COMPETÊNCIAS E SABERES EM ENFERMAGEM
“Faz aquilo em que acreditas e acredita naquilo que fazes. Tudo o resto é perda
de energia e de tempo.”
Nisargadatta
Atualmente um dos desafios mais importantes que se coloca à União Europeia é o
desafio da qualidade, pois, usufruir de cuidados de Saúde com qualidade é um direito
que assiste a todos os cidadãos. Se por um lado, não podemos modificar a sociedade
atual, (com a mobilidade das pessoas, mudanças rápidas e imprevisíveis), temos a
responsabilidade e devemos criar condições de crescimento, com referências e
competências para melhor compreendermos o mundo em que vivemos e trabalhamos.
A educação /formação assume assim, uma importância fundamental pois permite
responder positivamente não só aos desafios colocados, Mas também á complexidade
de problemas que têm que enfrentar as pessoas e as sociedades.
Nós enfermeiros, somos agentes ativos e participativos na sociedade, e não podemos
esquecer que, precisamos adquirir ao longo da vida, os saberes necessários para
produzir a nossa própria competência, com qualificações válidas no espaço social e
profissional.
É necessário mudar o paradigma da educação, deixando esta de ser apenas
institucional, para valorizar o individuo como ser único, como um todo que se
desenvolve, portador de vivências e experiências, ou seja, personalizar o processo
educativo ao longo da vida substituindo os conteúdos por competências.
Relacionar o conceito de Cuidados de Enfermagem e Competência profissional, levanos a pensar num processo dinâmico e interativo de mobilização de saberes, que
culminam num agir profissional assertivo.
A prestação de Cuidados de Enfermagem de excelência é um desafio importante para
qualquer Enfermeiro e o alcance desta excelência tem muito a ver com a arte de saber
cuidar, no entanto, todos sabemos, que o exercício de cuidar um ser humano, nem
sempre é tarefa fácil nem arbitrária, pois exige a coordenação de diversos fatores
pessoais, profissionais e institucionais.
Cuidar um ser humano é dignifica-lo, ajudá-lo a ser pessoa e a desenvolver as suas
capacidades ou possibilidades existenciais. Implica reconhece-lo como um sujeito de
deveres e direitos. Com a finalidade de proporcionar Cuidados de Enfermagem de
qualidade, o enfermeiro tem que compartilhar com o seu doente/utente, as alegrias, as
tristezas, a dor, o medo e a angústia. Este poderá ser um trabalho “árduo” mas
gratificante sendo que, o contacto entre o profissional e o doente deve revestir-se
duma grande empatia e compaixão.
No processo do cuidar, o Enfermeiro faz uso do seu Eu completo, com a libertação da
sua energia positiva em pensamentos e sentimentos, pois num tempo em que a
competência técnica tende a dominar a nossa prática, a relação de ajuda como
intervenção Autónoma deverá ser um aspeto a valorizar cada vez mais no ato de
cuidar, satisfazendo as necessidades dos nossos utentes, desenvolvendo em cada dia
do nosso trabalho, o saber, o saber fazer e o saber estar.
O tipo de relação estabelecida com os utentes não depende unicamente da técnica de
comunicação, mas de fatores como o auto conhecimento, pois há um Enfermeiro
como pessoa e um Enfermeiro como resposta a um comportamento, ou seja, a história
de vida e o relacionamento consigo mesmo, influenciam em larga medida o cuidar. O
que eu sou como pessoa e Enfermeiro que providencia cuidados, está interligado e
não pode ser esquecido.
A Competência não é um estado ou um conhecimento possuído, não se reduz só a um
saber, nem a um saber fazer, mas no saber utiliza-la com eficácia e eficiência. Adquirir
competência é ter capacidade de agir eficazmente numa determinada situação,
apoiada em conhecimentos, e este conhecimento resulta da experiência pessoal, do
senso comum, da cultura, pesquisa tecnológica e científica. Implica assim, um saber
responsável e assertivo. O saber em Enfermagem é um Saber de ação ao longo da
vida.
