1 Claudia Severo da Rosa ESTUDO DO ÁCIDO HIALURÔNICO PROVENIENTE DA CRISTA DE FRANGO: EXTRAÇÃO, PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito final para obtenção do título de Doutor Orientador: Prof. Dr. Luiz Henrique Beirão Florianópolis, SC, BRASIL 2008 2 R788e Rosa, Claudia Severo Estudo do ácido hialurônico proveniente da crista de frango: extração, purificação, caracterização e atividade antioxidante / Claudia Severo da Rosa – Florianópolis, 2008. 106 p. Tese (Doutorado em Ciência dos Alimentos) – Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. Orientador: Luiz Henrique Beirão. 1. Cristas de frango. 2. Ácido hialurônico. 3. Extração. I. Título. CDU 612.39 Ficha catalográfica elaborada por Maria Inez Figueiredo Figas CRB10/1612 3 Claudia Severo da Rosa ESTUDO DO ÁCIDO HIALURÔNICO PROVENIENTE DA CRISTA DE FRANGO: EXTRAÇÃO, PURIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE Esta Tese foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Doutor em Ciência dos Alimentos no Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis , 30 de junho de 2008. Profa. Dra Marilde Bordignon Luiz Coordenadora do Curso BANCA EXAMINADORA Prof. Luis Henrique Beirão, Dr. Orientador Prof. Milton Luiz Pinho Espírito Santo, Dr. Profa. Maria Enói Santos Miranda, Dra Prof. César Damian, Dr. Prof. Pedro Luiz Manique Barreto, Dr. 4 Dedico este trabalho, A minha família, em especial ao meu esposo Leandro e meus filhos Fábio e Juliana por sempre estarem ao meu lado, pelo amor e carinho de uma verdadeira família. 5 AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Luiz Henrique Beirão, pela orientação e amizade. Aos professores, Dr. Paulo Mourão e Dra. Ana Tovar do Laboratório de Tecido Conjuntivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela acolhida, amizade e pela realização de parte das análises. Ao professor Dr. Pedro Barreto pelo auxílio na realização da massa molar, pela atenção, apoio, colaboração e amizade todos esses anos. Ao professor Dr. Ernesto Kubota pelo apoio sempre recebido. A Professora Dra Solange Cristina Hoelzel pela amizade e ajuda na realização da atividade antioxidante. Ao professor Dr. Nelcindo Nascimento Terra, sempre pronto para compartilhar seus conhecimentos. Aos alunos de mestrado Ricardo Pereira, Jefferson Rotta, Lisandra e Débora pela ajuda na realização das análises. À Universidade Federal de Santa Maria e ao Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos pela oportunidade oferecida. Aos meus colegas de departamento pelo carinho e incentivo. Aos meus pais Argemira (in memorian) e Oriente, pelo carinho e incentivo. A Deus pela força e iluminação em minha vida. 6 RESUMO ROSA, Claudia Severo da. Estudo do ácido hialurônico proveniente da crista de frango: extração, purificação, caracterização e atividade antioxidante. 2008. 106 p. Tese (Doutorado em Ciência dos Alimentos) Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, UFSC, 2008. O ácido hialurônico (AH) é uma macromolécula com importância nas áreas médica, farmacêutica e indústria de cosméticos. O AH é usado no tratamento de doenças degenerativas e inflamatórias das articulações dos ossos, e na reposição do fluido sinovial. O cordão umbilical e a crista de galo constituem uns dos tecidos mais ricos neste polissacarídeo. Sendo o Brasil um dos principais exportadores de frango do mundo, o aproveitamento das cristas dos animais abatidos para a obtenção de AH se mostra particularmente atraente. Neste trabalho objetivou-se a extração, purificação, caracterização e atividade antioxidante do AH proveniente da crista de frango. Amostras secas e delipidadas foram submetidas à digestão proteolítica e posteriormente à precipitação com cloreto de cetilpiridínio (CPC). A concentração de glicosaminoglicanos na crista de frango foi de 14,9 µg de ácido hexurônico/mg de tecido seco. O fracionamento através coluna de troca iônica e posterior identificação dos picos por eletroforese em gel de agarose, mostrou que o AH corresponde a 90 % do total dos glicosaminoglicanos extraídos. Os 10 % restantes migram como cadeias de sulfato de dermatana e sulfato de condroitina na eletroforese em gel de agarose. A massa molar do ácido hialurônico extraído foi de 1,27 x 106 Da. A espectroscopia de 13 C RMN da fração correspondente ao AH mostrou tratar-se de amostra com razoável grau de pureza. O ácido hialurônico apresentou ótima atividade para seqüestrar o radical DPPH, variando de 83,9 % na concentração de 10 µg/mL a 87,3 % na concentração de 500 µg/mL. Desta forma, as cristas de frangos podem ser aproveitadas como fonte de ácido hialurônico pelas indústrias de processamento de frangos. Palavras-chave: cristas de frangos, ácido hialurônico, extração 7 ABSTRACT ROSA, Claudia Severo da. Estudo do ácido hialurônico proveniente da crista de frango: extração, purificação, caracterização e atividade antioxidante. 2008. 106 p. Tese (Doutorado em Ciência dos Alimentos) Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos, UFSC, 2008. Hyaluronic acid (HA) is an important macromolecule in medical pharmaceutical and cosmetic industries. HA is used in the treatment of degenerative and inflammatory diseases of the joints and to replace synovial fluid. The umbilical cord and the chicken crest are two of the richest tissues in this polysaccharide. As Brazil is one of the main exporters of chicken in the world, the utilization of chicken crests from slaughtered animals to obtain HA is a viable option. This study aimed to investigate the extraction, purification, characterization and antioxidant activity of HA from chicken crest. Dry and delipidated samples underwent proteolytic digestion followed by precipitation with cetylpyridinium chloride (CPC). The glycosaminoglycane concentration in the chicken crest was 14.9 µg of hexuronic acid/mg of dry tissue. Fractioning within an ion exchange column and subsequent identification of peaks by electrophoresis in agarose gel showed that HA corresponded to 90% of the total glycosaminoglycane extracted. The remaining 10% migrated as dermatan sulphate and chondroitin sulphate chains in the electrophoresis in agarose gel. The molar mass of the hyaluronic acid extracted was 1.27 x 106 Da. 13 C NMR spectoscopy of the HA fraction showed that the sample had a reasonable degree of purity. Hyaluronic acid presented excellent electron withdrawing activity for the DPPH radical, varying between 83.9 % in the concentration of 10 µg/mL to 87.3 % in the concentration of 500 µg/mL. Thus, chicken crests could be utilized by the poultry industry as a source of hyaluronic acid. Keywords: Chicken crest, hyaluronic acid, extraction 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................18 1.2 Objetivos ....................................... 21 1.2.1 Geral ............................................................................................ 21 1.2.2 Específicos ................................................................................ 21 1.3 Estrutura do trabalho ...................................................................................22 2 REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................24 2.1 Subprodutos de frango ...............................................................................24 2.2 Matriz extracelular .......................................................................................26 2.2.1 Glicosaminoglicanos.... ....................................................................... .....26 2.2.1.1 Ácido hialurônico ..................................................................................27 2.3 Fontes do ácido hialurônico .......................................................................29 2.3.1 Crista de galo ...........................................................................................29 2.3.2 Fermentação do ácido hialurônico por Streptococcus..............................31 2.3.3 Síntese do ácido hialurônico pelo sistema Chlorella-virus .......................32 2.4 Propriedades físico-químicas do ácido hialurônico ..................................33 2.4.1 Enzimas que causam hidrólise no ácido hialurônico ................................33 2.4.2 Destruição do ácido hialurônico através de reação de oxidação- redução ..............................................................................................................34 2.4.3 Hidrólise ácida do ácido hialurônico ........................................................35 2.5 Principais métodos de extração usados para isolar o ácido hialurônico. 35 2.5.1 Extração do ácido hialurônico da crista de galo com acetato de sódio .... 36 2.5.2 Extração do ácido hialurônico com água e enzimas da crista de galo ..... 36 2.5.3 Extração enzimática do ácido hialurônico da crista de galo ......................37 9 2.5.4 Extrações enzimáticas do ácido hialurônico de outras fontes ..................37 2.5.4.1 Ratos.....................................................................................................37 2.5.4.2 Moluscos ...............................................................................................38 2.6 Aplicações médicas do ácido hialurônico.................................................38 2.6.1 Oftalmologia .............................................................................................38 2.6.2 Osteoartrite ..............................................................................................39 2.6.3 Cartilagem................................................................................................41 2.6.4 Aplicações dérmicas ................................................................................42 2.7 Requerimentos para o ácido hialurônico ser usado na medicina ............44 2.8 Envelhecimento humano ............................................................................45 2.8.1 Cartilagem articular humana ...................................................................47 2.8.2 Osteoartrite .............................................................................................50 2.9 Caracterização do ácido hialurônico ...........................................................52 2.9.1 Massa Molar.............................................................................................52 2.10 Função biológica ........................................................................................55 2.10.1 Antioxidante ...........................................................................................55 2.10.2 Formação de radicais livres ...................................................................57 3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................59 3.1 Composição química da crista de frango....................................................59 3.2 Extração dos glicosaminoglicanos totais das cristas de frango .............60 3.3 Fracionamento dos glicosaminoglicanos na coluna Mono Q-FPLC ........ 62 3.3.1 Dosagem de ácido hexurônico (método de Carbazol) .............................64 3.4 Infravermelho ................................................................................................65 3.5 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN).....................65 3.6 Eletroforese em gel de agarose...................................................................66 10 3.7 Viscosidade intrínseca .................................................................................66 3.8 Massa molar ..................................................................................................67 3.9 Determinação da atividade antioxidante ....................................................68 3.9.1 Método de captação do radical DPPH (2,2 - difenil 1-picrilhidrazil)........... 68 3.10 Análise estatística.......................................................................................68 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .........................................................................69 4.1 Composição química da crista de frango...................................................69 4.2 Precipitação dos GAGs totais com etanol, cloreto de cetilpiridínio e metodologias testadas ........................................................................................70 4.2.1 Etanol ........................................................................................................70 4.2.2 Cloreto de cetilpiridínio.............................................................................71 4.2.3 Metodologias testadas no experimento....................................................72 4.4 Caracterização do ácido hialurônico .........................................................77 4.4.1 Identificação molecular do produto...........................................................77 4.4.2 Espectro de RMN 13C ..............................................................................80 4.4.3 Fracionamento dos GAGs extraídos por cromatografia de troca iônica .... 