CURSO AGRONOMIA Disciplina: Desenvolvimento rural Professor: Hoilson Fogolari Engenheiro Agrônomo (UNOCHAPECÓ) Mestre em Agronomia (UTFPR) Email: [email protected] DESENVOLVIMENTO RURAL (AGRÍCOLA/AGRÁRIO) BRASILEIRO NO SÉCULO XX 1ª Fase: Predominância da sociedade agrária: dividida em 2 períodos • Primeiros sinais significativos de mudanças (1850 1890) – Período de transição marcada pelo fim do sistema colonial. – Fim do tráfico de negros (1850) provoca uma crise no setor agro- exportador. – Inicia de forma incipiente o desenvolvimento urbano – pequena produção de gêneros alimentícios. – O estado cria os engenhos centrais, estes abertos ao capital estrangeiro não podiam possuir terras, plantar cana-de-açúcar e utilizar escravos. – Nesta fase predominaram dois grandes sistemas agrários no Brasil, que vão perdurar fortemente até década de 1970: • Latifúndio exportador (Sistema Agrário Plantation); • Campesinato (agricultura familiar) com pouca relação com o mercado. – A agricultura era de subsistência das populações que eram em sua grande maioria rural (camponesa) e, portanto, não havia política pública específicas para a agricultura. – Para as culturas de exportação (cana, cacau, café e borracha) foram criadas escolas agrícolas de 1º grau e algum financiamento para os latifundiários através das primeiras agências financeiras (Bancos privados) do país. Papel da economia cafeeira (1890 - 1930) – Neste período o complexo cafeeiro chega ao seu auge. – Crise mundial de 1929 – O crescimento das cidades e a sua industrialização (bens de consumo). • A agricultura volta-se ao mercado interno. • Passa a ter um papel de consumidor – Investimento de capital estrangeiro principalmente em ferrovias – expande a cultura do café e o surgimento de novas cidades. 2ª Fase: Início da industrialização (1930-1960) – Acontece no período do Governo Vargas “substituição de importações” – A crise no setor primário exportador estimula o desenvolvimento industrial. – Especialmente após a 2ª guerra mundial o Brasil caminha para substituição de importações, no período entre 1950-60, com a implantação do D1 = Departamento Produtor de Bens (meios) de produção para a agricultura. – Nesta fase o campesinato apresenta diferenciações regionais e intra regionais significativas, sendo que: • no nordeste segue servindo de complementação ao Plantation, • enquanto que no sul e sudeste o campesinato passa a cumprir um papel de interesse nacional (fornecer alimento barato as cidades em franco crescimento, impulsionadas pela industrialização recente). – Para isso são introduzidas duas políticas agrícolas estratégicas: • Em 1948 inicia-se a construção do serviço de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) caracterizado pelo modelo “educacional assistencialista” e • Em 1955 o Crédito rural, no modelo de crédito orientado, como um crédito para a unidade de produção (propriedade/família). – Papeis da agricultura • mão-de-obra às indústrias • fornecimento de produtos alimentares e matérias-primas a custos constantes ou descendentes • suprimento de capital para o financiamento de investimentos industriais • suprimento de divisas estrangeiras através da exportação de produtos agrícolas, necessárias ao financiamento de importação para o setor industrial • criação de um mercado interno para produtos industriais 3ª Fase: Modernização da Agricultura (1965 a 1990) – Entre os anos de 1965 e o final dos anos 1970 ocorre a internalização do D1 para a agricultura (a adoção de tecnologias da “revolução verde”: mecanização, sementes melhoradas e os agroquímicos – inseticidas, herbicidas e fungicidas, principalmente). • Objetivo: dar à agricultura funcionalidade em relação ao desenvolvimento econômico do país – Consumindo bens industriais; – Produzindo bens primários para exportação e mercado interno. – Há, neste período, a estruturação de fortes “complexos agroindustriais” – Modelo de desenvolvimento nacional com fortes características urbanoindustriais – Forte deslocamento populacional: • para centros urbanos (ocupar postos de trabalho e servir de “exército industrial de reserva”) • para a fronteira agrícola Duas principais políticas agrícolas para internalização do D1 pela agricultura: – Implantação e disseminação da revolução verde • Pesquisa: Embrapa (1974) • Extensão: Embrater (1973) • Ensino de 2º e 3º grau para preparar difusores de tecnologia – Estruturação de um sistema nacional de crédito rural (SNCR) • Seletivo quanto à capacidade de pagamento, medida por posse de terras e bens de produção • Direcionamento do crédito para aquisição de bens e insumos “modernizantes”. Vincula $$ de crédito às indústrias do setor, financiando seu desenvolvimento • Forte diferenciação regional, onde Centro-Sul do país foram grandes beneficiários • Crédito dirigido por tipo de produto, majoritariamente àqueles com maior vínculo com o mercado, especialmente exportador • Crédito de investimento neste período foi muito superior a custeio e comercialização (para internalizar D1) – Enquanto política agrária, a partir da aprovação do Estatuto da Terra (lei 4504) e a constituição do INCRA (Instituto Nacional de Reforma Agrária), foram