ALEXANDRE REZENDE MODELAGEM TÉRMICA DE INJETORES AQUECIDOS PARA MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA DO CICLO OTTO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre Profissional em Engenharia Automotiva. Área de Concentração: Engenharia Automotiva Orientador: Prof. Dr. José Roberto Simões-Moreira São Paulo 2009 2 DEDICATÓRIA Aos meus pais e à Daniella. 3 AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos aos colegas da divisão de powertrain da empresa Continental pela ajuda prestada, pelas informações bem como pelo apoio financeiro garantido pela diretoria. Agradeço ao amigo e professor Simões que me orientou, incentivou e me ajudou a superar alguns momentos difíceis durante a execução desta dissertação. À todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. E finalmente à minha família e amigos, que sempre me incentivaram a superar mais este desafio e pela sua compreensão e paciência pelo tempo que tive de me dedicar na conclusão deste trabalho. 4 RESUMO Este trabalho apresenta uma análise de desempenho por meio de um modelamento térmico, de uma nova tecnologia de sistema de partida a frio para aplicação em motores de combustão do ciclo Otto utilizando injetores aquecidos por meio de eletromagnetismo. Este novo método ainda em fase de desenvolvimento, tem como finalidade permitir a partida a frio em baixas temperaturas de veículos movidos a etanol ou bicombustíveis, e deve ser oferecido como alternativa para substituir o sistema utilizado atualmente. Presentemente o sistema de partida a frio utiliza um reservatório auxiliar de gasolina que, por sua vez, traz alguns inconvenientes para o usuário do veículo, como apontado neste trabalho. O estudo baseia-se na teoria de transmissão de calor em regime transitório de sistema concentrado, sendo que o escopo do trabalho é a transmissão do fluxo de calor da parede do injetor para o combustível etanol. O objetivo foi de criar um modelo matemático que tem por finalidade simular as interações entre os diversos parâmetros envolvidos no processo de aquecimento, tais como a potência de aquecimento e coeficiente médio de transferência de calor. Particularmente, obteve-se a curva de aquecimento do combustível em função do tempo no interior do injetor, um parâmetro importante no processo. Além disso, o texto apresenta ainda uma revisão do estado da arte e, por fim, uma análise de sensibilidade de alguns parâmetros e seus resultados com comentários pertinentes e sugestões de trabalhos futuros. Palavras-chave: etanol, sistema de partida a eletromagnetismo, injetor aquecido, modelamento térmico. frio, aquecimento por 5 ABSTRACT This work presents a performance analysis by using a thermal modeling of a new cold-start system technology designed for Otto cycle combustion engines based on the electromagnetic heating principle. This new method of cold-start is still in the development phase and it enables engine cranking at low temperatures in vehicles fuelled with ethanol or flex-fuel vehicles (FFV). This new system technology should be available as an alternative to replace the existing system. Currently, the cold-start system uses an auxiliary gasoline tank, which brings some inconveniences for the user as mentioned on this work. The study is based on the lumped heat transfer theory, since the main target is the heat transfer flux from the internal injector wall to the ethanol fuel. The aim was to create a mathematical model that takes into consideration all the parameters involved on the heating process such heating power and average heat transfer coefficient. Particularly, an ethanol heating curve inside the injector was obtained, an important parameter on the process. Besides, the text presents a state of the art review, and finally, a sensitivity analysis of some parameters with its results and comments and suggestions for further studies. Keywords: ethanol, cold-start system, electromagnetic heating, heated injector, thermal modeling. 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 2.1 Motor e sistema auxiliar de partida a frio com respectivo ponto de injeção no corpo de borboletas........................................................16 Figura 2.2 Desenho esquemático de um sistema auxiliar de partida a frio e seus componentes.............................................................................20 Figura 2.3 Componentes do sistema auxiliar de partida a frio...............................22 Figura 2.4 Fluxograma simplificado de ativação do sistema auxiliar de partida a frio..........................................................................................23 Figura 2.5 Injetor de combustível Deka VII............................................................24 Figura 2.6 Componentes de um injetor..................................................................26 Figura 2.7 Gráfico tensão x vazão de um injetor em função do tempo..................27 Figura 2.8 Geometria dos jatos dos injetores.........................................................29 Figura 2.9 Partida a frio com redução de emissões de HC's quando injetor opera aquecido.....................................................................................30 Figura 2.10 Injetor aquecido CVSmaxV e seus principais componentes.................31 Figura 2.11 Conector do injetor aquecido CVSmaxV...............................................32 Figura 2.12 Diferença entre os sinais com aquecimento ligado e desligado...........33 Figura 2.13 Princípio de funcionamento por indução...............................................34 Figura 2.14 Desenho esquemático de um arranjo típico de aquecimento por indução...........................................................................................35 Figura 2.15 Fiat 147 – Primeiro veículo de série movido a etanol no mercado brasileiro................................................................................37 Figura 2.16 Produção brasileira de etanol (anidro + hidratado)...............................39 Figura 2.17 Veículos Flex-Fuel de alguns fabricantes nacionais.............................41 Figura 2.18 Licenciamento de automóveis e comerciais leves no Brasil (ciclo Otto)..............................................................................42 Figura 2.19 Sensor de oxigênio (sonda Lambda)....................................................43 Figura 2.20 Sensor de Flex-Fuel de segunda geração............................................44 Figura 2.21 Cálculo de medição e gráfico de correção da constante dielétrica (ε r ) em funçao do tempo......................................................45 7 Figura 2.22 Esquema eletrônico de funcionamento do FFS....................................46 Figura 2.23 Perfil do sinal de saída do FFS.............................................................46 Figura 2.24 (a) Circuito elétrico básico para medição de impedância da mistura de combustível. (b) Modelo simples paralelo RC do transdutor..................................................................................47 Figura 2.25 Fórmula estrutural e modelo espacial do etanol (C2H5OH)...................49 Figura 2.26 Influência da curva de evaporação de um combustível no comportamento do motor.......................................................................51 Figura 2.27 Percentual de evaporação em função da temperatura de diferentes misturas de etanol................................................................52 Figura 3.1 Diagrama pressão - entalpia comparativo entre injeção convencional e injeção com efeito ponto de fulgor...............................57 Figura 3.2 Comparativo do spray durante a injeção com e sem aquecimento..........................................................................................57 Figura 3.3 Curva de evaporação do etanol com ponto crítico................................58 Figura 3.4 Diagrama pressão x entalpia do etanol.................................................59 Figura 3.5 Relaxamento adiabático do etanol no diagrama P,h............................59 Figura 4.1 Principais dados dimensionais do corpo do injetor...............................61 Figura 4.2 Superfície interna (parede) do corpo do injetor.....................................62 Figura 4.3 Espessura do filme fluido combustível..................................................62 Figura 4.4 Esquema térmico para o sistema parede / etanol com capacidades térmicas concentradas.....................................................70 Figura 4.5 Histórico da elevação da temperatura do etanol e da parede do injetor em função do tempo para uma potencia de 100 W e h = 300W / m 2 K ..................................................................78 Figura 4.6 Planilha com histórico de elevação da temperatura em função do tempo...................................................................................79 Figura 4.7 Gráfico comparativo de potência de aquecimento aplicada Ao injetor...............................................................................................80 Figura 4.8 Taxa média de elevação da temperatura em função da potência...........................................................................................81 Figura 4.9 Gráfico comparativo de resultados com a variação do coeficiente médio de transferência de calor.........................................82 8 Figura 4.10 Taxa média de elevação da temperatura em função do h . ..................83 Figura 4.11 Descolamento de ∆T = T2 −T 1 em função de h . ....................................84 Figura 4.12 Injetores CVSmaxV montados no motor EA111...................................85 Figura 4.13 Injetores CVSmaxV instrumentados com termopares..........................86 Figura 4.14 Posicionamento dos termopares no elemento aquecedor do injetor...............................................................................................86 Figura 4.15 Perfil de temperatura do elemento aquecedor......................................87 Figura 4.16 Unidade controladora de aquecimento dos injetores............................87 Figura 4.17 Aquisição de dados para verificação do controle de acionamento do aquecimento...............................................................88 Figura 4.18 Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 5 a 80 °C............89 Figura 4.19 Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 0 a 80 °C............90 Figura 4.20 Diagrama proposto de sistema com os injetores e suas interações.............................................................................................91 Figura 5.1 Simulação de elevação da temperatura para h = 400W / m 2 K . .............92 Figura 5.2 Aquisição de elevação da temperatura do etanol no Injetor de 0 a 80°C................................................................................93 Figura 5.3 Simulação de elevação da temperatura para h = 170W / m 2 K . ..............94 9 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C...........................50 Tabela 4.1 Propriedades de transporte do etanol a 20°C.......................................64 Tabela 4.3 Valores típicos para o coeficiente de transferência de calor por convecção......................................................................................82 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A/D Analógico/Digital AEAC Álcool Etílico Anidro Combustível AEHC Álcool Etílico Hidratado Combustível Ah Ampère-hora ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social CA Corrente Alternada CAN Controlled Area Network CC Corrente Contínua CHO Aldeídos CO2 Dióxido de Carbono CVSmaxV Continental Variable Spray Max Volume ECU Electronic Control Module EES Engineering Equation Solver Ex Percentual de Etanol contido na mistura FFS Flex-Fuel Sensor FFV Flex-Fuel Vehicle Flex Flex-Fuel HC Hidrocarbonetos IAA Instituto do Açúcar e do Álcool 11 INCA Integrated Calibration and Application Tools INPM Instituto Nacional de Pesos e Medidas OBD On Board Diagnosis OH Hidroxila ON-OFF Liga/desliga PC Personal Computer PCM Power Control Module RON Research Octane Number RVP Reid Vapor Pressure SMD Sauter Mean Diameter UNICA União da Indústria de Cana-de-Açúcar V Volt W Watt 12 LISTA DE SÍMBOLOS [m2] Ai Área da superfície Bi Número de Biot cp Calor específico a pressão constante dT Variação da temperatura [K] durante o intervalo de tempo dt [s] Fo Número de Fourier [-] hi Entalpia do componente h Coeficiente de transferência de calor médio Ki Valor constante K ks Condutividade térmica L Comprimento característico Nu L Número de Nusselt [-] η Rendimento [-] Pi Pressão do componente Pelétrica Potencia elétrica ρi Densidade do componente q ind Aquecimento por indução [W] q mod Relação entre q ind e ρ i ciVi [s/K] Ra Número de Rayleigh [-] Rexterna Resistência externa [-] Rint erna Resistência interna [-] t Tempo [s] [-] [J/kg.K] [kJ/kg] [W/m2.K] [s/K] [W/m.K] [m] [bar ou kPa] [W] [kg/m3] 13 Ti Temperatura do componente [K] Vi Volume do componente [m3] x Fração de vapor (título) [-] SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................6 LISTA DE TABELAS ..........................................................................................................9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..........................................................................9 LISTA DE SÍMBOLOS .....................................................................................................11 