81 4.4.4 Eletroforese em gel de agarose ..............................................................85 4.4.5 Viscosidade intrínseca .............................................................................87 4.3.6 Massa Molar.............................................................................................89 4.5 Otimização do método de extração de ácido hialurônico em escala piloto .....................................................................................................................89 4.5.1 Processo de extração...............................................................................90 4.5.2 Evidências................................................................................................90 4.6 Atividade antioxidante..................................................................................91 11 5 CONCLUSÕES 5.1 Sugestões para trabalhos futuros REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 94 95 96 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Estruturação do texto. ...............................................................................22 Figura 2 - Fórmula molecular da unidade repetitiva dissacarídica do ácido hialurônico, formada por ácido D-glicurônico (GlcUA) e N-acetilglicosamina (GlcNAc). Polímero linear formado por N-unidades repetitivas dissacarídicas (OGRODOWSKI, 2006, p. 6). ............................................................................28 Figura 3 - Biossíntese do ácido hialurônico por Streptococcus (YAMADA; KAWASAKI, 2005). ............................................................................................32 Figura 4 - Processo de extração de GAGs (Desenho: Jardel Thalhofer, 2007). .......62 Figura 5 - Fracionamento e quantificação de GAGs (Desenho: Jardel Thalhofer, 2007). .................................................................................................................63 Figura 6 - Perfil eletroforético em gel de agarose de extratos de ácido hialurônico de cristas de frangos: (P) padrão de AH; (1) ppt. Inicial etanol + CPC tecido fresco; (2) ppt. CPC pó cetônico; (3) ppt. Inicial tecido fresco; (4) CPC tecido fresco; (5) CPC tecido fresco ppt. após diluição 3x.............................................................73 Figura 7 - Perfil eletroforético em gel de agarose de extratos de ácido hialurônico de cristas de frangos: (P) padrão de AH; (1) ppt. Inicial etanol + CPC tecido fresco; (2) ppt. CPC pó cetônico; (3) ppt. Inicial tecido fresco; (4) CPC tecido fresco; (5) CPC tecido fresco ppt. após diluição 3x.............................................................74 Figura 8 - Espectro de infravermelho do (a) ácido hialurônico padrão, (b) ácido hialurônico extraído – transmitância versus número de onda (cm-1). .................79 Figura 9 - Numeração adotada para atribuição dos sinais de RMN de 13C...............80 Figura 10 - Espectro de RMN 13C {H} a 100 MHz do ácido hialurônico em D-2O......82 13 Figura 11 - Espectro de RMN 13 C {H} a 100 MHz mostrando a expansão do ácido hialurônico em D-2O. ..........................................................................................83 Figura 12 - Fracionamento dos GAGs extraídos da crista de frango por cromatografia de troca-iônica. Amostra de GAG total ( ~ 500 µg em ácido hexurônico) foi aplicada em coluna Mono Q-FPLC, previamente equilibrada com tampão TrisHCl 20 mM, pH 8,0. A coluna foi submetida a um gradiente linear de NaCl (0 a 1,5 M), com fluxo de 1 mL/min, e coletadas alíquotas de 0,5 mL. As frações foram analisadas quanto à metacromasia (•) e conteúdo de ácido hexurônico(ο) ...................................................................................................84 Figura 13 - Eletroforese em gel de agarose do GAG total e das frações obtidas na cromatografia de troca iônica. Coloração com azul de toluidina. P- Padrão, A1 GAG total, A2 - Fração I, A3 - Fração II da coluna de troca iônica, sulfato de condroitina , sulfato de dermatana. ....................................................................86 Figura 14 - Eletroforese em gel de agarose do GAG total e das frações obtidas na cromatografia de troca iônica. Coloração com azul de toluidina e Stains-All. P Padrão, A1 - GAG total, A2 - Fração I, A3 - Fração II da coluna de troca iônica, sulfato de condroitina, sulfato de dermatana......................................................87 Figura 15 - Viscosidade reduzida versus a concentração de AH extraído da crista de frango. ................................................................................................................88 Figura 16 - Capacidade de seqüestrar radicais livres do ácido hialurônico, extraído da crista de frango e do ácido hialurônico padrão.............................................92 14 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Métodos, etanol e cloreto de cetilpiridínio, testados para precipitar os GAGs e rendimento em ácido hexurônico ................................................................72 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Equações para construção do gráfico da viscosidade intrínseca ............67 Tabela 2 - Composição química da crista de frango .................................................69 Tabela 3 - Rendimento e concentração de ácido hexurônico na crista de frango obtidos a partir de duas metodologias testadas .................................................75 Tabela 4 - Viscosidade reduzida para solução de AH extraída da crista de frango .. 87 16 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABEF - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos AFA - Associação Fluminense de Avicultura cm - centímetro CPC - cloreto de cetilpiridínio CV - coeficiente de variação E - constante dielétrica Da - Dalton DMB - azul de dimetilmetileno FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FDA - Food and Drug Administration g – grama ou força da gravidade GAGs - glicosaminoglicanos h - hora AH - ácido hialurônico Hz - Hertz l - litro M - molar mA - mili Ampère MDa – milhões de Dalton mg - miligrama MHz - megahertz min - minuto mL - mililitro 17 mM - milimolar nm - nanômetro ONU - Organização das Nações Unidas ppm - parte por milhão RMN - Ressonância Magnética Nuclear rpm - rotações por minuto s - segundo SC – sulfato de condroitina SD – sulfato de dermatana UBA - União Brasileira de Avicultura V - volt µg - micrograma µs - microsegundo 1 INTRODUÇÃO A avicultura industrial é uma das atividades agrícolas mais desenvolvidas no mundo. Impulsionada, sobretudo pela necessidade de utilização de proteína de origem animal na dieta humana, a produção avícola no Brasil representa uma das mais importantes cadeias produtivas. Em 2002, a produção brasileira de carne de frango foi de 7,449 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 13,5 % em relação a 2001 (NUNES et al., 2005). Em 2007 foram produzidos 8,988 milhões de toneladas de carne de frango (IBGE, 2008). Entre os países que se destacam no setor, o Brasil ocupa o terceiro lugar no mercado mundial de produção de carne de frango. Para que o setor mantenha o sucesso, é preciso investir em produtividade a baixo custo. Além disso, é necessária atenção especial à questão ambiental, destacando-se a importância do aproveitamento dos resíduos da indústria avícola. Duas classes de subprodutos são gerados antes e durante o abate: os sólidos e os líquidos. Na primeira classe encontram-se: penas, vísceras e órgãos crus, cabeças, pés, peles, gorduras, ossos, resíduos de cama de aviário, restos de carcaças reprovados para o consumo. Na classe dos resíduos líquidos listam-se: sangue, e efluentes líquidos. Os grandes frigoríficos, em geral, possuem unidades industriais que recebem esses subprodutos e os transformam em farinhas. Desde que se tornaram proibidas a adição de matéria-prima animal na composição de rações, devido aos riscos de transmissão de doenças ao homem, as farinhas dos resíduos do abate de aves e suínos passam a destinar-se prioritariamente à produção de rações para cães e gatos (pet-food) (VEGRO; ROCHA, 2007). 19 A crista de frango é rica em ácido hialurônico e sendo um resíduo é desprezada juntamente com a cabeça para a graxaria. O ácido hialurônico possui importantes aplicações nas áreas médico-farmacêutica e cosmética. É usado no tratamento de doenças degenerativas e inflamatórias das articulações dos ossos, na reposição do fluído sinovial, na liberação de agentes quimioterápicos em implantes cirúrgicos, como meio hidratante e como sistema para encapsulação e liberação controlada de fármacos e cosméticos. A osteoartrite é uma doença degenerativa inflamatória das articulações móveis caracterizadas pela deterioração da cartilagem articular e pela neoformação óssea nas superfícies e margens articulares, inabilitando a reparação e a manutenção das juntas. Como conseqüência, ocorre uma degradação da cartilagem, erosão dos ligamentos e eventual perda das funções mecânicas, envolvendo nestes casos dores crônicas. Esta desordem também é conhecida como doença articular degenerativa. A osteoartrite atinge praticamente todo indivíduo com idade superior a 60 anos, embora algumas vezes os sintomas sejam bastante moderados, a ponto de serem quase imperceptíveis. O fenômeno da longevidade, tanto no Brasil como nos demais países do mundo, foi alavancado pelas mudanças nos estilos de vida. A participação de fatores ambientais, os processos tecnológicos e científicos desenvolvidos na medicina, associados à melhora nas condições socioeconômicas mesmo nos países em desenvolvimento, foram e permanecem sendo os fatores determinantes de aumento de expectativa de vida. O aumento acentuado do número de idosos, particularmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil, trouxe diversas conseqüências para a sociedade. A população idosa brasileira está mais sujeita à problemas de saúde, 20 com o surgimento de enfermidades crônicas que acarretam baixa letalidade e, às vezes alto grau de incapacidade como é o caso da osteoartrite. O uso da viscosuplementação através da injeção de ácido hialurônico com o intuito de restaurar ou de aumentar as propriedades reológicas do líquido sinovial, amenizar os sintomas da osteoartrite e pode inibir a degeneração da cartilagem articular, pela via anabólica dos condrócitos e pela lavagem da articulação de radicais livres. A injeção intra-articular de ácido hialurônico demonstrou eficácia e segurança no tratamento da osteoartrose do joelho. Entretanto, cada ácido hialurônico presente no mercado é distinto conforme a forma de fabricação, massa molar, concentração e método de tratamento. O Brasil sendo um dos principais produtores e exportadores de frangos, gera um grande número de resíduos. As principais fontes comerciais do AH são o cordão umbilical e a de crista de galo. O produto extraído dessas fontes necessita de purificação laboriosa para a sua utilização nas áreas médico-farmacêutica. O grande número de cristas que são desprezadas e os vários métodos de extração que diminuem a massa molar do ácido hialurônico aliado ao aumento da expectativa de vida pelos idosos que possuem osteoartrite, motivaram a realização deste trabalho. A massa molar do AH tem sido considerada a propriedade mais importante nas aplicações médicas que envolvem principalmente implantes ósseos, para as quais não só são requeridos os efeitos de amortecimento devidos à viscosidade. Ressalta-se que o AH de alta massa molar, da ordem de 106 Da, possui alto valor agregado (US$ 65,00/100mL), e não é produzido comercialmente no Brasil (OGRODOWSKI, 2006). 21 1.2 Objetivos 1.2.1 Geral Extrair e caracterizar o ácido hialurônico da crista de frango 1.2.2 Específicos a) Aproveitar resíduos das indústrias de abate e processamento de aves; b) Extrair o ácido hialurônico do meio através de precipitação; c) Testar metodologias de extração para o ácido hialurônico; d) Caracterizar o ácido hialurônico extraído da crista de frango; e) Adequar à metodologia de extração em escala piloto; f) Determinar a atividade antioxidante do ácido hialurônico extraído da crista de frango. 22 1.3 Estrutura do trabalho Este texto foi estruturado em cinco capítulos, conforme expõe a Figura 1. INTRODUÇÃO Proposta de estudo Justificativa Objetivos REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Subprodutos de frango Ácido hialurônico Fontes de ácido hialurônico Envelhecimento humano Usos na medicina Função biológica MATERIAL E MÉTODOS Amostra Metodologias de extração Metodologias para caracterização RESULTADOS E DISCUSSÕES Análises dos dados Otimização do método em escala piloto CONCLUSÕES Resultados Sugestões para novos trabalhos REFERÊNCIAS Figura 1 - Estruturação do texto. 23 Neste primeiro capítulo são apresentadas as considerações introdutórias, que envolvem a caracterização da proposta de estudo, a justificativa e os objetivos da pesquisa. No segundo capítulo é apresentada uma revisão bibliográfica, expondo as bases teóricas da pesquisa, englobando uma explanação a cerca dos subprodutos da industrialização do frango, a caracterização do ácido hialurônico e suas fontes, o processo de envelhecimento humano, usos na medicina e função biológica do ácido hialurônico. O terceiro capítulo apresenta considerações sobre a metodologia usada para o desenvolvimento da pesquisa, caracterização da amostra, metodologias para extração e caracterização. O quarto capítulo trata na íntegra dos resultados e discussões, onde são apresentados a análise dos dados obtidos e uma otimização do método usado em escala piloto. O quinto e último capítulo, apresenta as conclusões sobre a pesquisa, além de sugestões para novos trabalhos. Ao final, é listado o referencial bibliográfico consultado. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Subprodutos de frango A carne de frango é a segunda mais consumida no mundo e a que mais cresce em produção e consumo. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o consumo médio mundial é de 11 kg/hab/ano, sendo Hong Kong o maior consumidor per capita de carne de frango (50,4 kg/habitante em 2003). O Brasil é o quarto colocado, com um consumo per capita de 35 kg/ano quase se igualando à quantidade consumida de carne bovina, superando o consumo de países como o Canadá, com renda per capita maior que a do Brasil (GIROTTO; MIELE, 2004). Nos últimos vinte e cinco anos, seu índice de crescimento foi superior a 200 %, muito acima das demais carnes. O Brasil é o terceiro produtor mundial de carne de frango. Até 1998, Santa Catarina era o estado que mais produzia, mas atualmente o Paraná é o maior produtor. A avicultura brasileira tem crescido muito, com destaque para o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo (OLIVO; OLIVO, 2006). As exportações de carne de frango ganham espaço a cada ano. Em 2004, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos, assumindo a condição de maior exportador. Mais de 60 % desse volume exportado são cortes, que demandam mão-de-obra, com isso exportando-se mais serviços. Segundo dados da UBA (União Brasileira de Avicultura) e ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos), no ano de 2005 foram abatidos 17.566.405 cabeças/dia de frangos no 25 Brasil os quais geram um número muito grande de subprodutos e resíduos de abatedouro (OLIVO; OLIVO, 2006). A indústria cárnea norte americana considera que qualquer produto de um animal que não seja estritamente a carcaça limpa é um subproduto. O rendimento dos subprodutos comestíveis oscila entre 20 e 30 % do peso vivo para bovinos, suínos e ovinos e de 5 a 6 % para aves (OCKERMAN; HANSEN,1994). Existem vários subprodutos que são considerados resíduos e que na maioria dos casos são usados para a fabricação de farinha para a alimentação animal. Mas parte deste resíduo pode ser usado para recuperação de proteína, para elaboração de concentrados protéicos, para incorporação na alimentação humana e também para outros fins inclusive na indústria de medicamentos (ROQUE, 1996). O surgimento das graxarias ocorreu com a finalidade de favorecer o aproveitamento dos subprodutos gerados no abate de animais (penas, vísceras e demais resíduos), que anteriormente eram simplesmente jogados em rios ou enterrados, fabricando farinhas que são incorporadas a outros farelos na produção de rações para alimentação animal. Neste caso ganham as empresas, a economia e a sociedade, considerando o respeito ao meio ambiente e ao crescimento sustentável. No Brasil, a farinha obtida nas graxarias tem seu principal uso na produção de rações para aves. No início de 2006, a gripe aviária trouxe preocupação ao setor de graxarias devido à redução do consumo de seus produtos no uso da produção de ração para alimentação de frangos. Isto gerou uma elevação nos estoques, principalmente das farinhas, gerando uma indesejável retenção adicional de materiais gerados pelos abatedouros e frigoríficos. Pesquisas têm buscado formas alternativas de aproveitamento destes subprodutos e resíduos (PACHECO, 2006). 