http://www.ufscar.br/~clickcie/print.php?id=423 Artigos Publicado em: 19/09/2007 ENRIQUECIMENTO DE URÂNIO - DETALHANDO O ENRIQUECIMENTO Redação Click Ciência Como vimos, o enriquecimento consiste em aumentar a concentração do isótopo U235 em relação ao U238. Só para se ter uma idéia da relação não enriquecida desse isótopo na natureza, podemos dizer que em uma quantidade de 1.000 átomos de urânio natural, somente sete são de U235 e 993 são de U238, como esquematiza visualmente na figura ao lado. O isótopo U235 possui 92 prótons e 143 nêutrons no núcleo, portanto, tem a massa atômica de 235. Enquanto o isótopo U238 possui 146 nêutrons e massa atômica 238. O núcleo do isótopo U235 é físsil, isso é, ao ser bombardeado por nêutrons termalizados pode promover um máximo de reação em cadeia produzindo no rompimento outros dois elementos químicos (Kr, Ba) e outros dois a três nêutrons que servem para manter a reação em cadeia, como esquematizado na figura ao final do tetxo. O isótopo U238 só tem possibilidade de sofrer fissão por nêutrons de elevada energia cinética, chamados nêutrons rápidos. Portanto, esse isótopo pode ser utilizado como combustível nuclear em reatores do tipo “breeder”. Tais reatores utilizam reações de urânio 238 que absorve um nêutron e se transforma em plutônio 239. Teoricamente, esses reatores não necessitam enriquecimento, uma vez que o plutônio é 100% físsil, mas esses reatores utilizam metal líquido (Li, Ca) à alta temperatura, como meio moderador, o que os torna de manutenção e segurança muito complexas. Portanto, para utilizações pacíficas, comerciais e de pesquisa, emprega-se, normalmente, o isótopo U235, como base dos combustíveis nucleares, em concentrações de 3 a 20% em volume atômico. Enriquecimentos acima de 20% são potencialmente perigosos no sentido militar, podendo gerar armas nucleares. No entanto, do ponto de vista técnico, conseguem-se enriquecimentos até de 93% em isótopo U235, que já foram empregados no reator IEA-R1 do IPEN, na década de 60. Uma ultracentrífuga de enriquecimento A tecnologia de ultracentrifugação foi inicialmente desenvolvida na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e foi adotada no Brasil pelo Centro Experimental de Aramar, em Iperó, que desenvolveu um processo autônomo, em escala piloto, e passou essa tecnologia à INB, em Resende, que já está produzindo urânio enriquecido, em escala parcial para as usinas de Angra. Atualmente, menos de 10 países no mundo 1 de 3 19/10/2007 11:47 http://www.ufscar.br/~clickcie/print.php?id=423 dominam esta tecnologia, sendo o Brasil um deles. Dentre os métodos de enriquecimento de urânio, somente dois processos revelam-se eficientes para produção em escala industrial: a difusão gasosa e a ultracentrifugação. A base tecnológica de enriquecimento de urânio através de uma ultracentrífuga é a seguinte: 1. Comprime-se o gás hexafluoreto de urânio (UF6) através de membranas microporosas, associadas em série; 2. No processo de ultracentrifugação, separam-se por força centrípeta as partículas de UF6, concentrando-se o isótopo U238 em uma 235 região mais externa do cilindro e o U na região central. O termo “ultra”- centrifugação surge por se utilizarem velocidades tangenciais muito altas, em torno de 50.000 a 70.000 rpm. Esse nível de velocidade de rotação é necessário para separar os dois isótopos de forma eficiente, pois suas massas são muito próximas; e 3. a fração do gás enriquecido parcialmente passa ao próximo estágio de enriquecimento e assim sucessivamente até se atingir o enriquecimento desejado. O gás resultante que está empobrecido em U235 ainda é reutilizado, retornando aos estágios anteriores para participar da mixagem de alimentação de UF6 desses estágios precedentes. Para se descartar o gás empobrecido, o seu teor de U235 deve atingir 0,3-0,4%, quando a separação dos isótopos não se torna viável economicamente. No Brasil, a tecnologia de enriquecimento por ultracentrifuga é utilizada na Industria Nuclear Brasileira (INB). Esse processo teve início em meados de 2004 e é um dos sistemas de enriquecimento mais modernos do mundo. Esse método de enriquecimento é um dos mais competitivos no mercado também, haja vista que processos utilizados nos Estados Unidos e França empregam difusão gasosa e consomem 25 vezes mais energia do que o processo de ultracentrifugação desenvolvido no Brasil. Para se ter uma idéia, o processamento de um quilo de urânio natural até o enriquecimento de 4% (teor suficiente para utilização em reatores de potência nuclear) consome 530 kwh no sistema brasileiro, enquanto no processo francês / norte-americano o consumo de energia é da ordem de 13.250kwh. Concluindo-se, pode-se dizer que o desenvolvimento da tecnologia de ultracentrifugação de urânio foi um marco de sucesso na história tecnológica do Brasil. Do interesse inicial de se trazerem centrífugas da Alemanha no pós-guerra, quando houve forte resistência internacional, os estudos precursores no IPEN, seguido das decisões acertadas de se construir esse sistema no Brasil, a partir dos anos 80, tornou possível a auto-suficiência nacional na produção de urânio enriquecido. 2 de 3 19/10/2007 11:47 http://www.ufscar.br/~clickcie/print.php?id=423 3 de 3 19/10/2007 11:47