Cunha, B. (2012) Pressure Ulcers: Electing the treatment Product. Journal of Aging & Inovation, 2012; 1 (2): 65-73 REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW JANEIRO, 2012 ÚLCERAS DE PRESSÃO: ELEIÇÃO DO PRODUTO DE TRATAMENTO PRESSURE ULCERS: ELECTING THE TREATMENT PRODUCT ÚLCERAS POR PRESIÓN: ELECCIÓN DEL PRODUCTO DE TRATAMIENTO Autores Bruno Cunha1 1Enfermeiro, Hospital Beatriz Ângelo. Corresponding Author: [email protected] Resumo Os materiais de penso com acção terapêutica foram amplamente estudados e oferecem numerosas vantagens em relação a material largamente disponível e com longa tradição de uso. Um maior conhecimento do seu modo de actuação permitirá uma melhoria dos cuidados prestados ao utente com úlceras de pressão. Palavras-Chave: úlceras de pressão, tratamento, penso ideal, material de penso Abstract The wound dressings with therapeutic action had been studied and they offer numerous advantages in relation the wide available material and with long tradition of use. A bigger knowledge in its way of acting will allow an improvement of the cares given to the patient with pressure ulcers. Key words: pressure ulcers, treatment, ideal dressing, wound dressing INTRODUÇÃO experimentais que indicam que manter as Uma úlcera de pressão é uma lesão localizada feridas húmidas acelera a reepitelização levou da pele e/ou tecido subjacente, normalmente ao desenvolvimento de uma vasta gama de sobre uma proeminência óssea, em resultado pensos (EWMA, 2004). da pressão ou de uma combinação entre esta e Em 1971 surgiu o primeiro penso desta era, forças de deslizamento (EPUAP, 2009). Nas uma película de poliuretano, e a partir daí a últimas décadas, houve alterações tecnologia não pára de nos surpreender (Elias, consideráveis nos métodos e produtos 2009). associados ao seu tratamento. O abandono do tradicional penso oclusivo foi estimulado pelo 1. AVALIAÇÃO DO ESTADO DA ÚLCERA DE reconhecimento da necessidade de um PRESSÃO microambiente favorável à cicatrização (Duque, A avaliação da úlcera de pressão, é de extrema 2009). A revolução nos métodos de tratamento importância para os profissionais de saúde, pois de feridas deu-se em 1962, quando George permite avaliar o estado inicial da ferida que irá Winter definiu a terapia de cicatrização em iniciar tratamento, bem como o sucesso ou ambiente húmido como a desejável para a insucesso do mesmo (Gouveia, 2009). obtenção de uma cicatrização rápida e com o As respostas ao tratamento que necessita, menor número de intercorrências (Rocha, 2006; encontram-se através de uma avaliação Gouveia, 2008). A evidência dos estudos cuidadosa relativamente à sua localização, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 66 forma, dimensões, profundidade, tipos de como penso primário e secundário, tecidos presentes (epitelização, granulação, simultaneamente (Gouveia, 2008). Na desvitalizado, necrosado), qualidade e actualidade, podemos juntar mais alguns quantidade de exsudado, a situação da região critérios como, por exemplo, custo-efectividade perilesional, dor manifestada pelo doente e o (Rocha, 2006). estado microbiano. Porém, as suas necessidades mudam à medida que progride ou se deteriora (Morison, 2004). A classificação das Proporcionar um meio húmido úlceras de pressão tem acompanhado a própria A humidade promove a migração celular e ajuda interpretação do seu mecanismo de ao desmembrar da ferida por meio da autólise desenvolvimento. Em 1975, Shea propôs pela (Dealey, 1999). Contrariamente ao que era primeira vez uma classificação por graus. convencional, manter a ferida húmida não Foram realizadas várias modificações, até que aumenta a taxa de infecção (EWMA, 2004). As em 1989, foi aceite a definição da NPUAP para células epiteliais movem-se mais depressa e em os graus (Ferreira, 2007). Em 2009, numa maiores distâncias em ambiente húmido, ao colaboração entre a EPUAP e a NPUA, passo que um ambiente seco pode passaram a ser classificadas em categorias efectivamente retardar o seu progresso (Quadro 1). (Morison, 2004). Todo o tipo de material que promova a terapia em ambiente húmido é 2. SELECÇÃO DO PENSO IDEAL também um excelente veículo de