A Gestão Eletrônica da Informação Financeira no Banco Central do Brasil Apoiada por XBRL e Regras de Inferências PAULO CAETANO DA SILVA1 1 Banco Central do Brasil Gerencia Regional do Banco Central do Brasil em Salvador Av. Garibaldi, 1211, 40.176-900, Salvador – Bahia Telefone: (+55-71) 203-4528 [email protected] Este trabalho não reflete necessariamente a opinião e posição do Banco Central do Brasil, mas tão somente a de seus autores. Resumo O atual processo de intercâmbio de informações financeiras ocorre, geralmente, utilizando-se sistemas proprietários ou por meio da publicação na Web, o que impõem necessidade de esforços para a conversão de formatos de representação dos dados. A linguagem XBRL (eXtensible Business Reporting Language), criada para a representação de relatórios financeiros, define uma estrutura que permite a criação de vocabulários para a construção de documentos para a área financeira. Esse trabalho foi desenvolvido com o propósito de explorar a tecnologia de linguagens de marcação, com a proposição de marcas específicas para a preservação semântica dos documentos, como solução alternativa para a padronização da representação de informações para relatórios financeiros (demonstrativos contábeis), possibilitando a qualquer interessado o processamento dos relatórios de forma eficiente e eficaz. O artigo apresenta e discute uma alternativa para a facilitação da gestão da informação financeira em organizações, usando XBRL como linguagem de marcação para representação de hiperdocumentos financeiros e para sua distribuição através da Web, apresentando, em particular, uma alternativa para a representação de relatórios contábeis no contexto e com características adequadas ao Banco Central do Brasil, onde é analisada toda a possibilidade de uso, ou seja, no contexto do relacionamento com as instituições do sistema financeiro, com o público usuário de suas próprias informações disponíveis na Internet e internamente entre seus departamentos. Desta forma pôde-se verificar que a adoção de XBRL como padrão para representação de relatórios financeiros poderá estruturar a informação disponível na Web e facilitar a extração de dados e o processamento direto entre aplicações. Palavras-chave: XBRL, Informação Financeira, Banco Central do Brasil, Linguagem de Marcação, Regras de Inferências. 2 1. Introdução Segundo [1], informações financeiras geralmente são armazenadas em diferentes entidades como banco de dados, documentos texto, planilhas, etc., o que implica diferentes formatações de dados. Normalmente estas informações precisam ser traduzidas de um formato para outro, já que os diversos tipos de aplicações e sistemas computacionais podem utilizá-las como fonte de dados. Se a informação transitar entre sistemas, que geralmente são sistemas proprietários, sejam eles internos a uma organização ou entre organizações diferentes, provavelmente será necessária uma transformação sucessiva de formatos. Então, no atual modo de intercâmbio de informações financeiras, para a reutilização das informações é necessário, em geral, um redirecionamento e transformação dos formatos dos dados destes relatórios, aumentando a possibilidade de erros, podendo inclusive ocasionar distorção da informação, além de se ter custos provocados pela transformação sucessiva dos formatos. Todo esse processo pode conduzir a uma comunicação ineficaz e em uma organização é fundamental que as informações financeiras, que estão representadas nos relatórios financeiros, estejam disponíveis para uso de forma eficiente, pois é pelo correto conhecimento e interpretação dessas informações que depende a saúde financeira de qualquer organização. Os processos de transformação e redirecionamento da informação ocorrem não apenas internamente em uma organização, mas, também, quando o destino da informação é uma outra organização. Por exemplo, um sistema pode extrair a informação de uma planilha eletrônica, produzida em um departamento de determinada instituição, traduzí-la para gerar um relatório no formato de um documento texto, que é enviado a outro departamento, o qual faz uso interno da informação e extrai parte desta e a transforma em um documento HTML (Hypertext Markup Language), para então ser publicada na Internet. Digamos então, que uma outra organização qualquer tenha interesse nessa informação e que trabalhe com sistemas e formatos de dados diferentes dos da origem. Será, portanto, necessário que se faça uma extração não automática da informação presente na página da Internet ou que se solicite da organização, que contém a fonte das informações, o envio dos dados no formato desejado, podendo a demanda ser atendida ou não. Na figura 1 pode-se observar como uma informação pode ser traduzida diversas vezes, como no caso daquela armazenada em uma planilha eletrônica que é traduzida para um formato de publicação em uma página na Internet e para um formato de um documento texto. Com a informação formatada como um documento texto, pode-se então ser processada e transformada para um formato específico, como por exemplo, o de um órgão fiscalizador. Esta mesma informação, quando recebida no órgão fiscalizador pode, por sua vez, ainda ser transformada em um outro formato utilizado internamente, ou seja, ocorrem pelo menos três transformações sucessivas de formatos. 