26 2.2 Matriz extracelular A matriz extracelular é composta por uma complexa rede de macromoléculas que ocupa um considerável volume no espaço extracelular. Essa matriz é composta por várias proteínas versáteis e polissacarídeos que são secretados e montados em uma rede organizada associada à superfície celular que os produz. As macromoléculas que compõem a matriz extracelular são principalmente produzidas localmente pelas células da matriz. Na maioria dos tecidos conjuntivos, as macromoléculas da matriz são secretadas nos fibroblastos. As classes principais de macromoléculas extracelulares que formam a matriz são: (1) cadeias de polissacarídeos da classe chamados glicosaminoglicanos (GAGs), e (2) proteínas fibrosas de dois tipos funcionais: predominantemente estruturais (colágeno e elastina) e predominantemente adesivas (fibronectina e laminina) (ALBERTS, et al., 1997). 2.2.1 Glicosaminoglicanos Os glicosaminoglicanos são cadeias polissacarídicas não-ramificadas, compostas de unidades repetidas de dissacarídeos. São chamados GAGs porque um dos dois açúcares do dissacarídeo repetido sempre é um açúcar aminado (Nacetilglicosamina ou N-acetilgalactosamina) e normalmente sulfatado. O segundo açúcar, normalmente é um ácido urônico (glicurônico ou idurônico). Devido aos grupos sulfato e carboxila, os GAGs são carregados negativamente. Estão divididos em quatro grupos principais de acordo com a molécula do açúcar, o tipo de ligação 27 entre eles e o número e a localização dos grupos sulfato: (1) ácido hialurônico, (2) sulfato de condroitina e sulfato de dermatana, (3) sulfato de heparana e (4) sulfato de queratana (GARTNER; HIATT, 2003). 2.2.1.1 Ácido hialurônico O ácido hialurônico é um membro da família dos glicosaminoglicanos, e está presente na substância fundamental ou cimento intercelular dos tecidos animais e nas cápsulas de certas bactérias (OGRODOWSKI, 2006). O ácido hialurônico é um copolímero de N-acetilglicosamina e ácido glicurônico, mas diferentemente dos outros quatro tipos de glicosaminoglicanos. Não é sulfatado, não está ligado covalentemente à proteína e é o único glicosaminoglicano não limitado a tecidos animais. É classificado como um glicosaminoglicano devido as suas similaridades estruturais com os demais polímeros, uma vez que é constituído exclusivamente por unidades dissacarídicas repetidas contendo N-acetilglicosamina e ácido D-glicurônico (Figura 2). Embora o ácido hialurônico tenha a estrutura química menos complexa de todos os glicosaminoglicanos, as cadeias podem atingir massas molares de 105 – 107 Da. A alta massa molar, o caráter polieletrolítico e o grande volume que ocupa em solução contribuem para as propriedades do ácido hialurônico como lubrificante e para absorver choques. O ácido hialurônico é um polissacarídeo polianiônico e quando incorporado em uma solução aquosa neutra ocorrem ligações por pontes de hidrogênio entre as moléculas de água e os grupos carboxila e N-acetil, conferindo ao polímero capacidade de absorver água e dureza conformacional, que limita sua flexibilidade (CHONG; BLANK, 1998). 28 A solução de ácido hialurônico tem consistência gelatinosa, alta viscoelasticidade e alto grau de hidratação devido às características estruturais da molécula. Este ácido está presente em vários tecidos conectivos de animais, preenchendo os espaços intercelulares, tais como a pele e a cartilagem com importante função de flexibilidade e manutenção da estrutura dos tecidos. Na pele e em cartilagens, a sua função é ligar-se à água e reter a tonicidade e elasticidade dos tecidos. Nos fluídos das articulações, serve como lubrificante proporcionando um meio protetor para as células (KIM et al., 1996). CH2OH O CH2OH GlcNAc COO O O GlcNAc COO O 4 GlcUA O 1 O 4 3 O 1 GlcUA 1 1 O 3 NHCOCH3 NHCOCH3 ÁCIDO HIALURÔNICO Figura 2 – Fórmula molecular da unidade repetitiva dissacarídica do ácido hialurônico, formada por ácido D-glicurônico (GlcUA) e N-acetilglicosamina (GlcNAc). Polímero linear formado por N-unidades repetitivas dissacarídicas (OGRODOWSKI, 2006, p. 6). 29 2.3 Fontes do ácido hialurônico O ácido hialurônico foi isolado primeiramente na forma de ácido, mas em condições fisiológicas se comporta como um sal. O nome do ácido deriva de hialóide (vitreous) mais ácido urônico (YAMADA; KAWASAKI, 2005). O termo hialuronana foi introduzido em 1986 para ficar em conformidade com a nomenclatura internacional de polissacarídeos (LAURENT, 2002). Encontrado naturalmente nos tecidos conjuntivos de mamíferos, o ácido hialurônico pode ser extraído do fluído sinovial, pele, tendões e particularmente do corpo vítreo dos olhos, e do cordão umbilical, outra fonte rica é a crista de galo. O ácido hialurônico disponível comercialmente é suprido prioritariamente pelas duas últimas fontes. No entanto, a obtenção do ácido puro a partir dessas fontes naturais apresenta algumas desvantagens: necessidade de purificação laboriosa, uma vez que esse produto encontra-se usualmente misturado com outros mucopolissacarídeos e proteínas, e redução da sua massa molar, devido à degradação das suas cadeias nos procedimentos complexos requeridos para a purificação (OGRODOWSKI, 2006). 2.3.1 Crista de galo Estudos mostram que o ácido hialurônico está presente na crista de galo em quantidades significativas. Os polissacarídeos isolados das cristas sem o epitélio, consistem de ácido hialurônico e sulfato de condroitina na proporção de 15:1. Em 1958, Balazs e Szirmai encontraram em polissacarídeos isolados da camada mucóide da crista quase que somente ácido hialurônico. A galactosamina estava presente em sua extensão em quantidade menor que 0,1 % do total de hexosamina. 30 Pesquisas mostram que o ácido hialurônico e polissacarídeos sulfatados não estão distribuídos homogeneamente entre as diferentes estruturas anatômicas da crista. Evidências histoquímicas indicam que os mucopolissacarídeos estão presentes na derme, camada mucóide da crista, camada reticular e epitélio (SZIRMAI, 1956; DOYLE; SZIRMAI, 1961; SWANN, 1968a). O tecido conectivo da crista é um dos tecidos em que a característica da substância amorfa depende da presença de hormônios. O tamanho e a estrutura da crista são controlados por hormônios. O intumescimento da derme do tecido conectivo da crista e a acumulação do material interfibrilar podem ser observados com a administração de hormônio em pintos ou galos. Em um estudo de distribuição do C14 em cristas de galo juntamente com administração de testosterona mostrou que o tratamento com hormônio teve um significativo aumento na incorporação do C14 em várias partes da crista. A atividade específica do carbono na crista, fígado e córnea diferem, e é dependente de qual precursor é administrado: glicose-6-C14, glicose-1-C14 ou glicuronolactona U-C14. Altos valores foram obtidos após a administração de glicose-6-C14. O ensaio mostra que a atividade foi maior na camada mucóide. Trabalhos anteriores sugerem que o tratamento com hormônio aumenta a taxa de formação de ácido hialurônico no tecido da crista (BALAZS et al., 1958). Mais de 90 % do ácido hialurônico presente na crista possui massa molar de 1,2 x 106 Da e quando extraído da camada mucóide, livre de outros tecidos e sangue, possui alta viscosidade. A crista de galo é uma parte especializada da pele e possui grande quantidade de ácido hialurônico (acima de 7,5 mg/mL). A produção industrial do ácido provém da extração da crista de galo. O ácido presente em 31 tecidos animais está complexado com proteoglicanas e isso dificulta a obtenção de um material de alto grau de pureza (YAMADA; KAWASAKI, 2005). 2.3.2 Fermentação do ácido hialurônico por Streptococcus Com o crescente estudo da produção do ácido hialurônico a partir de bactérias e a desvantagem do processo industrial, o segmento industrial tem investido na fermentação bacteriana, pois neste processo o ácido hialurônico obtido é um polissacarídeo extracelular. É secretado no meio de cultivo possibilitando o controle das características do polímero e do rendimento do produto (CHONG; BLANK, 1998, OGRODOWSKI, 2006). Para a síntese do ácido hialurônico capsular no Streptococcus, as células bacterianas mobilizam três diferentes enzimas: HAS (has A), UDP-Glc desidrogenase (has B) e UDP-Glc pirofosforilase (has C). Essas três enzimas são envolvidas por 3 diferentes genes: has A, has B, has C respectivamente, todos os quais estão organizados na operação. A UDP-Glc desidrogenase é requerida para fazer UDP-Glc A, um dos dois substratos requeridos para a síntese da hialuronana. A UDP-Glc pirofosforilase é uma enzima que produz UDP-Glc de UTP e Glc-1fosfato, Yamada e Kawasaki, (2005), conforme pode ser visto na Figura 3. 32 Glicólise PENTOSE FOSFATO Glicose Fosfoglicoimerase Glicoquidase Glc-6-P Fosfoglicomutase ATP ADP Polissacarídeos da parede celular Glc-1-P PPi UDP-Glc 2 NAD + H + Mutase GlcNAc-1-P UDP-GlcA UDP Acetil-CoA Acetiltransferase CoASH GlcNAc-6-P UDP-glicose desidrogenase hasB + 2NAD Glutamina Amidotransferase Glutamato GlcN-6-P UDP-glicose pirofosforilase hasC UTP Ácido Teicoico Frc-6-P Hialuronato sintetase hasA ÁCIDO HIALURÔNICO UTP Pirofoforilase PPi UDP-GlcNAc UDP PEPTÍDIOGLICANO Figura 3 - Biossíntese do ácido hialurônico por Streptococcus (YAMADA; KAWASAKI, 2005). 2.3.3 Síntese do ácido hialurônico pelo sistema Chlorella-vírus O sistema chlorella-vírus é um novo sistema de síntese de ácido hialurônico recentemente descoberto por (DeANGELIS et al., 1997). Foi descoberto um gen do vírus PBCV-1 (ORFs A100R) capaz de expressar as enzimas HAS, UDP-Glc desidrogenase e a GFAT (glutamina frutose-6-fosfato aminotransferase) requeridas para a síntese do ácido hialurônico em células animais. O gen do vírus PBCV-1 replica o material genético na clorela (alga verde rica em proteínas e minerais) e o AH é sintetizado na parede da alga infectada após 30 min da infecção viral e continua a acumulação até 4 horas. 33 A síntese do AH pelo sistema clorela-vírus inicia-se com a infecção viral onde os genes do HAS bem como GFAT e UDP-Glc desidrogenase são expressos e aparecem as fibras de AH na superfície da clorela infectada. No final do estágio da infecção viral as células infectadas são mortas e o AH deve ser retirado. Segundo Yamada e Kawasaki, (2005), aproximadamente 0,5 – 1 g de hialuronana pode ser recuperado de 1 litro de cultura de células de Chlorella infectadas com o chlorovirus. O rendimento é baixo quando comparado com a fermentação por Streptococcus (usualmente mais de 5 -10 g/l). 2.4 Propriedades físico-químicas do ácido hialurônico 2.4.1 Enzimas que causam hidrólise no ácido hialurônico A quebra das ligações no ácido hialurônico ocorre por ação de hialuronidases que estão presentes na membrana de bactérias patogênicas, secreções salivares de sanguessugas, esperma, toxina de cobra. Dependendo do mecanismo de ação, três tipos de hialuronidases são descritas. A do tipo I compreende as hialuronidases testiculares (do esperma, toxina de escorpião e cobra) quebram o ácido hialurônico hidrolisando a ligação β – (1-4), liberando uma série de oligossacarídeos, razão pela qual ocorre a diminuição da reação com decréscimo do comprimento da cadeia do ácido. A do tipo II compreende a hialuronidase bacteriana que também quebra a ligação β – (1-4) do ácido, ocorre a hidrólise intramolecular com a separação de água, como resultado ocorre a formação de dissacarídeos insaturados. A hialuronidase do tipo III provém de sanguessugas esta enzima quebra a ligação β – (1-3) como resultado ocorre a 34 formação de tetrassacarídeos com ácido glicurônico e o fim da cadeia. Para evitar a hidrólise descontrolada é recomendado que o ácido hialurônico deva ser isolado em presença de clorofórmio a baixa temperatura (GIBIAN, 1966; IGNATOVA; GUROV, 1990). 2.4.2 Destruição do ácido hialurônico através de reação de oxidação-redução O ácido hialurônico é degradado sob a influência de um sistema de oxidação-redução. No corpo vítreo o ácido é decomposto por ação de ácido ascórbico, os oligossacarídeos formados não são reconvertidos assim como no caso da ação das hialuronidases. A reação se dá em alta velocidade em presença do peróxido de hidrogênio ou traços de cobre e somente ocorre em presença de oxigênio. O peróxido de hidrogênio causa a diminuição da massa molecular do ácido hialurônico, causando também a diminuição da viscosidade da solução (IGNATOVA; GUROV, 1990). A quebra do ácido por ação de oxidação-redução em um sistema continua pelo mecanismo de radical livre. Os radicais livres são formados do ácido ascórbico na reação com ácido hialurônico e peróxido de hidrogênio na presença de peroxidase, bem como na reação com oxigênio na presença de ácido ascórbico oxidase. Verificou-se também que o ácido hialurônico é decomposto por ação de íons Fe2+ ou Fe3+ na presença de agentes redutores. A destruição do ácido hialurônico por oxidação-redução pode ocorrer no isolamento do polissacarídeo. O ácido quando preparado em atmosfera de nitrogênio possui alta viscosidade ao contrário do preparado em presença de oxigênio. A despolimerização por oxidaçãoredução catalisada por metais também pode ocorrer no processo de isolamento do 35 ácido hialurônico. Quando o ácido for purificado de proteínas usando a tripsina contendo íons Fe3+ pode-se inibir a diminuição da viscosidade da solução usando a 8 – hidroxiquinolina. Quando for usada a papaína na purificação do ácido, devido a quebra dos complexos com proteínas esses também diminuem a viscosidade, uma vez que a SH- enzima papaína é um agente redutor e induz a quebra do ácido (SUNDBLAD; BALAZS, 1966; IGNATOVA; GUROV,1990). 2.4.3 Hidrólise ácida do ácido hialurônico O ácido hialurônico é uma macromolécula muito sensível ao pH do meio. Uma acidificação fraca do extrato com ácido acético causa uma diminuição irreversível na viscosidade. O ácido hialurônico é completamente hidrolisado por ácidos minerais com formação de glicosaminas, ácido acético, dióxido de carbono e ácido glicurônico (IGNATOVA; GUROV, 1990). 2.5 Principais métodos de extração usados para isolar o ácido hialurônico O ácido hialurônico foi isolado pela primeira vez, em 1934 por Karl Meyer e John Palmer trabalhando no laboratório de bioquímica do departamento de oftalmologia da Universidade de Columbia, do corpo vítreo dos bovinos com uma extração aquosa - acetona (MEYER; PALMER, 1934). No mesmo ano foi isolado do cordão umbilical com uma extração aquosa - clorofórmio. Kendall (1937) foi o primeiro a isolar o ácido hialurônico de Streptococcus hemolitico dos grupos A e B. O ácido hialurônico foi isolado pela primeira vez da crista de galo por Boas (1949) a extração foi feita com acetato de sódio. Até o presente momento diferentes métodos, 36 com várias formas de extração, hidrólise enzimática, fracionamento, dentre outros, são aplicados. A quebra, diminuindo as estruturas dos tecidos, é alcançada por aglomeração, homogeneização e outros procedimentos para garantir o máximo contato com a solução extratora. A quebra, diminuindo a estrutura celular, é usualmente conseguida com o uso de enzimas e solventes orgânicos. A liberação do ácido hialurônico do complexo com outros polissacarídeos e proteínas são conseguidos com o uso de enzimas e detergentes (IGNATOVA; GUROV, 1990). As metodologias a seguir são apresentadas resumidamente. 