promoção de Tendo por base o princípio da terapia em desbridamento autolítico que, ocorre de forma ambiente húmido, Turner (1982) enumerou 7 natural no nosso organismo (Madeira, 2007). princípios para o penso ideal, aos quais hoje em Remover o excesso de exsudado dia obedecem a maioria, dos pensos O excesso de exsudado bloqueia a proliferação disponíveis: proporcionar um meio húmido, celular e a angiogénese, leva ao aprisionamento remover o excesso de exsudado, permitir as dos factores de crescimento e contém trocas gasosas, manter a temperatura ideal, ser quantidades excessivas de metaloproteinases impermeável às bactérias, estar livre de da matriz (MMPs). Estas são capazes de partículas/ contaminantes tóxicos e permitir destruir proteínas essenciais da matriz remoção sem trauma (Figura 1). extracelular e a sua actividade excessiva, ou Fundamentalmente, os que mais se aproximam mal distribuída, tem efeitos deletérios na deste cenário ideal são aqueles que funcionam cicatrização (EWMA, 2004). Quadro 1 – Classificação das úlceras de pressão (NPUAP/EPUAP, 2009) Categoria I Eritema não branqueável em pele intacta Categoria II Perda parcial da espessura da pele ou flictena Categoria III Perda total da espessura da pele (tecido subcutâneo visível) Categoria IV Perda total da espessura dos tecidos (músculos e ossos visíveis) Quadro 1 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 67 Quando o exsudado se descontrola, vai saturar (Morison, 2004; Sub-Grupo Hospitalar a zona perilesional, provocando maceração. Tal Capuchos/Desterro, |SD|). pode atrasar a evolução da ferida, bem como Impermeável às bactérias aumentar o seu tamanho. Daí a necessidade de Os pensos devem impedir tanto a penetração de manter um equilíbrio entre o exsudado e o bactérias através da ferida como a libertação penso, que respeite o processo de cicatrização das baterias da ferida que conduzem a e a pele perilesional (Duque, 2009). infecções cruzadas (Dealey, 1999). Um estudo, Permitir as trocas gasosas de Lawrence, demonstrou que os pensos de Os pensos devem ter a capacidade de efectuar gaze não oferecem uma barreira a bactérias, trocas gasosas com o exterior, nomeadamente dado que estas podem passar até 64 camadas de vapor de água e oxigénio. As necessidades de gaze seca. Quando molhada ainda é menos do fornecimento de oxigénio variam consoante a efectiva (Santos, 2008). fase de cicatrização (Sub-Grupo Hospitalar Estar livre de partículas e contaminantes tóxicos Capuchos/Desterro, |SD|). Uma área de baixa As partículas e contaminantes tóxicos são tensão de oxigénio na superfície da ferida pode responsáveis pelo reaparecimento ou estimular a proliferação dos fibroblastos e a prolongamento da resposta inflamatória e lesam síntese de alguns factores de crescimento, a microcirculação. Pelo que, não devemos contudo uma hipóxia prolongada, pode levar a utilizar, por exemplo, algodão, hipoclorito de um atraso na migração das margens (EWMA, sódio ou iodopovidona (Duque, 2009). As 2004). soluções de hipoclorito de sódio são tóxicas Manter a temperatura ideal para os fibroblastos, glóbulos brancos e células Uma temperatura ideal de 37º promove a endoteliais, dificultam e interrompem a macrofagositose e a actividade mitótica durante microcirculação (Morison, 2004). A iodopovidona a granulação e epitelização (Duque, 2009). O é pouco eficaz na forma de solução (é uso de material que não proporcione isolamento inactivada na presença de matéria orgânica, térmico (por exemplo, gaze) provoca redução da mantém-se à superfície enquanto que os temperatura tecidular causando efeitos agentes causadores da infecção estão nas fisiológicos (vasoconstrição, hipóxia, mobilidade camadas profundas da ferida), podendo ser leucócitária diminuída) que, contribuem para a utilizada apenas em formulações que permita a interrupção da cicatrização (Santos, 2008). sua libertação lenta, para conseguir uma Não se deve remover o penso deixando a ferida redução da carga microbiana sem destruir os exposta por longos períodos, bem como limpar fibroblastos e danificar a microcirculação (Pina, a ferida com produtos frios. A hipotermia 1999). tecidular conduz à diminuição da mitogénese e Permitir remoção sem trauma da actividade fagocitária, uma vez que pode Os cordões capilares muitas vezes penetram no levar até 40 minutos, para que uma ferida penso e o exsudado seco adere ao mesmo e ao recupere a temperatura inicial, e cerca de 3 retirá-lo é provocado desbridamento mecânico horas para que a actividade celular normalize que, está desaconselhado pela não JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 68 selectividade e por ser extremamente doloroso hemostáticas devido à presença de cálcio (Elias, (Duque, 2009; Madeira, 2007). 