XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. INOVAÇÃO ORIENTADA PARA A SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA PESSOAS COM MOBILIDADE REDUZIDA Bruno Turmina Guedes (UTFPR) [email protected] Gilson Ditzel Santos (UTFPR) [email protected] Gilson Adamczuk Oliveira (UTFPR) [email protected] A presente pesquisa pretende desdobrar as necessidades de usuários em qualidades de um novo produto, por meio da geração de ideias a partir da gestão da inovação orientada para a sustentabilidade. Este produto consiste em uma tecnologia assistiva, direcionada para pessoas com mobilidades reduzidas com o objetivo de adaptar ou substituir cadeiras de rodas tradicionais. A pesquisa abrangeu dois métodos, inicialmente realizou-se uma entrevista em grupo, método qualitativo, e em seguida utilizou-se um levantamento por questionário, sendo este um método quantitativo. Apresentou-se um quadro que traz informações relevantes para o time de projeto: informações de especialistas no produto, a voz do cliente e índices de priorização dos requisitos do produto. Este quadro apresenta uma classificação em relação a inovação orientada para a sustentabilidade, observou-se que o grau de sofisticação é ainda baixo, existem atividades de inovação e o projeto está orientado para a sustentabilidade, no entanto não se observa a relação entre as duas áreas. Palavras-chave: Desdobramento da Função Qualidade, Gestão da Inovação, Inovação Orientada para a Sustentabilidade XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Inovação Orientada para a Sustentabilidade: Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva para Pessoas com Mobilidade Reduzida 1. Introdução Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008) a inovação pode ser atingida através do reposicionamento da percepção do consumidor final de um produto ou processo. Esta pode ou não estar direcionada para a sustentabilidade, neste sentido pode-se definir níveis de sofisticação desta orientação. A presente pesquisa pretende desdobrar as necessidades de usuários em qualidades de um novo produto, por meio da geração de ideias a partir da gestão da inovação orientada para a sustentabilidade. Este produto consiste em uma tecnologia assistiva, direcionada para pessoas com mobilidades reduzidas com o objetivo de adaptar ou substituir cadeiras de rodas tradicionais. O texto a seguir contém revisão de literatura relacionada aos conceitos de gestão da inovação, inovação orientada para a sustentabilidade e tecnologia assistiva. No terceiro tópico são explicitados os métodos de pesquisa, com instrumentos quantitativos e qualitativos. Os resultados e discussões são apresentados no quarto tópico, e por fim, são feitas as conclusões. 2. Revisão de Literatura Os conceitos apresentados a seguir norteiam o presente artigo. Serão abordados os conceitos ligados à gestão da inovação, bem como a definição e classificação de inovação. A revisão de literatura também contém uma abordagem em relação a tecnologia assistiva e seus desdobramentos, trazendo atributos de dependability para a mesma. 2.1. Gestão da Inovação Através do Manual de Oslo (2004) define-se a inovação tecnológica como as implantações de produtos e processos tecnologicamente novos, e também, substanciais melhorias tecnológicas 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. em produtos e processos. Os autores também afirmam que uma inovação é considerada implantada se tiver sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou usada no processo de produção (inovação de processo). Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que a inovação é movida pela habilidade de estabelecer relações, detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, no entanto, não consiste apenas na abertura de novos mercados, pode significar novas formas de servir a mercados já estabelecidos e maduros. Os autores afirmam também que a inovação pode ser atingida através do reposicionamento da percepção de um produto ou processo, mesmo que este já esteja estabelecido em um contexto de uso específico. Existem níveis de inovação, estas podem ir desde inovações incrementais, onde melhorias de componentes e versões atualizadas de componentes são renovadas, até inovações radicais, onde é transformada a forma como vemos ou usamos as coisas. Estes autores afirmam também que a inovação pode ser classificada em quatro formas, inovação de: produto, processo, posição e paradigma. A inovação de produto consiste em mudanças em produtos e serviços, já a inovação de processo resume-se às mudanças relacionadas a forma que estes são entregues. As mudanças no contexto em que os produtos e