2.5.1 Extração do ácido hialurônico da crista de galo com acetato de sódio Boas (1949) trabalhou com cristas de galos obtidas após 4 horas do sacrifício. As cristas foram trituradas, desidratadas e delipidadas com acetona. O material seco foi extraído com solução de acetato de sódio a 5 % (1L) várias vezes em intervalos de 24 h. O resíduo das cristas foi descartado e adicionado 1,5 volumes de álcool etílico ao sobrenadante, o precipitado formado foi redissolvido em solução de acetato de sódio a 5 % e a proteína retirada com clorofórmio-álcool amílico. A solução final foi acidificada e precipitada com álcool etílico, e o material foi seco. 2.5.2 Extração do ácido hialurônico com água e enzima da crista de galo Swann (1968a) também trabalhou com cristas obtidas logo após o abate. As cristas foram delipidadas e secas, primeiramente foram trituradas e imersas em água por 48 h, após centrifugadas e o sobrenadante foi precipitado com 3 volumes de 37 etanol a 95 % para precipitar o AH (fração I). Seguiu-se uma nova trituração e imersão em água novamente por 3 dias nesta etapa não houve precipitação do AH (fração II). O resíduo obtido das extrações anteriores foi suspenso em tampão Tris, pH 8,0 e digerido com pronase. Três volumes de etanol foram adicionados ao sobrenadante e o precipitado recolhido (fração III). Porções destes materiais foram coletadas para purificação. 2.5.3 Extração enzimática do ácido hialurônico da crista de galo Nakano, Nakano e Sim (1994) trabalharam com cristas de animais de 52 semanas. As cristas foram desidratadas, delipidadas e secas. O material seco foi digerido com papaína (4µg/mg de tecido seco) em solução tampão fosfato a pH 6,5 por 4 h. O sobrenadante foi dialisado por 24 h, e após precipitado com 4 volumes de etanol. 2.5.4 Extrações enzimáticas do ácido hialurônico de outras fontes 2.5.4.1 Ratos Volpi; Maccari e Titze (2005) obtiveram AH de pele de ratos. Aproximadamente 1 g de pele de ratos (14 semanas) foi triturada e digerida com pronase K em solução tampão Tris por 12 h. Após a centrifugação a precipitação do AH foi feita com adição de acetona ao sobrenadante. 38 2.5.4.2 Moluscos Volpi e Maccari (2003) extraíram AH de moluscos usando extração enzimática. Partiram de 28 g de moluscos triturados, desidratados e delipidados com acetona, o material seco foi hidratado em solução tampão de acetato de sódio contendo EDTA e cisteína e foi juntado a esta solução 100 mg/g de tecido seco de papaína, a digestão foi realizada a 60oC / 24 h. Após a mistura foi centrifugada e 3 volumes de etanol saturado com acetato de sódio foi adicionado ao sobrenadante. O precipitado foi recuperado e seco a 60oC por 6 h. 2.6 Aplicações médicas do ácido hialurônico A fisiologia, a massa molar e a concentração do ácido hialurônico determinam as propriedades reológicas de alta viscosidade. Esses atributos são responsáveis pela função estrutural do ácido hialurônico como um constituinte macromolecular primário do tecido conectivo da matriz extracelular, lubrificante com propriedade de amortecer o fluído sinovial no sistema músculo esquelético e do corpo vítreo (GOA; BENFIELD, 1994). 2.6.1 Oftalmologia No homem, o ácido hialurônico representa 10 % do peso vítreo. A concentração desse ácido varia com a distribuição topográfica (menor na parte anterior que na posterior) e com a idade. No adulto, a concentração é calculada aproximadamente em 240 µg/mL, e na criança em 33 µg/mL. A molécula do ácido 39 hialurônico forma uma rede tridimensional e adota uma configuração em mola, impedindo desse modo, a penetração de outras moléculas grandes no vítreo e mantendo sua transparência (NASSARALLA JUNIOR, 2004). O ácido hialurônico (polianiônico) apresenta-se numa configuração aleatória em pH fisiológico. Quando possui alta massa molar essas cadeias ao acaso podem se entrelaçar para formar um gel viscoelástico. A alta viscosidade do ácido hialurônico com baixa taxa de cisalhamento, permite a manipulação em tecidos oftalmológicos, a manutenção da profundidade e formação do espaço anterior. Entretanto a baixa viscosidade e alta força de cisalhamento facilitam a injeção. A elasticidade do ácido hialurônico, que se intensifica com o aumento da massa molar, protege as células oculares do dano causado pelo contato com instrumentos cirúrgicos e implantes. Essas propriedades são vistas para ambas as massas molares e concentrações de formulações (GOA; BENFIELD, 1994). O ácido hialurônico sintetizado endogicamente na membrana da córnea intraocular no espaço anterior ou posterior do olho é um importante componente não aquoso do fluído ocular. Experimentos in vitro mostram o efeito protetor do ácido hialurônico exógeno de 1 a 3 % sobre o tecido endotelial da córnea animal. Em humanos a proteção do ácido hialurônico no tecido endotelial da córnea é também evidente após a implantação de lentes intraoculares (Miller; Stegmann apud GOA; BENFIELD, 1994). 2.6.2 Osteoartrite Em condições fisiológicas normais, o ácido hiaurônico ocupa a camada superficial do tecido articular, difundindo-se para o interior do espaço sinovial para 40 lubrificar juntas à baixa tensão e para prevenir o dano mecânico por atuar como absorvedor de choques a alta tensão. No entanto, a viscoelasticidade é responsável por proteger, lubrificar e estabilizar células e tecidos da camada durante o movimento (BALAZS; DELINGER, 1993). Durante o processo inflamatório da artrite, essas propriedades reológicas do ácido hialurônico endógeno são diminuídas pela redução na dimensão da molécula e concentração no fluído sinovial do joelho (BALAZS et al., 1967). Em parte essas mudanças são atribuídas à despolimerização da longa cadeia de polissacarídeos por reações com oxigênio, radicais gerados pelos leucócitos e pela diluição da concentração do ácido hialurônico devido à artrite (GOA; BENFIELD, 1994). O uso das preparações de ácido hialurônico intra-articular baseia-se na capacidade desta substância de aumentar a viscosidade do líquido sinovial, que está reduzida nos pacientes com osteoartrose, resultante das reduções no peso molecular e concentração do ácido hialurônico endógeno sintetizado pelos condrócitos e fibroblastos na membrana sinovial. O ácido hialurônico exógeno estimula a síntese de ácido hialurônico in vitro pelos sinoviócitos de articulações com osteoartrose. O ácido hialurônico também apresenta efeitos anti-inflamatórios nas articulações com osteoartrose. O ácido hialurônico intra-articular geralmente é bem tolerado, e os efeitos adversos mais comuns são discretas reações nos locais das injeções. Na prática atual, o ácido hialurônico intra-articular parece ser útil como monoterapia em osteoartrose de joelho, ou como complemento do tratamento farmacológico. Também pode ser utilizado como tratamento para doença avançada, como uma alternativa à cirurgia, ou outros tratamentos invasivos (PEREIRA, 2002). Um aumento na viscosidade do fluído sinovial na concentração ou no peso molecular do ácido hialurônico pode após a injeção intra-articular de ácido 41 hialurônico exógeno, em torno de 1 % ser significativo em alguns pacientes com osteoartrite ou artrite reumatóide. Repetidas injeções de ácido hialurônico intraarticular reduz o tecido conectivo e promove a cura da artrite quando comparado com articulações de macacos (GOA; BENFIELD, 1994). Sob a forma de hialuronato sódico, o ácido hialurônico tem efeito benéfico. Acredita-se que cubra e lubrifique as superfícies articulares, de modo a prevenir a perda de proteoglicanas a partir da matriz cartilaginosa e aumentar a produção, pelas células sinoviais, de ácido hialurônico ou hialuronato. O termo viscosuplementação tem sido usado para descrever o efeito do ácido hialurônico, de alta massa molar, injetado na articulação com osteoartrite. Quando comparado às articulações normais, as articulações artrósicas contêm concentrações menores de ácido hialurônico (0,8 a 2,0 mg/mL versus 3,5 mg/mL) e de menor massa molar (0,5 a 4,0 MDa versus 4,0 a 5,0 MDa) avaliadas no Japão, Itália e Alemanha foram efetivas em 6 a 80 % dos pacientes com osteoartrose de joelho. Três a cinco injeções de 25 mg induziram melhora na dor quando comparado com placebo. Após a série de aplicações, foi detectado no líquido sinovial maior quantidade de ácido hialurônico de alta massa molar o que sugere produção aumentada pelas células sinoviais (FERNANDEZ et al., 1997). 2.6.3 Cartilagem Na cartilagem, o ácido hialurônico é a espinha dorsal dos agregados de proteoglicanas responsáveis pela integridade da matriz intercelular. O dano da cartilagem durante o processo de osteoartrite causa mudança na matriz devido à perda de ácido, colapso enzimático de proteoglicanas e outras substituições por 42 moléculas com composição alterada. Além disso, componentes fragmentados da matriz distribuídos no fluído sinovial podem provocar uma reação inflamatória. A expectativa de que o ácido hialurônico exógeno pode reparar ou proteger a cartilagem tem sido objeto de muito estudo em modelos animais (GOA; BENFIELD, 1994). 2.6.4 Aplicações dérmicas O colágeno bovino foi o primeiro produto aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) para ser injetado na pele. O colágeno bovino foi utilizado como referência, mas o ácido hialurônico assim como o colágeno também é um dos componentes da pele, tendo um papel importante na hidratação do espaço extracelular e constituindo uma matriz de suporte para o funcionamento normal das células (PIERRE, 2004). A principal aplicação dermatológica dos derivados do ácido hialurônico é no aumento de tecidos moles, através de injeções intradérmicas. Os derivados do ácido hialurônico são injetados no tecido dérmico para fornecer um suplemento viscoelástico para a matriz extracelular do tecido conectivo. Isto pode resultar na correção de problemas da pele causados por rugas, cicatrizes, para aumento de lábios ou outros defeitos. Dependendo do tipo de pele e lesão, melhores resultados são obtidos em áreas onde a correção pode ser visualizada pelo esticamento manual da pele (MANNA et al., 1999). O ácido hialurônico tem sido extraído principalmente de crista de galo e vários artigos abordam aplicações clínicas do ácido desta fonte. Mais recentemente o ácido hialurônico tem sido produzido por bactérias Streptococcus, porém dispõe-se 43 de pouca informação científica sobre o procedimento de extração e características químicas do ácido (MANNA et al., 1999). Estima-se um total de ácido hialurônico em humanos ao redor de 12 g. No cordão umbilical, líquido sinovial (3500 mg/l) e no vítreo (200 mg/l). A pele contém ao redor de 7 g de ácido hialurônico onde é produzido e mantido na membrana da célula e liberado para o espaço extracelular. O catabolismo na pele é muito rápido. A meia-vida é de menos de 24 horas. A degradação do ácido é influenciada pelo efeito térmico, enzimático e interações com radicais livres. O volume a ser injetado para uma boa correção depende da profundidade dos sulcos das rugas e também da viscosidade do ácido injetado. A longevidade do produto depende do processo de estabilização e da quantidade de ácido injetado (PIERRE, 2004). Estudos recentes, mostram o ácido hialurônico não somente como fluido lubrificante, aplicações dérmicas e oftalmologia, mas também, como sistema de liberação controlada de fármacos, tais como no prolongamento da anestesia em articulações de ossos e cavidades (GODENHEIN et al., 2001), no tratamento de artropatia (SUZUKI et al., 2001), liberação de agentes quimioterápicos em implantes cirúrgicos (AEBISCHER et al., 2001), implantes de fármacos em cáries dentárias (SUHONEN; SCHUG, 2000), e sistema de liberação controlada de antígenos para imunoterapia (PARDOLL et al., 2001), aplicações em lentes de contato (BEEK; JONES; SHEARDOWN, 2008), como um copolímero com propriedades antitrombóticas para uso em aplicações vasculares (XU et al., 2008). 44 2.7 Requerimentos para o ácido hialurônico ser usado na medicina O ácido hialurônico para aplicações médicas deve em todos os casos ter um elevado grau de pureza e apresentar-se em faixa de massa molar mais adequada para a aplicação específica. O ácido hialurônico encontrado no fluído sinovial tem massa molar de 1 – 8 MDa, o do cordão umbilical em torno de 3,6 – 4,5 MDa, e da crista de galo deve atingir valores maiores, tais como 12 – 14 MDa. No entanto, os procedimentos de purificação e esterilização para as aplicações reduzem muito a massa molar do produto. A composição do ácido é a mesma, independente da fonte (OGRODOWSKI, 2006). Produtos como Orthovisc (Anika Therapeutcs Inc., EUA), Hyalgan (Fidia Pharmaceutical, Itália), Supartz (Seikagaku Corp., Tókyo) e Synvisct (Philadelphia) são usados como lubrificantes e amortecedor, melhorando a mobilidade e a dor. Possuem alta massa molar e produzem excelentes resultados nos estudos da terapia da Osteoartrite (BRANDT et al., 1999; ALTMAN; ROLAND, 1999). Produtos como Healon, Ial, Amvisc, Opegan e Vitrax todos obtidos de crista de galo, de alto peso molecular são usados em oftalmologia para proteger as células oculares de danos causados por instrumentos ou implantes (GOA; BENFIELD, 1994). Produtos com massas molares menores, na faixa dos produtos comerciais de 3 a 5 MDa são adequados para redução de adesões em períodos pósoperatórios e implantes (BRANDT et al., 1999; MANNA et al., 1999; PARDOLL et al., 2001). Quando o ácido hialurônico é usado em aplicações na pele com o objetivo de diminuir os sulcos de rugas, é importante que o ácido hialurônico esteja 45 estabilizado para não ocorrer reação alérgica. O processo de estabilização é feito com a introdução de ligações cruzadas no gel. Existem hoje no mercado alguns produtos como: Restylane (Q Méd AB, Suíça) de Streptococcus, Juvederm (LEADerm, França) de crista de galo e Hylaform (Genzime Corp., USA) de crista de galo. Esses produtos variam sua concentração de 20 mg/mL, 24 mg/mL e 5,5 mg/mL respectivamente (MANNA et al., 1999; PIERRE, 2004). Os ácidos hialurônicos de maiores massas molares atualmente encontrados no mercado têm como fonte a crista de galo, e são designados como: Healton.RTM. e Healton.RTM.GV, ambos produzidos pela Pharmacia AB (Suécia), os quais possuem massas molares em torno de 3,5 a 5 MDa respectivamente. Esses valores se referem aos produtos esterilizados, o que significa que anteriormente a esse processo as massas molares eram na ordem de 5 a 7 MDa (OGRODOWSKI, 2006). Os ácidos hialurônicos com massas molares menores que os da crista são os obtidos de sistemas bacterianos e situam-se na faixa de 4 MDa antes do processo de esterilização e estão registrados nas várias patentes da Fermentech (1 3 MDa), Chisso Corp. (2 - 3 MDa), Denki Kagaku Kogyo KK (2 - 4 MDa) (ST. ANG. HL, 2000). 