2004). Custo – efectividade Estão indicados em feridas altamente Os pensos devem permitir optimizar a exsudativas. Não podem ser utilizados em cicatrização do leito das feridas, em tempo útil, feridas com pouco exsudado pelo facto de com recurso a menos meios quer humanos quer aderirem ao leito da ferida (Elias, 2009). Devem materiais. Não se pode comparar o preço ser colocados somente no leito da ferida, de unitário de uma gaze com um penso de terapia forma evitar a maceração da pele circundante avançada, porque este último proporciona ao (Rocha, 2006). doente uma cicatrização mais rápida com Para a fixação requerem a aplicação de um menos desconforto, dor, odor e deslocações penso secundário. Em feridas planas a opção para tratamentos (Santos, 2008). deverá ser um penso que mantenha o equilíbrio da humidade evitando o deslizar do penso 3. OPÇÕES TERAPÊUTICAS primário, por exemplo, uma espuma ou película O material de penso é frequentemente transparente. Nas cavitárias, a opção poderá ser classificado em grupos. Por exemplo: uma película transparente, um hidrocolóide ou absorventes, desbridantes, hemostáticos, até mesmo uma espuma (Elias, 2009). impreganados, promotores de cicatrização e filmes (Rocha, 2006). Contudo, face aos actuais Carvão Activado conhecimentos parece prematuro propor uma Os apósitos de carvão activado são constituídos classificação, dado que, os diferentes materiais por uma membrana não aderente, permeável, podem exibir mais que uma função (Elias, que envolve uma camada central impregnada 2009). com carvão activado. Este tem capacidade de adsorver moléculas que estão na origem do Alginatos intenso odor produzido pelo metabolismo de Os alginatos derivam das algas castanhas e as bactérias anaeróbias. São permeáveis, mantêm suas fibras são sais de cálcio do ácido algínico o leito da ferida húmido e não devem ser (Rocha, 2006). Absorvem o exsudado por cortados sob o perigo de levar à descoloração capilaridade, podendo absorver um volume de dos tecidos, o que impedirá uma avaliação líquido entre 10 a 20 vezes o seu peso. Neste correcta da ferida e a avaliação de possíveis processo ocorre a troca de ião sódio do reacções de sensibilidade (Elias, 2004 e 2009). exsudado por ião cálcio do penso, formando-se Não devem ser colocados em feridas secas e um gel hidrófilo que, para além de absorver deve ter-se o cuidado de perceber se há exsudado, mantém a humidade no leito da referência a dor local, muitas vezes relacionada ferida promovendo assim o desbridamento com a adesão do penso ao leito da ferida (Elias, autolítico do tecido inviável, a granulação e o 2009). Requerem um penso secundário, sendo alívio da dor devido à acção humectante nas que a conjugação com um material que retenha terminações nervosas (Elias, 2009). Permitem a humidade e a afaste do carvão, vai melhorar o as trocas gasosas e têm ainda propriedades seu desempenho (Rocha, 2006). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 69 penso secundário de baixa aderência (Elias, Colagenase 2009). A colagenase é um produto existente na forma de pomada que, contém colagenase Espumas clostridiopeptidase A, parafina líquida e vaselina As espumas são constituídas, geralmente, por branca. É um agente desbridante enzimático três camadas: uma externa, hidrofóbica de que se liga ao colagénio. Na sua activação é poliuretano ou poliéster (confere capacidade de essencial a humidade, preferencialmente o efectuar trocas gasosas, mas não permite a exsudado da própria ferida. Quando aplicada, é passagem de fluidos e bactérias); uma camada absorvida de forma a chegar ao