muda a estratégia de produto e principalmente comunicação das Havaianas. Saiu Chico Anysio e entrou Thereza Collor, eleita, em uma pesquisa feita pela São Paulo Alpargatas, a musa do Nordeste. “Todo mundo usa Havaianas” era o tema da campanha, que foi ao ar logo depois com o ator Luis Fernando Guimarães. Ele flagrava personalidades como Vera Fisher, Malu Mader, Bebeto e Maurício Mattar usando as sandálias Hoje são fabricados cinco pares de sandálias Havaianas por segundo, o que dá 105 milhões de pares em um ano. Desde o seu lançamento, 2,2 bilhões de pares de sandálias Havaianas foram fabricados e vendidos. Alinhados os pés de tamanho 37, chega-se a quase 50 voltas de circunferência da Terra. E hoje chega-se a uma constatação: a cada três brasileiros, dois em média consomem um par de Havaianas por ano. No exterior são comercializadas por até 8 vezes seu preço original. Entre 1997 e 2004, elas se tornaram uma das principais marcas globais do Brasil. A São Paulo Alpargatas, teve sua ação valorizada em 325% em termos reais na Bolsa de Valores de SP. Modelo tradicional, modelo Top que foi remodelado para a nova fase do produto e modelo Brasil lançado na copa de 84. Administração Mercadológica 07 12 www.ricardoalmeida.adm.br 6 - Decisões de linha de produtos De modo geral, uma empresa oferece uma variedade de linhas de produto voltadas para diferentes mercados-alvo. A abrangência, profundidade e extensão irão depender do potencial e segmentação dos mercados, que serão escolhidos em função da consistência que for possível manter entre as linhas. Com maior consistência, existirão mais fatores em comum e maior sinergia entre as linhas, sendo possível à empresa explorar competências comuns. A Parmalat, por exemplo, partiu de sua reputação em leites para oferecer outros produtos alimentícios matinais e, depois, outros ligados à sua imagem italiana, atingindo os mercados de massas e molhos. A empresa deve gerenciar suas linhas de produto para que, de acordo com oportunidades e demandas de mercado, ela possa lançar novos produtos, modificar e atualizar os produtos existentes e retirar de mercado os que perdem demanda e se tornam obsoletos. O papel dos gerentes de linhas de produto deve ser semelhante ao de um detetive. Eles precisam conhecer as vendas e os lucros de cada item em sua linha para determinar quais deles deverão aumentar, manter, colher ou abandonar, além de entender o perfil de mercado de cada linha. Veja a seguir um exemplo de análise de vendas e lucros feita por Kotler. 50 40 Percentual de contribuição para vendas e lucros 30 Vendas 20 Lucro 10 0 1 2 3 4 5 Item de produto A figura nos mostra um gráfico de vendas e lucros de uma linha de produtos com cinco itens. O primeiro item é responsável por 50% do total das vendas e 30% do total do lucro. Os primeiros dois itens correspondem a 80% do total das vendas e a 60% do total do lucro. Se esses dois itens forem repentinamente atacados por um concorrente, as vendas e a lucratividade da linha poderão entrar em colapso. Uma alta concentração de vendas em poucos itens significa que a linha é vulnerável. Portanto, esses itens devem ser cuidadosamente monitorados e protegidos. Por outro lado, o último item contribui com apenas 5% das vendas e dos lucros da linha de produtos, logo, o gerente pode considerar o abandono desse item, a menos que ele tenha forte potencial de crescimento, afinal esse gráfico não pode nos dizer se esse não é o último lançamento da empresa, que acaba de atingir o mercado. Administração Mercadológica 07 13 www.ricardoalmeida.adm.br Sobre o perfil de mercado, o gerente de linha de produtos deve sempre rever a posição dos seus produtos em relação às linhas da concorrência. Para isso, ele pode elaborar um mapa de produtos que mostra quais itens do concorrente estão competindo com os seus itens, além de revelar as possíveis localizações para novos itens e identificar os segmentos de mercado. Com essas análises, o gerente deve considerar as decisões a respeito da extensão, da modernização, da caracterização e da redução da linha de produtos e planejar as estratégias de marketing corretas. Uma outra análise importante sobre a linha de produtos diz respeito à sua extensão. A regra é a seguinte: uma linha de produtos é pouco extensa se o acréscimo de itens aumentar os lucros ou é muito extensa se os lucros puderem ser aumentados pela redução de itens. Os objetivos da empresa influenciam a extensão da linha de produtos. Por exemplo, empresas que buscam grande participação e rápido crescimento de mercado preferirão linhas mais extensas. Já as empresas que enfatizam a alta lucratividade adotarão linhas mais reduzidas que