2.8 Envelhecimento humano Em 1982, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu a I Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento e aprovou o Plano de Ação Internacional de Viena elaborado durante a Assembléia, definindo a população idosa como o grupo de pessoas com 60 anos ou mais. No entanto, em 1985, a Organização das Nações Unidas, segundo Paschoal (1999), adotou a idade de 65 46 anos como marco cronológico para estudos populacionais de idosos, somente nos países desenvolvidos, enquanto para os países em desenvolvimento, onde a expectativa média de vida é menor, instituiu a idade de 60 anos (MOI, 2004). Por volta do ano 1900, menos de 5 % da população chegava aos 65 anos de idade. Atualmente as pessoas idosas com mais de 65 anos contabilizam mais de 12 % da população dos EUA (ROACH, 2001). Atualmente, a população brasileira com idade igual ou superior a 60 anos é da ordem de 15 milhões de habitantes. A sua participação no total da população nacional dobrou nos últimos 100 anos, passando de 4 %, em 1900 para 9 % no ano 2000. Projeções recentes indicam que esse segmento poderá ser responsável por 15 % da população brasileira no ano 2020 (CAMARANO et al., 1997). O último censo populacional (2001) mostrou que os idosos no Brasil, correspondem a 9,1 % da população do país, pois do total de 160.336.471 brasileiros identificados em 1999, 14.512.803 tinham 60 anos ou mais. Segundo Ramos et al. (1993), em 2025, o Brasil terá a sexta maior população de idosos do mundo. A grande questão atualmente, é fazer com que o prolongamento da vida seja acompanhado de melhoria de sua qualidade, autonomia e independência, associados à sabedoria, indicadores essenciais para um viver saudável e feliz (NÉRI, 2001). A população idosa brasileira está sujeita à problemas de saúde, com o surgimento de enfermidades crônicas que acarretam baixa letalidade e, às vezes, alto grau de incapacidade, onerando os orçamentos na área da saúde, tão carente ainda de recursos (VERAS, 1994). 47 2.8.1 Cartilagem articular humana A cartilagem articular é um tecido conjuntivo especializado com grande quantidade de matriz extracelular. Essa matriz é composta por uma densa rede de fibras colágenas, proteoglicanas agregadas e não-agregadas, água, sais inorgânicos e pequena quantidade de outras proteínas, glicoproteínas e lipídios. A principal macromolécula encontrada na matriz é o colágeno (60 %), tipos IX e XI, mas predominantemente do tipo II. Este colágeno fica embebido em um firme gel hidratado de proteoglicanas. A proteoglicana é formada por um núcleo protéico central e possui glicosaminoglicanos sulfatados (GAGs) ligados a esse núcleo. Essas proteoglicanas podem ser encontradas como monômeros e também na forma agregada. O agregado de proteoglicanas é composto de uma cadeia de ácido hialurônico central (GAG não sulfatado) com múltiplos monômeros de proteoglicana ligados a ele (Vanwanseele et al., 2002 apud CINTRA NETO, 2006). De uma forma geral, as funções principais da cartilagem articular são absorver o choque, distribuir a carga ao longo da superfície articular durante a descarga de peso e permitir o deslizamento livre e suave dos movimentos. O que permite que isso ocorra é a composição, a organização, o sistema de expansão e o contrabalanço existente em sua matriz extracelular e sua superfície lisa deslizante com baixo coeficiente de fricção (FELICE et al., 2002). Os GAGs são fortemente hidrofílicos e por isso formam géis mesmo em baixas concentrações. Possuem múltiplas cargas negativas que atraem cátions (como Na+) que são osmoticamente ativos e fazem com que grandes quantidades de água sejam sugadas para o interior da matriz. Além disso, os monômeros de proteoglicanas repelem-se por terem a mesma carga. Essas duas situações criam 48 uma pressão e edema que é balanceada pela tensão das fibras colágenas. Por suas características, o colágeno fornece resistência a essa expansão. As proteoglicanas, além de preencherem o espaço da matriz, resistem à compressão. Sendo assim, a grande quantidade de GAGs, e o colágeno permitem, respectivamente, grande pressão interna e tensão de contrabalanço, o que dá à cartilagem sua rigidez e resistência (NARMONEVA et al., 2002; ALBERTS et al., 2004). Distribuída em lacunas entre essa matriz, existe uma esparsa população de células, os condrócitos. São eles os responsáveis pela síntese e manutenção destes componentes da matriz. Produzem e degradam glicosaminoglicanos, baseados nas citocinas anabólicas e catabólicas enviados e recebidos pela própria matriz (Goldring, 2000 apud RENNER, 2005). Os fatores de crescimento insulínico-1 (IGF-1) e transformador β (TGF-β) são, talvez, as citocinas anabólicas mais importantes. Entretanto, sob condições diferentes eles parecem diferenciar seus processos. IGF-1 é o maior contribuinte para a homeostase da cartilagem sob condições normais. Sob lesão ou condição de osteoartrite os condrócitos expressam, em grande quantidade, uma proteína que se liga ao IGF-1 que aos poucos diminui sua efetividade. Por outro lado, TGF-β só aumenta a síntese de proteoglicana quando a cartilagem está osteoartrítica. Outro fator de crescimento, a proteína morfogênica óssea-2 (BMP-2), também é muito importante na síntese de proteoglicanas em cartilagens saudáveis (ANGEL et al., 2003). Para degradação, os condrócitos são capazes de sintetizar uma variedade de enzimas proteolíticas como, por exemplo, as metaloproteases da matriz. A cascata proteolítica, responsável pela degradação, envolve colagenases, gelatinases e estromelisinas. Suas ações são controladas pelos inibidores teciduais 49 de metaloproteases (TIMPs), também sintetizados pelos condrócitos. Eles inibem os efeitos catabólicos das metaloproteases. Acredita-se que a relação entre as metaloproteases e os inibidores das mesmas é rigidamente controlada pelos condrócitos para garantir a homeostasia tecidual (Vanwanseele et al., 2002 apud RENNER, 2005). A cartilagem articular apresenta diferentes características conforme passa da superfície à zonas mais profundas. Estas diferenças estão relacionadas com a quantidade e organização dos componentes da matriz e dos condrócitos, o que dá às camadas características biomecânicas conforme a região. Em função destas variações, divide-se a cartilagem em quatro camadas: superficial, média, profunda e calcificada (RENNER, 2005). A superfície da cartilagem articular, perde mais rapidamente glicosaminoglicanos que as regiões mais profundas do tecido, exibindo assim, menor pressão de edema, pois essa é determinada pelo equilíbrio entre a pressão osmótica dos glicosaminoglicanos e a força restritiva da rede de fibrilas colágenas. A composição da cartilagem articular adulta se altera com o envelhecimento, mas as modificações observadas são pequenas quando comparadas com as que ocorrem durante o processo de maturação esquelética que em humanos se estende até a terceira década. As alterações observadas na matriz extracelular refletem modificações condrocitárias. Na cartilagem articular de animais maduros (após o fechamento epifisário) tem-se menor concentração celular do que a observada nos tecidos imaturos, sobretudo na zona superficial. No processo de envelhecimento ocorre uma diminuição na atividade sintética dos condrócitos (EGRI, BATISTELA; YOSHINARI, 1999). 50 Smalc et al., (1995) estudaram a cartilagem articular de joelhos de ratos Wistar de seis meses (jovens) e vinte e quatro meses (senis) de idade, por microscopia ótica. Evidenciaram que no grupo jovem não havia alterações degenerativas evidenciáveis, com o tecido apresentando superfície uniforme, elevada concentração de proteoglicanas e condrócitos normais. No grupo senil, cerca de 68 % dos animais avaliados apresentavam algum grau de alteração degenerativa, sendo a mais freqüentemente observada (50 % dos animais desse grupo) a perda de proteoglicanas da zona superficial, acompanhada da diminuição de condrócitos. 2.8.2 Osteoartrite A osteoartrite é, essencialmente, uma condição degenerativa da cartilagem articular com formação subseqüente de osteófitos marginais, alterações no osso subcondral e medula óssea, reação inflamatória da membrana sinovial e danos na estrutura intra-articular (Gould, 1993 apud CINTRA NETO, 2006). A osteoartrite é associada à perda do equilíbrio entre a síntese e degradação de macromoléculas que proporcionam a cartilagem articular suas propriedades funcionais e biomecânicas (LOHMANDER, 1994). O processo é iniciado pela perda das proteoglicanas da matriz extracelular e uma ruptura na rede fibrilar colagenosa, seguido de migração dos condrócitos através dessa matriz. Os condrócitos ficam expostos a estímulos que alteram o seu comportamento metabólico. Essas células, sem a proteção da matriz, multiplicam-se no local da lesão e aumentam seus mecanismos de síntese, tentando uma regeneração. Essa tentativa é transitória, pois logo predomina a ação de proteases 51 que iniciam de modo progressivo, a degeneração da cartilagem e morte celular. Com a degradação, fragmentos de proteoglicanas e de colágeno caem no líquido sinovial, indo alcançar a sinóvia. Esses fragmentos passam a agir como neo-antígenos a partir da exposição de determinadas seqüências de peptídeos. Eles geram efeito irritativo estimulando sinoviócitos que passam a sintetizar citocinas catabólicas (IL1α, IL-1β e TNFα). Essas vão interagir com condrócitos, estimulando ainda mais a produção de proteases. Há um aumento da degradação e cresce, proporcionalmente, a quantidade de fragmentos, que voltam a estimular as células sinoviais, fechando um ciclo que pode perpetuar o processo ostoartrítico (RENNER, 2005). O diagnóstico da osteoartrite só é realizado quando o paciente apresenta dor, disfunção, efusão e diminuição do espaço articular na radiografia, porém quando isto ocorre a lesão condral já esta evoluída. Para facilitar o diagnóstico precoce, monitorar a progressão da lesão e avaliar os tratamentos cirúrgicos e farmacológicos precisa-se aprimorar as ferramentas utilizadas para os diagnósticos (LOHMANDER, 1991; LOHMANDER, 1994). Com o envelhecimento da população a prevalência da doença continuará a crescer. A osteoartrite consome uma proporção significativa dos recursos da saúde. A National Health Interview Survey, de 1900 – 1992 nos Estados Unidos, evidenciaram que as doenças músculo-esqueléticas são responsáveis por 30 % das consultas médicas, 33 % das internações hospitalares e 46 % de todas as pessoas com limitações em suas atividades diárias. O impacto pessoal dos problemas músculo-esqueléticos supera os aspectos econômicos já que influencia negativamente BACHMEIER, 1996). o status psicológico dos pacientes (BROOKS; 52 As terapias atuais da osteoartrite são amplamente sintomáticas e focadas na diminuição da dor e melhora da função com analgésicos, anti inflamatórios não hormonais, ou artroplastia. No entanto, novas intervenções estão sendo propostas para o tratamento desta afecção que podem diminuir a taxa de degeneração articular (Lohmander, 1994 apud, CINTRA NETO, 2006). 2.9 Caracterização do ácido hialurônico 2.9.1 Massa Molar A massa molar do ácido hialurônico pode ser determinada por cromatografia de permeação em gel (KIM et al., 1996) ou por estimação indireta através da sua viscosidade intrínseca (ARMSTRONG et al., 1997). A relação entre viscosidade intrínseca de uma solução polimérica com a massa molar viscosimétrica média é dada através da equação 2.1 de Mark-HouwinkKuhn-Sakurada (MHKS) (ARMSTRONG; JOHNS, 1995; ARMSTRONG et al., 1997). η= k (Mv)a (2.1) Onde: k e a são constantes que dependem do polímero, do solvente e da temperatura. η é a viscosidade intrínseca Mv é a massa molar do polímero 53 Quando o valor da viscosidade intrínseca for maior do que 2960 mL/g, multiplica-se este valor por um fator igual a 1,247 para corrigir o zero de cisalhamento (ARMSTRONG et al., 1997). 2.9.2 Viscosidade intrínseca A viscosidade intrínseca [η] é uma medida do volume hidrodinâmico ocupado por uma macromolécula em solução é, portanto uma reflexão do seu tamanho. O valor de [η] pode ser obtido de ηred. quando a concentração é extrapolada para zero, a viscosidade intrínseca varia muito e depende da Mv. Fazendo comparação com dados obtidos em outros trabalhos Gura, Hückel e Müller (1998), estes mostram boa correlação de amostras com massa molar similar em solventes de força iônica similares. A viscosidade intrínseca pode em teoria ser usada para determinar a massa molar de macromoléculas através da relação (MHKS), entretanto a validade do valor da massa molar obtido depende dos parâmetros k e a os quais necessitam ser obtidos usando condições idênticas de solvente e temperatura para a amostra (HOKPUTSA et al., 2003). Analises de regressão forneceram valores de K = 5,075 x 10-2 e a = 0,716 para viscosímetro Ubbelohde. Em oposição a esses resultados, os valores por viscosímetro Zimm-Crothers medidos são K = 3,023 x 10-2 e a = 0,770 em concordância com outros valores publicados por outros autores (GURA; HÜCKEL; MÜLLER, 1988) O parâmetro a sozinho dá informação da conformação de uma molécula e pode ser visto em vários trabalhos bem como a comparação entre seus valores. 54 Bothner et al., (1988) sugere que o parâmetro a do AH é dependente da massa molar do AH. Bothner et al., (1988) apresentou duas zonas de cálculo para a (MHKS): a primeira zona com massa molar menor que 106 g mol-1 com valor de a publicado em vários trabalhos. Por outro lado a segunda zona com valores acima de 106 g. mol-1 com menores valores de a (0,601). Existe uma regra importante para a taxa de cisalhamento para a relação (MHKS) para amostras com massa molar maior. Com massa molar maior, o início da taxa de cisalhamento depende da substituição para a taxa de cisalhamento menor devido a uma forte atração dos domínios intermoleculares do AH. No ácido hialurônico a atração é muito forte devido ao alto volume molecular, conseqüentemente, uma taxa de cisalhamento mais alta em um viscosímetro Ubbelohde pode ser a razão para o baixo valor de a e a correlação não linear acima de 1,4 x 106 g. mol-1 em comparação a determinação em viscosímetro Zimm-Crothers. A influência da taxa de cisalhamento é a razão para a baixa medida em viscosímetro Ubbelohde. Para resultados precisos a medição deve sempre ser realizada numa faixa de comportamento de fluxo newtoniano. Contudo o tempo rápido a taxa de cisalhamento de uma medição no viscosímetro Ubbelohde depende da concentração e do peso molecular do AH. Mesmo assim a viscosidade intrínseca de baixa massa molar do AH pode ser determinada corretamente devido sua grande faixa de comportamento de fluxo newtoniano. Contudo para amostras com massas molares acima de 106 g. mol-1 os coeficientes de (MHKS) publicados baseados na medida do Ubbelohde mostram que podem ser usados, mas com cuidado para calcular a massa molar. Para medidas de alto peso molecular do AH o uso de 55 viscosímetro com baixíssima taxa de cisalhamento é recomendado como o ZimmCrothers. 