XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. MODELO PARA APLICAÇÃO DO QFD NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS MULTIFUNCIONAIS SUZANA REGINA MORO (UTFPR) [email protected] Marcos William Kaspchak Machado (UTFPR) [email protected] No contexto globalizado do mundo atual, atender as exigências dos clientes oferecendo produtos inovadores e soluções diferenciadas tornou-se uma exigência básica para as empresas manterem-se competitivas no mercado. Neste contexto, considerando que o Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) é uma atividade subjetiva e que requer a integração de diversas informações para que o produto atenda ao máximo as necessidades dos clientes, a utilização de metodologias sistemáticas para o PDP torna-se cada vez uma prerrogativa. O QFD - Desdobramento da função Qualidade é uma metodologia que auxilia na tradução das necessidades dos clientes em especificações-meta para os requisitos de produto. Neste artigo será proposto um modelo para aplicação do QFD no desenvolvimento de produtos multifuncionais, seguido de uma aplicação prática do mesmo no desenvolvimento de um móvel multifuncional. Os resultados da aplicação prática indicam que o modelo proposto atende às necessidades de desenvolvimento ágil de produtos e adapta-se com facilidade para produtos com mais funções. Palavras-chave: Desenvolvimento de produtos, QFD, Matriz da Qualidade, produtos multifuncionais XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução A organização do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) é extremamente difícil, várias pessoas, de diversos departamentos, estão envolvidas na criação de um único produto, cada qual com suas próprias agendas (CRAWFORD e DI BENEDETTO, 2010). O sucesso de um produto ou serviço depende muito de como ele atende às necessidades e expectativas dos usuários, assim cada vez mais as empresas se esforçam para obtenção das informações necessárias para determinar o que o cliente realmente quer (BOUCHEREAU; ROWLANDS, 2000). Desta forma, o QFD (Quality Function Deployment) é uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão em relação à tradução das necessidades dos clientes em requisitos necessários para os produtos a serem desenvolvidos. O QFD é uma ferramenta de gestão que fornece um processo conjuntivo visual para ajudar as equipes a concentrar-se nas necessidades dos clientes em todo o ciclo de desenvolvimento de um produto ou processo (BOUCHEREAU; ROWLANDS, 2000). O QFD já é um método amplamente utilizado nas etapas iniciais do desenvolvimento de produtos. O objetivo deste artigo é a demonstração da utilização do QFD para o desenvolvimento de produtos multifuncionais, uma realidade cada vez mais presente no contexto atual. Na sequencia, no item 2 serão definidos o Processo de Desenvolvimento de Produtos, os conceitos do método QFD e de produtos multifuncionais. No item 3 será detalhado o método QFD direcionado a produtos multifuncionais, com suas particularidades. O item 4 apresentará uma aplicação do método QFD para produtos multifuncionais. Com o item 5 finaliza-se o artigo, com as conclusões acerca da aplicação do método. 2. Revisão Teórica 2.1. O Processo de Desenvolvimento de Produtos Segundo Back et al.(2008), “entende-se desenvolvimento de produtos como todo o processo de transformação de informações necessárias para a identificação da demanda, a produção e o uso do produto.” Para cumprir a missão de favorecer a competitividade da empresa, o PDP deve ser eficaz e eficiente (ROZENFELD et al., 2006). Atualmente, desenvolver projetos complexos é 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. praticamente inconcebível sem a adoção de procedimentos específicos ou de uma metodologia (BACK et al., 2008). As metodologias prescritivas para o desenvolvimento de produtos surgiram entre os anos de 1960 e 1980, destacando-se as contribuições de autores como Asimov, Back , Coryell, Pahl e Beitz e Woodson (BACK et al., 2008). A obra de Pahl e Beitz atualmente é a mais referenciada das metodologias prescritivas, foi publicada primeiramente em 1977, como resultado dos esforços de pesquisa sobre princípios e metodologias de projeto de produtos da Alemanha no início da década de 1970 (BACK et al., 2008). Segundo a metodologia de Pahl et al. (1988), o processo de desenvolvimento de produtos é dividido em quatro fases principais: planejamento do produto, projeto conceitual, o projeto preliminar e o projeto detalhado. Figura 1 - Fases do Processo de Desenvolvimento