3 SISTEMA DE CONTABILIDADE RELATÓRIOS IMPRESSOS EM DOCUMENTO TEXTO DOCUMENTO TEXTO RELATÓRIO PARA ÓRGÃO FISCALIZADOR PLANILHA INTERNET INFORMAÇÃO EM OUTRO FORMATO RELATÓRIO PARA ORGANIZAÇÃO COLIGADA Figura 1 - Fluxo de informação - Desperdício de tempo e custo com transformações. [2] Consultores financeiros, auditores, contadores, órgãos de governo fiscalizadores, entidades acadêmicas e os produtores de demonstrativos contábeis necessitam, cada um com o seu propósito, de averiguar a veracidade das informações prestadas no relatório consolidado. Atualmente o processo de checagem dessas informações não ocorre de forma que seja facilmente processado por computadores, já que, como anteriormente dito, as informações financeiras geralmente são armazenadas em diferentes entidades como banco de dados, documentos texto, planilhas, etc., o que implica diferentes formatações de dados. [3] afirma que a mineração de dados é a tecnologia predominante no auxílio à interpretação dos dados, podendo ajudar na solução de problemas já que seu objetivo, conforme definido por [4], é o uso de algoritmos e estrutura de dados para alcançar uma das seguintes categorias de problemas: predição, identificação, classificação e otimização. Ainda segundo [3], “a predição se refere à possibilidade de previsão do comportamento de determinados atributos ao longo do tempo. Determinados padrões podem ser usados no reconhecimento de um item, evento ou atividade. Este reconhecimento pode se dar na identificação de fraudes”, então, conforme [5], a validação de documentos financeiros e a detecção de irregularidades podem ser auxiliadas pela mineração de dados da informação financeira. Além disso, segundo [6], o impacto causado pela acentuada evolução da tecnologia da informação na sociedade tem causado significativas mudanças na forma como as organizações devem estruturar e trabalhar com o conhecimento. Então, este artigo explora a utilização de XBRL (eXtensible Business Markup Language) [7] como linguagem para representação de relatórios de informações 4 financeiras, juntamente com mineração de dados, usando regras de inferência como alternativa para a validação, supervisão e fiscalização das informações prestadas em relatórios financeiros. Nesse artigo é apresentada uma solução para aplicação de XBRL no ambiente de informações financeiras do Banco Central do Brasil. A razão de usar este contexto é que no Banco Central existem três ambientes de informações financeiras que podem ser comuns a qualquer outro tipo de organização. O primeiro é o de intercâmbio de informações entre as instituições financeiras do sistema financeiro nacional e o Banco Central. Utilizando XBRL para a representação do plano de contas contábil das instituições financeiras procedimentos automatizados podem ser aperfeiçoados para o processo de supervisão do sistema financeiro; o segundo é o ambiente interno onde transitam essas informações e as informações produzidas internamente; e o terceiro é o sítio do Banco Central na Web. Todos esses ambientes estão interligados, já que uma mesma informação pode percorrer todos os três cenários. 2. Usando XBRL como Formato de Representação de Relatórios Financeiros Um possível cenário para a redução da necessidade da transformação sucessiva de formatos é a utilização de uma linguagem padrão para o intercâmbio das informações financeiras. A conversão para um formato canônico poderá trazer benefícios como diminuição de custos, facilidade de extração e utilização dos dados, aumento da interoperabilidade entre sistemas financeiros, diminuição da possibilidade de erros, etc [8] [9]. Com a padronização todo o processo de intercâmbio da informação fica facilitado, já que se todos os agentes interessados na informação usarem a mesma linguagem para representação dos dados, a necessidade de transformação de formatos será reduzida e o uso da informação será mais facilmente e diretamente processado por computadores. Neste cenário de padronização, o uso da Internet como meio de comunicação poderá trazer outros benefícios, como a democratização da informação, pois por ser a Internet largamente difundida e de baixo custo, o seu uso proporciona ampla publicidade da informação. XBRL (eXtensible Business Reporting Language), uma extensão de XML para a representação de relatórios financeiros, vem sendo apontada como solução para padronização do intercâmbio de informações financeiras [2]. XBRL foi desenvolvida com o objetivo de criação de um modelo para a construção de vocabulários para uso na preparação e intercâmbio de relatórios financeiros, especificamente para a área contábil, incluindo, mas não se limitando a demonstrativos contábeis [6]. Usando XBRL como padrão, o processo de intercâmbio da informação financeira poderá tornar-se bastante simplificado, como pode ser visto pela figura 2, pois a modificação de formatos da informação original ocorre apenas uma vez para o formato XBRL e, então, a informação poderá ser reutilizada e distribuída automaticamente e de uma só vez para quaisquer outros formatos. Utilizando o 5 mesmo exemplo do item anterior, onde os dados estão armazenados em uma planilha, pode-se realizar a conversão para o formato XBRL. E, por meio de folhas de estilo, ser produzido um documento texto ou de publicação na Web. Um órgão fiscalizador pode receber a informação em XBRL e armazená-la em seu banco de dados, servir de entrada de dados para seus sistemas, produzir seus relatórios, etc., com menos dispêndio de recursos, evitando-se excessivas conversões de formatos. Uma terceira parte interessada na informação disponível na Web, também, poderá usar a informação mais facilmente, pois se esta estiver representada usando XBRL, a sua extração e processamento poderão ser facilitados. Ou seja, sendo XBRL adotada como formato canônico para representação das informações financeiras, o percurso desta entre os diversos interessados ocorrerá de forma eficiente, com redução da necessidade de tradução seqüencial de formatos e, conseqüentemente, de erros e custos. Outra vantagem que incentiva a utilização de XBRL é que ela é um padrão aberto, ou seja, sua licença de uso é livre e sem custos. RELATÓRIOS IMPRESSOS EM DOCUMENTOS TEXTO SISTEMA DE CONTABILIDADE RELATÓRIO PARA ÓRGÃO FISCALIZADOR DOCUMENTO TEXTO XBRL PLANILHA INFORMAÇÃO EM OUTRO FORMATO INTERNET RELATÓRIO PARA ORGANIZAÇÃO COLIGADA Figura 2 - Fluxo de informação com XBRL: reduz redirecionamento da informação e custo de transformações sucessivas de formatos [2]. A estruturação de dados para relatórios financeiros ajudará a incrementar a eficiência e