serviços são introduzidos definem a inovação de posição, e por fim, a inovação de paradigma trata das mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam as organizações. Barbieri et al. (2010) contrastam a relação entre inovação e sustentabilidade, pois devido às pressões institucionais, as organizações estão buscando a inovação com eficiência em termos econômicos, mas com responsabilidade social e ambiental. Neste sentido, Hansen (2009) afirma que as organizações possuem inicialmente pouca ou nenhuma consciência da relação entre inovação e sustentabilidade, no entanto quanto mais sofisticadas as empresas ficam em relação à sustentabilidade, elas gradualmente integram a mesma com a inovação. Proposto por Amini e Bienstock (2013), o Quadro 1 apresentado a seguir traz o grau de ações e atividades sustentáveis que uma organização pode ter. Este quadro faz conexão entre diversas áreas além da própria inovação, como estratégias de negócio, conformidade regulatória e sustentabilidade. ticad Sofis Mais o, IV ticad Sofis Men ão (I o) = os Atividades de inovação não são orientadas para a sustentabilidade. = I ticaç Sofis de Nível Quadro 1 – Inovação Orientada para a Sustentabilidade. 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. II Alguma consciência da relação entre inovação e sustentabilidade. III Atividades de inovação começam a envolver múltiplos stakeholders. Abordagem de resíduo tendendo a zero envolvendo significativos IV esforços de inovação orientada para a sustentabilidade que envolvem múltiplos stakeholders. Autor: Adaptado de Amini e Bienstock (2014). 2.2. Tecnologia Assistiva Segundo Cook e Polgar (2013) a tecnologia assistiva pode ser definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minimizar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiência. No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas – CAT (2007) define como tecnologia assistiva a área do conhecimento com característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Segundo Sandhu (2002) o conceito de design universal, que está em consonância com a tecnologia assistiva, é uma abordagem de projeto inclusiva, onde o projetista tenta evitar opções de design que excluem determinados grupos de usuários, como pessoas com mobilidade reduzida. Esse autor defende que o intuito da tecnologia é assegurar a confiabilidade ao usuário. Todavia, para Sommerville e Dewsbury (2007), pode-se desdobrar uma determinada tecnologia assistiva em grupos de atributos de dependability, os quais são: adequação à finalidade, confiabilidade, aceitabilidade e adaptabilidade. A Figura 1 traz cada conjunto e seus demais atributos. O cerne da definição é o modelo de dependability que pode ser ramificado em atributos, meios e imparidades. Os autores ainda citam que o modelo proposto 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. por eles, no qual os atributos de dependability são o objetivo primário, é bem visto pela comunidade científica. Figura 1. Atributos de Confiabilidade. Categorias Adequação à Finalidade Confiabilidade Aceitabilidade Adaptabilidade Transparência Disponibilidade e Confiança Usabilidade Configurabilidade Requisitos Segurança Aprendizibilidade Abertura Confidencialidade e Integridade Custo Visibilidade Manutenabilidade Compatibilidade Reparabilidade do Usuário Capacidade de Sobrevivência Eficiência Capacidade de Resposta Estética Fonte: Traduzido de Sommervile e Dewsbury (2007). 3. Metodologia Segundo Richardson (1989) a pesquisa quantitativa é caracterizada pela utilização da quantificação, assim, tanto na coleta de informações quanto no tratamento dessas utilizou-se ferramentas estatísticas. O autor também afirma que o método qualitativo difere do quantitativo por não empregar um instrumento estatístico como base de análise do problema, não pretendendo medir ou numerar categorias. Para Cheng et al. (1995) a técnica para se obter as informações a partir dos usuários pode ser quantitativa ou qualitativa, no entanto prefere-se a utilização de métodos qualitativos. Neste sentido, a pesquisa abrangeu os dois métodos, pois inicialmente realizou-se uma entrevista em 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. grupo, ou grupo focal (método qualitativo), e em seguida utilizou-se um levantamento por questionário, sendo este um método quantitativo. 