SUMÁRIO...........................................................................................................................14 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16 1.1 Motivação ........................................................................................................................16 1.2 Objetivos ..........................................................................................................................17 1.3 Desenvolvimento do trabalho .......................................................................................18 2 REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................................19 2.1 Estado da Arte ................................................................................................................19 2.1.1 Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio..............................20 2.2 Injetores de combustível ...............................................................................................24 2.2.1 Definição ......................................................................................................................24 2.2.2 Componentes de um injetor de combustível padrão ............................................25 2.2.3 Princípio de funcionamento de um injetor ..............................................................26 2.2.4 Modos de operação e características......................................................................27 2.2.5 Injetor aquecido CVSmaxV...........................................................................................30 2.2.6 Características do injetor aquecido CVSmaxV .........................................................31 2.3 Princípio do aquecimento por indução .......................................................................34 2.3.1 Introdução ....................................................................................................................34 2.3.2 Funcionamento do aquecimento por indução ........................................................35 2.4 O Etanol como combustível..........................................................................................37 2.4.1 Introdução: histórico do etanol e sua utilização no Brasil ....................................37 2.4.2 O surgimento e funcionamento dos veículos bicombustíveis (flex-fuel) ............41 2.4.2.1 Introdução - veículos bicombustíveis ..................................................................41 2.4.2.2 Veículos bicombustível: princípio de funcionamento e métodos de reconhecimento do teor de etanol......................................................................................43 2.4.3 Especificação do etanol .............................................................................................49 15 3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSITÓRIO E TERMODINÂMICA DO PROCESSO DE INJEÇÃO .................................................................................................52 3.1 Sistemas com resistência interna desprezível ..........................................................53 3.2 Efeito do ponto de fulgor ...............................................................................................56 3.2.1 Cálculo da fração da massa de vapor .....................................................................59 4 MODELAMENTO ..............................................................................................................61 4.1 Dados dimensionais do corpo do injetor ....................................................................61 4.1.1 Área da superfície de aquecimento e volume ........................................................61 4.1.2 Espessura do filme fluido de combustível ..............................................................62 4.2 Aplicação da Teoria da Condução de Calor em Regime Transitório de Sistema Concentrado – Pré-aquecimento .......................................................................................63 4.2.1 Hipóteses simplificadoras ..........................................................................................63 4.2.2 Estimativa do coeficiente médio de transferência de calor por convecção.......63 4.2.3 Cálculo do número de Biot ........................................................................................66 4.3.3 Equacionamento da aplicação da teoria de sistema concentrado .................68 4.3.4 Análise de sensibilidade do modelamento .............................................................78 4.4 Ensaios no motor ...........................................................................................................85 4.4.1 Metodologia .................................................................................................................85 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................................................92 6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ................................................................95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................97 16 1 INTRODUÇÃO 1.1 Motivação Com a introdução no mercado brasileiro dos veículos equipados com motores a álcool ou etanol, nos meados da década de 80, um problema surgiu: a partida a frio em baixas temperaturas. Os veículos movidos a etanol, devido às propriedades físico-químicas deste combustível, quando expostos a baixas temperaturas tendem a apresentar dificuldades na partida a frio e necessitam de uma fonte externa de energia para auxiliar nesta condição. Esta fonte externa normalmente é proveniente de um tanque auxiliar que contém gasolina a qual é injetada no motor durante o procedimento de partida a frio do motor. Este método, porém, apresenta certos inconvenientes para o condutor do veículo tais como: a constante necessidade de verificação do nível e abastecimento do reservatório auxiliar de gasolina, o envelhecimento deste volume de gasolina quando o sistema passa longos períodos sem ser utilizado ocasionando entupimentos no sistema com conseqüente falha no seu funcionamento, o risco de explosão em caso de acidentes, além da potencial dificuldade no atendimento às legislações de emissões mais exigentes que deverão entrar em vigor nos próximos anos, caso o sistema necessite ser acionado. Diante deste problema, aliado à necessidade de aperfeiçoamento deste sistema, tornou-se necessário desenvolver um sistema que fosse capaz de auxiliar na partida a frio do veículo abastecido somente com etanol a temperatura mínima de 5°C negativos, sem injeção de gasolina adicional. O etanol, por sua vez, possui baixa pressão de vapor e um alto ponto de fulgor quando comparado à gasolina, o que dificulta sua vaporização em determinadas condições de temperatura e pressão atmosféricas. Sendo assim, este combustível necessita de uma fonte de energia externa, a fim de torná-lo apto a se inflamar e iniciar a combustão no interior da câmara de combustão. Neste caso, a solução proposta foi a de aquecer o combustível etanol antes de sua injeção, no interior do injetor utilizando o princípio de indução. 17 1.2 Objetivos O trabalho tem como objetivo modelar o sistema de injetores aquecidos por indução baseados na teoria de transmissão de calor em regime transitório de sistema concentrado a fim de se criar um modelo matemático que leva em consideração os parâmetros mais relevantes para o processo de aquecimento do etanol no interior do injetor. A fim de se comprovar a confiabilidade deste modelamento, serão realizados ensaios em amostras de injetores aquecidos montados em um motor real em câmara fria onde as variáveis mais relevantes do processo tais como tempo necessário de pré-aquecimento, potência necessária, e coeficiente médio de transferência de calor poderão ser comparados aos resultados obtidos pelo modelamento. Ao final do trabalho, poder-se-á verificar o grau de confiabilidade do modelamento face aos ensaios e, sendo este representativo, poderá ser utilizado como uma útil ferramenta para direcionar o desenvolvimento desta tecnologia com potencial de redução de tempo e custo na construção de amostras, além de auxiliar no desenvolvimento da arquitetura elétrica veicular uma vez que este leva em consideração a potência necessária e sua correspondente demanda de energia do sistema elétrico do veículo em que o sistema poderá ser empregado. O modelamento poderá ainda ser implementado no algoritmo de software do sistema de gerenciamento do motor a fim de se estimar a temperatura do etanol em seu interior uma vez que o aquecimento necessite ser ativado. 18 1.3 Desenvolvimento do trabalho No capítulo 2 será realizada uma revisão da literatura e estado da arte do sistema atual de partida a frio com seus componentes e funcionamento. Serão abordados tópicos relativos à definição dos componentes e características, princípio de funcionamento do aquecimento por indução – conceitos, o combustível etanol, histórico e suas propriedades, funcionamento dos veículos de tecnologia bicombustível, bem como explanação dos diferentes métodos de reconhecimento do teor de etanol contido na mistura. No capítulo 3 será apresentada a teoria de transição de calor em regime transitório de sistema concentrado na qual o modelamento dos injetores será baseada. No capítulo 4 serão apresentados alguns importantes tópicos que servirão como justificativa para o controle dos parâmetros envolvidos no processo bem como o desenvolvimento matemático do modelamento e por fim uma análise de sensibilidade do modelamento dos parâmetros mais importantes com comentários. No capítulo 5 serão apresentados os resultados dos ensaios dos injetores e comparativo entre os resultados obtidos através das medições e dos resultados simulados a partir do modelamento e discussões pertinentes. Finalmente no capítulo 6 serão feitas as conclusões, comentários e sugestões para trabalhos futuros. 19 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Estado da Arte Atualmente todos os veículos movidos a etanol e de tecnologia flex-fuel produzidos no Brasil são equipados com sistema auxiliar de partida a frio constituído pelos seguintes componentes: reservatório de gasolina, bomba auxiliar, válvula solenóide podendo ser de 2 ou 3 vias e tubulações por onde passa a gasolina que deverá ser injetada no seu destino final, normalmente posicionados no corpo de borboletas ou no coletor de admissão. Na figura 2.1 o ponto de injeção de gasolina está localizado no corpo de borboletas. Ponto de injeção Figura 2.1 – Motor e sistema auxiliar de partida a frio com respectivo ponto de injeção no corpo de borboletas. Este sistema auxiliar de partida a frio vem sendo largamente utilizado pelos fabricantes de veículos nacionais desde meados da década de 80, sem apresentar significativas melhorias do ponto de vista técnico nem tampouco de confiabilidade ao longo dos últimos anos, apesar do constante avanço tecnológico dos sistemas de alimentação de combustível. 20 Após a introdução dos veículos de tecnologia bicombustível, a partir de 2003 seu uso foi ainda mais intensificado e as falhas causadas pelo seu mau funcionamento tornaram-se uma grande fonte de preocupação dentre os fabricantes de veículos que abastecem a mercado nacional. Os maiores inconvenientes do sistema auxiliar de partida a frio são: • Envelhecimento do combustível (gasolina) no interior do reservatório • Entupimento do furo calibrado no ponto de injeção • Necessidade de constante verificação de seu nível por parte dos usuários (nem todos os modelos possuem indicador de nível) • Risco de incêndio em caso de colisão • Potencial risco de não atendimento às mais severas legislações de emissões que deverão entrar em vigor, caso o sistema necessite ser acionado 2.1.1 Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio Resevatório de gasolina Bomba adicional Válvula Solenóide Canister Figura 2.2 – Desenho esquemático de um sistema auxiliar de partida a frio e seus componentes. 21 Principais componentes do sistema auxiliar de partida a frio: • Reservatório auxiliar: O reservatório auxiliar tem a função de armazenar a gasolina e possui volume típico de aproximadamente 1 litro de combustível. Normalmente estão localizados no compartimento do motor, numa região protegida em caso de acidentes. Na maioria dos casos estes reservatórios não possuem medidor de nível de combustível. • Bomba adicional: A bomba geralmente é acoplada ao reservatório auxiliar e tem como função prover combustível que deverá ser injetado no corpo de borboletas ou coletor de admissão. Este componente é controlado pela PCM (Módulo de Gerenciamento Eletrônico do Motor) do veículo e sua ativação depende de uma série de condições conforme demonstrado na figura 2.4. • Válvula solenóide: A válvula solenóide pode ser de 2 ou 3 vias, dependendo da aplicação e do fabricante, elas têm a função de prover combustível ou interromper sua passagem dependendo da forma de acionamento. Na variante de 2 vias, uma via (entrada) é conectada a alimentação (combustível proveniente do reservatório) e a outra via (saída), é conectada a tubulação por onde o combustível será injetado. Já na variante de 3 vias, além das conexões de entrada e saída, há também uma terceira conexão (respiro) normalmente conectada à tubulação de canister (reservatório de carvão ativado) ou na tubulação de aspiração de ar. O controle de acionamento desta válvula é realizado pela PCM e sua utilização depende de uma série de condições conforme demonstrado na figura 2.4. Estas válvulas normalmente apresentam problemas de falta de estanqueidade que podem ocasionar falhas no funcionamento do sistema. 