2.10 Função biológica 2.10.1 Antioxidante Considera-se como uma definição ampla de antioxidante “qualquer substância que, presente em baixas concentrações quando comparada a do substrato oxidável, atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de maneira eficaz” (Sies; Sthal apud BIANCHI et al., 1999). Esses agentes que protegem as células contra os efeitos dos radicais livres podem ser classificados em antioxidantes enzimáticos ou não-enzimáticos. Entre os antioxidantes não-enzimáticos estão o αtocoferol, β-caroteno, ácido ascórbico, flavonóides, proteínas do plasma, selênio, clorofila, L-cisteína, curcumina. Os antioxidantes enzimáticos são superóxido dismutase, catalase, NADPH-quinona oxiredutase, glutationa peroxidase e enzimas de reparo (BIANCHI et al., 1999). Os antioxidantes atuam no organismo de maneiras diferentes na defesa contra os radicais livres. O primeiro mecanismo de defesa consiste em impedir sua formação, principalmente pela inibição das reações com o ferro e o cobre (BIANCHI et al., 1999). O estudo sobre os mecanismos de lesão oxidativa tem confirmado a ação catalítica dos metais. O papel dos metais na formação in vivo das espécies oxidativas do oxigênio é confirmado pelas reações de Fenton 56 (Fe++ + O2 → Fe+++ + O2-) e de Haber-Weiss, que promove o acúmulo de radicais livres, dentre eles o OH- (FERREIRA et al., 1997). Outro mecanismo dos antioxidantes refere-se à capacidade de interceptar os radicais livres gerados pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo o ataque sobre os lipídios, aminoácidos, ácidos graxos e DNA. Os antioxidantes da dieta, tais como; vitaminas C, E e A, os flavonóides e carotenóides são agentes importantes na intercepção desses radicais livres. Também pode ocorrer o reparo das lesões causadas pelos radicais, adaptação do organismo em resposta a geração desses radicais com o aumento da síntese de enzimas antioxidantes (BIANCHI et al., 1999). Os glicosaminoglicanos são polissacarídeos heterogêneos e compõem a matriz extracelular. Várias descobertas mostram que durante a progressão da injúria do fígado o nível de GAG no sangue aumenta, principalmente de AH. Os GAGs são capazes de ligar proteínas devido os grupos sulfato e grupos carboxílicos. O principal GAG no sangue é o sulfato de condroitina seguido pelo sulfato de queratana, sulfato de heparana e ácido hialurônico. O aumento no plasma dos níveis de AH foi observado em várias doenças, incluindo cirrose e fibrose hepática em humanos e em modelos experimentais em ratos (CAMPO et al., 2004). Entretanto uma hipótese recente para explicar o aumento dos GAGs no plasma pode ser explicado porque alguns GAGs apresentam a propriedade de serem antioxidantes capazes de inibir a peroxidação lipídica. O aumento dos níveis de GAGs podem representar uma resposta biológica para produção de radicais livres. O uso desses componentes como agentes terapêuticos mostram resultados positivos em modelos animais experimentais (FRASER; LAURENT; LAURENT, 1997) 57 Recentemente, vários autores sugerem que alguns GAGs possuem propriedade antioxidante como o AH e SC eles inibem a peroxidação lipídica por quelarem metais de transição como o Cu2+ e Fe2+ (ALBERTINE et al., 2000). Estudos mostram que animais com CCl4 – induzidos com injúrias no fígado e tratados com agentes capazes de quelar esses íons metálicos, produzem uma significante proteção por reduzir a oxidação e a peroxidação lipídica (CAMPO et al., 2004). 2.10.2 Formação de radicais livres O termo radical livre refere-se ao átomo ou molécula, que contém número ímpar em sua última camada eletrônica (FERREIRA et al., 1997), estando assim disponíveis para reações com outras moléculas ou átomos. Duram milisegundos, sendo esse tempo suficiente para a ação oxidativa, tóxica para as células e microrganismos agressores (SCHANAIDER, 2000). Na sua maioria os radicais livres são originados a partir do metabolismo do oxigênio (O2) (FERREIRA et al., 1997). Os radicais livres podem ser gerados no citoplasma, nas mitocôndrias ou nas membranas (proteínas, lipídios, carboidratos e DNA), surgindo durante os processos de transferência de elétrons que ocorrem no metabolismo celular (BIANCHI et al., 1999). Os oxiradicais degradam os microfilamentos do citoplasma, que compõe o “esqueleto” das células, interferindo nos mecanismos reguladores das membranas celulares. Alteram também lipídios, danificando estruturas onde estão presentes, como as membranas celulares, inativam enzimas, quebram carboidratos e, nos 58 ácidos nucléicos oxidam as bases nitrogenadas, fragilizando as cadeias do DNA e facilitando as mutações (SCHANAIDER, 2000). Entre as principais formas reativas do oxigênio, o radical superóxido (O2) apresenta uma baixa capacidade de oxidação, o radical hidroxila (OH) mostra uma pequena capacidade de difusão, porém é o mais reativo na indução de lesões nas moléculas celulares. O peróxido de hidrogênio (H2O2) não é considerado um radical livre verdadeiro, mas é capaz de atravessar a membrana nuclear e induzir danos na molécula de DNA por meio de reações enzimáticas, porque participa da reação que produz o OH - (FERREIRA, 1997). Em condições fisiológicas, de todo o oxigênio molecular captado nas mitocôndrias e processado na cadeia respiratória, só 1 % a 5 % escapam e formam oxiradicais. Esses radicais são formados através de sucessivas reduções monovalentes, onde os intermediários, o radical superóxido, peróxido de hidrogênio e hidroxila, podem ser convertidos em água, tornando-se inofensivos, por um mecanismo de proteção normalmente existente nas células, composto por enzimas superóxido-dismutase, catalase e sistema glutationa (SCHANAIDER, 2000). 3 MATERIAL E MÉTODOS As cristas usadas neste experimento foram fornecidas pelo frigorífico Penasul de Caxias do Sul – RS, no primeiro semestre de 2007. Foram coletadas na linha de abate, sendo 50 % das cristas de frangos machos e 50 % de fêmeas com idade de 48 dias. As cristas foram transportadas congeladas até Santa Maria e permaneceram congeladas a –18oC até o início do experimento. A extração, purificação, quantificação e eletroforese foram realizadas no Laboratório de Tecido Conjuntivo da Universidade Federal do Rio de Janeiro O infravermelho e a atividade antioxidante foram realizadas na UNIFRA em Santa Maria. A massa molar na Universidade Federal de Santa Catarina e o RMN na Universidade Federal de Santa Maria. 3.1 Composição química da crista de frango A composição química da crista de frango foi determinada de acordo com a AOAC (1995). 3.1.1 Umidade Fundamentou-se na perda de umidade e substâncias voláteis a 105oC. 60 3.1.2 Proteína bruta Essa análise baseou-se na determinação do nitrogênio total. A proteína foi determinada pelo método de Kjeldahl. O fator de conversão usado foi de 6,25. 3.1.3 Lipídios Foi utilizado a extração dos lipídios com éter de petróleo pelo método de Soxhlet com uma prévia hidrólise ácida da amostra com ácido clorídrico. 3.1.4 Cinzas Fundamentou-se na perda de peso que ocorre quando o produto é incinerado a 500-550oC, com destruição da matéria orgânica. 3.1.5 Carboidratos Foram determinados por cálculos, pela diferença das demais frações. 3.2 Extração dos glicosaminoglicanos totais das cristas de frango As cristas foram trituradas e colocadas em acetona para desidratação e delipidação. Posteriormente foram secas, pesadas e agrupadas sendo utilizado cerca de 100 g para cada extração (n = 3). Seguiu-se delipidação em solução clorofórmio / metanol (2:1, v/v) por 24 h a 25ºC. Os tecidos foram secos e hidratados em tampão de digestão (acetato de sódio 100 mM pH = 5,0; cisteína 5,0 mM; EDTA 61 dissódico 5,0 mM) na proporção de 2,0 mL de tampão para 100 mg de tecido seco. Após hidratação por 24 h a 4ºC foi adicionada solução de papaína (20 mg/mL), preparada na solução tampão de digestão descrita anteriormente, numa proporção de 0,5 mL para 100 mg de tecido seco. Seguiu-se incubação por 24 h a 60ºC, centrifugação a 3200 rpm por 30 min e retirada do sobrenadante. O precipitado foi submetido à nova incubação com papaína, sob as mesmas condições descritas anteriormente. Posteriormente, foi adicionado ao sobrenadante CPC (cloreto de cetilpiridínio) 10 % numa proporção de 0,2 mL para 100 mg de tecido seco e deixado em repouso por 24 h à 25oC. A amostra foi centrifugada, o sobrenadante descartado e o pellet lavado com 3,0 mL de solução de NaCl 2,0 M e etanol absoluto (100:15, v/v). Adicionou-se então 2 volumes de álcool etílico absoluto e deixou-se em repouso por 24 h a -16oC. Seguiu-se centrifugação, descarte do sobrenadante e lavagem do pellet uma vez com 10 mL de etanol 80 %. Seguiu-se nova centrifugação e secagem do pellet por 24 h a 25oC (CARDOSO et al., 1992) Este processo está ilustrado na Figura 4. 62 Figura 4 - Processo de extração de GAGs (Desenho: Jardel Thalhofer, 2007). 3.3 Fracionamento dos glicosaminoglicanos na coluna Mono Q-FPLC O processo descrito a seguir está ilustrado na Figura 5. Os glicosaminoglicanos da crista de frango (~ 500 µg em ácido hexurônico) foram aplicados na coluna de troca-iônica Mono Q (HR 5/5) acoplada ao sistema de FPLC (Fast Protein Liquid Chromatography) (Amersham Pharmacia Biotech) equilibrada em tampão Tris-HCl 20 mM (pH 8,0). A coluna foi eluída com um gradiente linear de 1,5 M NaCl em mesmo tampão. O fluxo da coluna foi de 1 mL/min e coletadas frações de 0,5 mL. As frações obtidas foram analisadas quanto ao conteúdo de 63 ácido hexurônico e à presença de metacromasia, com o intuito de distinguir os GAGs sulfatados daqueles não-sulfatados. A dosagem de ácido hexurônico foi realizada pelo método do carbazol usando 200 µL de amostra e como referência a glicuronolactona. As frações contendo os glicosaminoglicanos, exibindo comportamento diferente quanto à propriedade metacromática, foram agrupadas e precipitadas com 3 volumes de etanol absoluto. A dosagem de metacromasia, específica para GAGs sulfatados, foi realizada misturando 50 µL de amostra com 1,0 mL de DMB (azul de dimetilmetileno), seguida da leitura a A525 nm (adaptação de FARNDALE et al., 1986). Mono Q-FPLC Figura 5 – Fracionamento e quantificação de GAGs (Desenho: Jardel Thalhofer, 2007). 64 3.3.1 Dosagem de ácido hexurônico (método de Carbazol) A concentração de ácido hexurônico foi determinada através de método químico, utilizando o reagente colorimétrico Carbazol (DISCHE, 1946). Esse método baseia-se no desenvolvimento de cor pela ação de compostos orgânicos como o reagente Carbazol. A dosagem de ácido hexurônico foi realizada com 200 µL de amostra, aos quais se adicionou 1,0 mL de ácido sulfúrico com borato. Seguiu-se aquecimento por 10 min a 100oC, resfriamento, adição de 40 µL de carbazol, aquecimento por 12 min a 100oC e resfriamento. A leitura foi realizada no espectrofotômetro em comprimento de onda de 525 nm (Ultrapesc 3100 pro – Amersham Biosciences). A concentração do AH foi determinada através de uma curva de calibração previamente construída com o AH padrão (Vinovo Biochemistry) tomado como referência. A curva padrão foi feita com diferentes concentrações de glicuronolactona [0,5 mg/mL]: 5,0 – 15 µg. Para se obter o perfil de eluição desses dois grupos de GAGs, a condutividade de cada fração foi medida. Foi utilizado 50 µL da amostra e 5,0 mL de água destilada (Figura 5). As frações que eluiram até 0,4 M de NaCl, correspondentes ao ácido hialurônico e ao sulfato de dermatana, e aquelas que eluiram depois de 0,4 M de NaCl, correspondem aos demais GAGs sulfatados. A concentração relativa de GAGs sulfatados (sulfato de condroitina, sulfato de dermatana) foi determinada por densitometria das bandas no gel, coradas pelo azul de toluidina, usando o programa Scion Image 4.0.2 (Scion Corporation, USA). A concentração total de ácido hialurônico foi calculada a partir da concentração de ácido hexurônico x 1,95 (SWANN, 1968a). 65 3.4 Infravermelho O equipamento utilizado foi o espectrofotômetro Bomem MB Séries, (Hartamann & Braun-Michelson), com uma resolução de 4 cm-1 e comprimento de onda variando de 4000,07 a 399,24 cm-1. 3.5 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) Os espectros de RMN de 13 C foram obtidos em espectrômetros BRUKER DPX 400 MHz. Para a aquisição do espectro de RMN de 13 C foi utilizado o solvente deuterado D-2O, tendo como referência para δ = 0 ppm 4,4-dimetil-4-silapentano-1sulfonato de sódio interno. Os parâmetros experimentais do equipamento para aquisição do espectro do composto obtido, em geral foram: Espectrômetro BRUKER DPX-400: SF 400,13 MHz para 1H e 100,23 MHz para 13 C; largura de pulso 90°, 8.0 µs (1H) e 13,7 µs (13C); tempo de aquisição 6,5 s (1H) e 7,6 s (13C); janela espectral 965 Hz (1H) e 5000 Hz (13C); número de varreduras 8-32 para 1H e 2000-20000 para 13C, dependendo do composto; número de pontos 65536 com resolução digital Hz/ponto1H igual a 0,677065 (1H) e 0,371260 (13C); temperatura de 50 ºC. 66 3.6 Eletroforese em gel de agarose As amostras de glicosaminoglicanos totais de crista de frango e as frações das mesmas, obtidas na cromatografia de troca iônica, foram aplicadas (~ 5 µg em ácido hexurônico) em um gel de agarose 0,5 %, em tampão propilenodiamino 50 mM pH = 9,0 (4,3 mL 1,3-diaminopropano; 4,4 mL ácido acético; água destilada q.s.p. 1,0 L), submetida a 110 V / 200 mA por aproximadamente 1 h (DIETRICH; DIETRICH, 1976). Após a corrida, os GAGs no gel foram precipitados com cetavlon 0,1 % (1,0 g brometo de cetiltrimetilamônio; água destilada q.s.p. 1,0 L) por 24 h. Posteriormente, a lâmina foi seca, corada com azul de toluidina 0,1 % (0,1 g azul de toluidina; 2,0 mL ácido acético; 49 mL etanol; 49 mL água destilada) e descorada com solução descorante para agarose (20 mL ácido acético; 490 mL etanol; água destilada q.s.p. 1,0 L). Em seguida, a lâmina foi corada com Stains-All (25 mg Stains-All; 500 mL etanol 50 %) e descorado com água destilada (VOLPI; MACCARI; TITZE, 2005). Foram utilizados como padrões GAGs de aorta torácica humana e ácido hialurônico (Vinovo Biochemistry). 3.7 Viscosidade intrínseca A viscosidade intrínseca foi realizada com solução de AH extraída de crista de frango. As análises foram conduzidas em Viscosímetro de Bolas do tipo Hoepler (massa da bola 4,60050 g e densidade de 2,226 g/cm-3), acoplado a um banho termoestatizado, com controle de temperatura de (20oC), utilizando água como solvente. A viscosidade intrínseca foi determinada a partir do cálculo das viscosidades relativa e reduzida, conforme mostrado na Tabela 1, plotando a viscosidade 67 reduzida versus a concentração da amostra e extrapolando as retas para uma concentração igual a zero. Tabela 1 - Equações para construção do gráfico da viscosidade intrínseca Viscosidades Viscosidade relativa Viscosidade reduzida Viscosidade intrínseca Equações ÷rel.= t/to ÷red.= (÷rel.-1)/c ÷int.= limc→0 (÷red.) Onde: t = tempo de efluxo da solução polimérica to = tempo de efluxo do solvente c = concentração da solução polimérica 3.8 Massa molar A massa molar viscosimétrica média foi estimada através da relação com a viscosidade intrínseca, descrita pela equação 2.1. ÷η = k (Mv)a (2.1) Onde: k = constante dependente da geometria da ligação entre resíduos internos de cadeia polimérica a = constante dependente do solvente utilizado η = viscosidade intrínseca As constantes de (MHKS) adotadas foram k = 5,075 x 10-2 e a = 0,716 sendo estas indicadas para soluções aquosas (GURA; HÜCKEL; MÜLLER, 1998). 68 3.9 Determinação da atividade antioxidante 3.9.1 Método de captação do radical DPPH (2,2 - difenil 1-picrilhidrazil) A atividade antioxidante foi determinada pela redução do radical estável DPPH (2,2 – difenil 1-picrilhidrazil) pelos antioxidantes presentes na amostra, utilizando-se concentrações finais de 500, 250, 100, 50, 10 µg/mL em solução aquosa. Em um tubo de ensaio foram adicionadas um volume de 2,5 mL das amostras, em seguida adicionou-se 1,0 mL de solução de DPPH 0,3 mM em etanol. Após 30 minutos foram realizadas as leituras das amostras em absorbância de 518nm. A solução de DPPH (1,0 mL; 0,3 mM) mais etanol (2,5 mL) foi usada como controle (KANATT; CHANDER; SHARMA, 2008). A atividade antioxidante foi determinada com o auxílio da equação (2.2). % seqüestro de radicais livres = 100 - [ (AA – AC) / AC ] x 100 (2.2) Onde: AA = absorbância da amostra AC = absorbância do controle 3.10 Análise estatística Para uma análise comparativa, da atividade antioxidante do ácido hialurônico extraído de cristas de frango e do ácido hialurônico usado como padrão (item 4.6), aplicou-se Análise de Variância a um nível de significância de 1 %, com auxílio do software Microsoft Office Excel (BRAULE, 2001). 