Normas Internacionais de Contabilidade para PMES Prof. MSc. Márcio de Souza e Silva Objetivos: Compreender como adotar e implementar as Normas Internacionais de Contabilidade para as PMES INTRODUÇÃO O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) emite suas normas, interpretações e comunicados técnicos de forma convergente com as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) emitidas pelo IASB e promoção do uso dessas normas em demonstrações contábeis para fins de aplicação geral no Brasil, bem como em seus relatórios financeiros. As normas, interpretações e comunicados técnicos definem as exigências de reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação relacionados a transações e outros eventos e condições que são importantes em demonstrações contábeis para fins de aplicação. O Conselho Federal de Contabilidade está emitindo em separado normas para aplicação às demonstrações contábeis para fins gerais de empresas de pequeno e médio porte (PMEs). Essas normas foram editadas a partir das Resoluções do CFC n. 1255/2009 e 1.285/2010. Para os efeitos da Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, que instituiu o Estatuto Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (PMES), consideram-se como tais a sociedade empresária, as sociedades simples e o empresário, a que se refere o artigo 966 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados nos Registros de Empresas Mercantis ou Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Para ser considerada microempresa (ME), o empresário, a empresa jurídica ou a ela comparada, terá que obter, em cada anocalendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais). É considerada empresa de pequeno porte (EPP), o empresário, a pessoa jurídica ou a ela comparada, terá que obter, em cada anocalendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Somente poderá ser enquadrado como microempresário ou empresa de pequeno porte o empresário ou sociedade constituída exclusivamente por sócios pessoas físicas; que tenha sócio domiciliado no Brasil; e observar os seguintes requisitos: de cujo capital não participe pessoa física, que seja inscrito como empresário, ou seja, sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos da Lei Complementar n. 123/2006 e desde que a receita bruta global não ultrapasse o limite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), no ano-calendário imediatamente anterior; o titular ou sócio não poderá participar com mais de 10% (dez por cento) do capital social de outra empresa, não beneficiada pelo Lei Complementar n. 123/2006, quando a receita bruta global ultrapassar o limite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais); o titular ou sócio não poderá ser administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, quando a receita global ultrapassar o limite de R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Segundo a norma de contabilidade para pequenas e médias empresas (NBC T 19.41), editada pelo CFC, são descritas como pequenas e médias empresas, se: não têm obrigação pública de prestação de contas; e elaboram demonstrações contábeis para fins gerais externos. Exemplos de usuários externos incluem proprietários que não estão envolvidos na administração do negócio, credores existentes e potenciais, e agências de avaliação de crédito. Uma empresa tem obrigação pública de prestação de contas, se: seus instrumentos de dívida ou patrimoniais são negociados em mercado de ações ou estiverem no processo de emissão de tais instrumentos para negociação em mercado aberto (em bolsa de valores nacional ou estrangeira ou mercado de balcão, incluindo mercados locais ou regionais); ou possuir ativos em condição fiduciária perante um grupo amplo de terceiros como um de seus principais negócios. Esse é caso típico de bancos, cooperativas de crédito, companhias de seguro, corretoras de seguro, fundos mútuos e bancos de investimento. A norma salienta, que no Brasil, as sociedades por ações e fechadas (sem negociação de suas ações ou outros instrumentos patrimoniais ou de dívida no mercado e que não possuam ativos em condição fiduciária perante um amplo grupo de terceiros), mesmo que obrigadas à publicação de suas demonstrações contábeis, são tidas, como pequenas e médias empresas, desde que não estejam enquadradas pela Lei 11.638/2007 como sociedades de grande porte. Se a organização obrigada à prestação pública de contas utilizar a norma do CFC para PMEs, suas demonstrações contábeis não podem ser descritas como se estivesse em conformidade com a Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas – mesmo que lei ou regulamentação permita ou exija que a norma do CFC seja usada por empresas obrigadas à prestação pública de contas. IMPLEMENTAÇÃO E ADOÇÃO DA NORMA IFRS PARA PMES Uma determinada microempresa ou empresa de pequeno porte, ao decidir pela implantação da norma IFRS, deverá, no momento da decisão, escolher a norma IFRS para PMEs. Sua estrutura conceitual contempla a compreensão dos elementos necessários para a adoção e implementação da IFRS. Segundo Lima (2010) uma importante característica da IFRS é que ela é reduzida do uso de regras em seu conjunto de pronunciamentos e interpretações, o que faz com que sejam tidos como baseados em princípios. É natural que, tendo como finalidade a aplicabilidade em diversos países, tais normas devem ser desprendidas de regras que poderiam causar distorções, em razão do contexto em que são utilizadas. A implementação da IFRS para PMEs precede da mesma forma da necessidade da comparabilidade, ou seja, deve ser elaborada de forma