22 Figura 2.3 – Componentes do sistema auxiliar de partida a frio. 2.1.2 Funcionamento do sistema auxiliar de partida a frio Nos meados da década de 80 os veículos movidos a etanol ainda não dispunham de sistemas de gerenciamento eletrônico do motor, seu sistema de alimentação era realizado pelo carburador e o acionamento do sistema auxiliar de partida a frio era feito através de um botão no painel do veículo onde o condutor era responsável pela ativação do mesmo, o que dependendo das vezes era comum o condutor “afogar” o motor pelo excesso de combustível injetado durante o procedimento de partida. Por outro lado, freqüentemente a partida a frio do veículo era realizada sem sucesso devido ao fato do condutor simplesmente esquecer-se da ativação do mesmo. Após a introdução dos sistemas de gerenciamento eletrônico do motor, a ativação do sistema passou a ser de responsabilidade da (PCM) do veículo, e seu funcionamento está sujeito ao atendimento de uma série de condições como pode ser visto no fluxograma simplificado da figura 2.4. 23 TH2O motor <= 16°C e % etanol >= 85% Não Sim Ativar sistema partida a frio FIM Figura 2.4 – Fluxograma simplificado de ativação do sistema auxiliar de partida a frio. Como podemos verificar no fluxograma da fig. 2.4 o sistema não leva em consideração o nível do reservatório auxiliar, podendo este ser ativado mesmo quando esteja vazio, acarretando em falha de funcionamento durante o procedimento de partida nestas condições. Além disso, é muito comum o fato do sistema não ser acionado por longos períodos de tempo ocasionando entupimento das tubulações devido ao envelhecimento do combustível no seu interior. Para o perfeito funcionamento do sistema, este deve estar sendo constantemente inspecionado e abastecido, principalmente nas regiões mais frias do país onde o sistema necessita ser ativado com maior freqüência. 24 2.2 Injetores de combustível 2.2.1 Definição Um injetor de combustível é um dispositivo eletromecânico de alta velocidade que, baseado em um sinal de tensão recebido da PCM libera ou interrompe o fluxo de combustível que passa pela placa de orifícios e alimenta o motor. (Adaptado de Bosch, 2005). Essencialmente, os componentes da formação de mistura do motor de um veículo têm que garantir uma preparação da mistura ar-combustível apropriada para um sistema em particular, no caso da injeção no coletor de admissão ou no cabeçote, esta tarefa é realizada pelo injetor de combustível. Figura 2.5 – Injetor de combustível da família Deka VII. (Continental, 2009). 25 2.2.2 Componentes de um injetor de combustível padrão De acordo com Bosch (2005), os injetores de combustível consistem principalmente de: - uma carcaça do injetor com bobina magnética e conexão elétrica; - um assento de válvula com placas de furos e; - uma válvula de agulha móvel com induzido magnético. Uma peneira de filtro na entrada do componente protege o injetor de impurezas, dois anéis o-ring vedam o injetor contra a galeria de combustível e o coletor de admissão ou cabeçote, dependendo da sua aplicação. No caso de bobina sem corrente, as molas e a força resultante da pressão do combustível pressionam a agulha do injetor sobre o assento do mesmo e vedam o sistema de alimentação de combustível. Quando o injetor é alimentado, a bobina produz um campo magnético. O induzido é atraído pelo campo magnético, a agulha do injetor se levanta do assento e o combustível flui através do injetor. O volume de combustível injetado por unidade de tempo é determinado principalmente pela pressão do sistema e do diâmetro livre dos orifícios de injeção na placa. Quando a corrente de excitação é desativada, a agulha do injetor fecha-se novamente. 26 Figura 2.6 – Componentes de um Injetor. (Bosch, 2005). 2.2.3 Princípio de funcionamento de um injetor O módulo de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) controla o comprimento do pulso e o período dependendo da quantidade de combustível demandada pelo motor, e envia um sinal de tensão para a bobina do injetor. Esta corrente gerada passa através do injetor e gera um campo magnético que puxa a agulha para cima, liberando assim a passagem do combustível. Assim que o módulo de gerenciamento eletrônico do motor interrompe o envio desta tensão, o campo magnético perde força e a agulha, empurrada pela mola fecha a passagem do fluxo de combustível. 27 Período Sinal de tensão de operação do injetor controlado pela ECU do motor Comp. do pulso Abertura Estático Vazão do injetor Fechamento TA TF tempo Figura 2.7 – Tensão x vazão de um injetor em função do tempo. (Siemens VDO Automotive, 2006). O tempo de abertura do injetor é determinado em função da tensão aplicada e o tempo de fechamento depende das características construtivas da (PCM) levando em consideração a força da mola e da pressão do fluido sobre o injetor conforme mostrado no gráfico da figura 2.7. 2.2.4 Modos de operação e características Segundo o manual de motores de combustão interna (Siemens VDO Automotive, 2002) os injetores podem ser operados nos seguintes modos: • Fluxo estático: esta é a máxima vazão de combustível através do injetor quando este encontra-se acionado. Ela depende da pressão do combustível, do diâmetro dos furos na placa de orifícios na saída do injetor, do tempo da agulha e das propriedades do combustível no qual o injetor estará operando. 28 • Fluxo dinâmico: esta é a vazão de combustível através do injetor quando este está submetido a uma freqüência de largura de pulso on de 2,5 ms. • Fluxo estático ou linear: o fluxo linear é a relação da máxima e mínima vazão com um máximo de 5% de desvio da linha de linearidade do injetor. A linha de linearidade do injetor é a linha através da qual a característica da quantidade injetada de combustível é linear ao tempo de operação da bobina. • Tamanho da gota: o tamanho da gota caracteriza a atomização do injetor. O tamanho da gota de uma nuvem de gotas é normalmente indicado pelo diâmetro médio Sauter (SMD) que descreve a relação do volume médio em relação a uma superfície média medido num determinado volume delimitado. Adicional ao tamanho médio da gota, a distribuição do tamanho da gota no jato de injeção possui uma forte influência nas emissões num motor de combustão interna. • Vazamento ou estanqueidade do injetor: em razão das leis de emissões vigentes, e estas se tornando cada vez mais severas, o fator estanqueidade do injetor é de extrema importância nas emissões evaporativas. Uma vez que é difícil determinar a taxa de vazamento com combustível, esta é realizada com nitrogênio. O vazamento não deverá exceder 1,5 cm3/min. Ainda de acordo com o manual de tecnologia automotiva (Bosch, 2005) a preparação do jato dos injetores, isto é, o formato do jato, o ângulo, e o tamanho das gotículas, influenciam a formação da mistura ar-combustível. Geometrias específicas de coletor de admissão e do cabeçote requerem diferentes formas de preparação do jato. Para poder satisfazer esses requisitos, existem diversas variantes de formação de jato. A seguir algumas variações mais empregadas: 29 Jato cônico Através da abertura da placa de furos de injeção saem jatos individuais de combustível. A soma dos jatos de injeção formam um cone. Jatos cônicos também podem ser obtidos através de um pino na ponta da agulha do injetor. Áreas típicas de emprego de válvulas de jato cônico são motores com uma válvula de admissão por cilindro. O jato cônico é direcionado para a abertura entre o prato da válvula de admissão e a parede do coletor de admissão. Jato duplo A preparação do jato duplo é empregada para motores com duas válvulas de admissão. As aberturas da placa de furos são dispostas de modo que dois jatos de combustível saiam da válvula injetora. Cada um desses jatos alimenta uma válvula de admissão. Adição de ar Na válvula com admissão de ar há um aproveitamento da queda de pressão entre pressão do coletor de admissão e pressão ambiente para melhorar a formação da mistura. O ar é conduzido para a área de saída da placa de furos de injeção através de um adaptador de ar adicional. Em uma fenda estreita o ar atinge uma velocidade muito alta e o combustível é finamente pulverizado na mistura com o ar. Figura 2.8 – Geometria dos jatos de injetores. (Bosch, 2005). 30 2.2.5 Injetor aquecido CVSmaxV O injetor aquecido CVSmaxV é baseado na família de injetores Continental Deka VII, e possui seu princípio de funcionamento análogo ao mesmo, mas no entanto, possui aquecimento por princípio de indução (eletromagnetismo) no corpo do injetor que tem por finalidade aquecer o combustível que está em contato com as paredes internas do mesmo. O calor por sua vez, é transferido da parede interior do injetor para o combustível por meio de convecção quando o aquecimento por meio de indução é acionado. O objetivo deste processo é de elevar a temperatura do combustível a uma temperatura de 120°C para produção de vapor de combustível no momento da injeção nos dutos de admissão assegurando assim a partida a frio a temperaturas abaixo de +15°C, minimizando ainda a emissão de HC's (hidrocarbonetos) durante a fase fria de operação do motor e propiciando uma melhoria no comportamento de dirigibilidade do veículo quando operado nestas condições. Zimmermann et al. (1999), realizaram um estudo com injetores aquecidos onde constataram uma redução significativa nas emissões de hidrocarbonetos durante partida a frio, uma vez que o aquecimento do combustível gera um efeito denominado de ponto de fulgor, e este otimiza a queima do combustível contribuindo para significativa redução de emissões de HC's. Durante a realização destes ensaios os autores verificaram que durante os primeiros 20 segundos após a partida do motor houve uma redução de aproximadamente 21% na emissão destes gases. Figura 2.9 – Partida a frio com redução de emissões de HC's quando o injetor opera aquecido. (Zimmermann et al., 1999). 31 Antes de se iniciar o procedimento de partida, inicia-se o aquecimento do injetor e esta operação, denominada de pré-aquecimento leva algum tempo dependendo da temperatura ambiente que se parta e da temperatura objetivo que se deseja alcançar. O tempo de pré-aquecimento deve ser o menor possível, pois este pode causar certo incômodo para o condutor. 2.2.6 Características do injetor aquecido CVSmaxV Figura 2.10 – Injetor aquecido CVSmaxV e seus principais Componentes. (Siemens VDO Automotive AG, 2007). Conforme pode ser observado na figura 2.10, a passagem do combustível se dá entre o corpo do injetor e a agulha e seu aquecimento está condicionado ao contato entre o combustível e a parede do injetor que é aquecida pelo princípio de indução, maior detalhamento deste processo será dado na seção 2.3. A bobina, operada por corrente contínua, gera um campo magnético e puxa a agulha no sentido ascendente liberando a passagem do fluxo de combustível através da placa de orifícios e uma vez que a (PCM) interrompe o envio desta 32 tensão, o campo magnético perde força e a agulha, empurrada pela mola fecha a passagem do fluxo de combustível. O aquecimento é controlado por um gerador de sinal com controle eletrônico de temperatura responsável pela ativação do aquecimento no interior dos injetores e controle de sua temperatura. Uma vez ajustada uma determinada temperatura desejada, esta central de controle manterá os injetores na temperatura operando como um sistema de malha fechada, ou closed-loop. Uma característica do CVSmaxV se dá no fato de um único conector padrão existente contendo duas vias ser capaz de gerenciar tanto o pulso normal do injetor quanto seu aquecimento. Isto se faz possível, pois no sinal enviado pela (PCM), estão contidas as informações para o aquecimento e controle do acionamento do injetor, via um sinal multiplexado onde o acionamento do injetor é feito por um sinal de corrente contínua (CC) e o aquecimento é feito por um sinal de corrente alternada (AC) em alta freqüência, assim, seu acionamento pode ser completamente independente do acionamento do injetor. Figura 2.11 – Conector do injetor aquecido CVSmaxV. (Siemens VDO Automotive AG, 2007). controlado 33 Figura 2.12 – Diferença entre os sinais com aquecimento ligado e desligado (Siemens VDO Automotive AG, 2007). 34 2.3 Princípio do aquecimento por indução 2.3.1 Introdução Os princípios básicos de aquecimento por indução vêm sendo utilizados pela indústria com sucesso desde a década de vinte. Durante a segunda guerra mundial, a tecnologia foi rapidamente aprimorada com o objetivo de se reduzir os tempos nos processos de endurecimento de componentes de motores, de uma maneira rápida e confiável. A particularidade deste método, quando comparado a outros métodos de aquecimento é que o mesmo não possui contato físico com a peça que se pretende aquecer, pois a bobina induz uma corrente elétrica na superfície da peça metálica, fazendo com que a peça se aqueça devido a circulação de correntes. O processo também é considerado repetitivo e controlável. (texto adaptado de Induction Heating, 2008). Neste caso o aquecimento por indução será utilizado para aquecer a parede metálica do interior do injetor e, conseqüentemente por meio de convecção aquecer o combustível etanol em contato com as paredes do injetor. Campo magnético Corrente induzida na peça Corrente na bobina Figura 2.13 – Princípio de aquecimento por indução. (Induction Heating, 2008). 