www.arquidiocesedesaopaulo.org.br | 7 a 13 de janeiro de 2015 | Reportagem | 11 Há 30 anos nascia Bruno e com ele, um novo tempo Arquivo pessoal Giba Um contou ao O SÃO PAULO como foi a fundação de um Projeto sobre a Síndrome de Down, a partir da experiência com o filho Nayá Fernandes [email protected] “Qual é o universo, quanto é este universo down?” A pergunta, feita por Gilberto Di Pierro, o Giba Um, nome que adotou há 40 anos em suas colunas como jornalista, norteia sua inserção em uma causa tanto nobre quanto difícil: a de ajudar na divulgação de informações sobre a Síndrome de Down. Giba Um tem um filho com a Síndrome, Bruno di Pierro, 30, que foi uma das primeiras crianças a aparecer em público e na mídia quando a sociedade brasileira pouco ou nada dizia sobre isso. À época, as pessoas usavam o termo mongoloide. Giba foi um dos primeiros a introduzir a linguagem no Brasil e, com ela, o início da mudança de mentalidade. “Quando meu filho começou a crescer, ele me acompanhava em entrevistas concedidas às emissoras de televisão e isso teve uma repercussão muito grande no País”, disse o jornalista, que é presidente do Projeto “Centro de Informação e Pesquisa da Síndrome de Down”. O Projeto começou quando Giba Um e sua esposa, Marly Ribeiro de Carvalho di Pierro, des- O jornalista Giba Um com seu filho Bruno é um dos precursores da utilização do termo Síndrome de Down, no Brasil cobriram, ainda na maternidade, que o filho era diferente das outras crianças. A enfermeira deu a notícia e eles não entenderam bem o que aquilo significaria. A partir daí, foram pedir ajuda, mas se perceberam em meio a uma sociedade preocupada em esconder e não em lidar com a questão ou buscar alternativas. “É importante dizer que não é uma realidade romântica. Ao contrário, é difícil, exigente e, na sua normalidade, as pessoas com down são diferentes sim, e é muito importante que isso seja dito explicitamente e também assumido”, disse. Projeto Down 21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down, anomalia causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de uma pessoa, o que pode acontecer na hora da concepção. As pessoas com Síndrome de Down ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em Pai de três filhos, Giba Um tem uma cumplicidade ímpar com Bruno e ressaltou que é preciso ter cuidado com as comparações generalizadas. “Nosso trabalho é de cuidado com as pessoas com a Síndrome, mas, sobretudo, com os pais. Eles precisam sentir que o filho ou filha não será como aquele da novela, que tem um problema parecido, mas não é igual. Cada caso é um caso e, mesmo que uma pessoa portadora da Síndrome de Down consiga fazer algumas coisas, ela vai sempre estar um compasso à frente ou atrás quando a banda tocar.” suas células em vez de 46, como a maior parte da população. É importante ressaltar que as pessoas com Síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças, mas elas apresentam personalidades e características diferentes e únicas. O Centro de Informação e Pesquisa da Síndrome de Down é mantido Educação inclusiva Sobre a questão da educação, o jornalista é favorável a uma inserção das crianças e jovens com down nas escolas, mas não todas e nem ao mesmo tempo. “O ideal seria que algumas, dentre as que frequentam escolas especializadas, pudessem fazer essa experiência após darem passos concretos, mas não todas, porque quando uma criança ou um jovem com a Síndrome começa a não mais acompanhar os demais na escola regular, isso pode ser ainda mais difícil de administrar”, afirmou. por meio de um sistema de cotas de patrocínio e doações destinadas a um programa de divulgação e incentivo a pesquisas de ordem genética e comportamental. Promove seminários e congressos, realiza divulgação em jornais, revistas e veículos eletrônicos de todas as novidades nacionais e internacionais sobre a causa, e ajuda a formar turmas de profissionais especializados, colaborando até com o Governo Federal. No início da pesquisa sobre down, Giba Um chegou a conhecer experiências de inserção fora do País, como a de uma escola em Napoli, na Itália. Mas para ele, a inclusão a qualquer custo é uma dificuldade da sociedade atual. É preciso pensar que as pessoas com a Síndrome podem estar em qualquer ambiente, mas, na maioria das vezes, acompanhadas. “Em casa, alguns amigos do Bruno se reúnem. Eles conversam, assistem a filmes, escutam música juntos. Mas nós sempre nos preocupamos em estar por perto e esse cuidado é fundamental.” Outro aspecto que Giba Um apontou como essencial é a assistência do Governo às famílias, sobretudo às de baixa renda. “Para ter alguma assistência financeira, as famílias precisam provar que recebem até um quarto de salário mínimo, como acontece hoje no Brasil.” E o pai de Bruno lembrou várias vezes que muitas atitudes preconceituosas ou de indiferença com as pessoas com qualquer tipo de deficiência vêm do fato de que a sociedade não está habituada a pensar que é uma situação que pode acontecer com qualquer pessoa. “Basta olhar nossos avós ou uma pessoa que sofreu um acidente. E disso ninguém está imune. Por isso, é importante nos darmos conta do quanto a situação grita”, disse Giba Um, que insistiu sobre a falta de políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência e de escolas especializadas, por exemplo. Faz tudo gratuitamente. Realiza atendimentos personalizados no SOS Down, serviço que a entidade mantém para orientação psicológica e encaminhamento genético para pais e portadores da Síndrome de Down. Para fazer doações ou saber mais sobre o Projeto ou mesmo fazer o download das cartilhas gratuitamente basta acessar o site: www.projetodown.org.br ou pelo telefone (11) 3894-4444.