baixar os custos e riscos para companhias. Assim como e-commerce, o e-reporting requer padrões de tecnologia com os quais participantes possam trocar dados eletronicamente, tanto internamente como externamente às organizações. XBRL é um padrão para representar e intercambiar relatórios de informação financeira, incluindo demonstrações contábeis, informações para agências governamentais reguladoras e para investidores. Com o uso de XBRL são adicionados elementos a cada segmento de informação financeira. Este modelo de identificação fornece ao computador o significado dos dados. Assim, dois problemas significantes para os usuários e 6 preparadores de demonstrações financeiras podem ser resolvidos, fornecendo uma preparação e extração eficiente dos dados financeiros. XBRL oferece vários benefícios como independência de tecnologia, aumento da interoperabilidade entre sistemas, preparação eficiente de relatórios financeiros e facilidade de extração dos dados. Os aspectos chaves da tecnologia XBRL são (a) contexto, (b) acesso universal e (c) extensibilidade [9]: (a) Contexto: no âmbito de domínio/jurisdição, existe a informação em qualquer documento XBRL dos padrões de contabilidade do país para o qual este foi preparado [9], por exemplo, o IAS (International Accounting Standards), o US GAAP (US Generally Accepted Accouting Principles), padrões da Espanha, Reino Unido, Alemanha, Brasil, etc. Supondo uma aplicabilidade universal de XBRL, a noção de se ter vários padrões contábeis, principalmente em uma economia globalizada, poderá tender a convergir para um único. Por exemplo, existem estudos a respeito de XBRL na Universidade de Rosário (Argentina) e na Universidade de São Paulo. Certamente, com a evolução desses trabalhos, os esforços poderão convergir para uma taxonomia única para o Mercosul. Desta forma, os custos de conversão entre padrões, que não são pequenos, poderão ser diminuídos, apenas por se dispor da informação representada em elementos e de acordo com o modelo conceitual de cada padrão contábil. (b) Acesso universal: sendo uma tecnologia baseada em XML, as informações em XBRL podem ser produzidas para qualquer tipo de mídia - Web, impressão, etc. Podendo ser exportada ou importada por qualquer sistema financeiro/contábil. (c) extensibilidade: um dos benefícios de XBRL é ser extensível, isto é, XBRL permite a criação de novos elementos para descrever novos e imprevistos campos de mensagens. Isto significa que novos elementos de dados personalizados podem ser criados, contanto que eles adiram à especificação XBRL [6]. O que implica que personalizações devem ocorrer a depender da área de atuação da indústria, por exemplo, o setor bancário tem características diferentes do setor de manufatura, o que provocará a criação de elementos distintos para representar informações financeiras específicas para cada setor. No setor público a utilização de XBRL poderá trazer benefícios à economia do país, ou seja, se as informações prestadas pelos agentes da economia para os órgãos governamentais forem em XBRL, as análises de risco, comparação de desempenhos, evolução dos parâmetros de análise da economia, poderão ser feitas de forma mais eficiente e simples. E se toda a informação financeira transitada na economia estiver em XBRL, tanto internamente às organizações, como para as informações externas, certamente o funcionamento da economia do país será bem mais transparente do que ocorre hoje, o que, sem dúvida, proporcionará maior credibilidade às instituições e conseqüentemente maior investimento, pois quando os setores público e privado tornam-se mais transparente e eficiente, a burocracia, mau gerenciamento e fraude decrescem [1]. 7 Com XBRL pode-se fazer um processamento direto entre todas as partes envolvidas, facilitando a obtenção dos dados e processando a informação entre sistemas incompatíveis. Processamento direto entre tecnologias diferentes (hardware, software) requer a transmissão eletrônica automatizada e livre de erros. Isto pode ser alcançado se as partes falarem o mesmo idioma, em outras palavras, requer um padrão de mensagem para transações dentro de uma companhia e agregação da informação em relatórios para serem transmitidos para agentes externos seguindo esse mesmo padrão [1]. 3. Documentos Contábeis XBRL x Regras de Negócios Como afirmado em [5], relatórios financeiros contábeis geralmente são compostos por informações que são o resultado da consolidação de outras informações. Isto é, os valores apresentados em demonstrativos financeiros são normalmente o resultado da soma de subcontas contábeis, as quais, por sua vez podem possuir também subcontas e assim sucessivamente até se alcançar as subcontas bases, que irão compor os valores das contas totalizadoras que aparecem no relatório financeiro. Segundo [3], um dos recursos mais utilizados para representar conhecimento são as regras de produção, onde o conhecimento é representado através do par “condição-ação”. As regras de produção possuem duas partes: uma antecedente (“se”) e outra conseqüente (“então”). É baseado nestas regras que pode ser possível a verificação da veracidade das informações contidas nos documentos financeiros, pois o processo de construção de um documento contábil pode ser associado à composição de diversas subcontas, que podem estar presentes no documento, cujos valores são somados para fornecer o valor de sua conta totalizadora. Por exemplo, o valor da conta Ativo, em um documento de balanço patrimonial, é o resultado da soma das subcontas Ativo Circulante, Realizável a Longo Prazo e Imobilizado, estas por sua vez possuem subcontas, que, também, podem possuir subcontas e assim sucessivamente até se chegar ao nível mais básico da informação. O valor das contas totalizadoras deverá ser o resultado da composição das diversas subcontas nos diversos níveis hierárquicos. Esta hierarquia pode ser visualizada pela representação na figura 3, onde é facilmente percebida a estrutura de árvore que os relatórios financeiros possuem. 