de Produtos Tarefa Planejamento do Produto Projeto Conceitual Projeto Preliminar Projeto Detalhado Solução Fonte: Adaptado de Pahl et al. (1988) Na fase de planejamento do produto, a partir do estudo do problema elabora-se a lista de requisitos, sendo distinguidos em obrigatórios e desejáveis, sendo que os obrigatórios devem ser atendidos em quaisquer circunstâncias e os desejáveis são considerados em função principalmente de critérios econômicos (PAHL et al., 1988). Este é o ponto de partida do PDP e um ponto chave para o sucesso dos novos produtos desenvolvidos. Segundo Back et al. (2008), existem vários métodos para a busca das necessidades dos usuários, dentre eles: entrevistas estruturadas com usuários, parcerias, contratação de 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. consultores e especialistas, sessões de brainstorming, experiências pessoais e da empresa, pesquisa em material publicado, previsão tecnológica, análise de mercado e benchmarking da concorrência, prototipagem e realidade virtual e utilização do método de desdobramento da função qualidade (QFD – Quality Function Deployment). Neste artigo será analisado o método QFD por se tratar de um método estruturado que visa auxiliar na tomada de decisão para elaboração dos requisitos dos produtos as serem desenvolvidos. 2.2. O método QFD O QFD (Quality Function Deployment) fundamenta-se na preocupação de que os produtos precisam ser projetados refletindo os desejos, expectativas e gostos dos usuários (BACK et al., 2008). Este método foi desenvolvido nos anos 1970 no Japão e propagou-se pelo mundo no início dos anos 1990, possibilitando o estabelecimento das relações entre as necessidades dos clientes e os requisitos de projeto, a definição das especificações meta, a verificação dos conflitos entre os requisitos de projeto e as dificuldades técnicas de cada requisito (ROZENFELD et al., 2006). O método é também conhecido com matriz da Qualidade, e é uma sistematização das qualidades exigidas pelos clientes que expressa a relação entre as funções e as características da qualidade (AKAO et al., 1996). Tem como propósitos gerais: a utilização de métodos sistemáticos para o desenvolvimento de produtos, a solução de problemas através de atividades em grupo, a execução de atividades em grupo eficientes e a capacitação do grupo (BACK et al., 2008). O método faz a tradução das necessidades dos clientes em características do produto ou serviço, e ainda objetiva à garantia da qualidade (BACK et al., 2008; CHENG; MELO FILHO, 2007). O processo QFD envolve quatro fases, conforme a Figura 2. O processo de QFD completo se estende por todo o ciclo de vida de desenvolvimento do produto. As duas primeiras etapas ocorrem antes da aplicação da matriz QFD propriamente e cada empresa utiliza as formas que julga mais adequada para a identificação das necessidades dos clientes e sua transformação em requisitos. Figura 2 – Fases do QFD 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Levantar as necessidades dos clientes Transformar as necessidades dos clientes em requisitos Analisar os requisitos e definir a qualidade planejada Definir e avaliar as características da qualidade Fonte: Adaptado de Rozenfeld et al. (2006) O ponto mais importante na garantia da qualidade é a clara definição das características que devem ser garantidas (AKAO et al., 1996). O QFD é uma técnica que permite traduzir as necessidades dos clientes em medidas práticas e permite que as empresas tornem-se pró-ativa na solução de problemas de qualidade, em vez de tomar uma posição reativa, agindo sobre as reclamações dos clientes (BÜYÜKÖZKAN, CIFCI, 2013). As informações levantadas com os usuários geralmente encontram-se em uma linguagem natural e bastante diversa, variando de acordo com os diversos perfis de usuários, formações, culturas e interesses, assim o QFD auxilia na transformação dessas necessidades em requisitos dos clientes (BACK et al., 2008). O QFD é composto de processos de tomada de decisão em grupo, assim, na prática, a determinação dos pesos dos requisitos do cliente é um processo de tomada de decisão em grupo (BÜYÜKÖZKAN, CIFCI, 2013). Uma das atividades do processo de QFD consiste no estabelecimento das prioridades internas utilizando o critério de Kano. Através do modelo de Kano, classificam-se os requisitos e assim identificam-se os eventos “críticos”, ou seja, o instante no qual o usuário de um produto ou serviço forma uma opinião sobre a qualidade ou o seu valor (BACK et al,2008; ROZENFELD et