Universidade Católica Portuguesa Centro Regional das Beiras - Viseu Departamento de Economia, Gestão e Ciências Sociais Faculdade de Educação e Psicologia Modelo TEACCH Intervenção em crianças com PEA Estudo de Caso Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para Obtenção de grau de mestre em Ciências da Educação – Especialização em Educação Especial no Domínio Cognitivo e Motor Trabalho efetuado sob orientação do Professor Doutor José Afonso Baptista Nádia Catarina Ferreira Cardoso Viseu 2014 Universidade Católica Portuguesa Centro Regional das Beiras – Viseu Faculdade de Educação e Psicologia Modelo TEACCH Intervenção em crianças com PEA Estudo de Caso Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional das Beiras, sob orientação do Professor Doutor José Afonso Baptista para obtenção do Grau de Mestre em Ciências da Educação na área científica de Educação Especial. Nádia Catarina Ferreira Cardoso Viseu 2014 Dedico este trabalho aos meus pais, meus irmãos e ao João, pela presença sempre marcante, pelo amor demonstrado, confiança e conselhos. Sem eles, esta caminhada teria sido muito mais difícil. V Agradecimentos Este espaço é dedicado àqueles que deram a sua contribuição para que esta dissertação fosse possível, apesar da dificuldade em transcrever para o papel a expressão dos meus mais sinceros agradecimentos: Em primeiro lugar, queria demonstrar todo o apreço ao Doutor José Afonso Baptista, meu orientador, pela ajuda, incentivos e disponibilidade sempre demostrados nos momentos fundamentais para terminar este trabalho. A todos os profissionais pela colaboração e incentivo constante, proporcionando condições à concretização deste projeto. Ao “Rui”, “Emanuel”, ”Luís”, “Victor”, “Duarte”, “Sérgio” e ao “Miguel”, por serem crianças tão especiais. E aos seus progenitores, que sempre se mostraram disponíveis ao longo de todo este trabalho. À Milene, pela alegria contagiante e que sempre soube escutar as minhas incertezas e medos, e que me permitiu caminhar mais segura e tranquilamente ao longo deste projeto. Ao João pela sua colaboração na revisão dos textos, pelo amor, dedicação e pelo incentivo dado nos momentos mais oportunos. À Escola por me possibilitar a observação na Unidade de apoio a crianças com Autismo. Aos meus verdadeiros amigos, pelo elo de amizade desmedida que nos liga. Aos meus colegas de trabalho, pela disponibilidade sempre demostrada, pela amizade, simpatia e colaboração. De um modo muito especial, agradeço aos meus pais e irmão por acreditarem em mim! Para finalizar, a todos aqueles que de uma forma ou outra me incentivaram. A todos vós MUITO OBRIGADA VI Resumo Partindo da nossa experiência pessoal e profissional relacionada com a Educação Especial, este trabalho surge como uma abordagem às respostas educativas concretas face à criança portadora de Perturbação do Espectro do Autismo, no contexto educativo que frequenta. O contexto em análise foi a sala de ensino regular em articulação com a Unidade de Ensino Estruturado para a Educação de Alunos com Perturbação do Espectro do Autismo frequentadas pelas crianças que são objeto deste estudo, num Agrupamento de Escolas do concelho X. Para a realização deste trabalho optámos por utilizar o método de investigação qualitativa, naturalista, de tipo etnográfico, para o estudo relativo às crianças com PEA. Relativamente aos docentes e às suas perceções sobre o ensino estruturado e a Sala Teacch, optamos por uma abordagem quantitativa, com base no inquérito para recolha de dados. Alunos, professores, pais, técnicos, todos os que intervêm na educação destas crianças, foram os participantes e colaboradores nesta investigação. Sem a cooperação de todos os profissionais que trabalham com estas crianças, este estudo não teria sido possível. Inicia-se este trabalho no plano teórico com a apresentação da Perspetiva Histórica da Educação Especial; das várias perspectivas do Espectro do Autismo ao longo dos anos, procurando compreender o que é o Autismo, a sua etiologia, características, diagnósticos e diferentes modelos que podem ser implementados em crianças com Autismo. Numa segunda parte, expomos os resultados obtidos nos dois estudos de caso complementares já referidos. Pretendemos, assim, contribuir para uma mudança de atitudes no que diz respeito a toda a comunidade educativa, promovendo desta forma a inclusão da criança com Espetro de Autismo, na salas Teacch, na sala do ensino regular, bem como nos diferentes contextos escolares. Palavras chave: Autismo, Ensino Estruturado, Modelo Teacch, Inclusão VII Abstract Embarking upon our personal and professional experience related to special education, this study emerges as an approach to address the specific educational responses for children with Autism Spectrum Disorder within the educational context that they attend. The context analysis was the regular school room in conjunction with the Unit Structured Teaching for the Education of Students with Autism Spectrum Disorder frequented by children who are the subject of this study taken from a grouping of schools in the municipality of X. For this task we chose to use the method of qualitative, naturalistic, ethnographic research type for the study of children with ASD. Regarding teachers and their perceptions about structured teaching and Teacch room, we opted for a quantitative approach, based on survey data collection. Students, teachers, parents, coaches, all involved in the education of these children were participants and collaborators in this research. Without the cooperation of all professionals working with these children, this study would not have been possible. We began this study at the theoretical level with the presentation of the Historical Perspective of Special Education; the varying perspectives of the Autism Spectrum over the years, trying to understand what Autism is, its etiology, characteristics, diagnoses and the different models that can be implemented in children with Autism. In a second part, we expose the results obtained in the two previously cited additional case studies. We intend, therefore, to contribute to a change in attitudes with regard to the entire educational community, thus promoting the inclusion of children with Autism Spectrum in Teacch rooms in regular education classrooms as well as in differing school contexts. Keywords: Autism, Structured Teaching Model Teacch , Inclusion VIII Índice Índice de quadros Índice de figuras Índice de gráficos Lista de siglas e abreviaturas Introdução ......................................................................................................................... 1 PARTE I - Componente Teórica ...................................................................................... 4 Capítulo 1- Educação Especial ......................................................................................... 5 1.1-Perspetiva Histórica da Educação Especial ................................................................ 5 1.2 - Marcos da Educação Especial .................................................................................. 8 1.3 -Educação Especial Em Portugal .............................................................................. 10 Capítulo 2- O Autismo – Perspetiva histórica ................................................................ 17 2.1 - Do conceito ao diagnóstico .................................................................................... 20 2.1.1- Definição de Autismo........................................................................................... 20 2.1.2 – Diagnóstico da PEA ........................................................................................... 22 2.1.3- Características das crianças com Autismo ........................................................... 28 2.1.4- Perspetivas sobre a Etiologia do Autismo ............................................................ 31 2.1.5- Teorias Psicogenéticas ......................................................................................... 32 2.1.6- Teorias Biológicas ................................................................................................ 32 2.1.7 - Teorias Psicológicas ............................................................................................ 33 Capítulo 3- Modelos de Intervenção .............................................................................. 35 3.1- PEC´S – The Picture Exchange Communication System ....................................... 37 3.2-Programa ABA ......................................................................................................... 38 3.3 - Programa Floor-Time / Modelo DIR ..................................................................... 39 3.4- Modelo Son Rise ..................................................................................................... 40 3.5- Metodologia Teacch ................................................................................................ 41 4- Inclusão da criança com Autismo .............................................................................. 41 PARTE II - Componente Empírica ................................................................................ 46 IX Capítulo 1- Metodologia................................................................................................. 47 1 - Objetivos ................................................................................................................... 47 2 - Hipóteses ................................................................................................................... 48 3 - Instrumentos e fontes de recolha de dados ................................................................ 49 4 - Relevância e pertinência do estudo a realizar ........................................................... 49 5- Enquadramento Geográfico da rede escolar............................................................... 50 5.1- Contexto escolar ...................................................................................................... 52 6 - Modelo Teacch .......................................................................................................... 54 7 - Recursos Materiais .................................................................................................... 55 8 - O que proporciona o Modelo Teacch ........................................................................ 56 9 - Estrutura Física da sala.............................................................................................. 57 10 - Organização do tempo e horário individual ............................................................ 57 11-Plano de trabalho ....................................................................................................... 58 12-Organização do Espaço ............................................................................................. 59 12.1- Área de transição ................................................................................................... 59 12.2- Área de Reunião .................................................................................................... 59 12.3- Área de Trabalho de Grupo ................................................................................... 60 12.4-Área de Aprender ................................................................................................... 60 12.5- Área de Trabalhar .................................................................................................. 61 12.6- Área do Computador ............................................................................................. 62 12.7- Área de Brincar ..................................................................................................... 62 Capítulo 2 – O ensino estruturado e a Sala Teacch ........................................................ 63 1.Perfil e percurso dos alunos ......................................................................................... 63 1.1- Caracterização do Rui ............................................................................................. 63 1.2- Caracterização do Emanuel ..................................................................................... 71 1.3- Caracterização do Luís ............................................................................................ 81 1.4- Caracterização do Victor ......................................................................................... 91 X 1.5- Caracterização do Duarte ........................................................................................ 97 1.6- Caracterização do Sérgio....................................................................................... 102 1.7- Caracterização do Miguel...................................................................................... 112 Capítulo 3 – Ensino estruturado e a Sala Teacch: Perceções dos professores ............. 121 Conclusões .................................................................................................................... 176 1 - Observação em contexto de trabalho ...................................................................... 176 2 - O inquérito aos professores ..................................................................................... 177 3 - Confirmação das hipóteses ...................................................................................... 178 4 - Em síntese ............................................................................................................... 179 Bibliografia ................................................................................................................... 181 Anexo I – Autorização para a utilização do questionário Anexo II – Questionário Anexo III – Pedido e Autorização dos Encarregados de Educação para apresentação do estudo dos educandos XI Índice de quadros Quadro 1 - Características do Autismo, segundo Garcia e Rodriguez (1997) ............... 30 Quadro 2 - Número de assistentes operacionais ............................................................. 54 Quadro 3 - Números de alunos e professores no Agrupamento de Escolas X ............... 54 XII Índice de figuras Figura 1 - Concelho X .................................................................................................... 51 Figura 2 - Exemplo de um horário realizado com objeto ............................................... 57 Figura 3 - Horário utilizado na UEEA em estudo .......................................................... 58 Figura 4 - Plano de trabalho/ área de transição .............................................................. 58 Figura 5 - Exemplo de um horário na UEEA em Estudo ............................................... 59 Figura 6 - Área de “trabalhar em grupo” ........................................................................ 60 Figura 7 - Área do “aprender” ........................................................................................ 60 Figura 8 - Exemplo da área de “trabalhar” ..................................................................... 61 Figura 9 - Exemplo da área de “trabalhar” 2 .................................................................. 61 Figura 10 - Exemplo da área do “computador” .............................................................. 62 Figura 11 - Exemplo da área do “Brincar” ..................................................................... 62 XIII Índice de gráficos Gráfico 1 - Idade dos professores participantes............................................................ 122 Gráfico 2-Distribuição dos professores por sexo ......................................................... 122 Gráfico 3- Contexto profissional dos professores ........................................................ 123 Gráfico 4- Habilitações literárias dos professores ........................................................ 124 Gráfico 5-Formação Especializada dos professores ..................................................... 125 Gráfico 6-Experiência docente dos professores e técnicos .......................................... 127 Gráfico 7-Número de crianças com PEA na sua turma ................................................ 128 Gráfico 8 - Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 129 Gráfico 9-Relação docente/aluno PEA ......................................................................... 130 Gráfico 10-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 131 Gráfico 11-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 132 Gráfico 12-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 133 Gráfico 13-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 134 Gráfico 14-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 135 Gráfico 15-Relação docente/aluno PEA ....................................................................... 136 Gráfico 16-Formação especializada no domínio da PEA ............................................. 137 Gráfico 17-Áreas de trabalho com com alunos PEA .................................................... 138 Gráfico 18-Autoconfiança profissional dos docentes................................................... 139 Gráfico 19-Dificuldades sentidas a trabalhar com crianças portadoras de PEA .......... 140 Gráfico 20-Perceções sobre os benefícios do Ensino Estruturado – Modelo Teacch .. 141 Gráfico 21-A perspetiva dos docentes e técnicos sobre o ensino estruturado - Modelo TEACCH, como complemento da inclusão em turmas regulares. ............................... 142 Gráfico 22-Perceções dos professores sobre a Sala Teacch relativamente à satisfação das necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA ....................................... 143 Gráfico 23-Perceções dos professores sobre a frequência de uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch ......................................................................................... 144 Gráfico 24-Tempo de permanência na sala de Ensino Estruturado Modelo Teacch.... 145 Gráfico 25-Desenvolvimento da criança com PEA no Ensino Estruturado Modelo Teacch........................................................................................................................... 146 Gráfico 26-As crianças PEA sairão prejudicadas se não frequentarem a Sala Teacch 147 Gráfico 27-Os alunos com PEA prejudicam os outros alunos ..................................... 148 XIV Gráfico 28-É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de Ensino regularcom alunos com PEA ........................................................................................ 149 Gráfico 29-Os professores de Educação Especial usam métodos de ensino diferentes em relação aos professores do ensino regular .................................................................... 150 Gráfico 30-Os professores de educação especial são mais eficazes que os professores do ensino regular no ensino de crianças com PEA ............................................................ 151 Gráfico 31-O professor da educação especial é um recurso fundamental na escola .... 152 Gráfico 32-Considera importante a presença de outros técnicos para ajudar a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA? .......................................................................... 153 Gráfico 33-O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular ............................................................. 154 Gráfico 34-As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da educação especial ............................................................... 155 Gráfico 35-Necessidade do programa educativo individualizado (PEI) ...................... 156 Gráfico 36-Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras crianças .............................................................................................................. 157 Gráfico 37-O ensino estruturado – Modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pós- escolar ......................................................................................... 158 Gráfico 38-A Unidade de Ensino Estruturado – Modelo Teacch deve estar integrada numa escola do ensino regular para promover a inclusão das crianças com PEA ....... 159 Gráfico 39-O ensino Estruturado – Modelo Teacch facilita um melhor processo de aprendizagem ................................................................................................................ 160 Gráfico 40-O ensino estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia ...................................................................................................................................... 161 Gráfico 41-O Ensino Estruturado - Modelo Teacch melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças com PEA .................................................................................. 162 Gráfico 42-O Decreto-Lei n.º 3/2008 contribui para a inclusão de crianças com PEA 163 Gráfico 43-A importância da CIF na inclusão dos alunos com PEA ........................... 164 Gráfico 44-A inclusão é um direito das crianças com PEA ......................................... 165 Gráfico 45- É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA ...................................................................................................................................... 166 Gráfico 46-A inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas .... 167 Gráfico 47-Cooperação entre professores de educação especial/técnicos e professores do ensino regular ............................................................................................................... 168 XV Gráfico 48-Modos de cooperação................................................................................. 169 Gráfico 49-Planificação das actividades....................................................................... 170 Gráfico 50-Dificuldades na realização do trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo ............................................................................. 171 Gráfico 51-As maiores dificuldades sentidas pelos docentes ....................................... 172 Gráfico 52-Terapias das crianças com PEA ................................................................. 173 Gráfico 53-As terapias na escola são benéficas para os alunos? .................................. 175 XVI Lista de Siglas e Abreviaturas AAP - Academia Americana de Pediatria APA - Associação Psiquiátrica Americana APPACM- Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental APPC - Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral APPDA - Perturbações do Desenvolvimento e Autismo CERCIS - Cooperativas de educação e reabilitação para crianças inadaptadas CID - Classificação Internacional de Doenças CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CSIE - Centre for Studies on Inclusive Education DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais ELI - Equipa Local de Intervenção ICF- Classification of Functioning, Disability and Health IPI - Intervenção Precoce na Infância IPSS - Instituições Particulares de Solidariedade Social MSST - Ministério da Segurança Social e do Trabalho NEE – Necessidades Educativas Especiais OMS - Organização Mundial de Saúde PEA – Perturbação do Espetro do Autismo PEC´S - Sistema de Comunicação por Figuras PEI - Programa Educativo Individual PIIP - Plano Individual de Intervenção Precoce SPC -Comunicação Aumentativa e Alternativa UEEA – Unidade de Ensino Estruturado para Alunos com Autismo UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura XVII XVIII INTRODUÇÃO XIX Introdução O presente trabalho, realizado no âmbito da dissertação de mestrado em Educação Especial: Domínio Cognitivo e Motor, tem como objetivos aprofundar os conhecimentos sobre esta problemática que faz as crianças portadoras de Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) tão desiguais, e entender as dificuldades que apresentam para compreender um “mundo” que parece tão distante. Este projeto teve origem no exercício de funções como docente de Educação Especial da sala Teacch durante quatro anos consecutivos. No sentido de se alcançarem respostas para o presente estudo, constituiu-se como campo empírico de análise a sala Teacch e salas do ensino regular do Agrupamento de Escolas do Interior. É importante deixar explícito que este projeto não equivale de modo algum a uma crítica ao funcionamento de todo o conjunto de agentes educativos, mas sim explanar mudanças que promovam a qualidade do ensino do Método Teacch e a inclusão destes alunos na sala do ensino regular bem como a sensibilização de docentes. Para levar a cabo este trabalho, realizou-se uma pesquisa sobre o Autismo e a presença de alunos com esta patologia no dia-a-dia escolar. Efetuada a revisão da literatura, que proporcionou um quadro concetual e as lentes teóricas para compreender e aprofundar esta problemática, seguiu-se a realização de um estudo empírico, tendo como objetivo conhecer quais as atividades desenvolvidas pelas crianças Autistas na sala de Ensino Estruturado para Alunos Autistas (UEEA), bem como na sala do ensino regular. A análise e reflexão desta problemática tornou clara a importância do ensino estruturado - Modelo Teacch -, como resposta às necessidades e características das crianças portadoras de PEA. A presença do aluno Autista nos estabelecimentos de ensino públicos é uma realidade com a qual os docentes e toda a comunidade educativa têm de saber lidar da melhor forma, para que estes alunos se sintam integrados. O trabalho nas salas UEEA permite-lhes desenvolver atividades pedagógicas, lúdicas e de carácter social mais específicas e desenvolvidas de acordo com o perfil de cada um, de forma a minimizar as suas dificuldades e a maximizar as suas potencialidades. No entanto, não é somente o professor da Educação Especial o responsável pelo aluno, o professor do ensino regular tem também responsabilidades no processo de 1 inclusão da criança Autista, apresentando-se esta como um verdadeiro desafio. Quando está presente na sala do ensino regular, a criança Autista tem a possibilidade de interagir socialmente e comunicar com os seus pares, mas para que tal aconteça tem de ser muito estimulada e tem de haver uma interajuda entre todos os profissionais que a rodeiam. Os docentes e as instituições escolares devem fazer um esforço, no sentido de ir ao encontro da Declaração de Salamanca, quando afirma que “Uma escola para todos, ou escola inclusiva tem de ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada nas crianças, susceptível de as educar a todas com sucesso” (1994:6). Sempre que possível, todos devem aprender juntos, independentemente das suas diferenças. Assim estruturamos o nosso projeto da seguinte forma: Numa Primeira Parte faz-se a abordagem teórica e a revisão da literatura. No Capítulo1 será abordada a Perspetiva Histórica da Educação Especial: Marcos da Educação Especial e Educação Especial em Portugal. No Capítulo 2 procura-se clarificar a perspetiva histórica do Autismo: do conceito ao diagnóstico; características do Autismo; o conceito segundo Kanner, Asperger e outros autores; perspetivas sobre a etiologia do Autismo, teorias biológicas, teorias cognitivas e teorias psicogenéticas. No Capítulo 3 abordamos de uma forma muito sucinta os Modelos de intervenção mais eficazes; aprofundamos a problemática da inclusão da criança com Autismo. Na Segunda Parte, esta investigação tem um contributo mais pessoal e materializa-se na componente empírica. O Capítulo 1 é dedicado à metodologia. Aí se definem os objetivos e as hipóteses, identificam-se os instrumentos e fontes de recolha de dados, analisam-se a relevância e pertinência do estudo, faz-se o enquadramento geográfico da rede e do contexto escolares, com referência à população em geral e à população escolar, ao modelo Teacch e aos recursos humanos e materiais de que necessita. Faz-se ainda referência à estrutura física da sala Teacch à organização do tempo e horário individual, com uma descrição minuciosa e documentada das áreas e atividades. 2 No Capítulo 2 apresenta-se um estudo de caso com observação dos participantes no seu ambiente natural. Trata-se do acompanhamento e observação direta de sete crianças com PEA, traduzidas em sete narrativas que descrevem o perfil de cada criança, o seu meio social e familiar, o seu percurso escolar e a evolução, sempre positiva, graças ao ensino estruturado e ao modelo Teacch. No Capítulo 3 apresentam-se os dados e analisam-se os resultados de um inquérito aos professores através de gráficos, privilegiando a imagem de leitura mais rápida e evitando análises textuais repetitivas em relação aos gráficos. Finalmente apresentam-se as Conclusões, retomando os resultados da observação direta das crianças e do inquérito aos professores, com uma breve referência à confirmação das hipóteses e com uma síntese final. 3 PARTE I - Componente Teórica 4 Capítulo 1- Educação Especial 1.1-Perspetiva Histórica da Educação Especial Atualmente, a crescente valorização da diversidade e a defesa da igualdade de oportunidades educativas para todos, deu lugar a que na escola se encontrem condições para respeitar as diferenças e as necessidades próprias de cada aluno, no entanto nem sempre foi isso que se verificou, e a Educação Especial sofreu muitas modificações ao longo dos anos. Muitos autores relatam a existência de fases distintas na atenção e atendimento à pessoa com deficiência, abrindo um caminho ao longo da história para o reconhecimento da sua especificidade e necessidades. É importante um conhecimento deste caminho para uma melhor assimilação da realidade atual, dos princípios e motivos essenciais das atuais respostas no campo da Educação Especial. Na história da humanidade sempre existiram, em todas as sociedades, dificuldades em lidar com o estigmatizado de “diferente”, porque não é considerado como um elemento evolutivo dessa mesma sociedade. Nas escolas, que deveriam ser o modelo de aceitação da diferença, essa dificuldade é bastante visível em relação aos alunos com NEE, tantas vezes perseguidos pela exclusão. Já na Grécia Antiga, as crianças com deficiência eram abandonadas nas montanhas e em Roma eram atiradas aos rios (Correia,1997). “Durante a idade Média a Igreja condenou o infanticídio, mas, por outro lado, aceitou a ideia de atribuir a causas sobrenaturais as anormalidades de que padeciam as pessoas. Considerou-as possuídas pelo demónio e outros espíritos maléficos e submetidas a práticas de exorcismo” (Correia, 1997: 22). Existem documentos que descrevem a matança de adolescentes de ambos os sexos no séc. XVII, acusados de feitiçaria e por isso tinham ficado “diferentes” (Miller, 1953). Durante séculos, muitos indivíduos com deficiência foram alvo de perseguições, sendo tantas vezes executados publicamente na fogueira da inquisição. Entre os sécs. XVIII e XIX, observaram-se avanços e recuos na forma de lidar com a pessoa deficiente. Os ideais defendidos durante a revolução francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – tornaram-se favoráveis para as pessoas diferentes. A defesa 5 destes princípios, levou a uma mudança, na forma como a sociedade via a pessoa com deficiência. A partir do séc. XVIII, inicia-se o período da institucionalização, etapa que ficou marcada pela passagem da Diferença para a Proteção, prestando-se assistência aos mais desfavorecidos (Bautista, 1997). As pessoas com deficiência passaram a ser acolhidas em asilos, ao mesmo tempo que eram valorizadas como mão-de-obra. Ainda no século XVIII surge uma visível modificação a esta forma de pensar, com o aparecimento da filosofia de Locke e de Rousseau, de cariz mais Humanista e Tolerante e que cria uma nova maneira de olhar estas pessoas. Em resultado desta nova forma de encarar o deficiente, estes passam a ser internados em orfanatos, manicómios, ou em outro tipo de instituição pertencente ao Estado. Jiménez (1997) refere-se a este período como a era das instituições. Em 1755, l’Abbé de l´Epée1 abriu a primeira escola pública para alunos surdos, mais tarde conhecida como Instituto Nacional de Surdos Mudos de Paris, e aperfeiçoou a técnica usada inicialmente por Jacob Rodrigues Pereira2 que passava por promover a desmutização, através da vista e do tacto, utilizando a leitura labial e a estimulação auditiva para surdos. Em 1784, Valentim Hiiy, criou em Paris um Instituto para cegos, do qual foi aluno Louis Braille, o futuro inventor do método de leitura para cegos que tem o seu nome. No início do séc. XIX, acentua-se o período de institucionalização e é a partir de então que se pode considerar ter surgido a Educação Especial (Correia, 1997). Foi o médico Jean Marc Gaspard Itard, reconhecido como sendo o primeiro investigador a utilizar métodos sistematizados para o ensino de deficientes, apelidado “pai da educação especial” (Fonseca, 1989) que deu um importante contributo, ao considerar que existiam inteligências educáveis. Trabalhou durante seis anos no famoso caso Victor, “ o menino de Aveyron” (Bautista 1997: 23).Um menino, presumivelmente por ter deficiência abandonado nas florestas do sul da França, criado num bosque, junto aos animais e que agia como eles, tentando recuperá-lo e destacando o quão importante é o meio onde se desenvolve uma criança, bem mais do que os fatores hereditários. 1 Charles-Michel de L'Épée, conhecido como Abbé de L'Épée (1712-1789), é um padre francês precursor do ensino dos surdos pelo médodo gestual (Wikipédia). 2 Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780), nascido em Peniche, foi educador de surdos na Escola de Paris. Embora usasse gestos, defendia que os surdos deveriam ser oralizados (Wikipédia). 6 No ano de 1825, surge Louis Braille, que sugere um sistema táctil de leitura e escrita para cegos, que ficou conhecido como o Método Braille. (Políticas de Educação em Portugal – Universidade Católica – Centro Regional das Beiras: 10) Já no séc. XX, os deficientes continuam a ser e separados da sociedade, as escolas especiais eram cada vez mais, separando as pessoas com deficiência por diferentes etiologias: cegos, surdos, deficientes mentais, paralisia cerebral, dificuldades de aprendizagem, etc. Estes centros especiais e especializados eram separados do ensino regular (Bautista, 1997). No entanto a vontade de colocar o aluno com necessidades educativas especiais em situação igual à do seu companheiro dito “normal”, levou à sua inserção em classes regulares e implicou mudanças legislativas e educacionais profundas. Para Becker e Carnine (1980, citados por Ferreira, 2007: 40) “ensinar crianças com NEE é ensinar mais e não menos”. Esta é uma das citações que melhor traduz a opinião proveniente na fase de integração das crianças com NEE e a sua evolução face às ideologias anteriormente preconizadas. A intenção da integração não era extinguir as diferenças, mas sim possibilitar que todos os alunos conseguissem pertencer a uma comunidade educativa que valorize e dê validade à sua individualidade (Stainback et al., 1994, citados por Correia, 2003). Para Lorente (1991), referido por Ruela (2001), existem duas ideias implícitas em todas as definições de integração. A primeira diz respeito à participação ativa da criança no seu processo educativo e a segunda tem a ver com a igualdade de relações entre pares. Segundo Helena Serra (2002): “Para os ideais republicanos, os instrumentos da construção da sociedade democrática que se preconiza, eram a educação e a instrução. Concretamente, para as crianças deficientes, foram tomadas medidas nas reformas educativas de 1911 e 1923 (de autoria de João Canonesas, na altura Ministro da Instrução Pública). Com efeito, em 21 de Junho de 1923, penúltimo dia do consulado ministerial de Camoesas, e com publicação no Diário do Governo de 2 do mês seguinte, foi apresentada à Câmara dos Deputados uma proposta de lei sobre a reorganização da educação nacional (o Projecto Camoesas) alicerçada no seu preâmbulo e estruturada em vinte e quatro bases, nas quais, naturalmente e tal como no relatório preambular, não deixou de ser considerada a questão da educação superior. Porém o governo caiu e, com ele, o Projecto de João Camoesas3”. 3 (Elvas, 1887 – New Bedford, E.U.A, 1951) 7 Já no séc. XXI, mais precisamente em 2001, surge a International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF), traduzida em Português em 2003 (CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde). No início do séc. XX, chegávamos a um ponto em que o sistema educativo Português estava dividido em dois: de um lado tínhamos as escolas ditas normais e do outro as escolas de educação especial. As classes sociais continuavam a existir. Porém, a Educação Especial continuou a sofrer mudanças, principalmente após a declaração de Genebra de 1924, da Assembleia da Liga das Nações. A declaração reconhece que "a criança deve ser protegida independentemente de qualquer consideração de raça, nacionalidade ou crença, deve ser auxiliada, respeitando-se a integridade da família e deve ser colocada em condições de se desenvolver de maneira normal, quer material, quer moral, quer espiritualmente" (Declaração de Genebra, 1924). Mas esta declaração não teve o impacto necessário no pleno reconhecimento internacional dos direitos das crianças. Entretanto surgiram a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) e a Declaração dos Direitos da Criança, proclamada pela Resolução da Assembleia Geral 1386 (XIV), de 20 de Novembro de 1959. Uma e outra defendiam o direito à educação obrigatória e gratuita pata todos. Estas medidas tiveram resultados positivos, uma vez que levaram à reorganização das instituições de atendimento à pessoa com deficiência e à criação de escolas ou turmas especiais, devendo a sociedade formar professores especializados. Posto isto, podemos verificar o que aconteceu até então. Inicialmente defendiase a segregação como o melhor caminho para as pessoas com deficiência. Seguiu-se uma segunda fase, uma fase proteccionista, em que se colocavam as crianças em asilos; passou-se para a emancipação, tentando aproveitar o que estas pessoas poderiam dar à sociedade; por último surge um projeto de integração, sustentado nas Declarações dos Direitos da Criança e do Homem, que defendiam a igualdade de ensino para todos. 1.2 - Marcos da Educação Especial Na década de 70 surgiu o movimento da Integração, com o conceito de normalização, declarando que, ao deficiente devem ser dadas condições, as mais idênticas possíveis às oferecidas pela sociedade ao cidadão comum. Mudam-se 8 progressivamente as opiniões sobre reabilitação, afirmando-se agora que a segregação nos aspectos educativos e sociais era antinatural e inadequada. Surge assim em 1975, nos Estados Unidos da América (EUA) a lei que possivelmente originou um maior impacto na história da Educação: a PublicLaw 94142, dando os primeiros passos para a educação inclusiva. Desde a sua publicação as escolas públicas dos Estados Unidos têm sido obrigadas a incluir estes alunos em turmas regulares, onde possam estudar juntamente com os seus pares sem qualquer tipo de deficiência. Em 1978, no Reino Unido surge um relatório de extrema importância o Warnock Report, que constituiu um modelo de atendimento centrado nas dificuldades do aluno e em serviços de atendimento. O Warnock Report define ainda a Integração como o “princípio que anuncia a educação não segregada a deficientes e não deficientes” (Madureira, 2003). Correia (1999), refere-se ainda à divisão das NEE, em permanentes e temporárias. As permanentes exigem adaptações generalizadas dos currículos de acordo com as características dos alunos, e mantêm-se durante grande parte do percurso ou mesmo todo o percurso escolar do aluno, como são exemplos os casos de Deficiência Mental, Autismo e outras patologias. As NEE de caráter temporário exigem modificações parciais do currículo escolar, adaptando-se às necessidades do aluno num determinado momento. O conceito de «inclusão» nasce, em 1986, nos Estados Unidos da América, com a Regular Education Initiative (REI), e culmina num movimento que tinha começado a surgir na Dinamarca já em 1959, no sentido de acabar com a segregação e a institucionalização nas escolas especiais. Em países como Inglaterra várias das iniciativas foram desenvolvidas desde então, procurando sempre o aperfeiçoamento do serviço prestado pelo poder político, através da integração entre as diferentes áreas como as da assistência social, saúde e trabalho. O CSIE (Centre for Studies on Inclusive Education) promoveu estudos que deram origem aos principais documentos sobre a área da Educação Especial: O UN Convention on the Rights of the Child (1989); o UN Standart Rules on the Equalisation of Opportunities for Persons with Disabilities (1993). 9 A declaração de Salamanca, aprovada em Junho de 1994, que resultou da conferência organizada pelo Governo Espanhol em cooperação com a UNESCO, tendo contado com a presença de 92 governos (incluindo Portugal) e 25 organizações Internacionais, define o objetivo de “ uma educação para todos “, em “escolas para todos” – instituições que incluam todas as pessoas, aceitem a diferença, apoiem as aprendizagens e respondam às necessidades individuais. Em suma, seriam “escolas que servem para todas as crianças de uma comunidade” (UNESCO, 1994). Este é o documento mais importante na construção de uma escola inclusiva. O princípio das escolas inclusivas é o seguinte: “ todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível, independentemente das suas dificuldades e das diferenças que apresentam” (Declaração de Salamanca, 1994: 21). Ao reconhecer os direitos dos alunos com necessidades educativas especiais por uma educação comum, de qualidade e equitativa para todos, a Convenção das Nações Unidas dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Nações Unidas, 2006) realçou a necessidade dos Estados membros se comprometerem a implementar um sistema educativo inclusivo. 