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Composição química da crista de frango A composição da crista de frango usada para a obtenção do ácido hialurônico é mostrada na Tabela 2. Tabela 2 - Composição química da crista de frango Fração Média (b.u.) g % Desvio-padrão CV % Média (b.s.) g % Umidade 73,20 0,14 0,19 - Cinzas 0,28 0,01 2,57 1,00 Lipídios 11,10 0,15 1,34 41,41 Proteína 14,87 0,05 0,33 55,48 0,55 0,35 64,28 2,09 Carboidratos n = 3, b.u = base úmida b.s = base seca A crista de frango apresenta um teor de umidade de 73,20 %, semelhante ao encontrado por Szirmai (1956) de 75,0 %. Swann (1968b) trabalhou com cristas de galo em base seca antes de fazer a extração do AH e encontrou 54,55 % de proteína, dados também semelhantes ao encontrado neste experimento. Em termos de aminoácidos o ácido aspártico, serina, ácido glutâmico, glicina e alanina estão em maior quantidade na proteína. Pode-se observar também que a crista é um material rico em lipídios e por isso a importância de delipidar antes da extração dos glicosaminoglicanos. 70 A crista de frango, sendo um subproduto de abatedouro, é desprezada juntamente com as vísceras, penas para autoclaves e digestores. Após extração do óleo seguem para o cozimento onde são transformadas em farinha animal (NETO, 1994). A crista por ser fonte de ácido hialurônico, importante para a área farmacêutica, médica e cosmética poderia ser aproveitada. 4.2 Precipitação dos GAGs totais com etanol e cloreto de cetilpiridínio e metodologias testadas Inicialmente foram estabelecidas algumas condições de precipitação a fim de verificar qual o melhor agente para precipitar o ácido hialurônico e testar duas metodologias de extração. 4.2.1 Etanol O tecido fresco precipitado com etanol após a quantificação do ácido hexurônico apresentou um baixo rendimento (Quadro 1). O etanol é um solvente de baixa polaridade, pois possui baixa constante dielétrica (ε = 1,69) quando comparada a da água que possui (εE= 78) por essa razão a água é um solvente bastante polar. O etanol tendo baixa polaridade faz com que o ácido hialurônico precipite em contato com ele, mas não é o solvente mais indicado, pois precipitam também outros compostos como ácidos nucléicos que podem interferir no rendimento de ácido hexurônico e também apresentar uma solução opalescente. 71 Os solventes orgânicos possuem diferentes capacidades para precipitar glicosaminoglicanos. Volpi (1996) testou diferentes solventes orgânicos (etanol, metanol e propanol) para separar glicosaminoglicanos de misturas por precipitação seqüencial e verificou que a precipitação dos glicosaminoglicanos está relacionada com a porcentagem de solvente e o tipo de solvente usado. As diferenças nos resultados obtidos no fracionamento das misturas dos glicosaminoglicanos podem estar relacionadas com as diferentes estruturas dos GAGs, peso molecular, densidade das cargas e propriedades físico-químicas. Volpi (1996) verificou que o etanol é mais indicado para precipitar sulfato de condroitina, sulfato de heparana e sulfato de dermatana. 4.2.2 Cloreto de cetilpiridínio Uma parte do tecido fresco foi desidratado e delipidado com clorofórmio / metanol (2:1) e obtido um pó cetônico. Esse pó foi digerido com papaína e precipitado com CPC a 10 %. Este método foi o que obteve um rendimento maior em ácido hexurônico conforme pode ser observado no Quadro 1. O cloreto de cetilpiridínio é um detergente catiônico (HN(CH2)15CH3Cl) e o ácido hialurônico um composto polianiônico. O AH está na forma de ácido, sendo mais fácil de ser precipitado por CPC porque forma um sal. O fracionamento com detergentes catiônicos permite a eliminação de diversos contaminantes que podem interferir na dosagem de ácido hexurônico. Segundo Maccari e Volpi (2002), o cloreto de cetilpiridínio é um detergente catiônico hidrofílico que possui alta capacidade para ligar GAGs. Por essa razão o ácido hialurônico, sendo uma macromolécula carregada negativamente e altamente 72 hidrofílica pode ser mais facilmente precipitada por CPC, o que converge com os resultados obtidos neste experimento. Além disso, quando se deseja obter o ácido hialurônico para aplicações médicas, os ácidos nucléicos devem ser removidos da solução, e essa remoção pode ser feita com cloreto de cetilpiridínio (ELLWOOD, 1995). Segundo Swann (1968a), quando soluções de AH são purificadas com CPC apresentam soluções perfeitamente claras, ao contrário de soluções tratadas com clorofórmio ou outros solventes que podem apresentar opalescência. O tecido fresco precipitado com CPC a 10 % e a amostra diluída 3x quase não apresentaram diferença. Essa diluição foi feita porque o CPC, muitas vezes, em soluções muito concentradas não tem capacidade para precipitar todo o ácido hexurônico. Quadro 1 - Métodos, etanol e cloreto de cetilpiridínio, testados para precipitar os GAGs e rendimento em ácido hexurônico Métodos, etanol e CPC testados para Rendimento em ácido hexurônico precipitar os GAGs Ppt. etanol - tecido fresco 0,51 µg/mg tecido úmido Ppt. CPC - tecido fresco 0,32 µg/mg tecido úmido Ppt. CPC - diluição 3x – tecido fresco 0,34 µg/mg tecido úmido Ppt. CPC - pó cetônico 2,00 µg/mg tecido úmido Ppt. Inicial etanol + CPC tecido fresco 0,11 µg/mg tecido úmido Analisando a Figura 6 pode-se perceber que em todos os métodos e solventes usados, a composição é bastante semelhante. Com exceção do padrão de 73 AH, todos os extratos apresentam bandas correspondentes ao SD (sulfato de dermatana) e SC (sulfato de condroitina) na coloração com azul de toluidina. SC SD P 1 2 3 4 5 Figura 6 - Perfil eletroforético em gel de agarose de extratos de ácido hialurônico de cristas de frangos: (P) padrão de AH; (1) ppt. Inicial etanol + CPC tecido fresco; (2) ppt. CPC pó cetônico; (3) ppt. Inicial tecido fresco; (4) CPC tecido fresco; (5) CPC tecido fresco ppt. após diluição 3x. Na Figura 7, após a coloração pelo Stains-All fica nítida a predominância do AH. Todos os extratos obtidos sob diferentes condições apresentam o AH como maior GAG. Segundo Ng Kwai e Anastassiadis (1980); Nakano e Sim, (1989), as aves domésticas apresentam o AH como GAG predominante juntamente com pequenas quantidades de sulfato de dermatana e sulfato de condroitina, o que também pode ser visto na Figura 6 antes de ser corada com Stains-All. 74 SC SD AH P 1 2 3 4 5 Figura 7 - Perfil eletroforético em gel de agarose de extratos de ácido hialurônico de cristas de frangos: (P) padrão de AH; (1) ppt. Inicial etanol + CPC tecido fresco; (2) ppt. CPC pó cetônico; (3) ppt. Inicial tecido fresco; (4) CPC tecido fresco; (5) CPC tecido fresco ppt. após diluição 3x. 75 4.2.3 Metodologias testadas no experimento Foram testadas duas metodologias. Uma sem fazer digestão com enzimas proteolíticas, seguindo a metodologia de Boas (1949) (item 2.5.1) que foi a primeira metodologia a ser usada para extrair ácido hialurônico da crista de galo e a utilizada neste experimento por Cardoso et al., (1992), com digestão enzimática. O rendimento de GAGs recuperados após digestão com papaína e precipitados com CPC foi grande na crista de frango (Tabela 3). Esse resultado é similar ao encontrado por Nakano e Sim (1989) que encontraram 14,6 %. Esse alto rendimento deve-se ao fato da concentração de ácido hexurônico no tecido da crista ser alto. Já na metodologia de Boas (1949) o rendimento também foi alto, mas não é devido somente ao ácido hexurônico e sim a outros grupamentos, como proteínas etc. Tabela 3 - Rendimento e concentração de ácido hexurônico na crista de frango obtidos a partir de duas metodologias testadas Amostra Crista de frango Crista de frango Metodologia BOAS (1949) CARDOSO et al., (1992) Rendimento em pó cetônico 16 % µg de ácido hexurônico/mg tecido seco 0,14 16 % 14,9 Como se pode observar na Tabela 3, a quantidade de ácido hexurônico encontrada foi muito baixa na metodologia utilizada por Boas (1949). Segundo Swann, (1968a) o ácido hialurônico pode ser extraído de várias maneiras. Mas a extração com enzimas proteolíticas é a mais indicada, pois como o AH está presente em mais de uma forma na crista, uma parte pode ser extraída por acetato de sódio, 76 ou outros procedimentos, mas uma parte, em torno de 7 %, só pode ser liberada do tecido por enzimas proteolíticas. Este método também pode degradar o AH extraído por enzimas lisossomais ou degradação não enzimática durante o processo de extração do tecido, o que provavelmente deve ter acontecido nesta metodologia, resultando no baixo rendimento. Segundo Albano e Mourão (1986), Volpi e Maccari (2003), os métodos utilizando enzimas para extração e purificação são comumente usados para purificar glicosaminoglicanos de vários tecidos e fontes, isso exclui a possibilidade do AH extraído da crista ser degradado durante o processo de purificação. Segundo Schiller, Slover e Dorfman (1961), estudos mostram que a análise direta desses polissacarídeos em tecidos não é possível. A extração desses tecidos depende primeiramente da eliminação da maior parte da proteína por digestão com papaína ou tripsina. Esses procedimentos permitem a recuperação quantitativa dos polissacarídeos que não estão quimicamente degradados. A maior vantagem deste método sobre os demais é a precipitação de todos os mucopolissacarídeos em solução diluída de sal conseguindo-se realizar uma boa purificação. Podem restar até 90 % da proteína ou produtos proteolíticos do tecido no sobrenadante. Em tecidos como a pele, composta na maior parte por proteína e de aproximadamente 0,5 % de mucopolissacarídeos, a eliminação da proteína é o principal problema. Sendo a crista de frango um tecido especializado da pele, composta em grande parte por proteína, a remoção com clorofórmio e álcool amílico na metodologia de Boas (1949) não foi suficiente para remover toda a proteína, fato este que levou a um baixo rendimento em ácido hexurônico. A concentração dos glicosaminoglicanos totais foi de 14,9 µg de ácido hexurônico/mg de tecido seco. Esse valor é bem inferior ao relatado por Nakano e 77 Sim (1989; 1991), de 42,1 µg ácido hexurônico/mg tecido seco. Entretanto, neste relato os glicosaminoglicanos totais das cristas foram extraídos de animais de 52 semanas (364 dias), enquanto nos dados aqui apresentados a idade dos animais era de 48 dias, portanto de animais bem mais jovens. Nakano et al., (1994), reportaram que o teor de ácido hexurônico no tecido vermelho situado abaixo do bico de galos de 52 semanas é de 19,1 µg/mg de tecido seco, valor próximo ao que obtivemos nas cristas de frangos. Segundo Nakano e Sim (1991), as cristas de animais mais velhos e animais machos possuem quantidades maiores de ácido hialurônico. Além disso, o escaldamento das cristas pode diminuir sua concentração em AH e o método de extração também pode influenciar na sua obtenção (SZIRMAI, 1956; BALAZS et al., 1958; SWANN, 1968a). Mesmo assim, em função da quantidade de frangos abatidos nos frigoríficos, à extração do AH pode vir a ser compensadora. Comparando os dois métodos de extração verifica-se que o método de extração, usando enzimas proteolíticas foi o que apresentou um rendimento maior em ácido hexurônico, razão pela qual direcionamos a discussão a partir deste ponto apenas ao método de extração enzimática. 4.4 Caracterização do ácido hialurônico 4.4.1 Identificação molecular do produto Foram analisadas duas amostras por espectrofotômetro de infravermelho: AH padrão, e AH extraído, para identificação e verificação da estrutura do composto extraído, uma vez que nesta análise são identificados os grupos que estão presentes ou ausentes na molécula. A partir das Figuras 8 (a) e (b) pode-se 78 caracterizar os grupos atômicos das moléculas com as bandas de absorção que são específicas. Alguns pontos a serem considerados para análise do espectro e freqüências de alguns grupos dos compostos anteriormente referidos: δ C-O: álcool, éter, éster e ácido carboxílico de 1300 a 1000 cm-1; δ C-N: aminas de 1350 a 1000 cm-1; υ C-H: alcanos com C sp3 de 3000 a 2850 cm-1; υ N-H: 3460 a 3420 cm-‘, Onde δ: deformação υ: estiramento Observa-se na Figura 8 (b), a intensidade da transmitância do ácido extraído é menor que no caso da amostra padrão, significando que existem grupos externos na molécula do ácido extraído que estão interagindo com outros compostos do meio, fato justificado pela incompleta purificação da amostra analisada. O AH produzido apresenta-se na forma de hialuronato de sódio, uma vez que foi homogeneizado em solução de cloreto de sódio. 79 87,487,4 %T 85 85 80 80 75 75 70 70 65 65 611,24 %T 60 55 611,24 1412,33 1412,33 60 55 1618,56 50 45 40 1618,56 50 1043,75 1043,75 45 3435,43 3435,43 40 37,3 4000,0 3600 3200 2800 2400 2000 1800 1600 1400 1200 1000 37,3 4000,0 3600 3200 2800 2400 2000 1800 cm-1 1600 1400 1200 1000 cm 800 800 600 600 450,0 450,0 -1 (a) 70,870,8 65 65 C–N 60 60 55 55 50 50 45 %T 45 40 40 35 35 1377,42 N–H OH Região de hidratação 1377,42 %T 2925,95 1416,07 1237,01 1416,07 2925,95 C–O 1051,31 1051,31 1645,58 1645,58 30 C–C 1237,01 30 C–O C=O 25 25 3435,85 3435,85 18,918,9 4000,0 4000,0 3600 3600 3200 3200 2800 2800 2400 2400 2000 2000 1800 1800 1600 cm-1 cm 1600 1400 1400 1200 1200 1000 1000 800 800 600 600 450,0 450,0 -1 (b) Figura 8 - Espectro de infravermelho do (a) ácido hialurônico padrão, (b) ácido hialurônico extraído – transmitância versus número de onda (cm-1). 80 4.4.2 Espectro de RMN 13C O GAG extraído de crista de frango foi identificado através da espectroscopia de RMN de 13 C. O espectro de RMN 13 C foi adquirido a 100,23 MHz em um espectrômetro Bruker DPX400 a 50ºC, a amostra, sem nenhum tratamento após o isolamento. Foi preparada diluindo-se 5 mg do sólido em 0,5 mL de D-2O, obtendose uma solução com pH 6,0. Os deslocamentos químicos foram calibrados em relação ao 4,4-dimetil-4-silapentano-1-sulfonato de sódio interno. A numeração para atribuição dos sinais de carbono para o ácido hialurônico está representada na Figura 9. 6 -O O 3 2 O CH3 2-acetamido-deoxi-β-Dglucopiranosideo N O H OH glicopiranosideuronato (tradução livre) 1 5 O 4 1 5 HO 4 O O O HO 3 2 OH Figura 9 - Numeração adotada para atribuição dos sinais de RMN de 13C. No espectro de RMN 13 C desta amostra foram observados os sinais do polímero glicosaminoglicano, esses dados já haviam sido publicados por Bociek et al., (1980); Volpi e Maccari (2003) em condições similares de pH, para ácidos hialurônicos obtidos de outras fontes, confirmando a atribuição desta amostra de ácido hialurônico. 