35 2.3.2 Funcionamento do aquecimento por indução Quando uma corrente elétrica alternada é aplicada ao primário de um transformador, um campo magnético é gerado. De acordo com a lei de Faraday, se o secundário do transformador estiver localizado no interior do campo magnético, uma corrente elétrica será induzida. Em um arranjo típico de aquecimento por indução, uma fonte de estado sólido de alta freqüência envia uma corrente alternada através da bobina, e a peça a ser aquecida é posicionada no interior da bobina. A bobina é o primário do transformador e a peça a ser aquecida torna-se o secundário do transformador, porém em curto-circuito. Quando uma peça metálica é posicionada no interior da bobina de indução e submetida a um campo magnético variável, as correntes parasitas ou também chamadas de correntes de Foucault são induzidas no interior da peça. Conforme mostrado na figura 2.13 estas correntes fluem contra a resistividade elétrica do metal, gerando aquecimento preciso e localizado sem nenhum contato direto entre a peça e a bobina. A eficiência de um sistema de aquecimento por indução para uma aplicação específica depende de diversos fatores como: as características da peça, do desenho da bobina de indução, da capacidade da fonte geradora de energia, e do grau de mudança de temperatura requerida para aplicação. Sistema de feed-back Fonte energia CA Geração calor Bobina Peça Fixação Figura 2.14 – Desenho esquemático de um arranjo típico de aquecimento por indução. (adaptado de Induction Heating, 2008). 36 Bastos (2004) menciona no Capítulo de Magnetodinâmica de seu livro que existem perdas que, em geral, convertem-se em aquecimento. O estudo de perdas em dispositivos elétricos, embora em alguns casos seja bastante simples, em geral é complexo e deve ser analisado com cautela. Na realidade, a simplicidade de avaliação depende muito do grau de precisão desejado. As maiores perdas de origem elétrica são divididas em dois grupos: perdas no cobre e perdas no ferro. A perda no cobre é assim chamada, pois em geral, as bobinas de excitação de dispositivos são feitas com fio de cobre. As perdas no ferro podem ser por correntes de Foucault1 (efeito Joule), por histerese e também por perdas anômalas ou excedentes. Importante é salientar que uma vez que certa potência de indução é introduzida no modelamento, esta deve ser considerada como potencia útil, ou seja, o modelamento leva em consideração seu rendimento η elétrico , pois toda potência disponível será transformada em calor, o que não é verdade, pois boa parte dessa potência é perdida por dissipação ou outros meios. Portanto quando o parâmetro potência for introduzido no modelamento, o seu rendimento deve ser considerado, e esta passa a chamar-se de potência de entrada. 1 (SOFISICA, 2009). Quando um fluxo magnético varia através de uma superfície sólida, e não apenas delimitada por um condutor, há criação de uma corrente induzida sobre ele como se toda superfície fosse composta por uma combinação de espiras muito finas justapostas. O nome dado a estas correntes é em homenagem ao físico e astrônomo francês Jean Bernard Léon Foucault, que foi quem primeiro mostrou a existência delas. 37 2.4 O Etanol como combustível 2.4.1 Introdução: histórico do etanol e sua utilização no Brasil O álcool hidratado ou etanol (C2H5OH) é utilizado como combustível desde o surgimento dos automóveis. No Brasil seu uso teve inicio no final da década de 70, sendo que o primeiro veículo de série movido a etanol foi o Fiat 147 lançado em 1978 equipado com motor de 1.300 cilindradas. O etanol é um recurso renovável e pode ser produzido a partir de biomassa (resíduos agrícolas e florestais). No Brasil ele é produzido a partir da cana-deaçúcar. Nos Estados Unidos, por exemplo, ele é produzido a partir do milho. Figura 2.15 – Fiat 147 – primeiro veículo de série movido a etanol do mercado brasileiro. (Wikipédia, 2009). Na década de 70, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado no Brasil com o objetivo de diminuir a dependência do país do petróleo externo, uma vez que seus preços subiam em ritmo acelerado e sua forte dependência causava um grande impacto na economia do país. O objetivo do governo foi de criar uma fonte de energia renovável, limpa e de baixo custo que poderia ser utilizada como alternativa na matriz energética de combustível brasileira. Fischetti e Silva (2008) destacam que o início do desenvolvimento do motor a etanol foram de responsabilidade do Cel. Sérgio Antonio dos Reis Vale, do físico e secretário do Ministério da Indústria e do Comércio José Walter Bautista Vidal e pelo 38 engenheiro professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Urbano Ernesto Stumpf, este último conhecido como o pai do motor a etanol. A decisão de produzir etanol a partir da cana-de-açúcar, por via fermentativa, foi por causa da baixa nos preços do açúcar na época. Foram testadas outras alternativas de fonte de matériaprima, como por exemplo a mandioca. Desde então, o álcool etílico hidratado combustível (AEHC) proveniente da cana-de-açúcar vem sendo largamente utilizado como combustível pela frota nacional. No final da década de 80, quase 95% da frota brasileira era movida a etanol quando neste período começou a faltar combustível nos postos de abastecimento. Isto aconteceu devido ao fato dos produtores de cana-de-açúcar dar preferência ao comércio de açúcar para o mercado europeu em razão da atratividade do preço. Naquela época, o preço do álcool tornou-se inviável economicamente e os consumidores passaram a optar por veículos a gasolina, uma vez que seu preço em função do maior rendimento (autonomia) justificava a escolha. No entanto, esta situação inverteu-se nos últimos anos devido à introdução dos veículos de tecnologia bicombustível no mercado brasileiro. A utilização de etanol no mercado brasileiro tem sido alvo de discussões. A título de exemplo transcrevo as seguintes opiniões: “O etanol representa um futuro energético mais seguro para o mundo e o Brasil aplica a tecnologia com sucesso, contribuindo para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. A qualidade do produto brasileiro vem sendo atestada por estudos independentes de várias entidades do mundo e figura como a melhor opção comercial aos combustíveis não-renováveis”. (Automotive Business, 2009). Jenk, (2009) destaca que o programa do etanol é o mais bem-sucedido modelo de substituição de combustíveis fósseis do mundo, que pode ser replicado e beneficiar mais de uma centena de países em desenvolvimento, localizados em regiões tropicais e que cultivam como o Brasil, a cana-de-açúcar. Presentemente o Proálcool não existe mais, tendo-se encerrado oficialmente no início dos anos 90 quando o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) foi extinto e, no lugar, foram criados a Secretaria de Desenvolvimento Regional da Presidência da República e o Departamento de Assuntos Sucroalcooleiros. O BNDES (Banco 39 Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) assumiu o papel de financiador de usinas. Pouco antes, em 1998, durante o plano econômico chamado Plano Verão, o governo havia acabado com paridade de preço de 64% entre o etanol e a gasolina, primeiro passo da desregulamentação do etanol no Brasil. Desde então a produção de etanol no Brasil vem crescendo ano após ano e sua utilização também. Após a introdução dos veículos equipados com tecnologia bicombustível, o consumidor não se viu mais obrigado à utilização de apenas um combustível, vivenciando uma era mais democrática, pois ele decide no momento do abastecimento dependendo da região, qual combustível é mais vantajoso do ponto de visto econômico. A gasolina utilizada no Brasil também possui etanol na sua composição, desde a década de 30 a gasolina brasileira já é misturada com etanol. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), especifica que o etanol no Brasil é usado também como aditivo à gasolina (AEAC) álcool etílico anidro combustível na porcentagem de 20% a 25%. O álcool anidro (sem água), de especificação mínima 99,3° INPM (fixado pela portaria ANP n.° 36/05) é utilizado para mistura com a gasolina A, especificada pela Portaria ANP n.° 309/01, para a produção de gasolina tipo C. O teor de etanol é fixado por decreto presidencial ou por determinação da ANP. O álcool etílico hidratado combustível (AEHC) quando isento de hidrocarbonetos, apresenta teor alcoólico na faixa de 92,6° a 93,8° INPM (fixado pela Portaria ANP n.° 36/05). Bilhões de litros 30 25 20 15 10 5 06 /0 7 08 /0 9* 04 /0 5 02 /0 3 00 /0 1 98 /9 9 96 /9 7 94 /9 5 92 /9 3 90 /9 1 0 Figura 2.16 – Produção brasileira de etanol (anidro + hidratado). (UNICA, 2009). * Posição 05/09. 40 Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em 2008 o setor de cana-de-açúcar registrou faturamento de R$ 45 bilhões com a produção de 560 milhões de toneladas de cana em 450 usinas em todo o País. A utilização de etanol como combustível possui uma serie de vantagens quando comparado com outros combustíveis de origem fóssil, pois não só pelo fato de ser um recurso renovável, mas também mais favorável ao meio ambiente, uma vez que o ciclo completo do etanol, desde a colheita até o uso final, se comparado com a gasolina, representa uma significativa redução de até 90% na emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, um dos principais causadores do efeito estufa. Segundo dados divulgados no Ethanol Summit (2009), desde os anos 70, o Brasil deixou de emitir 600 milhões de toneladas de gás carbônico em função do uso do etanol. 41 2.4.2 O surgimento e funcionamento dos veículos bicombustíveis (flex-fuel) 2.4.2.1 Introdução - veículos bicombustíveis Em meados da década de 90 iniciaram-se os primeiros estudos de viabilidade dos veículos bicombustíveis, ou comumente denominados de flex-fuel. Mas foi somente no ano de 2003 que o primeiro modelo em série de veículo bicombustível foi lançado no mercado nacional tornando-se rapidamente um sucesso em vendas. Figura 2.17 – Veículos flex-fuel de alguns fabricantes nacionais. (Webmotors, 2009). Os veículos bicombustíveis disponíveis no mercado brasileiro são equipados com um motor que pode funcionar com gasolina, etanol ou mistura de ambos em qualquer proporção sendo a (PCM) dotada de um algoritmo de software especial capaz de realizar os ajustes necessários nos parâmetros mais relevantes do sistema a fim de proporcionar um funcionamento adequado para cada situação. 42 No Brasil, as faixas de utilização em função dos combustíveis disponíveis no mercado variam de gasolina com teor mínimo de etanol de 22% (E22) até etanol 100% (E100). Já nos EUA e Europa esta faixa de utilização vai de gasolina pura (E0 => 0% etanol) até (E85 => 85% de etanol) em volume na mistura. Desde seu lançamento em 2003, o consumidor brasileiro adotou o veiculo flex como alternativa democrática para utilização de combustíveis e sua demanda cresce em ritmo acelerado. Jank, (Jornal do Comércio - RS, 2009) estima que os carros modelo bicombustíveis no Brasil deverão representar 50% da frota nacional em 2012. “E essa fatia deve subir para 65% em 2015”, acrescenta ele. A participação atual gira em torno de 28%, com cerca de 7 milhões de unidades de veículos flex. Dados da Anfavea mostram que 1.230.994 unidades de veículos bicombustíveis foram comercializados no 1º. semestre de 2009 - o que representa 92% de todos os automóveis e comerciais leves emplacados com motor do ciclo Otto. Ou ainda, representam 88,3% de todos os veículos emplacados no país. A média foi de 87,2% ao longo de 2008. Neste contexto, o Brasil passa a desempenhar um papel importante no desenvolvimento e utilização em massa da tecnologia bicombustível e deve ser capaz de exportar esta tecnologia para outros países do mundo, uma vez que esta desponta como uma das várias alternativas de se reduzir a utilização dos combustíveis fosseis contribuindo para a melhoria do meio ambiente. Figura 2.18 – Licenciamento de automóveis e comerciais leves no Brasil (Ciclo Otto). (Anfavea, 2009). 43 2.4.2.2 Veículos bicombustível: princípio de funcionamento e métodos de reconhecimento do teor de etanol Os veículos de tecnologia bicombustível são capazes de operar com etanol, gasolina ou qualquer mistura destes combustíveis, sendo o sistema de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) o componente responsável pelo ajuste dos parâmetros de ignição e injeção do motor em função do teor de etanol (Ex) contido na mistura. Para que o funcionamento do motor aconteça de modo satisfatório, após um reabastecimento o sistema de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) do veículo deve ser capaz de reconhecer o novo combustível que foi abastecido e, ajustar os parâmetros mais relevantes, como ignição e mistura dentre outros, a fim de propiciar um funcionamento adequado ao motor. O reconhecimento do teor de etanol na mistura pode ser realizado basicamente de duas formas: • via sensor de oxigênio (sonda Lambda) => método utilizado atualmente no Brasil • via sensor de etanol (Flex-Fuel Sensor) => método utilizado na América do Norte / Europa Figura 2.19 – Sensor de oxigênio (sonda Lambda). (Bosch, 2009). A tecnologia bicombustível baseada no reconhecimento do teor de etanol por meio de sensor de oxigênio foi totalmente desenvolvida no Brasil, seu princípio de reconhecimento do teor de etanol é realizado por meio de uma sonda Lambda 44 instalada no sistema de escapamento do veiculo que é responsável por medir a quantidade de oxigênio no gás de escape do motor, e enviar estas informações para o sistema de gerenciamento eletrônico do motor (PCM) que ajustará o mapeamento de ignição e injeção de combustível de acordo com o percentual de etanol da mistura. Este método de reconhecimento é denominado de Software Flex-Fuel®, ou sensor virtual. Este método, porém, apresenta como grande vantagem seu reduzido custo, mas, no entanto, apresenta também algumas desvantagens como menor precisão em relação ao sensor físico de etanol na determinação do teor de etanol, informação esta de extrema relevância para a determinação da relação estequiométrica arcombustível e ajuste correto dos parâmetros do sistema. Uma vez que este método é reativo, ou seja, primeiro realiza-se a queima do combustível e posteriormente a medição da quantidade de oxigênio que passa pela sonda Lambda, este pode causar certo atraso na determinação da relação estequiométrica uma vez que o funcionamento da sonda está sujeita a uma serie de condições que devem ser atendidas como: temperatura mínima de ativação do controle de Lambda (closedloop), janela de temperatura de evaporação dos gases provenientes do cárter de óleo e válvula de purga do reservatório de carvão ativado (canister), situações nas quais o sistema não está autorizado a realizar o aprendizado da relação estequiométrica ar-combustível. Figura 2.20 – Sensor de Flex-Fuel de segunda geração. (Continental, 2008). 