1.3 -Educação Especial Em Portugal A Educação de crianças deficientes em Portugal teve um percurso semelhante ao que se verificou em outros países. Na segunda metade do séc. XIX a educação especial começa a ter alguma visibilidade, dando-se uma grande importância às instituições, asilos e institutos. A Associação de Surdos do Porto refere que, em 1823, surgiu, financiado pelo Rei D. João V, o primeiro Instituto de Surdos-Mudos e Cegos, em Lisboa, que mais tarde viria a ser integrado na Casa Pia. Para Ferreira (2007), em Portugal, a fase de segregação iniciou-se com a criação de duas instituições para crianças com deficiência. A primeira foi criada pelo Provedor da Casa Pia, José Maria Eugénio de Almeida, e a segunda surgiu em 1893, no Porto, com o primeiro colégio para crianças surdas com valência para outras deficiências, o Instituto Araújo Porto. Em 1913, é criado um curso para a especialização de professores surdos, por Aurélio da Costa Ferreira. Este curso é, para Sanches (2004), o primeiro grande passo para a formação de professores especializados em Educação Especial no nosso país. 10 Após vários anos de encerramento para obras, no ano 1945 é reaberto, sendo nele concebido o primeiro curso de “Preparação para professores de crianças Anormais” sob tutela do Ministério da Educação. A segunda metade do séc. XX fica marcada por um grande avanço na Educação Especial, fruto de uma forte intervenção do estado, liderada pelo Ministério dos Assuntos Sociais. São criadas instituições que ainda hoje existem como a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACM), bem como a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC), e a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA), que surgem com a intenção de satisfazer a variedade de necessidades de cada uma das crianças. Mais tarde, estas associações passam a ser apoiadas financeiramente pela Segurança Social. Surge, simultaneamente, o subsídio para as famílias com crianças com este tipo de necessidades. No início da década de setenta, o Ministro Veiga Simão apresenta publicamente as linhas gerais do seu projecto com propostas de expansão e modernização do sistema educativo. Tal reforma propunha: “uma política educativa mais dinâmica, capaz de pôr o sistema de ensino de acordo com os projectos políticos que então se sugeriam, de ligação preferencial ao ocidente, nomeadamente às organizações europeias. Estes anos são marcados por uma grande explosão escolar, por um aumento de escolaridade obrigatória e por uma necessidade estatística de apresentar um ensino medianamente desenvolvido, em termos quantitativos (Serra, 2002:129). Na mesma década emergem, num movimento a nível nacional, as cooperativas de educação e reabilitação para crianças inadaptadas (CERCIS), no sentido de dar resposta às necessidades das crianças com deficiência mental. Estas cooperativas surgem já com a tutela do Ministério da Educação e, em cinco anos, são criadas cinquenta e duas CERCIS, funcionando em regime de semi-internato. Algumas destas cooperativas oferecem também a valência da formação profissional às crianças e jovens que as integram. A escola é então encarada como instituição educativa ao alcance de todos – a escola de massas que ganha uma forma inevitável com o 25 de Abril. Num primeiro momento caracteriza-se por um cariz revolucionário, procurandose atingir uma sociedade socialista, defendendo-se para a sua concretização: a democratização do ensino; 11 a abertura da escola às massas; a alfabetização. No segundo momento, logo após este período revolucionário, tudo se redefine, insistindo-se na normalização e na eficiência, palavras comuns nos discursos dos ministros como nos relatórios de organizações internacionais importantes – o Instituto de Educação de Estocolmo e o Banco Mundial. Na altura da Revolução, a responsabilidade estatal pela educação dos deficientes era muito limitada. Em 1975/1976 são criadas as Equipas de Educação Especial, sendo esta a primeira medida de apoio directo às crianças com deficiência (inicialmente só deficiência motora e sensorial e, mais tarde, deficiência mental) integradas na educação regular. No entanto, estas equipas só são legalmente reconhecidas em 1988 (Conselho Nacional de Educação, 1998). Ainda nos finais da década de 70, são criados os Serviços de Apoio às Dificuldades de Aprendizagem (SADA). Estes serviços apresentam-se mais focados nas dificuldades de aprendizagem, assumindo uma abrangência interdisciplinar, com a integração de professores e psicólogos (Bairrão Ruivo, 1998). Na década de 80, um marco muito importante para a educação especial foi a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986. Esta lei refere o direito das crianças deficientes a uma educação adequada, a opção por uma educação integrada nas estruturas regulares de ensino e a tutela do Ministério da Educação sobre todas as iniciativas para crianças deficientes (cooperativas, instituições de solidariedade, estabelecimentos de ensino privados com fins lucrativos, etc.). Em 1987 surge um Decreto-Lei que vai determinar a regionalização dos serviços de ensino e são criadas as DRE´s – Direcções Regionais de Educação. Em 1988, os SADA (Serviços de Apoio às Dificuldades de Aprendizagem) são extintos, sem se realizar a avaliação da sua actividade ao longo dos seus anos de existência (Conselho Nacional de Educação, 1998). Na década de 90 dá-se a passagem definitiva das responsabilidades da Segurança Social para o Ministério da Educação. Esta passagem tem por objetivo principal assegurar a gratuitidade do ensino às crianças com deficiências comprovadas que precisem de frequentar o ensino especial. Durante esta década, estabelecem-se várias prioridades, tais como, condições de qualidade dos estabelecimentos de ensino e definição das características das crianças para a frequência destes estabelecimentos. 12 Com a publicação do Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, foi regulamentada a integração das crianças com deficiências no ensino regular. Com esta lei é enfatizado o modelo pedagógico, o conceito de necessidades educativas especiais e a crescente responsabilização da escola regular face à educação das crianças com necessidades educativas especiais. Segundo Correia (1997), este documento tem omissões e até dúvidas: ao não incluir as categorias de educação especial e não operacionalizar conceitos como os de situações mais ou menos complexas, gera incertezas interpretativas na identificação do problema do aluno e, consequentemente, na prestação dos serviços mais adequados. Três anos volvidos sobre a Declaração de Salamanca de 1994, foi publicado o Despacho 105/97, de 1 de julho, onde se expressa uma orientação inclusiva para a educação do nosso país (Rodrigues, 2003). Na escola atual, o regime em vigor é preconizado pelo Decreto-lei 3/2008, em que os critérios de Avaliação e Intervenção de Alunos com NEE de carácter prolongado foram alterados, adoptando-se um modelo de funcionalidade dinâmico, interactivo e multidimensional, tendo por referência a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade - versão para Crianças e Jovens da Organização Mundial de Saúde OMS). Apresento seguidamente, alguns diplomas legais com mais relevância no âmbito da educação Especial: A Constituição da Republica Portuguesa (1976) e a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 46/86 de 14 de Outubro), que estabelecem o direito das crianças deficientes a uma educação adequada e íntegra. O Despacho Conjunto 38/SEAM/SERE/88,de 17 de agosto, que estabelece a criação das “Equipas de Educação Especial”, com o objectivo de contribuir para o despiste, a observação e o encaminhamento, desenvolvendo o atendimento directo, em moldes adequados, de crianças e jovens com necessidades educativas decorrentes de problemas físicos ou psíquicos. O Decreto-lei n.º 319/91, de 23 de agosto, que atualiza, alarga e explicita o campo de acção da Educação Especial. É o assentamento legal das escolas, para a organização do seu funcionamento no atendimento a crianças com NEE. Contém princípios muito inovadores na legislação portuguesa, provenientes da evolução de conceitos resultantes do desenvolvimento de experiências de integração. No seu artigo 2º, sugere variadas medidas de 13 regime educativo especial, defende a presença de equipamentos especiais de compensação (livros em Braille, ou ampliados, equipamento específico para a leitura, escrita e cálculo, cadeira de rodas…), propõe adaptações curriculares (redução parcial do currículo, dispensa de algumas atividades que não possam ser possíveis de realizar devido à deficiência), define condições especiais de matrícula e de avaliação, bem como o apoio pedagógico acrescido (individualizado ou em grupo, com caráter temporário). Além das medidas já mencionadas ainda existem as que pertencem particularmente ao ensino especial e que passa pela elaboração de Currículos de Escola Próprios – CEP (adaptados ao grau e tipo de deficiência) e os Currículos Alternativos – CA (substituem os currículos do regime educativo comum e dirigem-se para facilitar a aprendizagem de conteúdos específicos). Determina ainda a individualização educativa através do Plano Educativo Individual (PEI) - artigo 15.º - e do Programa Educativo (PE) - artigo 16.º. O PEI é um documento que deve ser elaborado pelo SPO. O Despacho 173/ME/91, de 23 de outubro, regulamentou os procedimentos necessários à aplicação das medidas previstas no Decreto-Lei n.º 319/91. A Portaria n.º 1102/97, 3 de novembro, garante as condições de educação para os alunos que frequentam as cooperativas de ensino especial e os colégios de ensino especial particular. O Despacho n.º 7 520/98, 6 de maio - cria as Unidades de Apoio à Educação de Crianças e Jovens Surdos e define as competências, equipamentos e organização das respostas educativas. A Portaria n.º 776/99, 30 de agosto, define o processo de transferência da valência de educação especial das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) da tutela do MSST (Ministério da Segurança Social e do Trabalho) para o Ministério da Educação. O Despacho Conjunto n.º 891/99, 19 de outubro, define o enquadramento legal de intervenção precoce, dirigida a crianças com deficiência ou em risco de atraso grave de desenvolvimento e sem família. O Despacho Normativo n.º 30/2001, 19 de julho, define a avaliação dos alunos abrangidos pelas medidas especiais de educação (ponto 54). Este despacho foi revogado em 2005. 14 O Decreto-Lei n.º 20/2006, de 31 de janeiro, cria o grupo de recrutamento de Educação Especial. A Resolução do Conselho de Ministros n.º 120/2006, 21 de setembro, aprova o primeiro plano de acção para a integração das pessoas com deficiências ou incapacidade, para os anos 2006 a 2009 (PAIPDI). O Decreto-Lei 3/2008, de 7 de Janeiro, reformula a dinâmica organizacional e estrutural da Educação Especial na Escola Pública. Os alunos com Necessidades Educativas Especiais são aqueles que apresentam: “Limitações significativas ao nível da actividade e participação, num ou em vários domínios da vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social dando lugar à mobilização de serviços especializados para promover o potencial de funcionamento bio psicossocial” (Decreto-Lei 3/2008:155). A introdução e aplicabilidade da CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade) sugere algumas considerações, pois a experiência da aplicação deste instrumento já nos mostraram a diversidade de respostas que uma mesma referenciação pode originar. A obrigatoriedade a que a lei nos conduziu, deixa-nos pouca margem para entendermos com maior aprofundamento como se utiliza este instrumento. A preocupação exagerada em atribuir quantificações, deixa de parte a ideia principal de se tratar de uma abordagem biopsicossocial. O instrumento de recolha de informação da CIF-CJ é uma rating scale (escala gradativa) e não uma checklist (lista de verificação), como erradamente é considerado. Por se tratar de uma rating scale, instrumento informal de recolha de informação, dá azo a que a informação recolhida sobre um sujeito possa ser priorizada de uma forma muito subjetiva, tornando-se, assim, num procedimento muito confuso para todos aqueles que tenham de graduar comportamentos (Correia, 2008). O uso impróprio desta classificação, poderá provocar recessões e falhas que, acima de tudo, podem apresentar-se como graves, não ao sistema, mas ao desenvolvimento global e harmonioso dos alunos com NEE, causando, por vezes, a que estes possam ou não ser elegíveis. Não se pode avaliar somente as incapacidades que possui ou o meio em que se insere, deve-se ter em conta uma abordagem que examine para além destes, fatores 15 externos como atitudes, sistemas e serviços que possam ser considerados como barreiras ou facilitadores. Esta avaliação, e consequente referência, devem ser elaboradas à luz da CIF – CJ. Este documento permite também a criação das redes de escolas de referência para o ensino bilingue de alunos surdos e educação de crianças cegas ou com baixa visão. Permite a criação de Unidades de Ensino Estruturado para alunos com Autismo e de Unidades de Apoio Especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdo cegueira congénita. 16 Capítulo 2- O Autismo – Perspetiva histórica Ao longo dos tempos, o Autismo tem sido uma patologia que tem suscitado interesse de muitos autores e tem sido alvo de muitas investigações. O adjetivo Autista foi introduzido na literatura psiquiátrica em 1906 por Pouller, ao estudar pacientes que tinham diagnóstico de demência precoce, ou seja, esquizofrenia. Segundo Filipe (2012), o termo Autismo foi utilizado pela primeira vez por Eugen Bleuler em 1910 para designar um certo tipo de comportamentos que observou em doentes com esquizofrenia. Em 1911, o mesmo Bleuler designava por Autismo o “desligamento da realidade, combinado com a predominância relativa ou absoluta da vida interior”. Referia Bleuler que os doentes (esquizofrénicos) com este comportamento continuavam implicados num mundo exterior, mas nem a vivência nem a lógica exerciam influência nas suas aspirações ou nos seus delírios, o mundo exterior parecia-lhes hostil. Estes doentes revelavam uma perda de contato com a realidade, que se manifestava através de uma fuga ao contato social, indiferença ao afeto dos outros e desinteresse face ao exterior, por estarem centrados na sua “vida interior ”. Bleuler (1911) referiu-se ao Autismo como transtorno básico de esquizofrenia, mas vamos verificar que não é de todo isso que acontece. Antigamente achava-se que o Autismo era uma perturbação rara. No século XIX, Jean Marc Gaspard Itard, autor das primeiras descrições de crianças invulgares, no ano de 1801, tomou sob sua proteção durante cinco anos e estudou Victor, o “menino selvagem” de Aveyron, considerado uma criança invulgar que apresentava comportamentos de balanceamento. As suas respostas aos estímulos eram inesperadas, apresentando-se ainda insensível aos sons de maior intensidade. Permanecia em estado de mudez que alternava com sons guturais emitidos, muitas vezes, com euforia. Perante estes sinais, existiram autores que consideraram que Victor poderia ser Autista (Marques, 2000). Ainda segundo Marques (2000), alguns autores afirmam que esta criança teria sido Autista, pois os comportamentos que Itard descreveu ajustavam-se à classificação que mais tarde foi descrita por Leo Kanner. Desde o século XIX a conceção de Autismo infantil sofreu mudanças e a literatura descreve casos isolados de crianças com severos distúrbios mentais, associados a importantes desordens do desenvolvimento que, em concordância com a atual terminologia, preencheriam critérios diagnósticos de crianças portadoras do Espetro do Autismo. 17 As primeiras apresentações clínicas aceites como descrições do Autismo foram publicadas em 1943 por Leo Kanner, psiquiatra americano, na obra “Autistic Disturbances of Affective Contact”. É como que uma rampa de projeção para um estudo mais objetivo do Autismo. Kanner estudou com detalhe o comportamento de 11 crianças (8 rapazes e 3 raparigas), que se distinguiam das demais por apresentarem um padrão comportamental pouco comum. Estas crianças demonstravam: grandes dificuldades em conseguir socializar; alterações importantes ao nível da fala, podendo ir até ao mutismo; assimetria de capacidades: boa capacidade visuo – espacial e de memória de factos, em contraste com grandes dificuldades de aprendizagem da língua; avessas à mudança, mantendo um desejo obsessivo pela rotina. O isolamento e a insistência em padrões de comportamento repetitivos seriam referidos mais tarde por Kanner como sendo suficientes para o diagnóstico do Autismo (Wing, 1996). Por outro lado, mostravam grande apetência por situações particulares e invulgares. Brincavam com objetos de forma estranha, manuseando-os vezes sem conta da mesma maneira e olhando fixamente para uma parte desse objeto; outras vezes possuíam uma capacidade incrível para decifrar charadas ou ainda apresentavam uma memória que em alguns casos era excelente. A observação cuidadosa destas crianças levou-o a concluir tratar-se de uma perturbação distinta que designou por Autismo infantil. “Kanner identificou o isolamento do Autista como sendo díspar do esquizofrénico: o doente com esquizofrenia isola-se para fugir a um mundo que sente que o invade e o controla; a pessoa com Autismo isola-se por ser incapaz de aceder a um mundo que não consegue compreender e por isso se lhe torna inacessível” (Filipe, 2012: 16). Apenas um ano mais tarde, o pediatra Asperger (1944), como descreve Hewitt (2006), efetuou uma experiência idêntica. Publicou um trabalho sobre “Psicopatia Autistica” expressão que usou para se referir ao Autismo. Asperger fez a apresentação do seu trabalho à comunidade científica internacional através de um artigo com o título ”Autistic Psycopathy in Childhood” . O seu estudo incide num grupo de rapazes que apresentavam um QI médio ou acima da média, revelando dificuldades de interação social, isolamento e resistência à mudança (Hewitt, 2006). Esta situação é curiosa se pensarmos que, apesar de Kanner e 18 Asperger estarem distantes geograficamente, Kanner a trabalhar em Baltimore e Asperger em Viena, ambos coincidiram na escolha do nome central com que quiseram designar a perturbação: AUTISMO (Pereira, 1998). Bruno Bettelheim foi pioneiro da teoria das mães frigorífico (Filipe, 2012), ao defender que o Autismo não tinha uma base orgânica e era resultante da falta de afecto materno. Bettelheim divulgou as suas ideias sobre o Autismo no livro The Empty Fortress: Infantile Autism and the Birth of Self, editado em 1967, baseado na observação e acompanhamento de crianças internadas na Orthogenic School, um internato dependente da Universidade de Chicago. Apontou como ponto de partida do Autismo um defeito da relação mãe/bebé. O trabalho de Bettelheim acabaria por ser um dos motivos da teoria das “mães” frigorífico”, mães emocionalmente incapazes de assegurar uma união adequada. Hoje está bem explanado que fatores como a relação mãe /bebé ou a educação, não são de todo, a causa do Autismo. Wing (1988) considera que o quadro do Autismo pode variar bastante, pelo que propõe a introdução do conceito “Espectro do Autismo”, que cria uma gama variada de manifestações do comportamento do mesmo distúrbio. Os artigos de Kanner foram mais citados na literatura sobre o Autismo em relação aos de Asperger, pois estes, escritos em Alemão e durante a Segunda Guerra Mundial, foram em grande parte ignorados, segundo relata Frith (1993). Asperger considerava que existia, desde o nascimento, e coincidindo com Kanner, um transtorno essencial que daria origem a diversas alterações muito características. Quando se faz referência à síndrome de Asperger, esta costuma estar focalizada num escasso número de Autistas que apresentam boas capacidades intelectuais assim como um aceitável desenvolvimento da linguagem. Frith (1993) destaca que o termo “Síndrome de Asperger” tende a reservar-se para os poucos Autistas quase normais, que possuem boas capacidades intelectuais e bom desenvolvimento da linguagem. Durante os anos setenta, foram levantadas algumas dúvidas sobre os critérios a serem utilizados para a identificação clínica destes pacientes, mesmo com a proposta de vários esquemas, questionários e tabelas. Embora muitas dúvidas persistissem, progrediu-se bastante no que se refere a conhecimentos fundamentais sobre fatores etiológicos, efeitos neuroquímicos, influências genéticas, tratamento farmacológico, entre outros. 19 Segundo Filipe (2012), na década de 70 e 80 do séc. XX, com o trabalho de Lorna Wing e Judith Gould, que pesquisaram a legitimidade clínica do conceito de Autismo, tal como havia sido definido por Kanner, foram estabelecidos os conceitos básicos de Autismo, especialmente: “A determinação de características comuns indicadoras de Autismo: défices de interação social, da comunicação e da imaginação, rigidez e restrição de atividades e interesses; A noção de Autismo como sendo um espectro de perturbações de expressão e gravidade variáveis. A noção de que o diagnóstico de Autismo é independente do nível cognitivo médio do indivíduo; A coexistência frequente de Autismo com outras perturbações psiquiátricas” (Filipe, 2012: 21). Dada a diversidade de conceitos, torna-se indispensável que se generalize a linguagem sobre o Autismo, propondo-se a sua classificação. Foi com base neste propósito que a Associação Psiquiátrica Americana (APA) com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (DSM) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) com a Classificação Internacional de Doenças (CID) se fortificaram para igualar o conceito Autismo. 2.1 - Do conceito ao diagnóstico 2.1.1- Definição de Autismo “ (…) O Autismo é uma perturbação do desenvolvimento psicológico que afeta diretamente a forma como as pessoas percebem emoções, expressões e ações” (Marques, 2000). Segundo Ramón Alonso Peña (2004), a raiz da palavra “Autismo” deriva do grego “autos”, que significa “ eu mesmo”. O Significado de Autismo é portanto colocar-se dentro de si mesmo, é entrar na fantasia de forma a escapar à realidade. Oliveira (2009) atribui ao Autismo a mesma origem grega e o mesmo étimo, mas refere “Autos” e “ismo”, que indica uma orientação ou um estado. Desta forma o Autismo é compreendido como uma condição ou estado de alguém que manifesta estar concentrado em si próprio. 20 O DSM III (1980)4, mencionado por Garcia e Rodrigues (1997), define o Autismo como sendo perturbações profundas do desenvolvimento. A caracterização mais completa do Autismo encontra-se no DSM-IV-TR (2000), que nos diz que “ as características essenciais da Perturbação Autística são a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal ou deficitário da interação e comunicação social e um reportório acentuado restritivo de atividades e interesses. As manifestações desta perturbação variam muito em função do nível de desenvolvimento e idade cronológica do sujeito.” Siegel (2008), considera “o Autismo como uma perturbação do desenvolvimento que afeta múltiplos aspetos da forma como a criança vê o mundo e aprende de acordo com as suas próprias experiências (…) Não resulta numa absoluta ausência de desejo de pertença, mas antes na relativização desse desejo” (Siegel,2008: 21). Cerca de 80 % das crianças com Autismo apresentam igualmente um grau de deficiência mental. Em grande parte dos casos o Autismo é acompanhado de deficiência mental ligeira a moderada, sendo numa percentagem menor os casos que apresentam deficiência mental grave ou profunda, ao contrário do que por vezes se pensa (Siegel, 2008). No entanto, de acordo com Filipe (2012), existe o termo “Autismo de alto funcionamento”, reservado a crianças que exibindo critérios que os fariam cair dentro do diagnóstico de perturbação Autística, têm boas competências funcionais e um QI dentro dos limites da normalidade. A designação de Autismo de alto funcionamento é, porém enganadora, na medida em que sugere que estas crianças têm “ bom nível de funcionamento global”, o que não acontece de facto. A maior parte dos clínicos argumentará que estes casos encaixam melhor no diagnóstico de síndrome de Asperger, sobretudo se tiverem linguagem verbal. A principal tarefa do clínico é perceber se o paciente tem ou não uma perturbação do Espetro do Autismo e, na sequência disso, determinar o seu perfil de incapacidades e competências, com vista à intervenção terapêutica (Wing, 1996). 4 Existem cinco revisões para o DSM desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão foi a DSM-IV publicada em 1994 (Editora Artes Médicas Sul). 21 2.1.2 – Diagnóstico da PEA “Há mais de 30 anos, considerava-se o Autismo a patologia mais difícil de diagnosticar e o tratamento quase impossível. Na atualidade dispomos de elementos de diagnóstico estandardizados e reconhecidos e existe uma grande variedade de tratamentos” (Peña, 2004:36). Normalmente as primeiras pessoas a notar comportamentos estranhos nos seus filhos são os pais. Quanto mais cedo for diagnosticado o Autismo melhor é a eficácia de o tratar, uma vez que, tanto os pais como os educadores poderão mobilizar instrumentos eficazes capazes de conduzir a criança a um mundo de adulto autónomo. Por volta dos três anos, a maior parte das crianças iniciam o seu mundo escolar, ao frequentarem o Jardim-de-Infância. É nessa altura que se realçam as diferenças entre um Autista e os outros alunos. Para Peña (2004), estas crianças apresentam características que nos permitem distinguir de outras crianças e muitas vezes ajudam a um diagnóstico mais cedo. O isolamento, falta de interesse pelas brincadeiras dos colegas, incompreensão em relação àquilo que esperam dele, são aspetos importantes a ter em consideração para um diagnóstico. É muito importante que os clínicos que avaliam a criança tenham experiência no trabalho com Autistas. Segundo Siegel (2008): “Um clínico excelente que não tenha visto um certo número de crianças Autistas, não irá ser capaz de inserir a criança num contexto realista – isto é não será capaz de dizer o que a criança poderá aprender a seguir, como o poderá fazer e até que ponto será capaz de chegar. Um clínico experiente que tenha visto muitas crianças com Autismo, pode dar informações muito específicas acerca do tratamento a seguir e adiantar algo relativamente ao futuro” (Siegel, 2008:120). A observação de alguns comportamentos típicos destas crianças pode ajudar a fazer um diagnóstico mais rápido e autêntico da síndrome. Entre esses comportamentos destacam-se os seguintes (Pereira, 2006): Dificuldades na aquisição da linguagem - usam linguagem pouco natural, por vezes impercetível. Ecolália (repetem o que ouvem) - tecem comentários irrelevantes e descontextualizados da situação. Em alguns momentos, não deixam o outro intervir. Não respondem ao seu nome, agindo como se fossem surdas - estão ausentes na comunicação com o outro. 22 Não demonstram medo por perigos reais - seguem os seus impulsos, sem consciência de que se podem estar a colocar em perigo. Não obedecem nem seguem instruções - a opinião do outro não interessa nem é levada em conta. Resistem à aprendizagem e à mudança - têm o desejo obsessivo de manter a rotina, que demonstram através de ações e de aspetos característicos da linguagem. Não interagem com as outras crianças - têm muitas dificuldades em se relacionar com as pessoas, isolando-se. Evitam o contacto visual - absorvem os acontecimentos à sua maneira, com breves olhares. Resistem ao contacto físico, pois não gostam que lhes toquem ou que as abracem - são muito sensíveis ao toque, tendo os sentidos muito apurados. São hiperativas ou extremamente passivas - podem apresentar comportamentos agressivos e/ou auto-agressivos. Têm comportamentos repetitivos - podem manifestar-se no interesse obsessivo por determinados objetos e na forma bizarra e peculiar como os manuseiam. Apresentam capacidades específicas - normalmente são capacidades isoladas que algumas crianças mostram, isto é, revelam a sua aptidão para algo em particular. Podem, por exemplo, ter uma memória excelente de episódios passados há vários anos e/ou conseguirem descodificar com precisão enigmas complexos. O progresso do conceito e etiologia do Autismo, bem como a extensão de sinais que se podem agrupar a esta patologia, tornam custosa a tarefa de realizar um critério de diagnóstico rígido e estático. O processo de diagnóstico abrange vários momentos, diferentes estratégias, diversos intervenientes e tem a ver com o perfil individual, que varia de criança para criança, pois nenhuma delas é igual a outra. Segundo Cohen e Volkmar (1997), o processo de diagnóstico deve ser elaborado por médicos, apesar de envolver outros intervenientes (psicólogos; terapeutas da fala; terapeutas ocupacionais …). O resultado do diagnóstico é um relatório que deve conter 23 a informação recolhida numa narrativa lógica e consensual, que reflita integralmente os dados de investigação disponíveis. A participação dos pais neste processo é essencial, cabendo aos médicos e especialistas a organização de toda a informação recolhida junto dos mesmos e pela observação direta da criança, interpretando os dados e integrando-os num diagnóstico conforme com o DSM-IV – TR (American Psychiatric Association, 2002). Este é, atualmente, o sistema de diagnóstico formal mais conhecido para o Autismo. De acordo com a DSM-IV-TR (2002), os critérios de diagnóstico para a perturbação Autista são os seguintes: A. Presença de um total de seis (ou mais) itens de 1), 2), 3), com pelo menos dois de 1), um de 2) e um de 3). 1) Défice qualitativo de interação social (manifestando pelo menos dois): Défice no uso de múltiplos comportamentos não-verbais (contacto do olhar, expressão facial, postura corporal e gestos reguladores da interação social); Incapacidade para desenvolver com os companheiros relações adequadas ao nível do desenvolvimento; Falta de procura espontânea de partilha de interesses, divertimentos ou atividades com outras pessoas e objetos de interesse; Falta de reciprocidade social ou emocional. 2) Défice qualitativo na comunicação (manifestando pelo menos um): Atraso ou ausência no desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhamento de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos e mímica); Nos indivíduos com um discurso adequado, acentuada incapacidade na competência para iniciar ou manter uma conversação com os outros; Uso estereotipado ou repetitivo da linguagem; Falta de jogo simbólico variado e espontâneo, ou de jogo social imitativo, adequado ao nível do desenvolvimento. 3) Padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades (manifestando pelo menos um): 24 Preocupação absorvente por um ou mais padrões de interesse estereotipado ou restrito não normal, quer na intensidade quer no seu objetivo; Adesão, aparentemente inflexível, a rotinas ou rituais específicos não funcionais; Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (sacudir ou rodar a mão ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo); Preocupação persistente com pares de objetos. B. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos três anos de idade: 1) Interação social; 2) Linguagem usada na comunicação social; 3) Jogo simbólico ou imaginativo. C. A perturbação não é melhor explicada pela presença de uma perturbação de Rett5 ou perturbação desintegrativa da segunda infância. Por vezes o diagnóstico não é realizado na primeira consulta, sendo essencial comparar os resultados conseguidos na consulta com dados recolhidos na escola, junto da família, ou junto de outros intervenientes diretos com a criança, ou seja recolhendo dados em diferentes contextos. O diagnóstico surge assim, como a fase fundamental da avaliação e afigura-se primordial para uma intervenção com melhor eficácia para a criança. Existem instrumentos de diagnóstico para o Autismo. Há os mais tradicionais, como os questionários, as entrevistas, a observação direta. Peña (2004: 40) considera que o melhor sistema de avaliação é o CHAT (Checklist for Autism in Toddlers), “desenvolvido por um grupo de Baron-Cohen, que estabelece uma escala para avaliar aos 18 meses o Autismo”. Este sistema é um conjunto de questões compostas por sim/não, onde existe uma secção para os pais e outra para o pediatra que avalia a criança, necessitando de apenas 5 a 10 minutos para ver o seu comportamento, através da atenção, jogo imaginativo, assinalar com o dedo,…). 5 A Perturbação de Rett enquadra-se nas Perturbações Globais do Desenvolvimento e a sua característica essencial é o desenvolvimento de múltiplos défices específicos, após um período de funcionamento normal depois do parto. 25 Muitos centros de avaliação recorrem a escalas estandardizadas de avaliação do Autismo. Trata-se de listas de verificação que são preenchidas através da observação formal ou informal da criança, das entrevistas aplicadas aos pais ou aos professores, da análise de registos, para posteriormente responder a uma série de questões acerca da presença, ou ausência, de sintomas de Autismo (Siegel, 2008). Para este autor, o sistema mais pormenorizado é o da Entrevista de Diagnóstico de Autismo, desenvolvido pela Dra. Ann Le Couteur e colegas, o qual contém muitas questões acerca do comportamento passado e presente. Cada resposta é pontuada de acordo com a rigidez do grau de Autismo. É usada uma fórmula Matemática para calcular a pontuação total das respostas. “A escala de avaliação mais usada é a Escala de Avaliação do Autismo Infantil, desenvolvida pelo Dr. Eric Schopler e colegas. Esta escala abrange treze áreas distintas e inclui a avaliação de todas as áreas em que se registam sintomas associados ao Autismo. As crianças são classificadas de 1 a 5 em cada área, sendo que o “1” corresponde ao comportamento normal para a idade e o “5” ao comportamento altamente atípico” (Siegel, 2012:131). Outra Escala de avaliação é a Lista de Verificação do Comportamento, a qual funciona de forma semelhante à anterior. Cláudia Lima (2012) considera que a avaliação da Perturbação do Espetro do Autismo segue uma formalidade de aplicação de várias baterias em função de diversos fatores, como a idade, a criança falar ou não falar, e depende muito se a criança indica ou não grau de deficiência. De diversos testes aconselhados, Cláudia Lima (2012) dá ênfase aos testes de rastreio M-CHAT; aos testes de Diagnóstico CARS (Childhood Autism Rating Scale6 (Eric Schoper, Robert J. Reichler e Barbara Renner, 1988); ao ADIR-Autism Diagnostic Interview Revised7 (C. Lord, M. Rutter e A. Le Couteur, 1994); “Testes de avaliação de competências: - ADOS; PEP-III; Escala de Desenvolvimento de Griffiths ; WISC-III; Vilenand; TALC; EACPV; TOPL” (Cláudia Lima, 2012: 59). 6 É uma escala aplicada na observação das crianças a partir dos dois anos de idade. Deve ser aplicada por um profissional com experiência, pois é realizada com base na avaliação informal da criança e com base na informação recolhida dos pais. 7 Trata-se de uma entrevista com os pais aplicada a crianças com idade mental superior a dois anos, que avalia o comportamento da criança em três distintas áreas – comunicação e linguagem; desenvolvimento social; comportamento e interesses específicos, restritos e estereotipados . A sua aplicação é longa , mas permite no final concluir se a criança tem ou não Autismo. 26 A ADOS8 foi publicada por Catherine Lord, em 1989, tendo sido já revista em 1995 e em 1998. Esta última versão pode ser aplicada desde a idade pré-escolar em crianças não-verbais até aos adultos verbais. As atividades desenvolvidas por quem investiga são essencialmente dirigidas para uma avaliação da comunicação, da socialização, da imaginação e ainda dos comportamentos estereotipados. A PEP-III9 (Eric Schopler, Margaret D. Lansing, Robert J. Reichler, e M. Marcus, 2005), é um teste que abrange várias áreas específicas, como a Imitação; Perceção; Motricidade Global; Motricidade fina; Coordenação Visuomanual, Comportamento, etc…) que outros testes não aprofundam. É dirigido a crianças com idades dos 6 meses aos 7 anos. É ainda constituído por um questionário para os pais de forma a averiguar o nível de desenvolvimento do seu filho. A escala de Desenvolvimento Griffiths (Ruth Griffiths, 1996), dirige-se a crianças com idades entre os 0 e 8 anos, “avalia o nível de desenvolvimento da criança relativa à sua idade em 6 áreas: Motricidade grosseira; Autonomia; Linguagem, Motricidade fina; Realização, Cognição Verbal. Está traduzida e aferida para a população portuguesa. Permite-nos a obtenção de um Quociente Geral, podemos quantificar o nível cognitivo da criança em função dos graus existentes no DSMIV-TR”. (Cláudia Lima, 2012: 61). A WISC-III – Escala de Inteligência de Weschler para crianças (D. Weschler, 1991) é destinada a crianças entre os 6 e os 16 anos de idade, está aferida para a população portuguesa. Possibilita alcançar um quociente de inteligência e três índices fatoriais: “compreensão verbal, organização perceptiva e velocidade de processamento. A sua limitação é que não pode ser utlizada em crianças que não tenham linguagem verbal” (Cláudia Lima, 2012:61). A Vilenand Adaptative Behavior Scales (Sparrow et al., 1984), é uma escala que permite complementar a informação quando existe um atraso no desenvolvimento. A TALC- Teste de avaliação da Linguagem da Criança (Eileen Sua – Kay e Maria Dulce Tavares), é um teste de avaliação da linguagem da criança, destinado a crianças dos 2 anos e meio aos 6 anos, avalia a compreensão e a expressão da linguagem. Recorre a objetos reais, o que motiva a criança. A EACPV – Escala de avaliação da comunicação pré verbal (Chris Kiernan e Barbara Reid, 1987), é uma escala de avaliação não-verbal, dirigida a crianças com 8 9 Autism Diagnostic Observation Schedule: ADOS-2. PEP-3 - Psychoeducational Profile: Third Edition 27 reduzida ou sem oralidade, é aplicada através de perguntas aos pais e através da avaliação direta com a criança, no entanto este teste não está validado em Portugal. A TOPL - Test of Pragmatic Language (Diana Phelps – Terasaki e Trisha PhelpGunn, 1992), avalia a criança do pré-escolar até ao adulto, tem um conjunto de imagens que são apresentadas e em que se enquadra uma situação e colocada uma questão ao indivíduo que terá de resolver. O teste é composto por 42 questões que envolvem os modos pragmáticos (expressão e receção) (Cláudia Lima, 2012). 2.1.3- Características das crianças com Autismo Nos Autistas existem aspetos curiosos e até inesperados, ao mesmo tempo que outros se revelam inquietantes. O primeiro caso refere-se às competências evidenciadas ao nível de desempenhos relacionados com memórias visuais e auditivas, e consiste na aplicação das sequências de regras. No que concerne aos aspectos inquietantes, revelase um relacionamento com comportamentos de auto-mutilação (morder-se a si próprio, bater com a cabeça nas paredes ou no chão). Segundo Cláudia Lima (2012), as características fundamentais da Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) são a presença de um desenvolvimento anormal ou deficitário da interação social e um repertório acentuadamente restrito de atividades e interesses. As manifestações desta perturbação alteram em função da sua idade cronológica. As características das PEA são normalmente visíveis nos primeiros anos de vida e não seguem as mesmas etapas de desenvolvimento que as crianças ditas normais. Na maioria dos casos, as dificuldades de comunicação e as capacidades sociais são comprovadas quando as crianças começam a manifestar algum atraso em relação a crianças da mesma idade cronológica. Cláudia Lima (2012) acha que as crianças com o Espectro do Autismo apresentam dificuldades principalmente ao nível da: Comunicação Atraso ou inexistência total de desenvolvimento da linguagem oral; Não conseguem iniciar ou manter uma conversação com os seus pares; Uso estereotipado ou repetitivo da linguagem idiossincrática; Não conseguem realizar jogos realistas por sua própria espontaneidade, ou jogo social imitativo adequado ao nível de desenvolvimento. 28 Interação social Acentuado défice no uso de múltiplos comportamentos não–verbais, tais como o contacto ocular, expressões faciais, posturas corporais e gestos para regular a interação social. Incapacidade de se envolver em relações com os seus pares Não demostram interesse nem espontaneidade em compartilhar com os outros, prazeres, interesses ou objetivos; Falta de reciprocidade social ou emocional. Comportamento Denotam uma grande preocupação por um ou mais padrões estereotipados e limitativos de interesses que resultam anormais, quer na intensidade quer no seu objetivo; Gostam das suas rotinas e mostram-se inflexíveis quando estas mudam; Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (sacudir ou rodar as mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo); Preocupação persistente com pares de objetos (marcadores, lápis de cor, canetas, ou seja grande parte dos objetos que conseguem colocar alinhados). 29 Características mais específicas: Os indivíduos com Autismo podem apresentar as seguintes características: Dificuldade em descodificar expressões ou emoções (próprias Comportamentos auto e hétero agressivos; Choros e Risos imotivados; Necessidade de auto –estimular; estereotipados; Sem linguagem falada; Rituais compulsivos; Ecolália Resistência à mudança; Discursos na 2ª ou na 3ª pessoa; Dificuldade em expressar as suas Linguagem ou no outro); Interesses repetitivos e necessidades; idiossincrática (significados próprios); Apego inadequado a objetos; Linguagem rebuscada; Maneirismos Hipo reatitividade estereotipados e repetitivos; Reatividade flutuante; Alheamento; Hiperatividade Hiperatividade; motores ou extrema passividade. Quadro 1 - Características do Autismo, segundo Garcia e Rodriguez (1997) As características não são sempre as mesmas ao longo da vida, uma vez que os sintomas podem ser identificados nas diversas fases de desenvolvimento da criança com o Espectro do Autismo, contudo tal não significa que o diagnóstico se altere ou que a criança ficou curada da sua perturbação. Segundo Happé (1994), o aparecimento e desaparecimento de determinadas características apenas significa que existiram alterações globais no comportamento da criança. As características determinam em muito o tipo e o grau de dificuldade que poderemos sentir ao trabalhar com indivíduos com o Espectro do Autismo e, desta forma, deverá ser realizado um trabalho orientado para as características específicas do indivíduo com o qual trabalhamos, de forma a responder o melhor possível às suas próprias necessidades. 