consistirão em itens cuidadosamente escolhidos. As linhas de produtos tendem a ser expandir com o tempo, já que o excesso de capacidade de fabricação, a força de vendas e os canais de distribuição pressionam o gerente a desenvolver novos itens. Porém, é preciso considerar que a expansão da linha gera aumento de custos, logo, análises profundas de custo x benefício devem ser feitas antes de qualquer expansão. A modernização ocorre em tudo que possamos imaginar, e com as linhas de produtos não poderia ser diferente. Elas precisam ser modernizadas. A questão que se coloca é se a linha deve ser renovada gradualmente ou de uma só vez. Uma abordagem gradualista permite à empresa ver como os clientes reagem ao novo estilo e é mais econômica, porém, permite que os concorrentes vejam as mudanças e comecem a redesenhar suas próprias linhas. Em mercados de produtos em rápida mudança, a modernização é realizada continuamente e as empresas planejam melhorias para incentivar a migração de clientes para itens de maior valor e preço mais alto. Um problema importante é programar a introdução das melhorias para que não sejam precoces nem tardias. Uma última análise sobre a linha de produtos refere-se à promoção e redução da linha. O gerente costuma selecionar um ou um pequeno número de itens da linha para promover, e em outras ocasiões, ele destaca um item do segmento superior do mercado, para dar prestígio à linha de produtos. Algumas vezes, uma empresa acha que parte de sua linha está vendendo bem e outras não. Com isso, ela pode tentar aumentar a demanda dos itens que vendem menos, especialmente se forem produzidos em uma fábrica que esteja parcialmente inativa por falta de demanda. Os gerentes de linha devem rever periodicamente seus produtos para realizar cortes quando necessário, uma vez que a linha pode incluir mercadorias invendáveis que Administração Mercadológica 07 14 www.ricardoalmeida.adm.br estejam prejudicando as vendas totais. Os itens fracos podem ser identificados pela análise de vendas e lucros, que vimos anteriormente. Uma outra ocasião para cortes acontece quando a capacidade de produção da empresa está comprometida. Uma saída seria reduzir os itens de suas linhas em períodos de forte demanda e estender suas linhas em períodos de baixa demanda. 7 - O que é marca Segundo Philip Kotler, marca é um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação deles, que pretende identificar os bens ou serviços de um ofertante e diferenciá-lo dos concorrentes. Ela é, portanto, a identificação de um produto. A marca cumpre funções muito importantes tanto para o consumidor como para o fabricante. Ela resume uma série de informações que o consumidor gastou tempo e esforço para obter, e permite que ele volte e compre de novo aquilo que gostou, gerando a fidelização. Para o fabricante, a marca permite que seus clientes reconheçam todo o esforço que ele faz para melhor atendê-lo e permite ainda, aos canais intermediários, identificar quais fabricantes são mais atrativos para seus clientes, permitindo oferecê-los com maior freqüência. Uma marca é essencialmente uma promessa da empresa de fornecer uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. E é aí que entra a essência do trabalho de marketing: criar, manter, proteger e melhorar uma marca. A marca do produto é tudo. Mesmo quando você ainda não conhece um produto, você já possui alguma informação que recebeu da mídia – anúncios em rádio, TV, revistas – de amigos, da família etc. Você também pode ler a embalagem e descobrir muita coisa útil. Mas quando os produtos não possuem nenhuma marca, você não tem como identificar aquele que um amigo recomendou. Não tem como obter qualquer informação do fabricante. Não consegue saber nem mesmo o que está dentro de cada embalagem. E mesmo que você consiga, com o tempo, encontrar aquele produto que mais gostou, numa próxima vez, terá que começar novamente do zero. Não tem nenhuma referência para voltar ao supermercado e encontrar o produto de novo, além do fabricante não ter como passar nenhuma informação nova para você. Segundo Kotler, uma marca pode trazer até seis níveis de significado: 1. Atributos: uma marca traz à mente certos atributos. Por exemplo: a Mercedes sugere automóveis caros, bem construídos, duráveis e de alto prestígio. 2. Benefícios: os atributos devem ser traduzidos em benefícios funcionais e emocionais. Por exemplo: o atributo “durável” poderia traduzir o benefício funcional “não terei de comprar outro carro por muitos anos”; já o atributo “caro” poderia traduzir o benefício emocional “o carro me faz sentir admirado”. 