81 No espectro de RMN 13 C (Figuras 10 e 11) foram determinados os deslocamentos químicos para os carbonos das unidades β-Dglicopiranosideuronato, onde foi observado um sinal em 176,96 ppm relativo ao CO2-. Em 106,06 ppm um sinal para C-1, em 83,0 ppm um sinal correspondente ao C-4 e para C-5 foi observado um sinal em 79,41 ppm. Um sinal correspondente ao C-3 em 76,70 ppm e para C-2 foi observado um sinal em 75,59 ppm. Para a unidade 2-acetamido-deoxiβ-Dglucopiranosideo foi observado um sinal em 177,87 ppm relativo à carbonila (C2). Em 103,44; 85,68; 78,45; 71,62; 63,73 e 57,33 ppm sinais correspondentes aos carbonos C-1, C-3, C-5, C-4, C-6 e C-2 respectivamente. Em 25,56 ppm observa-se o deslocamento característico do carbono metílico. Os demais sinais observados no espectro foram atribuídos a impurezas da matriz. 4.4.3 Fracionamento dos GAGs extraídos por cromatografia de troca iônica O extrato de GAG total das cristas de frango foi fracionado em uma coluna Mono-Q, sendo os resultados mostrados na Figura 12. Pode-se observar um pico majoritário, correspondendo a 90 % do total de ácido hexurônico da amostra, eluindo com ~ 0,4 M de NaCl, não exibindo metacromasia significativa. Essas propriedades são características do AH quando aplicado nesta coluna. Pode-se também observar um pico exibindo propriedade metacromática eluindo com concentração de NaCl superior a 1 M, indicando a presença de GAGs sulfatados na amostra analisada. 82 Figura 10 - Espectro de RMN 13C {H} a 100 MHz do ácido hialurônico em D-2O. 83 Figura 11 - Espectro de RMN 13 C {H} a 100 MHz mostrando a expansão do ácido hialurônico em D-2O. Os glicosaminoglicanos não sulfatados como o AH não mudam de cor em presença de DMB devido à desprotonação dos grupos carboxil, isso mostra que outros fatores específicos além da densidade de carga do polímero, como grupos sulfatados são requeridos para metacromasia com DMB. Em soluções com equilíbrio entre corantes monômeros e dímeros a posição de equilíbrio não afeta a presença de glicosaminoglicanos sulfatados, mas a interação com corantes monômeros ou dímeros com poliânions produz uma nova espécie de absorção e remove a cor da solução. O AH interage com corante dímero, formando uma nova espécie de 84 absorção ou a extinção de ambos monômeros e dímeros, criando de um novo equilíbrio não apresentando metacromasia com DMB (TEMPLETON, 1988). 2000 1,4 DMB carbazol NaCl 1,2 90% 1500 0,8 1000 0,6 0,4 NaCl (mM) Abs 525 nm 1,0 500 10% 0,2 0,0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tubos Figura 12 - Fracionamento dos GAGs extraídos da crista de frango por cromatografia de troca-iônica. Amostra de GAG total ( ~ 500 µg em ácido hexurônico) foi aplicada em coluna Mono Q-FPLC, previamente equilibrada com tampão Tris-HCl 20 mM, pH 8,0. A coluna foi submetida a um gradiente linear de NaCl (0 a 1,5 M), com fluxo de 1 mL/min, e coletadas alíquotas de 0,5 mL. As frações foram analisadas quanto à metacromasia (•) e conteúdo de ácido hexurônico (ο). 85 4.4.4 Eletroforese em gel de agarose Para identificar-se as espécies de GAGs presentes nas frações obtidas na cromatografia de troca iônica, as mesmas foram agrupadas e submetidas a uma eletroforese em gel de agarose, juntamente com o extrato total. A Figura 13 mostra o gel corado com azul de toluidina, indicando a presença das espécies sulfatadas. Na aplicação correspondente ao extrato total pode-se constatar a presença de duas bandas, exibindo coloração metacromática com mobilidades eletroforéticas semelhantes às de sulfato de dermatana e sulfato de condroitina. Também pode-se observar uma banda não metacromática migrando entre os padrões de sulfato de dermatana e sulfato de heparana. Esta última banda exibe intensa coloração azul quando a lâmina é submetida à coloração com o corante Stains All (Figura 14), indicando tratar-se de ácido hialurônico. Ao analisar-se as frações obtidas na cromatografia de troca iônica, confirmou-se a presença majoritária de ácido hialurônico como o GAG eluindo com ~ 0,4 M de NaCl, sendo os 10 % restantes constituídos principalmente por cadeias de sulfato de dermatana e sulfato de condroitina. 86 SC SD SH Figura 13 - Eletroforese em gel de agarose do GAG total e das frações obtidas na cromatografia de troca iônica. Coloração com azul de toluidina. P- Padrão, A1 - GAG total, A2 - Fração I, A3 - Fração II da coluna de troca iônica, sulfato de condroitina, sulfato de dermatana. 87 SC SD AH SH Figura 14 - Eletroforese em gel de agarose do GAG total e das frações obtidas na cromatografia de troca iônica. Coloração com azul de toluidina e Stains-All. P Padrão, A1 - GAG total, A2 - Fração I, A3 - Fração II da coluna de troca iônica, sulfato de condroitina, sulfato de dermatana. 4.4.5 Viscosidade intrínseca A viscosidade intrínseca foi determinada em viscosímetro de bolas a partir dos valores da viscosidade reduzida, calculados pelas relações apresentadas na Tabela 1. Estes valores são mostrados na Tabela 4. Tabela 4 Viscosidade reduzida para solução de AH extraída da crista de frango Viscosidade reduzida mL/g Concentração da solução extraída (g/mL) 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 11,39 10,19 9,13 8,71 8,11 88 Plotando os dados da Tabela 4 obtém-se a Figura 15, a partir das quais a viscosidade intrínseca foi determinada mediante extrapolação da reta para zero. A viscosidade intrínseca foi determinada como sendo de 1.190,6 mL/g. Swann (1968b) trabalhando com crista de galo realizou a extração de AH com água e purificação com clorofórmio e CPC. Inicialmente a solução extraída com água apresentou viscosidade intrínseca de 4250 mL.g-1, quando purificou com clorofórmio a viscosidade diminuiu para 3000 mL.g-1 e quando usou CPC a viscosidade caiu para 2200 mL.g-1 dados um pouco superiores ao encontrado neste trabalho. 15,0 14,5 14,0 Viscosidade reduzida (mL/g) 13,5 13,0 12,5 [n] = 1190,6 mL/g 12,0 11,5 11,0 10,5 10,0 9,5 9,0 8,5 8,0 7,5 7,0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 C oncentração (g/m L) Figura 15 - Viscosidade reduzida versus a concentração de AH extraído da crista de frango. 89 4.3.6 Massa Molar Como a viscosidade intrínseca de uma solução polimérica está relacionada com a massa molar viscosimétrica média, calculou-se a massa molar do AH aplicando a equação de Mark-Houwink-Kuhn-Sakurada. Quando o valor da viscosidade intrínseca for maior do que 2960 mL/g, multiplica-se pelo fator 1,247 para corrigir o zero de cisalhamento (ARMSTRONG; JOHNS 1995; ARMSTRONG et al., 1997). Sendo assim não foi preciso multiplicar por esse fator, pois o valor da viscosidade intrínseca foi menor. Massa Molar do AH extraído da crista de frango η = K. (Mv) a 1190,6 mL/g = 5,075 . 10 –2 g/mL . Mv 0,716 Mv = 1,27 x 10 6 Da A massa molar encontrada é similar à encontrada na literatura. Swann (1968a, 1969) realizou a extração de ácido hialurônico da crista de galo com água e encontrou massa molar de 1,2 x 106 Da, esse valor também é similar ao encontrado por Yamada e Kawasaki (2005). 4.5 Otimização do método de extração de ácido hialurônico em escala piloto Em função dos resultados obtidos nesta pesquisa e do método de extração ter se mostrado viável, sugere-se uma otimização do método usado, no sentido de reduzir o tempo gasto no processo de extração, tornando-o atrativo para a indústria avícola. 90 4.5.1 Processo de extração As cristas foram trituradas e colocadas em acetona para desidratação e delipidação. Os tecidos foram secos e hidratados em tampão de digestão acetato de sódio 100 mM, pH = 5,0, contendo cisteína 5,0 mM e EDTA dissódico 5,0 mM, na proporção de 2,0 mL de tampão:100 mg de tecido seco. Posteriormente foi adicionada solução de papaína [20 mg/mL], preparada na solução de acetato de sódio descrita anteriormente, numa proporção de 0,5 mL:100 mg de tecido seco. Segue-se incubação por 24 h a 60oC, centrifugação a 3200 rpm por 30 min e retirada do sobrenadante. A seguir, foi adicionado ao sobrenadante CPC 10 % numa proporção de 0,2 mL:100 mg de tecido seco e deixado em repouso por 24 h à 25oC. A amostra foi centrifugada, o sobrenadante descartado e o pellet lavado com 3,0 mL de solução de NaCl 2,0 M/etanol absoluto (100:15,v/v). Foram adicionados 2 volumes de etanol absoluto e deixado em repouso por 24 h a -16oC. Segue-se centrifugação, descarte do sobrenadante e lavagem do pellet uma vez com 10 mL de etanol 80 %. E nova centrifugação e secagem do pellet por 24 h a 25oC. 4.5.2 Evidências Como resultado, este método proposto ofereceu um rendimento de 14,9 µg de ácido hexurônico/mg de tecido seco. As etapas extintas não interferiram no rendimento do ácido hexurônico. A metodologia usada nesta pesquisa, para extração do ácido hialurônico, consumiu aproximadamente oito dias. No método de extração de ácido hialurônico 91 em escala piloto, aqui proposto, gastou-se aproximadamente quatro dias, reduzindose os tempos consumidos em várias etapas do processo. O custo da extração não é alto, pois foram usados somente reagentes químicos de preço acessível e equipamentos comuns aos laboratórios de análises químicas. Em 2005, foram abatidas 17.566.405 cabeças/dia de frangos no Brasil, segundo dados da ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos), UBA (União Brasileira de Avicultura), AFA (Associação Fluminense de Avicultura) (OLIVO; OLIVO, 2006). Considerando-se que cada crista de frango apresenta em média 3 gramas de peso úmido, são aproximadamente 52,7 toneladas apenas deste subproduto. Neste trabalho obteve-se 2,0 µg ácido hexurônico/mg de tecido úmido extraído das cristas de frangos, sendo que 90 % do ácido hexurônico extraído corresponde a AH, multiplicando por 1,95 corresponde a 3,51 µg de ácido hialurônico/mg de tecido úmido o que permite estimar-se a extração de aproximadamente 185 kg de ácido hialurônico por dia, se todo este subproduto fosse aproveitado com esta finalidade. Deve-se salientar que o ácido hialurônico possui alto valor agregado (US$ 65,00/100mL), e não é produzido comercialmente no Brasil (OGRODOWSKI, 2006). A crista de frango, subproduto da indústria avícola destinado às graxarias, revela-se com grande potencial de uso pela indústria como fonte do ácido hialurônico destinado à indústria médica, farmacêutica e cosmética. 4.6 Atividade antioxidante A capacidade de seqüestrar o radical DPPH pelo AH extraído da crista de frango foi medido e o resultado é mostrado na Figura 16. 92 Atividade seqüestrante % 100 80 60 AH extraído AH padrão 40 20 0 10 50 100 250 500 Concentração µg/mL Figura 16 - Capacidade de seqüestrar radicais livres do ácido hialurônico, extraído da crista de frango e do ácido hialurônico padrão. O ácido hialurônico extraído da crista de frango possui forte atividade para seqüestrar o radical DPPH, não apresentando diferença significativa (p> 0,01) entre o AH extraído e o AH padrão. O efeito seqüestrante do AH extraído variou de (83,9 % na concentração de 10 µg/mL a 87,3 % na concentração de 500 µg/mL) e o AH padrão (77,63 % na concentração de 10 µg/mL a 85,1 % na concentração de 500 µg/mL). Esses valores mostram que o AH extraído, pode ser usado como um antioxidante natural para proteger o corpo humano contra radicais livres e retardar o progresso de muitas doenças crônicas. Além de seu uso na medicina, pode ser usado pela indústria alimentícia como um ingrediente natural com propriedade antioxidante. Estudos realizados por Campo et al., (2004), mostraram a atividade antioxidante do AH e C4S em ratos induzidos com CCl4, provocando fibrinogênese. 93 O AH e C4S (4-sulfato de condroitina) em altas concentrações de (25 mg/mL) agiram como potentes antioxidantes atenuando significativamente a peroxidação lipídica. A provável hipótese sobre o mecanismo pelo qual o AH e o C4S reduzem radicais livres está baseado nas suas estruturas. Os dois polímeros apresentam estruturas com ligações cruzadas, com grupos carboxílicos em algumas posições. Esses grupos carboxílicos podem interagir com íons metálicos como Cu2+ ou Fe2+ que são responsáveis pela iniciação da reação de Fenton. Essas moléculas podem funcionar como quelantes de metais. Ai et al., (2007), determinaram a atividade antioxidante da quitosana isolada de larvas de moscas in vitro pelo método de DPPH em várias concentrações e verificaram que a quitosana possui capacidade de seqüestrar radicais livres. O efeito da quitosana sobre o radical livre DPPH foi de 57,1 % na concentração de 0,5 mg/mL, valor inferior ao encontrado neste experimento pelo ácido hialurônico extraído na menor concentração (10 µg/mL), que foi de 83,94 %. Pesquisas recentes realizadas por Knatt, Chander e Sharma (2008) mostraram que a combinação de quitosana e extrato de hortelã, na mesma proporção, agem como potente antibacteriano e agente antioxidante e pode ser usada para preservar e aumentar o shelf life de carnes e produtos cárneos. Como a quitosana e o ácido hialurônico são polímeros com estruturas semelhantes, é provável que o ácido hialurônico adicionado a produtos cárneos, possa também agir como antioxidante. 5 CONCLUSÕES Os resultados obtidos no presente estudo, nas condições em que foram realizados os experimentos, permitem as seguintes conclusões: Das duas metodologias testadas, a que utiliza digestão enzimática mostrou um rendimento maior em ácido hexurônico. O método de extração utilizado não diminuiu a massa molar do ácido hialurônico. O cloreto de cetilpiridínio foi mais seletivo para precipitar o ácido hialurônico que o etanol, apresentando uma solução mais límpida. O método proposto em escala piloto, reduziu o tempo de extração com o mesmo rendimento em ácido hexurônico, favorecendo a indústria avícola. As cristas de frangos de animais de 48 dias apresentaram 14,9 µg de ácido hexurônico/mg de tecido seco, sendo que 90 % do ácido hexurônico corresponde a AH o que equivale a 26,15 µg de ácido hialurônico/mg de tecido seco. O aproveitamento das cristas de frango mostra-se viável pela indústria avícola, devido o grande número de abates diários e o rendimento em ácido hialurônico. 95 A alta massa molar do ácido hialurônico extraído indica que pode ser usado nas áreas médica, farmacêutica e cosmética. O ácido hialurônico extraído da crista de frango mostrou forte atividade antioxidante in vitro. 5.1 Sugestões para novos trabalhos Este trabalho, não pretende esgotar o tema, uma vez que possui algumas limitações. Com base no estudo desenvolvido e nos resultados obtidos neste trabalho, com a intenção de abrir perspectivas para ampliar o conhecimento científico, sugere-se como recomendação para novos trabalhos, alguns temas: • Determinar a atividade antioxidante do ácido hialurônico extraído da crista de frango in vivo. • Adicionar o ácido hialurônico extraído em produtos cárneos e avaliar a atividade antioxidante do ácido. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEBISCHER, P.; GODDARD, M.; MOLDAUER, J. G.; MULHAUSER, P. J.; RATHBUN, A. M.; SANBERG, P. R.; VASCONCELLOS, A. V.; WARNER, N. F. Implantable therapy system and methods. United States Patent n. 6,179,826. January 30, 2001. AI, H.; WANG, F.; YANG, Q.; ZHU, F.; LEI, C. Preparation and biological activities of chitosan from the larvae of housefly, Musca domestica. Carbohydrate Polymers, v. 72, n. 3, p. 419-423, 2007. ALBANO, R.; MOURÃO, P. 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