30 2.1.4- Perspetivas sobre a Etiologia do Autismo Até hoje não se conhece exatamente a etiologia do Espetro do Autismo, é uma discussão que está longe de ser resolvida, mas acredita-se que a origem desta patologia se explica com anomalias nalguma parte do cérebro. Fala-se em genética, mas Carlos Filipe (2012) considera que a identificação de possíveis genes implicados na origem do Autismo aponta para uma muito segura multicausalidade. Diferentes genes têm sido referidos como implicados em possíveis alterações. As alterações encontradas nas perturbações do Autismo não são possíveis de explicar a partir de teorias cognitivas simples. E conclui que por terem dificuldade em percepcionar o todo e em construir conceitos abtratos, as crianças com uma perturbação do Autismo veem o mundo de forma diferente. Isto não se deve ao facto de terem tido vivências diferentes das nossas mas ao facto de as processar de forma distinta. Em suma, ainda não existem conclusões que se possam dar como definitivas, a etiologia desta perturbação é uma questão muito complexa. O Espectro do Autismo tem sido motivo de muitas e variadas teorias propostas para explicar estas perturbações. De um lado, encontramos as teorias comportamentais que tentam explicar os sistemas característicos destas perturbações com base nos mecanismos psicológicos e cognitivos, por outro lado, temos as teorias neurológicas e fisiológicas que tentam facultar informação acerca de uma possível base neurológica. Muitas teorias têm surgido desde 1943, sem nos fornecerem provas concisas, embora se tenha a certeza de que o Autismo constituiu um modelo peculiar de doença de natureza fundamentalmente cultural, mas com todas as probabilidades de ter origem biológica. Carlos Filipe (2012) refere que o facto de as pessoas com Autismo partilharem entre si um conjunto de sinais e sintomas não implica que estes tenham necessariamente a mesma origem ou que o Autismo derive de uma causa única.E determina uma distinção entre Autismo infantil onde há um défice grave nos padrões de interação social, uma perturbação grave na linguagem, a par de comportamentos estereotipados e interesses restritos e a síndrome de Asperger em que a perturbação da acção social é, em regra, menos acentuada, a restrição de interesses e a adesão a rotinas menos expressivas e a aquisição da fala deverá ter decorrido dentro dos padrões de normalidade, acrescentando que na síndrome de Asperger não deve existir deficiência mental. 31 Foi no início da década de setenta que surgiram as primeira teorias da causalidade do Autismo. Teoria psicogenética, teoria biológica, teoria cognitiva e teoria psicológica. 2.1.5- Teorias Psicogenéticas As teorias psicogenéticas são atualmente consideradas infundadas e sem qualquer credibilidade. Estas teorias contestavam que o Autismo era resultado de um acompanhamento insuficiente por parte dos familiares, nomeadamente, os pais. No fundo, defendia que as crianças tinham nascido com um quadro estável e essa falta de protecção familiar levou a um quadro Autista. Os fatores intervenientes na génese do Autismo são divididos por Cantweel, Baker e Rutter (1984), referenciados por Schwartzman (1995), tendo como base estas teorias. Agrupamos fatores intervenientes na génese do Autismo em quatro grupos: Perturbação psiquiátrica parental ou características de personalidade anómala dos pais; Quociente intelectual e classe social dos pais; Interação anómala entre pais e filhos; Stress intenso e acontecimentos traumáticos numa fase precoce da vida da criança. Hoje em dia, as reflexões sobre as teorias psicogenéticas estão completamente colocadas de parte, pois todos os dados atuais não as suportam, pelo contrário, negamnas. Nesse sentido, não há quem as defenda. 2.1.6- Teorias Biológicas As teorias biológicas sobre a etiologia Autista assentam no princípio de que o Autismo resulta de uma perturbação de algumas áreas do sistema nervoso central que afetam essencialmente a linguagem, o desenvolvimento cognitivo e intelectual e a capacidade em socializar. As teorias biológicas são designadas por Hingtgen e Bryson de teorias orgânicas e defendem que a deficiência em si mesma reflete uma clara anormalidade biológica e que os pais não são responsáveis pela perturbação Autista que afeta a criança (Pereira, 1999). Segundo Marques (2000), comprova-se que o défice cognitivo tem um papel crucial na génese do Autismo. Os progressos nas práticas de estudo do cérebro 32 permitem um desenvolvimento gradual de estudos biológicos. Com base nesta teoria destacamos: Teorias genéticas (síndrome cromossoma X frágil); Anomalias bioquímicas (esclerose tuberculosa, fenilcetonúria não tratada); De tipo infeccioso (rubéola, encefalite); Teorias de disfunção cerebral do hemisfério esquerdo; Teoria imunológica. Foi nos anos sessenta que apareceram os primeiros estudos que associam o Autismo a alterações biológicas como nos refere Rodrigues (1995: 82): “ as causas exactas não são conhecidas mas há evidências conclusivas que o Autismo é causado por disfunção cerebral orgânica que pode estar associada a infecções virais ou outras como a rubéola durante a gravidez ou a primeira infância; as doenças infantis que afectam o sistema nervoso central; as disfunções metabólicas; as complicações pré, peri e/ou pós natais; fatores genéticos (…) e fatores imunológicos. O Autismo pode ser causado por um número de fatores bioquímicos e genéticos actuando sós ou em combinação”. Com base nestas fundamentações, é agora admitido que o Autismo resulta de uma perturbação de determinadas áreas do desenvolvimento do sistema nervoso central, que afetam a linguagem, o desenvolvimento cognitivo e intelectual e a capacidade de estabelecer relações. Na perspetiva de Garcia e Rodrigues (1997: 251) a presença da patologia Autista está associada a outras anomalias genéticas, como é o caso da síndrome de X frágil, ainda da rubéola ou da meningite. Apesar dos dados que vão surgindo, nenhum parece ainda ser definitivo para a descoberta da origem do Autismo. Alguns autores defendem que este seja provocado por “uma disfunção cerebral, desconhecendo-se ainda a natureza do defeito base no Autismo, seja ele definido a nível fisiológico, neuropatológico ou psicológico”. 2.1.7 - Teorias Psicológicas Vários estudos (neurológicos, bioquímicos e outros) revelam que as crianças Autistas demostram défices cognitivos desde os estados precoces do seu desenvolvimento. Por volta dos anos 80, surgiu uma nova teoria psicológica explicativa do Autismo: a “Teoria da Mente”. Esta surge através de Uta Frith, Alan Leslie e Simon Baron Cohen, em 1985 e sustenta que a tríade de incapacidades do Autista é resultado 33 de um impedimento da competência humana fundamental de “ler a mente dos outros”, ou seja, na patologia Autista existe uma incapacidade para atribuir estados mentais independentes a si próprio e aos outros, de forma a prever e a explicar ações (Marques,2000). Esta teoria tentou reconhecer os défices responsáveis pelas limitações sociais no Autista, como falha no mecanismo mental que o indivíduo usa para compreender os estados mentais dos outros, como são o caso dos pensamentos, dos desejos e das crenças, permitindo a compreensão dos seus comportamentos. Esta teoria sugere que os Autistas não desenvolvem ou desenvolvem tardiamente a capacidade de perceberem os pensamentos dos outros, tendo competências sociais comunicativas e imaginativas bastante limitadas (Happé, 1994, citado por Marques, 2000). Na perspetiva de Uta Frith, o défice comunicativo e imaginativo dos Autistas acaba por contribuir substancialmente para a tríade de incapacidades que as pessoas com esta perturbação apresentam. O comportamento social que exige mentalização, como é o caso de guardar segredos, encontra-se em risco para os Autistas, o que já não acontece tanto com o comportamento social que tem por base um comportamento observável, como o reconhecimento da felicidade. Um Autista sente dificuldades quando tem de usar a linguagem para expressar um pensamento (Marques, 2000). Cohen (1989, citado por Marques, 2000) defende que as crianças com a perturbação Autista são incapazes de usar e compreender o apontar para partilhar a atenção, mas já conseguiam apontar para ter o objeto desejado. 34 Capítulo 3- Modelos de Intervenção Apesar de não existir cura para o Autismo, pois a criança Autista é-o para toda a vida, podem diminuir-se algumas das limitações que lhe estão associadas. Existem recursos educativos para a criança com Autismo, bem como formas de agir. Segundo Carlos Filipe (2012), ausência de cura não significa que se deve perder a esperança, deve-se intervir ativamente de forma a diminuir as suas dificuldades. Uma abordagem educacional apropriada, a intervenção em diversos contextos onde a criança está inserida, podem melhorar significativamente a qualidade de vida da criança com Autismo. As intervenções deverão sempre ter em conta uma avaliação prévia: o seu perfil de funcionalidade, a idade cronológica e também a opinião e participação dos pais. Atualmente existem vários modelos de intervenção e terapias que podem maximizar as potencialidades da criança com Autismo, sendo usadas o mais cedo possível e com frequência, por toda a equipa multidisciplinar e, sempre que possível, nos distintos contextos onde a criança está inserida. Nos últimos anos, a intervenção para o Autismo tem vindo a desenvolver-se a grande velocidade, aumentando também a diversidade em relação à metodologia (Siegel, 2003). “O acompanhamento adequado que se segue ao diagnóstico deve facultar o treino de competências, o suporte familiar e o apoio psicológico e psiquiátrico, essenciais no sentido de ajudar a criança com perturbações do Espetro do Autismo a usarem melhor as suas competências e a melhor conviverem com as suas incapacidades” (Carlos Filipe, 2012: 98). A equipa multidisciplinar que vai trabalhar com a criança e interagir com os seus pais, à medida que atua, deve avaliar o progresso e, previsivelmente, reformular/ atualizar o plano de intervenção. Existem diversos programas de intervenção precoce e uma boa intervenção deve ser multidisciplinar para atender a todas as vertentes do desenvolvimento. O programa e o horário de intervenção devem ser construídos com a ajuda dos pais e, quando for possível, com a colaboração da própria criança. As crianças com Autismo têm que ter acesso à gama completa de tratamentos médicos e psicológicos (adaptados se necessário para responder às suas necessidades) que estão disponíveis à população em geral. 35 De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), o principal objetivo de qualquer intervenção é o de diminuir os défices existentes de forma a maximizar as capacidades fortes de cada criança, promovendo a sua autonomia e qualidade de vida. A intervenção deve ser capaz de estimular diferentes áreas como: “cognição, socialização, comunicação, comportamento, autonomia, jogo e competências académicas” (Cláudia Lima, 2012:41). Neste sentido, têm-se desenvolvido ao longo dos anos várias metodologias para trabalhar com crianças Autistas, a maioria de origem Americana, implementadas muito precocemente e de forma intensiva. Por último e de acordo com a nossa experiência, concluímos que o mais importante a ter em conta na intervenção com crianças com Autismo é que cada criança é uma criança única e diferente das outras e não é por ter Autismo que deixa de ter as suas próprias características, preferências, dificuldades e necessidades. Assim, a sua educação deve ser personalizada e individualizada. Hoje em dia existem muitos modelos de intervenção e terapias direcionadas para a criança com Autismo. Segundo Carlos Filipe (2012: 97) “ Não existe nenhuma intervenção médica ou não médica que resolva as perturbações nucleares do Autismo”. A escolha da abordagem mais adequada deve ser ponderada em função dos seguintes fatores: risco do tratamento, consequências e benefícios para a criança e para a sua família, validade científica, procedimentos de avaliação, experiências anteriores, experiência dos profissionais envolvidos, tipo de atividades propostas, motivação individual, ambiente, envolvimento familiar, custos, frequência e local da intervenção (AMA, 2005). Peter Vermeulen (1994) refere que a escolha apropriada de uma terapia é uma questão de bom senso. Não devemos confiar em “curas milagrosas”, contadas em livros, revistas ou na internet, sem credibilidade científica. O Autismo é uma deficiência que, por enquanto, dura para toda a vida. Pfeiffer e Nelson (1992, in Pereira, 1998), conduziram um estudo onde foram ouvidos peritos na área do Autismo, finalizando que os modelos de tratamento mais utilizados com sucesso eram referentes à família, à educação e, principalmente, o modelo comportamental. Lovass (1981), referenciado por Marques (2000: 90), foi pioneiro da intervenção comportamental Autista. Nessa altura, entendia-se que a intervenção comportamental ajudava a melhorar as capacidades das crianças com Autismo, nomeadamente a nível da 36 linguagem, da autonomia e competências sociais. “Assim desta forma procurava-se ensinar às crianças as competências necessárias, para que ela funcionasse adequadamente, tanto na escola como em casa” (Manuela Pereira, 2006: 46). Apesar de todas as terapias terem técnicas diferentes de trabalhar e atuar, todos os tipos de intervenção, segundo Cláudia Lima (2012), devem seguir as seguintes linhas de orientação: - Iniciar o trabalho o mais precocemente possível, desde que se tenha conhecimento do diagnóstico; - Iniciar terapia intensiva, com objetivos bem planeados e programados, com atividades específicas; - Existir um número reduzido de alunos para que se possam atingir os objetivos pretendidos; - Incluir os pais no processo de ensino/aprendizagem; - Fomentar oportunidades de intervenção com outras crianças; - Reavaliar o programa sempre que for necessário, para que desta forma os objetivos estejam sempre ao alcance da criança; - Ter em conta a estrutura através de elementos como rotina previsível, horários visuais, etc…; - Implementar estratégias para aplicar os conhecimentos atingidos em diferentes contextos; - Establecer um programa de interveção que trabalhe as áreas em que denotam mais dificuldades como: comunicação funcional e espontânea, competências sociais, competências funcionais que preparem a criança para ter mais autonomia, diminuição de comportamentos disruptivos, recorrendo à avaliação comportamental; - Estimular as áreas da cognição e competências académicas como leitura e cálculo. Neste trabalho, optámos por selecionar as medidas de intervenção educativas que nos pareceram mais vigorosas, pertinentes e frequentes: PEC´S; Programa ABA, Programa Floor-Time/Modelo DIR, Metodologia Teacch e Modelo Son-rise. 3.1- PEC´S – The Picture Exchange Communication System10 A comunicação é uma necessidade do ser humano, todo o ser humano necessita de comunicar, exprimir as suas necessidades, os seus desejos, pensamentos, emoções e 10 Sistema de Comunicação por Troca de Imagens 37 sentimentos. Através da fala, partilham-se sentimentos, ideias, desejos e sobretudo uma relação interpessoal. É, por isso, essencial o desenvolvimento da comunicação, mas a verdade é que muitas destas crianças com Autismo veem-se privada dela. As dificuldades consideráveis no uso da linguagem receptiva e expressiva afetam a sua vida e também o seu desempenho. Dentro do SAC - Sistema de Comunicação Alternativa, existem diversos sistemas adaptados, tais como: o sistema Makaton; Pic´s; Bliss; Common-Image; Board Maker, o sistema SPC, entre outros. No nosso caso, com as nossas crianças utilizamos o Board Maker e o sistema SPC. O PEC´S é um sistema de comunicação alternativa, cuja comunicação se faz através de figuras e retrata aquilo de que as crianças mais gostam, como alimentos, bebidas, brinquedos… Desta forma, depois de identificarmos os seus gostos, procede-se à elaboração das imagens, que lhe são dadas. Gradualmente a ajuda vai sendo retirada, para que a criança comece a ter a iniciativa de ser ela própria a pegar na imagem que lhe interessa. Esta nova fase leva a que a criança comece a interagir com os outros. À medida que vão fazendo evoluções, complica-se o sistema, passando à construção de enunciados simples – imagens e frases. Este método não é um método rápido, depende do grau de severidade do Autismo da criança, no entanto a motivação é grande uma vez que a criança consegue o objeto desejado 3.2-Programa ABA Segundo Claudia Lima (2012), o modelo ABA (Applied Behavior Analysis ) é uma abordagem da psicologia comportamental que foi adaptada e aplicada ao ensino de crianças com Autismo. O comportamento é analisado e avaliado para melhor adaptar esse comportamento ao ambiente. Este modelo ficou mais conhecido no Brasil devido ao trabalho realizado com crianças diagnosticadas com Autismo. O programa ABA tem como objetivo principal ensinar comportamentos apropriados que permitam à criança Autista uma vida autónoma e a sua integração na comunidade. Para isso, os profissionais utilizam métodos especiais de ensino direcionados ao desenvolvimento da comunicação, habilidades sociais, habilidades de brincar, habilidades académicas e habilidades de auto-cuidado (Leaf & McEachin, 1999). Também são utilizadas técnicas específicas 38 para lidar com comportamentos-problema, como birras, necessidade de rotinas e padrões repetitivos de resposta. Para Cláudia Lima (2012: 44), “A avaliação funcional do comportamento baseia-se na recolha de informação para ter descrição o mais clara possível do problema de comportamento, identificando os antecedentes, consequências e outros fatores ambientais que contribuem para manter o comportamento não desejado”. Este método foi desenvolvido nos anos 60 por Loovas e seus colaboradores, com o objetivo de ser usado na intervenção precoce. A intervenção com este método deve iniciar-se prematuramente, logo que a criança é diagnosticada e tem que ser intensiva, devendo durar pelo menos 2 anos a 25 horas por semana. 3.3 - Programa Floor-Time / Modelo DIR Segundo Cláudia Lima (2012), o modelo D.I.R. com abordagem Floortime é um modelo baseado no Desenvolvimento Funcional, nas desigualdades Individuais e na Relação e tem vindo a ser desenvolvido com resultados encorajadores, pelo Interdisciplinary Council on Developmental and Learning Disorders (ICDL), dirigido por Stanley Greenspan e Serena Wieder, nos EUA. O Floor-Time consiste numa terapia de jogo, onde são utilizados vários brinquedos, numa sala de jogo, normalmente desenvolvido no chão. É um modelo de intervenção intensivo e global, que alia a abordagem Floortime ao envolvimento e participação da família (devido à importância da sua relação emocional com a criança), e às distintas especialidades terapêuticas existentes numa equipa interdisciplinar (terapia ocupacional, Terapia da Fala, psicologia, etc.) e a articulação e integração nas estruturas educacionais (Silva et al., 2003). O Floortime funciona como uma terapia que cria a interação entre a criança e um adulto através de brincadeira, num desenvolvimento baseado em sequências. As características típicas do modelo DIR- Floortime relativamente a outros métodos é que são basicamente destinadas ao interesse da criança. O modelo DIRFloortime é feito por profissionais, por pessoas treinadas com muita experiência. Portanto são as diferenças dos outros modelos. Sendo os principais princípios do Floortime podem ser aprendidos e integrados por qualquer pessoa, que se interesse e pratique, que tenha orientação, apoio e supervisão (Mello, 2007). 39 3.4- Modelo Son Rise O modelo Son Rise teve origem nos EUA no início da década de 1970, por iniciativa de um casal, Barris e Samahria Kaufman, pois o seu filho Raun tinha sido diagnosticado com Autismo severo e um QI abaixo de 40. Eles decidiram ajudar o filho e dispuseram-se a encontrar uma forma de se aproximarem do seu menino. Naquela época a ciência não estava tão evoluída, não oferecia qualquer tipo de orientação de forma a auxiliar o desenvolvimento social de crianças com Autismo. Desde que Raun evidenciou melhoras, após três anos de trabalho intensivo, os Kaufman têm oferecido o programa Son Rise a várias famílias internacionalmente. Até à data ainda não se verificou nenhum teste longitudinal rigoroso quanto à eficiência deste programa. Sabe-se que este programa estreita a relação entre pessoas e consiste em ensinar a criar e implementar programas e ações centradas na criança. Os pais aprendem a interagir de uma forma divertida e ativa com os filhos, estimulando, desta forma, o desenvolvimento social, emocional e cognitivo. Este método foi criado de forma a ser desenvolvido no lar da criança e é destinado principalmente aos pais. Os pais adquirem técnicas e ferramentas educacionais para trabalharem com os filhos de forma a desenvolver capacidades em todas as áreas da aprendizagem, desenvolvimento e comunicação. Houghton (2008) refere que este programa acontece num quarto geralmente em casa da criança, estruturado para diminuir a estimulação sensorial. Uma das circunstâncias a ser distinguida é que durante as sessões de brincadeira no quarto de brincar está apenas um adulto e uma criança. Isso indica que os únicos movimentos e barulhos serão os dela. Por norma as crianças, no Programa Son Rise baseados em casa, frequentemente tomam a iniciativa de irem brincar para o quarto. Houghton (2008) menciona que existem duas formas, sendo a criança o foco central, de tornar a interação motivadora: seguir a criança, ou seja, motivar a criança e dar controlo, isto é, ser sensível à criança. No que concerne à primeira forma, uma das estratégias é a utilização de objetos e atividades com os quais a criança está motivada. O adulto junta-se à criança nessa brincadeira até que a criança vá interagir com ele. A segunda forma que ajuda o aparecimento de um interesse espontâneo é dar controlo ou colocar um estilo responsivo de interação. 40 Este é um programa centrado na criança, o que significa que a brincadeira resulta dos seus interesses pessoais, portanto a criança escolhe quando quer começar e terminar a interação. 3.5- Metodologia Teacch Este modelo vai ser referido posteriormente, em outro capítulo, uma vez que é o modelo de intervenção utilizado no nosso estudo de caso. 4- Inclusão da criança com Autismo Na Declaração Universal dos Direitos do Homem vemos reconhecido no seu artigo 26.º: “Toda a pessoa tem direito à educação. A educação dever ser gratuita, pelo menos no que diz respeito ao ensino elementar e fundamental”. Também nos artigos 28.º e 29.º da Convenção sobre os Direitos da Criança vemos contemplado esse direito. Para se falar em inclusão de alunos Autistas, há a referir que a preparação dos professores é um dos facilitadores. Hoje em dia, o aluno com NEE (necessidades Educativas Especiais) recebe uma educação mais adequada às suas características do que recebia há anos atrás. De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, estar incluído é deixar de “acompanhar o currículo normal” e o aumento dos serviços educativos a estas crianças vai criar muitas alterações nas estruturas educativas, com grandes consequências quer na organização das estratégias de intervenção do professor de apoio quer, e fundamentalmente, no papel da própria escola e dos professores do ensino regular. Assim, segundo o seu art. 19º, a política de educação deve garantir a integração nos estabelecimentos de ensino ou em instituições especializadas de pessoas com NEE em condições pedagógicas, humanas e técnicas adequadas. De acordo com Correia (1997) as medidas mais inclusivas são as que separam as crianças com NEE o menos possível do contexto natural de que fazem parte integrante. Para Siegel (2008), não existe uma forma única de educar uma criança, no entanto existem princípios gerais que se podem aplicar, assim como diferentes filosofias e formas de ensinar. É essencial reconhecer a importância da formação do professor de alunos Autistas. Ultimamente, somente os professores de Educação Especial estavam mais sensibilizados para estas crianças, no entanto nos nossos dias observamos professores que tentam e se empenham para melhorar a aprendizagem destas crianças. 41 Segundo Siegel (2008), não deveria ser difícil incluir a criança Autista na escola, no entanto, por vezes, as dificuldades surgem. Os ambientes regulares oferecem às crianças com Perturbações do Espetro do Autismo uma igualdade de oportunidades e uma melhor preparação para a vida. Muitas pessoas acham estranho o comportamento das crianças Autistas, no entanto é importante integrá-las na sociedade, visto que o seu maior handicap é a socialização. Mota, Carvalho & Onofre (2003) afirmam que as crianças com Autismo demonstram dificuldades de aprendizagem muito específicas, no entanto, estas crianças aprendem e demonstram uma melhoria significativa se forem utilizados métodos educacionais específicos, que lhes proporcionem ambientes estruturados, aumentando desta forma as suas capacidades funcionais e a redução das suas limitações. Ao começar a utilizar métodos de ensino baseados em técnicas de modificação de comportamento eficazes, a educação converteu-se, a partir da década de 70, no principal tratamento, sendo reconhecida como a melhor forma de melhorar a qualidade de vida destas crianças e de as aproximar das outras pessoas (Bautista, 1993). As práticas pedagógicas eficazes e apropriadas às deficiências são imprescindíveis para a evolução dos alunos, no entanto o grande problema é que os recursos são escassos. Têm-se realizado muitos esforços para a inclusão das crianças com NEE, para lhes proporcionar uma vida igual às outras crianças, onde se maximizem as suas potencialidades e minimizem as suas dificuldades. Em 1981, ano denominado como Internacional das Pessoas com Deficiência, foi dado um grande passo no sentido da inclusão social. Para tal, muito contribuíram organizações como as Nações Unidas (ONU) que lutaram de forma infatigável pela consagração de práticas que levassem cada vez mais à inclusão. Também por essa altura surgiu a chamada Carta para os Anos 80, proclamada pela Rehabilitation International e recomendada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Esta Carta defendia que as pessoas deficientes deveriam ter os mesmos direitos das demais, participando activamente na sociedade. Esta época foi então bastante importante para que começasse uma maior aceitação dos diferentes, verificando-se que é possível aprender com essas pessoas. Este percurso não é fácil de percorrer e leva o seu tempo. Para que tenha sucesso, precisou do apoio de várias organizações internacionais, para além da já citada ONU. Por conseguinte, há a destacar a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais (NEE): Acesso e Qualidade, em 1994, organizada pelo Governo de Espanha 42 em cooperação com a UNESCO que decorreu em Salamanca (hoje conhecida como Declaração de Salamanca); também a Declaração de Madrid, em 2002, na sequência do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência e, mais recentemente, a Declaração de Lisboa, 2007. Esta Declaração decorreu da audição parlamentar “Young Voices: Meeting Diversity in Education”, no quadro da presidência portuguesa da União Europeia, que a organizou em conjunto com a Agência Europeia para o Desenvolvimento em Necessidades Especiais de Educação. No que toca ao plano educativo, as preocupações com as crianças com NEE começaram a aparecer de forma mais evidente, também por volta dos anos 80, devido ao elevado número de alunos que frequentavam as escolas e apresentavam NEE. Desde a Declaração de Salamanca que em Portugal se tem vindo a evoluir de forma significativa no que concerne à legislação sobra a Educação Especial. A preocupação em dotar as escolas de condições humanas e materiais para que os alunos com NEE possam efetuar as suas aprendizagens tem sido notória, embora nem sempre com os resultados desejáveis. Umas vezes, porque nem sempre é fácil passar da teoria à prática, outras vezes, existem limitações financeiras que dificultam a vida das escolas e não permitem que os alunos com o NEE sejam tão acompanhados como deveriam ser. Todavia, há a realçar que as problemáticas mais complexas têm sido alvo de atenção por parte de quem governa, criando-se mais e melhores infra-estruturas que permitam que alunos com multideficiência, surdocegueira e perturbações do espectro do Autismo possam frequentar a escola regular. Com a publicação do Decreto-Lei n.º 3/2008, foram criadas melhores condições adaptadas a crianças com Autismo, como por exemplo as Unidades de Ensino Estruturado. Estas Unidades dão uma resposta educativa especializada. As Unidades de Ensino Estruturado visam promover: a) a participação dos alunos com perturbações do espectro do Autismo nas atividades curriculares e de enriquecimento curricular junto dos pares da turma a que pertencem; b) Implementar e desenvolver um modelo de ensino estruturado que consiste na aplicação de um conjunto de princípios e estratégias que, com base em informação visual, promovam a organização do espaço, do tempo, dos materiais e das atividades; c) Aplicar e desenvolver metodologias de intervenção interdisciplinares que, com base no modelo de ensino estruturado, facilitem os processos de aprendizagem, de autonomia e de adaptação ao contexto escolar; 43 d) Proceder às adequações curriculares necessárias; e) Organizar o processo de transição para a vida pós-escolar; f) Adoptar opções educativas flexíveis, de carácter individual e dinâmico, pressupondo uma avaliação constante do processo de ensino e de aprendizagem do aluno e o regular envolvimento e participação da família (Decreto-Lei n.º 3/2008, art. 25º). Importa sublinhar, que estas unidades devem ser vistas como fazendo parte de um todo que inclui também atividades que podem e devem ser desenvolvidas por estes alunos nas salas de aula do ensino regular. Caso contrário, há o risco de estas unidades serem vistas como “salas ”, onde se colocam os alunos dias a fio sem contato com os restantes alunos, e isso não seria inclusão. Os alunos Autistas passam parte do tempo em que estão na escola em Unidades de Ensino Estruturado, estando acompanhados pelo professor de Educação Especial. Noutros momentos, estarão presentes na sala do ensino regular, juntamente com a turma a que pertencem, podendo ainda frequentar outros espaços da escola. Estes momentos em que está mais próximo dos seus pares são fundamentais para o aluno Autista, uma vez que partilha experiências com eles, tem contacto com novas sensações que só em contextos de vida real são possíveis de ter e fá-lo sentir parte integrante da comunidade educativa em que está inserido (Silva, 2009). Segundo Rodrigues (2003), estar incluído é mais do que uma comparência física: é um sentimento e uma prática mútua de presença entre a escola e a criança, isto é, o jovem sentir que pertence à escola e a escola sentir que é responsável por ele. Esta mesma opinião é corroborada por Leitão (2006), quando afirma que colocar alunos em contextos separados de aprendizagem, na base do apoio assegurado por professores de Educação Especial, é negar a esses alunos a oportunidade de poderem, no contexto da turma, interagir com os colegas e aí desenvolverem as competências académicas e sociais que só esses contextos proporcionam. As práticas da educação inclusiva assentam na perspetiva de que todos os alunos vão à escola para aprender, interagindo com os colegas e criando novas situações de aprendizagem, pois é na diferença que se percebem as reais capacidades de cada um. O processo de inclusão não se fará de forma perfeita apenas devido à formação dos docentes, mas sem esta, as práticas desenvolvidas serão muito mais vezes acompanhadas pelo medo de falhar. 44 De acordo com Siegel (2008) é melhor ter um professor que tenha tido já alguma experiência prática com alunos Autistas, no entanto muitos dos professores não têm formação nessa área, mas como profissionais deverão ser capazes de demostrar interesse e preocupação em melhorar os seus conhecimentos, de forma a ajudar estas crianças. A interação que se estabelece num grupo (sala de aula), é fundamental para a aprendizagem de todos, principalmente de alunos Autistas, é importante que o aluno Autista se sinta envolvido nas demais atividades realizadas, proporcionando-lhe desta forma uma melhoria nas suas aprendizagens, visto que o seu maior handicap é ao nível das interações sociais. É necessário criar condições, nos diferentes espaços escolares de forma a dar respostas adequadas às necessidades do aluno, potencializando as suas capacidades. Se existir uma verdadeira inclusão da criança com Autismo, esta vai, de acordo com o seu perfil de funcionalidade, desenvolver competências sociais melhorando o seu comportamento, o que se traduz num melhor ritmo de produção em métodos de trabalho. O típico comportamento de um certo alheamento pode ser atenuado, aumentando assim os seus períodos de concentração/atenção. Deve existir uma inclusão, não só na escola, mas nos restantes sistemas em que a criança vive. Se a inclusão for apenas escolar estaremos por certo a criar a exclusão a outros níveis. A sociedade será inclusiva na medida em que os diferentes lugares onde se cresce e se vive, sejam também verdadeiramente inclusivos. A compreensão da inclusão, por parte de todos os profissionais que trabalham direta e indiretamente com a criança Autista, é o princípio para estas desabrocharem e interagirem com os seus pares de forma harmoniosa, mesmo com os seus handicaps. Uma boa forma de inclusão é colocar a criança num contexto de cuidados de dia prestados a crianças de diferentes idades (Siegel, 2008: 300). A componente empírica deste trabalho reflete bem o modelo de intervenção mais adequado às crianças Autistas. Inclusão não significa necessariamente estar juntos e muito menos sempre juntos. Inclusão significa dar a cada um a educação especializada e de qualidade de que precisa. No caso dos Autistas, isso passa por um trabalho em duas frentes distintas, como veremos adiante. 45 PARTE II - Componente Empírica 46 Capítulo 1- Metodologia 1 - Objetivos O objetivo central deste trabalho tem a ver com o ensino estruturado e o Modelo Teacch como complemento da inclusão de crianças com PEA em turmas regulares. Em que medida é que este modelo representa uma intervenção mais eficiente para estas crianças? Para responder a esta questão, organizamos o trabalho em dois campos distintos: o dos alunos e o dos docentes e técnicos. No campo dos alunos, desenvolvemos um trabalho naturalista de tipo etnográfico ao longo de quatro anos. O objetivo específico deste estudo é observar os comportamentos e a progressão das crianças na dupla dimensão da Sala Teacch e da Sala Regular, procurando captar as diferenças e as reações dos vários atores, as crianças e os docentes. Enquanto docente colocada numa UEEA, pude conviver diariamente com sete crianças portadoras do Espetro do Autismo e com a suas famílias, integrando uma equipa de docentes e técnicos encarregados da educação destas crianças. Foi um longo trabalho de observação, análise e reflexão participada, uma imensa recolha de informações nas famílias, nas áreas da saúde e assistência clínica e sobretudo no trabalho diário com as crianças. Os resultados e conclusões desse trabalho de campo são apresentados através de narrativas individuais, com dados abundantes sobre o meio envolvente e as condições de vida de cada criança na família, ao mesmo tempo que se analisa e questiona o percurso escolar individual vivido no dia-a-dia da escola e da Sala Teacch, as características diferenciadas de cada uma. O objetivo específico do segundo estudo tem a ver com as perceções e atitudes dos professores sobre o ensino estruturado e a Sala Teacch e avaliar em que medida o corpo docente está ou não preparado para este público específico. Mais especificamente, pretendia-se: Verificar se os professores/educadores têm conhecimento do modelo Teacch; Saber se os professores /educadores pensam que o modelo Teacch proporciona um desenvolvimento mais estável para a criança com Autismo; 47 Entender se os professores/educadores, pensam ser importante que os alunos portadores de PEA, frequentem a sala Teacch ; Averiguar se os professores/educadores, acham que os alunos com PEA, desenvolvem menos ao não frequentar a sala Teacch, não conseguindo acompanhar os seus pares; Inquirir junto dos professores/educadores se o modelo Teacch reduz a ansiedade destas crianças; Averiguar se os professores/educadores consideram a organização da sala Teacch um espaço adequado de atividades estruturadas e rotinas rígidas, de forma a diminuir os comportamentos dos alunos com PEA; Procurar saber se na perspetiva dos docentes, a sala Teacch promove um desenvolvimento cognitivo superior aos alunos que não a frequentam. A apresentação dos dados é feita sobretudo através de gráficos, fazendo a economia de um texto explicativo necessariamente longo que não caberia na dimensão desta dissertação. 2 - Hipóteses As hipóteses que nortearam o nosso trabalho, quer na perspetiva do acompanhamento e observação dos alunos, quer no inquérito aos professores, assumem para nós, pela experiência e pela revisão da literatura, quase evidências vividas e demonstradas. Mas era necessário, para afirmar o rigor científico deste trabalho, confrontarmo-nos de novo com os docentes e técnicos com quem trabalhamos e organizar a observação das crianças em função desta necessidade. Obervar e questionar o outro, é uma forma de legitimar ou repensar os nossos pontos de vista e o nosso trabalho. Partimos assim das seguintes hipóteses: Hipótese 1 - As crianças com PEA que frequentam a sala Teacch demostram um desenvolvimento mais equilibrado. Hipótese 2 - Os alunos com PEA sem acesso ao modelo Teacch vão ter mais dificuldade em acompanhar com sucesso os seus pares. Hipótese 3 - É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de ensino regular com alunos com PEA. Hipótese 4 - O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular. 48 Hipótese 5 - As necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch. É à volta destas hipóteses que vamos organizar o nosso trabalho. 3 - Instrumentos e fontes de recolha de dados Para a recolha da informação recorremos a essencialmente a dois instrumentos: a observação direta de alunos, docentes e técnicos em contexto de trabalho; o questionário passado aos professores. No plano da investigação documental recorremos aos projetos e currículos individuais dos alunos (PEI/CEI), aos relatórios clínicos e registos sobre os contatos estabelecidos com todos os intervenientes na educação das crianças em estudo. 4 - Relevância e pertinência do estudo a realizar O Autismo tem sido uma patologia muito estudada, por ser uma perturbação diferente de todas as outras e por não se conhecer a sua causa. Com este estudo pretendemos ficar mais conhecedores desta síndrome, que afeta cada vez mais as nossas crianças, essencialmente meninos. Do Espetro do Autismo, existem várias perturbações do desenvolvimento muito graves que ainda não são totalmente compreendidas. Desta forma torna-se difícil adequar uma terapêutica para este tipo de crianças. A Declaração de Salamanca (Unesco, 1994) afirma o princípio da escola inclusiva, onde todas as crianças devem estar juntas, sempre que possível, independentemente das suas diferenças. Será possível educar as crianças com PEA juntamente com os seus pares, na escola e na sala regular? Poderão ter aí as condições de aprendizagem adequadas à sua condição? Será possível uma articulação estreita entre a Sala Teacch e a Sala Regular de modo a garantir a inclusão? Essa é a proposta legislada pelo Decreto-Lei n.º 3/2008 que prevê a criação de unidades de apoio especializado para os alunos com PEA (Perturbação do Espetro do Autismo), de forma a garantir as adequações de caráter organizativo de que estas crianças necessitam. O artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 3/2008 de 7 de Janeiro, faz menção às Unidades de Ensino Estruturado para a educação de alunos com PEA, assim este artigo no ponto 3) expõe os objetivos destas unidades: a) “Promover a participação dos alunos com perturbações do espectro do Autismo nas atividades curriculares e de enriquecimento curricular junto dos pares da turma a que pertencem”; 49 b) “Implementar e desenvolver um modelo de ensino estruturado o qual consiste na aplicação de um conjunto de princípios e estratégias que, com base em informação visual, promovam a organização do espaço, do tempo, dos materiais e das atividades”; c) “Aplicar e desenvolver metodologias de intervenção interdisciplinares que, com base no modelo de ensino estruturado, facilitem os processos de aprendizagem, de autonomia e de adaptação ao contexto escolar”; d) “Proceder às adequações curriculares necessárias”; e) “Organizar o processo de transição para a vida pós-escolar”; f) “Adoptar opções educativas flexíveis, de carácter individual e dinâmico, pressupondo uma avaliação constante do processo de ensino e de aprendizagem do aluno e o regular envolvimento e participação da família”. Por isso nos propomos elaborar o nosso trabalho sobre este tema de forma a conhecer e dar a conhecer melhor o modelo Teacch, a sua forma estruturada, que permite ao aluno Autista uma estrutura de atividades, de modo a desenvolver as áreas em que a criança se sinta com mais dificuldade. 