que a informação seja comparativa e transparente para os usuários da informação. A ideia é que as demonstrações financeiras dessa empresa estejam adequadas de um ponto de vista inicial da aplicação das normas internacionais e que realmente estejam elaboradas em um modelo economicamente viável e transparente. É necessário, também, elaborar o balanço de abertura em IFRS PMEs, que vem a ser o ponto de partida para toda a contabilização subseqüente em acordo com essa norma. A entidade, nesse primeiro momento, deve elaborar um balanço de abertura para que as Normas Internacionais de Contabilidade tenham um período de inicio de transição. Sempre deve haver um balanço comparativo de pelo menos um exercício. Por exemplo: se uma companhia prepara suas demonstrações contábeis em IFRS para o exercício de 2011, deverá elaborar, para fins de comparabilidade, as demonstrações do exercício de 2010. O objetivo das demonstrações contábeis de pequenas e médias empresas é oferecer informação sobre a posição financeira (balanço patrimonial), o desempenho (resultado e resultado abrangente) e fluxos de caixa da entidade, que é útil para a tomada de decisão por vasta gama de usuários que não está em posição de exigir relatório elaborados sob medida para atender suas necessidades particulares de informação. Demonstrações contábeis também mostram os resultados da diligência da administração – a responsabilidade da administração pelos recursos confiados a ela. Os elementos das demonstrações financeiras (balanço patrimonial, demonstração de resultado e demonstração dos fluxos de caixa) podem alcançar características qualitativas das demonstrações financeiras em IFRS para PMEs, que são: Compreensibilidade Uma qualidade essencial das informações apresentadas nas demonstrações contábeis é que elas sejam prontamente entendidas pelos usuários. Exemplo prático – Compreensibilidade Determinado demonstrativo financeiro apresentou um grande aumento dos custos em 2011. Isso se deve ao fato de que houve aumento no custo da matéria-prima, que era importada, e a crise financeira afetou o setor. O contador, ao observar esse aumento, elaborou observações nas nota explicativas, pois a variação estava acima de 80%. Relevância A informação fornecida em demonstrações contábeis deve ser relevante para as necessidades de decisão dos usuários. A informação tem a qualidade da relevância quando é capaz de influenciar as decisões de usuários, ajudando-os a avaliar acontecimentos passados, presentes e futuros ou confirmando, ou corrigindo, suas avaliações passadas. Exemplo prático – Relevância Ao elaborar o balanço patrimonial, determinada empresa buscou divulgar todas as informações necessárias conforme a lei, dividindo as contas em grupos e informando os valores. Dados não relevantes, cuja informação não era obrigatória por lei e que não auxiliavam na tomada de decisão, eram omitidos. Materialidade A informação é material – e, portanto tem relevância – se sua omissão ou erro puder influenciar as decisões econômicas de usuários, tomadas com base nas demonstrações contábeis. A materialidade depende do tamanho do item ou imprecisão julgada nas circunstâncias de sua omissão ou erro. Entretanto, é inapropriado fazer, ou deixar sem corrigir desvios insignificantes das práticas contábeis para se atingir determinada apresentação da posição patrimonial (balanço patrimonial) da entidade, seu desempenho (resultado e resultado abrangente) ou fluxos de caixa. Exemplo prático – Materialidade A empresa não deve publicar aspectos pessoais dos sócios ou critérios para tomada de decisão dos gestores, pois objetivamente, não impactam de forma direta nas decisões econômicas dos usuários. Confiabilidade A informação fornecida nas demonstrações contábeis deve ser confiável. A informação é confiável quando está livre de desvio substancial e viés, e representa adequadamente aquilo que tem a pretensão de representar ou seria razoável de se esperar que representasse. Demonstrações contábeis não estão livres de viés (ou seja, não são neutras) se, por meio da seleção ou apresentação da informação, elas são destinadas a influenciar uma decisão ou julgamento para alcançar um resultado ou desfecho pré-determinado. Uma informação pode ser relevante, mas a tal ponto não confiável em sua natureza ou divulgação que o seu reconhecimento tem potencial para distorcer as demonstrações contábeis. Exemplo prático – Confiabilidade A empresa informatizou todo o seu estoque e agora é possível saber o custo de cada unidade produzida por diferentes formas de custeio. Este fato possibilitou aos auditores internos maior facilidade para rastrear a informação, para validar os documentos e para localizar documentos comprobatórios. Primazia da essência sobre a forma Transações e outros eventos e condições devem ser contabilizados e apresentados de acordo com sua essência e não meramente sob sua forma legal. Isso aumenta a confiabilidade das demonstrações contábeis. Exemplo prático – Primazia da essência sobre a forma Determinada empresa faz um contrato de leasing, ou seja, um arredamento mercantil com opção de compra, de um equipamento com intenção de compra no futuro. A companhia irá adquirir o equipamento por um valor menor ao final do contrato. Serão 24 parcelas mensais de R$ 1.000,00 e ao final um valor residual de R$ 6.000,00, totalizando R$ 30.000,00. Continuação Exemplo Prático Para fins de contabilização ela deverá reconhecer como ativo imobilizado o bem no momento que firmar o contrato de leasing e a dívida em seu passivo. Anteriormente as parcelas eram consideradas despesas e somente o valor