8 Figura 3 – Árvore de contas contábeis para construção de um relatório financeiro [5]. Por outro lado um relatório financeiro consolidado pode servir de base para construção de outros relatórios, que podem ser de outra natureza, por exemplo um Balanço Patrimonial pode servir de base para um relatório de Contas de Resultado, ou mesmo servir de base para relatórios de mesma natureza, como no caso do relacionamento dos relatórios das filiais com a matriz da organização, ou de diversas organizações e um conglomerado. Então, documentos podem ter a mesma estrutura da figura 3 e se relacionarem como na figura 4, onde um documento pode ser elaborado pela composição de documentos simples com outros documentos compostos. D AB C LM E D JK * AB 1 E Documento Composto AB C Documento Simples D JK C E D AB C _` \]^ \]^ Z[ Z[ XY XY VW VW V U U U ST ST ST R R R P PQ PQ PQ O O O O N N N N M M M L L JK JK E KL Documento D Figura 4 – Composição de documentos – agregado recursivo para documentos contábeis em UML [5]. [10] sugere que fatos e regras são combinados para se chegar a conclusões e que quando um grupo de premissas de uma regra é verdadeiro, então se conclui que a regra também é verdadeira. Este processo de combinação de fatos e regras é chamado de inferência. Em [10] foi implementado e desenvolvido um modelo de objetos para uma base de conhecimento, representado no diagrama de Venn, a seguir na figura 5, e, então, apresentado um algoritmo de encadeamento para trás para verificação de inferências. 9 CLAUSES FACTS PREMISES CONCLUSIONS Figura 5 - Diagrama de Venn que representa uma base de conhecimento.[10] Baseado neste diagrama é possível deduzir que um grupo de cláusulas é feito por hipóteses U fatos U premissas U conclusões. Porém, uma cláusula pode estar simultaneamente em dois ou mais estados. Existem, portanto, oito possibilidades de estados, como apresentado na figura 6. 000 101 100 110 111 001 011 010 Figura 6 – Diagrama de Venn, representando oito estados diferentes [10]. A tabela 1, apresentada adiante, explana cada um dos estados apresentados: 000 001 010 100 011 101 110 111 Tabela 1 - Tabela de estados [10] Hipótese em seu estado original. Quando a base de conhecimento recebe uma mensagem este estado deve mudar ou a inferência não poderá acontecer. Não há conhecimento. Premissa exclusiva. Neste caso a premissa nunca será descartada se a cláusula não mudar seu estado. Conclusão exclusiva. Neste caso a conclusão nunca será alcançada se a cláusula não mudar seu estado. Fato exclusivo. È verdadeiro. Se este é uma hipótese inicial, ele é provado. Premissa e conclusão. Devem mudar seu estado, ou a cláusula não pode ser provada. Fato e premissa. A cláusula é provada. A base de conhecimento deve ser reorganizada. Fato e conclusão. A cláusula é provada. A base de conhecimento deve ser reorganizada. Fato e premissa e conclusão. A cláusula é provada. A base de conhecimento deve ser reorganizada. Com a utilização deste modelo, [10] apresentaram o exemplo que mostraremos a seguir para explicar como as regras podem ser utilizadas: 10 “As regras são: 1) F,B -> Z; 2) C,D -> F; 3) A ->D. Os fatos são: A, B, C, E, G, H. A hipótese é Z. Tabela 2 - estado inicial da base de conhecimento FATO 100 101 110 111 E,G,H A,B,C PREMISSA 001 011 101 111 D,F A,B,C CONCLUSÃO 010 Z 011 D,F 110 111 Z não está na base de fatos, Z é uma conclusão da regra 1. Portanto, é necessário provar todas as premissas para provar Z. A primeira premissa de 1 é a hipótese F. F não está na base de fatos, F é conclusão da regra 2. Portanto, é necessário provar todas as premissas da regra 2 para provar F. Agora a hipótese é C, primeira premissa de 2, que está na base de fatos. Então C é verdadeiro. A segunda premissa de 2 é D, que não está na base de fatos. D é uma conclusão de 3. Portanto é preciso provar todas as premissas da regra 3 para provar D. A primeira hipótese é A, primeira premissa de 3, que está na base de fatos. A então é verdadeira, logo D também é, o que faz o estado da base de conhecimento mudar para o estado exibido na tabela 3. Tabela 3 FATO 100 101 110 111 E,G,H A,B,C D PREMISSA 001 011 101 111 F A,B,C D CONCLUSÃO 010 Z 011 F 110 111 D Como C e D são verdadeiros, F muda seu estado: Tabela 4 FATO 100 101 110 111 E,G,H A,B,C D,F PREMISSA 001 011 101 111 A,B,C D,F CONCLUSÃO 010 Z 011 110 111 D,F Agora a hipótese é B, segunda premissa de 1. Como B está na base de fatos, B é verdadeiro, logo Z muda seu estado e Z é provado. Tabela 5 FATO 100 101 110 111 E,G,H A,B,C Z D, F PREMISSA 001 011 101 111 A,B,C D, F CONCLUSÃO 010 011 110 Z 111 D,F ”. Como afirmado em [5], deduz-se que a aplicação de regras de inferência em conjunto com XBRL, na representação de informações financeiras, pode conduzir a facilitação da verificação da veracidade das informações contidas em relatórios financeiros, pois, de acordo com [11], regras dedutivas proporcionam a habilidade de 11 derivar nova informação a partir da informação preexistente, ou mesmo testar a consistência da informação armazenada em um banco de dados e que o armazenamento explícito destas regras, de forma declarativa, possibilita a administração deste conhecimento de forma mais organizada. Espera-se, portanto, que com toda a informação financeira representada por meio de uma taxonomia XBRL se possa averiguar mais facilmente a veracidade das informações prestadas, com a construção de agentes de buscas que encontrem os valores das subcontas e chequem, por exemplo, se sua soma coincide com o da conta totalizadora, pois assim como em [12], o armazenamento dos dados financeiros e seus relacionamentos é realizado em um ambiente dedutivo. Este ambiente dedutivo, de acordo com [13], permite que se obtenham explicações sobre dados relevantes por meio de encadeamento para trás, utilizando um algoritmo de inferência, ou seja, com o conhecimento das regras utilizadas para se compor o relatório financeiro é possível se verificar todos os dados que originaram este documento. Podendo, então, ser concebido um sistema dedutivo de apoio à gestão da informação financeira. 