5- Enquadramento Geográfico da rede escolar O nosso trabalho foi realizado no concelho X, Distrito de Viseu. É um município com 220,72 km² de área e 20 990 habitantes (2011), subdividido em 18 freguesias. Beneficia da proximidade da capital do distrito e de um dos principais eixos rodoviários portugueses, a A25, via de acesso e de abertura do Concelho ao País e à Europa. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes aos Censos 2001, residiam, neste ano, no Concelho de X, 20 990 habitantes. Entre 1991 – 2001 assistiu-se a uma perda da população, acompanhando o concelho a tendência verificada nos restantes concelhos pertencentes à região. A taxa de pessoas empregadas no concelho, ascendia, em 2001, a 95.6%, sendo que a maioria se encontrava afeta aos sectores secundário (44.8%) e terciário (48.1%). O setor primário (7.1%) era, em 2001, o setor que empregava um número mais reduzido de indivíduos. No que se refere à taxa de pessoas desempregadas, verificou-se um decréscimo em 2001 face ao ano de 1991. Analisado de uma forma global, o concelho apresenta uma tendência no sentido de uma perda progressiva de população jovem. A principal conclusão deste estudo é a de que, nos escalões etários com interesse para a Carta Educativa, e com excepção do 50 grupo 20-24, todas as freguesias apresentam um declínio da população residente. Uma grande parte da população não revela qualquer grau de instrução (3 177 pessoas), sendo o nível de instrução predominante o 1º Ciclo do Ensino Básico, representando mais do que a soma dos restantes níveis de ensino. A natalidade tem vindo a diminuir nas últimas décadas, o número de crianças que frequentam o 1.º Ciclo do Ensino Básico é ainda significativo, mas é cada vez menor o quantitativo populacional concelhio que dá continuidade aos seus estudos para além deste nível de ensino. Podem ser vários os fatores que levam ao abandono, saídas e insucesso escolar, associadas ao facto de ser um concelho do interior. No que se refere à taxa de transição e à taxa de abandono no concelho X, no ano letivo 2004/2005, verifica-se que: O 1.º Ciclo do Ensino Básico é o nível de ensino que apresenta maior taxa de transição e o 3.º Ciclo é aquele em que essa taxa é menor; É o Ensino Secundário aquele que apresenta o valor mais elevado da taxa de abandono, sendo mesmo o único nível de ensino que apresenta valor superior ao registado para o Concelho. A maioria dos estudantes do concelho que se deslocam para outros municípios, dirigem-se essencialmente para Viseu. Figura 1 - Concelho X Relativamente ao número de estudantes que se deslocam para o concelho em estudo, a maioria provém de um concelho próximo, o que poderá ser consequência da insuficiência de equipamentos de nível médio face à proximidade com o concelho em estudo. Deste modo, o concelho continua a receber estudantes residentes de outros concelhos próximos e a depender de Viseu a nível de estabelecimentos de ensino de hierarquia superior e especializados. 51 Dos 23 estabelecimentos de educação pré-escolar do Concelho, 74% regista uma proveniência local completa. No que respeita à existência de uma rede local de estabelecimentos de ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico em cada uma das freguesias do concelho, verifica-se que o mesmo não acontece. Esta situação é resultado da diminuição do número de famílias nos aglomerados mais rurais, onde as escolas foram obrigadas a encerrar. Neste contexto previu-se a transferência destes alunos para as escolas mais próximas mediante a disponibilização de uma rede de transportes escolares. Dos 24 estabelecimentos de ensino do 1.º Ciclo, 63% regista uma proveniência local completa, valor inferior ao registado para os estabelecimentos de educação préescolar. Ambos os estabelecimentos do 2.º e 3.º Ciclo do Ensino Básico encontram-se situados na sede de concelho e têm uma área de influência que se estende ao total das freguesias que compõem o concelho. O ensino secundário é ministrado apenas por uma escola secundária, a qual se localiza na sede de concelho. 5.1- Contexto escolar O Agrupamento de Escolas foi criado em 2010 e resultou da fusão de dois agrupamentos de escolas e de uma escola secundária. A oferta educativa é diferenciada: educação pré-escolar, ensino básico e secundário e educação especial, que se insere em todos os ciclos. A intervenção precoce destina-se a crianças até à idade escolar que estejam em risco de atraso de desenvolvimento, manifestem deficiência, ou necessidades educativas especiais. A par do desenho curricular implícito ao ensino regular, o 2º e 3 ciclos são matizados com o ensino articulado da Música em todos os anos de escolaridade. Complementarmente, no 3º ciclo organizam-se cursos de educação e formação de nível 2 e 3. No ensino secundário, existem os cursos gerais do ensino secundário científico – humanísticos nas áreas das ciências e tecnologia, artes visuais, línguas e humanidades e ciências-económicas, a par, registe-se, de um conjunto diversificado e significativamente frequentado de cursos profissionais de nível 3. Na educação especial, existem as unidades de ensino estruturado para alunos com perturbações do espectro do Autismo e de apoio especializado para a educação a 52 alunos com multideficiência e surdo cegueira congénita. As unidades de ensino estruturado para a educação de alunos com perturbações do espectro do Autismo e as unidades de Apoio à Multideficiência constituem uma resposta educativa especializada desenvolvida neste agrupamento e que pretende aplicar e desenvolver metodologias de intervenção interdisciplinares que facilitem os processos de aprendizagem, de autonomia e de adaptação ao contexto escolar. Frequentam a UEEA duas crianças do pré-escolar, de jardins-de-infância diferentes, um aluno do 2.º ano, um do 3.ºano e três alunos do 5.º ano. A Unidade de Alunos de Apoio à Multideficiência (UAM) é frequentada por seis alunos, dois do concelho e quatro de um concelho vizinho, que se encontra a 8 km das referidas Unidades. Esta unidade tem como objetivo promover a qualidade de vida através da estimulação sensorial bem como a interação social. Na UEEA é aplicado um ensino estruturado, que se traduz num conjunto de princípios e estratégias baseadas na estruturação do espaço, tempo, materiais e atividades, promovendo uma organização interna de forma a facilitar os processos de ensino/aprendizagem recorrendo a situações de aprendizagem através de uma informação clara e objetiva das rotinas; proporcionar e manter um ambiente calmo e previsível; atender à sensibilidade do aluno aos estímulos sensoriais; propor tarefas diárias que o aluno é capaz de realizar e promover a autonomia. Os alunos participam nas em todas as atividades da turma e fazem a inclusão com o grupo de forma sistemática e diária. O AE dispõe de uma sala de Snoezelen, que se tem mostrado uma mais-valia para estas crianças. Aqui desfrutaram de novas sensações e novas experiências, aumentando-lhes gradualmente o estado de atenção/concentração, e diminuindo-lhes estados de maior agitação/irritação. Há a destacar o trabalho realizado pelos diferentes técnicos intervenientes; o terapeuta de fala; psicomotricista, fisioterapeuta e serviços de psicologia e orientação, nas seguintes valências: apoio psicológico e psicopedagógico e orientação escolar e profissional, a par do apoio ao desenvolvimento do sistema de relações da comunidade educativa. 53 Nº de assistentes Assistes operacionais colocados Operacionais pelo ministério da do quadro Educação Educação pré – escolar 1.º CEB ao Secundário Assistentes operacionais da Câmara Assistentes operacionais de POC Total 10 62 4 3 20 124 6 59 Quadro 2 - Número de assistentes operacionais Nível de Educação e Ensino Educação pré – escolar 1.º CEB 2.º CEB 3.º CEB Secundário EFA Regular Regular Regular Regular Regular Noturno 20 36 20 39 30 3 N.º alunos 295 752 423 623 536 44 Totais 148 2743 Cursos Turmas Professores 21 51 51 76 58 6 263 + 18 Professores de Educação Especial Quadro 3 - Números de alunos e professores no Agrupamento de Escolas X 6 - Modelo Teacch O Teacch foi o programa desenvolvido para atender os Autistas e outros casos que possam existir de distúrbio no desenvolvimento. A filosofia deste modelo tem como objetivo principal ajudar a criança com PEA a crescer e a melhorar os seus desempenhos e capacidades adaptativas, de modo a atingir o máximo de autonomia ao longo da vida (Unidades de Ensino Estruturado Para Alunos com Perturbações do Espetro do Autismo – Normas Orientadoras - DGIDC). Este modelo tem vindo a ser utilizado em Portugal desde 1996, de forma a dar resposta aos alunos com PEA em escolas do ensino regular. Numa prespetiva educacional, o modelo Teacch assenta no ensino de capacidades de comunicação, organização e partilha social. Centra-se nas áreas fortes frequentemente encontradas nas crianças com PEA- perceção visual, memorização de rotinas. É um modelo maleável que se adequada ao perfil de funcionalidade de cada criança. 54 O Ensino Estruturado baseia-se num conjunto de metodologias que, com base na estruturação do espaço, tempo, materiais e atividades, desenvolvem uma organização interna que simplifica os processos de aprendizagem e de autonomia. Sempre que num contexto escolar existam alunos com Autismo que precisem de respostas educativas diferenciadas, de forma a garantir melhores aprendizagens, é fundamental a criação de uma Unidade de Ensino Estruturado. Estas unidades não devem ser frequentadas por um número superior a seis alunos. Na criação de uma Unidade de Ensino Estruturado deve ter-se em conta a disparidade pedagógica, a centralização de alunos com perturbações do Espetro do Autismo (PEA) de um ou mais concelhos, de acordo com a sua localização e possibilidades de transporte, a presença de um espaço físico apropriado e a garantia de prosseguimento (processo de transição entre ciclos). (Unidades de Ensino Estruturado Para Alunos com Perturbações do Espetro do Autismo – Normas Orientadoras- DGIDC). A organização destas unidades deve assentar num trabalho de equipa e deve incluir sempre que possível: Família dos alunos; os órgãos de gestão dos agrupamentos de escolas que reflitam reciprocamente soluções para atenderem a todos estes alunos; professores de Educação Especial; os docentes de turma, diretores de turma e outros envolvidos no processo ensino /aprendizagem do aluno; técnicos, como Terapeutas da Fala, Psicomotricista, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos e outros, caso seja necessário; serviços da comunidade que se julguem necessários para responderem às necessidades pormenorizadas dos alunos com perturbação do Espetro de Autismo (PEA). (Unidades de Ensino Estruturado Para Alunos com Perturbações do Espetro do Autismo – Normas Orientadoras- DGIDC). A Unidade de Ensino Estruturado em questão é composta por dois docentes de educação especial, com formação especializada, duas Assistentes Operacionais, um Terapeuta da Fala, uma Terapeuta Ocupacional, uma Psicomotricista e dois Psicólogos. 7 - Recursos Materiais Para poder trabalhar com estas crianças é imprescindível dispor de material muito específico, para se levarem a cabo determinadas atividades que vão de encontro ao perfil funcional de cada criança. Numa Unidade de Ensino Estruturado é fundamental a existência de material informático, - computador, scanner, software educativo, software de comunicação aumentativa/alternativa (PEC´S e SPC…) - , 55 máquina de plastificar, material audiovisual, - quadro interativo, tablet, quadro magnético -, material didático e material de desgaste. A UEEA em estudo dispõe de uma verba para material de desgaste e outro que seja necessário e está abastecida com todos estes equipamentos. Para que se possa estruturar um espaço físico adaptado às necessidades destes alunos é necessário que o mobiliário permita uma delineação e que permita a criação das áreas a trabalhar. O mobiliário necessário passa por: Estantes /armários; armários específicos para a área “trabalhar” (de forma a colocar os cestos, onde as crianças tiram as atividades a realizar); mesas de trabalho individuais; mesas de trabalho em grupo; cadeiras; sofás, entre outros. Acredita-se que um ambiente estruturado para uma criança Autista cria uma base sólida para o processo de aprendizagem. A UEEA em estudo dispõe de tudo o que tem sido necessário para os alunos, estando dotada de todos os recursos humanos e físicos necessários. 8 - O que proporciona o Modelo Teacch O programa Teacch (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children - Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Perturbações da Comunicação) teve origem nos Estados Unidos da América, no ano de 1971, criado pelo professor Eric Schopler e seus colaboradores e, desde então, tem servido como modelo internacional. Foi concebido para crianças com Perturbações do Espectro do Autismo de todas as idades. Assenta na ajuda às pessoas com Espetro do Autismo e às suas famílias, uma vez que existe uma grande inquietação em preparar os Autistas para serem mais autónomos e atenuarem os seus comportamentos mais característicos, como refere Pereira e Serra (2006: 51): “ (…) ajudar as pessoas Autistas para que vivam ou trabalhem da forma mais autónoma possível em casa, na escola ou num local de trabalho.” A filosofia do Método Teacch tem como objetivo principal ajudar a criança a crescer da melhor maneira possível, de modo a atingir a idade adulta. Segundo as normas orientadoras da DGIDC, o Método Teacch traduz-se num conjunto de princípios e estratégias que, com base na estruturação externa do espaço, tempo, materiais e atividades, promovem uma organização interna que permite facilitar 56 os processos de aprendizagem e de autonomia das pessoas com perturbação do Espetro do Autismo, diminuindo a ocorrência de problemas de comportamento. A UEEA atua no sentido de criar um ambiente calmo e previsível, em áreas bem definidas e delimitadas; facilitar um espaço adequado à sensibilidade sensorial de cada aluno; informar clara e objetivamente, tendo como auxílio suportes visuais para apoiar nas rotinas; dar resposta individualizada no que se refere ao ensino, com o objetivo de se desenvolver a comunicação, interação social e autonomia. 9 - Estrutura Física da sala Assim a sala tem uma estrutura física apropriada, que permite organizar o espaço ou ambiente de ensino/aprendizagem. Este local deve ser estruturado de forma visualmente clara, com áreas bem definidas, permitindo que o aluno consiga obter informação e organizar-se o mais autonomamente possível. Na organização da UEEA tem que existir a preocupação de se criarem espaços com significado, cada área corresponde a atividades especificas determinadas pelo material existente nesse espaço. 10 - Organização do tempo e horário individual O horário individual organiza o tempo e é um suporte eficaz para a comunicação e para a interiorização dos conceitos. É a forma de facultar ao aluno a noção da sequência que vai trabalhar. Este horário é realizado de acordo com o perfil de funcionalidade de cada aluno e pode ser adaptado. Por exemplo, pode ter imagem associada a palavra escrita ou pode ser organizado com recurso a objetos reais, partes de objetos reais, fotografias, imagens desenhadas e pictogramas. Figura 2 - Exemplo de um horário realizado com objeto 57 Figura 3 - Horário utilizado na UEEA em estudo A disposição do horário deverá ser no sentido vertical ou na horizontal, por ser o sistema convencional de leitura e de escrita no nosso país. 11-Plano de trabalho O horário informa o aluno sobre a sequência das atividades que irão ocorrer ao longo do dia; o plano de trabalho indica as atividades que tem de realizar em determinada área. Este horário permite ao aluno adquirir a noção de princípio, meio e fim. No fim do horário, existe um local onde o aluno coloca o cartão de transição (ou seja, para passar para a próxima atividade). Figura 4 - Plano de trabalho/ área de transição 58 12-Organização do Espaço 12.1- Área de transição Local onde os alunos guardam os seus pertences e onde se encontram os horários individuais que orientarão as atividades diárias de cada aluno. Os alunos devem dirigirse a esta área sempre que termina uma atividade para consultarem qual será a próxima. Dar ao aluno a noção de sequência temporal, facilita a compreensão de ordens verbais, ajuda a diminuir os problemas de comportamento e desenvolve a autonomia. 12.2- Área de Reunião É a área onde os alunos exploram o calendário e realizam atividades de interação explorando objetos e sons, de forma a desenvolver competências ao nível das noções espácio-temporais, a autonomia e a compreensão de ordens verbais. Figura 5 - Exemplo de um horário na UEEA em Estudo Este horário informa o aluno sobre o que vai acontecer ao longo do dia. 59 12.3- Área de Trabalho de Grupo Tem como objetivo promover a interação social, através da estimulação do trabalho e partilha em grupo, dando oportunidade à aquisição de novas aprendizagens. Figura 6 - Área de “trabalhar em grupo” 12.4-Área de Aprender Área reservada ao ensino individualizado, num trabalho de um para um, frente a frente, facilitando a interação e o contacto visual. Este local tem como objetivos desenvolver novas aprendizagens, assim como a atenção e a concentração. É um espaço limpo de estímulos distratores. São utilizadas estratégias demonstrativas, pistas visuais ou verbais, ajudas físicas, reforços positivos e também atividades que vão de encontro ao interesse dos alunos. Figura 7 - Área do “aprender” 60 12.5- Área de Trabalhar É a zona onde os alunos realizam o trabalho individual e autónomo, as atividades já aprendidas. Este trabalho encontra-se organizado por tarefas para que os alunos saibam quais as atividades a realizar seguindo a sequência correta. Também aqui existe um plano de trabalho que transmite ao aluno informação visual sobre o que fazer e qual a sequência. Com base em rotinas funcionais (direita/esquerda, cima/baixo), o aluno desenvolve a noção concretizada de princípio, meio e fim, tornando-se capaz de realizar uma tarefa, ou uma sequência de tarefas. Figura 8 - Exemplo da área de “trabalhar” Figura 9 - Exemplo da área de “trabalhar” 2 61 12.6- Área do Computador Local reservado às tecnologias de apoio, que têm como principais objetivos motivar os alunos e estimular as aprendizagens. Figura 10 - Exemplo da área do “computador” 12.7- Área de Brincar Tem como objetivo promover a interação entre os alunos. Os alunos devem brincar e aprender a brincar selecionando as brincadeiras, realizando atividades de imitação da vida diária. É um local privilegiado para a inclusão inversa, onde se desenvolvem atividades criativas e estimulantes que podem servir de modelo. Figura 11 - Exemplo da área do “Brincar” 62 Capítulo 2 – O ensino estruturado e a Sala Teacch 1.Perfil e percurso dos alunos Apresentamos de seguida a caraterização de sete alunos. São as crianças que pudemos acompanhar e observar no nosso espaço de trabalho. O objetivo é conhecer o perfil de cada criança, o seu meio familiar, o seu percurso escolar e a sua evolução no âmbito da metodologia Teacch. Os nomes são sempre fictícios para preservar a privacidade das crianças e das suas famílias 1.1- Caracterização do Rui O Rui nasceu no dia 02 de outubro de 2007, tem neste momento 5 anos. É o mais novo de dois filhos, numa família estruturada que lhe dá toda a atenção necessária e faz os possíveis para acompanhar o dia-a-dia da criança. Durante o ano de 2009 foi encaminhado para a Consulta de Desenvolvimento da Criança no Hospital de São Teotónio e para a Consulta de Neurodesenvolvimento e Autismo no Hospital Pediátrico de Coimbra, onde foi avaliado e confirmado o diagnóstico de Espetro do Autismo. A 22/10/09 (25 meses de idade), na consulta de Desenvolvimento da Criança no Hospital de São Teotónio, foi aplicada a Escala de avaliação “Schedule Skills II”, obtendo na folha de perfil os seguintes valores, relativos às seguintes áreas: Locomoção – 30 meses; Manipulação, Visão e Cognição – 18 meses; Audição e Linguagem, Fala e Linguagem e Autonomia – 12 meses; e Interação Social – 24 meses”. A 25/02/10 (28 meses), na Consulta de Autismo na Unidade de Neurodesenvolvimento no hospital Pediátrico de Coimbra foi avaliado e confirmado o diagnóstico de “Perturbação do Espetro do Autismo”, com nível de comportamento adaptativo composto abaixo da média para a sua idade cronológica (idade funcional de 1 ano e 5 meses). Os instrumentos de Diagnóstico utilizados foram diversos, verificando-se como áreas mais comprometidas as da Realização Cognitiva, Desempenho Verbal e Imitação. Foi elaborado um relatório e proposto um programa de Intervenção. A 26/02/2010 (28 meses), na Consulta de Desenvolvimento da Criança no Hospital São Teotónio, foi-lhe aplicada a Escala de avaliação do Desenvolvimento “Schedule Skills II”, obtendo na folha de perfil os seguintes valores relativos ás áreas: 63 “Locomoção- 30 meses; Manipulação, Visão, Interação Social e Cognição – 24 meses; Autonomia – 18 meses; Audição e Linguagem e Fala e Linguagem – 12 meses”. Desenvolvimento Escolar do Aluno 2009/2010 Em maio de 2010 iniciou-se o Processo de Avaliação tendo como referência a Cif (Classificação Internacional da Funcionalidade Incapacidade e Saúde), no sentido de redefinir respostas educativas para esta criança, estando concluído a 08/06/10. Assim, foi elaborado o PIIP (Plano Individual de Intervenção Precoce), de acordo com o previsto na alínea d) do art. 7º do Decreto –Lei nº 281/2009, de 6 de outubro. A intervenção seguiu as orientações que resultaram das consultas e avaliações realizadas ao Rui, em articulação com o Projeto Pedagógico desenvolvido na creche e dirigido à sua faixa etária dos 2 anos. A organização das atividades seguiu um modelo estruturado adaptado da metodologia “Teacch”, com base nas rotinas diárias e implementação de alguns programas específicos como o método de Comunicação Aumentativa- PEC ´S. O Rui passou a beneficiar nesse ano de Terapia da Fala e de Terapia Ocupacional, uma vez por semana, na UEEA. Frequentava apenas as terapias. Como apresenta uma perturbação do Espetro de Autismo e como iria deixar a creche para passar para o jardim-de-infância, achou-se por bem preparar uma transição, para se habituar a um ambiente diferente do seu. A família e também a Educadora de Intervenção Precoce acharam por bem encontrar um jardim-de-infância num meio rural, que tivesse menos crianças para o Rui se adaptar melhor. Portanto, durante o mês de junho, acompanhado pela responsável do caso, o Rui ia uma vez por semana ao jardim-de-infância. Foi necessário providenciar as condições necessárias para realizar a higiene nas melhores condições, uma vez que ainda usava fralda. Na sequência da transição para a educação Pré-Escolar, foi feita a sua avaliação com referência à Cif, como referido. Desta avaliação resultou a confirmação da necessidade de intervenção e da redefinição das respostas educativas para o Rui. 64 Considerou-se que deveria beneficiar das seguintes medidas previstas no Decreto – Lei 3/2008, de 7 de janeiro: Alínea a) Apoio pedagógico personalizado (artg. 17º) -Reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma ao nível da organização do espaço e das atividades; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação da aprendizagem de conteúdos; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea b) Adequações curriculares individuais (art.18.º) - Adequações curriculares individuais que respeitem as orientações curriculares referentes à Educação Pré-Escolar (*); - Introdução de objetivos e conteúdos intermédios (*). Alínea C) Adequações no processo da matrícula (artg. 19º) - Na escola adequada, independentemente da sua área de residência; - Prioridade à sua matrícula em escolas com unidades de ensino estruturado, independentemente da sua área de residência (*). Alínea d) Adequações no processo de avaliação (art.20.º) - Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação; - Alteração à periodicidade (*). Alínea f) Tecnologias de Apoio (art.22º) - Recurso a computador, utilização de software educativo e material específico. Utilização do suporte visual (imagens e símbolos – SPC). 2010/2011 O Rui passou a frequentar o jardim-de-infância, todos os dias à tarde, e a UEEA todas as manhãs, onde beneficiava de Terapia da Fala e Terapia Ocupacional. A sua adaptação à sala não foi fácil, como não nos conhecia, a sua interação com o adulto e com as outras crianças foi difícil. Sendo uma criança com dificuldades ao nível da comunicação e ao nível do relacionamento interpessoal, dada a sua patologia, tornou-se mais complicado. Numa primeira fase, achámos importante deixar o Rui explorar a sala, até para se sentir mais à vontade, no entanto, não podia ser contrariado, reagindo mal, fazendo birras, deitando-se no chão e por vezes “ auto- agredindo-se”. 65 Para que interagisse mais connosco, começámos por deixá-lo mais tempo no espaço “Brincar”, para posteriormente se ir adaptando aos restantes espaços da sala. Neste espaço aproveitávamos para realizar pequenas tarefas com ele, no entanto raramente gostava das tarefas, queria qualquer brinquedo que visse, mas se lhe dessemos um brinquedo para ele explorar, rejeitava-o e chorava. Com este aluno e apesar da sua tenra idade, foi necessário sermos mais assertivas, no sentido de ir ao encontro das atividades para ele programadas. Posteriormente foi elaborado um horário com uma das suas cores preferidas e com a sua fotografia, nesse horário constavam as atividades que ele iria realizar ao longo da manhã. Era incapaz de permanecer sossegado no espaço “Reunião”. Por vezes a situação tornava-se caótica, pois recusava-se a sentar-se, deitando-se no chão a gritar. Foram necessárias algumas semanas para conseguirmos que finalmente se sentasse. Quando conseguimos que permanecesse sentado, chorou durante toda a manhã, mesmo depois de já não estar nesse espaço. Era compreensível a sua reação, uma vez que se tratava de um espaço novo, as docentes eram outras, as assistentes operacionais também, e para complicar a situação não tinham chegado os terapeutas, que ele já conhecia. A pouco e pouco, com a orientação do adulto, começou a habituar-se ao horário, no entanto, nunca gostava das atividades, preferia as dos colegas, portanto quando levava o cartão com a sua atividade chorava sempre, até perceber que tinha que levar aquela atividade, normalmente nunca a finalizava, estando constantemente com birras. Por isso era necessário descobrirmos algo de que o Rui gostasse muito, para ao fim de acabar uma atividade lhe darmos o reforço positivo. Falámos com a mãe a fim de nos informar acerca dos seus gostos, tendo-nos transmitido que ele gostava muito da música do “hipopótamo cantor”, portanto, ao fim de cada cartão da atividade havia o cartão da sua música. Nos primeiros dias não achou muita piada, até porque estava habituado a ouvir aquela música em outros contextos, mas depois começou a perceber que ao fim de acabar a atividade podia ouvir a sua música, o que o deixava contente. Então, deste modo, ia sempre buscar a sua atividade com agrado, e quando acabava, apontava para o seu horário para ir buscar o cartão da música. Com o tempo, fomos retirando gradualmente a música, por exemplo, ouvia a música ao fim de fazer duas atividades, até colocarmos a música só quando se ia embora. 66 Quando os Terapeutas foram colocados, já o Rui estava ambientado à sala e aos adultos, não se importando tanto com os seus pares. 2011/2012 O enquadramento do ano letivo anterior manteve-se no presente ano letivo. O aluno continuava a ir à sala de UEEA da parte da manhã e a usufruir das mesmas Terapias, e começou a ter acompanhamento por parte do psicólogo da escola. No início do ano continuava a vir sem regras e com muitas birras, o que mudou com o Ensino Estruturado. O Rui foi um aluno que nos surpreendeu a todos de uma forma positiva, demostrando uma evolução notória em todas as áreas, já não usava fralda e ao nível do relacionamento com os seus pares, que era o seu maior défice, brincava por curtos espaços de tempo com as outras crianças. Era muito perspicaz e até já manipulava o seu horário: de manhã quando chegava visualizava o seu horário, se estavam lá atividades que ele não apreciasse, retirava-as, ou mudava-as para os horários dos seus colegas. Em outras ocasiões quando estava chateado com algum adulto, retirava a sua fotografia e recusa-se a trabalhar com essa pessoa. Realizava as tarefas propostas desde o início ao fim, por vezes sem a ajuda do adulto. 2012/2013 Houve a mudança da Terapeuta Ocupacional para uma Psicomotricista, o Rui não se ambientou logo bem a este novo elemento, por vezes foi necessária a presença de uma das docentes para ele se sentir mais seguro. Como a psicomotricista trabalhava com ele na sala de snoezelen, no início demostrava alguma instabilidade, insegurança e até angústia, pois era a presença de um membro novo. Com o tempo e sentindo que as outras pessoas que ele conhecia estavam ali, foi-se adaptando indo para a sala de snoezelen sem qualquer receio. Apesar de ser muito perspicaz e de ter avançado muito em todas as áreas propostas no seu PEI (Programa Educativo Individual), o Rui continuava no início do ano a ter problemas a nível comportamental, não acatando as ordens do adulto, fazendo “birras” e “auto – agredindo-se”. Após uma conversa com os pais o comportamento dele mudou, tornando-se mais calmo e mais afável, o que se tornou muito benéfico para as suas aprendizagens. 67 Considerações Relativas à Evolução do Rui A permanência na UEEA para alunos com Espetro do Autismo (UEEA) facilitou o desenvolvimento do seu processo de ensino/aprendizagem, sendo muito importante a metodologia utilizada. Durante os anos que esteve na UEEA, o Rui tem denotado uma satisfatória evolução. Em 2010/2011 (início) parecia incontrolável, com as suas birras e choros, no entanto, à medida que se lhe foi programando atividades de acordo com a metodologia Teacch, o aluno desenvolveu-se em todos os níveis, mostrando-se muito perspicaz. Continua a ter uma grande lacuna na linguagem, apesar de se ter trabalhado com vários sistemas entre eles o PEC´S e o SPC. Apesar disso, evidenciou progressos, conseguindo o interlocutor perceber o que ele pretendia. A sala Snoezelen foi muito benéfica para o aluno, uma vez que proporciona conforto, através do uso de estímulos controlados, e oferece uma grande quantidade de estímulos sensoriais, que podem ser usados de forma individual ou combinada dos efeitos da música, notas, sons, luz, estimulação táctil e aromas. O uso de um ambiente multisensorial permite que as terapias sejam únicas para cada criança. É de reconhecer, igualmente, o papel da família, sempre muito preocupada com o bem-estar do Rui, exigindo sempre a todos os intervenientes no processo ensino/aprendizagem uma melhor intervenção. Em síntese, o Ensino Estruturado tem proporcionado ao Rui uma melhor aprendizagem, cria um ambiente mais calmo e adequado à sua sensibilidade, promove situações direcionadas para o desenvolvimento da comunicação, interação social, autonomia e desenvolvimento cognitivo. Foi importante ser sinalizado precocemente e ter a oportunidade de começar a frequentar a UEEA. A frequência da UEEA é muito importante, pois por vezes o professor/educador, não sabe como agir, não está devidamente preparado para responder a todas as questões. Neste caso, a educadora está sensível para a problemática do Rui, no entanto, por vezes, nota-se que está insegura, por isso existem sempre várias reuniões de forma a articularmos o trabalho que é realizado nos diferentes contextos. Nem toda a comunidade escolar está sensível para esta patologia, achando por vezes estes alunos teimosos e com “birras a mais”. Quando vamos ao recreio, vemos que ainda existem muitas crianças que se afastam, pois segundo elas, estas crianças são más e vão magoá-las. 68 Deveriam existir ações de sensibilização para a comunidade em geral, pois as crianças só dizem o que ouvem em casa, ou o que ouvem por parte de outras crianças. Felizmente as crianças com Autismo não se apercebem que estão a ser excluídas e preferem mesmo brincar com as crianças da sua sala. Será isto a inclusão de que tanto se fala? Será que a comunidade escolar não se apercebe da exclusão que está a fazer a estas crianças? Perfil de Funcionalidade Segundo a avaliação do terapeuta da fala, o Rui tem sido um aluno colaborante em contexto de terapia nas atividades, contudo realiza-as muito rapidamente, afetando os seus resultados. Em contexto de terapia, o Rui tenta produzir corretamente as frases que lhe são apresentadas, realizando imitação motora e verbal olhando para o interlocutor. Juntamente com os outros intervenientes no processo educativo, tem-se exigido que utilize as frases para transmitir as suas necessidades como, por exemplo, “eu quero fazer xixi”. Tem-se realizado diversas atividades de estimulação da consciência fonológica, com atividades de segmentação silábica e frásica. É necessário exigir a produção de pequenas frases para exprimir as suas necessidades, em todos os contextos que o aluno contacta. Apresenta bons resultados na compreensão de ordens com mais elementos, bem como em interpretar pequenas ordens com sentido contrário. Necessita melhorar os seus índices de colaboração e atenção nas atividades. Segundo a avaliação da Psicomotricista, ao longo do trabalho desenvolvido foi visível uma favorável desinibição motora, assim com um bom nível de motivação, colaboração e participação nas tarefas. O Rui explora ativamente o material disponível na sala, mostrando as suas preferências por alguns equipamentos específicos. Do ponto de vista psicomotor, apresenta ao nível da tonicidade um perfil eupráxico, isto é, adequado e controlado mediante as tarefas propostas. Ao nível da coordenação oculomotora, apresenta alguma dismetria, ainda que apresente um razoável planeamento motor e controlo visuo-motor, quer a nível manual como pedal. Na receção da bola, consegue reagir e ajustar-se com mais eficácia ao seu movimento numa curta distância, tendo maior dificuldade quando se aumenta a distância, a velocidade do movimento e se não há o aviso verbal. Consegue pontapear a bola estática e móvel, observando-se certa 69 dificuldade em fazer parar a bola com o pé, quando a recebe, bem como controlar a força e direção do movimento. Ao nível da noção do corpo, com orientação verbal, engloba partes do corpo no desenho da figura-humana, (orelhas, pescoço e dedos da mão), conseguindo orientá-los no espaço. No que diz respeito à motricidade fina, observa-se alguma instabilidade na pinça grafomotora, bem como na precisão e na fluência do movimento do membro superior. No entanto, observa-se que já mantém por curtos períodos a tríade no lapís/marcador, sendo necessário posicionar os dedos e corrigir a posição, não o conseguindo ainda autonomamente. É capaz de realizar corretamente uma sequência de 5 tarefas. O nosso trabalho com o Rui tem incidido fundamentalmente na aplicação da estrutura da sala Teacch, recorrendo ao seu calendário de tarefas e diferentes espaços inerentes à estrutura referida. As áreas que estão a ser trabalhadas são: Comunicação e Linguagem; Subárea: Sócio-afetiva: autonomia; interação social, controlo do comportamento; Psicomotricidade: subárea - Motricidade global e Coordenação motora, Motricidade fina e Coordenação visuo-motora e Perceção. Ao nível da autonomia o Rui consegue ser autónomo, pede para ir à casa de banho, tira as calças e nunca faz chichi numa sanita que esteja suja. Despeja sempre o autoclismo por iniciativa própria e lava as mãos. Ao pequeno-almoço, é autónomo, vai buscar o seu cartão, coloca-o no respetivo lugar, vai lavar as mãos, tira o lanche da mochila e serve-se normalmente. Revelou progressos ao nível do comportamento, não faz tantas birras e obedece mais às ordens do adulto, permanece sentado durante mais tempo no decorrer das atividades, mostrando-se mais calmo e empenhado. No que concerne à Interação Social, com os seus pares, entra menos em conflito, brincando com mais facilidade. No recreio é muito perspicaz, apercebe-se de tudo à sua volta, revelando poder de observação, por vezes alertando o adulto para alguma coisa menos boa que esteja a acontecer. No que se refere à área da Expressão e Comunicação, na sub área “Linguagem Escrita”, gosta de trabalhar no quadro interativo, gosta de jogos de escrita e de imagem, associa palavras iguais, e por vezes associa-as à imagem. Identifica as vogais e outras letras do abecedário, sabendo emparceirá-las com a vogal e letra igual. Evidencia 70 interesse pela linguagem escrita, gostando de escrever à sua maneira, imitando a escrita dos pares. No espaço “reunião”, coloca os dias da semana, o cartão do tempo, tenta nomear os dias da semana e o mês no calendário, com ajuda do adulto. Identifica algum vocabulário visual, identificando algumas palavras. Na subárea de Matemática, faz contagens orais até 12 e emparceira números num suporte até 31. Reconhece o grande e pequeno; por cima e por baixo; à frente e atrás; comprido e curto. Também consegue realizar atividades relacionadas com os opostos (noite/dia; seco/molhado; bonito/feio…). Realiza os grafismos dos números de forma correta. Joga o jogo lógico-Matemática, num patamar mais avançado e percebe a sua mecânica. O Rui tem progredido em todas as áreas de uma forma satisfatória, espantando mesmo os médicos que o acompanham, apresenta ainda uma lacuna na fala, no entanto nessa área também se notam evoluções positivas. É de referir, que todas as atividades realizadas são articuladas com todos os intervinientes no processo ensino/aprendizagem do aluno. 1.2- Caracterização do Emanuel O Emanuel nasceu a 17 de março de 2002, tem neste momento 11 anos, e é uma criança com Espectro do Autismo. O ambiente familiar em que cresceu contribuiu para que se tornasse uma criança emocionalmente instável e muito insegura, uma vez que se tratava de uma família sem a mínima estrutura para educar uma criança. Neste momento, vive com a tia materna, o tio e com dois primos, encontrando-se num ambiente familiar que lhe proporciona estabilidade a nível emocional, segurança, bem-estar, afeto e amor, contribuindo para que obtenha alguns progressos. O Emanuel tem contacto com a mãe e com as duas irmãs mais novas, no entanto, por questões jurídicas, não pode estar a viver com elas, o seu progenitor é uma pessoa “desequilibrada”, e só tem autorização para visitar o filho quinzenalmente, o mesmo acontecendo com a avó paterna. 71 Desenvolvimento Escolar do aluno 2005/2008 O Emanuel começou a frequentar o jardim-de-infância no ano de 2005, com 3 anos de idade, e manteve-se até aos 6 anos. Em março de 2008, com a idade cronológica de 6 anos, foi observado/avaliado pela primeira vez na Consulta de Autismo, por suspeita de perturbação do Espetro do Autismo. A observação realizada – ADI – R; CARS e critérios de Diagnóstico DSM IV para Autismo – permitiu confirmar o diagnóstico desta perturbação. Do relatório de observação destaca-se que o Emanuel mantinha dificuldades de aprendizagens generalizadas, autonomia pessoal/social pobre, necessidade de pista visual ou verbal constante para desempenhar as tarefas, comportamento ansioso, particularmente em situações que impliquem alterações à rotina. Não apresentava problemas de comportamento revelantes, apesar da sua agressividade para com o adulto. Em consulta, revelou um comportamento colaborante, apesar de imaturo e ingénuo. De acordo com dados de avaliações da educadora, informações da família e avaliação psicológica, ao nível da linguagem apresentava um atraso e redução das vocalizações bem como ao nível do jogo simbólico, só aos 5 anos começou a “jogar ao faz-de-conta”. Ao nível das interações sociais, verificava-se uma incapacidade para desenvolver relações com os colegas. Não apresentava nenhum tipo de autonomia e revelava um atraso de desenvolvimento acentuado. Revelava medos perante espaços abertos (agorafobia) ou fora do seu contexto habitual, bem como face a determinadas sonoridades, movimentos, padrões (padrão do chão11, bater as asas do pássaro, ou qualquer outro barulho). Perante estas situações reagia muito mal. O aluno apresentava uma deficiência grave ao nível das funções psicossociais globais. Observaram-se índices de deficiência moderada, bem como da energia e dos impulsos. Ao nível da memória, apresentava também bastantes problemas, embora sejam considerados como ligeiros. Ao nível das interações interpessoais básicas e complexas verificava-se uma incapacidade para desenvolver relações com os colegas, isolando-se ou implicando constantemente. 11 Medo de pisar determinados tipos de pavimentos, diferentes do que ele está habituado, como por exemplo :piso da piscina; pavimento em madeiras, etc.. 72 Revelava pouca autonomia, principalmente ao nível dos auto-cuidados, tanto lavar-se, despir-se e vestir-se. Apresentava, ainda, dificuldades em resolver problemas de concentrar e atenção, sendo muito difícil realizar uma única tarefa, bem como tarefas múltiplas e era bastante complicado conseguir terminar as atividades que lhe eram propostas. Dadas as dificuldades que revelava, foi proposto que o Emanuel passasse a usufruir da UEEA para alunos com Espetro do Autismo, assim como beneficiar de Terapia da Fala, Terapia Ocupacional e Psicologia. 