residual era contabilizado ao final do contrato como ativo imobilizado. Prudência As incertezas que inevitavelmente cercam muitos eventos e circunstâncias são reconhecidas pela divulgação de sua natureza e extensão e pelo exercício da prudência na elaboração das demonstrações contábeis. Prudência é a inclusão de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas exigidas de acordo com as condições de incerteza, no sentido de que ativos ou receitas não sejam superestimados e que passivos ou despesas não sejam subestimados. Exemplo prático - Prudência Uma empresa adquiriu um novo imóvel e deve apurar o resultado do exercício, mas não tem o histórico de consumo de energia elétrica do ativo. O contador considerou, por meio de um levantamento, que o consumo do período deverá ficar entre R$ 700,00 e R$ 900,00. Ela provisionou R$ 900,00, pois, desta forma, foi mais prudente, evitando possíveis imprevistos. Se fosse um valor a receber, por sua vez, a empresa deveria provisionar o menor valor, novamente utilizando-se da prudência. Prudência é conhecida também pelo nome de Conservadorismo. Integralidade Para ser confiável, a informação constante das demonstrações contábeis deve ser completa, dentro dos limites da materialidade e custo. Uma omissão pode tornar a informação falsa ou torná-la enganosa e, portanto, não confiável e deficiente em termos de sua relevância. Exemplo prático – Integralidade Determinada empresa estava com problema em seus dados, pois faltavam informações acessórias em seus controles, conforme apuração da auditoria interna. Ela realizou um estudo para verificar a viabilidade de melhorar seu sistema de informações, e desde 2010, o processo foi normalizado. Comparabilidade Os usuários devem ser capazes de comparar as demonstrações contábeis da entidade ao longo do tempo, a fim de identificar tendências em sua posição patrimonial e financeira e no seu desempenho. Os usuários devem, também, ser capazes de comparar as demonstrações contábeis de diferentes entidades para avaliar suas posições patrimoniais e financeiras, desempenhos e fluxos de caixa relativos. Exemplo prático – Comparabilidade O estoque de peças de um comércio é controlado há anos pelo mesmo critério. A partir de 2012 ele decidiu alterar o método. Para efeito de comparabilidade, a empresa deverá ajustar o ano de 2011 quando no encerramento de 2012, para efeito de comparabilidade. Tempestividade Para ser relevante, a informação contábil deve ser capaz de influenciar as decisões econômicas dos usuários. Tempestividade envolve oferecer a informação dentro do tempo de execução da decisão.. Exemplo prático – Tempestividade Divulgar o balanço patrimonial e as demonstrações de resultado logo após o término do período, para que os usuários tenham a informação no tempo adequado. Equilíbrio entre custo e benefício Os benefícios derivados da informação devem exceder o custo de produzi-la. A avaliação dos custos e benefícios é, em essência, um processo de julgamento. Além disso, os custos não recaem necessariamente sobre aqueles usuários que usufruem dos benefícios e, freqüentemente, os benefícios da informação são usufruídos por vasta gama de usuários externos. Exemplo prático – Equilíbrio entre custo e benefício Uma empresa industrial utiliza canetas, sendo que, mensalmente, há o consumo de quatro canetas na fábrica, com custo de aquisição total de R$ 10,00. A contabilidade faz o rateio deste custo para os produtos, considerando que produz 25 tipos de produtos diferentes e um total de 7.000 peças por mês. Continuação Exemplo prático Contabiliza proporcionalmente este custo das canetas para os produtos. O problema é que a empresa tem que identificar cada profissional que pegou a caneta e a carga horária que se dedicou para a elaboração de cada produto, logo o controle do custo é mais caro do que o benefício da informação. Neste caso, a empresa opta por adicionar aos custos indiretos de fabricação ou à despesa. Santos e Veiga (2011) citam que as demonstrações contábeis podem ser úteis para as empresas realizarem planejamento, acompanharem os resultados, tomarem decisões, prestarem contas para a sociedade ou para captarem recursos Créditos ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Contabilidade Avançada: de acordo com as exigências do MEC para o curso de Ciências Contábeis: textos, exemplos e exercícios resolvidos. - 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2010. Conselho Federal de Contabilidade. Contabilidade para pequenas e médias empresas: Normas Brasileiras de Contabilidade NBC T 19.41. Brasília: CFC, 2010. Deliberações do CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponíveis em:<www.cpc.org.br> Deliberações das Resoluções e Normas Brasileiras de Contabilidade. Disponíveis em:<www.cfc.org.br> INTERNACIONAL FINANCIAL REPORTING STANDARDS (IFRS). Internacional Accounting Standards Board. Issueb by Publications Departament, 2010. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, 2010. LIMA, Luiz Murilo Strube. IFRS: entendendo e aplicando as normas internacionais de contabilidade. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, Ediva Morais da. Manual de Contabilidade Simplificada para Micro e Pequenas Empresas. São Paulo: IOB, 2010. SANTOS, Fernando de Almeida; VEIGA, Windsor Espenser. Contabilidade com ênfase em micro, pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas, 2011. Pronunciamentos técnicos e discussões de temas e das normais internacionais. Disponível em:<www.iasb.org> Pronunciamentos técnicos e discussões de temas e das normais internacionais. Disponível em:< www.ifrs.org>