DiáriodoNordeste | FORTALEZA, CEARÁ Domingo, 27 de setembro de 2015 Negócios diariodonordeste.com.br/negocios diariodonordeste.com.br/negocios Seguir caminho dos produtos traz qualidade e custo menor A rastreabilidade ganha força no Brasil com exigências regulatórias ou com iniciativas individuais de empresas MURILO VIANA/RAONE SARAIVA Repórteres Você já parou para pensar de onde vem e há quanto tempo foi colhida a fruta que você comeu hojenocafédamanhã?Aresposta para perguntas como esta está em um tipo de tecnologia que já é adotada no Brasil e pode trazer benefícios, tanto para empresários como para o consumidor: a rastreabilidade. Otermo serefere àhabilidade de se monitorar todos os passos de itens, desde a produção, passando pela distribuição, até o local em que as mercadorias são colocadas à disposição consumidores, nos pontos de venda. Dentre os seus benefícios, estão facilitar a identificação dos fatores responsáveis por problemas na produção, redução de custos nos processos de mudanças de embalagens e etiquetas de produtos e o combate a desvios de cargas e falsificações. “A principal vantagem da rastreabilidade é ter segurança sobreoque umapessoaestáconsumindo, seja um alimento ou um medicamento de um paciente. Quando a gente fala de empre- sas, o principal beneficio é ter controle dos itens para que elas possam oferecer uma qualidade comprovada, que saibam a procedência, ter a segurança de que esses itens são verdadeiros para o consumidor final”, resume a assessoradenegóciosdaAssociação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), Patrícia Amaral Okumura. O monitoramento dos produtos por todo o caminho do setor produtivo também facilita o processo de recall (recolhimento de produtos com defeito). A adoçãodarastreabilidade,porexemplo,facilitariaascomprasdaaposentada Sireide Barbosa, 67 anos, que vez por outra compra uma fruta no supermercado, A tecnologia se refere à habilidade de monitorar todos os passos das mercadorias, da produção até os pontos de venda aparentemente perfeita, mas quando chega em casa vem a decepção. “A gente compra muito abacaxi assim. A gente vê que é bonito, mas quando abre está todo estragado. Abacate também”, lembra a aposentada Os países da União Europeia, onde a rastreabilidade é obriga- tória por lei para todos os produtos alimentares, frutas, legumes everduras,porexemplo,têm pelo menos seu país de origem. O que impulsionou o uso da tecnologia na União Europeia foi a segurança. Na década de 1990, a chamada “doença da vaca louca” atacou rebanhos e fez com queosmercadoslocaisse tornassem bastante exigentes com a origem e o controle da carne. No Brasil, a rastreabilidade vemsendoimpulsionada,principalmente,emdecorrênciadeexigências regulatórias ou por iniciativas individuais de empresas. Nesse contexto, os segmentos de alimentação e de saúde despontam na implementação desistemasdessetipo.“Apartici- pação de outros setores seria importante, como o segmento de materiais de construção e a parte automobilística. São áreas que poderiam ter uma evolução, mas acho que é só é uma questão de tempo”, defende. Faltam mais iniciativas Na opinião de Patrícia Okumura, a rastreabilidade no Brasil, no entanto, ainda não é pulverizada porque o mercado não está “contaminado” sobre a importância da tecnologia. “Às vezes, o parceiro de negócios não fez e o empresário também não faz. Às vezes, a gente não tem regulamentações que exijam, e a empresas não acham necessário. O que eu entendo é que as empresas ainda não têm essesenso de pioneirismo. É difícil. Elas implantam quando um parceiro de negócios pede, por uma regularização ou quando um concorrente adota”, diz. Embora sejam exceções, as empresas pioneiras existem, inclusive no Ceará. Leia mais nas páginas de 2 a 5 e 7 2 | Negócios DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2015 NO BRASIL Empresa do CE foi 1ª a rastrear frutas tificou o sabor esperado ao consumi-la, por exemplo, a Itaueira assume o compromisso de enviar uma nova unidade diretamentepara aresidênciadocliente. “Nós vendemos um sabor, uma experiência ao nosso cliente. Se não é isso que ele recebe, nósnoscomprometemosaentregar uma fruta de qualidade”, explica a gerente administrativa da Itaueira, Marilena Prado. A Itaueira Agropecuária já destinou R$ 1 