3. Valores: a marca também diz algo sobre os valores da empresa. Por exemplo: a Mercedes simboliza alto desempenho, segurança e prestígio. Administração Mercadológica 07 15 www.ricardoalmeida.adm.br 4. Cultura: a marca pode representar certa cultura. Por exemplo: a Mercedes representa a cultura germânica – organizada, eficiente, preocupada com a qualidade. 5. Personalidade: a marca pode projetar certa personalidade. Por exemplo: a Mercedes pode sugerir um chefe decidido (pessoa), um leão poderoso (animal) ou um palácio austero (objeto). 6. Usuário: a marca sugere o tipo de consumidor que compra ou usa o produto. Por exemplo: poderíamos esperar ver um alto executivo de 55 anos usando uma Mercedes, não uma secretária de 20 anos. Os significados mais permanentes de uma marca são seus valores, cultura e personalidade, pois são eles que definem a essência da marca. Todos os seis aspectos são muito importantes. A diferença é que valores, cultura e personalidade são aspectos mais abstratos, que levam mais tempo para se construir, e que estão ligados à imagem da marca. Essência nesta caso está no sentido de formar a “alma” do produto. Atributos, benefícios e usuários são igualmente importantes, mas estão ligados aos aspectos específicos do produto e de quem os usa. Não podemos falar, como na questão, que os três são mais importantes que os outros, mas que têm aspectos, dimensões diferentes. Cabe, portanto, ao profissional de marketing, tratar a marca não apenas como um nome, mas sim desenvolver profundas associações positivas em relação a ela. 8 - Patrimônio de marca Criar uma marca, divulgar suas características, fornecer informações, tirar dúvidas e oferecer argumentos de que ela é melhor que a do concorrente, tudo isso leva tempo e dinheiro. O que diferencia uma marca nova, que está entrando no mercado, de uma marca tradicional, de sucesso e já estabelecida, é o resultado de todos os recursos que foram investidos ao longo do tempo pela marca estabelecida para que ela atingisse a posição de sucesso que desfruta hoje. O valor desta posição atual é denominado Patrimônio de Marca (em inglês, Brand Equity). Um diretor da Coca-Cola, certa vez, disse que a coisa de maior valor que a empresa possuía era a sua marca. Ele dizia que não se preocuparia se, da noite para o dia, alguém explodisse todas as fábricas do refrigerante no mundo, pois bastaria abrir as portas na manhã seguinte que haveria uma fila de clientes esperando os novos lotes que fossem produzidos e outra fila de investidores, com dinheiro na mão, oferecendose para ajudar na reconstrução. Seria um dos investimentos mais rentáveis e seguros que alguém poderia fazer, e haveria uma grande disputa para ser um dos escolhidos. Se, por outro lado, um acidente infeliz minasse a credibilidade da marca, pouco valeriam as máquinas e instalações da fábrica, e a empresa teria muitas dificuldades em sobreviver. É essa “boa vontade” de clientes e simpatizantes em relação à marca que tem realmente valor para a empresa. Administração Mercadológica 07 16 www.ricardoalmeida.adm.br David Aaker propôs um teste para avaliarmos o patrimônio de marca e o seu grau de fidelidade: quanto maior a porcentagem de clientes que se enquadram nos grupos 4 e 5, maior a fidelidade e o patrimônio de marca. Grupo 1 - os clientes trocam de marca, principalmente por razões de preço Grupo 2 - os clientes estão satisfeitos e não pensam em mudar de marca Grupo 3 - os clientes estão satisfeitos e pensam nos problemas que terão que enfrentar se tiverem que mudar de marca Grupo 4 - os clientes valorizam a marca e a consideram parte de sua vida Grupo 5 - os clientes são devotados à marca Um alto patrimônio de marca fornece uma série de vantagens competitivas: • • • • • a empresa terá os custos de marketing reduzidos devido à conscientização e à fidelidade do consumidor em relação à marca; a empresa terá mais poder de negociação com os distribuidores e varejistas porque os consumidores esperam que eles tenham a marca; a empresa pode cobrar um preço maior do que o de seus concorrentes porque a marca tem maior qualidade percebida; a empresa pode lançar extensões de linha mais facilmente porque o nome da marca possui alta credibilidade; a marca oferece à empresa certa defesa contra a concorrência por preço. Para que a marca mantenha o seu valor, é preciso investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento, publicidade habilidosa e excelente atendimento ao varejista e ao consumidor. 