tecido viável no intermédia de poliuretano, poliéster, viscose, fundo do leito da ferida, quebrando as fibras de celulose, rayon ou poliacrilato (com função de colagénio que prendem o tecido necrótico à absorver o exsudado) e uma camada que entra base da ferida (Elias, 2009).Está indicada no em contacto com o leito da ferida, hidrofílica, desbridamento de tecidos mortos ricos em com silicone, carboximetilcelulose, poliuretano, fibrina. Como conduz à activação da fase pectina, gelatina ou propileno (permite remoção inflamatória, o que leva a um aumento da sem trauma). Mantêm o leito da ferida húmido produção de exsudado, a pele circundante deve criando as condições essenciais para que ser cuidadosamente vigiada. De forma a ocorra o processo de granulação. Têm muitas potenciar a actividade das enzimas, deve formas de apresentação sendo os pensos com utilizar-se um material que mantenha um rebordo adesivo, sem rebordo adesivo e as ambiente húmido (por exemplo, hidrocolóide), apresentações cavitárias, as mais tendo em conta que iodo, prata ou zinco generalizadas. Existem alguns autores que inactivam a colagenase (Rocha, 2006; Elias, dividem as espumas em hidrocelulares e 2009). hidropolímeros (Elias, 2004 e 2009). Apresentam uma capacidade de absorção de Colagénio exsudado em quantidade moderada ou elevada, O colagénio pode ser aplicado em todos os tipos tendo como vantagens a sua capacidade de de feridas crónicas sem tecidos necrosados e conter o exsudado (não deixam repassar para o em que se observa uma fase inflamatória muito leito da ferida o exsudado que foi absorvido, prolongada no tempo (Elias, 2009). Liga-se e prevenindo a maceração dos tecidos inactiva as MMPs que, produzidas em excesso adjacentes) e o facto de não deixarem resíduos degradam as fibras de colagénio, impedindo (importante na presença de feridas em desse modo a cicatrização. Para além disso, granulação). Podem ser utilizadas como penso liga-se e protege os factores de crescimento primário ou secundário. Na utilização para (Rocha, 2006). preenchimento de cavidades, não devem ficar Sendo biodegradável, não é necessário remover justas aos bordos, dado que com a absorção há os resíduos da aplicação anterior aquando das possibilidade de aumento de tamanho e trocas de penso. Deve ser coberto por um consequente pressão excessiva, o que pode danificar os tecidos neo-formados (Elias, 2009). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 70 adjacentes, transformando lentamente o penso Hidrocolóides em gel que, mantém o leito da ferida húmido. Apresentam-se sob a forma de pensos ou Promovem o desbridamento autolítico e a pastas e são constituídos por uma mistura de granulação, diminuem a sensação de dor local, gelatina, pectina e carboximetilcelulose. As são permeáveis e têm a capacidade de absorver apresentações em pensos têm uma película exsudado até um máximo de trinta vezes o seu externa impermeável de poliuretano (confere a peso (Elias, 2004 e 2009). capacidade de efectuar trocas gasosas e de não Estão indicadas em feridas muito exsudativas e permitir a passagem de fluidos e bactérias) e as a sua capacidade de remoção com relativa pastas têm um suporte base de poliéster, goma ausência de dor é uma vantagem. Como forma ou excipientes gordos. A carboximetilcelulose um gel coeso, torna mais fácil a sua remoção na confere ao penso capacidade moderada de totalidade e de forma íntegra. Não devem ser absorção de exsudado e forma um gel que utilizadas em feridas com reduzida produção de mantém o leito da ferida húmido, desencadeia exsudado e à semelhança dos alginatos mecanismos de desbridamento autolítico, requerem um penso secundário para a fixação intervém na granulação e diminui a sensação de (Elias, 2009). dor local (Elias, 2004 e 2009). São utilizados em feridas com tecido de Hidrogeles granulação ou epitelização que, apresentem Os hidrogeles existem comercializados sob moderado ou pouco exsudado e como penso duas formas de apresentação: gel amorfo e secundário de outros (hidrogel, colagenase). apósito (Rocha, 2006). O gel é composto Não se recomenda a utilização em feridas muito essencialmente à base de água (70 a 96%), exsudativas