milhão para controlar todas as etapas de produção de seus melões e melancias Quando se fala em rastreabilidade, o ramo alimentício é um dos que vem se destacando na implementação de soluções que podem ser benéficas tanto para o consumidor como para as empresas. Um exemplo disso é o quevemfazendoaItaueiraAgropecuária S/A, produtora cearense pioneira no rastreamento de frutas no Brasil e que já destinou R$ 1 milhão para controlar todas as etapas de sua cadeia produtiva de melões e melancias. Aempresatemconhecimento de toda a trajetória de seus itens, pallet a pallet, caixa a caixa e até mesmo fruta a fruta. O aporte já realizado se refere à tecnologia, aquisições de impressoras para os códigos de barras e qualificação de funcionários. Hoje, o cliente que adquire ummelãooumelanciadaItaueira em São Paulo, por exemplo, pode ter conhecimento da exata áreaondeelefoiplantado,quando e a que horas foi colhido, dentreoutrasinformações, independentemente se o alimento foi produzido nas unidades da empresa no Ceará, Piauí ou Bahia. Nositedaempresa,bastadigitar o código de rastreabilidade localizado na mercadoria para obterasinformações. Apesquisa das informações pelo consumi- O cliente que adquire um melão ou melancia da Itaueira em São Paulo, por exemplo, pode ter conhecimento da exata área onde a fruta foi plantada, quando e a que horas foi colhida, dentre outras informações FOTO: JL ROSA dor pode ser feita a partir de smartphones com aplicativo para leitura de QR Code, código de barras bidimensional. Banco de dados Apartirdarastreabilidade,aempresa possui um banco de dados com informações sobre todas as etapas de produção, do momento em que as sementes são plantadas até a hora em que a fruta chegaaossupermercados.Osdados incluem preparo do solo, plantio, adubação, irrigação, colheita, separação e transporte. Se o consumidor abre uma fruta e identifica que ela está estragadaouse apenasnão iden- A partir da rastreabilidade, a empresa possui um banco de dados ligado a todas as etapas de produção das frutas FOTO: DIVULGAÇÃO 363673755 Negócios Feedback A rastreabilidade acaba trazendo vantagem não apenas para os consumidores, mas também para a própria produtora. “A gente consegue ter um feedback do cliente, seja para buscar melhoriasouparasaberemque agente tem acertado”, diz Marilena. Quando a empresa recebe umareclamação,éfeitoumdiagnóstico interno a fim de descobrir a causa do problema. Dessa forma, é identificado se a anormalidade se originou de alguma condição de produção ou se foi o transporte inadequado que acabou prejudicando a fruta. “Com o retorno de um cliente, já aconteceu de nós sabermos que não era adequado plantar em determinada época do ano emdeterminadaregião.Todoesse feedback faz a gente tomar decisões”,avaliaa gerente administrativa. Mesmo já tendo conquistado avanço significativo em rastreabilidade,aItaueirapretendecontinuar fazendo novos aportes nessa área. “O investimento não para. Todo aumento de produ- RETORNO “Agenteconsegue ter umfeedbackdo cliente, sejapara buscarmelhorias ouparasaber noque a gentetemacertado” MARILENAPRADO Gerenteadministrativa daItaueira ção demanda novos investimentos, mas nós não temos valores exatosporquevaidependermuito da inovações que surgirem”, complementa. Atuação A Itaueira atende direta e indiretamentetodososestadosdo Brasil e exporta para Estados Unidos, Canadá, Holanda, Espanha, Itália, Rússia e Oriente Médio. Hoje, a empresa vende para o exterior 5% do total de sua produção.AprodutorautilizacódigosGS1128paracaixasexportadas, identificação por carimbos nas caixas do mercado interno, codificação própria nos palletsenumeração sequencial única, e QR Code em cada etiqueta de um de seus principais produtos, o Melão Rei. (MV) 363688483 EDITORA VERDES MARES LTDA. - PRAÇA DA IMPRENSA CHANCELER EDSON QUEIROZ - DIONÍSIO TORRES - CEP - 60135-690 - FORTALEZA - CEARÁ - TELEFONE: (085) 3266-9784 - EMAIL: [email protected] - EDITORA DA ÁREA DE NEGÓCIOS (ECONOMIA, TUR E AUTO): REGINA CARVALHO - EDITORA ASSISTENTE: DHÁFINE MAZZA - REDATORES/REPÓRTERES: ÂNGELA CAVALCANTE, ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA, ÁQUILA LEITE, CARLOS EUGÊNIO, CAROL KOSSLING, JÉSSICA COLAÇO, JOÃO MOURA, MURILO VIANA, RAONE SARAIVA E YOHANNA PINHEIRO - ESTAGIÁRIOS: FERNANDA CAVALLI E