al. 2006). A Figura 3 ilustra o diagrama de Kano, sendo: E= Excitante: Características que surpreendem de maneira positiva o consumidor; L= Linear: Quanto maior o desempenho do produto, maior a satisfação dos clientes e O= Óbvia: São aquelas características que o consumidor entende que deve encontrar no seu produto e que o cliente não nota quando seu desempenho é adequado, porém, provoca insatisfação quando seu desempenho não é suficiente. Figura 3 – Diagrama do Modelo de Kano 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Back et al. (2008) 2.3. O Desenvolvimento de produtos multifuncionais O valor agregado para os produtos é um conceito-chave para a empresa ter em mente quando entra em novos mercados, se a empresa não oferecer valor suficiente em relação aos custos de aquisição e utilização, o produto estará condenado ao fracasso (CRAWFORD e DI BENEDETTO, 2010). A introdução de novos produtos que reacondicionam funcionalidades existentes em um novo formato é prática frequente em mercados de alta tecnologia. A tendência popular em direção a essa convergência tecnológica torna os produtos de funcionalidade única uma exceção. Essa tendência atravessa fronteiras de categoria e tem cada vez mais estimulado os produtos de consumo tornarem-se multifuncionais (SÄÄKSJÄRVI; SAMIEE, 2011). A natureza multifuncional de um número crescente de novos produtos exige o uso de recursos mentais para avaliar as novas ofertas, visto que a compreensão da inovação multifuncional é mais exigente do que a funcionalidade única dos produtos. Uma inovação multifuncional ajuda os consumidores a atingir múltiplos objetivos se eles percebem a funcionalidade dual do produto (SÄÄKSJÄRVI; SAMIEE, 2011). As empresas fabricantes de móveis vêm modernizando-se e implantando setores de desenvolvimento de produtos, visando buscar informações das necessidades dos clientes e novos nichos de mercado. Com isso, estão tornando-se capacitadas para oferecer produtos com diferenciais, além do preço competitivo (MENDES, 2007). Produtos modulares e multifuncionais de mobiliário são uma realidade cada vez mais presente em grandes centros urbanos, pois são adaptados à realidade de moradias cada vez menores e 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. das tendências de multifuncionalidades dos produtos para atender as transformações da vida no dia-dia. Desta forma, representam um potencial para o desenvolvimento de produtos de mobiliário com diferenciais competitivos. 3. Método QFD para produtos multifuncionais O ponto de partida de qualquer projeto de QFD são as necessidades dos clientes, que são os dados não mensuráveis, tais como “durabilidade, aparência, sentimento, etc.”. Estes requisitos são então convertidos em especificações técnicas, ou características de engenharia, que são dados mensuráveis como: “temperatura do forno, diâmetro da peça”. A Figura 4 ilustra o formato básico da matriz da casa da qualidade e as etapas para a construção da mesma, no modelo simplificado, adaptado para produtos multifuncionais. Figura 4 – Matriz do QFD em 6 etapas Fonte: Elaborado pelos autores com base em Rozenfeld et al. (2006) As características de engenharia (requisitos de cliente) mais importantes, que satisfazem a maioria das demandas dos clientes definidos pela pontuação na parte inferior da casa, vão formar a entrada para a fase seguinte no processo de QFD (BOUCHEREAU; ROWLANDS, 2000). 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. De acordo com os campos e a sequência para preenchimento dos campos da matriz do QFD apresentada na Figura 4, foi elaborado um fluxograma detalhado dos passos, visando facilitar a aplicação do QFD para produtos multifuncionais, a sequência de preenchimento e a localização de cada uma das informações na casa da qualidade foi feita conforme apresentado na Figura 5. Para os cálculos será utilizado o software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated). Figura 5 - Fluxograma do processo do QFD para produtos multifuncionais 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1 5 Determinar os requisitos dos clientes Calcular o índice de melhoria Identificação das Prioridades dos Clientes Calcular os pesos absoluto e relativos 2 3 Comparar e analisar o desempenho com as empresas concorrentes (Colunas Benchmarking) Estabelecer as prioridades internas utilizando o critério de Kano (coluna Kano interno) 6 Definir os requisitos do produto Analisar, classif icar e hierarquizar os requisitos dos produtos Preencher o direcionador de