45 O outro método citado de reconhecimento do percentual de etanol se dá por meio de um sensor físico de etanol localizado na tubulação de alimentação de combustível para o motor. Este sensor realiza continuamente a leitura do percentual de etanol e informa a (PCM). Utilizando o princípio da permissividade relativa que da gasolina corresponde a ( εr ≈ 2 ) que é diferente do etanol ( εr ≈ 25 ) em função da quantidade de oxigênio. A gasolina e o etanol também possuem condutividades distintas. Para garantir uma alta precisão nos resultados são necessárias correções na temperatura e na condutividade. O combustível flui pela linha de alimentação e passa pelo sensor que por sua vez está equipado com uma célula de medição onde o combustível preenche os espaços entre os eletrodos. A permissividade relativa do combustível, bem como sua capacitância entre os dois eletrodos depende da relação etanol / gasolina. Figura 2.21 – Célula de medição e gráfico de correção da constante dielétrica ( εr ) em função da temperatura. (Continental , 2008). Conforme mostrado no gráfico da figura 2.21, a constante dielétrica ( εr ) indica o percentual de etanol contido no combustível. A eletrônica contida na célula de medição mede a impedância (Z) através das células dos eletrodos. Para obtenção da constante dielétrica εr , Z deve ser compensado pela: • condutividade do combustível • temperatura do combustível 46 Figura 2.22 – Esquema eletrônico de funcionamento do FFS. (Continental , 2008). O sensor disponibiliza um sinal pulsado de saída que varia na faixa de freqüência de 50 – 150 Hz que corresponde ao percentual de etanol (0 – 100%) respectivamente, numa faixa de temperatura ambiente que pode variar de – 40 a 125°C. Onde: A corresponde ao tempo on do ciclo (temperatura); B corresponde ao período do ciclo (teor de etanol); C é o tempo off do ciclo. A leitura e atualização do teor de etanol é realizada a cada 225 milisegundos. Figura 2.23 – Perfil do sinal de saída do FFS. (Continental , 2008). 47 O sensor possui uma resolução de 0,1% etanol (0,1 Hz) e uma acuracidade de +/- 5% de erro absoluto para uma faixa de temperatura de combustível de -40 a 95°C. O software apresenta ainda uma diagnose caso a freqüência máxima alcance um valor muito alto (170 - 190 Hz) indicando erro por se tratar possivelmente de combustível adulterado. Rocha e Simões-Moreira (2004) realizaram um trabalho que define um método para determinação do etanol em misturas de gasolina. O princípio de reconhecimento do percentual de etanol na mistura se dá através da impedância elétrica em função da temperatura. Segundo os autores, esta técnica apresenta como vantagens o rápido tempo de resposta, a repetibilidade dos resultados, ser um ensaio não-destrutivo e altamente adaptável a uma grande variedade de diferentes aplicações. Figura 2.24 – (a) Circuito elétrico básico para medição da impedância da mistura de combustível. (b) Modelo simples paralelo RC do transdutor (Rocha e Simões-Moreira, 2004). O método de reconhecimento do teor de etanol por meio de sensor de etanol é largamente empregado no mercado norte-americano, onde as leis de emissões vigentes (OBD II) On Board Diagnose exigem para veículos de tecnologia flex-fuel (FFV) uma plausibilidade entre o sensor de oxigênio e o sensor de etanol. Além disso, a utilização deste componente aumenta significativamente a robustez do sistema como um todo, pois propicia maior precisão no reconhecimento do teor de etanol que pode ser de extrema importância em algumas situações como troca de combustível e partida a frio. 48 No Brasil, porém, a utilização deste sensor ainda esbarra em seu custo, visto que os veículos bicombustíveis projetados e produzidos aqui não permitem o delta adicional de custo que o sensor agregaria, mas por outro lado, as legislações de emissões futuras se tornando cada vez mais restritas e com a introdução do (OBD), esta seja uma questão de tempo para que o sensor seja introduzido nas gerações futuras de veículos bicombustíveis. 49 2.4.3 Especificação do etanol Álcoois são compostos de hidrocarbonetos-oxigênio cuja característica particular é um grupo de OH (hidroxila) na molécula, ao invés de um átomo de hidrogênio. Eles são a princípio adequados aos motores de combustão por centelha ou ignição. Porém, são encontradas significativas diferenças em algumas de suas características em relação a gasolina por exemplo, como: o poder anti-detonante, o poder calorífico, e a pressão de vapor. Figura 2.25 – Fórmula estrutural e modelo espacial do etanol C2H5OH (Wikipedia, 2008). Uma vantagem particular é o alto poder anti-detonação do etanol, que pode ser traduzida em maior rendimento do motor uma vez que este possua uma taxa de compressão adequada. O etanol queima mais rápido que do que a gasolina, significando que o mapeamento de ignição deve ser otimizado para sua utilização. Já o seu reduzido poder calorífico pode ser traduzido em maior consumo de combustível se comparado à gasolina. O seu maior calor de vaporização ocasiona em resfriamento da câmara de combustão, melhorando o rendimento volumétrico, e conseqüentemente propiciando maior desempenho. O maior problema do etanol se comparado com a gasolina se dá no fato de sua pressão de vapor ser muito inferior ao da gasolina, conforme apresentado na tabela 2.1, o que ocasiona dificuldade de vaporização em baixas temperaturas e conseqüente problemas de partida a frio a temperaturas abaixo de +15°C. 50 Tabela 2.1 – Propriedades físicas do etanol e da gasolina a 20°C (van Basshuysen e Schäfer, 2003). Dentre as propriedades do etanol citadas na tabela 2.1 o ponto de fulgor, o ponto de ebulição e a pressão de vapor serão as mais relevantes para este estudo. O ponto de ebulição ou temperatura de ebulição é a temperatura em que uma substância passa do estado líquido ao estado gasoso. O ponto de fulgor ou ponto de inflamação é a temperatura na qual um combustível liberta vapor ou gás em quantidade suficiente para formar uma mistura inflamável por uma fonte externa de calor. O ponto de fulgor não é suficiente para que a combustão seja mantida. A pressão de vapor é a pressão que aumenta no interior de um recipiente selado em função da temperatura da evaporação proveniente de um determinado combustível. Esta influencia (em conjunto com outros critérios de volatilidade) partidas a frio e a quente, dirigibilidade a frio e perda por evaporação. Para determinação da pressão de vapor, o método Reid é utilizado (RVP = Reid Vapor Pressure). A temperatura de teste é de 38°C com uma relação vapor / líquido de 4:1. 51 Em geral, quando a pressão de vapor é muito baixa, ou seja, um combustível que se evapora muito lentamente, resulta em partidas e dirigibilidade a frio insatisfatórias em contrapartida um combustível que apresente pressão de vapor muito alta também pode apresentar problemas de partida e dirigibilidade a quente. (van Basshuysen e Schäfer, 2003). Figura 2.26 – Influência da curva de evaporação de um combustível no comportamento do motor. (van Basshuysen e Schäfer, 2003). Visto que a tecnologia flex-fuel (FFV) vem sendo cada vez mais empregada em outros países como os Estados Unidos, e em alguns países da Europa ocidental tais como: Alemanha, França e Suécia. A diferença entre o flex utilizado nestes países e o modelo brasileiro é em relação ao teor de etanol misturado à gasolina, que varia de 0 a 85%. Na Suécia e norte dos EUA, por exemplo, a mistura denominada de verão tem uma proporção de 85% de etanol e 15% de gasolina, já a mistura de inverno possui uma proporção de 70% de etanol e 30% de gasolina. 52 Este percentual mínimo de gasolina na mistura se dá justamente ao fato de auxiliar na partida a frio dos veículos uma vez que estes não estão equipados com nenhum tipo de sistema de partida a frio auxiliar. No Brasil esta faixa varia de E22 até E100, como já citado na seção 2.4.2.1, e não há diferenciação entre combustível de verão e de inverno. 200 180 E0 E 10 E 20 E 70 E 85 E 100 E 30 Temperatura [°C] 160 140 Problemas partida a frio devido à baixa evaporação 120 100 80 60 40 20 0 20 40 60 80 100 Evaporado [%] Gráfico 2.27 – Percentual de evaporação em função da temperatura de diferentes misturas de etanol (Hauet et al., 2007). Conforme mostrado no gráfico da figura 2.27 o percentual de evaporação das diferentes misturas com maior teor de etanol é decrescente em função da diminuição da temperatura e, devido a este fato, alguns países especificam um teor de gasolina mínimo e por vezes, até de um combustível com maior teor de gasolina apropriado para os períodos de inverno, a fim de garantir a partida a frio dos veículos bicombustíveis movidos com diferentes proporções de misturas etanol / gasolina. 53 3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSITÓRIO E TERMODINÂMICA DO PROCESSO DE INJEÇÃO 3.1 Sistemas com resistência interna desprezível O material seguinte é uma adaptação de Kreith (2003). Apesar de não haver na natureza material que apresente uma condutividade térmica infinita, muitos problemas de fluxo de calor transitório podem rapidamente solucionados com precisão aceitável pela suposição de que a resistência condutiva interna do sistema é tão pequena que a temperatura em seu interior é substancialmente uniforme em qualquer instante. A simplificação é justificada quando a resistência térmica externa entre a superfície do sistema e o meio ao seu redor é tão grande, quando comparada à resistência térmica interna do sistema, que ela controla o processo de transferência de calor. Uma medida da importância relativa da resistência térmica interna do sistema que ela controla o processo de transferência de calor. Uma medida da importância relativa de resistência térmica dentro de um corpo sólido é o número de Biot, Bi, a razão entre a resistência interna e a externa, que é definida pela equação: Bi = Rint erna h L = , Rexterna ks (3.1) onde h é o coeficiente de transferência de calor médio, L é a dimensão de comprimento característico, obtida pela divisão do volume do corpo por sua área superficial e k s é a condutividade térmica do corpo sólido. Em corpos cuja forma se assemelha a uma placa, um cilindro ou uma esfera, o erro introduzido pela suposição de que a temperatura em qualquer instante é uniforme será menor que 5% quando a resistência interna for menor que 10% da resistência da superfície externa, isto é, h L / k s < 0,1. Como exemplo típico desse tipo de fluxo de calor transitório, considere o resfriamento de uma pequena peça fundida ou tarugo de metal em um banho de 54 resfriamento após sua retirada de um forno quente. Suponha que o tarugo é removido do forno a uma temperatura uniforme T0 e é resfriado tão rapidamente que se pode considerar a mudança da temperatura do ambiente como um degrau. Identifique o tempo no qual o resfriamento começa como t=0 e suponha que o coeficiente de transferência de calor h permaneça constante durante o processo, e que a temperatura do banho T∞ a uma distância grande do tarugo não varie com o tempo. A seguir, de acordo com a hipótese de que a temperatura dentro do corpo é substancialmente uniforme em qualquer instante, um balanço de energia para o tarugo em um pequeno intervalo de tempo dt é igual a: variação na energia interna do = tarugo durante dt fluxo líquido de calor do tarugo para banho durante dt ou − cρVdT = h As (T − T∞ )dt (3.2) onde: c = calor específico do tarugo, [J/kg.K] ρ = densidade do tarugo, [kg/m3] V = volume do tarugo, [m3] T = temperatura média do tarugo, [K] h = coeficiente de transferência de calor médio, [W/m2.K] As = área da superfície do tarugo, [m2] dT = variação da temperatura (K) durante o intervalo de tempo dt [s] O sinal de menos na equação (3.2) indica que a energia interna decresce quando T > T∞ . As variáveis T e t podem ser separadas de imediato e, para um intervalo diferencial de tempo dt , a equação (3.2) torna-se: 55 d (T − T∞ ) h As dt = = dt T − T∞ (T − T∞ ) cρV (3.3) onde pode-se observar que d (T − T∞ ) = dT , uma vez que T∞ é constante. Tendo-se uma temperatura T no tempo t como limites, a integração da equação (3.3) fornece: ln T − T∞ hA =− s t T0 − T∞ cρV T − T∞ = e −( hAs / cρV )t T0 − T∞ ou (3.4) onde o expoente h As t / cρV deve ser adimensional. A combinação de variáveis