2008/2009 Neste ano letivo, o Emanuel ingressou no 1º ano de escolaridade. Frequentava a sala do ensino regular, e usufruía da UEEA, como reforço para as suas aprendizagens. Passou a estar abrangido pelo Decreto-Lei nº3/2008, tendo sido criado para ele um Programa Educativo Individual, passando a usufruir das seguintes medidas: Alínea a) Apoio pedagógico personalizado - Reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma ao nível da organização, do espaço e das atividades; Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea b) Adequações curriculares individuais - Introdução de objetivos e conteúdos intermédios. Alínea d) Adequações no processo de avaliação - Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação; - Alteração à periodicidade; - Alteração à duração; Alínea f) Tecnologias de Apoio. Recurso ao computador, utilização de software educativo e material específico; -Utilização do suporte visual (imagens e símbolos SPC). 2009/2010 Neste ano letivo deu-se a minha entrada na UEEA. O nosso trabalho com o Emanuel incidiu essencialmente em fazer a sua integração na estrutura da UEEA, de forma a estruturar as atividades para ele propostas. Uma vez que já não se recordava da estrutura da sala, dado ter estado ausente durante todo o período de férias de Verão, passou a ser essa a nossa primeira preocupação. Depois de devidamente estruturado, começámos então a trabalhar as áreas que constavam no seu PEI: Autonomia pessoal, Interação Social, Matemática, Língua 73 Portuguesa e Estudo do Meio, como reforço, uma vez que as três últimas áreas eram trabalhadas no ensino regular. O Emanuel permanecia na UEEA, no período da tarde (2 horas), e na sala do ensino regular, no período da manhã. Na sala do ensino regular tinha o seu horário, que lhe permitia realizar as atividades de forma estruturada, não necessitando do acompanhamento por parte das docentes de Educação Especial, no entanto éramos chamadas com bastante regularidade à sala, uma vez que o aluno tinha crises de ansiedade, mostrando-se muito nervoso, angustiado e com muitos medos. Quando estava na UEEA, notava-se que o aluno permanecia mais calmo, gostava de estar num ambiente calmo, longe de barulhos. No ensino regular, apesar de ser bem aceite pelos seus colegas, a docente não conseguia lidar bem com ele, pois o Emanuel entrava na sala, ia ao seu horário, mas permanecia quieto, à espera que lhe fosse dada determinada tarefa, era incapaz de tirar a mochila das costas, assim como o casaco, sem ser alertado pelo adulto. Realizava a higiene na sanita, embora, durante algum tempo fosse necessário a supervisão de um adulto, pois não se sabia limpar e não lavava as mãos. Posteriormente começou a ser mais autónomo nestas tarefas. No despir e no vestir, conseguia despir e vestir o casaco sozinho, necessitando de comandos verbais. Conseguia descalçar-se e calçar-se, mas nunca aprendeu a apertar os cordões, necessitando de demostração, modelagem e comandos verbais para iniciar, continuar e finalizar a tarefa. Almoçava na cozinha, uma vez que não gostava de estar na cantina com os seus pares, referindo que faziam muito barulho. Não apreciava locais barulhentos, apresentando como reação, tapar os ouvidos e encostar-se á parede. Após incentivo e persistência, o Emanuel experimentou almoçar com os colegas e gostou, conversando e imitando os comportamentos deles, muitas vezes desadequados (birras com o tipo de comida). Na alimentação apresentava uma postura adequada à mesa, utilizando adequadamente a colher, não entornando a comida durante o transporte. Apresentava dificuldade na utilização da faca e do garfo. Era necessário insistir com ele para utilizar o talher, não o utilizando regularmente, só quando o adulto estava presente. 74 O aluno beneficiava ainda de Terapia da Fala, de Terapia Ocupacional, Psicologia e ainda de hidroterapia, e todo o trabalho realizado com o aluno era articulado com todos os intervenientes no seu processo de ensino/aprendizagem. Usufruía também de hidroterapia, não demonstrando qualquer autonomia, sendo necessária a supervisão por parte do adulto. Inicialmente recusava-se a entrar nesse espaço por ser novo para ele, recusava colocar os pés no chão da piscina e recusava entrar para a água. Foram necessárias algumas sessões para se sentir à vontade. Depois de superadas estas primeiras situações, passou a ser uma atividade de que gostava muito, pois deixava-o relaxado. Durante este ano letivo, o principal trabalho incidiu com mais ênfase na sua autonomia e interação social, visto serem as áreas onde apresentava maiores handicaps, mas nunca abandonando as restantes áreas, que se afiguravam, igualmente, muito importantes. Foi durante este ano letivo que se começou a aplicar o método de leitura global, método das 28 palavras, que surtiu efeito. Na área da Matemática e Estudo do Meio, eram conceitos mais abstratos e não conseguia acompanhar bem. 2010/2011 Neste ano letivo, verificou-se a mudança da professora do ensino regular. A sua nova docente tinha formação em Educação Especial e já conhecia o aluno, factos estes que se afiguraram bastantes benéficos para as aprendizagens do aluno. Continuaram-se a trabalhar as mesmas áreas que constavam no seu PEI. As atividades decorriam nos diferentes espaços escolares (sala UEEA, sala do ensino regular, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional e Psicologia). Como era início de um novo ano letivo, o Emanuel regrediu nas várias áreas e foi necessária uma nova adaptação e um reforço de todo o trabalho desenvolvido durante o ano letivo anterior. As suas fobias continuavam a ser os fatores que mais interferiam no seu processo educativo, sendo habituais os discursos incoerentes, que abordavam ladrões, acidentes, mortes, “foguetes que faziam muito barulho, balões que rebentavam, crocodilos que passeavam na sala, etc…”. Tornava-se difícil compreender a noção que o Emanuel tinha de realidade e ficção, sendo muitas vezes difícil para nós, percebermos se o que ele relatava era verídico ou fruto da sua imaginação. 75 Na UEEA, conseguia manter a atenção por curtos períodos de tempo, quando em atividade na área do “aprender”. Continuava a apresentar dificuldade em iniciar, continuar e terminar as tarefas, sem a orientação do outro. Revelou sempre uma autoconfiança reduzida nas suas capacidades, necessitando muito de atenção, afeto e aprovação do adulto. Na sala de ensino regular, continuava a demostrar muitos medos e angústias, durante o tempo da sua permanência. No recreio, encontrava-se com os colegas, mas procurava principalmente a companhia do adulto. Conhecia bem os espaços da escola, conseguindo orientar-se para os diferentes locais. Demostrava dificuldade em repetir oralmente as situações e resolução de problemas ao outro, bem como as hipóteses encontradas para esse problema. Por vezes revelava pouco à vontade aquando do relato ao adulto de situações reais, ficcionando certos fatos que não aconteciam na história real, de forma a desviar o objetivo da conversa. 2011/2012 O enquadramento do ano letivo anterior manteve-se no presente ano letivo, deixando de ter a Terapia Ocupacional. Deu-se um reforço em todas as áreas em que mantinha as dificuldades. Neste ano letivo mudámos de edifício, mas o Emanuel não se mostrou muito perturbado, uma vez que a sala se encontrava com a mesma estrutura física. A maior contrariedade que se verificou foi a mudança da sala do ensino regular para outro edifício escolar, o que se mostrou algo penoso para o Emanuel. O seu horário mantevese o mesmo e o aluno era transportado por um funcionário, sempre que se dirigia à UEEA. Existiam progressos seguidos de retrocessos e continuava a evidenciar medos e inseguranças, o que impedia por vezes uma melhoria na sua aprendizagem. No entanto, conseguiram trabalhar-se os conteúdos programados. Mostrou-se mais autónomo ao nível da Autonomia Pessoal e da Interação Social e verificou-se uma melhoria ao nível da oralidade e da argumentação quando confrontado com alguns factos verdadeiros e outros falsos. Apresentava um maior poder crítico sobre o que lhe era dito. Ao nível da escrita apresentava confusão entre os grafemas “o” e “u” e em muitas situações dava muitos erros ortográficos. 76 Em relação à construção de pequenos textos a nível oral demonstrava ténues progressos, contudo ao nível da escrita tornava-se necessária uma constante ajuda dando tópicos e ideias para a elaboração dos mesmos. Sem orientações, o Emanuel demonstrava sempre dificuldade. No que se referia aos aspetos pragmáticos do seu discurso, continuava a variar o tema durante a mesma conversa, utilizando tópicos sem relação semântica e fugindo sempre para os seus interesses. Na área de Matemática, identificava os números até 1000, efetuava contagens crescentes e decrescentes (com números até 20), reconhecia os números ordinais até 20, conseguia estabelecer relações entre a hora e o minuto. Realizava operações simples: adição com transporte; subtracção e multiplicação simples, embora fosse necessário recorrer à tabuada. É de referir que todas estas atividades eram realizadas com bastante frequência, sendo repetidas várias vezes nos diferentes contextos escolares. Neste ano o Emanuel não conseguiu atingir os objetivos propostos, devido à sua instabilidade emocional. 2012/2013 Neste ano letivo deu-se a sua transição para o 2.º ciclo, o que trouxe muita dificuldade para o Emanuel. Tentou-se alertar a encarregada de educação para a situação, uma vez que o Emanuel teria beneficiado se tivesse permanecido por mais um ano no ensino básico, no entanto, a encarregada de educação, de acordo com a informação que veio do Hospital Pediátrico de Coimbra, achou por bem que o aluno continuasse na mesma turma, com os seus pares. Apesar de todas as evoluções que foram feitas pelo aluno, foi necessário mudar as suas medidas educativas. Procedeu-se então à realização do seu PEI, devido à transição de ciclo, passando a beneficiar das seguintes medidas: Alínea a) Apoio pedagógica personalizado – Reforço das estratégias e desenvolvimento de competências específicas; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação e reforços da aprendizagem de conteúdos; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Para desenvolvimento desta medida educativa, foram implementados alguns programas específicos de intervenção como: - Programa estruturado para o treino da discriminação auditiva; - Programa estruturado para o treino da memória. 77 Alínea d) Adequações no processo de avaliação - Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação; - Alteração à periodicidade; - Alteração à duração; - Alteração ao local de execução. Alínea e) Currículo Especifico Individual – Introdução de objetivos e conteúdos não existentes no currículo comum; - Substituição de objetivos e conteúdos do currículo comum; - Eliminação de objetivos do currículo comum. Alínea f) Tecnologias de Apoio – Utilização do computador, quadro interativo e software adaptado para o desenvolvimento de competências específicas. Neste ano continuou a beneficiar de Terapia da Fala e de hidroterapia e passaram-se a trabalhar as áreas de Língua Portuguesa Funcional, Matemática funcional e Interação Social e frequentou todas as outras disciplinas, com objetivos definidos de acordo com o seu perfil de funcionalidade: História e Geografia de Portugal; Ciências da Natureza; Inglês; EV; Educação Física; Música, ET, Apoio ao Estudo; Oficina de Escrita e Religião e Moral. Em todas as disciplinas, tem-se tido o cuidado de preparar material específico de acordo com os conteúdos programados no seu CEI, indo de encontro ao que os seus colegas trabalham na turma. Passou a frequentar a UEEA, todas as terças-feiras, durante todo o dia, e as quartas-feiras, durante a manhã. Este horário foi realizado em articulação com todos os participantes no processo ensino/aprendizagem e pela coordenadora da Educação Especial, uma vez que a UEEA se encontra em outro edifício, um pouco afastada do edifício do 2º Ciclo, o que dificultava a sua mobilidade. É de salientar que o seu horário foi realizado de acordo com o seu perfil de funcionalidade: Educação Física, Educação Visual, etc. Em todas as outras disciplinas era acompanhado por uma docente. Considerações Relativas à Evolução do Emanuel Ao longo destes quatro anos que exerci a minha atividade profissional na UEEA, o Emanuel tem mostrado uma evolução positiva, principalmente ao nível da Autonomia e da Interação social. A nível cognitivo continua a denotar dificuldades. Com o tempo, a persistência e a presença sempre das mesmas docentes, terapeutas e assistentes operacionais, tem demonstrado estar mais calmo e mais estável, com menos medos e mais feliz, mostrando-se menos angustiado. No que concerne à 78 Autonomia Pessoal, desde que estamos na UEEA o aluno evidenciou progressos significativos, tornou-se mais responsável, organizado e atento. É de destacar, igualmente, o papel da família. Todos se mostraram muito preocupados com o bem-estar do Emanuel, procurando estar sempre presentes no seu processo educativo, assim como a sua diretora de turma, que está bastante sensibilizada para este tipo de alunos, sensibilizando os restantes professores e os seus colegas de turma. No entanto, ainda se verifica alguma resistência por parte de determinados docentes, não percebendo o que o Emanuel se encontra a fazer em algumas aulas. No entender de alguns docentes, o aluno deveria permanecer sempre na UEEA, não percebendo o quão é importante para o aluno desenvolver-se o mais possível junto dos seus pares, para o preparar para a vida adulta, tornando-o mais autónomo e mais sociável. Em síntese, o Ensino Estruturado tem proporcionado ao Emanuel uma melhor aprendizagem. Cria um ambiente mais calmo e adequado à sensibilidade do aluno, promove situações direcionadas para o desenvolvimento da comunicação, interação social e autonomia. Perfil de Funcionalidade O Emanuel tem vindo a beneficiar de apoio ao nível da Terapia da Fala por apresentar alterações no seu desenvolvimento linguístico e no processo comunicativo. Continua a manifestar alguma dificuldade e confusão em retirar informação contida em alguns enunciados, tanto orais como escritos. A nível fonológico continuam a manifestar-se algumas dificuldades sobretudo em tarefas de evocação fonémica e silábica. Melhorou na compreensão do segundo sentido em material verbal que lhe é transmitido, como algumas ordens e opiniões. Tentou-se trabalhar a sequencialização de acontecimentos do quotidiano, transmitindo-os para a escrita, verificando-se dificuldade em realizar esta tarefa. O psicólogo refere que o Emanuel é simpático, sociável e falador. No entanto, continua a utilizar um discurso estereotipado, procurando, por vezes, usar termos de alguma coloquialidade, que não são habituais na sua faixa etária e que nem sempre resultam num discurso muito lógico. Outras vezes fixa-se em determinadas palavras ou expressões, repetindo-as em voz baixa como se fossem ruminações. 79 Demonstra empenho e vontade na realização das atividades propostas, procurando superar as suas dificuldades, mas com pouca evolução ao nível do ritmo de execução. Revelou alguma evolução no relacionamento interpessoal e ao nível do contacto e progressos ligeiros quer ao nível da fluência leitora, situando-se muito abaixo da média esperada para a sua faixa etária, quer ao nível da precisão leitora. Relativamente ao nosso trabalho, tem incidido fundamentalmente na aplicação da estrutura da sala Teacch, recorrendo ao seu calendário de tarefas e diferentes espaços inerentes à estrutura referida, reforçando todas as áreas de carácter funcional. No que se refere à socialização, já se relaciona de forma mais harmoniosa com os seus pares, não entrando tanto em conflito. Apesar de ter melhorado a sua interação durante o intervalo, por vezes continua a isolar-se e a falar sozinho. Tem evidenciado mais facilidade na comunicação, tem maior abertura para partilhar situações do seu quotidiano, embora nem sempre o seu discurso corresponda à realidade. A nível da Matemática Funcional, desenvolveram-se tarefas e estratégias no sentindo de aumentar o seu grau de conhecimento, no que concerne aos conteúdos programados no seu CEI. Apesar de ter evidenciado progressos, continua muito lento na realização das tarefas, necessitando de ajuda constante para iniciar e finalizar as mesmas. Não toma iniciativa de realizar as atividades autonomamente. Continua a revelar dificuldade na retenção de informação, o que dificulta as suas aprendizagens. Efetua operações simples: adição com transporte; subtracção e multiplicação, mas é necessário recorrer à tabuada, e à ajuda do adulto, revela muita dificuldade na resolução de situações problemáticas. Consegue aplicar a simbologia > < e = , faz contagens crescentes e decrescentes, faz contagens de 2 em 2 , de 3 em 3 , de 5 em 5 de 10 em 10, tem a noção de dezena e centena. Identifica a moeda em vigor, sabe qual a sua utilidade, desenvolveram-se tarefas de compra e venda, de forma a consolidar os conteúdos, ainda demonstra dificuldade nos cálculos referentes aos trocos. Na área de Língua Portuguesa Funcional, apesar de ter evidenciado alguns progressos, continua a apresentar dificuldades, na interpretação de textos, em escrevêlos com sequência lógica e com sentido. Revela muita insegurança na realização de fichas, mesmo que sejam simples, tem dificuldade em procurar as respostas a questões nos textos. 80 Continua a demonstrar dificuldade na construção de frases, escrevendo-as sem sentido, sem lógica e não sabe aplicar os sinais de pontuação. A nível gramatical, revela progressos, reconhece a forma e tipo de frase, o singular e o plural, o género, reconhece os sinais de pontuação, consegue com alguma ajuda identificar nomes próprios, comuns e coletivos, bem como os pronomes pessoais. Reconhece o presente do indicativo e o passado dos verbos regulares. Em forma de conclusão, muitos docentes não estão preparados para intervir com estas crianças. Mesmo tendo a Especialização em Educação Especial, há docentes que desconhecem o Modelo Teacch, principalmente os docentes do 2.º Ciclo, que acham a sala similar a uma sala de jardim-de-infância, outros não concordam com o modelo, argumentando que limita o aluno. Muitos destes docentes rejeitam mesmo ter estas crianças na sala, com quem não conseguem trabalhar. As crianças portadoras de PEA demonstram um desenvolvimento mais equilibrado ao beneficiarem da UEEA, pena é que nem todos os docentes estejam sensibilizados para tal, uns por falta de conhecimento, outros por falta de vontade. Para uma melhor inclusão da criança com Espetro do Autismo, deve sempre envolver-se em todas as atividades sejam elas: cívicas, artísticas, desportivas e sociais da escola, juntamente com os seus pares e docentes. Ressaltando a importância de ter previsibilidade de ações e acontecimentos, o que diminuirá em muito a ansiedade e a resistência a mudanças e comportamentos não adaptativos. A sensibilização para a inclusão não pode partir somente do docente da Educação Especial, tem que partir de todo o meio envolvente. A sala Teacch deveria estar situada num estabelecimento acessível a todas as crianças que usufruam dela sem ter de andar de um lado para o outro. 1.3- Caracterização do Luís Nasceu no dia 4 de setembro de 2005 e tem neste momento 7 anos. Vive com os pais e com dois irmãos gémeos. A nenhum deles até à data lhes foi diagnosticada qualquer perturbação psicossocial nem outras patologias. O Luís foi observado pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 2008, com a idade cronológica de 3 anos e 3 meses, a pedido da Dra. Maria do Carmo Abreu, por suspeita de perturbação do Espetro do Autismo. A observação clínica permitiu confirmar o diagnóstico de perturbação do Espetro do Autismo. Nesta consulta foi 81 proposto um programa de intervenção que incluiu apoio específico na área da linguagem e se iniciou no Espaço de Reabilitação Psicoeducacional. Frequentou o jardim-de-infância desde os 5 meses até aos 5 anos de idade, sempre com a mesma educadora de infância e as mesmas auxiliares. Devido à sua problemática, passou a usufruir do Decreto-Lei nº3/2008 de, 7 de janeiro. Usufruía ainda de Musicoterapia (1 hora semanal) e Psicomotricidade no Espaço de Reabilitação e Intervenção Psicoeducacional. Desenvolvimento Escolar do aluno 2007/2008 Neste ano letivo esteve integrado num grupo de 23 crianças da sala dos 2 anos, usufruiu de apoio na intervenção precoce, ao abrigo do despacho conjunto 891/99, a partir de janeiro de 2008 (modalidade de apoio misto repartido entre a creche – 2 vezes por semana, num total de 3 horas e 30 minutos, e domicílio, quinzenalmente, cerca de uma hora e trinta minutos). Foi elaborado o PIAF, de acordo com o previsto no ponto 6.4 no referido despacho. 2008/2009 Neste ano letivo começou a frequentar a UEEA, durante o período da manhã. Usufruía de Terapia da Fala e Terapia Ocupacional (na UEEA), Psicomotricidade e Musicoterapia (extra- escolar). Foi elaborado o seu PEI (Programa Educativo Individual), usufruindo das seguintes medidas: Alínea a) Apoio pedagógico personalizado - Reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma ao nível da organização do espaço e das atividades; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação e reforço das aprendizagens; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea b) Adequações curriculares individuais – Introdução de áreas Curriculares específicas; - Introdução de objetivos intermédios. Alínea c) Adequações no processo da matrícula - Prioridade à sua matrícula em escolas com unidades de ensino estruturado, independentemente da sua área de residência. 82 Alínea d) Adequações no processo de avaliação - Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação; - Alteração à periodicidade; - Alteração à duração; Alteração ao local de execução. Alínea f) Tecnologias de Apoio - Utilização do suporte visual – SPC (Símbolos Pictográficos de Comunicação); - Makaton (programa de comunicação reconhecido internacionalmente, com uma abordagem multimodal que recorre à fala, a gestos, a imagens e a símbolos; - Utilização do computador, quadro interactivo e software adaptado ao desenvolvimento de competências específicas. 2009/2010 Ano da minha entrada na UEEA, juntamente com o Terapeuta da Fala e Terapeuta Ocupacional. Continuou a ter Psicomotricidade extra-escolar e deixou de ter Musicoterapia. O Luís já tinha um Ensino Estruturado muito bem definido. Com apenas com 34 anos, tinha a estrutura física da sala interiorizada, não permitindo de forma alguma fugir à estrutura desta. Necessitava mesmo de um ensino estruturado, pois sem ele mostrava-se nervoso, agitado e angustiado. A nossa maior dificuldade foi ao nível da Interação Social. A criança Autista tem dificuldade em criar vínculos de afeto com qualquer pessoa. Numa primeira fase o Luís entrava na sala, dirigia-se ao seu horário na “área da transição” e não fazia qualquer tipo de contato ocular, sentava-se no espaço “reunião” e deixava-nos cantar os bons dias, sem nunca interagir com os seus pares ou adultos. Estava habituado a trabalhar com outras docentes e por isso não nos aceitou bem, precisou do seu tempo para se adaptar a novas pessoas. Mesmo sendo uma criança de tenra idade, era o único que conseguia realizar atividades no espaço “trabalhar” de forma autónoma e sem mostrar dificuldades. Acabava de trabalhar e tinha o reforço positivo de ir brincar. Retirava do seu horário o cartão, ia brincar, mas continuava a não evidenciar qualquer tipo de interação. As suas brincadeiras eram colocar carros em linha ou outros objetos. Não sabia brincar. As áreas que eram trabalhadas com o Luís eram as seguintes: Autonomia Pessoal; Psicomotora: - Desenvolver a motricidade grossa e o planeamento motor; Desenvolver a motricidade fina e a coordenação oculomotora; Interação Social;Perceção: Adquirir noções de tamanho, forma, cor e peso; Percepção visual: constância da forma, discriminação da figura-fundo e relações espaciais simples: e 83 Comunicação e linguagem: - Desenvolver competências linguísticas; - Melhorar as suas intenções comunicativas. Estas áreas já estavam a ser desenvolvidas no ano letivo anterior, mas os objetivos encontravam-se por atingir ou apenas parcialmente atingidos. As atividades eram articuladas com o jardim-de-infância, ou seja, o que ele fazia na UEEA era repetido à tarde no jardim-de-infância. Em casa os pais voltavam a fazer essas mesmas atividades. Desta forma sabia bem todas as atividades, embora fossem sempre necessários reforços. O Luís evidenciava muita dificuldade na comunicação verbal, mostrando muita resistência. Pronunciava apenas as palavras: “chichi”, quando tinha vontade; “xau”, quando se ia embora e “acha”, que significava bolacha. Apresentava, comportamentos estereotipados e atitudes repetitivas como fechar todas as portas que se encontravam abertas, fechar todas as gavetas, empilhava todas as peças de um jogo colocando-as todas em fila, separava todos os objetos por cores (atitudes normais, inerentes ao Autismo). Mostrava-se ausente por períodos de tempo consideráveis, dificultando a sua atenção/concentração. Com o decorrer do tempo, deixou que nos aproximássemos mais dele, mas não foi um processo de semanas, foi durante o 1º período e durante metade do 2º período, o que revela a sua intolerância a mudanças, de docentes e de terapeutas. No que respeitava à Interação Social, melhorou, mostrando-se mais simpático e mais carinhoso para com o adulto. 2010/2011 Manteve-se o enquadramento do ano letivo anterior, dando-se continuidade ao trabalho desenvolvido, acrescentando mais objetivos, uma vez que conseguiu atingir os anteriormente propostos. Com 4 anos, o Luís era uma criança com uma capacidade de aprendizagem e personalidade fortes, sendo persistente e teimoso quando os seus desejos não eram cumpridos. Testava o limite do adulto provocando-o, realizando contato ocular nessas alturas. Por vezes percebia certas regras que lhe eram impostas, após repreensão de determinado comportamento. Os conteúdos trabalhados eram simples, uma vez que se encontrava no jardim-de-infância, não evidenciando grandes dificuldades. Ao nível da comunicação, já era capaz de, em algumas situações, pedir o que queria, arrastando o interlocutor até ao objeto/local que pretendia, por vezes acompanhado de algumas vocalizações. Relativamente ao desenvolvimento da 84 linguagem, verificava-se um atraso bastante acentuado, sobretudo ao nível expressivo. Apresentava uma Perturbação da Comunicação com atraso no desenvolvimento da linguagem. Para colmatar essas dificuldades era utilizado o PEC´S (Sistema de Comunicação por Figuras) e o SPC (Comunicação Aumentativa e Alternativa). O Luís continuava a evidenciar alguns défices na Interação Social, por vezes demonstrava um certo isolamento e uma indiferença perante os outros interlocutores e pessoas que o rodeiam. Muitas vezes encontrava-se a brincar sozinho, não se importando com barulhos fortes ou alguns comportamentos ruidosos de outros alunos na sala de aula. Gostava de objetos de preferência com bastante movimento, como bolas a rolar, bolas de sabão, ou outros objetos com movimento, mostrando a sua satisfação com movimentos amplos dos braços e repetitivos. Ainda neste ano, iniciou-se o método de leitura global, com recurso a imagem, utilizando numa primeira fase as palavras que ele utilizava mais, como: mãe, pai, casa, carro, cama, sopa, frutos, animais – utilizando imagens reais do seu quotidiano, para desta forma associar a palavra à imagem. Posteriormente começámos a dar início ao Método das 28 palavras, uma vez que ele iria ingressar para o 1.º Ciclo. No entanto, nesse ano apenas conseguimos chegar à palavra uva, sendo já um grande avanço. 2011/2012 O Luís ingressou no 1º Ciclo, a pedido dos pais, que não quiseram adiar o processo de matrícula, uma vez que achavam melhor o Luís continuar com as mesmas crianças do jardim-de-infância. Da mesma opinião partilhavam a educadora de infância e a psicóloga do Hospital Pediátrico de Coimbra. Continuou a usufruir das mesmas Terapias, passando também a ter Psicologia e Hidroterapia, a sua preferida, não mostrando medos, uma vez que os pais já o tinham iniciado no ano letivo anterior. Aproveitou-se essa área para trabalhar a Autonomia pessoal (como o despir e o vestir). Neste ano letivo mudámos de edifício, mas o aluno não se mostrou muito perturbado. Elaborou-se o seu PEI (Programa Educativo Individual, devido à transição de Ciclo). As medidas previstas continuaram a ser as mesmas, fizeram-se também as suas adequações curriculares, mantendo as áreas em que o Luís mostrava mais dificuldade: Interação Social; Autonomia; Motricidade Global; Motricidade Fina; Coordenação Oculomotora e Perceção Visual e acrescentaram-se as áreas que seriam trabalhadas no 85 ensino regular com o reforço na UEEA, como a Língua Portuguesa; Estudo do Meio e Matemática. Os pais mostravam-se bastante otimistas quanto à sua integração na sala do ensino regular, pensando mesmo que o Luís conseguiria estar mais tempo no ensino regular, o que mais tarde não sei veio a verificar-se. Numa primeira fase iria estar mais tempo na UEEA, para posteriormente passar para a sala do ensino regular, sendo acompanhado por uma docente da UEEA. A docente do ensino regular já tinha sido docente da Educação Especial, no entanto não tinha conhecimento da Perturbação do Espetro do Autismo, e tratava-o como se fosse uma criança normal, falava com ele normalmente, mas o Luís não percebia, não era capaz de responder à simples pergunta “Como se chama o teu pai?” Embora tentássemos explicar à docente que o Autismo era diferente das outras patologias, ela continuava a agir da mesma forma, parecia não nos ouvir. Ficou combinado que o Luís iria à turma 1 hora por dia na primeira semana e posteriormente 2 horas por dia, até chegar a ir da parte da manhã à sala do ensino regular e à tarde à sala UEEA. Preparámos para a turma do ensino regular um horário, uma vez que o aluno é muito estruturado e se não tivesse as atividades estruturadas, ficava nervoso e angustiado, mostrando-se muito agitado. A docente exigiu que ele fosse sozinho, pois queria conhecê-lo, sem nós intervirmos. Desta forma o Luís tirava do seu horário a “turma” e íamos levá-lo à porta; um colega vinha trazê-lo à UEEA. Durante aquela hora sabíamos que era difícil para o Luís, pois nós já estávamos com ele desde os 3 anos, mas a docente do Ensino regular, tranquilizava-nos, dizendo que ele estava muito bem, que interagia muito bem, com ela e com os colegas de turma. No entanto, nós sabíamos que não poderia correr tão bem, pelo menos inicialmente, pois o Luís rejeita pessoas “desconhecidas”, é um dos seus maiores handicaps, além disso necessitava do programa Teacch, precisava de ter o seu cantinho para trabalhar, limpo de estímulos, calmo e sem barulho. Depois dessa semana, a docente informou que o aluno estava a reagir muito bem, que sabia as vogais, que sabia os números até 10; tentámos explicar que eram conteúdos que já haviam sido trabalhados no ano transato, mas a docente não percebia isso, pensava que o Luís fazia todas aquelas aprendizagens na sala do ensino regular. 86 Na segunda semana, quando os conteúdos começaram a ser diferentes, o Luís não permanecia quieto nas atividades, preferindo estar a juntar os lápis de cor e os marcadores todos em fila, aí a docente do ensino regular começou a perceber que esta patologia era muito diferente, e começou a articular mais connosco. Começámos a perceber que o Luís não estava tão preparado para ingressar no 1º ano, os conteúdos para ele eram muito abstratos. Então ficou acordado que iria 1 hora por dia à turma, no entanto já ia acompanhado por uma de nós. Percebemos que os períodos de concentração do Luís eram mínimos, como testemunhamos no Hospital Pediátrico de Coimbra, na consulta em que acompanhamos a criança e os Pais. Não foi prescrita qualquer medicação – não existe medicação que ajude ao aumento de períodos de concentração – mas foi aconselhado um maior “isolamento”, ou seja, trabalhar mais na área do “aprender” e na área do “trabalhar”, onde o local é limpo de estímulos visuais, longe de objetos e barulhos capazes de destabilizar a concentração. Por outro lado, a permanência na sala do ensino regular deveria ser feita imediatamente antes de períodos de descanso (recreio/almoço) para evitar que na atividade seguinte a criança esteja desestruturada. Nesse ano letivo continuámos a trabalhar com o método das 28 palavras e a inserir conteúdos que estavam previstos, mas o Luís regrediu um pouco. Não tinha muitos conceitos, os conteúdos eram muito abstratos, e talvez ainda não tivesse a maturidade para entrar na escola primária. No início do ano, os pais criaram uma grande expectativa em relação à sua ida ao ensino regular, no entanto, o Luís começou a demonstrar um grande desfasamento perante os seus colegas, dada a extensão do programa do 1º ciclo. 2012/2013 O Luís continuou a usufruir de Terapia da Fala e acompanhamento Psicológico, mas deixou de ter Terapia Ocupacional para começar a ter Psicomotricidade. Continuou a beneficiar das mesmas medidas educativas, e nas suas adequações curriculares foram deixados conteúdos que ele não tinha atingido, colocando alguns conteúdos do 2º ano de escolaridade. Continuava a ir à sala do ensino regular assim como em todas as saídas que a sua turma fazia, acompanhado sempre por um adulto, no entanto não conseguia permanecer muito tempo. Deu-se continuidade ao método das 28 palavras, uma vez que surtiu efeito. 87 Este ano foi pautado por avanços e recuos. Cada vez que ia de férias (inicio do ano letivo, Natal, Páscoa), vinha descontrolado, mostrando birras e muitas brincadeiras. Continuou a evidenciar muitas dificuldades na Matemática e Estudo do Meio. Na UEEA, iniciou-se a Terapia com Cães assistida, em regime de experimentação, para vermos como os alunos reagiam, uma vez que, segundo alguns estudos, os animais de comportamento dócil (cão) trazem às crianças momentos de tranquilidade e alegria. Nesses momentos, principalmente as crianças, deixam de lado os seus problemas, dores, insatisfações, e até os seus momentos de solidão e tristeza. A presença do cão, neste caso uma cadela, pode ser relaxante, ajuda a diminuir a pressão sanguínea e o stress. Achámos por bem continuar com a presença da cadela todas as quintas – feiras. Para o Luís foi muito bom. Nas duas primeiras sessões mostrou medo, não se aproximava, mas na terceira sessão já lhe começou a fazer festas, a dar-lhe de comer, a penteá-la, mostrou-se muito dócil para com a cadela, e esta muito dócil para com ele. Ao fim de realizar as atividades propostas, a cadela já se deitava no chão à espera que o Luís fosse deitar a sua cabeça por cima do seu lombo, e assim era sempre. Foi uma atividade que se mostrou muito proveitosa, benéfica para o seu desenvolvimento, ao nível da Interação Social, da Comunicação, Linguagem, e Socialização. Considerações Relativas à Evolução do Luís O modelo Teacch mostrou-se muito benéfico, uma vez que permitiu um trabalho mais organizado, com materiais e atividades direcionadas só para ele. Para complementar a sua lacuna na linguagem e comunicação, foram utilizados os programas supracitados (SPC E PEC´S). Este modelo permitiu criar mentalmente “estruturas internas” que foram transformadas por ele como”estratégias” e, mais tarde, autonomizadas de modo a funcionar fora da sala de aula, em ambientes menos estruturados. Ao longo destes quatro anos em que exerci a minha atividade profissional na UEEA, o Luís tem denotado uma evolução favorável, embora fosse mais a nível de aprendizagens para a vida diária (como a autonomia, a socialização, a interação com os seus pares dentro e fora da sala, e a interação com outro tipo de seres (cadela, gatos…). O Luís tem um ambiente familiar estável; os pais têm-se sempre mostrado muito interessados e informados, colaborando sempre no processo educativo. 88 Os pais do Luís têm um elevado conhecimento da patologia que apresenta o seu filho, exigindo sempre mais recursos, e exigindo tudo aquilo a que têm direito. Para além do trabalho na escola, reforçam a matéria, inclusivamente em ambientes extra escolares. Em síntese, o Ensino Estruturado tem proporcionado ao Luís uma melhor aprendizagem, cria um ambiente mais calmo e adequado à sua sensibilidade, promove situações direcionadas para o desenvolvimento da comunicação, desenvolvimento cognitivo, interação social e autonomia. Perfil de Funcionalidade Segundo a avaliação do Terapeuta da Fala, os comportamentos do Luís, foram variáveis, apresentando períodos de maior agitação e outros de boa colaboração nas atividades propostas. A nível comunicativo, nomeadamente nos aspetos pragmáticos, apresenta progressos em algumas situações, nomeadamente chamar o interlocutor pelo nome próprio quando pretende a ajuda do mesmo para realizar algo. Utiliza um maior número de expressões com intencionalidade comunicativa, contudo continua a utilizar algumas expressões relacionadas com desenhos animados e jogos, com uma ecolália tardia. No contexto de terapia melhorou ao nível do contato ocular e na tomada de vez, quer comunicativa, quer ao nível da interação, respeitando os turnos. Segundo a avaliação da Psicomotricista, verificou-se um aumento na capacidade de auto-regulação, com melhoria na manutenção da atenção e concentração, o que contribuiu para um trabalho mais eficaz. No entanto, ainda são frequentes os episódios em que o Luís se distrai com pequenos estímulos, dispersando a atenção, baixando os níveis de produtividade nesses momentos. Mantém dificuldade na apropriação de conceitos abstratos: em cima/em baixo; à frente/atrás; primeiro/último, bem com na identificação esquerda/direita, ainda que tenha melhorado o seu desempenho no contexto do jogo, quando são trabalhados esses conceitos. Apresenta um bom desempenho nas atividades grafomotoras, melhorando a sua caligrafia, e mostrando particular interesse pela cópia de desenhos e praxis construtiva pelo modelo em papel. No entanto, mantém ainda dificuldade na ideação motora, na parte criativa, como na criação de construções e no desenho de conceitos simples, sem ajuda visual. Mantém-se a utilização de símbolos SPC na organização das atividades, compreendendo a sequenciação de tarefas, por vezes, alternando a ordem dos cartões 89 consoante o seu interesse, sendo capaz de ser o próprio a organizar as tarefas mediante as suas escolhas. Na Autonomia, tem-nos surpreendido, uma vez que faz a sua higiene pessoal, sem a ajuda do adulto. Quando se desloca à piscina, mostra-se mais autónomo, enfrentando os desafios propostos. No chuveiro, anteriormente apresentava receios, neste momento já levanta a cabeça para lavar o cabelo. Posteriormente dirige-se à sua mochila e retira a toalha limpando-se, veste-se, embora por vezes necessite de ajuda. Discrimina os diferentes espaços da escola que ele utiliza e orienta-se autonomamente. Tem revelado progressos, conseguindo deslocar-se sozinho nos diferentes espaços escolares. Lava e limpa as mãos e, quando necessita, chama o adulto. Transporta sempre a sua mochila e retira o seu material de trabalho, arruma o material, após a finalização da tarefa, por iniciativa própria. Ao nível da alimentação, só come bolacha maria, ou um biscoito próprio que a mãe lhe faz, é incapaz de comer outra coisa ao lanche. Este ano aprendeu a puxar o leite por uma palhinha, coisa que até então estava a ser batalhada. Ao nível da Interação Social, verificou-se um grande avanço, é simpático, sorri e diz bom dia ou boa tarde. No intervalo, corre muito sem destino, vai buscar o adulto para brincar com ele. Quando lhe dizemos para ir ter com um colega, ele vai, mas não sabe brincar, sendo necessária a orientação do adulto. Mas sente-se feliz, por estar entre as pessoas, não mostra qualquer tipo de medos, nem angústias. Verificou-se evolução a nível de conceitos, compreendendo mais facilmente as mensagens que lhe são transmitidas. Melhorou a nível de compreensão de material verbal oral, como o cumprimento de algumas ordens simples. Na área de Língua Portuguesa, deu-se continuidade ao método das 28 palavras, sobre o qual têm incidido as nossas atividades, reforçando com o SPC (Sistema de comunicação por imagens), gosta de escrever no computador, manuseando bem o rato, e sabe ir buscar o que pretende. Relativamente ao método utilizado na área de Língua Portuguesa, revelou alguns progressos, lê e escreve, apresentando uma boa caligrafia, no entanto demonstra dificuldade na interpretação dos conteúdos. Através da leitura também estamos a promover aprendizagens mais complexas como conceitos básicos e emoções. Conseguiu compreender a noção de plural/singular; feminino/masculino, através de materiais preparados especificamente para ele. 90 Na Matemática, conta mecanicamente até 50 e realiza a associação ao número correspondente, continua a manifestar dificuldades em operar, mesmo com material adaptado. Apesar de já ter mecanizado as operações de adição e subtração, revela muitas dificuldades ao nível da linguagem Matemática. Sempre que são abordados estes “assuntos”, o Luís demonstra comportamentos muito disruptivos não deixando ser ensinado. Estão a ser trabalhadas situações para a adição e subtração em que no problema estão indicados os espaços para o desenho do problema e para a representação da operação. Se forem problemas com adição (ex: o Luís tem quatro lápis azuis e três lápis verdes. Quantos lápis tem ao todo?) consegue realizar com alguma facilidade, mas se for uma situação problemática com a subtração revela mais dificuldade e não permite ser orientado. Consideramos que este aspeto, apesar de ser complexo, necessita de ser trabalhado de forma sistemática uma vez que é muito importante para as habilidades de autonomia pessoal e social. Em síntese, continuamos a considerar que seria muito importante que se ponderasse, em conjunto com os técnicos e família, experimentar algum tipo de medicação que diminuísse os comportamentos opositivos e disruptivos, porque na realidade é-nos muito difícil ensinar ao Luís, e isso está a prejudicar de forma significativa a promoção do seu potencial cognitivo e académico e, consequentemente, a sua autonomia futura. 