5. Criação de documentos XBRL Para a implementação de XBRL é necessária uma coalizão de usuários, tantos dos que fornecem a informação como dos que dela se utilizam. Esta coalizão deverá definir os elementos XBRL que descreverão os conceitos financeiros. Nenhum padrão na verdade será usado dentro de um mercado a menos que se ajuste às necessidades da maioria ou de todos os usuários. A estrutura dos elementos XBRL é definida em um documento de taxonomia. A taxonomia, que é um documento baseado em elementos e atributos XML Schema, é a biblioteca dos termos financeiros usados na preparação dos relatórios financeiros. Uma taxonomia contém estrutura, labels, relações matemáticas, ordem de apresentação e outras características para cada elemento. A taxonomia pode ser dividida em vários documentos, um chamado de taxonomia, para criar os elementos e definir sua estrutura, e outros para definir os relacionamentos entre os elementos, chamados de Linkbases. Para iniciar um processo de criação de um documento XBRL deve-se selecionar uma taxonomia, ou criar a própria taxonomia, ou estender uma existente para atender aos requisitos específicos, ou ainda usar uma ou mais taxonomias para a criação de um documento. Para se criar uma taxonomia é necessário se determinar quais os fatos financeiros que se deseja expressar e a hierarquia entre estes fatos, a qual é expressa em um relacionamento hierárquico pai - filho. Uma vez definida a taxonomia a ser usada, deve-se criar o documento, que contém os valores dos dados referentes ao fato financeiro que se deseja representar. As informações destes valores podem ser provenientes de um banco de dados, de outros documentos XBRL, de documentos de qualquer outra linguagem derivada de XML, ou mesmo de entradas manuais. Criado o documento XBRL, este 12 pode ser validado na taxonomia, por meio de uma aplicação, da própria Internet ou de rotinas próprias, verificando se os elementos usados estão contidos na taxonomia e de acordo com a estrutura lá definida. Se a informação do documento XBRL precisar ser distribuída em vários formatos, é necessário se criar folhas de estilos para expressá-la nos formatos desejados. Considerando uma determinada companhia que usa determinada conta contábil, não prevista na taxonomia que esteja sendo por ela usada, um novo elemento para essa conta pode ser adicionado e, assim, se personalizar a taxonomia. Uma vez estando a taxonomia personalizada, o novo elemento poderá fazer parte do documento XBRL. Isto permite aos usuários codificarem em XBRL a informação específica de determinada companhia. A figura 7 mostra o processo de criação e utilização de um documento XBRL [1]. Documento XBRL Banco de dados Outras fontes XML Taxonomia XBRL(pode ser uma ou várias) Documento XBRL Aplicação Folha de estilo Folha de estilo Folha de estilo HTML PDF Folha de estilo Word RTF Novo XBRL ou outro XML Folha de estilo Novo XBRL ou outro XML Aplicação Banco de Dados Figura 7 - Processo de criação e utilização de documentos XBRL [1]. 5. A estrutura XBRL Como já foi dito, XBRL fornece flexibilidade e extensibilidade na criação de relatórios financeiros, porém não define os elementos necessários para o intercâmbio da informação financeira. Esta responsabilidade é da comunidade de usuários que cria a sua própria taxonomia. A comunidade é quem determina quais as informações necessárias e qual o nível de detalhe exigido. Existem razões para que a comunidade usuária da informação seja responsável pela definição da taxonomia, uma delas é que para uma informação que vá transitar externamente em uma companhia, o nível de detalhe é mais sumarizado do que aquela que circulará internamente, logo a companhia é quem deverá determinar quais elementos a serem usados. Outra razão é que organizações têm 13 fatos financeiros diferentes, países têm legislações específicas para suas finanças, com regulamentações contábeis diferentes. Certamente não seria possível, ou extremamente difícil e vagaroso, se criar uma única taxonomia para atender a todas as particularidades de todos os fatos financeiros no mundo. Por isso XBRL delega esta função à comunidade usuária, definindo apenas a estrutura para a criação das taxonomias, a qual especificará os elementos e suas características para determinada comunidade. XBRL é extremamente flexível, porém esta flexibilidade deve estar dentro de certos parâmetros definidos na sua especificação. O usuário, baseado nas suas necessidades, define os elementos e constrói os documentos que ele quer disponibilizar. Entretanto, XBRL torna estes documentos previsíveis, já que outros usuários podem saber como eles foram construídos, pois a especificação XBRL é quem dita como o documento deve ser criado. O fato de se saber como o documento e seus elementos foram elaborados, facilita extremamente a reutilização da informação e a adição de qualquer novo elemento. Ou seja, o uso de XBRL permite a reusabilidade e extensibilidade da informação. A especificação XBRL descreve como elementos e atributos são organizados e estruturados para a criação de documentos e de suas taxonomias. Ela fornece a direção para se construir o documento, se todos usam essa mesma direção, então se pode estar certo de que o documento é consistente para ser usado por qualquer usuário que tenha acesso à taxonomia. Então, a representação de um relatório financeiro em XBRL é constituída por três tipos de documentos: • o próprio documento XBRL, que contém os dados do relatório financeiro; • o documento de taxonomia, que descreve os elementos usados no documento XBRL, os quais representam os fatos financeiros, ou seja, a taxonomia é o vocabulário e dicionário dos termos usados; • os documentos linkbases – que expressam os relacionamentos entre os elementos definidos na taxonomia, estes