melhoria Calcular o grau de importância geral (Coluna Geral, variando de 1 a 5) Def inir a qualidade planejada com base no Benchmarking e na importância geral Correlacionar os requisitos dos produtos (Telhado da casa) 4 Relacionar os requisitos dos clientes com os requisitos dos produtos (9=f orte, 3=moderado, 1= f raco) Calcular o grau de importância dos requisitos Calcular o peso relativo Ef etuar análise comparativa das características da qualidade com as dos concorrentes Def inir a qualidade projetada Def inir o grau de dif iculdade técnica Fonte: Elaborado pelos autores com base em Rozenfeld et al. (2006) Para adaptar o método QFD para um produto multifuncional, foram analisadas algumas particularidades do produto em questão e assim feitas algumas observações que devem ser consideradas, conforme abaixo listadas: a) Determinação dos requisitos dos clientes: Como se trata de um produto multifuncional, o mesmo pode apresentar requisitos que sejam exigidos pelos clientes em uma das suas funcionalidades, duas ou se for o caso em todas. Desta forma, na 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. determinação dos requisitos dos clientes deve ser especificado para qual funcionalidade o requisito atenderá; b) Identificação da prioridade dos clientes: Aqui se deve considerar que os requisitos dos clientes devem atender a multifuncionalidade do produto, assim deve-se ter cautela, pois um requisito de cliente pode ter impacto negativo em outro requisito; c) Análise do desempenho da empresa e comparação com os concorrentes: Neste caso deve-se inicialmente verificar se existe um produto no mercado que atende as mesmas multifuncionalidades do produto em questão. Caso não exista, pode optar-se por analisar um concorrente em cada uma das funções que o produto desempenhará; d) Na determinação dos requisitos do produto deve-se organizar os requisitos de acordo com a configuração de montagem que o produto ocupa durante a maior parte do tempo; e) Preenchimento do direcionador de melhoria: Nesta etapa deve-se tomar cuidado, pois cada um dos requisitos de produto podem ter direcionadores diferentes de acordo com a função que o produto estará desempenhando; f) Relacionar os requisitos dos clientes com os requisitos dos produtos e correlacionar os requisitos dos produtos: tomar cuidado, pois alguns requisitos podem não ter relação numa função que o produto desempenha, mas podem ter em outra. Desta forma, para facilitar o entendimento da aplicação do QFD para o desenvolvimento de produtos multifuncionais, na sequência será apresentado um exemplo de aplicação do método no desenvolvimento de um produto de mobiliário multifuncional. 4. Aplicação do QFD para desenvolvimento de um produto multifuncional O método proposto será aplicado para o desenvolvimento de um mobiliário multifuncional, o produto em questão desempenha o papel de um rack/ aparador e ainda possui função de suporte para colchão de solteiro, conforme a Figura 6, que demonstra o produto. 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Figura 6 – Desenho do produto a ser desenvolvido Fonte: Elaborado pelos autores Desta forma, seguiram-se as etapas descritas na Figura 5 e obtiveram-se os seguintes resultados: 1) Requisitos dos clientes e prioridades dos requisitos dos clientes: 1.1) Determinação dos requisitos dos clientes: o produto em questão apresenta duas funções, sendo elas: a) Rack/ suporte; b) Suporte colchão de solteiro. Assim, foram determinados os seguintes requisitos dos clientes, divididos em 3 categorias, sendo que após cada requisito há a indicação de qual função o requisito se enquadra, conforme o Quadro 1. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Quadro 1 – Requisitos dos clientes Fonte: Elaborado pelos autores 1.2) Identificação da prioridade dos clientes: 10 potenciais clientes foram perguntados sobre a importância dos requisitos listados, e assim, foi usada a média dos valores obtidos. A importância foi verificada utizando escala Likert variando de 1 a 5, sendo 1= não importante e 5= muito importante, os requisitos dos clientes foram valorados conforme o Quadro 2, e conforme aparecem na Figura 7, no software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated) na coluna “Importance of the WHATs”. Quadro 2 – Prioridades dos clientes Fonte: Elaborado pelos autores 12 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 2. Análise Competitiva: 2.1) Análise do desempenho da empresa e comparação com os concorrentes (Colunas Benchmarking): Por tratar-se