1.4- Caracterização do Victor Nasceu no dia dez de maio do ano 2002, tendo neste momento onze anos. Primeiro filho de pais jovens, saudáveis e não consanguíneos, nascido de parto distócico (ventosa) e após gestação de termo, vigiada e sem problemas. “Teve, ao nascimento, choro imediato e parâmetros biométricos adequados à idade gestacional. O período neonatal precoce e tardio decorreu sem intercorrências”. O Victor tem uma irmã e a sua situação familiar não é das mais favoráveis, sendo o seu progenitor por vezes agressivo, o que causou a sua mudança para este agrupamento de escolas, estando neste momento a viver com a mãe, o companheiro da mãe e a irmã. A mãe é uma pessoa bastante preocupada com as evoluções do filho, mostrando-se sempre muito atenta e participativa na sua vida escolar. O Victor frequentou a consulta de pediatria e neuropediatria no hospital geral de Santo António. Aos 3 anos e 7 meses de idade, foi observado pela pediatra Fátima 91 Pinto, que diagnosticou uma “perturbação do desenvolvimento psicomotor com dificuldade na área da comunicação”. Em 2005 foi encaminhado para uma consulta ORL do hospital de crianças Maria Pia, pela Dr.ª Teresa Temudo, para despiste de audição. Foi-lhe diagnosticado um quadro clínico de hiperatividade, com atraso da fala, e perante este fato foi sugerido que o aluno passasse a usufruir de apoio individualizado. 2006/2007 Além de frequentar o jardim-de-infância, passou a cumprir a metedologia Teacch numa Unidade de Ensino Estruturado, onde usufruiu de Terapia da Fala 2 vezes por semana. As medidas que constavam no seu PEI (Programa Especifico Individual), encontravam-se ainda ao abrigo do Decreto-lei n.º 319/91 e eram as seguintes: Alínea c) - Adaptações curriculares – Prolongamento no tempo de aprendizagem; Adequações de objetivos, conteúdos e atividades de modo a responder às dificuldades e necessidades da criança. Alínea f) - Condições especiais de avaliação – Adequação da forma e meios de comunicação da criança; - Alteração à periodicidade. Alínea g) - Adequações na organização de classes – Redução do número de alunos por sala nas turmas que integrem alunos com necessidades educativas especiais. Alínea i) - Implementação de um Programa Educativo Individual, 2008/2009 Ingressa no 1º Ciclo, tendo sido revisto o seu PEI (Pograma Especifico Individual), devido à transição de Ciclo, sendo já ao abrigo do Decreto-Lei nº3/2008 de 7 de janeiro, com as seguintes medidas: Alínea a) - Apoio Pedagógico Personalizado - Reforço das Estratégias utilizadas no grupo ou turma aos níveis da organização, do espaço e das atividades; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação e reforço da aprendizagem de conteúdos lecionados no seio do grupo ou turma; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea b) – Adequações curriculares individuais – Introdução de áreas curriculares específicas; - Introdução de objetivos e conteúdos intermédios; - Dispensa das atividades que se revelem de difícil execução em função da incapacidade do aluno. 92 Alínea c) - Adequações no processo de matrícula – frequência de escola com Unidade de Ensino Estruturado / Unidade Especializada. Alínea d) - Adequações no processo de avaliação Alínea f) - Tecnologias de Apoio. Nesse ano usufruiu da UEEA para crianças com Espetro do Autismo, beneficiou ainda de Terapia da Fala, Psicomotricidade e dos Serviços de Psicologia. 2009/2010 Ingressou no 2º ano, onde continuou a beneficiar das mesmas medidas, uma vez que estavam a surtir efeito. Ao longo desse ano letivo, a família foi um grande facilitador das aprendizagens realizadas pelo Victor, proporcionando à escola compreensão e colaboração com a presença de apoio físico e humano. 2010/2011 Passou a frequentar para o 3.º ano de escolaridade, onde se verificaram as mesmas as medidas. Continuou a usufruir das mesmas Terapias e passou a beneficiar também de Musicoterapia. 2011/2012 Neste ano letivo, o Victor passa para o 4.º ano de escolaridade, tendo-se mudado a medida da alínea a) adequações curriculares para a alineia e) Currículo Especifico Individual, uma vez que se tornava mais benéfico para o aluno. Deste modo, passaramse a trabalhar áreas de carácter mais funcional e onde o aluno demostrava maiores défices: Psico/Social; Cognitiva; Motricidade Global. 2012/2013 O aluno foi transferido do Porto para o Agrupamento de Escolas em questão, devido a problemas pessoais, portanto foi o nosso primeiro contacto com o Victor. Foi um aluno que não demonstrou grande resistência à mudança, no início chorava, quando o deixavam na sala e fazia birra, tendo comportamentos desadequados, no entanto, como já vinha habituado a um ensino estruturado, acabou por se adaptar. Muito contribuiu para isso, a paciência, persistência, carinho e atenção dado pelo adulto, e claro a estrutura física da sala também se verificou uma mais-valia, pois o Victor sabia 93 que a sala era praticamente igual à sua anterior. Demonstrou empatia com o adulto, mantendo sempre um contato ocular normal, gostando muito de carinho. Tivemos que elaborar o seu PEI (Programa Específico Individual), devido à transição de Ciclo, assim como os conteúdos a trabalhar no CEI (Currículo Específico Individual). Mantiveram-se as mesmas medidas do antigo PEI, e foram mudados conteúdos para serem trabalhados no ano letivo referido, nas seguintes áreas: Psico / Social (Higiene e autonomia); Socialização (Comunicação e interação social); Expressão e Comunicação; Expressão Motora (motricidade fina e motricidade grossa); Perceção (Perceção visual; Noções de quantidade). O aluno encontra-se no 5.º ano, e frequenta a sala do ensino regular, nas disciplinas de Educação Física, Religião e Moral, Música, Educação Visual e ET, que são as disciplinas que se enquadram dentro do perfil de funcionalidade do aluno. Não tem sido fácil a sua adaptação ao ensino regular, uma vez que muitos dos docentes não estão sensibilizados para a problemática do Victor, que apresenta ecolália imediata, está sempre a repetir o que o adulto diz, o que incomoda os docentes. No que se refere à sua presença na sala UEEA, beneficia de Terapia da Fala, de Psicomotricidade, de Psicologia, de Hidroterapia e ainda de Terapia com cães assistida (todas as quintas feiras 1 h). São atividades das quais ele gosta bastante, principalmente da hidroterapia e da terapia com o cão, mostrando-se muito participativo em todas as atividades propostas, como na natação, onde aproveitamos para trabalhar a área da Higiene e Autonomia. O seu comportamento nem sempre é o mais adequado, mostrando ciúmes dos seus pares, sendo por vezes “vingativo”. Nas atividades propostas, nem sempre as realiza sozinho, preferindo que o adulto se sente ao seu lado, não por não as saber fazer, mas necessita de segurança, e por vezes não gosta de ver o adulto com outra criança. É uma criança meiga e simpática com o adulto, mas não com os seus pares. Tenta a todo o custo chamar a atenção do adulto. É um aluno que não demostra medos nem angústias perante determinadas situações. Mas é um aluno com um perfil de funcionalidade baixo, o que o impede de realizar determinadas tarefas /atividades. As atividades que estão a ser desenvolvidos com o Victor têm como objetivo estimular as suas funções cognitivas e psicossociais, para que possam ser desenvolvidas estratégias didático-pedagógicas que permitam trabalhar os défices que ele apresenta ao nível da interação social, comunicação e padrões de comportamentos restritivos e estereotipados 94 Perfil de funcionalidade O Victor é um aluno com um quadro clínico de Perturbações do Autismo. Esta situação perturbou e perturba o seu desenvolvimento psicológico e psicossocial. As respostas que produz aos níveis da intervenção individual e interativa não são da sua “responsabilidade”, mas sim produto de competências não adquiridas e não desenvolvidas nas dimensões neurobiológica e neuropsicológica. Apresenta um perfil de desenvolvimento heterogéneo, com resultados, em diferentes áreas, abaixo do intervalo considerado normal para as crianças com a sua idade cronológica, sendo a área da Cognição aquela que apresenta um desempenho mais baixo. Segundo a avaliação do Terapeuta da Fala, tem vindo a beneficiar de apoio nesta área por apresentar uma Perturbação da Comunicação bem como alterações no seu desenvolvimento linguístico. O comportamento do Victor tem sido variável em contexto de terapia, apresentando em algumas situações comportamentos de oposição, rejeitando as atividades e desafiando constantemente o interlocutor. Continua a utilizar uma ecolália imediata de tudo o que ouve na sala e dos diferentes interlocutores. Entende algumas ordens que lhe são transmitidas, bem como quando se utiliza linguagem com conotação negativa. Consegue, com ajuda, realizar atividades de segmentação silábica e frásica. Necessita melhorar os seus índices de colaboração bem como diminuir os seus comportamentos de oposição para melhorar as suas aprendizagens e o seu processo comunicativo. Segundo a avaliação da Psicomotricista, no que diz respeito á intervenção psicomotora, manifesta um comportamento desajustado e pouco colaborante, tendo uma influência negativa durante o trabalho, comprometendo os resultados esperados. No entanto, quando motivado, é colaborante nas atividades. Ao nível da coordenação motora geral, continuam-se a verificar grandes dificuldades: tempo de resposta bastante elevado nas tarefas desempenhadas e movimentos pouco controlados, coordenados e harmoniosos. Neste sentido, têm-se promovido atividades que estimulem o desenvolvimento motor, como o rolar, andar em carrinho de mão, rastejar, saltar no trampolim, subir e descer cadeiras, andar em planos estreitos, furar entre cadeiras ou no túnel, saltar nos arcos, andar nas andas, etc.. Quando colaborante, verifica-se uma melhoria na receção e lançamento da bola afastada e dirigida a si, tendo ainda dificuldade em ajustar-se às mudanças de direção da bola e em manter o controlo visual nesta. 95 Ao nível da praxia fina, tem-se dado especial enfoque ao desenvolvimento da coordenação dinâmica manual e dissociação digital, com o intuito de melhorar a qualidade da sua caligrafia, bem como outros aspetos funcionais. Aprecia as atividades no trampolim e na bola de terapia, assim como a piscina de bolas e restante material sensorial. O nosso trabalho com o Victor tem incidido fundamentalmente na aplicação da estrutura da sala Teacch, recorrendo ao seu calendário de tarefas e diferentes espaços inerentes à estrutura referida, trabalhando as seguintes áreas: Psico / social (Higiene e autonomia); Socialização (Comunicação e interação social); Expressão e Comunicação; Expressão Motora (motricidade fina e motricidade grossa); Perceção (Perceção visual; Noções de quantidade). No diz respeito à Socialização – Usa formas convencionais, tais como: bom dia, olá, boa tarde, xau, até amanhã, etc… Interage com os seus pares de uma forma conflituosa, não respeita as regras implementadas na sala. Na Interação com o adulto mantém uma relação de desafio, quer impor sempre a sua vontade, não respeitando as ordens proferidas, mostrando ciúmes quando não é alvo da atenção do adulto. No intervalo revela alguns progressos na interação com os seus pares, colaborando mais nas brincadeiras ao ar livre. O Victor demonstra alguma autonomia em termos de Higiene Pessoal: reconhece que está sujo e vai lavar as mãos por iniciativa própria. Na natação gosta de tomar banho sozinho, mas tem alguma dificuldade em ensaboar-se. Na ida à casa de banho, por vezes faz xixi fora da sanita, mesmo sendo alertado constantemente pelo adulto. Gosta de repetir os erros de forma a desafiar o adulto. Na alimentação, come com a faca e o garfo, mas não utiliza o guardanapo, suja tudo à sua volta e a ele próprio. Mostra dificuldade em comer a sopa com a colher, entornando-a. Ao nível da Língua Portuguesa funcional, denota limitações de articulação, expressão, entoação das palavras do vocabulário de uso corrente. Não consegue manter uma conversa com sentido, apenas utiliza a ecolália, embora saiba o nome dos colegas e dos adultos. Quando questionado, por vezes responde de forma correta, embora não articule bem a palavra. Emparelha palavras iguais, e copia a data e o nome autonomamente, reconhece as letras maiúsculas/minúsculas e de imprensa/manuscritas, no entanto a copiar as palavras por vezes não copia a totalidade das letras. 96 No que concerne à Matemática Funcional, reconhece os números e associa-os autonomamente até 20. No jogo escola virtual, faz adições simples, com a ajuda do adulto, manuseia bem o rato do computador, no entanto às vezes vê a atividade como uma brincadeira e não se concentra. Sabe a sua idade, o seu nome e o nome dos familiares mais próximos. Identifica algumas moedas (1 euro/2 euros) e notas (5 euros/10 euros), tem noção que o dinheiro serve para comprar algo. No que diz respeito à Perceção, emparelha cores, tamanhos, identifica as figuras geométricas, gosta de jogos com gravuras, para posteriormente emparelhar, aproveitando-se estes momentos para o desenvolvimento da linguagem e de certos conceitos mais abstratos. Ainda não consegue desenhar a figura humana, não pinta dentro dos contornos e não sabe utilizar a tesoura corretamente. Associa o habitat de alguns animais e o modo como se alimentam; consegue construir em puzzle o abecedário com imagens; consegue fazer o jogo dos opostos, embora por vezes com orientação do adulto. Revela interesse por atividades simples no computador, mas não gosta de obedecer às ordens. Todas as atividades realizadas com o Victor, são elaboradas por toda a equipa que trabalha na UEEA, permitindo assim um maior reforço em todas as áreas. 1.5- Caracterização do Duarte Nasceu no dia 04 de maio de 2009, tem neste momento 4 anos. É o mais novo de dois filhos. “Divide” o seu dia-a-dia pelos dois contextos familiares: a casa dos pais e a casa dos avós maternos. Foi sinalizado para a Consulta de Desenvolvimento em 2010, pela médica de família. É acompanhado nessa consulta desde 16/02/2011, onde tem sido avaliado com a Escala de Avaliação do Desenvolvimento SGS II. O irmão mais velho do Duarte, também é acompanhado nesta consulta por apresentar défice de atenção/concentração; toma medicação. Na consulta de desenvolvimento foi encaminhado para a consulta na Unidade de Neurodesenvolvimento e Autismo, no Hospital Pediátrico de Coimbra, para Terapia da Fala e para uma consulta de Pedopsiquiatria, com o Dr. Paulo Santos, em Viseu. Na consulta de Neurodesenvolvimento, a 6 de Dezembro de 2011, foi avaliado e feito o diagnóstico de “Perturbação de Autismo”. É de referir que o Duarte tem uma família bastante interessada, o que o influencia de forma positiva. A mãe e a avó estão sempre disponíveis para o 97 acompanharem duas vezes por semana à UEEA, estabelecendo um contacto muito directo com todos os responsáveis pelas respostas educativas. Desenvolvimento Escolar do Duarte No ano letivo transato (2011/2012) iniciou-se o apoio, no domicílio, pela Equipa Local de Intervenção (ELI) no âmbito da Intervenção Precoce na Infância (IPI), duas vezes por semana (cerca de 1h e 30 m). Foi elaborado o Plano Individual de Intervenção Precoce (PIIP). A pensar na transição para o corrente ano letivo, começou a frequentar o jardimde-infância uma vez por semana, todas as 2ªas feiras, das 9.00 às 10.30 h, acompanhado pela educadora da ELI. Nesta perspetiva, iniciou ainda apoio semanal (4ªs feiras, das 9.00 às 10.00h) de Terapia da Fala e terapia ocupacional, na sala UEEA. O Duarte é o aluno mais novo a frequentar a UEEA, apenas desde o ano letivo anterior, para beneficiar das terapias (Terapia da Fala, terapia ocupacional), sempre acompanhado pela mãe ou pela avó. Chorava com bastante frequência, mas a sua adaptação aos terapeutas decorreu de uma forma harmoniosa. Como ia às terapias começou também a verificar, pela sua curiosidade, a sala e as outras crianças, mas mantendo sempre uma certa distância, só se sentindo seguro com a presença de um terapeuta, pois naquele momento tudo lhe era estranho. 2012/2013 Apresentou-se a toda a documentação necessária para que o aluno beneficiasse da UEEA para Alunos com Espetro de Autismo. Continuou a ter Terapia da Fala e passou a ter Psicomotricidade e apoio Psicológico, abrangido pelo Decreto-Lei nº3/2008, tendo sido criado para ele um Programa Educativo Individual. As medidas educativas presentes no seu PEI são: Alínea a) Apoio pedagógico personalizado (artg. 17º) - Reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma ao nível da organização do espaço e das atividades; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação da aprendizagem de conteúdos; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea b) Adequações curriculares individuais (art.18.º ) - Adequações curriculares individuais referentes à Educação Pré-Escolar; - Introdução de objetivos e conteúdos intermédios. 98 Alínea c) Adequações no processo da matrícula (artg. 19º.º) - Na escola adequada, independentemente da sua área de residência; - Prioridade à sua matrícula em escolas com unidades de ensino estruturado, independentemente da sua área de residência. Alínea d) Adequações no processo de avaliação (art.20.º) - Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação; - Alteração à periodicidade. Alínea f) Tecnologias de Apoio. - Recurso ao computador, utilização de software educativo e material específico; - Utilização do suporte visual (imagens e símbolos SPC). Numa primeira fase, foi feito um pedido para que o aluno continuasse a ter o apoio da educadora da Intervenção Precoce, já que a criança Autista cria um vínculo de afeto com as pessoas que estão mais próximas. Esse pedido foi aceite no início do ano, achou-se que seria o suficiente, mas a educadora de Infância da Intrevenção Precoce só permanecia uma tarde com ele e no segundo período achou-se pertinente que o Duarte frequentasse a UEEA para usufruir de um ensino estruturado e de um ambiente calmo e previsível, para uma melhor aprendizagem. Só neste momento é que começamos a conhecer bem o Duarte, as suas características, pois cada criança é única, todas elas têm em comum o Autismo, mas são diferentes entre si. Considerações Relativas à Evolução do Duarte A permanência UEEA facilitou o desenvolvimento do seu processo de ensino/ aprendizagem, sendo muito importante a metodologia utilizada. Não foi fácil a sua adaptação, até porque no jardim-de-infância as crianças não possuem um ensino estruturado e o Duarte vinha habituado a mexer em todas as atividades, mas a não finalizar nenhuma. Não sabia dirigir a sua atenção para os seus gostos, tudo na sala lhe agradava, desde que ficasse sozinho. Numa primeira fase, achamos importante deixar o Duarte explorar a sala, até para se sentir mais à vontade, no entanto, qualquer pessoa que lhe tocasse, chorava irritado e atirava tudo para o chão. Não fala mas demonstra interesse em comunicar. Foram necessárias algumas semanas para que finalmente não chorasse. Para isso foi necessário, transmitir-lhe, pouco a pouco, um ambiente calmo, começando pelo espaço “Brincar”, para posteriormente se ir adaptando aos restantes espaços da sala. Foi elaborado o seu horário, já não se dispersava nas atividades, mas não foi tarefa fácil, conseguir que cumprisse esse horário, pois gostava de ouvir o velcro a 99 descolar, necessitava sempre da orientação do adulto para ir buscar a atividade seguinte, pois de contrário, permanecia sentado à espera. No que concerne à socialização com os seus pares, que é o maior défice destas crianças, inicialmente as coisas não correram como previsto. As outras seis crianças já estavam na sala e isso suscitou alguns ciúmes por parte das mais velhas. Era o mais pequeno e não se sabia defender, acabava sempre por chorar, demonstrando ainda muita insegurança e instabilidade emocional. Foino espaço “Reunião” que conseguimos que as outras crianças aceitassem o Duarte e o ajudassem. É o primeiro espaço a ser utlizado pela manhã, cerca de meia hora, em que se cantam os bons dias, preenche-se o calendário, os dias da semana, e claro conversamos um bocadinho antes de irmos para outro espaço. Mais à frente será falado, pois faz parte da metodologia da sala. Sempre que o Duarte vai à sala, tem que obrigatoriamente estar presente no espaço “Reunião” e comunicar à sua maneira com os seus pares e adultos. Tal como as outras crianças prefere o adulto aos seus pares, mas com tempo e muita paciência, eles acabam por se aceitar uns aos outros. Foi o que aconteceu com oDuarte, neste momento interage com os seus pares de forma ativa e não os rejeita, o que é uma pequena vitória. Neste momento já consegue ir ao seu horário, retirar a atividade que vem a seguir, mas não inicia nem finaliza a atividade sem que o adulto esteja presente. Perfil de Funcionalidade Segundo a avaliação do Terapeuta da Fala, o Duarte encontra-se mais comunicativo, utilizando um maior número de vocábulos com intenção comunicativa, usando e discriminando corretamente os símbolos já introduzidos no seu sistema de comunicação aumentativo (PEC´S). Contudo utiliza-os apenas quando estão visíveis. Segundo a avaliação da Psicomotricista, apresentou sempre muita resistência ao trabalho no salão de psicomotricidade bem como às tarefas propostas. Chora no decorrer das sessões com alguma frequência, especialmente quando contrariado ou para demonstrar algo que não quer fazer. Não manifesta particular interesse quer ao nível da exploração do espaço e do material, quer a nível da interação. Apresenta preferência pelo trabalho de mesa (atividades de motricidade fina e perceção visual), nas quais colabora com mais frequência. No âmbito da Intervenção Precoce na Infância foi dada continuidade à elaboração do PIIP com a família em articulação com a implementação do PEI. O seu 100 tempo de atenção e concentração é reduzido, tenta desviar o tema e a atenção do interlocutor, não cumprindo os turnos de conversação. O nosso trabalho com o Duarte tem incidido fundamentalmente na aplicação da estrutura da sala Teacch, recorrendo ao seu calendário de tarefas e diferentes espaços inerentes à estrutura referida. Na área Sócio –Afetiva merece especial atenção o treino da sanita, porque já não usa fralda. Ainda não é totalmente autónomo, não fala, logo não pede para ir à casa de banho, portanto tem que ser o adulto a perguntar. No que respeita à Autonomia na realização de atividades, realiza pequenas tarefas, com ordens simples, na sua rotina diária (ir buscar determinado brinquedo ou objeto, ir ter com algum familiar, adulto…); faz jogos simplescom orientação e acompanhado de um adulto (associação de cores, de animais; emparelha duas imagens iguais; empilha até 7 cubos; constrói puzzles de madeira e encaixe com cerca de 11 peças; manuseia livros, lança e pontapeia uma bola pequena …). Relativamente ao controlo do comportamento, quando é contrariado reage dizendo “não”, mas é relativamente “fácil”, neste momento, contornar a “situação”, com algumas estratégias, sem que chegue a fazer “birra”. Segundo informação da mãe, no contexto familiar este comportamento não se verifica, sendo a principal dificuldade e preocupação da família controlar “as birras” frequentes e persistentes. Relativamente à Interação social, o Duarte estabelece alguma interação com os colegas, procurando-os para lhes “pedir” algo e sentando-se ao lado deles. Interage com o adulto partilhando a sua atenção, imitando-o nalgumas tarefas domésticas e procurando-o para brincar ou quando precisa de alguma coisa. O computador é uma ferramenta a que adere bem, pelo que se torna um elemento facilitador das aprendizagens. É muito importante, para uma criança com Autismo ter a oportunidade de frequentar a UEEA, pois por vezes o professor/educador, não sabe como agir, não está devidamente preparado para responder a todas as questões. O Duarte necessita de um ensino estruturado para desenvolver metodologias específicas de que não pode usufruir no jardim-de-infância. A educadora, não conhecendo o Modelo Teacch, procurou conversar conosco e tentou implementar um horário na sala de uma forma muito simples, estruturando as atividades para o Duarte. No entanto não surtiu efeito, uma vez que o grupo pertence a uma faixa etária muito dinâmica, a dos 3-4 anos. 101 1.6- Caracterização do Sérgio Nasceu no dia 5 de setembro de 2003, tem neste momento 10 anos, é o único filho do casal e divide o seu dia-a-dia entre a escola e a sua casa. Vive num meio rural muito pequeno, num ambiente familiar pouco estimulador, a mãe está sempre disponível para o que for necessário, no entanto, o pai denota bastantes problemas em entender a patologia do seu filho, não conseguindo por vezes lidar com ele. O Sérgio foi observado pela primeira vez em 2006, nas Consultas de Desenvolvimento do Hospital São Teotónio, tendo sido diagnosticada a Perturbação de Espetro do Autismo. 2006/2007 No letivo de 2006/2007, o Sérgio passou a beneficiar de Intervenção Precoce, solicitado pela médica pediatra das Consultas de Desenvolvimento do Hospital Pediátrico São Teotónio, teve apoio pedagógico acrescido duas vezes por semana, perfazendo um total de 8 horas. Beneficiava ainda de Terapia da Fala uma vez por semana e tinha uma assistente operacional 3 horas por dia, para o apoiar nas tarefas necessárias. 2007/2008 O enquadramento do ano letivo anterior manteve-se neste ano, tendo sido elaborado o seu PEI (Programa Especifico Individual), com as seguintes medidas: Alínea a) Apoio Pedagógico Personalizado - Reforço das estratégias já utilizadas na turma aos níveis da organização e do espaço da sala de aula, das atividades, da avaliação e da planificação: individualização, diferenciação, recurso à concretização, repetição e ao tempo necessário para aprender/reaprender, ajudas verbais e/ou gráficas, reforço das interações, etc.; - Estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; - Antecipação e reforço da aprendizagem de conteúdos lecionados no seio do grupo ou da turma; - Reforço e desenvolvimento de competências específicas. Alínea e) Currículo específico individual, de forma a dar uma resposta mais eficaz às necessidades do Sérgio; e 102 Alínea f) Tecnologias de apoio, onde era utilizado o computador, com vista a melhorar e reforçar o desempenho e a participação do aluno ao nível das aprendizagens, sobretudo nos domínios linguístico e da comunicação. Nesse ano letivo para além do acompanhamento do Terapeuta da Fala, passou a usufruir de um Técnico de Psicomotricidade do Espaço de Reabilitação e Intervenção Psicoeducacional, uma vez por semana (45minutos), no Jardim-de-infância, devido às dificuldades demonstradas ao nível da comunicação e coordenação motora. Beneficiava também do apoio de um professor de educação especial que fazia a gestão de todo o processo em articulação com a família, assistentes operacionais, docentes e outros técnicos na definição de estratégias que permitiram minimizar o problema específico do Sérgio e desenvolver as competências adequadas ao seu ritmo de aprendizagem. Face às dificuldades apresentadas pela criança, achou-se conveniente e benéfico o adiamento da escolaridade obrigatória. 2008/2009 O enquadramento do ano letivo anterior manteve-se, continuando a beneficiar das mesmas medidas educativas, uma vez que se tornaram uma mais-valia para o desenvolvimento global da criança. O Sérgio, nesta altura, encontrava-se em outro concelho, pelo que não usufruía da UEEA. 2009/2010 O Sérgio foi transferido de escola, devido à transição de ciclo, para o nosso Agrupamento e mudou de concelho, uma vez que não existiam no seu concelho os recursos de que necessitava. A vinda para a UEEA foi complexa, já que tudo era novo. Por parte do corpo docente e outros Técnicos, não houve a oportunidade de mostrar ao Sérgio, previamente, as instalações. Esta informação era de extrema importância, deveríamos ter mostrado a escola, a sala do ensino regular, a UEEA, assim como outros contextos inerentes ao seu processo de adaptação, porém, não foi isso que aconteceu, uma vez que houve férias de verão e não se sabia ainda quem iria ficar como docente na sala. No primeiro dia que veio à escola, veio acompanho pelo pai e pela mãe para a reunião que se faz no início do ano letivo. Estávamos presentes, mas não conhecíamos o Sérgio, nem tínhamos qualquer informação, visto o seu processo ainda estar na escola antiga e não conhecermos ainda os pais. 103 Quando chegámos, o Sérgio já estava sentado numa mesa, permanecia imóvel, com as mãos a tapar as orelhas e a olhar fixamente para a frente, não desviando o olhar por nenhum segundo. Ao fim da reunião, a mãe teve que o ir buscar e continuámos a não ouvir o Sérgio, nem um único som, encostou-se à mãe, com a cabeça virada, de forma a não olhar para nós. Tivemos um diálogo com a mãe e com o pai, ali percebemos como funcionava mais ou menos a família, o pai demostrou a sua dificuldade em lidar com a patologia do filho, a mãe permanecia imóvel, com lágrimas nos olhos. O Sérgio evitava o contacto ocular e estava sempre abstraído do que se estava a passar ao seu redor. Optámos juntamente com a docente do e com os pais, que o Sérgio viria, pelo menos, uma semana para a nossa sala (UEEA), de forma a verificarmos o seu perfil de funcionalidade, com o intuito de definirmos posteriormente as medidas educativas e o seu tempo de permanência na sala do ensino regular e também para o ambientarmos aos diferentes espaços escolares. Finalmente o seu processo chegou e pudemos verificar que já vinha com um Currículo Especifico Individual (CEI). Pedimos à mãe para nos fornecer todo o trabalho que tinham realizado e ainda nessa mesma semana fomos diretamente falar com a professora de Educação Especial que o acompanhou anteriormente, de forma a obtermos uma informação mais detalhada, para começarmos a trabalhar com o Sérgio. Foi realizado um Programa Educativo Individual devido à transição de ciclo, permanecendo com as mesmas medidas educativas, uma vez que alguns dos objetivos ainda não estavam atingidos e outros apenas se encontravam parcialmente atingidos. A sala onde nos encontrávamos inicialmente não tinha as condições necessárias para trabalhar, tinha-se que se descer várias escadas até à casa de banho, e sem proteção contra a chuva. O Sérgio evidenciava dificuldades em descer as escadas, não subindo e descendo alternadamente. Como não falava, não pedia para fazer chichi, tínhamos que o levar de hora a hora, e quando dávamos conta já estava sujo. A sua adaptação realizouse pouco a pouco. Não estava habituado a um ensino estruturado. Realizámos o seu horário com cor para ele identificar melhor. Na sua cadeira colocámos o seu nome com a mesma cor, e as caixas das suas atividades tinham a mesma cor, para ele as identificar. No espaço “Reunião”, o Sérgio gostava de mudar o dia no calendário, e gostava de cantar a canção dos bons dias, mas apenas a canção que tinha aprendido antes de ter 104 entrado na Unidade de Ensino Estruturado e não a que nós lhe ensinámos, ao fim de cantar os bons dias, não se ouvia mais, só a fazer sons incomuns. Após o espaço “Reunião”, teria que ir ao seu horário e retirar a atividade seguinte, mas só ia com a ajuda de um adulto. Numa primeira fase, começámos a trabalhar com o Sérgio em tarefas que ele fazia no ano letivo anterior, e reparámos que não era estimulado em casa, uma vez que parecia não as saber fazer. Até àquele momento ainda não tínhamos ouvido uma única palavra dele, apesar de a mãe e a professora anterior dizerem que ele não falava, mas cantava muito bem. Um dia, ao trabalhar a higiene pessoal, na casa de banho, e com a água a correr (pois ele adorava ver a água a correr, mostrando uma grande alegria com os seus movimentos estereotipados), o Sérgio começou a cantar uma música popular, mostrando-se mais à vontade. Finalmente os Terapeutas foram colocados e o Sérgio beneficiava de Terapia da Fala duas vezes por semana e de Terapia Ocupacional. Ao seu ritmo o Sérgio adaptou-se, continuava a apresentar graves dificuldades na comunicação verbal e em estabelecer contacto com os seus pares e adultos, contudo, através de imagens, como forma de comunicação alternativa (PEC ´S), já conseguia realizar pequenas rotinas diárias com os restantes colegas, como permanecer no espaço “Trabalhar em grupo”, e estar no espaço “Reunião”. Nas suas atividades tendia a entregar-se a jogos e rotinas repetitivas, de forma isolada, como por exemplo, fazer girar objetos. Tinha com frequência, em particular em situações de angústia e excitação, movimentos repetitivos das mãos, dedos, etc. (por exemplo abanar as mãos como a imitar um passarinho). Quando necessitava, manifestava alguma intencionalidade comunicativa, puxando o adulto. Com o passar do tempo, o Sérgio começou a emitir palavras e a reproduzir todas as canções que ouvia na sala ou em qualquer outro espaço (salmos da missa) por ecolália, não de forma intencional, no entanto para nós era agradável, uma vez que até ali não o ouvíamos. No espaço “Reunião” já cantava os bons dias com a nossa canção para todos os seus pares, mostrando grande satisfação. A sua integração no ensino regular não foi fácil. Como emitia uns sons incomuns, perturbava a turma, as outras crianças riam-se e a docente mostrava-se por vezes irritada. Sendo uma turma do 1º ano de escolaridade, percebíamos algumas atitudes da docente, mas sentíamos que a docente demostrava desinteresse pelo Sérgio. 105 Foi realizado também um horário para estar na sala do ensino regular, no entanto, a turma gostava de brincar com o horário, e no dia seguinte, o horário já não tinha lá as suas atividades, isso acabava por ser uma grande dificuldade, uma vez que o Sérgio perdia-se na atividade que ia realizar, e não queria fazer outra, gritando e chorando, sendo impossível permanecer na turma por mais de 20 minutos. Foi combinado com a docente que o aluno iria à sala do ensino regular, todos os dias 20 minutos por dia, à tarde (assim ela o exigiu). Quando chegávamos com o Sérgio, a docente mostrava-se simpática, mas como o aluno emitia uns sons raros (ueeeeee, ueeeeee), acabava por ficar irritada, mostrando o seu desagrado através de berros para com as outras crianças. Uma das características dos alunos Autistas é a sensibilidade aos sons e a intolerância a “berros”, isso perturba-os e deixa-os mais sensibilizados. Apesar de tudo continuámos a levar o Sérgio á sala do ensino regular. Foi um ano de grandes mudanças para o Sérgio, mas também foi um ano em que ele progrediu, embora esses progressos fossem ténues, devido a todas essas mudanças (de docentes, de terapeutas, de assistentes operacionais e de espaço). O que um aluno Autista precisa é de um ambiente calmo, previsível, de preferência sempre com as mesmas pessoas, para desta forma melhorar as suas aprendizagens e principalmente a área em que apresentam um maior handicap, que é a área da socialização. O Sérgio já voltava a cabeça em direção ao som, quando inicialmente nem olhava quando se chamava; associava as letras do seu primeiro nome a um modelo estabelecido, contudo se lhe é solicitado para as nomear, pega no nosso dedo indicador em direcção a cada uma das letras e espera que sejamos nós a nomeá-las. Na motricidade fina e global, continuou a registar progressos, conseguindo levantar-se do chão, embora com ajuda, e recorta com mais precisão (embora necessite da orientação do adulto). 2010/2011 A UEEA mudou de edifício, ficámos no mesmo bloco junto das restantes crianças, a casa de banho era adequada e a sala era maior, o que permitia um melhor desenrolar das atividades. 106 Neste ano o Sérgio começou a evidenciar intencionalidade comunicativa, através do PEC´S (sistema aumentativo de comunicação), já pedia o pão, a água, o iogurte, coisas que nos parecem muito simples, mas que realmente são uma grande evolução. Continuava a ter comportamentos estereotipados, principalmente quando se encontrava satisfeito. Era um aluno muito sensível ao barulho. Quando ouvia a campainha do toque, gritava e chorava. O Sérgio foi fazendo aprendizagens significativas. O próprio pedopsiquiatra do Hospital de São Teotónio nos felicitou por ele estar num bom caminho. Mudou de turma, a docente já não era a mesma, a turma era diferente. Começou por ir uma hora à turma, mas quando via computadores, ficava em êxtase, mostrando comportamentos estereotipados, querendo mexer no computador a todo o custo, e quando não lhe era permitido, gritava e chorava de forma incontrolável. Nesses momentos a docente ficava incomodada, mostrando-se angustiada, pois apesar de nós estarmos com o Sérgio, ela gostava de intervir, mas não conseguia. Durante o horário na sala do ensino regular permanecia na sua mesa, mas por vezes, quando chegávamos, esse lugar estava ocupado, sendo sugerido que o aluno fosse sentar-se no fundo da sala. Tentávamos levá-lo à sala do ensino regular quando a docente fazia expressão plástica para trabalhar a motricidade fina. Apesar da docente não saber como funcionava a metodologia” Teacch”, esforçava-se para integrar o aluno na turma, e para perceber o seu planeamento de trabalho. Chamava sempre o Sérgio em todas as saídas que a turma fazia, mas muitas vezes recusava-se a entrar em determinados locais, o que a deixava admirada, dizendo que aquilo era mimo, querendo que ele entrasse à força, sem sucesso, porque não entrava, gritava e empurrava a docente. Nesses momentos, o que o Sérgio pretendia era permanecer num local onde pudesse estar descansado, sem ouvir barulhos e sem que o adulto ou os seus pares o incomodassem. Se entrava à força, imitia sons esquisitos e guinchava, manifestando desta forma o seu desagrado. Por vezes acabava por não entrar e ficávamos cá fora à espera dos colegas. Nesses momentos, preferia sentar-se ao nosso colo, por iniciativa própria, e permanecer quieto a cantar. Continuava a usufruir de Terapia da Fala e de Terapia Ocupacional e, todos em articulação, conseguíamos encontrar estratégias para maximizar as potencialidades do Sérgio e minimizar as suas dificuldades. 107 2011/2012 O trabalho desenvolvido manteve-se no enquadramento do ano anterior, passando a ter apoio psicológico. Tudo era programado de forma minuciosa por todos os intervenientes no processo ensino/aprendizagem. Embora houvesse progressos, por vezes existiam retrocessos, o que nos deixava frustrados, mas nesta patologia é mesmo assim. O Sérgio continuava a necessitar de um adulto para as tarefas, nomeadamente as de motricidade fina, autonomia pessoal e principalmente higiene pessoal. Continuava a demonstrar birras quando era contrariado, gritando muito, por vezes ficava uma manhã inteira aos guinchos. O pedopsiquiatra recomendou, quando ele se encontrasse mais agitado, que o levássemos para uma sala sozinho, onde pudesse acalmar. Passamos a levá-lo para a sala de snoezelen, onde desenvolvíamos atividades do seu interesse, aí ficava mais calmo e, posteriormente, ia para a sala e realizava as atividades pretendidas. 