documentos são estruturados de acordo com a recomendação XML Link do W3C (Wide World Web Consortium); Para estruturar os relacionamentos de forma mais precisa, facilitando manutenção e adição de relacionamentos entre novos elementos, os documentos linkbases são divididos em cinco: calculation, presentation, defintion, reference e label, cujas funções podem ser expressas como se seguem: Links Relation (definition, calculation, e presentation), os quais expressam as relações entre os elementos da taxonomia, ou seja, quem é o pai, quem é o filho; como os valores dos elementos filhos se relacionam para fornecer o do pai (adicionando ou subtraindo); e como os elementos devem ser ordenados para a apresentação; Link label, o qual expressa um nome para o elemento na taxonomia, que pode estar associada a vários idiomas, ou seja, um elemento pode possuir diversos labels, um para cada idioma; 14 Link reference, que é utilizado para se fazer uma referência, por exemplo, a uma literatura normativa. 4. Ambiente de Intercâmbio de Informações Financeiras do Banco Central Para se avaliar a utilização de XBRL no contexto do Banco Central, inicialmente analisaremos a figura 8, onde pode se observar que uma informação proveniente de sistemas de uma instituição financeira precisa ser convertida para o formato do sistema do Banco Central. Esta informação é enviada ou por uma rede privada SNA ou pela Internet usando um aplicativo para transmissão de arquivos (PSTAW10), para ser armazenada no banco de dados de um computador de grande porte. A informação poderá então ser utilizada pelos sistemas internos (SISBACEN) ou ser convertida para o formato de um banco de dados relacional, que é utilizado pelo seu Datawarehouse, e, ainda, ser transformada para os formatos de outros bancos de dados. Além dessas transformações, essas informações e as produzidas internamente, armazenadas nos diversos bancos de dados, podem ter seu formato alterado para o de publicação na Web. Ambiente do Banco Central Ambiente da Instituição ATUAL AMBIENTE DE INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES ENTRE AS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO E O BANCO CENTRAL SPB Banco de Dados Sybase do DEPIN Internet Ferramentas do DEPIN Extração de dados com conversão sucessiva de formatos Sistema A Rede SNA Mainframe - Banco de Dados ADABAS -Sistemas do SISBACEN Banco de Dados do Data Warehouse DB2 Conversão de formato Sistema B Conversão de formato Banco de Dados SQL Server SISBACEN Sistemas de Informação do Banco Central InternetPSTAW10 Outras fontes WEB Server Ferramentas do DataWarehouse Bases de dados em Access e outros, contidas nos diversos departamentos Planilhas e outras ferramentas Várias conversões de formato para uma mesma informação e em momentos diferentes Figura 8 – Ambiente de intercâmbio de informações entre as instituições do sistema financeiro e o Banco Central do Brasil [1]. Todo esse processo além de proporcionar custos elevados, introduz muitas oportunidades de erro, dificuldade na extração de dados, necessidade de conversão sucessiva de formatos, pouca flexibilidade, dificuldade de integração de sistemas etc 15 É possível identificar neste exemplo que os ambientes descritos podem servir de parâmetro de análise para outras organizações, pois pelo menos um deles pode ocorrer em qualquer tipo de organização, ou seja, no intercâmbio de informações financeiras entre organizações, internamente ou para publicação na Web. 5. Ambiente de Intercâmbio de Informações Financeiras usando XBRL como Formato de Representação Um possível cenário para o intercâmbio de informações financeiras pode ser baseado na estruturação de relatórios de informações financeiras utilizando uma linguagem padrão para representação da informação. No ambiente do Banco Central, a utilização de XBRL como padrão para o intercâmbio de informações financeiras pode proporcionar a distribuição da informação de forma automática e de uma só vez para os diversos formatos, mantendo-se a mesma estrutura existente de comunicação. A figura 9 representa como a utilização de XBRL pode simplificar bastante o fluxo da informação financeira. A criação de uma taxonomia XBRL para o plano de contas das instituições financeiras (COSIF) e a determinação de que os relatórios originados pelas contas estejam em XBRL certamente irá trazer para o Banco Central todos os benefícios que esta tecnologia pode proporcionar. Ambiente da Instituição AMBIENTE DE INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES ENTRE AS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO E O BANCO CENTRAL USANDO XBRL Ambiente do Banco Central SPB Ferramentas do DataWarehouse Internet Mainframe - Banco de Dados ADABAS -Sistemas do SISBACEN Banco de Dados do Data Warehouse DB2 Internet Sistema A Rede SNA XBRL Conversão de formato conversão de formatos Sistema B Conversão de formato WEB Server Banco de Dados Sybase do DEPIN XBRL Ferramentas do DEPIN InternetPSTAW10 Outras fontes Bases de dados em Access e outros, contidas nos diversos departamentos Banco de Dados SQL Server Planilhas e outras ferramentas Com XBRL a conversão e distribuição da informação ocorre de uma vez, para quantas bases de dados e sistemas forem necessários Figura 9 – Ambiente de intercâmbio de informações entre as instituições do sistema financeiro e o Banco Central do Brasil, usando XBRL [1]. 16 Como subsídio para análise dos benefícios trazidos por XBRL, explora-se em seqüência a aplicação de XBRL na construção de hiperdocumentos para divulgação e processamento de relatórios de informações financeiras. Como foco de estudos, foi escolhido avaliar essa tecnologia em duas aplicações que aparentemente demonstram grande potencial no aproveitamento das vantagens oferecidas. A primeira delas é a disponibilização das informações em um browser (navegador da Web), para publicação na Web. A outra aplicação refere-se ao modo como poderá ocorrer o intercâmbio das informações financeiras entre os agentes interessados. No item seguinte será explanado como os elementos criados em uma taxonomia XBRL podem ser utilizados para a representação e o processamento de relatórios financeiros do tipo balanço patrimonial. 