3.1. Grupo Focal Cheng et al. (1995) o define como um grupo com discussões abertas, composto por usuários ou especialistas, estes guiados por um moderador que fornece o foco das discussões, dirigindo o grupo para os itens de interesse, aprofundando no que parece superficial e mudando o tema quando parecer exaurido. Definindo os especialistas em tecnologia assistiva como: engenheiros, médicos e fisioterapeutas, o grupo focal contou com dois engenheiros mecânicos (EM), dois engenheiros eletricistas (EE), um médico (MED), um fisioterapeuta (FTP) e um acadêmico de engenharia mecânica (AC). Os objetivos deste grupo focal concentraram-se em extrair a voz dos especialistas, convertendo suas afirmações em requisitos para o produto. O grupo focal ocorreu na sala H001A - Laboratório de Produção, nas dependências da Universidade Tecnológica Federal do Paraná / Campus Pato Branco. Foi realizado às 18h do dia 29 de outubro de 2014, com duração de aproximadamente 3 horas. Este foi conduzido pelos autores desta pesquisa e foram feitos questionamentos aos especialistas e mostrou-se exemplos construtivos para os mesmos opinarem. Realizou-se a transcrição deste grupo focal, que foi gravado em áudio gerando aproximadamente 11 páginas de transcrição. 3.2. Questionário Conforme afirma Cheng et al. (1995), o emprego de técnicas quantitativas é apropriado quando se deseja obter informações numéricas, tais como o grau de importância das necessidades, avaliação de produtos já existentes e preferência de usuários. Para Ulrich e Eppinger (2012) é essencial um sentido de relativa importância em relação as várias necessidades dos clientes, ou seja, baseando-se em questionários aplicados diretamente aos consumidores. Sendo assim, realizou-se um questionário online destinado às pessoas com 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. mobilidade reduzida dos membros inferiores usuários de cadeiras de rodas. O intuito deste é definir as condições de contorno para o modelo conceitual de um Trike. Composto de onze perguntas de múltipla escolha e quatro questões abertas, o questionário baseou-se no critério de avaliação proposto por Kano et al. (1984) a fim de identificar os atributos que provoquem reação ou satisfação dos usuários. As perguntas basearam-se nas afirmações levantadas pelos especialistas. Neste sentido, as onze primeiras questões possuíam perguntas adjacentes representando o seu oposto. Definindo a população como cadeirantes, que é o público alvo da pesquisa, o questionário contou com 43 respostas, sendo que a idade dos respondentes foi em média de 41 anos. Este questionário esteve disponível durante 4 dias, entre 8 e 12 de Abril de 2015. Questões Abertas Questões de Múltipla Escolha Quadro 2 – Perguntas realizadas no questionário. Em relação a aparência do trike, se existissem carenagens (lataria, plástico), como você se sentiria? Se o Trike tivesse regulagem de altura do guidão, como você se sentiria? Se a fixação do frontbike for em um único ponto e central, conforme mostra a figura, passasse entre as pernas do usuário, como você se sentiria? Se o Trike contasse com opcionais que o permitissem andar em vias públicas (sistemas de iluminação e sinalização), como você se sentiria? Se conforme a velocidade aumentasse, a direção ficasse mais pesada (melhorando a estabilidade do Trike), como você se sentiria? Se o trike tivesse cinto de segurança, como você se sentiria? Se o trike fosse na forma de acoplamento fixo à uma cadeira de rodas comercial, como você se sentiria? Se o trike fosse na forma de acoplamento móvel à uma cadeira de rodas comercial, como você se sentiria? Se em caso de colisão, o motor do Trike desligasse automaticamente, como você se sentiria? Se o trike tivesse duas baterias, como você se sentiria? Se a bateria tivesse autonomia para 25 km (em condições normais de uso), como você se sentiria? No seu dia-a-dia, em quais momentos um trike seria útil? Na sua opinião, qual deveria ser a velocidade máxima do trike? No seu ponto de vista, qual deve ser o peso máximo do trike? Quanto você estaria disposto a pagar em um trike? 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A fim de ser útil para o desdobramento da função qualidade (apresentado a seguir), ao final de cada pergunta utilizou-se a escala de resposta psicométrica proposta por Likert (1932). A seguir, o quadro contém as perguntas utilizadas no questionário. Quadro 3 – Escala de respostas psicométricas. Qual a importância desta questão para você? Totalmente desnecessária. () () () () () Extremamente importante. Fonte: Adaptado de Likert (1932). O questionário foi realizado no modo online através do Google Docs, sendo publicado em blog focado a pessoas com mobilidade reduzida, este também promoveu o questionário em redes sociais. Definindo a população como cadeirantes, que é o público alvo da pesquisa, o questionário contou com 43 respostas, sendo que a idade dos respondentes foi em média de 41 anos. Este questionário esteve disponível durante 4 dias, entre 8 e 12 de abril de 2015. 