2012/2013 O Sérgio fez grandes progressos, lendo pequenas frases em SPC. Optámos por trabalhar grande parte das atividades em “powerpoint”. Como gostava muito do computador, tornavam-se mais proveitosas as suas aprendizagens. No entanto essas atividades tinham que ser doseadas, uma vez que se ele estivesse muito tempo no computador, para sair guinchava muito, empurrava o adulto e começava a ter comportamentos estereotipados, correndo pela sala à volta das mesas, a guinchar sem parar. Por isso fazia parte da atividade no computador e posteriormente no espaço “trabalho de grupo”. Só no presente ano letivo é que conseguiu começar a trabalhar no espaço “trabalhar”, mas não tem orientação para ir buscar a sua atividade, tira qualquer um dos cestos, não percebendo ainda a mecânica, por isso trabalha a maior parte das vezes na mesa de grupo, sempre com um adulto, ou no espaço “aprender”, de que gosta particularmente por ser um espaço mais sossegado. Este ano continuou a beneficiar de Terapia da Fala, deixou de ter Terapia Ocupacional e começou a ter Psicomotricidade e acompanhamento psicológico, o que se verificou muito proveitoso. Beneficiava ainda de hidroterapia desde que entrou para a UEEA, a sua autonomia pessoal era reduzida, necessitando sempre do adulto para o ajudar a despir e a vestir. A princípio tinha medo da piscina e foi necessário um trabalho árduo, não conseguia colocar os pés no chão do balneário, pois o chão era diferente do 108 que estava habituado, por vezes era necessário, despi-lo e vesti-lo em cima do banco, até ele se habituar ao chão. Quando era para entrar na piscina guinchava e nunca queria tirar os chinelos. A princípio era difícil fazer qualquer atividade com ele, pois mostrava-se com medo e muito angustiado, permanecendo no mesmo sítio desde o início da aula até ao fim. Com o passar do tempo foi tendo mais confiança no professor e começou por tirar os chinelos. Assim que tirou os chinelos pela primeira vez, mostrou-se mais à vontade e já não rejeitava o chão do balneário. Neste momento já se consegue despir, vestir os calções, chinelos e touca. Consegue tomar banho, mas denota dificuldade em ensaboar-se. Perdeu os seus medos. Quando chega à sala e repara que no seu horário está a natação fica muito contente, agarra na mochila e corre pela sala até irmos embora. Durante o caminho vai sempre a cantar, o que demonstra a sua alegria. Afinal o mais importante para estas crianças é sentirem-se felizes e nós fazermos com que isso aconteça. Este ano iniciou-se Terapia com Cães assistida. Numa primeira fase, em reegime de experimentação, para observarmos como os alunos reagiam. Os animais de comportamento dócil (cão) trazem às crianças momentos de tranquilidade e alegria e, nesses momentos, principalmente as crianças, deixam de lado os seus problemas, dores, insatisfações e até os seus momentos de solidão e tristeza. A simples presença de um animal pode ser relaxante, ajuda a diminuir a pressão sanguínea e o stress. Desta forma achámos por bem continuar com a presença da cadela todas as quintas – feiras. Para o Sérgio, foi muito bom, não demostrou qualquer tipo de medo, mas a princípio estava a viver no seu próprio mundo, desligado, alheado, desinteressado e insensível à presença deste novo membro. Com o decorrer do tempo começou a interagir com a cadela, cheirando-a, fazendo-lhe festas e fazia as atividades que eram propostas. Perfil de Funcionalidade Segundo a avaliação do Terapeuta da Fala, o Sérgio tem tido apoio por apresentar défices comunicativos e alterações no seu desenvolvimento linguístico. Tem dificuldade em colaborar nas atividades que lhe são propostas, pretendendo sempre atividades com música, seja no computador, rádio ou telemóvel. Consegue utilizar algumas expressões corretas com intencionalidade comunicativa em contextos corretos, 109 nomeadamente quando vê alguma comida do seu interesse, ou quando quer ouvir música. Contudo ainda apresenta dificuldade em transmitir algumas das suas necessidades básicas. No que concerne à avaliação da Psicomotricista, o Sérgio continua a apresentar grandes dificuldades ao nível do desenvolvimento práxico. O trabalho desenvolvido foi de encontro às suas dificuldades ao nível da coordenação e inibição dos movimentos, quer a nível global, quer a nível fino. Também a Autonomia, a Orientação Espacial e Percepção Visual foram estimuladas, bem como o planeamento e ajuste das condutas motoras. Realiza as tarefas propostas com muitas dificuldades e com um tempo de resposta muito elevado, necessitando frequentemente de procurar apoio no adulto. Neste sentido, tem-se promovido atividades que estimulem o desenvolvimento motor, como o rolar, andar em carrinho de mão, rastejar, saltar no trampolim, subir e descer cadeiras, andar em planos estreitos, furar entre cadeiras ou no túnel. Aprecia particularmente o material de estimulação na sala de snoezelen: coluna de água, piscina de bolas e painel interactivo. Continua a manifestar interesse por música, aproveitando-se muitas vezes este seu interesse para focalizar a sua atenção para as atividades. O nosso trabalho com o Sérgio, tem incidido fundamentalmente na aplicação da estrutura da sala Teacch, recorrendo ao seu calendário de tarefas e diferentes espaços inerentes à estrutura referida. As áreas que estão a ser trabalhadas são: Autonomia Pessoal; Socialização (Interação Social); PercepçãoVisual; Expressão e Comunicação; Psicomotora (motricidade fina e motricidade global). No que se refere à Expressão e Comunicação, os objetivos trabalhados, são em comum com o Terapeuta de Fala, fazendo articulação, assim como a Psicomotricidade (motricidade fina e motricidade global), que articulamos com a psicomotricista. É de salientar que todas as atividades são articuladas com todos os intervenientes no processo ensino/aprendizagem, para se obter melhores resultados nas diferentes áreas. No que se refere à Autonomia, consegue despir /vestir as cuecas e as calças, mas regrediu no que se refere à higiene pessoal. Continua a não tomar a iniciativa de ir lavar as mãos sem a ajuda do adulto, apesar da persistência dos mesmos. Continua a não ir sozinho à casa de banho, sendo sempre necessário o acompanhamento de um adulto, no entanto já não coloca as mãos no seu próprio chichi. 110 Na natação, melhorou a nível geral, mostrando-se mais colaborante no vestir e despir, já consegue pisar sem medos o chão, como já referido anteriormente. Ao almoço consegue comer autonomamente mas ainda não é capaz de utilizar os talheres corretamente. Ao fim do almoço, na sua higiene oral, colabora quando se lhe esfrega os dentes, mas não o faz por iniciativa própria, sendo necessário um constante incentivo por parte do adulto. Na área da Socialização (Interação Social), verificou-se uma ligeira evolução, dependente do seu estado de espírito, havendo dias em que grita e chora sem motivo aparente, revelando-se de interagir com os seus pares e adultos. No recreio continua a não se juntar aos seus pares, preferindo caminhar sozinho, ou com o adulto. Tem de ser o adulto a tentar integrá-lo nas brincadeiras com os seus pares. A Interação Social é a área onde apresenta maiores dificuldades, sendo o normal desta patologia. Notou-se uma evolução na Perceção visual, associa a palavra à imagem, bem como as letras do alfabeto e os números e as cores aos legumes e aos animais. Já consegue ler algumas frases, tendo sido previamente muito trabalhadas. É difícil motivá-lo para qualquer atividade que não tenha música. Como foi referido, só acontece em dias em que o seu estado emocional o permita, caso contrário há dias em que grita e chora constantemente, tornando-se este comportamento uma barreira para a sua aprendizagem. Realiza jogos de imagens simples; associa um objeto à sua sombra; constrói puzzles simples. Apesar de ter evidenciado progressos ténues, continua a necessitar da ajuda do adulto para se deslocar ao horário e retirar os cartões com as tarefas do dia. Coloca os dias de semana por ordem e nomeia-os. Foi utilizado com o Sérgio, além do PEC, o SPC (escrita com símbolos), que permite ao aluno ler algumas frases previamente trabalhadas. Na área de Matemática, as atividades envolveram conteúdos muito simples de acordo com o seu perfil de funcionalidade. Devido ao aluno andar doente durante grande parte deste ano letivo, não foi possível desenvolver determinadas atividades, uma vez que o aluno chorava e gritava, por vezes sem causa aparente. 111 1.7- Caracterização do Miguel O Miguel é uma criança com Espectro do Autismo associado a uma deficiência mental. Vive com os pais e com três irmãos, tendo uma irmã gémea. Todos estão a ser acompanhados pela consulta de Desenvolvimento do Hospital S. Teotónio, devido ao seu défice de atenção e hiperatividade, mas nenhum possui o grau de deficiência do Miguel e nenhum tem Autismo. O Miguel esteve em casa com a mãe até aos 4 anos de idade, sendo sinalizado para apoio educativo ainda com a idade de 3 anos, em meados do ano letivo 2004/2005. Depois de algumas visitas domiciliárias e de uma primeira avaliação, foi preparada a sua integração, com a irmã gémea, no Jardim-de-infância. Desenvolvimento Escolar 2005/ 2008 A partir de 2005/2006, com a idade de 4 anos, começou a frequentar o Jardimde-infância, ficando abrangido pelas medidas educativas do Dec. Lei 319/91, alíneas d), g) e h) com apoio de uma educadora colocada ao abrigo do despacho conjunto 105/97. O Miguel não evidenciava qualquer intenção comunicativa, apenas ecolália retardada quando se encontrava mais nervoso. No dia 24 de fevereiro de 2006, foi realizado o diagnóstico/avaliação Psicoeducacional no Hospital Pediátrico de Coimbra. De acordo com os resultados desta avaliação (PEPR), o nível de desenvolvimento funcional médio do Miguel era de 15 meses, mas com possibilidade de evoluir para um nível superior. Foi dada a indicação que a criança deveria ser ajudada a programar e a organizar o seu trabalho com um suporte visual sistemático dentro da filosofia do Modelo Teacch, e deveria frequentar a Terapia da Fala. Em dezembro do mesmo ano foi revisto pela equipa do Hospital Pediátrico de Coimbra, que concluiu que o Miguel tinha uma idade mental global de 1 ano e 11 meses, havendo assim um desfasamento acentuado perante a sua idade cronológica (5 anos e 7 meses). Com 6 anos, o Miguel ainda se encontrava a frequentar o mesmo Jardim-deinfância, integrado num grupo de 19 crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 7 anos, tendo sido solicitado pelos pais o adiamento escolar do Miguel por mais um ano. 112 Continuava abrangido pelas mesmas medidas educativas do Dec. Lei 319/91 e usufruía de apoio de Educação Especial. Tinha o acompanhamento de uma tarefeira apenas 4 horas diárias, o que era considerado insuficiente, dado que esta criança estava no Jardim-de-infância cerca de 9 horas diárias, não tinha autonomia, não comia sozinha, não controlava os esfíncteres, sendo necessário mudar-lhe a fralda, lavá-lo e por vezes mudar-lhe a roupa necessitando de vigilância e acompanhamento constantes. Foi elaborado, sempre, um Plano Educativo Individual e um Programa de Intervenção em conformidade com as sugestões de atividades propostas pela Equipa de Autismo da DREC em colaboração com a Consulta de Autismo do Hospital Pediátrico de Coimbra, e foram definidas algumas estratégias no sentido de dar resposta às suas necessidades específicas e à implementação do modelo proposto, estimulando e reforçando o desenvolvimento de competências nas áreas em que apresenta mais dificuldades. Dado o perfil do aluno e toda a complexidade da situação que o envolve, as opções tomadas não resultavam em pleno, devido às alterações comportamentais: muita agitação motora e agressividade. Era bastante difícil obter a atenção/concentração e a passividade necessárias para se poder realizar uma tarefa com algum êxito ou pelo menos conseguir começá-la e terminá-la, complicando e comprometendo bastante qualquer evolução que o Miguel pudesse vir a ter. 2008/2009 Em 2008/2009, com 7 anos de idade, começa a frequentar a UEEA, já abrangido pelo Decreto-Lei nº3/2008, com um Programa Educativo Individual. As medidas educativas que estavam presentes no seu PEI eram: Alínea a) Apoio pedagógico personalizado: - Reforço e desenvolvimento de competências específicas; Alínea e) Currículo específico individual; Alínea f)- Tecnologias de apoio. Tinha também o apoio de uma Técnica de Psicomotricidade e de uma Terapeuta da Fala. Ao nível da organização do espaço, confrontou-se com uma grande mudança, uma vez que que se encontrava habituado ao Jardim-de-infância. A sua nova escola 113 tinha três blocos onde estavam as diversas turmas. A UEEA era a única sala de um bloco, o que à partida não é de todo vantajoso para a inclusão destes alunos. A sala de um lado estava cheia de janelas, que ligavam a um terraço, configurando um grande perigo para os alunos mais agressivos, como é o caso do Miguel, e além disso, não permitia uma correta disposição dos diversos espaços dentro da sala. Por outro lado, a sala encontrava-se no segundo andar e a casa de banho encontrava-se fora do bloco, o que causava um grande transtorno ao nível da higiene. 2009/ 2010 Deu-se a minha entrada na UEEA. O nosso principal objetivo com o Miguel começou por ser o controlo do seu comportamento muito agressivo, uma vez que só depois de este aspeto estar controlado é que se poderia ter alguma evolução no processo educativo do aluno. Batalhou-se por uma medicação adequada, dado o perfil do Miguel, mas a medicação parecia não surtir efeito. Devido a esta situação o aluno necessitava frequentemente de mudar de espaço físico. No decorrer deste ano letivo, nas consultas do Hospital Pediátrico de Coimbra, foi dada alta ao Miguel, uma decisão que nos deixou perplexas. Foi ainda acompanhado pelo pedopsiquiatra do Hospital S. Teotónio, que também lhe deu alta. A partir deste momento, o Miguel apenas usufruiu da consulta de Desenvolvimento no Hospital S. Teotónio de Viseu, o que nos pareceu ser manifestamente pouco. Na escola tinha Terapia da Fala e Terapia Ocupacional. De forma a trabalhar a sua socialização, tínhamos programado 1h por dia na sala do ensino regular, mas tal verificou-se incomportável, mesmo com a presença constante de uma docente do ensino especial e uma auxiliar. A docente do ensino regular e os seus colegas ficavam assustados, pois o seu comportamento tornava-se ainda mais agressivo, atirando mesas e cadeiras pelo ar. Dados estes comportamentos, achou-se por bem continuar a frequentar todos os dias a sala do ensino regular, mas permanecer menos tempo (20 minutos, só para interagir com os seus pares), acompanhado sempre por uma docente e uma assistente operacional. Na sala do ensino regular não era fácil preparar atividades, uma vez que não demostrava qualquer tipo de interesse e os seus colegas também não estavam sensibilizados para a sua problemática. Quando estrava na sala, os colegas “gritavam” e riam-se frequentemente, o que levava a situações de grande agressividade por parte do 114 Miguel, que tentava morder-nos, e se lhe deixássemos as mãos agarrava em tudo e atirava tudo pelo ar. Foi realizado um horário com imagens reais das suas atividades, tanto para a sala do como para a UEEA. Tentámos, igualmente, tranquilizar a docente do ensino regular, demostrando-lhe que nós estávamos ali. No entanto, a permanência do Miguel na sala do ensino regular, continuava a ser penosa. A docente parecia não estar sensibilizada para este tipo de crianças, e mostrava-se incomodada com a sua presença. A maior parte das vezes, chegávamos à sala do ensino regular e simplesmente o horário do Miguel já não estava no lugar dele, estava em outro que a docente do ensino regular achava melhor, para não perturbar tanto a turma. 2010/ 2011 Em 2010/2011 começámos a pressionar mais os pais, para estes pressionarem os médicos a uma alteração da medicação, para irmos de encontro a uma melhor forma de trabalhar com o Miguel. Ele teria que ter uma medicação mais adequada que lhe permitisse, pelo menos, controlar a sua agressividade. No decorrer deste ano, finalmente conseguiram acertar com a medicação. O Miguel parecia outra criança, não mudou totalmente, mas as crises de agressividade ocorriam com menos frequência. A partir daqui começámos a trabalhar com uma maior motivação, pois as suas aprendizagens, embora ténues, começavam a surtir efeito. Conseguíamos que permanecesse por mais tempo numa atividade ou tarefa. Melhorou o seu contacto ocular e foi evidenciando pequenos progressos nas áreas a trabalhar, como a Autonomia Pessoal, Interação Social, Motricidade Fina, Perceção, Comunicação, Linguagem e Pré Requisitos da Leitura e da Escrita. Neste ano verificou-se outra mudança no processo de ensino/aprendizagem do Miguel, houve a mudança da docente do ensino regular. Tal mudança verificou-se muito proveitosa, uma vez que a docente do ensino regular tinha formação na área da Educação Especial, tendo já trabalhado na UEEA, com o Miguel, o que se tornou muito benéfico. A docente começou por sensibilizar a turma para o problema do colega. A turma já não demonstrava medo do Miguel e aprenderam a conviver com os seus comportamentos. Mesmo que o aluno fosse agressivo, a turma não reagia. 115 2011/2012 Manteve-se enquadramento do ano letivo anterior. Na UEEA o aluno mostravase mais calmo, mas o seu comportamento continuava imprevisível. No início, apenas repetia palavras isoladas (ecolália retardada), mas sem qualquer intenção comunicativa. Mas começou a pronunciar algumas palavras com intenção comunicativa, como dizer “chau” quando alguém se ia embora. Os períodos de atenção continuavam a ser mínimos, distraindo-se com qualquer situação ou ocorrência. Apesar de revelar alguns progressos na área da comunicação, relativamente às tarefas, a maior parte das vezes ele oferecia resistência. O seu comportamento nem sempre era estável, podendo estar sossegado num momento, e no momento a seguir ficar agitado. Nos momentos de maior agitação corria pela sala derrubando o que estivesse ao seu alcance, por vezes tinha atitudes menos corretas, sendo necessário levá-lo ao exterior para o acalmar. Ainda neste ano, a UEEA mudou de Edifício, o que implicou uma nova adaptação que se verificou algo penosa para o aluno. Mas como os docentes e terapeutas se mantiveram os mesmos, acabou por atenuar os seus comportamentos mais agressivos. 2012/ 2013 O Miguel, agora com 11 anos de idade, passou para o 5º ano. Reformulou-se o PEI devido à transição de ciclo, continuou a beneficiar das mesmas medidas, passou a ter acompanhamento por parte do psicólogo do agrupamento, que se dirige à UEEA sempre que possível. Foi sugerido à encarregada de educação que o Miguel passasse a frequentar uma instituição, com vista a poder usufruir de melhores condições para o seu desenvolvimento, assim como para iniciar um processo de transição para a vida adulta. Passou a frequentar a instituição três vezes por semana, frequentando a escola apenas duas vezes por semana. Nos dias de UEEA realiza as atividades que constam no seu, que continuam a ser as mesmas desde há 4 anos, uma vez que o aluno não conseguiu ainda atingir os objetivos para ele programados, devido ao seu comportamento e instabilidade emocional. Na UEEA beneficia de Terapia da Fala, Psicomotricidade. Teve Terapia Ocupacional durante três anos, mas a terapeuta foi colocada em outra escola e 116 substituída por uma psicomotricista, o que não causou nenhum tipo de problema, o Miguel adaptou-se bem. Tem ainda hidroterapia, uma hora por semana. É uma atividade que lhe dá imenso prazer e principalmente relaxa-o bastante, sendo necessário um docente só para ele, pois quando tem crises de agressividade, foge da piscina, e como não tem noção do perigo, por vezes atira-se à piscina maior. Necessita sempre da vigilância de duas pessoas. A UEEA dispõe também de uma sala de Snoezelen que proporciona um ambiente seguro, promovendo o auto-controlo, autonomia, descoberta e exploração, bem como efeitos terapêuticos e pedagógicos positivos. O Miguel gosta particularmente desta sala, pois é um local onde pode relaxar. Ao mesmo tempo o docente ou o terapeuta conseguem estimulá-lo para atividades que dentro da UEEA não seriam possíveis. Na Educação Especial foram trabalhadas as seguintes as áreas: Autonomia Pessoal; Psicomotricidade; Interação Social; Organização Espácio Temporal12; Perceção; Pré Requisitos da Leitura e da Escrita e Comunicação e Linguagem. Acabámos por só retirar algumas áreas, uma vez que o aluno permanecia menos tempo na UEEA, por frequentar a instituição. Algumas áreas que constavam no seu CEI foram extintas no final do 1º período. Decidimos apostar mais nas áreas funcionais como: Autonomia Pessoal e Social; Interação Social; Organização Espácio Temporal; Perceção; Pré requisitos da Leitura e da Escrita. O Miguel frequentava poucas vezes a sala do ensino regular, mostrandose sempre muito agitado, e os docentes mostravam-se angustiados e sem saber o que fazer. Considerações Relativas à Evolução do Miguel A permanência durante estes anos na UEEA não tem sido fácil, sendo a criança com mais dificuldades, maior impulsividade e com uma grande agressividade. Ao longo dos quatro anos que exerci a minha atividade profissional na UEEA, o Miguel tem denotado uma razoável evolução. Em 2009/2010 parecia incontrolável, tendo crises de agressividade com bastante frequência, não para com os seus pares, mas para com os adultos: mordia, batia, dava pontapés, batia com a cabeça nas paredes e nos armários, o mesmo acontecendo em 12 O novo acordo ortográfico regista a forma espácio-temporal. 117 casa, segundo relatos da mãe. O seu maior prazer era destruir o que encontrava, agindo como se não fosse uma criança, partia os vidros das janelas, arrancava extintores das paredes. Quando ia à casa de banho, procurávamos estimular a autonomia pessoal, mas abanava constantemente a sanita até que um dia a partiu. Era necessária uma auxiliar só para ele e tudo se tornava mais complicado, pois é insensível à dor, a dor para ele era como que um prazer, não se importando por isso de se auto agredir e agredir os adultos, o que lhe dava imenso prazer. O Miguel, com o tempo, - e muito tem contribuído a presença sempre das mesmas docentes, terapeutas e assistentes operacionais -, tem demonstrado estar mais calmo e acata mais as ordens do adulto. Quando se encontra mais nervoso, é levado ao exterior - campo de futebol, ginásio, sala snoezelen -, onde se dinamizam atividades ao nível da motricidade global, motricidade fina e também da comunicação. Quando se verifica que ele se encontra mais calmo, volta para a sala, e aí consegue manter-se em algumas atividades por mais tempo, não mostrando agressividade. É de realçar, igualmente, o papel da família, que apesar de ser uma família bastante humilde, sempre se mostrou muito preocupada com o bem-estar do Miguel, exigindo sempre aos médicos uma melhor intervenção. Em síntese, o Ensino Estruturado tem proporcionado ao Miguel uma melhor aprendizagem, cria um ambiente mais calmo e adequado à sensibilidade do aluno, promove situações direcionadas para o desenvolvimento da comunicação, interação social e autonomia. Perfil de Funcionalidade O Miguel apresenta um perfil de desenvolvimento heterogéneo, com resultados, em diferentes áreas, abaixo do intervalo considerado normal para as crianças com a sua idade cronológica. A avaliação não tem sido constante, foi observado desde cedo pela equipa do Hospital Pediátrico de Coimbra - Centro de Desenvolvimento da Criança –, e foi igualmente observado pela equipa de desenvolvimento do Hospital S. Teotónio de Viseu. Neste momento só está a ser seguido no Hospital S. Teotónio, uma vez que recebeu alta do Hospital Pediátrico de Coimbra. Segundo a avaliação da terapeuta da fala, o Miguelapresenta uma Perturbação da Comunicação acentuada, com um Atraso do Desenvolvimento da Linguagem em todas 118 as áreas. Apresenta alterações de comportamento, pouco previsível, que influencia diretamente as suas aprendizagens. A nível comunicativo, ainda que de forma inconstante, consegue transmitir algumas necessidades utilizando vocábulos no contexto adequado (p.e. “sono”, “sede”, “pão”). Segundo a avaliação da psicomotricista, mantém as competências já adquiridas não havendo alterações significativas a registar. Na motricidade fina apresenta algumas dificuldades, especialmente a nível do tónus, da coordenação e destreza manual. No que concerne à Autonomia Pessoal, deu-se ênfase à higiene pessoal, um dos seus grandes handicaps. Evidenciou ténues progressos, mas continua a necessitar de fralda, uma vez que não consegue controlar os esfíncteres, mas reage quando necessita que lhe mudem a fralda. Nos dias de natação colabora no despir e no vestir, com a ajuda do adulto. Durante o almoço, o seu comportamento é inconstante, necessitando sempre de um adulto para o acompanhar, e quando está mais agitado é necessário o acompanhamento de dois adultos. Na interação social, revelou progressos ténues, embora o seu comportamento dependa do estado emocional. Por vezes o seu comportamento altera-se de tal forma que tem que ser acompanhado por duas assistentes operacionais Relativamente à perceção, continua a evidenciar dificuldades na interiorização de conceitos básicos apesar de serem frequentemente trabalhados. Na área língua portuguesa funcional (Pré Requisitos da leitura e da Escrita): revela muitas dificuldades na interiorização dos conteúdos devidas ao seu perfil de funcionalidade. Apesar de apresentar progressos ténues, continua manifestar dificuldades graves em todas as áreas. Apresenta uma alteração grave nas funções psicossociais. Dificilmente interage com os adultos e colegas sem comportamento de oposição ou sem ter como objetivo a satisfação das necessidades básicas. Não consegue ter perceção das noções temporais, apesar de respeitar algumas rotinas. Em relação às funções intelectuais podemos considerar que revela uma imaturidade grave, uma vez que a compreensão da linguagem está significativamente alterada, bem como visuo–espaciais relacionadas com o raciocínio não-verbal. A exploração de objetos ainda é muito pela boca e pela expressão sensorial. Apesar do desempenho ser imaturo, o Miguel revela alguma perspicácia em relação à interação com os adultos e com o meio. 119 O Miguel revela agitação motora e atraso nas funções mentais que regulam a atividade motora mais evidentes nas habilidades motoras finas em que ainda não tem expressão gráfica e manuseia muito elementarmente os objetos. Ao nível das funções da atenção revela muita dificuldade tanto ao nível da manutenção da atenção, tendo um tempo muito reduzido de permanência nas tarefas. Conclusão, o Miguel demostra uma perturbação do Autismo, com dificuldades significativas de comunicação e de interação, e simultaneamente, revela algum comportamento de oposição que dificulta o processo de intervenção. Relativamente às áreas de participação, as experiências sensoriais estão comprometidas bem como os mecanismos de aprendizagem básica, como a imitação e o ensaio, estes dois aspetoscondicionam significativamente a aplicação de conhecimentos e a realização de tarefas mesmo as mais simples. Revela grandes dificuldades nas tarefas de autos cuidados, ainda não realiza as tarefas de higiene básica com competência nem controla os esfíncteres. Relativamente ao domínio das interações pessoais o Miguel gosta de contato físico, mas não na forma de interação e apenas interage com o adulto. O perfil de funcionalidade do Miguel é muito baixo nas áreas avaliadas e determinantes para a sua aprendizagem. Apesar de tudo, o Ensino Estruturado tem-se mostrado muito benéfico, uma vez que lhe proporciona uma área de trabalho sossegada, limpa de estímulos. É uma sala em que se trabalha directamente com o aluno, respeitando o seu ritmo de aprendizagem. Esta resposta educativa (UEEA), visa melhorar a qualidade de vida das crianças/jovens com Perturbações do Espetro do Autismo (PEA), aumentando o seu nível de autonomia e de participação na escola, junto dos seus pares, incentivando a sua inclusão na sociedade. Em jeito de conclusão, existem ainda muitos docentes que não estão preparados para interagir com estas crianças, mesmo tendo a Especialização em Educação Especial; existem docentes que desconhecem o Modelo Teacch, julgam que o ensino destas crianças com esta patologia é similar às demais patologias. As crianças portadoras de Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) demostram um desenvolvimento mais equilibrado ao beneficiarem da UEEA, mas nem todos os docentes estão sensibilizados para tal, uns por falta de conhecimento, outros por falta de vontade. 120 Capítulo 3 – Ensino estruturado e a Sala Teacch: Perceções dos professores Como vimos anteriormente, pretendemos neste capítulo averiguar as perceções e atitudes dos professores sobre o ensino estruturado e a Sala Teacch e ver a aceitação e ou rejeição a este modelo: Os professores conhecem o modelo Teacch? Reconhecem a sua utilidade para as crianças com PEA? Aceitam bem que os alunos sejam educados numa sala específica, separados dos outros alunos? Que leitura fazem dos resultados do trabalho específico nessa Os professores em geral têm consciência do desenvolvimento das sala? crianças com PEA? Estas são as questões que pretendemos esclarecer. Em vez de um longo texto explicativo necessariamente longo privilegiamos a apresentação dos dados através de gráficos de leitura mais fácil. O instrumento de recolha de dados (questionário) foi aplicado a uma amostra de 28 docentes e técnicos do agrupamento de escolas X, sendo três docentes do ensino préescolar, dois do primeiro ciclo, dois da educação especial, dois terapeutas, dois psicólogos, e os restantes 17 docentes do 2º ciclo. 121 3.1.Idade dos professores participantes Idade 18 16 16 14 12 10 8 6 6 4 3 3 2 0 21-30 31-40 41-50 51 ou mais Gráfico 1 - Idade dos professores participantes A maioria dos professores situa-se entre os 30 e 50 anos, com maior incidência no grupo dos 40-50. 3.2. Distribuição dos professores por sexo SEXO Masculino; 46% Feminino; 54% Gráfico 2-Distribuição dos professores por sexo 54 % do sexo feminino (N= 15) 46 % do sexo masculino (N = 13). Dominância do sexo feminino, não tão acentuada como noutros contextos. 122 3.3. Contexto profissional dos professores Contexto profissional Contexto Variáveis de caracterização profissional dos sujeitos da amostra Professor contratado Percentagem % 3 11% 1 4% 19 68% Técnico contratado 3 11% Técnico dos SPO da escola 1 4% Técnicos em parceria com a escola 1 4% Professor do quadro de zona pedagógica Professor do quadro de agrupamento Contexto profissional Técnicos em parceria com a escola 1 Técnico dos SPO da escola 1 Técnico contratado 3 Professor do quadro de agrupamento 19 Professor do quadro de zona pedagógica 1 Professor contratado 3 0 5 10 15 20 Gráfico 3- Contexto profissional dos professores A maioria dos professores/técnicos pertencem ao Agrupamento de Escolas em análise. 123 3.4. Habilitações literárias dos professores Habilitações Literárias Habilitações Variáveis de caracterização literárias dos sujeitos da amostra Bacharelato Licenciatura Mestrado Doutoramento Percentagem % 0% 89% 11% 0% 25 3 Habilitações Literárias 25 25 20 15 10 3 5 0 Bacharelato Licenciatura Mestrado Doutoramento Gráfico 4- Habilitações literárias dos professores 89 % dos inquiridos possui Licenciatura (N=25) 11% possuem Mestrado (N=3). 124 3.5. Formação Especializada dos professores Possui formação Especializada Variáveis de Formação caracterização dos sujeitos Especializada da amostra Sim 9 Não 19 Percentagem % 32% 68% Formação Especializada 9 Sim 19 Não Gráfico 5-Formação Especializada dos professores 32 % dos professores possuem Formação Especializada (N=9) 68% (N=19) não possui qualquer formação especializada. Dominância dos profesores sem formação especializada 125 3.5.1. Domínio da Formação Especializada dos professores Em que domínio possui formação especializada Domínio de formação Variáveis de caracterização especializada dos sujeitos da amostra Cognitivo e Motor Terapia cognitiva Neuropsicologia Organização e desenvolvimento curriculares Multideficiência Percentagem % 7 1 1 64% 9% 9% 1 9% 1 9% Domínio de formação Especializada 7 7 6 5 4 3 2 1 1 1 1 1 0 Gráfico 5.1 - Domínio da Formação Especializada dos professores 64% possuem formação especializada no Domínio Cognitivo e Motor (N=7); 9% possuem formação em Terapia Cognitiva (N=1); 9 % possuem formação em Neuropsicologia (N= 1); 9% tem formação em Organização e desenvolvimento curriculares (N= 1) e 9% em Multideficiência (N=1). 126 3.6. Experiência docente dos professores e técnicos Experiencia docentes/técnicos (anos) Experiencia Variáveis de caracterização docentes/técnicos dos sujeitos da amostra 1-10 anos 11-20 anos 21-30 anos Mais de 30 anos Percentagem % 6 12 9 1 21% 43% 32% 4% Experiência docentes/técnicos 12 12 9 10 8 6 6 4 1 2 0 1-10anos 11-20anos 21-30anos Mais de 30 anos Gráfico 6-Experiência docente dos professores e técnicos 21% possuem experiência enquanto docentes (N=6); 43% possui experiência profissional de 11 a 20 anos (N= 12); 32% têm experiência profissional de 21 a 30 anos (N= 9); 4% têm experiência profissional de mais de 30 anos (N=1). 127 Crianças e jovens com Perturbação do Espetro do Autismo na escola regular 3.7. Número de crianças com PEA na sua turma Apoia ou tem crianças com PEA na sua turma? Variáveis de caracterização Apoia ou tem crianças com dos sujeitos da amostra PEA na sua turma? Sim 28 Não 0 Percentagem % 100% 0% Apoia ou tem crianças com PEA na sua turma? 28 30 20 0 10 0 Sim Não Gráfico 7-Número de crianças com PEA na sua turma Todos os inquiridos apoiam ou têm crianças com PEA na sua turma (N=28). 128 3.8. Relação docente/aluno PEA Docentes do Victor Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Educação Física 1 N.A. Educação e Religião Moral 2 N.A. Educação Visual 1 N.A. Música 1 N.A. Educação Tecnológica 1 N.A. Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 2 2 1,5 1 1 1 1 1 0,5 0 Educação Física Educação e Religião Moral Educação Visual Música Educação Tecnológica Gráfico 8 - Relação docente/aluno PEA Dos professores a trabalhar com este aluno, só um dos trabalha com 2 crianças PEA. Todos os restantes trabalham apenas com uma criança. 129 Docentes do Duarte: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Educadora de Infância do ensino 1 N.A. regular Educadora de Infância de 1 N.A. Intervenção Precoce Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 1 1 1 0,5 0 Educadora de Infância do Ensino Regular Gráfico 9-Relação docente/aluno PEA Dois docentes, ambos trabalham apenas com este aluno. 130 Docentes do Rui: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Educadora de Infância do ensino 1 N.A. regular Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 1 1 0,5 0 Educadora de Infância do Ensino Regular Gráfico 10-Relação docente/aluno PEA A docente do ensino regular trabalha somente com um aluno. 131 Docentes do Sérgio: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Com quantos alunos com PEA Variáveis de caracterização Percentagem trabalha este ano letivo? dos sujeitos da amostra % Professora do ensino regular 1 N.A. Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 1 1 0,5 0 Professora do Ensino Regular Gráfico 11-Relação docente/aluno PEA A docente do ensino regular trabalha somente com um aluno. 132 Docentes do Luís: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Professora do ensino regular 1 N.A. Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 1 1 0,5 0 Professora do Ensino Regular Gráfico 12-Relação docente/aluno PEA A docente do ensino regular trabalha somente com um aluno. 133 Docentes do Emanuel: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Ciências da natureza 1 N.A. Matemática 1 N.A. Educação Visual 1 N.A. Música 1 N.A. Educação Tecnológica 1 N.A. Inglês 1 N.A. Oficina de escrita 1 N.A. História 1 N.A. Apoio ao Estudo 1 N.A. Português 1 N.A. Educação e Religião Moral 2 N.A. Educação Física 1 N.A. Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 2 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Gráfico 13-Relação docente/aluno PEA Dos professores a trabalhar com o Emanuel, apenas um trabalha com 2 crianças. Todos os restantes trabalham apenas com uma criança. 134 Docentes do Miguel: Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização Com quantos alunos com PEA Percentagem dos sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Diretora de turma 1 N.A. Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 1 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Diretora de turma Gráfico 14-Relação docente/aluno PEA A diretora de turma trabalha somente com um aluno com PEA. 135 Técnicos e docentes de Educação Especial Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? Variáveis de caracterização dos Com quantos alunos com PEA Percentagem sujeitos da amostra trabalha este ano letivo? % Docente de Educação Especial 1 7 N.A. Docente de Educação Especial 2 7 N.A. Terapeuta da Fala 8 N.A. Psicomotricista 6 N.A. Psicólogo dos Spo do Agrupamento 6 N.A. Psicólogo em parceria com o 1 N.A. Agrupamento Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? 8 8 7 6 5 4 3 2 1 0 7 7 6 6 1 Gráfico 15-Relação docente/aluno PEA 2 docentes de Educação Especial que dão apoio a 7 alunos; o Terapeuta da fala dá apoio a 8 alunos com PEA, 7 dos quais frequentam a UEEA; A psicomotricista apoia 6 crianças com PEA O psicólogo do SPO do Agrupamento acompanha 1 aluno com PEA Um Psicólogo em parceria com o Agrupamento acompanha um aluno com PEA 136 3.9. Formação especializada no domínio da PEA Tem formação no domínio da PEA? Variáveis de caracterização dos Tem formação no domínio da sujeitos da amostra PEA ? Sim 11 Não 17 Percentagem % 39% 61% Tem formação Especializada no domínio da PEA ? 17 20 11 15 10 5 0 Sim Não Gráfico 16-Formação especializada no domínio da PEA 39 % possui formação especializada no domínio da PEA (N=11) 61 % dos professores e técnicos não possui formação especializada (N=17). 137 3.10. Áreas de trabalho com com alunos PEA Áreas mais importantes a trabalhar com os alunos com PEA . Variáveis de caracterização dos sujeitos da amostra Interação Social Autonomia pessoal Controle de comportamento Comunicação Linguagem Cognição Motricidade global (fina e grossa) Percepção Coordenação Visuo - Motora Matemática Funcional Língua Portuguesa Funcional Outra Áreas mais importantes a trabalhar com os alunos com PEA Percentagem % 1 (Trabalha muito) 19 2 1 1 1 2 2 3 4 3 12 7 1 2 1 0 4 8 6 2 3 2 5 4 5 5 3 5 (Trabalha pouco) 3 3 4 6 1 8 0 0 2 1 0 N.A. 1 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 2 0 0 1 1 0 1 0 1 0 2 0 0 N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. Áreas mais importantes a trabalhar com os alunos com PEA 19 ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR… ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR… ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR… Outra Língua… Matemática… Coordenação… Percepção Motricidade… Cognição Linguagem Comunicação Interação Social Autonomia… 12 8 3 8 4 6 24 75 3 4 6 5 5 1 3 3 0 3 210 11 10 2 2 1 22 1 1 1 2 1 0 00 0 20 10 00 0 1 00 1 10 0 0 1 0 0 ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR COM OS ALUNOS COM PEA ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR COM OS ALUNOS COM PEA ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR COM OS ALUNOS COM PEA ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR COM OS ALUNOS COM PEA ÁREAS MAIS IMPORTANTES A TRABALHAR COM OS ALUNOS COM PEA Gráfico 17-Áreas de trabalho com com alunos PEA 138 3.11. Autoconfiança profissional dos docentes Sente-se preparado/a para intervir com crianças com PEA? Sente-se preparado/a para Variáveis de caracterização dos Percentagem intervir com crianças com sujeitos da amostra % PEA? Sim 12 43% Não 16 57% Sente-se preparado/a para intervir com crianças com PEA? 16 20 12 15 10 5 0 Sim Não Gráfico 18-Autoconfiança profissional dos docentes 43% dos docentes/técnicos sentem-se preparados para intervir com crianças com PEA (N=12) 57% não se sente preparado para intervir com estas crianças (N= 16). 139 3.12. Dificuldades sentidas a trabalhar com crianças portadoras de PEA Que dificuldades sente ou sentiu a trabalhar com crianças portadoras de PEA. Que dificuldades sente ou sentiu Variáveis de caracterização dos Percentagem a trabalhar com crianças sujeitos da amostra % portadoras de PEA. Falta de conhecimento 11 38% Falta de recursos humanos e 14 48% materiais Falta de disponibilidade devido ao 4 14% número de alunos por turma Que dificuldades sente ou sentiu a trabalhar com crianças portadoras de PEA. 14 14 12 10 8 6 4 2 0 11 4 Falta de conhecimento Falta de recursos Falta de humanos e materiais disponibilidade devido ao numero de alunos por turma Gráfico 19-Dificuldades sentidas a trabalhar com crianças portadoras de PEA 38% sentem dificuldade por falta de conhecimento (N=11); 48 % sentem dificuldade por falta de recursos humanos e materiais (N=14); 14% dos professores/técnicos sentem falta de disponibilidade devido ao número de alunos por turma (N=4). 140 3.13. Perceções sobre os benefícios do Ensino Estruturado – Modelo Teacch Que benefício pode oferecer o Ensino Estruturado – Modelo Teacch. Que benefício pode oferecer o Variáveis de caracterização dos Percentagem Ensino Estruturado – Modelo sujeitos da amostra % Teacch. Desenvolvimento das noções de 13 28% vida e sociedade Melhoria de auto-conceito 4 9% Desenvolvimento de valores 4 9% pessoais Maior aproveitamento académico 5 11% Maior autonomia para a vida 20 43% Que benefício pode oferecer o Ensino Estruturado - Modelo Teacch. 20 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 13 4 4 5 Gráfico 20-Perceções sobre os benefícios Gráficodo20Ensino Estruturado – Modelo Teacch 28% pensam que pode oferecer um melhor desenvolvimento das noções de vida (N=13); 9% afirmam que beneficia a melhoria do auto–conceito (N=4); 9% afirmam que desenvolve valores pessoais (N= 4); 11 % afirmam que existe um maior aproveitamento académico (N=5) 43 % afirmam que oferece uma maior autonomia para a vida (N= 20). 141 3.14. A perspetiva dos docentes e técnicos sobre o ensino estruturado - Modelo TEACCH, como complemento da inclusão em turmas regulares. Os alunos com PEA devem estar integrados na sala de ensino regular. Os alunos com PEA devem Variáveis de caracterização dos Percentagem estar integrados na sala de sujeitos da amostra % ensino regular. Concordo 9 32% Concordo parcialmente 12 43% Discordo 7 25% Os alunos com PEA devem estar integrados na sala do Ensino regular. 12 12 9 10 7 8 6 4 2 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 21-A perspetiva dos docentes e técnicos sobre o ensino estruturado Modelo TEACCH, como complemento da inclusão em turmas regulares. 32 % dos professores/técnicos (N=9) concorda que os alunos com PEA devem estar integrados na sala de ensino regular; 43% concordam parcialmente (N= 12) 25% discordam (N= 7). 142 3.14. Perceções dos professores sobre a Sala Teacch relativamente à satisfação das necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA As necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch. As necessidades sociais e emocionais Variáveis de caracterização dos dos alunos com PEA são melhor Percentagem sujeitos da amostra satisfeitas quando o apoio se realiza % na sala Teacch . Concordo 23 82% Concordo parcialmente 5 18% Discordo 0 0% As necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch. 23 25 20 15 5 10 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 22-Perceções dos professores sobre a Sala Teacch relativamente à satisfação das necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA 82% dos inquiridos concorda (N=23) 18 % concorda parcialmente (N=18) Nenhum dos professores/técnicos discorda. 143 3.15. Perceções dos professores sobre a frequência de uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch Os alunos com PEA devem frequentar uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch. Os alunos com PEA devem Variáveis de caracterização dos Percentagem frequentar uma Unidade de Ensino sujeitos da amostra % Estruturado Modelo Teacch. Concordo 23 82% Concordo parcialmente 5 18% Discordo 0 0% Os alunos com PEA devem frequentar uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch. 23 25 20 15 5 10 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 23-Perceções dos professores sobre a frequência de uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch 82 % dos professores /técnicos concordam (N=23); 18 % concorda parcialmente (N= 18) Nenhum dos docentes/técnicos discorda. 144 3.16. Tempo de permanência na sala de Ensino Estruturado Modelo Teacch Os alunos com PEA devem permanecer mais tempo na sala de Ensino Estruturado Modelo Teacch. Os alunos com PEA devem Variáveis de caracterização dos Percentagem permanecer mais tempo na sala de sujeitos da amostra % Ensino Estruturado Modelo Teacch . Concordo 20 71% Concordo parcialmente 7 25% Discordo 1 4% Os alunos com PEA devem permanecer mais tempo na sala de Ensino Estruturado- Modelo Teacch. 