ISSN: 0000-0000 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL: PROCESSOS PRIMARIOS QUE GARANTEM SUA EFICIÊNCIA Monica Alejandra Noemi Romero1 Ana Maria Ferreira2 Marcos Cesar Cardoso Carrard³ RESUMO O presente artigo tem por objetivo apresentar uma revisão bibliográfica da abrangência do conceito de comunicação, visando proporcionar modos como este se revela na comunicação organizacional. Desta forma, como objetivos específicos foram estabelecidos: definir comunicação e seus processos, fundamentar a comunicação organizacional, descrever a comunicação interna e suas diretrizes e, por último, indagar sobre a relação entre cultura organizacional e cultura de comunicação. A investigação bibliográfica mostrou que o modo como acontece a comunicação dentro das organizações é complexo e multifatorial. Dentre os fatores envolvidos na sua eficácia podemos considerar a comunicação com todos seus públicos, interno e externo, outorgando-lhe a primazia ao público interno. Igualmente, cabe atentar aos diversos fluxos da comunicação com suas respectivas diretrizes, a saber: ascendente, descendente, lateral e diagonal. Assim sendo, a comunicação organizacional está relacionada com a cultura organizacional e esta, por sua vez, com a cultura de comunicação. Palavras-chave: Comunicação. Comunicação Organizacional. Cultura Organizacional. ABSTRACT This article aims to present a bibliographical review of the scope of the concept of communication, aiming at providing ways as this unfolds in organizational communication. In this way, specific objectives have been established: define communication and its processes, support organizational communication, describe the internal communication and its guidelines and, finally, inquire about the relationship between organizational culture and communication culture. Bibliographical research showed that the way it happens to communication within organizations is complex and multifactorial. Among the factors involved in its effectiveness we consider communication with all its stakeholders, internal and external, granting him primacy to the internal public. Also, it is worth trying the various streams of communication with their respective guidelines, namely: upward, downward, lateral and diagonal. Thus, the organizational communication is related to organizational culture and this, in turn, with the culture of communication. 1 Acadêmica do 3º período do curso de Bacharelado em Administração - FAPAG/Porto Belo, disciplina Relações Públicas. [email protected] 2 Orientadora docente FAPAG/Porto Belo. Mestre em Administração Gestão Moderna de Negócios pela Universidade Regional de Blumenau (FURB). Bacharel em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). [email protected]. ³Orientador docente FAPAG/Porto Belo. Especialista em Ciências da computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Graduação em Ciências da Computação pela Universidade de Passo Fundo. Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Key words: Communication. Organizational Communication. Organizational Culture. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo pretende discorrer, através de uma revisão literária sobre comunicação organizacional, o modo como acontece a comunicação dentro das organizações. Para tanto, considera como ponto de partida uma definição operacional de comunicação, suficientemente abrangente e que permita discernir todas suas etapas, ou seja, desde o momento em que se origina o processo de comunicação, até suas probabilidades de resultado. Sousa (2006) expõe os primeiros modelos do processo de comunicação, desde Aristóteles até Jakobson. O primeiro modelo histórico da comunicação foi apresentado por Aristóteles (século IV a.c.), na sua obra “Arte Retórica”. Esta abordagem revela a essência do processo de comunicação: Emissor - Mensagem – Receptor. O modelo de Lasswell (1948) apresentado no quadro nº 1, foi ponderado para descrever os atos de comunicação intercedida através de um meio de comunicação social. Quadro nº 1: Esquema de descrição dos atos de comunicação. Quem? Diz o quê? Por que canal? A quem? Estudos sobre o emissor e a emissão das mensagens. Análise do discurso. Análise do meio. Análise da audiência e estudos sobre o receptor e a recepção de mensagens. Análise dos efeitos das mensagens e da comunicação. Com que efeitos? Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. O modelo de Shannon e Weaver (1949) conforme quadro nº 2, representou um avanço no traçado do processo de comunicação. Os autores enfatizam a problemática das mensagens e das interferências sobre o processo. Quadro nº 2: Processo de comunicação e a problemática da mensagem. Fonte de Informação – (Mensagem) – Transmissor – (Sinal) – (Sinal Captado) – Receptor – (Mensagem)Destinatário Ruído 83 Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência O modelo de Newcomb (1953) exposto na figura nº 1, introduz pela primeira vez, o papel da comunicação em forma triangular, sendo que as interações são atos comunicativos dentro de uma sociedade ou um grupo. Figura1: Formatação da comunicação triangular. X A B Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. Schramm (1954) apresentou dois modelos da comunicação. Num primeiro modelo segundo o quadro 3, tributário do modelo de Shanon e Weaver. Schramm apresenta uma relação linear entre fonte e destino, associando à fonte uma função de codificação e ao destino uma função de descodificação. Quadro nº 3: Relação linear entre Fonte e Destino. Campo de Experiência Campo de Experiência Fonte/Codificador - Mensagem - - Descodificador/ Destino Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. Na sequência Schramm, proporcionou um modelo do processo de comunicação que introduziu o conceito de feedback, pode-se observar no quadro nº 4. Quadro nº 4: Processo de comunicação com feedback. Descodificador / Intérprete / Codificador – Mensagem – Descodificador / Intérprete / Codificador Mensagem Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. O modelo proposto por Gerbner (1956) como se pode ver no quadro nº 5, traz como 84 principal vantagem relacionar a mensagem com a realidade, permitindo abordar simultaneamente as questões da percepção e da significação. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Quadro nº 5: Relacionamento da mensagem com a realidade e a percepção. Acontecimento – Disponibilidade – Percepção/Seleção Agente 1 – Meios (Controle/Acesso/Disponibilidade)/Mensagem (Formas-Sinal/Conteúdos) – Disponibilidade Percepção/Seleção – Agente 2 Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. O modelo de Jakobson (1960) direcionou-se para o estudo da comunicação linguística, claramente representado no quadro 6. Quadro nº 6: Esquema de comunicação linguística. Contexto Destinador Mensagem Destinatário Contato Código Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. A cada um dos fatores constitutivos do modelo de Jakobson corresponde uma função da linguagem. Num ato comunicativo, as funções aparecem hierarquicamente organizadas, havendo sempre uma que é dominante conforme quadro 7: Quadro nº 7: Hierarquia das funções no ato comunicativo. Função referencial Função Emotiva - Função poética - Função Conativa Função fática Função metalinguística Fonte: Elaborado por SOUSA, 2006. Deste modo, Terciotti e Macarenco (2009) conseguem observar que a comunicação está constituída por seis elementos que se configuram em pilares básicos: emissor, receptor, canal de comunicação, mensagem, ruído e feedback. Por outro lado, Maximiano (2007) considera a comunicação como um processo, em vista de que depende da codificação das múltiplas e variadas combinações entre o emissor e o 85 receptor. Ao emissor cabe a transmissão da mensagem, junto com a escolha do canal de comunicação mais adequado para a transmissão da mensagem escolhida. Sendo que, o canal Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência de comunicação pode ser oral, escrito, visual ou corporal. E, o resultado da transmissão depende tanto do emissor quanto da decodificação feita pelo receptor, resultando em interferências, como nos casos onde há ruído na comunicação. Ou então, em realimentação do processo de comunicação. Assim sendo, à luz desta compreensão do conceito de comunicação têm-se como objetivo principal do presente artigo, apresentar processos primários que garantem sua eficiência. Sendo que os objetivos específicos são: definir comunicação com seus processos com base na comunicação organizacional; descrever a comunicação interna e suas diretrizes e, estabelecer uma relação entre cultura organizacional e cultura de comunicação. Importante considerar que este artigo trata de um estudo de caráter exploratório, a partir de uma prática de uma disciplina do curso de graduação. Os pesquisadores procuraram percepções e entendimento sobre a temática analisada na mídia impressa disponível e em base de dados científicos on-line. Cabe destacar que o mais importante para quem faz opção pela pesquisa bibliográfica é ter a certeza de que as fontes a serem pesquisadas sejam reconhecidamente do domínio científico. (OLIVEIRA, 2007). 