6. Extraindo Informações de um Documento XBRL Foi criada uma taxonomia que definiu elementos XBRL que foram usados em documentos para a representação de relatórios do tipo balanço patrimonial, que podem ser usados tanto para publicação na Web, como para o processamento automático. Para publicação de um documento XBRL em um browser, para uso na Web ou em uma Intranet, criou-se uma folha de estilo desenvolvida em XSLT (eXtensible Stylesheet Language Transformation) [14], que reproduziu uma apresentação semelhante à de uma página HTML, como pode ser visto na figura 10. Se a transformação não fosse processada pela folha de estilo XSLT, o mesmo documento seria exibido pelo navegador Web conforme a figura 11. E para comprovar como XBRL pode promover o processamento automático dos relatórios financeiros, foi criada uma aplicação para extrair as informações dos documentos XBRL. As informações extraídas foram armazenadas em um banco de dados, para, por meio de outra aplicação, produzir um relatório com indicadores analíticos provenientes do processamento destes dados armazenados. A figura 12 representa graficamente como esse processo ocorreu. 17 Figura 10 - Exibição do documento XBRL, com a transformação XSLT [1]. 18 Figura 11 - Exibição do documento XBRL sem a transformação XSLT [1]. Figura 12 - Processamento do documento XBRL [1]. Desta forma, pode-se observar como pode ocorrer o processo de utilização da informação financeira representada por XBRL, com a definição da taxonomia, publicação por meio de um browser e extração dos dados, facilitando, assim, o processamento automático. A figura 13 mostra o resultado produzido por essas aplicações, que processaram as informações para gerar indicadores analíticos que são representados graficamente, algo que não é trivial de se fazer, na forma em que a informação atualmente é apresentada no atual sítio do Banco Central na Web. 19 Figura 13 - Exibição do resultado da aplicação usando-se XBRL/DOM/JAVA/JSP [1]. É importante ressaltar que com a análise do exemplo apresentado é possível verificar como a utilização da linguagem de marcação XBRL possibilita a preservação semântica dos dados e facilita o processamento da informação financeira na representação de relatórios financeiros, sejam para aqueles que são disponibilizados na Web, numa Intranet, ou para os que são fornecidos para as instituições governamentais ou entre companhias parceiras. 7. Possíveis Benefícios na Utilização de XBRL no Banco Central do Brasil No contexto do Banco Central a utilização de XBRL pode trazer alguns benefícios [15]: • XBRL democratiza a informação, alcançando uma quantidade de usuários que qualquer outra tecnologia não consegue, já que utiliza a Internet, cujo protocolo TCP/IP permite a interconexão de qualquer tipo de computador, de qualquer porte, qualquer fabricante, com qualquer sistema operacional e arquitetura. Além disso, sendo o Banco Central um órgão público, as informações por eles prestadas devem ser facilmente acessíveis e preferencialmente em um formato que não seja proprietário. XBRL proporciona exatamente essa facilidade, pois qualquer ente interessado na informação (seja uma instituição acadêmica, financeira, consultores ou qualquer cidadão) poderá ter acesso à taxonomia e aos códigos dos documentos XBRL, se estes estiverem disponíveis no seu sítio da Internet; • um padrão independente de fabricante, como XBRL, facilita todo o processo de manuseio da informação. No ambiente interno do Banco Central a padronização do formato de representação da informação poderá facilitar o intercâmbio de informações entre os departamentos, minimizando, assim, a 20 diversidade de formatos hoje existente e disponibilizando a informação mais prontamente; • usando a Intranet e representando as informações em XBRL, os departamentos poderão disponibilizar mais facilmente suas informações para que outro departamento faça uso de forma automatizada, podendo inclusive descobrir novas utilidades para as aplicações, simplesmente por estarem as informações disponíveis em um formato que facilita o processamento pelo usuário; • aceitação e suporte do formato de um documento é importante quando um grande público alvo está envolvido (como no caso da Internet), neste caso ferramentas para leitura e manipulação do formato devem estar disponíveis. Uma grande gama destas ferramentas já dá suporte a XBRL [6]; • documentos XBRL podem transitar entre aplicações baseadas em diversos protocolos já estabelecidos, como o HTTP. O Banco Central possui ambientes que são incompatíveis, como Unisys, Windows, MVS, etc. Com a informação em XBRL, a facilidade da sua extração e processamento poderá facilitar a interoperabilidade entre estes ambientes; • XBRL permite associação entre elementos através de hyperlinks, que permitem construir poderosas aplicações com links multi-direcionais e links externos (onde a informação do link é mantida fora do documento). Por exemplo, links podem ser criados entre a conta Reserva Bancária de cada instituição financeira e relatórios que demonstram a solidez da instituição. Uma aplicação então pode buscar o saldo da Reserva Bancária e trazê-lo para os documentos que representem esses relatórios; • transformação sucessiva de formatos é eliminada, reduzindo a possibilidade de ocorrência de erros e trabalho de conversão. Atualmente, no Banco Central, informações de diversas fontes estão sendo colhidas e disponibilizadas para os usuários em um banco de dados SQL Server. Para que isso ocorra, o usuário tem que fazer um pedido ao Departamento de Tecnologia da Informação, que elabora um programa para extração da informação no banco de dados onde ela está armazenada e a transfere para o SQL Server. Esse