nesse expoente é o produto de dois grupos adimensionais encontrados anteriormente: h As t h L αt = = BiFo cρV k s L2 (3.5) Onde o comprimento característico L é o volume do corpo V dividido por sua área de superfície As , e Fo – número de Fourier que pode ser visto como um tempo adimensional definido por Fo = dt . L2 56 3.2 Efeito do ponto de fulgor O sistema proposto para solução desta problemática é um injetor aquecido montado diretamente no rail ou galeria de combustível, que tem como função aquecer o combustível, no caso o etanol, antes do procedimento de partida do motor e mantê-lo aquecido por alguns instantes durante a fase fria de funcionamento do motor. A instalação do injetor aquecido não implica em nenhuma alteração significativa no lay-out original do motor do veículo. Com a introdução dos injetores aquecidos, pretende-se gerar a maior quantidade possível de vapor, ou criar o chamado efeito ponto de fulgor durante o procedimento de partida frio para garantir partidas a temperaturas de até 5°C negativos até 20°C sem adição de gasolina, requisitos estes solicitados pelos fabricantes de veículos / motores nacionais. (Hofmann e Lenz, 2000) estudaram o problema e verificaram que o efeito ponto de fulgor traz resultados significativos para a partida a frio com etanol a baixas temperaturas. Numa injeção convencional, quando o combustível é injetado através dos canais de admissão este encontra-se em estado líquido e permanece neste estado conforme pode-se observar na figura 3.1. O ponto 1 representa o início da injeção e sua respectiva pressão no interior do injetor, neste caso de 4,2 bar e o ponto 2 representa a pressão nos dutos de admissão. Durante este procedimento a pressão passa de 1 para 2 mas, no entanto, o combustível ainda encontra-se totalmente numa única fase em estado líquido. Já no procedimento 1' => 2', ou seja, com aumento significativo da temperatura do combustível, quando o combustível é injetado há formação parcial de vapor, pois este penetra a região bifásica conforme pode ser verificado na figura 3.1. Quanto maior for a fração de combustível evaporado, maior será a probabilidade de uma partida a frio de boa qualidade. 57 Pressão p Aumento da temp. do combustível Injeção convencional 1 1' Injeção com "efeito ponto de fulgor" região de 2 fases ( L + V) 2 2' limite de vaporização líquido saturado líq. + vapor limite de condensação vapor saturado Entalpia h Com aquecimento Sem aquecimento Figura 3.1 – Diagrama pressão – entalpia comparativo entre injeção convencional e injeção com efeito ponto de fulgor. (Hofmann e Lenz, 2000). Figura 3.2 – Comparativo do spray durante a injeção com e sem aquecimento. (Siemens VDO Automotive, 2006). 58 Na figura 3.2 pode-se observar a diferença no comportamento do spray quando aquecido e sem aquecimento onde observa-se uma melhora significativa na atomização do etanol, comportamento também verificado por Zimmermann et al. (1999) em seu estudo. A temperatura selecionada para o etanol foi de 120°C, a razão será justificada mais adiante, o combustível que se encontra no estado líquido no interior do injetor a 4,2 bar quando é injetado passa de 4,2 bar a aproximadamente 1,0 bar e se vaporiza parcialmente, conforme observado na figura 3.5. A formação de vapor está intrinsecamente ligada à pressão e às propriedades físico-químicas do combustível, e esta se dá quando a região limite de vaporização é superada. Neste caso, como a pressão do sistema de alimentação está limitada a 4,2 bar, a temperatura máxima que se pode alcançar sem que haja formação de bolhas no interior do injetor é de 120°C. Caso este limite de temperatura seja superado, poder-se-á causar travamento do injetor pelo acúmulo de bolhas de combustível em seu interior, este fenômeno também é conhecido como vapor-lock ou blocagem. Figura 3.3 – Curva de evaporação do etanol com ponto crítico. (Siemens VDO Automotive, 2006). 59 3.2.1 Cálculo da fração da massa de vapor Para obter-se a fração da massa de vapor gerada pelo relaxamento adiabático quando o combustível etanol é injetado, utilizaremos como auxílio o software EES (Engineering Equation Solver) para o cálculo das entalpias envolvidas no processo e verificação da fração da massa de vapor ou título (x). Figura 3.4 – Diagrama pressão x entalpia do etanol. (Obtido através do EES, 2009). Na figura 3.5 temos a plotagem das entalpias relevantes no processo. Figura 3.5 – Relaxamento adiabático do etanol no diagrama P, h. (Fono, 2007). 60 Com os valores calculados a partir do software EES, temos: h[1]=Enthalpy(Ethanol;T=119;P=420) = 395,1 kJ / kg h'[1]=Enthalpy(Ethanol;T=77;P=100) = 255,3 kJ / kg h"[1]=Enthalpy(Ethanol;T=119;P=100) = 1183,0 kJ / kg Portanto: x= h − h' 395,1 − 255,3 = = 0,151 = 15,1% de título ou fração de massa de vapor h' '− h' 1183,0 − 255,3 disponível. Para a obtenção da fração da massa de vapor calculada assume-se que a pressão no interior dos dutos de admissão no momento da injeção é de aproximadamente 1 bar ou 100 kPa, porém é conhecido que esta pressão tende a cair na medida que o motor de partida movimenta o motor. Este fenômeno, no entanto só tem a ajudar, pois com a diminuição da pressão nos dutos de admissão, diminui também o ponto de evaporação do etanol e como conseqüência há uma geração maior da fração da massa de vapor disponível. 61 4 MODELAMENTO 4.1 Dados dimensionais do corpo do injetor Figura 4.1 – Principais dados dimensionais do corpo do injetor. (Continental, 2009) 4.1.1 Área da superfície de aquecimento e volume As dimensões do corpo interno do injetor são: - diâmetro interno de 5,8 mm; - diâmetro externo de 6,6 mm; - espessura de 0,4 mm; - comprimento do corpo do injetor de 47 mm. Assim, calcula-se: As = π .d .L = π .0,0058.0,047 = 856mm 2 ou 8,56.10 −4 m 2 Sendo esta a área ou superfície interna da parede interna do injetor que ficará em contato com o combustível e transmitirá o fluxo de calor para o mesmo. 62 Vcorpo = πh( R 2 − r 2 ) = π 0.047(0,00332 − 0,0029 2 ) = 3,66.10 −7 m 3 Este é o volume calculado do corpo interno do injetor. Figura 4.2 – Superfície interna (parede) do corpo do injetor. 4.1.2 Espessura do filme fluido de combustível A espessura do filme fluido de combustível representa a resistência térmica na qual o calor gerado pelo elemento aquecedor deve ultrapassar para aquecer o volume de combustível contido nesta área. Conforme maior for esta espessura, maior será a resistência térmica e conseqüente dificuldade de aquecer o combustível contido nesta área. Neste caso a espessura do filme fluido é de 2,09 mm e o volume de combustível é de 0,9 cm3. Figura 4.3 – Espessura do filme fluido combustível. (Siemens VDO Automotive AG, 2007). 63 4.2 Aplicação da Teoria da Condução de Calor em Regime Transitório de Sistema Concentrado – Pré-aquecimento 4.2.1 Hipóteses simplificadoras Para simplificação do equacionamento do problema, utilizaremos as seguintes hipóteses: • a presença da haste do injetor (agulha) será desprezada para efeitos dos cálculos de transferência de calor; • análise concentrada aplicada tanto para a parede como para o etanol; • convecção natural na fase de pré-aquecimento do etanol; • propriedades de transporte constantes. 4.2.2 Estimativa do coeficiente médio de transferência de calor por convecção Para estimativa do coeficiente médio de transferência de calor h vamos utilizar uma aproximação por falta de uma expressão específica, uma correlação empírica por convecção natural – placa vertical. Nu L = hL = CRa n L k (4.1) onde o numero de Rayleigh: Ra L = GrL Pr = gβ (Tsup − T∞ ) L3 γ .α (4.2) está baseado no comprimento característico da geometria, L e β representa o coeficiente de expansão volumétrica. 64 Uma correlação que pode ser aplicada ao longo de todo o intervalo de Ra L foi recomendada por Churchill e Chu (1975) e tem a forma: 1/ 6 0,387 Ra L Nu L = 0,825 + 1 + (0,492 / Pr) 9 / 16 [ ] 8 / 27 2 (4.3) Para o cálculo de h necessitamos de algumas propriedades de transporte do etanol, estas foram obtidas com o auxílio do EES. Tabela 4.1 – Propriedades de transporte do etanol a 20°C (EES, 2009). Admitindo Tsup − T∞ = ∆T = 80°C calcula-se o valor de h : Então: Utilizando-se o EES para T = 80°C e P = 100 kPa, calculamos o β : beta[1]=VolExpCoef(Ethanol;T=T[1];P=P[1]) = 0,003183 Ra L = GrL Pr = gβ (Tsup − T∞ ) L3 γ .α = 9,8.0,003183(80).0,047 3 = 1,99.10 +9 − 08 −06 8,86.10 .1,47.10 65 Substituindo-se na equação (4.3) tem-se: 2 1/ 6 0,387.1,99.10 +9 Nu L = 0,825 + = 196,9 8 / 27 1 + (0,492 / 16,61) 9 / 16 [ ] Da equação (4.1), vem: Nu L = h= hL = CRa n L k (4.1) Nu L .k 107,3.0,1708 = = 715,7W / m 2 .K L 0,047 (4.4) Agora, num outro caso admitindo-se Tsup − T∞ = ∆T = 40°C calcula-se o novo valor de h : De modo análogo ao exemplo anterior, calculamos o novo h : A partir do EES, obtém-se o novo valor de β : beta[1]=VolExpCoef(Ethanol;T=T[1];P=P[1]) = 0,001138 Portanto, Ra L = GrL Pr = gβ (Tsup − T∞ ) L3 γ .α = 9,8.0,001138.(40).0,047 3 = 3,56.10 +8 −08 −06 8,86.10 .1,47.10 Substituindo-se na equação (4.3) tem-se: 2 1/ 6 0,387.3,56.10 +8 Nu L = 0,825 + = 115,4 8 / 27 1 + (0,492 / 16,61) 9 /16 [ ] 66 Finalmente utilizando-se a equação (4.4): h= Nu L .k 115,4.0,1708 = = 419,2W / m 2 .K L 0,047 Portanto, de forma conservadora admite-se h = 300W / m 2 K , que está de acordo com convecção natural em líquidos segundo a literatura. 4.2.3 Cálculo do número de Biot Como já referenciado no Capítulo 3, o numero de Biot nos permite calcular a razão entre a resistência interna e a resistência externa do sistema: Bi = Rint erna h L = Rexterna ks (4.5) onde h é o coeficiente de transferência de calor médio do etanol, L é a dimensão de comprimento característico, obtida pela divisão do volume do corpo pela área superficial do cilindro interno e k s é a condutividade térmica da parede do tubo. No caso do corpo interno do injetor temos: h = 300W / m 2 K k s = 14,4W / mK L= V As (4.6) Considerando os valores calculados na seção anterior, calcula-se o valor do comprimento característico L. 67 L= V 3,66.10 −7 = = 4,27.10 −4 m As 8,56.10 −4 Substituindo-se os valores na equação (4.5), temos: h L 300.4,27.10 R Bi = int erna = = Rexterna ks 14,4 −4 = 8,91.10 −3 = 0,00891 < 0,1 Visto que o número de Biot calculado é menor que 10%, podemos considerar como um sistema de resistência interna desprezível. 68 4.3.3 Equacionamento da aplicação da teoria de sistema concentrado Na aplicação da teoria neste estudo, consideremos o aquecimento de um certo volume de etanol contido no interior do injetor que encontra-se inicialmente a uma temperatura uniforme T0 e é aquecido tão rapidamente que se pode considerar a mudança da temperatura do ambiente como um degrau. O tempo no qual o aquecimento começa com t=0 e suponhamos que o coeficiente médio de transferência de calor h permaneça constante durante o processo, e que a temperatura da superfície da parede do injetor T∞ . A seguir, de acordo com a hipótese de que a temperatura dentro do injetor é substancialmente uniforme em qualquer instante, um balanço de energia para o etanol em um pequeno intervalo de tempo dt é igual a: variação na energia interna da = parede do injetor durante dt fluxo líquido de calor da parede do injetor para o etanol durante dt ou − cρVdT = h As (T − T∞ )dt onde: c = calor específico do material da parede do injetor, [J/kg.K] ρ = densidade do material da parede do injetor, [kg/m3] V = volume da parede do injetor, [m3] T = temperatura média da parede do injetor, [K] h = coeficiente de transferência de calor médio do etanol, [W/m2.K] As = área da superfície de aquecimento, [m2] dT = variação da temperatura (K) durante o intervalo de tempo dt [s] (4.7) 69 Aplicando-se o método de análise de concentrada, uma vez que o objeto de estudo é um sistema composto podemos equacionar o problema da seguinte forma: tomamos como exemplo a fig. 4.4, se a parede interna do injetor tiver uma capacitância térmica (cρV ) 2 , o coeficiente de transferência de calor em A , (a superfície interna do injetor), for h , e a capacitância térmica do fluido (etanol) no interior do injetor for (cρV )1 , o histórico de temperatura-tempo do fluido T1 (t ) será obtido por meio da resolução simultânea das equações do balanço de energia. Para facilitação do equacionamento consideremos o índice 1 para o etanol e o índice 2 para a parede. Assim para o etanol: dT1 = h1 A1 (T1 − T2 ) dt (4.8a) dT2 = − qind − h1 A1 (T1 − T2 ) dt (4.8b) − (cρV )1 e para a parede: − (cρV ) 2 onde A1 = A2 = A é a área da superfície interna da parede do injetor, h1 = h é o coeficiente médio de transferência de calor, qind = P elétrica fornecida pelo aquecimento por indução e T2 é a temperatura da parede do interior do injetor. A hipótese de que o etanol e a parede interna do injetor possam ser considerados isotérmicos é inerente a essa abordagem de sistema uniforme. 