20 20 15 7 10 1 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 24-Tempo de permanência na sala de Ensino Estruturado Modelo Teacch 71 % concorda (N=20); 25% Concorda parcialmente (N= 7) 4 % discorda (N=1). 145 3.17. Desenvolvimento da criança com PEA no Ensino Estruturado Modelo Teacch O Modelo Teacch permite um desenvolvimento mais integrado e mais equilibrado para a criança com PEA. O Modelo Teacch permite um desenvolvimento mais integrado e Variáveis de caracterização dos Percentagem mais equilibrado para a criança com sujeitos da amostra % PEA. Concordo Concordo parcialmente Discordo 28 0 0 100% 0% 0% O Modelo Teacch permite um desenvolvimento mais integrado e mais equilibrado para a criança com PEA. 28 30 25 20 15 10 5 0 0 Concordo Concordo parcialmente 0 Discordo Gráfico 25-Desenvolvimento da criança com PEA no Ensino Estruturado Modelo Teacch 100% dos inquiridos concordaram com um desenvolvimento mais integrado no modelo Teacch (N=28) 146 3.17. As crianças PEA sairão prejudicadas se não frequentarem a Sala Teacch As crianças com PEA que não tenham oportunidade de frequentar uma sala Teacch, futuramente não vão conseguir acompanhar os seus pares. As crianças com PEA, que não tenham oportunidade de frequentar Variáveis de caracterização dos Percentagem uma sala Teacch, futuramente não sujeitos da amostra % vão conseguir acompanhar os seus pares. Concordo 4 14% Concordo parcialmente 23 82% Discordo 1 4% As crianças com PEA, que não tenham oportunidade de frequentar uma sala Teacch, futuramente não vão conseguir acompanhar os seus pares. 23 25 20 15 10 5 0 4 Concordo 1 Concordo parcialmente Discordo Gráfico 26-As crianças PEA sairão prejudicadas se não frequentarem a Sala Teacch 14 % concordam (N=4); 82 % Concordam parcialmente (N= 23); 4% discordam (N=1). 147 3.18. Os alunos com PEA prejudicam os outros alunos Os alunos sem problemas são prejudicados quando estão numa turma onde estejam integrados alunos com PEA. Os alunos sem problemas são Variáveis de caracterização dos prejudicados quando estão numa Percentagem sujeitos da amostra turma onde estejam integrados % alunos com PEA. Concordo 3 11% Concordo parcialmente 16 57% Discordo 9 32% Os alunos sem problemas são prejudicados quando estão numa turma onde estejam integrados alunos com PEA. 16 20 9 15 10 3 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 27-Os alunos com PEA prejudicam os outros alunos 11 % concordam (N= 3); 57% concordam parcialmente (N=16) 32% discordam (N=9). 148 3.19. É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de ensino regular com alunos com PEA É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de ensino regular com alunos com PEA. É possível desenvolver metodologias Variáveis de caracterização dos Percentagem diversificadas na sala de ensino sujeitos da amostra % regular com alunos com PEA. Concordo 6 21% Concordo parcialmente 5 18% Discordo 17 61% É possível desenvolver metodologias Diversificadas na sala de Ensino regular com alunos com PEA. 17 20 15 10 6 5 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 28-É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de Ensino regularcom alunos com PEA 21 % concordam (N=6) 18% concordam parcialmente (N=5) 61% discordam (N=17). 149 3.20. Os professores de Educação Especial usam métodos de ensino diferentes em relação aos professores do ensino regular Os professores de Educação Especial usam métodos diferentes de ensino relativamente aos professores do ensino regular. Os professores de Educação Especial Variáveis de caracterização dos usam métodos diferentes de ensino Percentagem sujeitos da amostra relativamente aos professores do % ensino regular. Concordo 27 96% Concordo parcialmente 1 4% Discordo 0 0% Os professores de Educação Especial usam métodos diferentes de ensino relativamente aos professores do Ensino regular. 27 30 20 1 10 0 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 29-Os professores de Educação Especial usam métodos de ensino diferentes em relação aos professores do ensino regular 96% concordam (N=27); 4% concordam parcialmente (N=1) Nenhum discorda. 150 3.21. Os professores de educação especial são mais eficazes que os professores do ensino regular no ensino de crianças com PEA Os professores de educação especial são mais eficazes que os professores do ensino regularno ensino de crianças com PEA. Os professores de educação especial Variáveis de caracterização dos são mais eficazes que os professores Percentagem sujeitos da amostra do ensino regularno ensino de % crianças com PEA. Concordo 25 89% Concordo parcialmente 3 11% Discordo 0 0% Os professores de Educação Especial são mais eficazes que os professores do Ensino regular no ensino de crianças com PEA. 25 25 20 15 10 5 0 3 Concordo Concordo parcialmente 0 Discordo Gráfico 30-Os professores de educação especial são mais eficazes que os professores do ensino regular no ensino de crianças com PEA 89% concorda (N=25); 11% concorda parcialmente (N=3); Nenhum dos professores/técnicos discorda. 151 3.22. O professor da educação especial é um recurso fundamental na escola O professor da educação especial é um recurso fundamental na escola. O professor da educação especial é Variáveis de caracterização dos Percentagem um recurso fundamental na escola. sujeitos da amostra % Concordo Concordo parcialmente Discordo 28 0 0 100% 0% 0% O professor da Educação Especial é um recurso fundamental na escola. 28 30 25 20 15 10 0 5 0 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 31-O professor da educação especial é um recurso fundamental na escola 100% concordam (N=28) 152 3.23. Considera importante a presença de outros técnicos para ajudar a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA? Considera importante a presença de outros técnicos para ajudara a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA. Considera importante a presença de Variáveis de caracterização dos outros técnicos para ajudara a Percentagem sujeitos da amostra colmatar as dificuldades dos alunos % com PEA. Concordo 28 100% Concordo parcialmente 0 0% Discordo 0 0% Considera importante a presença de outros técnicos para ajudar a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA. 28 30 25 20 15 10 5 0 0 Concordo Concordo parcialmente 0 Discordo Gráfico 32-Considera importante a presença de outros técnicos para ajudar a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA? 100 % concordam (N=28) 153 3.24. O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular. O ensino a alunos com PEA incita Variáveis de caracterização dos sentimentos de ansiedade e de Percentagem sujeitos da amostra desconforto nos professores de % ensino regular. Concordo 13 46% Concordo parcialmente 11 39% Discordo 4 14% O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de Ensino regular. 13 15 11 10 4 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 33-O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular 46 % dos inquiridos concorda (N= 13); 39% concorda parcialmente (N= 11); 14 % discordam (N=4). 154 3.25 .As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da educação especial As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da educação especial. As necessidades da maioria dos Variáveis de caracterização dos alunos com PEA podem ser Percentagem sujeitos da amostra satisfeitas na sala de aula, sem apoio % da educação especial. Concordo 0 0% Concordo parcialmente 2 7% Discordo 26 93% As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da Educação Especial. 26 30 25 20 15 10 2 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 34-As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da educação especial Nenhum dos inquiridos concorda (N=0); 7% dos inquiridos concorda parcialmente (N=2); 93% dos inquiridos discorda (N=26). 155 3.26 .Necessidade do programa educativo individualizado (PEI) Cada aluno com PEA tem necessidades únicas, pelo que deve ser elaborado um programa individualizado que dê respostas a essas necessidades. Cada aluno com PEA tem necessidades únicas, pelo que deve Variáveis de caracterização dos Percentagem ser elaborado um programa sujeitos da amostra % individualizado que dê respostas a essas necessidades. Concordo 28 100% Concordo parcialmente 0 0% Discordo 0 0% Cada Aluno com PEA Tem Necessidades únicas, pelo que deve ser elaborado um programa individualizado que dê respostas a essas necessidades. 28 30 25 20 15 10 0 5 0 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 35-Necessidade do programa educativo individualizado (PEI) 100% dos docentes concordam (N=28) 156 3.27 Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras crianças Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras criança Os alunos com PEA requerem mais Variáveis de caracterização dos apoio por parte do professor do que Percentagem sujeitos da amostra as outras crianças % Concordo Concordo parcialmente Discordo 27 1 0 96% 4% 0% Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras criança. 27 30 25 20 15 10 1 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 36-Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras crianças 96% dos professores/técnicos concordam (N=27); 4% concorda parcialmente (N=1); Nenhum dos inquiridos discorda (N=0). 157 3.28. O ensino estruturado – Modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pós- escolar O ensino estruturado – modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pósescolar. O ensino estruturado – modelo Variáveis de caracterização dos Teacch prepara a criança com PEA Percentagem sujeitos da amostra para enfrentar a vida pós- escolar. % Concordo Concordo parcialmente Discordo 16 12 0 57% 43% 0% O ensino estruturado – modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pós- escolar. 20 16 12 15 10 0 5 0 Concordo Gráfico Concordo parcialmente Discordo 37-O ensino estruturado – Modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pós- escolar 57 % dos professores/técnicos concorda (N=16); 43% discorda parcialmente (N=12); Nenhum dos professores/técnicos discorda (N=0). 158 3.29. A Unidade de Ensino Estruturado – Modelo Teacch deve estar integrada numa escola do ensino regular para promover a inclusão das crianças com PEA Uma Unidade de Ensino Estruturado – modelo Teacch deve encontrar-se integrada numa escola do ensino regular, para desta forma se promove a inclusão das crianças com PEA. Uma Unidade de Ensino Estruturado – modelo Teacch deve encontrar-se integrada Variáveis de caracterização dos numa escola do ensino regular, para desta Percentagem sujeitos da amostra forma se promove a inclusão das crianças % com PEA. Concordo Concordo parcialmente Discordo 28 0 0 100% 0% 0% Uma Unidade de Ensino Estruturado – modelo Teacch deve encontrar-se integrada numa escola do ensino regular, para desta forma se promover a inclusão das crianças com PEA. 28 30 25 20 15 10 5 0 0 Concordo Concordo parcialmente 0 Discordo Gráfico 38-A Unidade de Ensino Estruturado – Modelo Teacch deve estar integrada numa escola do ensino regular para promover a inclusão das crianças com PEA 100% dos inquiridos concorda (N=28) 159 3.30. O ensino Estruturado – Modelo Teacch facilita um melhor processo de aprendizagem O ensino estruturado – modelo Teacch facilita às crianças um melhor processo de aprendizagem. O ensino estruturado – modelo Teacch Variáveis de caracterização dos facilita às crianças um melhor processo de Percentagem sujeitos da amostra aprendizagem. % Concordo Concordo parcialmente Discordo 27 1 0 96% 4% 0% O ensino estruturado – modelo Teacch facilita às crianças um melhor processo de aprendizagem. 27 30 25 20 15 10 5 0 1 Concordo Concordo parcialmente 0 Discordo Gráfico 39-O ensino Estruturado – Modelo Teacch facilita um melhor processo de aprendizagem 96% dos professores/técnicos concordam (N= 27); 4% dos professores/técnicos concorda parcialmente (N=1) Nenhum professor/técnico discorda (N=0). 160 3.31. O ensino estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia O Ensino Estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia. Variáveis de caracterização dos sujeitos da amostra O Ensino Estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia. Concordo Concordo parcialmente Discordo 27 1 0 Percentagem % 96% 4% 0% O Ensino Estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia. 27 30 25 20 15 10 1 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 40-O ensino estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia 96% dos inquiridos concorda (N= 27); 4% dos inquiridos concorda parcialmente (N=1) Nenhum inquirido discorda (N=0). 161 3.32. O Ensino Estruturado - Modelo Teacch melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças com PEA Os alunos com PEA que frequentam o Ensino Estruturado- Modelo Teacch, revelam maior desenvolvimento cognitivo que os alunos com PEA que não frequentam a sala de Ensino Estruturado. Os alunos com PEA que frequentam o Ensino Estruturado- Modelo Teacch, revelam maior Variáveis de caracterização dos desenvolvimento cognitivo que os alunos com Percentagem sujeitos da amostra PEA que não frequentam a sala de Ensino % Estruturado. Concordo Concordo parcialmente Discordo 8 20 0 29% 71% 0% Os alunos com PEA que frequentam o Ensino Estruturado- Modelo Teacch, revelam maior desenvolvimento cognitivo que os alunos com PEA que não frequentam a sala de Ensino Estruturado. 20 20 15 8 10 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 41-O Ensino Estruturado - Modelo Teacch melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças com PEA 29% dos inquiridos concordam (N= 8); 71% dos inquiridos concorda parcialmente (N=20); Nenhum inquirido discorda (N=0) 162 3.33. O Decreto-Lei n.º 3/2008 contribui para a inclusão de crianças com PEA Considera que o Decreto-Lei n.º 3/2008 de 7 de janeiro contribui para a inclusão de crianças com PEA. Considera que o Decreto-Lei N.º 3/2008 DE 7 De Variáveis de caracterização Janeiro contribui para a inclusão de crianças Percentagem dos sujeitos da amostra com PEA. % Concordo Concordo parcialmente Discordo 24 4 0 86% 14% 0% Considera que o decreto-lei n.º 3/2008 de 7 de janeiro contribuiu para a inclusão de crianças com PEA. 24 25 20 15 4 10 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 42-O Decreto-Lei n.º 3/2008 contribui para a inclusão de crianças com PEA 86% dos inquiridos concorda (N=24); 14% dos inquiridos concorda parcialmente (N=4); Nenhum dos inquiridos discorda. 163 3.34. A importância da CIF na inclusão dos alunos com PEA Considera o processo de referenciação e classificação previsto na CIF (classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde), um potencial para a inclusão dos alunos com PEA. Considera o processo de referenciação e classificação previsto na CIF (classificação Variáveis de caracterização internacional de funcionalidade, incapacidade e Percentagem dos sujeitos da amostra saúde), um potencial para a inclusão dos alunos % com PEA. Concordo Concordo parcialmente Discordo 19 8 1 68% 29% 4% Considera o processo de referenciação e classificação previsto na CIF (classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde), um potencial para a inclusão dos alunos com PEA. 19 20 8 10 1 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 43-A importância da CIF na inclusão dos alunos com PEA 68 % concordam (N=19); 29% concordam parcialmente (N=8); 4% discordam (N=1). 164 3.35. A inclusão é um direito das crianças com PEA A inclusão deve ser entendida como um direito de todos os alunos com PEA. A inclusão deve ser entendida como um Variáveis de caracterização Percentagem direito de todos os alunos com PEA. dos sujeitos da amostra % Concordo Concordo parcialmente Discordo 28 0 0 100% 0% 0% A inclusão deve ser entendida como um direito de todos os alunos com PEA. 28 30 25 20 15 10 0 0 5 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 44-A inclusão é um direito das crianças com PEA 100% dos professores/técnicos concordam (N= 28) 165 3.36. É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA. É injusto o professor da turma prestar Variáveis de caracterização Percentagem mais atenção aos alunos com PEA. dos sujeitos da amostra % Concordo Concordo parcialmente Discordo 1 23 4 4% 82% 14% É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA. 23 25 20 15 10 5 4 1 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 45- É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA 4% dos professores/técnicos concordam (N=1); 82% dos professores/técnicos concordam parcialmente (N= 23); 14% dos professores/técnicos discordam (N=4). 166 3.37. A inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas Na sua opinião a inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas. Na sua opinião a inclusão dos alunos Variáveis de caracterização portadores de PEA é uma realidade nas Percentagem dos sujeitos da amostra escolas. % Concordo Concordo parcialmente Discordo 2 13 13 7% 46% 46% Na sua opinião a inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas. 13 13 15 10 5 2 0 Concordo Concordo parcialmente Discordo Gráfico 46-A inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas 7% dos professores/técnicos concordam (N= 2); 46% dos professores/técnicos, concordam parcialmente (N=13); 46% dos professores/técnicos discordam (N= 13). 167 3.38. Cooperação entre professores de educação especial/técnicos e professores do ensino regular Existe interajuda entre os profissionais da Unidade de Ensino Estruturado e os profissionais que exercem no ensino regular? Existe interajuda entre os profissionais da Variáveis de caracterização Unidade de Ensino Estruturado e os Percentagem dos sujeitos da amostra profissionais que exercem no ensino regular? % Sim Não 28 0 100% 0% Existe interajuda entre os profissionais da unidade de ensino estruturado e os profissionais que exercem no ensino regular? 28 30 20 0 10 0 Sim Não Gráfico 47-Cooperação entre professores de educação especial/técnicos e professores do ensino regular 100% dizem existir interajuda entre os profissionais da Unidade de Ensino Estruturado e os profissionais que exercem no ensino regular(N=28) 168 3.39. Modos de cooperação De que modo é estabelecida essa cooperação? De que modo é estabelecida essa Variáveis de caracterização cooperação? dos sujeitos da amostra Participação em reuniões com todos os intervenientes Troca de informação entre Diretor de turma, professores de Educação Especial e técnicos Outra, qual Percentagem % 23 61% 15 39% 0 0% De que modo é estabelecida essa cooperação? 23 25 20 15 15 10 0 5 0 Participação em Troca de informação reuniões com todos os entre Diretor de intervenientes turma, professores de Educação Especial e técnicos Outra, qual Gráfico 48-Modos de cooperação 61% dos inquiridos participa em reuniões com todos os intervenientes (N =23); 39 % dizem que existe troca de informação entre Diretor de turma, professores de Educação Especial e técnicos (N=15). 169 3.40. Planificação das atividades Tendo em conta a especificidade dos alunos com Perturbações do Espetro do Autismo, a elaboração de atividades conjunta das aulas em que os alunos participam é uma realidade entre professores do ensino regulare professores de Educação Especial/ Técnicos? Tendo em conta a especificidade dos alunos com Perturbações do Espetro do Autismo, a elaboração de Variáveis de atividades conjunta das aulas em que os alunos participam é Percentagem caracterização dos uma realidade entre professores do ensino regulare % sujeitos da amostra professores de Educação Especial/ Técnicos? Sim Não 9 19 32% 68% Tendo em conta a especificidade dos Alunos com Perturbações do Espetro do Autismo, a elaboração de atividades conjunta das aulas em que os alunos participam é uma realidade entre professores do Ensino regular e professores de Educação Especial/ Técnicos? 19 20 9 10 0 Sim Não Gráfico 49-Planificação das actividades 32 % dos inquiridos responde que sim (N=9); 68% dos inquiridos responde que não (N=19). 170 3.41. Dificuldades na realização do trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo Sente dificuldades na realização do seu trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo. Sente dificuldades na realização do seu trabalho Variáveis de caracterização como docente/técnico de alunos com Perturbação Percentagem dos sujeitos da amostra do Espetro do Autismo. % Sim Não 20 8 71% 29% Sente dificuldades na realização do seu trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo. 20 20 15 8 10 5 0 Sim Não Gráfico 50-Dificuldades na realização do trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo 71% dos inquiridos sente dificuldade (N=20); 29% diz não sentir dificuldade (N=8). 171 3.42. As maiores dificuldades sentidas pelos docentes Se sim, indique as suas maiores dificuldades. Variáveis de caracterização dos Se sim, indique as suas sujeitos da amostra maiores dificuldades. Conjugar os interesses do aluno com 1 a restante turma Recursos 1 Comportamento e atitudes 13 Dificuldades em lidar com o estado 1 emocional do aluno Difícil comunicação e controle de 1 comportamento No relacionamento e preparação de 2 material A especificidade de cada aluno 1 Percentagem % 5% 5% 65% 5% 5% 10% 5% Se sim, indique as suas maiores dificuldades. 1 A especificidade de cada aluno 2 No relacionamento e preparação de material Difícil comunicação e controle de comportamento 1 Dificuldades em lidar com o estado emocional do aluno 1 13 Comportamento e atitudes Recursos 1 Conjugar os interesses do aluno com a restante turma 1 0 2 4 6 8 10 12 14 Gráfico 51-As maiores dificuldades sentidas pelos docentes As maiores dificuldades estão nos comportamentos e atitudes das crianças PEA 172 3.43 Terapias das crianças com PEA De que terapias beneficiam os alunos com Perturbações do Espetro do Autismo na sua escola? De que terapias beneficiam os alunos com Variáveis de caracterização Perturbações do Espetro do Autismo na Percentagem dos sujeitos da amostra sua escola? % Terapia da Fala Psicomotricidade Fisioterapia Psicologia Hidroterapia Hipoterapia Musicoterapia Outra 28 27 2 25 5 0 0 0 32% 31% 2% 29% 6% 0% 0% 0% De que terapias beneficiam os alunos com Perturbações do Espetro do Autismo na sua escola? 28 30 27 25 25 20 15 10 5 2 5 0 0 0 0 Gráfico 52-Terapias das crianças com PEA 32 % dos inquiridos referem que os alunos beneficiam de Terapia da Fala (N= 28); 31% referem a Psicomotricidade (N=27); 2 % a Fisioterapia (N= 2); 29% beneficiam de Psicologia (N=25); 6% dos inquiridos dizem que os alunos beneficiam de Hidroterapia (N= 5). 173 3.44. As terapias na escola são benéficas para os alunos? Na sua opinião a realização destas terapias na escola são benéficas para os alunos? Se sim, justifique. Na sua opinião a realização destas terapias Variáveis de caracterização dos sujeitos da na escola são benéficas Percentagem amostra para os alunos? Se sim, % justifique. Desenvolve mais as capacidades da criança. Ajudam no desenvolvimento global dos alunos. Permite aos alunos com PEA beneficiar de algumas valências para melhorar alguns domínios em défice Abordam diferentes áreas específicas Ajuda a criança a uma maior autonomia Ajudam a colmatar as dificuldades que os docentes não conseguem Porque os alunos estão no seu ambiente e sentem-se mais integrados Ajudam os alunos em outras áreas Beneficiam de intervenção na sala pois possibilita uma maior inclusão e possibilidade de articulação com os diferentes técnicos. Ajudam a colmatar as lacunas de desenvolvimento da criança em que o professor sozinho não consegue intervir da forma mais eficaz para a criança. Ajuda no desenvolvimento integral da criança. Quanto maiores forem os apoios, melhor é a intervenção e o desenvolvimento destas crianças. Ajudam o aluno na sua comunicação, motricidade fina e grossa e ao nível dos seus comportamentos e atitudes. Promove a estimulação das funções do aluno inscritas no sistema nervoso central Promovem o desenvolvimento holístico do aluno enquanto unidade biopsicossocial, com o objetivo de potencializar e optimizar as suas competências académicas, comunicativas e psicomotoras e consequentemente a autonomia, funcionalidade e adaptabilidade. 1 4% 7 25% 2 7% 3 3 11% 11% 3 11% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 1 4% 174 Na sua opinião a realização destas terapias na escola são benéficas para os alunos? Se sim, justifique. Promovem o desenvolvimento holístico do aluno… Promove a estimulação das funções do aluno… Ajudam o aluno na sua comunicação, motricidade… Quanto maiores forem os apoios, melhor é a… Ajuda no desenvolvimento integral da criança. Ajudam a colmatar as lacunas de desenvolvimento… Beneficiam de intervenção na sala pois possibilita… Ajudam os alunos em outras áreas Porque os alunos estão no seu ambiente e sentem-… Ajudam a colmatar as dificuldades que os docentes… Ajuda a criança a uma maior autonomia Abordam diferentes áreas específicas Permite aos alunos com PEA beneficiar de… Ajudam no desenvolvimento global dos alunos. Desenvolve mais as capacidades da criança. 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 3 3 2 7 1 1 2 3 4 5 6 7 8 Gráfico 53-As terapias na escola são benéficas para os alunos? Em síntese, parece haver consenso sobre o desenvolvimento global dos alunos, com maior destaque para a autonomia e a superação de dificuldades que não estão ao alcance dos docentes do ensino regular. 175 Conclusões 1 - Observação em contexto de trabalho A educação da criança Autista não deve confinar-se aos professores e técnicos de Educação Especial. Os professores do ensino regular também têm uma grande importância neste processo, pois pretende-se que a criança se desenvolva o mais possível em todos os contextos que frequente. Nos dois estudos que levamos a cabo, verifica-se uma interajuda entre todos os profissionais, o que dá ao professor de ensino regular maior segurança, pois o aluno, sempre que vai à turma, vai acompanhado por uma docente de Educação Especial. Tendo em conta as necessidades destes alunos considerou-se que se deveria proporcionar a todos eles experiências diversas, desenvolvidas, sempre que possível, em contextos naturais. Entendeu-se prioritário manter um ambiente calmo, acolhedor, devidamente organizado e estruturado, rico em estímulos que favorecem o seu desenvolvimento global, por isso todos eles beneficiaram do Modelo Teacch, que se mostrou uma mais-valia para todos eles. Nem todos os alunos com Autismo demostram um desenvolvimento cognitivo normal. Todos os que estudamos apresentam défice cognitivo. No entanto, nestes quatro anos em funções na Sala de Ensino Estruturado, começámos por trabalhar as áreas em que os alunos demostravam maiores dificuldades. Todos eles apresentavam bastantes dificuldades na interação social, na autonomia pessoal e no desenvolvimento cognitivo. Promovemos atividades que colmatassem essas dificuldades de forma a facilitar a sua progressão. O trabalho por vezes torna-se penoso, uma vez que a criança mostra resistência e frustração por não compreender o que se pretende. Assim, cabe aos profissionais inserir a atividade de forma mais progressiva, mais lúdica e mais assertiva. Todos os alunos do nosso estudo de caso mostraram uma melhoria a nível do desenvolvimento cognitivo. O Modelo Teacch facilita bastante a aprendizagem, proporcionando para cada aluno atividades específicas de acordo com o seu perfil de funcionalidade e permite as aprendizagens ao ritmo individual. Quando a criança não consegue atingir os objetivos programados, voltamos a focar-nos nesses mesmos objetivos mas com atividades diferentes, insistindo numa forma mais lúdica, até atingir o objetivo pretendido. Quando iniciamos funções na UEEA, havia crianças que não sabiam gerir o seu comportamento, mostrando-se por vezes agressivas, intolerantes e manifestando o seu 176 desagrado no contacto com o outro. Com o passar do tempo estes alunos foram criando laços de afeto com quem trabalha com eles. Quando se sentem seguros, reagem melhor aos estímulos que lhes são dados. É importante que estes alunos tenham continuidade de Professores, Técnicos e Assistentes Operacionais pois a continuidade permite prosseguir as atividades programadas com o acompanhamento das pessoas já conhecidas. Devemos estar atentos a cada criança de modo a proporcionar-lhe um acompanhamento e um tipo de ensino que lhe dê estabilidade e segurança e acima de tudo que a prepare para a sua integração social, tão plenamente quanto possível. Podemos concluir que esta articulação entre a Sala Teacch e a Sala Regular e entre os profissionais dos vários contextos de actividade permite assegurar o trabalho individual adequado ao perfil de cada criança e a sua inclusão na turma e no convívio com os seus pares. 2 - O inquérito aos professores Relativamente às perceções dos professores, tal como decorrem das respostas ao questionário, a primeira leitura é a do reconhecimento dos benefícios do Ensino Estruturado e do Modelo da Sala Teacch. Não é fácil para um professor do ensino regular deparar-se com um aluno com Autismo na sua turma. A falta de preparação e de conhecimento e o elevado número de alunos por turma só agravam o problema. O desconhecimento e a insegurança geram a rejeição. Subsiste a ideia errada de que o aluno Autista não apresenta défice cognitivo e que é incapaz de aprender como as outras crianças. Quando os alunos começaram a frequentar a sala do ensino regular acompanhados por uma das professoras de Educação Especial, os docentes do ensino regular começaram a perceber todo o trabalho que era realizado na sala Teacch, como nós preparávamos as atividades para a sala do ensino regular, tendo em conta o perfil de funcionalidade de cada criança e também a matéria dada na sala do ensino regular. É evidente que os alunos não conseguiam acompanhar os seus pares, muitas vezes rejeitavam os seus colegas e os professores que lhes causavam grande frustração. Com o passar do tempo a maior parte dos professores do ensino regular começou a entender o modelo Teacch e as suas vantagens e acha útil para o aluno Autista beneficiar da sala Teacch, uma vez que proporciona maior autonomia para a vida, o desenvolvimento das 177 noções de vida e de sociedade, maior aproveitamento académico, o desenvolvimento de valores pessoais e a melhoria do auto-conceito, áreas trabalhadas na sala Teacch essenciais para que o aluno conseguisse estar com a sua turma e com os seus pares. A maior parte dos professores do afirma que as necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch. A maior parte dos professores considera que o Ensino Estruturado facilita uma melhor aprendizagem e satisfaz as necessidades sociais e emocionais dos alunos com Autismo e concorda que a criança frequente mais tempo a sala de Ensino Estruturado, pois promove um ensino mais direccionado e individualizado, constatando que este ensino permite um desenvolvimento mais integrado e mais equilibrado da criança. 3 - Confirmação das hipóteses A primeira hipótese confirma-se: as crianças com PEA que frequentam a sala Teacch demostram um desenvolvimento mais equilibrado. Implicitamente fica confirmada a segunda: Os alunos com PEA sem acesso ao modelo Teacch vão ter mais dificuldade em acompanhar com sucesso os seus pares. A hipótese 3 revela-se difícil. Desenvolver metodologias diversificadas na sala de com alunos com PEA sem o apoio da sala Teacch e dos professores e técnicos especializados parece mesmo impossível. A hipótese 4 também se confirma. O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular, que se confessam impreparados para educar estas crianças. O que se traduz ainda na confirmação da hipótese 5, segundo a qual as necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch. Estes são os resultados da nossa investigação, que derivam quer da observação dos alunos na Sala Teacch, quer dos questionários aos professores. 178 4 - Em síntese Ao finalizarmos este trabalho de investigação, confirmamos que nem todas as crianças com Autismo manifestam os mesmos sintomas. Cada criança, com ou sem Autismo, tem uma personalidade única que faz com que seja especial. A finalidade deste estudo centrou-se na observação de sete crianças com Espetro do Autismo, numa tentativa de percebermos melhor este “mundo” e de analisarmos a importância do Ensino Estruturado – Modelo Teacch. A prática pedagógica junto das crianças com PEA e a sua observação ao longo de quatro anos permitiram o contato direto com esta problemática e a sua compreensão de forma mais profunda. A realização deste trabalho foi para nós uma mais-valia que marcará a qualidade da nossa acção futura com estas crianças. A sensibilidade e a envolvência de todos os intervenientes de formação especializada ou do ensino regular e o espírito de colaboração entre todos são essenciais para dar resposta a crianças com esta patologia. Ficou claro que as Unidades de Ensino Estruturado são um recurso pedagógico especializado em complemento à turma do ensino regular. É fundamental que os docentes mudem a sua mentalidade, de forma a garantir uma melhor inclusão e uma melhor resposta educativa, tendo sempre presente que a criança é o mais importante e que devemos fazer tudo para que na vida adulta tenha um futuro esperançoso e menos dependente dos outros. As crianças com Autismo são diferentes mas têm os mesmos direitos e devem ter as mesmas oportunidades. Também elas estão abrangidas pela escolaridade obrigatória. Ensinar estas crianças não deve ser encarado com desalento, mas sim como um desafio que colocará à prova todas as nossas capacidades e nos tornará profissionais mais capazes. Chegamos ao fim com o sentimento de ter dado um passo em frente no nosso desenvolvimento profissional, podendo dar um contributo importante para a qualidade de vida das crianças com PEA. 179 Bibliografia 180 Bibliografia Aguiar, Ana (1997), Crianças com alterações do espectro do autismo. Porto: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. AMA (2005), Associação Mão Amiga: Associação de Pais e Amigos de Pessoas Autistas. Consultado em 02 de Agosto de 2013, em www.maoamiga.org. Associação Nacional de Educação (2006), O quebra-cabeças do Autismo. http://www.google.pt/ Freitas, Paula ( ), Autismo – do conceito ao diagnóstico. 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Tem como objetivo recolher informação sobre a opinião dos docentes e Técnicos face à perspectiva que estes têm sobre o ensino estruturado- Modelo TEACCH, como complemento da inclusão em turmas regulares. Pretende-se saber se este modelo ajuda a uma intervenção mais eficiente em crianças com perturbações do Espetro do Autismo. Solicitamos a sua colaboração, pedindo-lhe que responda com sinceridade, pois disso dependerá o rigor deste trabalho. O seu preenchimento demorará 10 minutos. Todas as informações recolhidas neste questionário serão tratadas de forma confidencial. Obrigada pela sua colaboração! Nádia Cardoso I – Identificação /Situação Profissional 1 – Sexo: a) Feminino b) Masculino 2- Idade: de 21 a 30 de 31 a 40 de 41 a 50 anos 51 ou mais anos 3- Contexto profissional: a) Prof. Contratado b) Prof. do quadro de Zona Pegagógica c) Prof. do quadro de Agrupamento d) Técnico contratado e) Técnico dos SPO da escola f) Técnico em parceria com a escola 4- Habilitações literárias: a) Bacharelato b) Licenciatura c) Mestrado d) Doutoramento 5- Tem formação Especializada? a) Sim b) Não 5.1- Se sim, em que domínio ______________________________________________ 6- Experiencia docente /técnico (anos): a) 1- 10 anos b) 11-20 anos c) 21-30 anos d) Mais de 30 II- Dificuldades da escola regular na inclusão de crianças e jovens com Perturbação do Espetro do Autismo 1 – Apoia ou tem crianças com PEA na sua turma? a) Sim b) Não 2- Com quantos alunos com PEA trabalha este ano letivo? _____ 3- Tem formação no domínio da PEA? a) Sim b) Não 4- Ordene (por ordem crescente, ou seja de 1 a 5) as áreas pela ordem que mais trabalha com estes alunos. a) Interação Social b) Autonomia pessoal c) Controle do comportamento d) Comunicação e) Linguagem f) Cognição g) Motricidade global (fina e grossa) h) Perceção i) Coordenação Visuo-motora j) Matemática funcional k) Língua Portuguesa funcional l) Outra Qual ? _________________ 5- Sente-se preparado/a para intrevenir com crianças com PEA? a) Sim b) Não 6- Que dificuldades sente ou sentiu a trabalhar com crianças portadoras de PEA. a) Falta de conhecimento b) Falta de recursos humanos e materiais c) Falta de disponibilidade devido ao número de alunos por turma 7- Que benefício pode oferecer o Ensino Estruturado – Modelo Teacch. a) Desenvolvimento das noções de vida e sociedade b) Melhoria do auto – conceito c) Desenvolvimento de valores pessoais d) Maior aproveitamento académico e) Maior autonomia para a vida III- Perspectiva dos docentes e técnicos, sobre o ensino estruturado- Modelo TEACCH, como complemento da inclusão em turmas regulares. Nas afirmações que se seguem, assinale com uma cruz (X) o que em sua opinião melhor retrata o que se passa este ano lectivo, nomeadamente sobre o trabalho colaborativo que é desenvolvido entre o professor do regular e o professor de educação especial. Concordo (C) Concordo Parcialmente ( CP ) Discordo (D) C 1- Os alunos com PEA devem estar integrados na sala de ensino regular. 2 - As necessidades sociais e emocionais dos alunos com PEA são melhor satisfeitas quando o apoio se realiza na sala Teacch 3– Os alunos com PEA devem frequentar uma Unidade de Ensino Estruturado Modelo Teacch. 4- Os alunos com PEA devem permanecer mais tempo na sala de Ensino Estruturado Modelo Teacch 5- O modelo Teacch permite um desenvolvimento mais integrado e mais equilibrado para a criança com PEA. CP D 6 – As crianças com PEA, que não tenham oportunidade de frequentar uma sala Teacch, futuramente não vão conseguir acompanhar os seus pares. 7 – Os alunos sem problemas são prejudicados quando estão numa turma onde estejam integrados alunos com PEA. 8 - É possível desenvolver metodologias diversificadas na sala de ensino regular com alunos com PEA. 9 – Os professores de Educação Especial usam métodos diferentes de ensino relativamente aos professores do ensino regular. 10 – Os professores de educação especial são mais eficazes que os professores do ensino regular no ensino de crianças com PEA. 11 - O professor da educação especial é um recurso fundamental na escola. 12 - Considera importante a presença de outros técnicos para ajudara a colmatar as dificuldades dos alunos com PEA. 13 – O ensino a alunos com PEA incita sentimentos de ansiedade e de desconforto nos professores de ensino regular. 14 – As necessidades da maioria dos alunos com PEA podem ser satisfeitas na sala de aula, sem apoio da educação especial. 15 – Cada aluno com PEA tem necessidades únicas, pelo que deve ser elaborado um programa individualizado que dê respostas a essas necessidades. 16 – Os alunos com PEA requerem mais apoio por parte do professor do que as outras crianças. 17- O ensino estruturado – Modelo Teacch prepara a criança com PEA para enfrentar a vida pós- escolar. 18- Uma Unidade de Ensino Estruturado – modelo Teacch deve encontrar-se integrada numa escola do ensino regular, para desta forma se promove a inclusão das crianças com PEA. 19- O ensino Estruturado – modelo Teacch facilita às crianças um melhor processo de aprendizagem. 20- O ensino estruturado promove nas crianças com PEA uma maior autonomia. 21- Os alunos com PEA que frequentam o ensino estruturado- modelo Teacch, revelam maior desenvolvimento cognitivo que os alunos com PEA que não frequentam a sala de ensino estruturado 22 - Considera que o Decreto-Lei n.º 3/2008 de 7 de janeiro contribui para a inclusão de crianças com PEA. 23- Considera o processo de referenciação e classificação previsto na CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde), um potencial para a inclusão dos alunos com PEA. 24 - A inclusão deve ser entendida como um direito de todos os alunos com PEA. 25 - É injusto o professor da turma prestar mais atenção aos alunos com PEA. 26 - Na sua opinião a inclusão dos alunos portadores de PEA é uma realidade nas escolas. IV- Cooperação entre professores de educação especial/técnicos e professores do ensino regular. 1- Existe interajuda entre os profissionais da Unidade de Ensino Estruturado e os profissionais que exercem no ensino regular? a) Sim b) Não 2- De que modo é estabelecida essa cooperação? a) Participação em reuniões com todos os intervenientes b) Troca de informação entre Diretor de turma, professores de Educação Especial e técnicos c) Outra, qual _______________________________________________________ 3- Tendo em conta a especificidade dos alunos com Perturbações do Espetro do Autismo, a elaboração de atividades conjunta das aulas em que os alunos participam é uma realidade entre professores do Ensino Regular e professores de Educação Especial/ Técnicos? a) Sim b) Não V- Serviços de proximidade no âmbito da promoção da inclusão de crianças e jovens com Perturbações do Espetro do Autismo. 1-Sente dificuldades na realização do seu trabalho como docente/técnico de alunos com Perturbação do Espetro do Autismo. a) Sim b) Não 1.1- Se sim, indique as suas maiores dificuldades __________________________ ________________________________________________________________ 2- De que terapias beneficiam os alunos com Perturbações do Espetro do Autismo na sua escola. a) Terapia da Fala b) Terapia Ocupacional c) Fisioterapia d) Psicologia e) Hidroterapia f) Hipoterapia g) Musicoterapia h) Outra Qual ? ________________________________ 3-Na sua opinião a realização destas terapias na escola são benéficas para os alunos? 3.1- Se sim, justifique ___________________________________________________ _____________________________________________________________________ Muito Obrigada pela sua colaboração. Anexo III – Pedido e Autorização dos Encarregados de Educação para apresentação do estudo dos educandos