processo além de gerar custos, cria uma burocracia que muitas vezes dificulta o uso da informação. Então, recebendo, o Banco Central, a informação em XBRL, esta poderá ser distribuída automaticamente para os diversos bancos de dados, inclusive o SQL Server, facilitando a utilização da informação; • A adoção de XBRL no ambiente computacional de informações do Banco Central poderá desencadear um processo de mudanças nas instituições financeiras para que elas também adotem nos seus ambientes internos o mesmo padrão. Ou seja, se o Banco Central adotar XBRL como linguagem de representação do plano de contas das instituições financeiras (COSIP) e solicitar que os relatórios financeiros que são enviados pelas instituições estejam nesse formato, certamente esse padrão deverá ser adotado no ambiente interno das instituições financeiras, que por sua vez poderá adotar o mesmo procedimento com seus clientes, e assim, a utilização de XBRL tenderá a ser expandida por toda a economia nacional. Tal fato, além de beneficiar as instituições com as vantagens já citadas, poderá favorecer todo o contexto financeiro do país, pois se todas as instituições adotarem XBRL como padrão de comunicação, os mecanismos de análise e checagem das informações serão facilitados, proporcionando agilidade, redução de custos e transparência ao sistema financeiro nacional. Para a utilização de XBRL no Banco Central é necessária a criação de taxonomias para duas situações. A primeira é para representar os fatos financeiros que irão estar disponíveis em seu sítio na Internet. No sítio existem informações que 21 são próprias do Banco Central, como os seus demonstrativos contábeis, e outras que são produzidas por toda a economia do país, como indicadores financeiros, taxas de câmbio, etc. A segunda situação corresponde às informações que as instituições financeiras são obrigadas a prestar a este órgão de governo. Em ambas as situações já existem definições de como os fatos são representados, por exemplo, as instituições financeiras possuem um plano de contas, definido pelo Banco Central, no qual se baseiam para fornecer as informações, certamente uma taxonomia deve ser produzida a partir deste sistema contábil. 10. Implantando XBRL no Banco Central O processo de aprendizado e conhecimento da especificação XBRL requer um conhecimento prévio de padrões XML, como XML Schema, XML Link, XML Namespace, XML Path e XML Pointer. Sem um domínio destas tecnologias não é possível um completo entendimento de XBRL. Além do conhecimento tecnológico, é fundamental que se tenha um razoável suporte da área de negócio em que XBRL atua, ou seja, o campo financeiro/contábil. Esse conhecimento é necessário para que melhor se entenda a aplicabilidade da especificação e para que possa ser usada eficientemente. Para nomear os elementos que irão representar os fatos financeiros é preciso definir um padrão. Na elaboração da taxonomia, para o estudo de caso apresentado, ficou-se em dúvida se deveria ser usado os nomes dos conceitos financeiros, como “AtivoCirculanteRealizavelLongoPrazo”, ou abreviações. Como os nomes dos conceitos financeiros são geralmente longos, optou-se por nomear os elementos com abreviações que sintetizassem o nome do conceito, por exemplo, “atv” para representar “ativo”, “pssv” para “passivo” e nos nomes compostos, as abreviações foram separadas por símbolo de sublinhado ”_”. Ficando, então, “atv_circ_real_lprazo” para ativo circulante realizável a longo prazo. É também importante estar atento à hierarquia dos fatos financeiros para a construção dos linkbases, para que se possa definir corretamente quem é o elemento pai, quem é o elemento filho, a ordem de apresentação no documento e a relação matemática dos elementos filhos para compor o valor do elemento pai. Em [1] é apresentada uma sugestão de metodologia a ser aplicada no processo de implantação do uso de XBRL para representação de documentos financeiros no Banco Central, a qual poderá servir de referência para outras organizações. 8. Conclusão Neste artigo foi apresentada uma abordagem para a representação de relatórios financeiros de forma que o intercâmbio das informações neles contidas possa ocorrer automaticamente entre aplicações, eliminando a necessidade de transformação sucessiva de formatos e, também, fornecendo a possibilidade de estruturação da informação financeira na Web. 22 O uso de XBRL pode conduzir a um intercâmbio de informações financeiras mais eficiente, facilitando as análises e tomadas de decisões necessárias para a atividade organizacional, ou seja, essa solução fornece melhorias aos processos de análise da informação financeira, diminui custos, facilita a interação das informações entre departamentos de organizações, proporciona estruturação das informações financeiras na Web, de forma que possam ser extraídas e usadas mais facilmente, enfim, possibilita melhores condições de gestão da informação financeira. No ambiente do Banco Central do Brasil a utilização de XBRL trará benefícios na análise financeira e tomada de decisões baseadas em relatórios financeiros, proporcionará maior democratização da informação financeira disponível em seu sítio e poderá colaborar para a construção de uma economia nacional mais transparente, iniciando um processo de adoção de uma tecnologia que facilita a fiscalização e supervisão da informação financeira nas organizações. 12. Referências bibliográficas 1. CAETANO, Paulo, Explorando Linguagens de Marcação para a Representação de Relatórios Financeiros. Dissertação de Mestrado, UNIFACS, Salvador, maio 2003; 2. CAETANO, Paulo & SULAIMAN, Alberto, XBRL, Regras de Negócios e Relatórios Financeiros. KmBrasil 2003, Congresso Nacional de Gestão do Conhecimento, São Paulo, 2003; 3. SULAIMAN, Alberto & SOUZA, Jano de. Mineração de Dados in Tarapanoff, K. et al, Inteligência Organizacional e Competitiva, editora UNB, 2001; 4. ELMASRI & NAVATHE. 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