INGRID ANDRADE DIAGRAMAÇÃO/DESIGN EDITORIAL: WILEGON LOURENÇO E WILTON BEZERRA Negócios | 3 DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2015 TRANSPARÊNCIA Modelo auxilia nas escolhas do consumidor Apesar de reconhecer iniciativas voluntárias de empresas, Idec entende que ações devem ser ampliadas Embora a divulgação das informações sobre a origem e o caminho percorrido pelos alimentos até os supermercados não seja obrigatória no Brasil, o Instituto BrasileirodeDefesadoConsumidor (Idec) entende que as iniciativas implementadas por grandes redes varejistas para fornecer dados das mercadorias aos clientes são extremamente positivas e devem ser ampliadas. “Essetipodeinformação éimportante e pode, por exemplo, ajudar o consumidor a escolher alimentos produzidos mais próximos de seu local de moradia, ou que não contenham agrotóxicos, ou que não passem pordeterminadosprocessos produtivos”, destaca Ana Paula Bortoletto, pesquisadora em Alimentos do Idec. A pesquisadora observa que a rastreabilidade oferece mais segurança aos consumidores em relação aos padrões de qualidade de frutas, legumes e verduras. Isso porque, nas etapa de produção dos alimentos, pode haver contaminação química (aplicaçõesdedefensivosagrícolas), física e microbiológica (uso A rastreabilidade oferece mais segurança aos consumidores em relação aos padrões de qualidade de frutas, legumes e verduras FOTO: KIKO SILVA deáguacontaminadaparairrigação), enumera. Ana Paula lembra que, segundo o artigo 6º do Código de DefesadoConsumidor(CDC),édireito básico do cliente ter informações adequadas e claras sobre todas as características dos diferentes produtos e serviços. Segundo ela, mesmo não sendo regulamentadanoPaís,arastreabilidadeestáinseridanessecontexto de transparência dos dados das mercadorias. “Apesar de serem conhecidas dos fornecedores, muitas vezes, essasinformaçõesnãosãodisponibilizadas aos consumidores e acabam ficando em poder das redesvarejistas,quandoexistentes”, aponta. Para o Idec, o ideal seria que houvesse nas gôndolas dos supermercados cartazes contendo osprincipaisdadosdasmercadorias, como: produto e variedade; produtor e centro de distribuição, quando houver; Cadastro dePessoasFísicas (CPF)eCadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); data de produção; lote e, caso exista, uso ou não de agrotóxicos. Pesquisa Para verificar se informações como essas estão disponíveis ao consumidor, o Idec realizou uma pesquisa voltada à rastreabilidade, em 2014. O levantamento mostrou que programas voluntários de grandes redes supermercadistas disponibilizam diferentes dados aos clientes, algunsmais completosqueoutros. Segundo Renata Amaral, pesquisadora em Consumo Sustentável do Idec, foram escolhidos dez alimentos in natura (frutas, verduras, legumes e ovos) mais representativos nas seis maiores redes de São Paulo: Pão de Açúcar; Extra; Carrefour; Walmart; Sonda Supermercados e Dia Supermercados. Em 42,6% dos produtos embalados, existia algum tipo de informação sobre sua origem. Entre os itens a granel, apenas uma mercadoria (0,6%) possuía códigopararastreamento.Osalimentos orgânicos levaram vantagem: 56,5% dos itens disponíveis nos supermercados eram rastreados. Já as mercadorias convencionaissomaram 28,7%. Renata,queconduziuolevantamento, explica que o próprio sistema de certificação dos produtos orgânicos já reuniam diversas informações que permitiam a rastreabilidade. Porém, os dados não eram divulgados ao consumidores. Elareforçaque,entreasvantagens da rastreabilidade, estão o aumento da qualidade dos produtos e a melhoria da segurança alimentar. (RS) FIQUE POR DENTRO Principais vantagens Valoriza alimentos de produção orgânica e agroecológica (O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do Mundo, com uma média de 5,2 kg por habitante por ano). Respeita uma produção socialmente justa (Em 2013, 21% das liberações de trabalho escravo aconteceram em lavouras). Facilita a escolha de alimentos produzidos localmente, ou seja, com menor gasto carbônico (70% dos alimentos consumidos no Brasil provêm da agricultura familiar, que ocupa apenas 24% das terras agricultáveis e representa 84% dos estabelecimentos agrícolas). Permite identificar responsáveis por problemas na cadeia de fornecimento de alimentos Os