estruturadas mais claramente políticas agrárias de três ordens: • Tributária e fiscal: Imposto Territorial Rural (ITR) como mecanismo de melhorar o uso da terra; • Fundiária: Reforma Agrária para realizar a redistribuição da terra, visando à desconcentração; • Colonização: para ocupação da fronteiras nacional e da chamada fronteira agrícola (na época o Centro-Oeste e sul da Amazônia, principalmente através da iniciativa privada e pouco da oficial (Estado). Esta foi a principal política adotada pelo regime militar como mecanismos de controle das tensões sócias no campo. Década de 1980’s: – Chamada a década perdida, pois o crescimento do país estagnou. – Além da crise econômica e de projeto de desenvolvimento provocadas em parte pela crise política em que se encontravam o país, com a crescente organização dos trabalhadores no campo e na cidade marcada pelas lutas pela anistia aos exilados políticos, pelas eleições diretas para presidente da república e o fim da ditadura militar, que durava chegava a duas décadas de existência; – Política agrícola tem orientações setoriais e regionais, mas sempre à mercê de políticas econômicas mais gerais – Política de crédito subsidiado é substituída no início dos 1980’s por política de preços mínimos – Inicia-se política menos ativa do Estado, passando agricultura para regulação do mercado. Mesmo assim, havia uma política. 1990’s: – De modo geral o Brasil passa pelo que foi chamado de reestruturação produtiva nos principais setores de interesse do capital (indústria, mercado, financeiro, e outros). – Foi o período da abertura dos mercados para o processo de globalização da economia nacional com fortes repercussões em setores como energético, calçadista, cerâmico, dentre outros. Na agricultura o mais emblemático foi o caso do trigo. 1990’s: – Nesta década ampliam-se mecanismos diferenciais de apoio à agricultura camponesa (ou familiar) e da agricultura patronal (agronegócio) – Cria-se o Pronaf (1996) – Cria-se o Ministério do desenvolvimento agrário – MDA (1999) – Passa existir 2 ministérios para o rural: • MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) mantendo suas atenções para agronegócio exportador; – MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) » Foi fruto do avanço das lutas sociais do campo (MST, MAB, MMC, MPA FRETRAF e CONTAG, FAZER, e outros) e forte debate na academia e organismos internacionais (FAO, BID, BIRD, IICA, Banco Mundial) sobre agricultura familiar e desenvolvimento rural. » Este ministério estava voltado para o desenvolvimento de políticas para a agricultura familiar (todos os que não se enquadram na categoria patronal: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pecadores, barreiros, vargeiros, etc.) e a reforma agrária; – Após o Plano Real houve a maior distribuição fundiária já realizada no país, mas que não foi capaz de promover a democratização da posse e uso da terra no país; Complexos agroindustriais CAIs • Efetivação dos CAIs (1960 - 1989) – O surgimento dos CAIs esta relacionado com o amplo do capitalismo no após II Guerra, onde o setor industrial em grande efervescência, alcança o âmago do setor agrário que, por sua vez, buscava novos caminhos para superar a queda da lucratividade e a depreciação da renda da terra. • Constitui-se na consolidação da modernização da agricultura e sua subordinação definitiva à indústria; • Tal fato realizou-se de modo rápido e intenso pela ação de políticas governamentais que incentivaram a criação de indústrias de maquinarias e insumos básicos, tanto por iniciativa oficial, como particular (empresas nacionais e internacionais). • Processo da “Revolução verde” • Modernização e industrialização da agricultura • Modernização – entende basicamente como a mudança da base técnica da produção agrícola. Em outras palavras, ocorre uma transformação da produção artesanal camponesa numa agricultura consumidora de insumos e com elevado grau de intensidade. • Industrialização da agricultura – Envolve a idéia de que a agricultura acaba se transformando num ramo da produção semelhante a uma indústria, como uma fábrica que compra determinados insumos e produz matérias-primas para outros ramos de produção. • Nesse processo a agricultura passa por 3 transformações básicas: – mudanças nas relações de trabalho - ocorre a divisão do trabalho dentro da família, o trabalho coletivo ultrapassa o individual; – mudanças qualitativas na mecanização - quando se introduzem as máquinas em todo o processo de produção (da preparação do solo ao transporte do produto); – internalização do D1 - no Brasil isto correu com a instalação da indústria de base que passou a produzir máquinas e insumos ao campo. • D1 industrial (Departamento de bens de capital e insumos para a agricultura) Década de 70. • A entrada da agricultura nos complexos agroindustriais, gera divergências, pois ocorre: – aumento dos custos produtivos, sem a devida compensação em termo de aumento da rentabilidade, – além do mercado ir perdendo o seu caráter competitivo e penetrar na esfera monopolista. • A existência dos CAIs pressupõe, logicamente, a presença no mínimo de dois setores integrados – agricultura (industrializada) e o industrial. – Este representada pelas indústrias de insumos e processadoras, sendo as últimas possuidoras de maior ascendência sobre a agricultura. – Cada CAI pode estar mais ou menos integrado a nível intersetorial, sendo que, os CAIs mais completos atuam nas esferas de estocagem, comercialização e transporte de produtos e, até mesmo, na do financiamento. Já os cais incompletos, só apresentam relações para frente, isto é, com as indústrias processadoras. • Industrias a fins – As indústrias, de insumos (montante), são responsáveis pela evolução modernizante da base técnica da agricultura, isto é, responsáveis pelo aumento da produção e da produtividade. – As indústrias processadoras (jusante), não só transformam as matérias-primas provenientes do campo, como articulam a entrada, a integração e o comportamento das empresas rurais no CAIs. – As indústrias de insumos, classificadas genericamente como de base, abriga dois segmentos bem distintos: • Um deles liga-se à produção de maquinarias - tratores e implementos mecânicos (arado, colhedeira, empacotadeira etc.). • O outro ramo produz insumos de natureza química e biológica que são os fertilizantes, adubos, rações, inseticidas, sementes etc. – As indústrias processadoras, além de muito numerosas, são as mais diversificadas possíveis, pois elaboram produtos alimentares (sob as mais diversas formas) de procedência vegetal, animal e outros ramos (do couro à celulose). – Indústrias de fertilizantes e defensivos • Como alimentar um contingente demográfico que beira à casa dos quatro bilhões de pessoas, utilizando-se apenas das potencialidades naturais? • Como garantir às grandes multinacionais ligadas às indústrias de base e de transformação, a lucratividade em bilhões de dólares/ano num mercado consumidor por elas monopolizadas? • Elas foram envolvendo de tal forma o setor agropecuário que este não consegue produzir, adequadamente, sem os “pacotes tecnológicos” por elas impostos. • No caso brasileiro, a difusão do uso de fertilizantes químicos e orgânicos foi fomentada, inicialmente, pela importação, graças às condições cambiais favoráveis no pós- II Guerra e, no segundo momento, por incentivos governamentais, atraindo as empresas. – Indústrias processadoras • Na atualidade, não só empresas ligadas ao capital industrial, mas também ao comercial (supermercados) e às instituições financeiras investem, maciçamente, nas indústrias de processamento e no próprio setor rural, desbancando parte do capital mercantil tradicional, ainda, muito atuante. • As modificações trazidas pelas grandes empresas afetaram tanto o mercado consumidor final, como o setor agropecuário. Este, ao se associar ao setor moderno da economia, foi obrigado a adequar a sua estrutura processamento. produtiva às exigências das indústrias de • Muitas indústrias tradicionais, frente à esta nova realidade, não tiveram como competir no mercado. Simplesmente foram desativadas ou absorvidas pelo grande capital, num intenso processo de verticalização da grande empresa. complexo agroindustrial é formado pelos seguintes setores: - produção agropecuária: engloba os vários tipos de cultivo e criações. - instituições: envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário (crédito, assistência técnica, extensão, pesquisa, etc.) - indústria de insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para o atendimento das necessidades produtivas agropecuárias (corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos, etc.). - indústria de processamento: inclui os ramos industriais com produção predominantemente baseada em matérias-primas de origem agropecuária. - comercialização: diz respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos produtos agropecuários (cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de comercialização, etc.). • Formas de integração Surgidos nos EUA e Canadá como fenômenos esporádicos, os contratos agrícolas foram, inicialmente, motivados por interesses mútuos que aproximavam, entre si, os produtores primários de gêneros alimentares, cuja venda precisava ser assegurada, e as indústrias de transformação, preservadoras e empacotadoras de tais gêneros. – A primeira fase da integração ocorreu de modo espontâneo, sendo que muitos dos contratos eram verbais e os vínculos limitavam-se a operações livres de troca. – Os agricultores forneciam matérias-primas às processadoras e recebiam insumos diversos. Às vezes, eram estabelecidas obrigações específicas como, por exemplo, o financiamento para a agricultura em troca de preços pré-fixados pela indústria. – Na segunda fase, os produtores rurais passaram a negociar a maior parte da produção com a indústria e não com o setor comercial. – Nesta altura, a agricultura já se apresentava industrializada. O setor industrial impõe as regrar do relacionamento entre as partes, perdendo os agricultores a sua liberdade, sua capacidade de decisão – A integração vem a ser a ligação interativa intersetorial de diversos processos que envolvem a agropecuária, a agroindústria e o comércio, sob o controle final de uma empresa processadora que passou por grande concentração horizontal e vertical.