9 - Decisões de marca Pela sua importância, as decisões estratégicas de marca devem receber atenção especial. A primeira decisão é a de ter ou não uma marca, o que no passado já foi comum. Hoje, mesmo os produtos mais simples como sal, frutas, café etc. possuem alguma marca. Os distribuidores e varejistas querem nomes de marca porque elas facilitam a comercialização dos produtos, além de manter a produção em certos níveis de qualidade, fortalecendo as preferências do comprador, e ajudam a identificar os fornecedores. Já os consumidores querem nomes de marcas para ajudá-los a identificar diferenças de qualidade e comprar com mais eficiência. Por isso, pelas vantagens que a marca traz para consumidor e produtor, hoje são raros os casos de produtos sem marca. A segunda decisão a ser tomada é a de patrocínio de marca. O patrocinador deve ser a empresa, um canal intermediário ou deve-se criar uma marca para cada linha de produto. Ao adotarmos uma marca da empresa para todas as linhas, uma marca corporativa, ela identifica todos os seus produtos. A grande vantagem é que, ao se criar uma marca de sucesso, podemos lançar novos produtos com maior rapidez, maior aceitação, menores investimentos e riscos, já que o cliente conhece e aprecia a marca e está disposto a dar credibilidade aos novos lançamentos. O Patrimônio de marca, construído com a primeira linha de produto, é alavancado para o novo lançamento. A grande dificuldade a ser enfrentada é o risco de acontecer um Administração Mercadológica 07 17 www.ricardoalmeida.adm.br problema sério com um produto de uma linha, que pode se espalhar por outros, mesmo que não tenham associação direta. Por exemplo: um problema de qualidade no leite Parmalat pode ter conseqüências sérias para o molho de tomate Parmalat. O mesmo problema pode ocorrer se for utilizada a marca de um canal intermediário. No outro extremo, ao criarmos uma marca para cada produto ou linha de produto, evitamos que problemas de uma linha possam contaminar outra. Podemos construir a nova imagem de marca com base nos atributos mais adequados ao seu mercado-alvo, focando melhor o esforço de marketing. Mas o patrimônio de marca terá que ser construído do zero, o que provavelmente custará mais e levará mais tempo. A Grand Metropolitan, por exemplo, é uma grande multinacional praticamente desconhecida, que tem como estratégia trabalhar apenas suas marcas individuais, como vodca Smirnoff, fast food Burger King, sorvetes Häagen-Dazs, tequilla Jose Cuervos e bitter Cinzano. Quando o bitter Cinzano apresentou desempenho inferior ao desejado, a marca foi vendida, sem que a imagem das demais marcas fossem afetadas. Podemos ainda utilizar uma estratégia híbrida, que é a de lançar o produto com uma marca corporativa em conjunto com uma marca específica de linha. Assim, a marca corporativa endossa a qualidade como um todo, enquanto a marca de linha ajuda a dar individualidade ao produto. É o caso, por exemplo, dos biscoitos São Luiz – “qualidade Nestlé” - que busca destacar a qualidade em uma linha de produtos panificados, de uma empresa reconhecida pela sua qualidade em chocolate e leite. No estabelecimento do nome de marca, podemos ter quatro estratégias básicas: Nomes individuais - as linhas de produtos são lançadas com nomes independentes para que não haja interação entre eles. É o caso, por exemplo, dos relógios Pulsar, de preços mais populares, que não afetam a marca tradicional Seiko, da mesma empresa. Nomes de família abrangentes - toda a linha compartilha uma marca comum, como as sopas Knorr. Isso permite que novos tipos de sopa lançados pela empresa já desfrutem de um certo conhecimento no mercado. Nomes de família separados - são desenvolvidos nomes específicos para cada linha de produto, de acordo com suas características ou de seus públicos-alvos. A Embraco, por exemplo, possui a marca Cônsul para refrigeradores em mercados mais populares, a marca Brastemp está posicionada para os mercados de qualidade com preço justo e a marca Whirpool para os refrigeradores premium. Nome comercial da empresa combinado com diferentes nomes de produtos trata-se da associação do nome da empresa a um nome de marca para cada produto, pela qual o nome da empresa legitima o novo produto e o nome individual o identifica. É o caso, por exemplo, da Kellogg’s, que possui o seu nome nos produtos: Kellogg’s Rice Krispies, Kellogg’s Corn Flakes. Quanto ao nome de um produto, temos algumas dicas para lhe dar: Administração Mercadológica 07 18 www.ricardoalmeida.adm.br 1º. O nome pode estar relacionado a uma pessoa, a uma localidade, à qualidade ou a um estilo de vida, ou então inventar um nome artificial. 