últimos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para, da Anvisa mostram que 36% das amostras monitoradas conseguem identificar o produtor) Dá agilidade e eficácia aos processos de recall, quando há alguma violação sanitária (Segundo último resultado do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para), da Anvisa, 25% das amostras de alimentos coletadas estão irregulares quanto ao uso de agrotóxico). FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC) 363698470 4 | Negócios DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2015 EM SUPERMERCADOS Itens com agrotóxicos acima do permitido caíram 10% Programa rastreia e monitora níveis de resíduos dos produtos químicos em frutas, legumes e verduras Colocado em prática desde 2013, o Programa de Rastreamento e Monitoramento de Agrotóxicos (Rama) – estruturado pela Associação Brasileira de Supermercados(Abras)– jáconseguiu reduzir em cerca de 10% a quantidade de frutas, legumes e verduras das empresas participantes que ultrapassavam os limites máximos de resíduos de agrotóxicos permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Basicamente,esseéo grande resultado.Hoje,oprodutoérecolhido no momento em que ele chega à loja, antes mesmo de ir para a área de vendas, porque ele não pode sofrer contaminação. A empresa que monitora (PariPassu) vai ao supermercado,nomomentoemqueoproduto chega, recolhe as amostras e encaminha para o laboratório, que faz a análise”, diz o vice-presidente da Abras, Marcio Milan. Se for detectado que os níveis de resíduos estão acima do permitido, o fornecedor dos itens recebe um plano de correção. Após 30 dias, a PariPassu faz nova coleta para saber se a situação irregular permanece. O Rama possui dois pilares principais.Oprimeiroéarastreabilidade das frutas, legumes e verduras de todos os fornecedores cadastrados pelas empresas Iniciativa agrega mais valor ao produto CUIDADO GIAMPAOLO BUSO Diretor Comercial da PariPassu A “Hoje,o produtoé recolhidoquando chegaàslojas, pois nãopode sofrer contaminação” MARCIO MILAN Vice-presidentedaAbras participantes.Osegundo éo monitoramento do nível de agrotóxiconosprodutos.Ocaminho completo da mercadoria até o consumidor fica disponível na internet para consulta pública. Já as análises técnicas são disponibilizadas em um portal para que produtores ou fornecedores e supermercadistas consigam realizar o monitoramento dos itens de forma contínua. Balanço Atualmente, o programa conta com 27 redes de supermercados participantes, presentes em 15 estados. Há uma média de 14 milhões de toneladas de produtos rastreadas por mês e um total de 1.100 amostras já realizadas para a identificação de agrotóxicos desde 2013. Em Santa Catarina, o Rama teve reconhecimento pela Orga- O caminho da mercadoria até o consumidor fica disponível na internet para consulta pública. Já as análises técnicas são disponibilizadas em um portal para a realização do monitoramento FOTO: HELENE SANTOS nização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), por meio da Plataforma deBoasPráticasparaoDesenvolvimento Sustentável. Ceará No Ceará, os Mercadinhos São Luiz e o Carrefour são os únicos participantes do Rama. O GBarbosa, Atacadão e o Supermercado Pinheiro estão em avaliação para implementação do programa em seus estabelecimentos. Os supermercados são apresentados e convidados a partici- Pão de Açúcar completa 10 anos de carnes rastreadas Implantado em 2005, o Programa de Produção de Carne Rubia Gallega permite o fornecimento de uma mercadoria saudável e totalmente rastreada, desde a inseminação do gado até o consumidor final FOTO: JL ROSA Investir na rastreabilidade dos produtos que comercializa vem sendo uma das prioridades do GrupoPãode Açúcar(GPA),que comemora o aniversário de dez anos do Programa de Produção de Carne Rubia Gallega para a marca Taeq. Implantada em 2005, a ação permite o fornecimento de uma mercadoria com qualidade superior, saudável e totalmenterastreada,desdeainseminação do gado até o consumidor final. Nas gôndolas do supermercados com bandeiras Pão de Açúcar e Extra, os clientes podem acompanhartodoocaminhopercorrido pela carne por meio de um selo com um QR Code, código de barras bidimensional. Basta fotografar o código com um smartphone para obter as informações sobre a