3.3. Desdobramento da Função Qualidade Teorizado por Akao e Mizuno (1994) o QFD (ou Desdobramento da Função Qualidade) foi criado para gerenciar o processo de gestão e desenvolvimento do produto – denominada ação gerencial do planejamento da qualidade. Neste sentido, Akao (1988) afirma que a ferramenta é utilizada para converter as necessidades do usuário em requisitos do produto. A seguir, o Quadro 4 traz um resumo das etapas para a construção da matriz QFD. Quadro 4 – Descrição das etapas para a construção da matriz QFD. Etapa Nome 1 Necessidades do Cliente 2 Requisitos do Cliente 3 4 Índices de Importância dos Descrição A partir da identificação do cliente, identifica-se suas necessidades. Para Cheng et al. (1995) a técnica para se obter as informações a partir dos clientes pode ser quantitativa ou qualitativa, no entanto prefere-se a utilização de métodos qualitativos. Desdobramento da linguagem primitiva em requisitos do cliente. Requisitos do Cliente Grau de importância das necessidades do cliente, ou seja, o peso de cada necessidade. Especificações do Produto Segundo Akao (1988), nessa etapa o interesse é em 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 5 6 7 8 9 10 Matriz das Relações Orientação dos Requisitos de Projeto Correlações entre as Especificações do Produto Avaliação Competitiva (Benchmarking) Avaliação Competitiva Técnica (Benchmarking) Avaliação Técnica estabelecer os requisitos de projeto, onde o objetivo é identificar como os requisitos dos clientes podem ser mensurados tecnicamente. Primeiro são realizadas as relações entre os requisitos do produto e os requisitos do cliente, e em seguida é realizado o cálculo da importância técnica do requisito do produto. Segundo Ohfuji (1993) esta é uma das mais importantes etapas, pois através dela que a importância atribuída pelos clientes a cada qualidade exigida é transferida às características da qualidade. Consiste em definir a orientação dos requisitos do projeto, este campo da matriz tem como objetivo estabelecer e informar a equipe de projeto se o requisito precisa ser minimizado, maximizado ou se é um padrão alvo. Na sétima etapa é feito a relação entre os requisitos de projeto, estes podem se relacionar de maneira positiva, negativa ou neutra: se determinado requisito for maximizado, outro requisito sofrerá positivamente ou negativamente com sua maximização, ou ainda, será indiferente. Durante a oitava etapa é realizada a avaliação competitiva dos clientes, ou benchmarking. Ou seja, os requisitos do cliente são comparados com referências no mercado. Nesta etapa é semelhante a oitava, o que difere é o foco das comparações, nesse momento o interesse é comparar os requisitos de projeto com o mercado. Na última etapa, o objetivo é valorar os requisitos de projeto com valores-meta. A existência de valores objetivo orienta qual deve ser o foco do time de projetos. Estas etapas constituem os passos a serem seguidos para a construção da matriz, a representação gráfica desta é representada a seguir, na Figura 2. Cheng et al. (1995) teoriza sobre como obter a voz do cliente, ou seja, primeiras etapas na construção da matriz casa da qualidade. Assim, ao utilizar a ferramenta QFD para transformar efetivamente parâmetros qualitativos em quantitativos, nem todas as necessidades dos clientes, representadas pelas qualidades exigidas possuem a mesma relevância. 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 2. Visão esquemática da matriz do QFD. 7 6 4 1 2 3 5 8 10 9 5 3.4. Critério de Kano Conforme as pesquisas de Kano et al. (1984), o autor concebeu um método que busca contribuir para a priorização das qualidades exigidas pelo cliente em uma técnica de avaliação. Esta priorização influi diretamente nos índices de importância dos requisitos dos clientes. Sendo assim, Kano et al. (1984) afirmaram que a satisfação do usuário final pode ser abruptamente aumentada adicionando-se apenas uma pequena melhoria no desempenho de um determinado atributo. Enquanto que em outros atributos, mesmo que o desempenho seja maximizado ao extremo, a satisfação do usuário não tem expressivo aumento. Esta afirmação pode ser vista no Quadro 5 mostrado a seguir. Quadro 5 – Avaliação das respostas. 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. É inaceitável. isso. conviver com mas posso Não gostaria, Indiferente. imprescindível. Isso é imprescindível. mas não é Resposta do Usuário Eu adoraria isso, Questão Disfuncional (Negativa) Eu adoraria isso, mas não é Questionável. Atrativo. Atrativo. Atrativo. Unidimensional. Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório. Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório. Reverso. Neutro. Neutro. Neutro. Obrigatório. Reverso. Reverso. Reverso. Reverso. Questionável. Questão Funcional (Positiva) imprescindível. Isso é imprescindível. Indiferente. Não gostaria, mas posso conviver com isso. É inaceitável. Fonte: Kano et al. (1984) 4. Resultados e Discussões Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que a gestão da inovação é o agente capaz de manter as organizações competitivas, e as ferramentas de qualidade, como o desdobramento da função qualidade, são o artifício necessário para traduzir os anseios e necessidades dos usuários em qualidades que o produto apresentará, pode-se estabelecer uma dinâmica de progresso contínuo das organizações. Já para Sommerville e Dewsbury (2014) é imprescindível que além de saber gerir a inovação, as organizações devem introduzir as vertentes da sustentabilidade em suas estratégias. Assim, tanto no quesito social, quanto ambiental e econômico, a sustentabilidade gerida juntamente 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. com os conceitos de gestão da inovação são os agentes necessários para as organizações se posicionarem no mercado. Sendo assim, o quadro a seguir sintetiza as informações coletadas por meio do grupo focal e do questionário. Primeiramente, as colunas do quadro são divididas conforme a classificação de atributos que uma tecnologia assistiva deve possuir. Estes atributos de dependability se traduzem em adequação à finalidade, confiabilidade, aceitabilidade e adaptabilidade. Os excertos retirados da transcrição do grupo focal com os especialistas foram classificados nestes atributos conforme Figura 1. Os excertos retirados da transcrição do grupo focal com os especialistas foram classificados também em termos de inovação e sustentabilidade, esta classificação encontra-se ao lado esquerdo de cada excerto. A partir do questionário realizado com os usuários, mensurou-se as afirmações dos especialistas, através do critério proposto por Kano (1984). Outro aspecto relevante é a priorização das afirmações através da escala proposta por Likert (1932). 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Kano: Atrativo Prioridade: 3 Inovação Sustentabilidade Kano: N/D Prioridade: N/D Inovação Kano: Neutro Prioridade: 3 Inovação e Sust. Inovação Inovação e Sustentabilidade Sustentabilidade Inovação e Sustentabilidade Inovação Inovação "Então esso produto pode ter um outro perfil, um outro segmento, que é o idoso. Até no futuro, não precisa ser nem doente, é... Mas como tem uma certa dificuldade e tal, pela idade," (MED) "Esse acoplamento ele tem que ser meio instantâneo, não é minutos, eu te digo segundos," (MED) Kano: Atrativo Prioridade: 4 Quadro 6 – Classificação dos excertos. Através deste conjunto de informações, o Quadro 6 sintetiza várias informações apresentadas na matriz de desdobramento da função qualidade (QFD). Cada excerto apresentado no quadro contém a orientação do estudo (inovação e sustentabilidade), além disso, é possível captar o interesse do consumidor final em relação aos atributos propostos por Sommerville e Dewsbury (2007) através da priorização proposta por Kano (1984). 5. Conclusão Abordou-se nesta pesquisa os conceitos ligados à gestão da inovação, bem como a definição e classificação de inovação. Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008) a inovação é movida pela habilidade de estabelecer relações, detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, no entanto, esta não consiste apenas na abertura de novos mercados, pode significar novas formas de servir a mercados já estabelecidos e maduros. 13 Visibilidade "Teria que talvez ser visto, mas uma fixação de cinto," (FTP) Prioridade: 4 Capacidade de Resposta Kano: Prioridade: 3 Questionável Kano: Obrigatório "Aí você aproveitaria a mesma cadeira, só acoplaria num sistema diretamente na cadeira. É... aí poderia ficar fixo já, direto. Não precisa ficar montando e desmontando." (EM) Configurabilidade "Ter um dispositivo, tipo do... Do guidão, se quebrar o negócio desliga o motor, conforme a velocidade, aí ele está seguro e se quebrar e desliga o motor," (MED) "Se for um adolescente, que ela possa acompanhá-lo, também hoje está sendo visto por causa do custo," (FTP) Usabilidade Inovação "Ele teria dificuldade, por causa da parte, não sei, como chamaria o meio ali... Aquele... Aquela parte preta ali. É! Um chassi. " (FTP) Abertura "Por mais que ela não seja vestível, me parece que o usuário vai querer alguma coisa nesse sentido. Que não seja um “trambolho” né," (EE) Kano: Neutro Prioridade: 2 Prioridade: 4 Capac. de