70 Figura 4.4 – Esquema térmico para o sistema parede / etanol com capacidades térmicas concentradas. As duas equações diferenciais lineares simultâneas precedentes (4.8a e 4.8b) podem ser resolvidas para a obtenção da evolução da temperatura para o etanol e para a parede interna do injetor. Se o fluido (etanol) e a parede estiverem inicialmente a uma temperatura T0 , as condições iniciais para o sistema são: T1 = T2 = T0 em t=0 Além disso, assumimos também que em t = 0 , tem-se: 71 As equações (4.8a) e (4.8b) podem ser reescritas na seguinte forma: hA h A D + T1 − T = 0 ρ cV 2 ρ c V 1 1 1 1 1 1 (4.9a) e hA h A T1 + D + T2 = qind − ρ c V ρ 2 c2V2 ρ 2 c2V2 2 2 2 (4.9b) d onde o símbolo D indica a diferenciação em relação ao tempo D = . dt Por conveniência façamos: K1 = hA ρ1c1V1 (4.10) e K2 = hA ρ 2 c2V2 (4.11) então: (D + K1 )T1 − K1T2 = 0 (4.12) − K 2T1 + (D + K 2 )T2 = q mod (4.13) e onde: q mod = qind ρ 2 c2V2 (4.14) 72 Isolando-se T2 da equação (4.12), tem-se: D .T1 T2 = 1 + K 1 (4.15) Substituindo-se T2 na equação (4.13), temos: D T1 = qmod − K 2T1 + (D + K 2 )1 + K1 Rearranjando: DK 2 D2 T1 = qmod , ou − K 2T1 + D + + K2 + K1 K1 − K 2T1 + T1 D + T1 D 2 T DK 2 + K 2T1 + 1 = q mod K1 K1 Posteriormente, D2 DK 2 T1 = q mod +D+ K1 K1 1 d 2T1 K 2 dT1 + 1 + = qmod K1 dt 2 K1 dt Finalmente, multiplicando-se tudo por K1, temos: d 2T1 dT + (K1 + K2 ) 1 = K1qmod 2 dt dt (4.16) 73 Por fim, obtemos uma equação diferencial de 2ª. ordem de coeficientes constantes (equação 4.16). A solução desta equação esta dividida em duas partes: solução particular Tp e solução homogênea, Th: (4.17) T1 = T1 p + T1h A equação homogênea é: d 2T1 dT + (K 1 + K 2 ) 1 = 0 2 dt dt cujo polinômio característico é: m[m + (K1 + K 2 )] = 0 => m 2 + (K1 + K 2 )m = 0 , cujas raízes são: (4.18) => m1 = 0 m2 = −(k1 + K 2 ) de forma que, a solução homogênea fica: ⇒ T1 h = A1e 0 + A2 e − ( K1 + K 2 ).t ou simplesmente: T1h = A1 + A 2 e − ( K1 + K 2 ).t (4.19) a solução particular por vez é: T1 p = A3t + A4 (4.20) 74 derivando-se: dT1 p = A3 dt d 2T1 p =0 dt 2 Substituindo-se na equação (4.16) d 2T1 dT + (K1 + K 2 ) 1 = K1q mod , temos: 2 dt dt (K1 + K 2 )A3 = K1q mod Então: K1 q mod A3 = K1 + K 2 Substituindo-se A3 na equação (4.20), temos: K1 qmod t + A4 T1 p = K1 + K 2 (4.21) Finalmente, como T1 = T1hom ogênea + T1 particular , portanto fica: T1 (t ) = A1 '+ A2 e −( K1 + K 2 )t + K1 q mod t K1 + K 2 (4.22) Com A'1 = A1 + A4. Uma relação entre as constantes A'1 e A2 podem ser obtidas pela aplicação das condições iniciais: e T1 = T0 em t=0 dT1 =0 dT em t=0 75 da primeira condição inicial, tem-se: T0 (t =0 ) = A'1 + A2 e 0 + K1 q mod .0 K1 + K 2 (4.23) ∴ A1 '+ A2 = T0 e da segunda condição inicial, vem: dT1 =0 dT em t=0 − (K 1 + K 2 ).0 dT 1 K1 = − A2 (K1 + K 2 )e + q mod = 0 dt K1 + K 2 ⇒ − A2 (K1 + K 2 ) + K1 q mod = 0 K1 + K 2 Logo, A2 = K1 (K1 + K 2 )2 (4.24) q mod e substituindo-se em (4.23), vem: A1 ' = T0 − K1 (K1 + K 2 )2 (4.25) qmod Finalmente, substituindo esses resultados, para o etanol temos: T1 (t ) = T0 − K1 (K1 + K 2 ) 2 qmod + K1 (K1 + K 2 ) 2 qmode −( K1 + K2 ).t + K1 qmod .t K1 + K 2 (4.26) 76 rearranjando-se, fica: T1 (t ) = T0 − K1 ( K1 + K 2 ) 2 [ qmod .1 − e −( K1 + K 2 ).t − (K1 + K 2 ).t ] (4.27) A solução para T2 (t) é obtida pela substituição da relação para T1 da equação (4.26) na equação (4.15). Portanto: D .T1 T2 = 1 + K1 (4.15) Desmembrando T2, temos: T2 = T1 + 1 dT1 . K 1 dT (4.28) Derivando-se a equação (4.26), fica: dT1 − (K 1 + K 2 ) K1 = K 1 .q mod .e −( K1 + K 2 ).t + .q mod 2 dt K1 + K 2 (K 1 + K 2 ) Rearranjando-se temos: dT1 K1 = .q mod 1 − e − ( K1 + K 2 ).t dt K1 + K 2 [ ] (4.29) 77 Substituindo-se a equação (4.29) em (4.28) vem: T2 = T1 + 1 K1 K1 .q mod 1 − e −( K1 + K 2 ).t K1 + K 2 ( ) Finalmente para a parede do injetor: T2 = T1 + q mod . 1 − e −( K1 + K 2 ).t K1 + K 2 ( ) (4.30) 78 4.3.4 Análise de sensibilidade do modelamento Uma vez que as equações do modelamento da temperatura em função do tempo tanto para o etanol como para a parede do injetor estão disponíveis, equações (4.27) e (4.30) respectivamente, podemos realizar uma análise de sensibilidade do modelamento variando os parâmetros mais relevantes no processo de aquecimento. T1 (t ) = T0 − T2 = T1 + K1 ( K1 + K 2 ) 2 [ qmod .1 − e q mod . 1 − e −( K1 + K 2 ).t K1 + K 2 ( −( K1 + K 2 ).t − (K1 + K 2 ).t ] ) (4.27) (4.30) Na planilha mostrada da figura 4.6 podemos observar na parte superior os parâmetros de entrada, juntamente com as propriedades físicas e de transporte tanto para o etanol como para a parede do injetor, a temperatura inicial, o rendimento elétrico η e a potência de entrada. Na primeira coluna encontra-se o tempo no qual o histórico da elevação da temperatura se dará, na segunda coluna está inserida a equação (4.27) para o etanol e na quarta coluna está inserida a equação (4.30) para a parede do injetor. No gráfico da figura 4.5 observa-se um exemplo do comportamento das curvas de aquecimento do etanol e do injetor em função do tempo. 200,0 180,0 Temperatura [°C] 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 T1(t) = [°C] - Etanol T2(t) = [°C] - Parede 40,0 20,0 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 tempo [s] Figura 4.5 – Histórico da elevação de temperatura do etanol e da parede do injetor em função do tempo para uma potência de 100 W e h = 300W / m 2 K . 79 Figura 4.6 – Planilha com histórico de elevação da temperatura em função do tempo. 80 Um parâmetro de extrema relevância neste processo é a potência de entrada a ser empregada na fase de pré-aquecimento do injetor, pois os fabricantes de veículos limitam a capacidade do conjunto alternador/bateria para diminuir o seu custo. Normalmente, veículos top de linha, que são equipados com diversos equipamentos de conforto como ar-condicionado, por exemplo, são dotados de um conjunto alternador/bateria na faixa dos 60 Ah, já os veículos mais despojados de acessórios, geralmente estão equipados com conjunto alternador/bateria na faixa dos 40 Ah e por vezes até menos. Visto que este sistema deve ser projetado para atender aos requerimentos mais usuais presentes no mercado nacional, é importante conhecer qual a influência do parâmetro potência de entrada no desempenho global do sistema. Para isso, foi realizada uma análise de sensibilidade mantendo-se todos os demais parâmetros inalterados e somente variando a potência de aquecimento com a finalidade de conhecer o impacto deste parâmetro no tempo de pré-aquecimento do injetor. 200 180 Temperatura [°C] 160 140 120 100 80 150 W 60 200 W 40 100 W 20 0 t [s] 0,8 1,8 2,8 3,8 4,8 5,8 6,8 7,8 8,8 9,8 10,8 11,8 12,8 13,8 14,8 tempo [s] Figura 4.7 – Gráfico comparativo de potência de aquecimento aplicada ao injetor. No gráfico da figura 4.7 observa-se que o tempo de pré-aquecimento do sistema para se elevar a temperatura do etanol de 5 a 80°C, ou seja, um delta de 75°C de elevação de temperatura é de 7,4 segundos com 100 W, isto corresponde a uma taxa de elevação de temperatura de 10,4°C/s, com 150 W o tempo necessário foi de 5,6 segundos, com uma taxa de elevação de temperatura de 81 13,6°C/s e finalmente com 200 W o tempo foi de 4,8 segundos que se traduz numa taxa de 16,3 C°/s. A taxa de elevação da temperatura é definida como a relação entre o delta de temperatura inicial e temperatura final pelo tempo necessário para se alcançar a temperatura final objetivo. É um parâmetro de fácil visualização e nos fornece uma noção de como o sistema responde à variação de um determinado parâmetro. Um comparativo ilustrativo da taxa de elevação da temperatura em função da Taxa média de elevação da temperatura [°C/s] potência empregada pode ser vista no gráfico da figura 4.8. 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 10,4 100 W 13,6 150 W 16,3 200 W Potência entrada [W] Figura 4.8 – Taxa média de elevação da temperatura em função da potência. Ou seja, mantendo-se todos os demais parâmetros inalterados e variando-se somente a potência de aquecimento dos injetores, obtemos a partir do modelamento uma estimação rápida do impacto deste parâmetro no processo de aquecimento. O tempo necessário de pré-aquecimento é de extrema relevância, pois nos permite considerar se este atende aos requisitos solicitados pelos fabricantes de motores / veículos em função das condições de contorno pré-estabelecidas. Análogo ao exemplo anterior, pode-se variar a superfície de troca de calor do corpo do injetor, e consequentemente seu volume, a espessura do corpo interno do injetor mas, todavia um parâmetro que merece atenção especial neste processo é o coeficiente médio de transferência de calor h . Uma vez que o cálculo deste coeficiente envolve uma série de variáveis, e sua determinação apresenta alta complexidade, uma maneira de se determiná-lo é 82 empiricamente. No exemplo anterior, todos os levantamentos e comparativos foram efetuados com h = 300W / m 2 K , valor este adotado na seção 4.2.2 após uma série de considerações. O objetivo da análise seguinte é o de variar o coeficiente médio de transferência de calor com a finalidade de avaliar seu impacto nos resultados do modelamento. Segundo sugerem DeWitt e Incropera (1998), os valores típicos para o coeficiente de transferência de calor por convecção livre podem variar de 50 – 1.000 W/m2.K para líquidos. Tabela 4.3 – Valores típicos para o coeficiente de transferência de calor por convecção. (DeWitt e Incropera, 1998). Temperatura [°C] Neste caso vamos simular os seguintes valores de h : 100, 400 e 800 W/m2.K. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 100 [W/m2.K] 400 [W/m2.K] 800 [W/m2.K] 0,8 1,8 2,8 3,8 4,8 5,8 6,8 7,8 8,8 9,8 10,8 11,8 12,8 13,8 14,8 tempo [s] Figura 4.9 – Gráfico comparativo de resultados com a variação do coeficiente médio de transferência de calor. 83 Taxa média de elevação da temperatura [°C/s] 14,0 12,0 10,0 13,3 8,0 11,3 6,0 4,0 7,0 2,0 0,0 100 400 800 Coeficiente de transfência de calor [W/m2.K] Figura 4.10 – Taxa média de elevação da temperatura em função do h . Caso sejam mantidas as demais condições, ou seja, o mesmo delta de 75°C de elevação de temperatura do exemplo anterior, observa-se que o tempo necessário de pré-aquecimento é de 10,8 segundos com h = 100W / m 2 K , isto corresponde a uma taxa média de elevação de temperatura de 7,0°C/s, já com h = 400W / m 2 K o tempo necessário foi de 6,8 segundos com uma taxa média de elevação de temperatura de 11,3°C/s e finalmente com h = 800W / m 2 K o tempo necessário foi de 5,8 segundos que se traduz numa taxa média de 13,3°C/s. Um fator que se verifica na simulação do coeficiente médio de transferência de calor, é um descolamento do delta de temperatura ∆T = T1 − T2 . Portanto com o aumento do coeficiente médio de transferência de calor h , haverá uma diminuição da temperatura da parede ao longo do tempo e um aumento da temperatura do etanol, já que ocorrerá uma maior taxa de transferência de calor da parede para o etanol, o que tende a uniformizar essas duas temperaturas, como indicado no gráfico da figura 4.11. Neste gráfico, observa-se que o delta de temperatura entre o etanol e a parede é sensivelmente maior quando h = 100W / m 2 K , entretanto com h = 800W / m 2 K o delta diminui consideravelmente, diminuindo também a temperatura da parede T2 . A simulação foi realizada com potência constante de 100 W para todos os coeficientes. Temperatura [°C] 84 300,0 280,0 260,0 240,0 220,0 200,0 180,0 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 0,0 Etanol h=100 Parede h=100 Etanol h=800 Parede h=800 0 2 4 6 8 10 12 14 tempo [s] Figura 4.11 – Descolamento de ∆T = T2 − T1 em função da variação de h . 85 4.4 Ensaios no motor 4.4.1 Metodologia Para realização dos ensaios foi utilizado um motor Volkswagen da família EA111 de 1.400 cilindradas, 2 válvulas por cilindro, refrigerado a água e de tecnologia bicombustível. Este motor foi montado em um suporte mantendo todas as características originais do veículo, e este foi posicionado numa câmara fria. Figura 4.12 – Injetores CVSmaxV montados no motor EA111. Os injetores originais foram desmontados e os injetores aquecidos foram devidamente montados no cabeçote mantendo sua posição original. Todo o restante do motor permaneceu inalterado. Na figura 4.12 pode-se observar os injetores aquecidos fornecidos já instrumentados com termopares tipo K. Os termopares utilizados são de material níquel-alumínio, operam numa faixa de temperatura de 0 a 1250°C e com uma precisão de 2,2°C. 86 Figura 4.13 – Injetores CVSmaxV instrumentados com termopares. Figura 4.14 – Posicionamento dos termopares no elemento aquecedor do injetor. (Siemens VDO Automotive AG, 2006). Os termopares foram inseridos nos injetores conforme mostrado na figura 4.14, dos quatro injetores fornecidos, três estão instrumentados com termopares somente na parte superior e somente um está instrumentado na parte superior e na parte inferior. 87 Figura 4.15 – Perfil de temperatura do elemento aquecedor. (Siemens VDO Automotive AG, 2006). Devido ao gradiente de temperatura no interior do injetor conforme mostrado na figura 4.15, o posicionamento dos termopares deve ser considerado quando da regulagem da temperatura final objetivo da unidade controladora de aquecimento. Como o objetivo do ensaio é aquecer o etanol a uma temperatura final de 120°C (no centro do corpo do injetor), e o termopar de controle está instalado na parte superior do injetor, deve-se considerar o gradiente de temperatura e ajustar a temperatura final objetivo para 80°C. Figura 4.16 – Unidade controladora de aquecimento dos injetores. 