mercadoria. Os dados também podem ser acessadospormeiodocódigopresente da etiqueta do produto. OPINIÃO O programa nasceu por meio daparceriadoGPAcomprodutoresrurais ecom a empresa GMG, fornecedora de sêmen. Inicialmente, oito fazendas participavamdo projeto. Atualmente, são 30 propriedades distribuídas nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso. “Nosso intuito foi fazer com que todos ganhassem: pecuaristas,empresas,indústriaseconsumidores”, explica o consultor de Desenvolvimento de Carnes do GPA, André Artin. A primeira etapa foi buscar uma raça paternal europeia que se adaptasse às condições climáticas brasileiras e tivesse um alto índice muscular em idade jovem. Isso porque é nessa fase que o gado apresenta maior maciez na carne. Osparceiros,então,desenvolveram um manejo intensivo de produção de bovinos com alta tecnologia, abate de animais jo- Atualmente, o Grupo Pão de Açúcar é parceiro de 30 propriedades distribuídas nos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso vens com alta produção de massa magra, manuseio alimentar, ambiental e índices zootécnicos positivos. A aposta foi em um animal meio sangue, fruto da inseminação da raça Nelore com sêmen da Rubia Gallega, proveniente do noroeste espanhol, que apresenta baixo índice de gordura no animal jovem. As fazendas produtoras foram selecionadas a partir de critérios socioambientais que assegurassem sua idoneidade e índi- parem da iniciativa por meio de suas associações regionais. Em encontros, apresenta-se a metodologia de implantação do programa, o cronograma de trabalho, o processo de coleta e monitoramento de resíduos de agrotóxicos e a política de correção para as amostras inconformes de agrotóxicos. O investimento feito pelo empresário para aderir ao programa “foi construído de forma que o supermercado, o produtor ou distribuidor possam participar sem incorrer em valores que in- cedeprodutividade.Entreoscritérios, destacam-se: estar de acordo com a legislação e possuirprogramadegestãoambientalcommitigaçãodeseusimpactos causados pela produção; cumprir a legislação trabalhista e possuir programas de incentivoaoscolaboradoresparao crescimento pessoal e profissional; contribuir para as crianças de seus funcionários frequentem a escola;e adotartecnologias para aumentar a eficiência produtiva na fazenda, produzindo mais carne por hectare de terra. Necessidades André Artin destaca que o programa atende às necessidades de um consumidor cada vez mais exigente. Embora o produtosejavoltadoparaos públicosA eB,oexecutivoinformaqueconsumidores de classe média também compram a carne, mesmo sendo em menores quantidades. “No geral, por conta da atual crise econômica, os clientes estão consumindo menos. Mas eles não abrem mão de levar para casa um produto de qualidade, ainda que paguem um pouco mais. A Rubia Gallega é macia, tempoucagordurae,consequentemente, rende mais”, diz. Para ele, os brasileiros estão aprendendo sobre rastreabilidade e valorizando os produtos com garantia de origem. Artin entende que, em um futuro próximo, as redes supermercadistas nãoconseguirãoavançarseminvestir na tecnologia. “O rastreamento é um caminho sem volta, uma ferramenta de segurança não só para a área alimentar e hospitalar, mas para toda a cadeia de consumo. Precisamos exigir mais da indústria e cobrar do governo mais regulamentação. Saber o que estamos colocandonasgôndolaséfundamental”, acrescenta. A iniciativa em torno da Rubia Gallega integra o Programa Qualidade Desde a Origem (QDO) do GPA, criado em 2005, em parceria com a empresa PariPassu.Assimcomoascarnes,frutas, legumes e verduras vendidos pelo Pão de Açúcar e Extra também são rastreados. (RS) viabilizem a operação”, defende o vice-presidente da Abras. Desafios Na avaliação do representante daentidade, o Rama ainda encara o desafio de conscientizar os produtores sobre a importância do controle de qualidade de frutas, legumes e verduras. “Eles têm impacto direto na saúde da população. Precisamos trabalhar para convergir os esforços públicoseprivadosparauminteresse único orientado para a sociedade”, defende. rastreabilidade e o monitoramento de alimentos surgiu com a demanda de órgãos externos, como a Anvisa, e do mercado em seguir padrões de qualidade e de segurança alimentar. Hoje, fazer o rastreamento