Por outro lado, o conhecimento em Enfermagem é socialmente construído no contexto
das interações que acontecem entre o Técnico e o utente, e é neste processo que os
Enfermeiros vão desenvolvendo os seus conhecimentos clínicos avançados.
É através do “agir” e do “Fazer” que o homem se dignifica e vai-se transformando em
pessoa humana; é através da realização de atos humanos que cada um de nós é
capaz de ir descobrindo em si e nos outros os valores e a felicidade, contribuindo para
que a Enfermagem seja não só a profissão do” Fazer mas do Saber Ser Fazendo.”
O grande desafio para a formação dos enfermeiros no século XXI, desenvolver-se-á
no sentido da cidadania, baseado nos quatro pilares de um novo tipo de educação:
aprender a aprender (ou conhecer), aprender a fazer, aprender a viver juntos e
aprender a ser.
A educação deve transmitir de forma eficaz cada vez mais saberes e saber – fazer,
pois são as bases das competências do futuro e os pilares do conhecimento ao longo
da vida.
Aprender a conhecer
Este tipo de aprendizagem pretende que cada um aprenda a compreender o meio que
o rodeia, conhecendo e descobrindo…. Este aumento de saberes favorece o despertar
da curiosidade intelectual, estimulando o sentido critico, decidindo com autonomia,
pesquisando e aperfeiçoando saberes, ou seja, a formação inicial fornece
instrumentos, conceitos e referências, mas é o próprio que faz o seu caminho de
aprendizagem tendo subjacente a vontade de aprender.
Aprender a fazer
Aprender a conhecer e aprender a fazer parecem ser indissociáveis, trata-se de aplicar
aquilo que se aprendeu para poder interferir no meio em que estamos inseridos.
Significa a aquisição de uma profissão, bem como o conhecimento e práticas que lhe
estão associados, implica a criatividade, aquisição, gestão e produção de
conhecimento.
Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros
Esta aprendizagem representa hoje em dia um dos maiores desafios, na medida em
que, aprender a viver juntos, significa o respeito pelas normas e a consciência da
diversidade da espécie humana e da interdependência entre todos.
Estar com o outro é a base para aprender a Ser e a estar consigo mesmo,
aprendemos a Ser pessoas, ao relacionarmo-nos com os outros, numa atitude de
compromisso e solidariedade.
Porque cada pessoa tem a sua história com percursos e experiências distintas, vão
encarar o presente e projetar o futuro de diferentes modos, não devemos por isso
julgar, mas compreender e respeitar as opções dos que nos rodeiam, aceitando a
diferença e a liberdade do outro…
Vão longe os tempos em que, cada técnico individualmente assumia a
responsabilidade global pela prestação dos Cuidados ao individuo, do nascimento até
à morte….Hoje essa responsabilidade cabe a um número crescente de profissionais
das mais diversas áreas e profissões da saúde, que no seu conjunto garantem a
prestação de cuidados globais e eficientes. Esta crescente multidisciplinaridade
implica que cada um de nós tenha a capacidade de conviver com o grupo e trabalhar
em equipa, espera-se dos enfermeiros uma disponibilidade infinita, despida de
preconceitos e julgamentos, assumindo um papel interativo e dinâmico na equipa.
Aprender a ser
Todo o ser humano deve receber através da educação forças e referencias para
elaborar pensamentos autónomos e críticos, no sentido de saber agir nas diferentes
circunstâncias da vida.
Aprender a Ser é ir ao encontro de si mesmo, ou seja, é cultivar uma atitude de auto
desenvolvimento, dominar competências e habilidades para enfrentar os desafios do
trajeto existencial: construir e reconstruir uma identidade, construir e reconstruir um
projeto de vida.
O empenho e dedicação colocados ao serviço dos outros, (na nossa profissão, ou
noutros organismos por exemplo solidariedade social) contribuem para o crescimento
e maturidade a nível pessoal e profissional e é também um excelente exemplo da
capacidade dos indivíduos para saber Ser. Saber que cumprimos o nosso potencial
como pessoas, profissionais e cidadãos é caminhar para o desenvolvimento pleno dos
nossos ideais.
Dulce Sousa
Enfermeira Especialista
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