e em feridas infectadas, em contendo ainda propilenoglicol, pectina e particular por bactérias anaeróbias (Elias, 2009). carboximetilcelulose ou alginato (Duque, 2009). A sua remoção pode causar traumatismo na Promovem a hidratação dos tecidos secos por pele circundante friável, existem relatos de cedência de água, cuja libertação é regulada hipergranulação quando existe um uso pelos restantes constituintes. O elevado teor de prolongado e o gel que se forma tem uma água no leito da ferida, estimula a migração e coloração amarelada e um cheiro desagradável produção de enzimas proteolíticas que ajudam (Elias, 2009). no processo de desbridamento autolítico do tecido necrosado/ desvitalizado. O ambiente Hidrofibras húmido também estimula a angiogénese e a As hidrofibras são constituídas por granulação dos tecidos, para além de diminuir a carboximetilcelulose sódica com um baixo grau sensação de inflamação e de dor local (Elias, de carboximetilação que as torna pouco 2009). solúveis, mas com uma elevada capacidade de Deve ter associado um penso que permita as absorção. A absorção do exsudado, ocorre trocas gasosas, seja impermeável às bactérias e verticalmente e sem expansão lateral evite absorver o gel ou mesmo permitir a sua prevenindo a maceração dos tecidos evaporação. As opções mais adequadas são as JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 71 películas transparentes e os hidrocolóides. A sua utilização em feridas com exsudado é Películas transparentes desnecessária e contraproducente pois pode As películas transparentes, também conhecidas levar à maceração dos bordos e da pele por filmes, são constituídas por uma fina circundante (Elias, 2009). camada de poliuretano. São produtos barreira que permitem as trocas gasosas e impedem o Iodo contacto dos fluidos exteriores e bactérias com O iodo é um elemento não metálico que, pode a pele. Estão indicadas para a protecção da ser usado em feridas infectadas, desde que pele macerada, sendo que também podem ser incluído em formas galénicas que permitam a utilizadas como penso secundário de hidrogel, sua libertação constante e em níveis hidrofibras, entre outros. Como são terapêuticos. Tem propriedades bactericidas, impermeáveis permitem a prestação de tendo sido comprovada contra bactérias, fungos, cuidados de higiene completos (Elias, 2009). protozoários, vírus e alguns esporos. No entanto, tende a ser inactivado pela matéria Poliacrilato orgânica presente no leito da ferida e se a sua O penso de poliacrilato é constituído por uma concentração na ferida for muito elevada torna- camada exterior de fibra sintética e uma camada se tóxico para os fibroblastos, atrasando a interna constituída por duas camadas de cicatrização. celulose que envolvem grânulos de poliacrilato Existem dois tipos de pensos que libertam iodo saturados com solução de ringer. A camada que de forma controlada e contínua. Um constituído entra em contacto com o leito da ferida não por uma rede de cadexómero que liberta iodo permite a adesão aos tecidos e é permeável ao lentamente após absorver água ou exsudado exsudado e à solução de ringer. A camada que (existe na forma de pasta e de grânulos) e que não entra em contacto, é hidrófoba e tem como está indicado para feridas infectadas com função conservar a humidade e não permitir a exsudado. Outro constituído por uma compressa passagem de fluidos para o exterior. Os de viscose impregnada por polietilenoglicol que, grânulos de poliacrilato hidratam o leito da ferida liberta o iodo para o leito da ferida e está por cedência de solução de ringer e a celulose indicado para feridas infectadas pouco tem alguma capacidade de retenção de exsudativas. A grande diferença é que o exsudado (Elias, 2009). primeiro penso liberta o iodo de uma forma Está indicado no desbridamento (autolítico) de sustentada ao longo do tempo, enquanto o tecidos necrosados secos. Não deve ser cortado segundo utiliza o iodo de uma forma muito e aquando da sua aplicação deve observar-se rápida (Elias, 2004 e 2009). que fica no interior das margens, uma vez que Necessita de um penso secundário que, não pode provocar maceração dos seus bordos. deixe resíduos no leito da ferida. Não deve ser Assim, necessita de um penso secundário que o utilizado em caso de sensibilidade ao produto, mantenha seguro e previna a sua deslocação feridas profundas e distúrbios renais ou da (Elias, 2009). tiróide (Elias, 2009). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 72 Prata deste material e gera muita confusão (Elias, A prata, em soluções concentradas de ácidos, 2009). Contudo, com conhecimentos origina sais iónicos com propriedades provenientes de várias áreas do saber, antimicrobianas. Tem um largo espectro de diferenciadas e complementares, será possível acção, sendo activa contra bactérias, fungos e suprimir algumas lacunas que verificamos na alguns vírus. Os pensos contendo prata estão nossa praxis diária. assim indicados em feridas infectadas. Encontram-se no mercado várias apresentações Referências Bibliográficas que combinam diversos produtos com prata (1) European Pressure Ulcer Advisory Panel and iónica, como por exemplo carvão activado, National Pressure Ulcer Advisory Panel hidrofibras, alginatos ou espumas (Elias, 2004 e (EPUAP), (2009). Prevention and treatment of 2009). pressure ulcers: quick reference guide. Na selecção do penso deverá ter-se em conta Washington DC: National Pressure Ulcer aspectos específicos da ferida17. Por exemplo, Advisory Panel. os pensos contendo prata e carvão activado (2) DUQUE, H. et al (2009) Úlceras de Pressão: combinam o poder adsorvente do carvão com o Uma abordagem estratégica. Coimbra: poder antimicrobiano da prata. Os pensos de Formasau, Formação e Saúde, Lda. ISBN prata com hidrofibras, alginatos ou espumas 978-972-8485-98-6. associam a capacidade de absorção à acção (3) ROCHA, M. et al (2006) Feridas uma Arte antimicrobiana (Elias, 2009). Secular: Avanços Tecnológicos no Tratamento Existem também apresentações com prata de Feridas. Coimbra: Edições MinervaCoimbra. metálica. Os nanocristalinos são constituídos ISBN 972-798-176-3. por camadas alternadas de rayon/poliéster e de (4) GOUVEIA, J.; SECO, A. (2008) Terapia de polietileno com nanocristais de prata metálica, Cicatrização em ambiente húmido: a caminho permitindo a rápida libertação desta (Elias, do sucesso. Disponivel on-line em www.gaif.net 2004). (26/11/2009) Se ao fim de duas semanas de utilização não se (5) European Wound Management Association observarem melhorias significativas na evolução (EWMA), (2004) Position Document: Wound da ferida deve suspender-se a aplicação e fazer Bed Preparation in Practice. London: MEP Ltd. uma reavaliação do doente. Se a evolução for (6) ELIAS, C. et al (2009) Penso – Acto de favorável, também não está indicada uma Pensar uma Ferida. Tipografia Lousanense, utilização demasiado prolongada, uma vez que Lda. ISBN 978-989-20-1595-5. se o número de iões de prata for muito superior (7) GOUVEIA, J. (2009) ao número de bactérias, poderá afectar Porque é Importante Medir. Disponivel on-line fibroblastos e células epiteliais (Pina, 2006). em www.gaif.net (26/11/2009) Medição de Feridas: (8) MORISON, M. (2004) Prevenção e CONCLUSÃO Tratamento de Úlceras de Pressão. Loures: A abundância de material de penso com acção Lusociência. ISBN 972-8383-68-1. terapêutica torna muito complexa a selecção JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951 Volume 1. Edição 2 Página 73 (9) FERREIRA, P. et al (2007) Risco de Desenvolvimento de Úlceras de Pressão: Implementação Nacional da Escala de Braden. Loures: Lusociência. ISBN 978-972-8930-37-0. (10) DEALEY, C. (1999) O papel dos hidrocolóides no tratamento de feridas. Revista Nursing. ISSN: 0871-6196. N.º 138. (11) MADEIRA, C. et al (2007) Desbridamento de tecido desvitalizado: modalidades e outras opções. Revista Nursing. Lisboa. ISSN 0871-6196. N.º 221. (12) FORNELLS, M. et al (2008) Maceração e Exsudado: Desde o leito da ferida ao limite da ferida crónica. Disponivel on-line em www.gaif.net (13) SUB-GRUPO HOSPITALAR CAPUCHOS/ DESTERRO [SD] Prevenção e Tratamento das Úlceras de Pressão. Lisboa: Comissão de controlo de infecção hospitalar do sub-grupo hospitalar. (14) SANTOS, C. (2008) O uso de compressas pode sair caro. 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