de um produto multifuncional, foi analisado um concorrente de cada uma das funções do produto, visto que não existe no mercado um produto que cumpra as duas funções propostas para o produto, sendo esta a inovação do produto em questão. Sendo então 1 o concorrente do produto na função a e 2 o concorrente do produto na função b. A empresa ainda não possui produto semelhante a este no mercado,com as duas funções, assim foi feita a avaliação atual do produto da empresa mais próximo ao que está sendo desenvolvido. A escala utilizada foi 1= Péssimo, 2=Ruim, 3=Médio, 4= Bom e 5=Ótimo, obtendo-se o Quadro 3. Quadro 3 – Benchmarking Competitivo do produto Fonte: Elaborado pelos autores 2.2) Estabelecimento das prioridades internas utilizando o critério de Kano: sendo: E= Excitante, L= Linear e O= Óbvia, obteve-se o Quadro 4. Esses dados não são lançados no software, apenas servirão para os próximos passos. Quadro 4 – Critérios de Kano para os requisitos dos clientes Requisitos dos clientes Kano Fácil de carregar (a;b) E= Excitante Fácil de montar/desmontar (a;b) E= Excitante Ser adáptavel (a;b) O= Óbvia Design Moderno (a;b) L= Linear Diferentes cores (a;b) L= Linear 13 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Ser durável (a;b) L= Linear Ser resistente (a;b) L= Linear Fácil de limpar (a;b) L= Linear Fonte: Elaborado pelos autores 2.3) Cálculo do grau de importância geral: De acordo com as prioridades dos clientes e os critérios de Kano, definiu-se a importância geral, usando escala Likert variando de 1 a 5, sendo 1= não importante e 5= muito importante, obtendo-se o Quadro 5. O cuidado aqui deve ser tomado com os requisitos óbvios, que mesmo os clientes não assumindo como importantes, assumem importância geral alta. Os requisitos excitantes também podem aumentar a importância geral dos requisitos. Os dados desta etapa não são lançados no software, apenas servirão para a etapa seguinte. Quadro 5 – Importância Geral dos requisitos dos clientes Requisitos dos clientes Prioridade dos clientes Kano Importância Geral Fácil de carregar 3 E= Excitante 3 Fácil de montar/desmontar 2 E= Excitante 3 Ser adáptavel 5 O= Óbvia 5 Design Moderno 4 L= Linear 3 Diferentes cores 3 L= Linear 3 Ser durável 3 L= Linear 2 Ser resistente 3 L= Linear 2 Fácil de limpar 4 L= Linear 3 Fonte: Elaborado pelos autores 2.4) Definição da qualidade planejada com base no Benchmarking (passo 3.1) e na Importância geral (passo 3.3), conforme apresentada no Quadro 6. Na Figura 7, os dados encontram-se na coluna “Our Future Product”. Quadro 6 – Qualidade planejada dos requisitos dos clientes Requisitos dos clientes Concorrente Concorrente Importância A B Geral Qualidade Planejada Fácil de carregar 3 2 3 4 Fácil de montar/desmontar 2 3 3 4 Ser adáptavel 1 1 5 5 14 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Design Moderno 4 3 3 4 Diferentes cores 3 3 3 3 Ser durável 5 5 2 3 Ser resistente 4 5 2 3 Fácil de limpar 4 3 3 3 Fonte: Elaborado pelos autores 2.5) Cálculo do índice de melhoria: na aplicação do método neste estudo de caso, os cálculos foram feitos utilizando o software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated), assim os resultados aparecem na Figura 7 na coluna ”Improvement Factor”. 2.6) Cálculo dos pesos absoluto: os cálculos foram efetuados usando o software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated), assim os dados encontram-se na Figura 7 nas colunas “Overall Importance” e “Percent Importance”. 3) Definição dos requisitos do produto: 3.1) Foram definidos os requisitos para o produto exibidos no Quadro 7, de acordo com os componentes do produto apresentados na Figura 6. Quadro 7 – Requisitos do produto 15 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Elaborado pelos autores 3.2) Análise, classificação e hierarquização dos requisitos dos produtos: Os requisitos acima listados no Quadro 7 foram classificados conforme apresentados no Quadro 8. Quadro 8 – Classificação dos requisitos do produto Classificação Requisitos do produto Peso da base Distância da base ao solo Base Espessura da base Pintura da base Resistência da base Peso do tampo Tamanho do tampo Tampo Espessura do tampo Pintura do tampo Resistência do tampo 16 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fixação Espessura dos parafusos de fixação Fonte: Elaborado pelos autores 3.3) Preenchimento do direcionador de melhoria: conforme apresentado na linha “Direction of Improvement”, de acordo com a legenda superior no lado esquerdo da Figura 7. 