Sobrev. Prioridade: 5 Transparência Kano: N/D Adaptabilidade Kano: Atrativo Prioridade: 3 Segurança Kano: Neutro Prioridade: 4 "O acoplamento alguns vão ter praticidade e outros não, por que aí você limita o público também né, se tiver essa dependência de quanto tempo de... Não é que praticamente os que usam 8, 9 ou 10 horas por dia uma cadeira," (FTP) Kano: Obrigatório Requisitos "De distância possível a ser percorrida e velocidade também que ele pode ir nessa mesma distância, né. De usabilidade eu acho que teria diversas formas de se implementar, tanto de duas rodas, ou de quadro rodas." (EE) Aceitabilidade Estética Kano: Atrativo Prioridade: 1 "Se for em vias públicas, acho que a velocidade não pode ser grande, essas bicicletas que tem aqui vai acho que a 30 km/h, ou 20 km/h, isso não dá para andar na calçada," (MED) Confidenc. e Integridade "Se for a questão de velocidade baixa, a autonomia vai lá em cima," (EM) Confiabilidade Requisitos Sustentabilidade Adequação à Finalidade XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A revisão de literatura trouxe uma abordagem em relação a tecnologia assistiva e seus desdobramentos, trazendo atributos de confiabilidade para a mesma. Segundo Cook e Polgar (2013) ela pode ser definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minimizar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiência. Um dos métodos utilizados para a aquisição de dados foi o grupo focal que ocorreu na sala H001A nas dependências da Universidade Tecnológica Federal do Paraná / Campus Pato Branco. Este foi realizado às 18h do dia 29 de outubro de 2014, com duração de aproximadamente 3 horas. Sendo que o autor deste artigo realizou a transcrição deste grupo focal, que foi gravado em áudio gerando aproximadamente 11 páginas de transcrição. O segundo método utilizado foi o questionário realizado de modo online através do Google Docs, sendo publicado em blog focado a pessoas com mobilidade reduzida, este também promoveu o questionário em redes sociais. A partir destes dados, e com base nas definições do Desdobramento da Função Qualidade (QFD), e na perspectiva fornecida pela gestão da inovação, gerou-se o Quadro 6. Este sintetiza as informações oriundas de diferentes métodos de criação de um produto: QFD e gestão da inovação. Sendo assim, o Quadro 6 traz informações relevantes para o time de projeto, como: informações oriundas de especialistas no produto (médicos, engenheiros e fisioterapeutas), a voz do cliente (através do critério proposto por Kano) e índices de priorização dos requisitos do produto (obtidos através da escala de Likert presente no questionário). Por fim, o quadro apresenta uma classificação em relação a inovação orientada para a sustentabilidade. Como observado no Quadro apresentado por Amini e Bienstock (2014), observa-se que o grau de sofisticação de inovação orientado para a sustentabilidade é ainda baixo, ou seja, existem atividades de inovação e o projeto está orientado para a sustentabilidade, no entanto não se observa a relação entre as duas áreas. Todavia, em relação aos atributos apresentados para um bom projeto de tecnologia assistiva, apresentado por Sommerville e Dewsbury (2014), a maioria dos atributos possuem relação com os levantamentos apresentados pelos especialistas e avaliados pelo consumidor final. 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Os métodos apresentados neste trabalho ainda necessitam de aprofundamento, pois existiram limitações: idealmente, entre os especialistas sugere a introdução de usuários de cadeiras de rodas, a fim de se obter um grupo focal mais consistente. O questionário proposto aos cadeirantes abrangeu de modo geral todas as formas de propulsão das cadeiras: manuais e elétricas, sugere-se em trabalhos futuros clínicas mais específicas: um grupo focal com usuários de cadeiras de rodas e um questionário com um maior número de stakeholders, restringindo a usuários de cadeiras de rodas elétricas e com grau de instrução maior. REFERÊNCIAS AMINI, Mehdi; BIENSTOCK, Carol C. Corporate Sustainability: An Integrative Definition and Framework to Evaluate Corporate Practice and Guide Academic Research. Journal of Cleaner Production, 2014. AKAO, Yoji. Quality Function Deployment: Integrating Customer Requirements Into Product Design. Cambridge: Taylor & Francis, 2004. AKAO, Yoki; MIZUNO, Shiregu. QFD: The Customer Driven Approach to Quality Planning and Deployment. Cambridge: Taylor & Francis, 1994. BARBIERI, José Carlos et al. Inovação e Sustentabilidade: Novos Modelos e Proposições. FGV. Revista de Administração de Empresas, 2010. 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