88 Os termopares dos injetores são conectados à unidade eletrônica de aquecimento a fim de retro-alimentar o sistema de controle de temperatura e estes sinais analógicos provenientes da unidade controladora são convertidos em sinais digitais por meio de um conversor analógico / digital (ADscan) e conectados ao PC que possui uma ferramenta específica de aquisição de dados denominada de INCA. Esta ferramenta é capaz de realizar a aquisição dos dados bem como modificar os parâmetros necessários da calibração da (PCM) a fim de se atingir os objetivos desejados. Na fase de execução de ensaios, os injetores serão controlados em relação ao seu funcionamento "vazão" pela (PCM) do motor e seu aquecimento será controlado pela unidade eletrônica de aquecimento. Esta unidade eletrônica opera numa freqüência de aproximadamente 40 kHz, tensão de alimentação alternada de 12 V e corrente de pico de aproximadamente 18 A por injetor. No seu interior a tensão alternada é amplificada para aproximadamente 109 V utilizando o modo de controle on-off (liga-desliga) para atingir o objetivo de temperatura desejado. Considerando que a unidade eletrônica de aquecimento trabalha num sistema de malha fechada com relação à temperatura, ou seja, uma vez que a temperatura objetivo é alcançada o aquecimento é interrompido conforme mostrado na linha laranja da figura 4.17, quando o sinal está alto o aquecimento está ligado, quando o sinal está baixo o aquecimento permanece desligado, assim que o sistema detecta uma queda de temperatura com uma histerese de 3°C o sistema aciona o aquecimento novamente. Figura 4.17 – Aquisição de dados para verificação do controle de acionamento do aquecimento. 89 Após passado o tempo de condicionamento mínimo do motor de doze horas no interior da câmara fria a temperatura de 5°C se dá início ao procedimento de ensaio. A ignição é ligada, a tensão da bateria é verificada, pois não deve estar abaixo de 10 V, caso esteja, uma outra bateria é conectada em paralelo, o equipamento de aquisição de dados é conectado ao PC por meio de cabo Ethernet, o experimento (onde estão configurados os canais a serem medidos) é carregado na (PCM), a unidade controladora dos injetores CVS é ligada e a temperatura final objetivo é ajustada para 80°C. O botão gatilho que dispara o aquecimento é acionado e a elevação da temperatura em função do tempo é registrada no equipamento de medição INCA. Figura 4.18 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 5 a 80°C. Na figura 4.18 observa-se a elevação da temperatura no injetor do cilindro 1 a uma temperatura inicial de 5°C alcançando o objetivo pré-estabelecido de 80°C, pode-se verificar ainda o acionamento do elemento aquecedor pela linha laranja constante mostrado no gráfico, desligando-se quando este atinge a temperatura objetivo. 90 Figura 4.19 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol de 0 a 80°C. No gráfico da figura 4.19 verifica-se a elevação da temperatura em outra condição, de 0 °C a 80°C, desta vez com os quatro injetores. Nesta condição o tempo necessário para que a temperatura final seja alcançada é ligeiramente maior em relação à condição anterior, se mantidas as mesmas condições de ensaio. Na versão final do sistema que será proposto, a (PCM) será a responsável pela ativação do sistema que, para ser acionado, deve obedecer a uma série de condições que podem ser basicamente as condições descritas no fluxograma da figura 2.4. A (PCM) comandará a unidade eletrônica de aquecimento que, por sua vez, será responsável pela geração do sinal que aquecerá o injetor. A alimentação elétrica tanto para a (PCM) como para a unidade eletrônica de aquecimento será proveniente da bateria do veículo. Esta, aliás, é uma fonte de preocupação no desenvolvimento desta nova tecnologia, pois a energia solicitada ao sistema do veículo não deve ser superior àquela disponibilizada pelos fabricantes de veículos, valor este que ainda não se encontra claramente definido, pois estes estão ainda na fase definições dos requerimentos para utilização de sistemas de partida a frio alternativos ao sistema atual. Uma vez que o sistema deverá ser aplicado numa extensa gama de motores de diferentes tipos de veículos, este deverá ser capaz de operar em arquiteturas elétricas veiculares onde o conjunto alternador/bateria serão capacidade reduzida, como 40 Ah, por exemplo. 91 A comunicação entre a (PCM) e o controle de aquecimento deverá ser realizada por meio de linha (CAN) - Controlled Area Network de forma que os sinais enviados / recebidos pelos módulos eletrônicos como (PCM) e unidade eletrônica de comando do aquecimento (Heater Controller) deverão ficar também disponíveis para outros receptores que por ventura necessitem de comunicação com este sistema, como por exemplo, o instrumento combinado. Figura 4.20 – Diagrama proposto de sistema com os injetores e suas interações. (Continental, 2009). 92 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES O modelamento proposto foi realizado não tendo como objetivo principal a equiparação dos resultados de suas simulações, com os resultados obtidos experimentalmente, e sim sua tendência de representar o fenômeno de aquecimento do combustível no interior do injetor. Com a finalidade de simplificação do equacionamento do problema, algumas hipóteses foram adotadas que de certa forma contribuem para a divergência dos resultados obtidos pelos ensaios em relação aos do modelamento. Após a realização dos ensaios verificou-se que o comportamento do modelamento apresenta-se de maneira semelhante ao que foi medido a partir dos ensaios. Porém, divergências de resultados são esperados, pois o modelamento não leva em consideração todas as variáveis envolvidas no processo, uma vez que se tornaria muito complexo ou até mesmo impossível sua solução matemática. No caso da simulação do coeficiente médio de transferência de calor, verificase que o coeficiente h também varia seu valor ao longo do tempo, ou seja, o coeficiente deveria ser calculado a cada instante, e não como foi considerado no modelamento, o que contribuiria para o aumento da complexidade do equacionamento. 200,0 180,0 Temperatura [°C] 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 T1(t) = [°C] - Etanol T2(t) = [°C] - Parede 40,0 20,0 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 tempo [s] Figura 5.1 – Simulação de elevação da temperatura para h = 400W / m 2 K A título de exemplo, analisaremos uma elevação de temperatura de 0 a 80°C, sendo uma realizada por medição real e outra simulada a partir do modelamento. 93 No gráfico da figura 5.1 observa-se que o tempo necessário para se elevar a temperatura de 0 a 80°C é de aproximadamente 7 segundos, com um coeficiente médio de transferência de calor de 400 W/m2.K, e potência de entrada de 100 W. Figura 5.2 – Aquisição de elevação da temperatura do etanol no injetor de 0 a 80°C. No gráfico da figura 5.2, observa-se que o tempo necessário de aquecimento nas mesmas condições foi de aproximadamente 9,3 segundos, ou seja, uma diferença de cerca de 32% a mais entre o medido e o simulado a partir do modelamento. A seguir algumas tecemos algumas considerações em torno desta diferença. No equacionamento do problema não foi considerada a presença da agulha do injetor, que possui uma massa considerável do ponto de visto térmico e encontrase na temperatura inicial como a parede do interior do injetor e o etanol. Quando a energia elétrica é fornecida ao sistema, o interior do injetor se aquece rapidamente, aquecendo o etanol por convecção e a massa da agulha retira calor do sistema, sendo um dos prováveis fatores causadores deste "atraso térmico" observado na medição. Outro fator de extrema relevância é o rendimento elétrico do sistema η elétrico , que nesta simulação foi considerado de 50%, isto significa que para cada unidade de potência elétrica fornecida pela bateria é transformado em uma potência de 94 aquecimento, porém com perdas no sistema elétrico e a determinação dessas perdas não foi considerado, fator que também contribui para a divergência de resultados. Um parâmetro que merece atenção especial e também influencia de maneira decisiva no modelamento é o coeficiente médio de transferência de calor h , pois este deve ser estimado em função de ensaios empíricos para cada situação, e neste caso, foi utilizado um valor adotado, que representa um valor aproximado da média encontrada na literatura. Por outro lado, o h poderia neste caso ser utilizado fator de "calibração" do modelamento, pois poderíamos estimá-lo de forma a representar o fenômeno de aquecimento de acordo com os resultados obtidos pelos ensaios e assim realizar a simulação com os outros parâmetros envolvidos na processo, ou seja, ele tornariase então um fator de ajuste do modelamento. 200,0 180,0 Temperatura [°C] 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 T1(t) = [°C] - Etanol T2(t) = [°C] - Parede 20,0 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 tempo [s] Figura 5.3 – Simulação de elevação da temperatura para h = 170W / m 2 K No gráfico da figura 5.3 observa-se que o tempo de aquecimento para elevar a temperatura de 0 a 80°C foi de aproximadamente 9 segundos, mantendo-se todos os demais parâmetros inalterados e "ajustando" somente o h , que no caso, foi de 170 W/m2.K. Assim o modelamento reproduz o mesmo valor obtido através dos ensaios e apresenta-se como uma ferramenta para estimativa da temperatura do combustível no interior do injetor. 95 6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS O objetivo deste trabalho foi de desenvolver um modelamento matemático que fosse capaz de estimar a elevação da temperatura no interior do injetor em função do tempo, levando-se em consideração as variáveis envolvidas no processo de aquecimento. Para tal, algumas hipóteses simplificadoras foram identificadas, e um equacionamento matemático baseado na hipótese de sistema concentrado foi proposto e chegou-se a definição de duas equações diferenciais que representam o fenômeno de aquecimento no injetor. A parede do injetor e o etanol foram tratados como sistemas concentrados e o acoplamento entre eles se deu pela transferência de calor da parede para o etanol. Posteriormente, estas equações foram resolvidas o que permitiu obter as curvas de aquecimento como função do tempo e dos demais parâmetros envolvidos. Uma análise de sensibilidade em diferentes condições foi realizada para verificar o impacto dos diversos parâmetros nos resultados da simulação. Foram simuladas variações de potência de aquecimento obtendo-se as curvas de aquecimento que como função do tempo como mostrado no gráfico da figura 4.7. Analogamente, foram simulados diferentes valores de coeficiente médio de transferência de calor, obtendo-se sua curva de aquecimento como função do tempo, e os resultados estão indicados no gráfico da figura 4.9. Ensaios com injetores montados num motor foram realizados no interior de uma câmara fria a fim de se comparar os resultados obtidos pelos ensaios com os resultados provenientes das simulações matemáticas. Foi constatado que o modelamento apresenta algumas limitações, o que era esperado, pois o equacionamento por motivos de complexidade não leva em consideração todas as variáveis que fazem parte do processo. A estimativa do coeficiente médio de transferência de calor h exige a realização de ensaios empíricos, uma vez que sua determinação exata não pode ser encontrada na literatura. Em virtude deste fato, foi proposto um fator de "calibração" do modelo a partir do h , a fim de ajustar o modelamento para fins de utilização da simulação apresentado resultados satisfatórios de representatividade. 96 O modelamento proposto também poderá ser implementado no algoritmo de software do sistema de gerenciamento eletrônico do motor, a fim de se estimar a temperatura do combustível no injetor e consequentemente o tempo que esta necessita para que atinja seu valor objetivo, pois o procedimento de partida do veículo somente será autorizado pela (PCM) depois de decorrido este tempo e a temperatura objetivo tenha sido alcançada. Uma vez que os injetores que serão produzidos em série não serão dotados de termopares para informar ao sistema à que temperatura ele se encontra, desta forma o modelamento é um artifício que soluciona esta problemática. Finalmente, o modelamento matemático proposto atingiu seu objetivo inicial que foi a partir dos diversos parâmetros envolvidos no processo, elaborar um modelo que possa ser simulado e sirva de norte para se desenvolver este novo componente economizando na construção de amostras, minimizando o tempo de ensaios e conseqüentemente no seu custo geral, fator preponderante quando no desenvolvimento e viabilização de novos produtos na indústria automobilística da atualidade. Como sugestão para trabalho futuro, o modelamento poderá ser aperfeiçoado numa plataforma de software Matlab®, para uma condição de fluxo dinâmico do injetor com a finalidade de se estimar a temperatura do etanol no injetor na fase de pré-aquecimento e também após a partida do motor em diferentes condições de utilização como marcha-lenta, dirigibilidade a frio e medições de emissões veiculares a fim de se verificar o impacto do aquecimento nas mesmas. No que diz respeito às emissões de gases, este sistema deverá contribuir de maneira significativa para a redução dos hidrocarbonetos (HC) e aldeídos (CHO) no caso do etanol, uma vez que a maior parcela de emissão destes está concentrada na fase de partida a frio e momentos após a mesma. Posteriormente ensaios deverão ser realizados a fim de se comprovar a teoria. Para tal, alguns parâmetros do sistema de gerenciamento do motor (PCM) devem ser otimizados, tais como a quantidade inicial de combustível a ser injetada, o ângulo de ignição, a fase de injeção, a posição da borboleta, a potência de aquecimento e a temperatura objetivo dos injetores. Existem outros parâmetros a serem considerados durante este procedimento, porém, estes acima são os que devem ser otimizados na calibração do sistema de injeção para a obtenção dos resultadosdesejados. 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis ANP. Portaria ANP n°. 36/05 e Portaria ANP n°. 309/01. 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