2 COMUNICAÇÃO E SEUS PROCESSOS Maximiano (2007) entende que comunicação é um intercambio de informações e conhecimentos, que estabelece entendimento entre seus polos chamados de emissor e receptor; sejam estes pessoas ou organizações. Em concordância, Terciotti e Macarenco (2009), diz que para que a comunicação se realize precisa-se no mínimo duas pessoas com a intencionalidade de conseguir um acordo num contexto adequado, e isto é condição para que se concretize a comunicação. Estes autores, por sua vez, afirmam que os elementos que estão envolvidos em qualquer processo de comunicação são: emissor, receptor, mensagem, canal de comunicação, ruídos e feedback. E que a circulação do processo de comunicação começa com o emissor que transmite uma mensagem (idioma, sons, letras, números, etc.), essa mensagem codificada continua um canal de comunicação por algum meio escolhido (oral, escrita, visual ou corporal) e finaliza no receptor que decodifica a mensagem. Se o processo da comunicação foi positivo há um retorno da mensagem para o emissor, denominado feedback. 86 Portanto, ruído no processo de comunicação, são interferências que prejudicam o entendimento da mensagem pelo receptor. Assim sendo, vários são os fatores que estão Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência sujeitos ao ruído: entre emissor e receptor, no ambiente, no canal de comunição ou na mensagem. De modo geral, os maiores ruídos de comunicação acontecem do nível tático ao nível estratégico e não do nível tático ao nível operacional. Entre pares a comunicação não apresenta grandes problemas. Destacam-se fatores como inibição e timidez os quais interferem na relação gerente/diretor. (TOMASI; MEDEIROS, 2010). Observa-se, de acordo com o apontado pelos autores, que a comunicação entre colegas é menos suscetível de sofrer os embates de fatores psicossociais, tais como timidez e inibição. Entretanto, quando se trata da comunicação com os superiores, ou seja, do nível tático ao nível estratégico, os fatores psicossociais interferem provocando ruído na comunicação. Na visão de Schuler (2004), comunicação é considerada de uma forma mais ampla e imbricada com organização, até o ponto em que garante que só existe organização por meio da comunicação. Por outro lado, Maximiano (2007) considera que a comunicação ultrapassa os limites pessoais ao salientar que comunicação é um mecanismo de conexão nas corporações, tanto privada quanto pública. Trata-se aqui de comunicação organizacional. 3 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL Pimenta (2004, p.99) afirma que a comunicação organizacional é “o somatório de todas as atividades de comunicação de uma empresa”. Cahen (2003) considera que a comunicação organizacional é responsabilidade da alta administração. Isto se deve ao poder decisório dos altos cargos da organização aos quais é atribuída a responsabilidade pela tomada de decisões, e, dentro das quais, a comunicação é parte. Para Nassar (2006, p. 122) a comunicação organizacional é vasta e completa, para tanto diz que: 87 A comunicação empresarial moderna e excelente tem entre seus principais atributos: o monitoramento dos ambientes nos quais a empresa se insere, para detectar as ameaças e as oportunidades simbólicas; a seleção de informações e as oportunidades simbólicas; a seleção de informações importantes para tomada de decisão da gestão; o mapeamento dos públicos estratégicos; a velocidade das emissões e respostas; a formação impecável e adequada de mensagens; a seleção de mídias adequadas que cheguem aos públicos estratégicos; a habilitação, em comunicação, de todas as pessoas da organização; as pesquisas; o planejamento e a operação de orçamentos. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Por sua vez, Maximiano (2007) considera que a comunicação organizacional é um processo de inter-relação que se dá, em primeira instância, entre as pessoas que formam parte da organização; quanto mais eficaz e qualificada seja essa troca, a tendência é que os processos de comunicação organizacional sejam também eficazes e qualificados. Para Tomasi e Medeiros (2010), a comunicação organizacional é um procedimento que agrupa quatro variantes, comunicação gerencial, comunicação administrativa, comunicação social e sistema de informação. Estas variantes devem estar associadas e desempenhando suas finalidades, ou seja, gerando união dentro da comunicação organizacional. Para Bueno (2009), são vários os fatores que reúnem a comunicação organizacional, tais como as táticas e políticas em prol de constituir um relacionamento constante com todos seus públicos, seja interno com todos seus níveis hierárquicos, ou externos como: clientes, governo, fornecedores, entre outros. A comunicação organizacional é a integração entre a organização e a sociedade. Entretanto, é importante que a organização constitua fidelidade com seus públicos de interesse. De acordo com Grunig, França e Ferrari (2009, p.158) “quando a organização planeja estrategicamente sua comunicação, ela o faz por meio de políticas e parâmetros sobre os quais traça seu espaço de ação, classificam os públicos com os quais vai interagir e define seus discursos a cada um deles”. Segundo Kunsch (2003, p.149) “comunicação organizacional analisa o sistema, o funcionamento e o processo de comunicação entre a organização e seus diversos públicos”. É necessário considerar a existência de públicos internos como primeiro passo. Para tanto, precisa-se compreender em profundidade as nuances da comunicação interna. 4 COMUNICAÇÃO INTERNA A comunicação interna é um conjunto de práticas e processos complexos que se estabelecem dentro de uma empresa com seu público interno e que precisam ser observados em toda sua abrangência. Para que seja eficaz é preciso que a comunicação seja transparente, clara e objetiva. 88 Segundo Bueno (2009, p.118): [...] conhecer o perfil e definir as demandas de cada público em particular para que se possam implementar canais e formas de relacionamento que estejam em sintonia com eles. A comunicação interna deve ser pensada com essa complexidade. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Por sua parte, Nassar (2006) considera que comunicação interna é um meio que possibilita que a administração apele às mensagens cotidianas para motivar ou diferenciar o publico interno. Desse modo, pode-se observar a comunicação interna como a reciprocidade das mensagens entre emissor e receptor organizacional. Tomasi e Medeiros (2010, p. 59) complementam que a comunicação interna vem sendo suprida pelas relações com os funcionários ao colocar que: O trabalhador precisa conhecer a empresa em que trabalha: sua visão, sua missão, suas estratégias, precisa conhecer o espírito que a anima. Sem os trabalhadores internos com esse nível de consciência, é difícil passar para a sociedade a imagem institucional que se deseja. Diante destas assertivas pode-se considerar que para administrar a comunicação interna é necessário planejar estratégias, organizar os veículos e as informações, criar um ambiente harmonioso, motivar os funcionários para o desenvolvimento pessoal, informar a missão, os valores e as metas da organização e cultivar o comprometimento dos mesmos para com a empresa. Os instrumentos utilizados na comunicação interna são eventos, jornal mural, minidoor, rádios e TVs internos, mídia eletrônica, veículos impressos, painel eletrônico. 5 COMUNICAÇÃO INTERNA E SUAS DIRETRIZES Tanto Maximiano (2007) quanto Terciotti e Macarenco (2009), certificam que a comunicação organizacional interna circula em três direções: para cima, para baixo e horizontal. Considera-se que a direção é para baixo quando a comunicação descende do nível estratégico ao nível tático, e, do nível tático ao nível operacional. As formas utilizadas para enviar as informações são e-mails, memorandos, circulares e relatórios, promovendo reuniões informativas, palestras e treinamento. Já a direção para cima, diz respeito a uma modalidade de comunicação que ascende desde nível tático ao nível estratégico e do nível operacional ao nível tático. Dificilmente ocasiona-se a comunicação entre o nível operacional com o nível estratégico diretamente. As formas usadas são e-mail, relatórios, participando de reuniões, 89 pesquisas internas, sugestões e/ou reclamações. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Por outro lado, cabe destacar, as observações de Matos (2006 p. 91) que é quem outorga a primazia à comunicação ascendente, por considerar que é: A que melhor caracteriza a verdadeira cultura do diálogo em uma organização, pois representa a contribuição criativa e o feedback, que efetivamente instauram o processo de comunicação em duas vias. Nas organizações em que se pratica a comunicação descendente, é predominante o discurso único e a falta de ambiente de diálogo e conversação. Por fim, na direção horizontal, a comunicação ocorre dentro dos mesmos níveis, em toda a hierarquia da organização simultaneamente. As formas empregadas para viabilizar esta comunicação são reuniões, eventos, conversas, e-mails, memorandos e relatórios. Cabe destacar que dentro desta direção, Maximiano (2007) percebe um fluxo de comunicação diagonal que se estabelece entre as diferentes hierarquias. Por sua parte, Tomasi e Medeiros (2010) consideram que esse fluxo diagonal, que se estabelece, por exemplo, entre um gerente de um departamento e um funcionário de outro, pode gerar pontos positivos e negativos na comunicação dentro da organização. Sendo que a positividade da comunicação é a alta velocidade com que circula a informação na organização. Por outro lado, a negatividade da comunicação são os ruídos ocasionados pela insubordinação. Existe ainda um fator que precisa ser cuidadosamente ponderado dentro da comunicação interna, trata-se da “rádio peão”. Também conhecida pelo nome de “rádio corredor”, cuja presença é visível em todas as organizações, seja do tamanho qual for a empresa; pequena ou grande porte. Para Tomasi e Medeiros (2010), a “rádio peão” predomina na direção ascendente, desde o nível operacional ao nível tático, e difunde diversos temas. Se por um lado, para Matos (2006), pode ser vista como um meio de comunicação entre os funcionários; por outro, pode indicar uma deficiência na comunicação interna. Haja vista que, quando a comunicação interna não é transparente, deixa espaço para que a “rádio peão” se ative “quanto mais tensa e difícil for a relação entre chefes e subordinado, maior será o volume da rádio peão. E olha quando ela quer fazer barulho, é de ensurdecer”. (BUENO, 2009, p. 26). Por fim, uma compreensão mais apurada de comunicação interna se faz necessária para a abordagem do tema da cultura organizacional, em vista de ser um fator que a influencia de forma direta “a comunicação interna das organizações varia, para melhor e para pior, 90 dependendo da cultura da empresa”. (BUENO, 2009 p. 27). Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência 6 RELAÇÃO ENTRE CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURA DE COMUNICAÇÃO Segundo Tavares (2010), a cultura organizacional está associada à condição do ser humano e, de acordo com este, é composto com seus valores, crenças, comportamentos, hábitos, etc. São as características que estarão adequadas à organização, ou seja, as pessoas se comunicam através de sua cultura e essa cultura faz parte da organização. Defende Costa (2012) que cada organização tem um kit de regras de sucesso, que são conservadas como modelo, para formar sua cultura organizacional. Então, a cultura da empresa está forjada por esse modelo: “o sucesso do passado e, talvez, do presente pode até provocar o fracasso do futuro, caso não haja mudança de mentalidade e no comportamento dos dirigentes”. (COSTA, 2012, p. 22). Para Bueno (2009) a cultura de uma organização deve ser continuamente avaliada, em primeira instância, porque ela define de que maneira se relacionam os chefes e os funcionários, sendo que isto pode vir a ser um estímulo para a participação colaborativa promotora de crescimento organizacional, ou então, causador de divergências internas que podem desacelerar o crescimento da empresa. Por outro lado, este autor apresenta quatro tópicos que precisam ser ponderados visando avaliar a cultura organizacional, a saber, a inserção da organização num mercado globalizado e as dificuldades emergentes das culturas tradicionais; a relação existente entre cultura e cultura de comunicação; a construção progressiva da cultura de comunicação. No primeiro tópico, que diz respeito à inserção da organização num mercado globalizado deve considerar-se que, em vista da organização estar inserida em um mercado globalizado e de constante mudança, a cultura organizacional também deve mudar. O segundo tópico traz a tona as dificuldades inerentes às culturas tradicionais que, em vista de ter uma estrutura consolidada através do tempo, resiste às possibilidades de movimentação, e, mesmo assim, de acordo com Bueno (2009), precisam revê-la e mudar para evitar ficarem presas no passado, e perder de usufruir oportunidades futuras. No terceiro tópico, o autor relaciona a cultura da organização com a cultura de comunicação, considerando a última como se fosse a ‘pele’ da primeira, ou seu ‘DNA’, uma vez que afirma que “uma organização terá uma boa comunicação interna quando dispuser de 91 uma cultura de comunicação”. (BUENO, 2009, p. 23). Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Desse modo, se a organização está constituída numa estrutura hierárquica inflexível, a cultura de comunicação não poderá crescer e consequentemente estará prejudicada a comunicação interna. Por fim, no quarto tópico, Bueno (2009) salienta o caráter progressivo do processo de construção da cultura de comunicação. Sendo assim, a cultura de comunicação não é um fato dado, senão que se constrói gradativamente no dia a dia, no trabalho cotidiano dentro e na organização. Assim, estariam dadas as condições para que a comunicação interna se apoie numa legítima cultura de comunicação que, uma vez contempladas as necessidades do público interno, fortaleça os fluxos de comunicação possíveis. Bueno (2009, p.22) complementa: Uma comunicação interna, apoiada em uma autêntica cultura de comunicação, estabelece canais personalizados para o relacionamento com os públicos internos, obedecidos seus perfis e necessidades, adapta discursos e conteúdos e busca incentivar a participação dos funcionários pelos fortalecimentos dos fluxos ascendente e lateral de comunicação. Considera-se que a cultura de comunicação é um paradigma a ser discutido em prol do benefício da comunicação interna dentro da organização. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os processos primários que garantem a eficiência da comunicação organizacional, atualmente, são complexos em vista dos múltiplos fatores envolvidos na sua eficácia: comunicar-se com todos seus públicos, interno e externo; conhecimento do perfil dos mesmos; conhecimento do processo de tomada de decisão enquanto as estratégias a serem geridas; ações e política mais adequadas a serem desenvolvidas dentro da organização e assim por diante. Entretanto, o primeiro passo a ser considerado é a comunicação efetiva com todos seus públicos, interno e externo; outorgando-lhe a primazia ao público interno. Deste modo, devese atentar aos diversos fluxos da comunicação com suas respectivas diretrizes, a saber: ascendente, descendente, lateral e diagonal. Para obter-se uma compreensão mais acabada de comunicação interna, se faz mister 92 abordar o tema da cultura organizacional, em vista de ser um fator que influencia de forma direta fazendo-a variar para melhor ou para pior. Revista Científica Emersão v.1, nº 1 – maio/2015 – p. 82-94 Porto Belo/ SC Comunicação organizacional: Processos primários que garantem sua eficiência Por outro lado, a cultura da organização está relacionada com a cultura de comunicação. Tanto assim que uma organização terá uma boa comunicação interna quando dispuser de uma cultura de comunicação. Se a organização estivesse constituída numa estrutura hierárquica inflexível, a cultura de comunicação não crescerá e prejudicará a comunicação interna. Em contrapartida, se uma comunicação interna se apoia em uma genuína cultura de comunicação, poderão estabelecer-se laços participativos entre os funcionários pelos fortalecimentos dos fluxos ascendente e lateral de comunicação. Cabe lembrar que a cultura de comunicação não é um fenômeno naturalizado e sim uma construção diária. Finalmente, a presente pesquisa bibliográfica constata que, somente na observância dos pressupostos supracitados a comunicação organizacional será eficaz e qualificada como mediadora na realização dos objetivos e metas organizacionais. Sugere-se que a partir do presente estudo se viabilizem novas pesquisas que forneçam elementos norteadores para integrar a cultura de comunicação nas estratégias empresariais, sob a responsabilidade de todos! REFERÊNCIAS BUENO, Wilson da Costa. Comunicação Empresarial: políticas e estratégias. São Paulo: Saraiva, 2009. CAHEN, Roger. Tudo que seus gurus não lhe contaram sobre comunicação empresarial. São Paulo: Best Seller, 2003. COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão Estratégica: construindo o futuro de sua empresa – Fácil. São Paulo: Saraiva, 2012. GRUNIG, James E; FRANÇA, Fábio; FERRARI Maria A. Relações públicas: teoria, contexto e relacionamentos. 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