4) Relacionar os requisitos dos clientes com os requisitos dos produtos, sendo: 9=forte; 3=moderado; 1= fraco, conforme a legenda inferior no lado direito e os resultados no centro da Figura 7. 5) Correlacionar os requisitos dos produtos entre si: esta etapa consiste no preenchimento do telhado da casa da matriz QFD, de acordo com a legenda superior no lado direito da Figura 7. 6) Importância dos requisitos. 6.1) Cálculo do grau de importância dos requisitos: calculado através do software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated), conforme apresentado na Figura 7, na linha “Importance of the HOWs”. 6.2) Cálculo do peso relativo: também foi feito através do software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated), conforme apresentado na Figura 7, na linha “Percent Importance of the HOWs”. Sendo os requisitos de produtos mais importantes: “Pintura do tampo” (12%), seguido de “Espessura dos Parafusos de Fixação” (10,8%) e “Tamanho do tampo” (10,6%). 6.3) Análise comparativa das características da qualidade com as dos concorrentes: Feitas ass medições, preencheu-se o Quadro 9. Os dados foram lançados no software, conforme aparecem na Figura 7, nas linhas “Competitor 1” e “Competitor 2”. Requisitos dos produtos Peso da base Distância da base ao solo Espessura da base Pintura da base Peso do tampo Tamanho do tampo Espessura do tampo Pintura do tampo Espessura dos parafusos de fixação Resistência do tampo Resistência da base Quadro 9 – Análise comparativa das características da qualidade Unidade Kg cm mm mm cm2 mm mm mm Kgf/cm2 Kgf/cm2 Kg Concorrente A 3 0 12 2 5000 15 2 6 5.6 6.1 2 17 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 6 Concorrente B 10 18 1 5000 15 1 5 5.6 5.6 2 Fonte: Elaborado pelos autores 6.4) Definir a qualidade projetada: para cada um dos requisitos de produto foi definida a qualidade projetada, conforme apresentada na Figura 7 na linha “Targets for Our Future Product”. A qualidade projetada aparece também no Quadro 10. 6.5) Definir o grau de dificuldade técnica: para a qualidade projetada para cada um dos requisitos foi definida a dificuldade técnica, conforme o Quadro 10. Requisitos dos produtos Peso da base Distância da base ao solo Espessura da base Pintura da base Peso do tampo Tamanho do tampo Espessura do tampo Pintura do tampo Espessura dos parafusos de fixação Resistência do tampo Resistência da base Quadro 10 – Qualidade projetada e dificuldade técnica para os requisitos de produto Unidade Kg cm mm mm cm2 mm mm mm Kgf/cm2 Kgf/cm2 Kg 4 6 9 1 4800 15 2 6 6.6 5.6 2 2 1 2 2 3 4 3 2 5.6 4 2 Qualidade projetada Dificuldade técnica Fonte: Elaborado pelos autores Assim, na Figura 7 é apresentada a matriz QFD do produto a ser desenvolvido, conforme obtida no software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated). Figura 7 – Matriz QFD do produto 18 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Fonte: Elaborado pelos autores utilizando o software QFD Analysis and HoQ Tool® (International TechneGroup Incorporated) 5. Conclusões Produtos multifuncionais são uma realidade cada vez mais presente na vida cotidiana das pessoas, e assim consequentemente um número cada vez maior de empresas, especialmente as 19 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. de menor porte, buscam desenvolver produtos que atendam essas necessidades de forma ágil. Podemos perceber que o modelo proposto simplifica e descreve sucintamente as atividades necessárias e com a utilização do software os dados são rapidamente obtidos. Com a aplicação do QFD temos a ordenação dos requisitos dos produtos mais importantes para atingir os objetivos desejados no desenvolvimento de produtos e a qualidade planejada. No desenvolvimento do móvel multifuncional deste estudo, obtivemos que o requisito mais importante é a pintura do tampo, pois este interferirá em vários dos requisitos de clientes, porém é um requisito relativamente fácil de atingir a qualidade planejada, pois a dificuldade técnica é 2. O modelo para aplicação do QFD em produtos multifuncionais pode contribuir e facilitar a vida dos desenvolvedores de produtos, principalmente os com menor experiência. O modelo pode ser testado em produtos com mais de duas funcionalidades, e ainda que os requisitos de cliente não sejam aplicáveis às diversas funções do produto. REFERÊNCIAS AKAO, Yoji et al. Introdução ao desdobramento da qualidade. Belo Horizonte, MG: Fundação Christiano Ottoni, 1996. BACK, Nelson et al. 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