2º. Ele deve sugerir algo a respeito dos seus benefícios ou sugerir suas qualidades como ação ou cor; deve ser fácil de pronunciar, de reconhecer e de lembrar (nomes curtos ajudam); deve ser inconfundível e não deve apresentar significados negativos em outros países e línguas. Para concluir as decisões de marca, basta estabelecer sua estratégia. Para isso, a empresa pode trabalhar com cinco opções básicas: • Extensão de linha: é o uso da mesma marca em novas versões (tamanhos, sabores) do mesmo produto básico. A linha Clight, por exemplo, está lançando novos sucos com sabores manga e pêssego com fibras. • Extensão de marca: é o uso da mesma marca para produtos diferentes, como por exemplo o uso da marca de chuteiras Adidas para a nova linha de desodorantes Adidas. • Multimarca: é o uso de novos nomes de marcas na mesma categoria de produtos, como no caso da Procter & Gamble, que possui nove marcas diferentes de sabão em pó. • Nova marca: é o uso de uma nova marca em uma nova categoria de produto. A empresa Reckitt Benckiser, por exemplo, optou pela marca Bom Ar para purificadores de ar e Veja Multi-uso para líquidos para limpeza, além de outras marcas, como Veja, Lysol, Poliflor, Rodasol, Harpic e Passe Bem. • Marcas combinadas: trazem duas ou mais marcas conhecidas, quando uma reforça e recomenda a outra. É o caso, por exemplo, das lava-louças Brastemp, que já vêm com o sabão em pó para lava-louça da marca Sun, ou do sorvete McDonald’s que usa o Chocolate Nestlé. 10 - Embalagem e rotulagem A maioria dos produtos deve ser embalada e rotulada. Para muitas empresas, a embalagem e a rotulagem são elementos da estratégia do produto e, portanto, merecem todo cuidado. Muitas embalagens são mundialmente famosas, como a garrafa de Coca-Cola, e vários profissionais de marketing consideram a embalagem como o 5P, juntamente com o produto, preço, praça e promoção, como vimos anteriormente. Podemos definir a embalagem como o conjunto de atividades relativas ao projeto e desenvolvimento do recipiente ou envoltório de um produto. Ela pode ser composta por: embalagem primária, onde é armazenado o produto em si, como o frasco de um perfume ou a garrafa de um vinho; embalagem secundária, que é uma proteção da embalagem primária, como a caixa de papel onde é colocada a garrafa do vinho ou do whisky; • embalagem de remessa, que acondiciona um lote para transporte, como a caixa de papelão onde colocamos meia dúzia de caixas de vinho. A embalagem passou a ser uma poderosa ferramenta de marketing. Embalagens bem desenhadas podem criar valores de conveniência e promocionais, além de serem um fator de influência à decisão de compra. Desenvolver uma embalagem requer muitas decisões. A primeira tarefa é definir a função da embalagem do produto, ou seja, o que ela é e faz para o produto em questão. Para isso, devem ser tomadas decisões sobre elementos adicionais – tamanho, forma, materiais, cores, texto e localização da marca. Administração Mercadológica 07 19 www.ricardoalmeida.adm.br Além disso, deve ser considerado o uso de mecanismos que garantam a não-violação do produto. Os diversos elementos da embalagem devem também estar harmonizados com as decisões sobre determinação de preço, propaganda e outros fatores de marketing. Após ser projetada, a embalagem deve ser testada. Podem ser utilizados testes de engenharia (para verificar a resistência), visuais (para testar a visibilidade do texto e das cores), testes de distribuidores (para verificar a atratividade e manuseio) e testes de consumidor (para assegurar a sua aceitação). O rótulo é o projeto gráfico que compõe a embalagem. Pode ser simples, como uma etiqueta colada ou um produto visual elaborado. Em muitas categorias, ele contém informações importantes sobre o produto, sendo em alguns casos, como alimentos ou remédios por exemplo, regulamentado por leis específicas. Os cigarros também são uma categoria especial e suas embalagens devem conter advertências estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Eles podem desempenhar diversas funções: • identificar o produto ou a marca; • classificar o produto; • descrever o produto (quem o fez e como usá-lo); • promover o produto (ilustrações atraentes). É importante também que os rótulos sejam sempre renovados, uma vez que eles acabam ficando desatualizados com o passar do tempo. Enfim, estas são as últimas estratégias de marketing que devem ser tomadas em relação ao produto. Todas elas devem ser bem analisadas para que o produto possa chegar ao mercado pronto para ser comercializado e fazer sucesso entre os consumidores. Administração de produto, 1. O que é produto, 2. Níveis de produto, 3 - Classificações de produto, 4 - Mix de produtos, 5. Portfolio de produtos (matriz BCG), 6 - Decisões de linha de produtos, 7 - O que é marca, 8 - Patrimônio de marca, 9 - Decisões de marca, 10 - Embalagem e rotulagem Administração Mercadológica 07 20