é essencial ao produtor que busca agregar mais valor ao seu produto, sendo considerado um diferencial de mercado e permitindo a maior rapidez na correção de problemas. A sociedade está cada vez mais preocupada com o alimento seguroede qualidade,earastreabilidade desde a origem contribui diretamentepara estesfatores. No mercado brasileiro, tem aumentado a demanda por produtos rastreadosehámovimentações ocorrendo, tanto no setor público quanto privado. Desde 2010, a Abras e a PariPassu mantém uma parceria para atuação conjunta no mercado de frutas,legumes everdurasparaarastreabilidade e o monitoramento da qualidade dos alimentos, contribuindo para o desenvolvimento da cadeia de abastecimento. A PariPassu também é associada à GS1, promovendo a rastreabilidade através da codificaçãopadrão definidapela entidadepara acomunicaçãodedados. O Rama também tem a meta de aumentar o número de estabelecimentosparticipantesemelhorarosresultadosdeconformidade para as análises de resíduos de agrotóxicos. (MV) Carrefour destaca vantagens da ação O Carrefour foi o primeiro grande varejista do País a aderir ao Programa Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), desenvolvido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em parceria com a empresa PariPassu. A partir da iniciativa,100%dasfrutas,legumes e verduras da marca Carrefour passaram a ser rastreadas e a ter seus níveis de defensivos agrícolas monitorados, no fim do ano passado. “O Carrefour se preocupa em oferecersempreprodutossaudáveis e de confiança. A adesão ao Ramademonstra, mais uma vez, que a companhia é uma das pioneiras em assegurar a alta qualidade de suas mercadorias a todososconsumidores”, dizodiretordeSustentabilidadedoCarrefour no Brasil, Paulo Pianez. Embora não exista uma legislaçãoespecíficasobrearastreabilidade de produtos de origem animal e vegetal no Brasil, Pianezobservaqueaempresaacompanhaocomportamentodoconsumidor brasileiro, que está cada vez mais preocupado com a origem dos alimentos e também em manter uma qualidade de vida saudável. “Para facilitar a visualização dos produtos Garantia Origem em suas lojas, o Carrefour mantém espaços exclusivos para os itens,comcomunicaçãodestacada, que apresenta os atributos dos produtos, além da informação do produtor e da localidade da produção”, destaca o executivo. Os clientes podem acompanhar a trajetória dos alimentos, desde a produção até as gôndolas, fotografando com um smartphone o QR Code, código de barras bidimensional. Pianezreforçaquearastreabilidade possibilita aos clientes a certeza de que estão adquirindo alimentosdequalidade,produzidos de forma ambientalmente Por meio de QR Codes, os clientes acompanham toda a trajetória dos alimentos que compram FOTO: JL ROSA correta e socialmente justa. Para a empresa, investir na tecnologia é contribuir para a saúde, bem-estar e segurança de quem consome a marca. Garantia de Origem Além do Rama, o Carrefour conta com outras ações de controle dequalidadedosprodutosvendidos em suas unidades. O Programa Garantia de Origem, implantado no Brasil em 1999. Segundo Pianez, a ação atesta o compromisso da companhia em acompanhar a trajetória do alimento desde sua produção até as gôndolas. “Todos os itens da marca Carrefour também passam por rígidos padrões de segurança alimentar, testes laboratoriais e auditoria social, o que garante a alta qualidade e procedência”, acrescenta. De acordo com Paulo Pianez, a companhia busca criar uma base de confiança com produtores de várias regiões. Hoje, a redecomercializamaisde180produtos certificados pelo selo Garantia de Origem e mantém 160 fornecedores cadastrados. (RS) Negócios | 5 DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2015 APONTA INTERFARMA Prazo para adequação à norma da Anvisa é curto Todos os medicamentos produzidos no Brasil devem ser rastreados de uma ponta a outra da cadeia até o fim de 2016 Os fabricantes de medicamentos do Brasil têm até dezembro deste ano para disponibilizar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) os dados de rastreamento completo de três lotes de seus produtos. Todos os remédiosproduzidos em território nacional devem ser rastreados de uma ponta a outra da cadeia até o fim de 2016. São essas as determinações da agêncianaResoluçãodaDiretoriaColegiada (RDC) 54/2013. Os prazos firmados, entretanto, são insuficientes para a adequação das empresas às exigências, na avaliação da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). “Na RDC, houve um requerimentodeque ainformaçãorecolhida ao longo da cadeia deveria voltar para a indústria e para o varejo. O varejo (farmacêutico) conseguiu uma liminar que é contrária a essa disposição. Consequentemente, a gente fez um movimento juntamente com as outras entidades, no sentido de que esse requerimento não fosse necessário. Estamos solicitando uma postergação dos prazos”, defende o diretor de assuntos econômicosdaentidade,Marcelo Liebhardt. A Interfarma possuicercade56indústriasassociadas que, juntas, respondem por mais da metade do faturamento do setor no País. Liebhardt avalia que a Anvisa ainda precisa publicar instruções normativas que sejam mais precisas, como a gestão de informaçõesdosistemaderastreabilidadedopontodevistatecnológi- co. “Primeiro, a regulamentação precisa ser finalizada. A partir daí, seria necessário um ano para os três lotes pilotos, depois mais oito meses para a validação dos pilotos e, depois dessa fase, mais três anos para tudo estar funcionando”, propõe. Investimento Segundo o diretor presidente do Grupo Pague Menos, Deusmar Queirós, as farmácias precisariam investir R$ 3 bilhões para adaptar seus pontos de venda, captarinformações erepassá-las ao consumidor. Na opinião dele, o investimento não se justifica Segundo o diretor presidente do Grupo Pague Menos, as farmácias precisariam investir R$ 3 bilhões para adaptar seus pontos de venda FOTO: JOSÉ LEOMAR Outra resolução da Anvisa, a RDC24/2015, dizque as empresas do setor alimentício devem implementar rastreabilidade dos seus produtos de forma a garantir o recall (recolhimento) de itens, quando for necessário. A norma passa a valer em dezembro deste ano. Assim, toda a cadeia do setor deverá manter registrosqueidentifiquemasori- gens e os destinos dos produtos. “É possível, sim, fazer o recolhimento e comunicação. O maior desafio é alcançar essa organização de processos por parte das empresas,dentro do tempoestabelecido”, avalia Giampaolo Buso, diretor comercial da PariPassu,empresaquedesenvolvesoluções para a rastreabilidade dos alimentos. (MV) Isofarma já adota padrão exigido Exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como elemento de identificação da rastreabilidade, por meio da RDC54/2013,ocódigobidimensional GS1 DataMatrix começou aserimplementadoem2008pela Isofarma, indústria farmacêutica situada no município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Oprojetoquecolocaemprática a rastreabilidade na Isofarma passou pela fase de planejamento – no qual foi mapeado o processo e adquirido o sistema de informação – e está atualmente nas etapas de configuração e estruturação da linha de produção que irá fabricar os lotes pilotos, exigidos pela Anvisa até dezembro deste ano. Ao ter sido uma das pioneiras naimplementaçãodocódigoDatabar, a Isofarma buscou atender às necessidades dos hospitais que já demonstravam interesse em adotar a tecnologia. “São hospitais referência, nosso maior público-alvo, uma vitrine que atesta a alta qualidade de nossosprodutos”,ressaltaacoordenadoradeQualificaçãodaIsofarma, Larissa Plutarco. A empresa iniciou o projeto de inserir o padrão de identificação em sua linha de produção a partir de solicitação e parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, que coordenou a iniciativa junto à Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil). Hoje, todos os produtosfabricadospela empresajá possuem em suas embalagens primárias (que estão em contato direto com o produto) o código. A fábrica da Isofarma fica localizada no município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza mo a reembalagem e reetiquetagem; e a prevenção à falsificação de medicamentos. Estima-se que um em cada cinco medicamentos vendidos atualmente no Brasil é falsificado,segundoaOrganizaçãoMundial de Saúde (OMS). (MV) 363698219 Redução de custos A utilização do GS1 DataMatrix naembalagemprimária dosprodutosdaIsofarmaoferecebenefícios à rede hospitalar abastecida com os seus produtos, como a diminuição de erros de medicação; eliminação de processos co- 363697111 363692259 Negócios | 7 DIÁRIO DO NORDESTE FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2015 AUTOMAÇÃO Códigos são essenciais no processo A leitura dos códigos de barras permite a comunicação entre os diversos componentes no percurso dos itens Padronizar e compartilhar. Essas são as duas palavras-chave que resumem o primeiro passo a ser dado por uma empresa e a cadeia produtiva para implantar a rastreabilidade. A ferramenta que permite a comunicação entre os diversos componentes no percurso dos itens, desde a unidade produtora até o consumidor final, é o código de barras. O elementoéoRGdoitem,identificando-o por onde ele passa. “É preciso padronização nas identificações do item que você quer rastrear, em todos os lugaresporondeelevaipassar.Quando tudo tiver identificado, é preciso que haja uma comunicação entre esses elos, para que todos saibam o paradeiro dos itens. Se o item é movimentado, tem que terocompartilhamentoda informação”, destaca a assessora de negócios da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), Patrícia Amaral Okumura. A GS1 é uma organização sem fins lucrativos que concede as licenças de código de barras no Brasil. Seus padrões são utilizados em mais de 150 países. Para adquirir um código, a empresainteressadaprecisaseassociar à entidade, pagando-lhe anuidadesquevariam deR$289 aR$2.769,adependerdofaturamento anual. Dentre os padrões disponíveis hoje, as principais referências em rastreabilidade são o INTEGRAÇÃO “Épreciso padronização nasidentificaçõesdo itemquese quer rastrear, emtodos oslugares por ondeelevai passar” PATRÍCIA AMARALOKUMURA AssessoradeNegóciosda GS1Brasil GS1 DataMatrix e o GS1 Databar. O primeiro código vem sendo adotado principalmente pelo setor de saúde, com o objetivo de dar mais segurança na correta medicação ao paciente e evitar falsificações e desvios de cargas de remédios. O DataMatrix foi definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como a tecnologia de captura, armazenamento e transmissão eletrônica de dados necessários ao rastreamento de medicamentos. SegundoaResolução daDiretoria Colegiada (RDC) 54/2013,daAnvisa,todasasempresas pertencentes à cadeia de fabricantes de produtos farmacêuticos no País tem até dezembro de 2016 para adotar esse padrão. O código deve conter número de registro do medicamento junto à agência, número serial, data de validade dos itens e número do lote. O código carrega informaçõesdohistóricodomedicamento, desde sua produção até o uso em hospitais, garantindo que o paciente certo está recebendo o tratamento certo na hora correta. No caso do varejo de medicamentos,serápossível rastrearlote,datadevalidade,possibilitando o monitoramento de todo o trajeto percorrido até a chegada às farmácias. O benefício, nesse caso, será evitar falsificações e desvio de cargas. Varejo Outro código que desponta como uma das principais tecnologias quando se fala em rastreabilidade é o GS1 Databar. É uma tendência global utilizar esse código no setor de frutas, verduras e legumes (FLV) e outros produtos perecíveis. Ele pode ser muito menor do que os códigos de barra tradicionais (EAN/UPC) e ainda codificar informações adicionais como número serial, número de lote e data de validade. De dimensões reduzidas e maior capacidade de armazenar dados, o código traz vantagens para o varejo e ao consumidor. Porexemplo,naoperaçãodocaixa dosupermercado, pode-se ter ocontroledadata devalidade de produtosperecíveise,assim,evitar a venda deles aos clientes. Alémdisso,asinformaçõescontidas no sistema ajudam o varejista a rastrear o produto, no caso de reclamações de qualidade. Cadastro A rastreabilidade também depende, essencialmente, de padrões de compartilhamento de informações. Dentre eles, está o Cadastro Nacional de Produtos TECNOLOGIA Tipos de identificação DataMatrix Databar QR Code Aplicações Mercado da saúde, incluindo laboratórios farmacêuticos, hospitais e farmácias Aplicações Supermercados, em alimentos perecíveis como carnes, frios, frutas e hortaliças Aplicações vários setores, tais como fabricação, armazenagem e logística, varejo e transporte Propriedades Carrega informações de todo o histórico do medicamento ou material hospitalar, desde sua produção até sua utilização em hospitais ou venda em farmácias Propriedades É uma evolução do código de barras tradicional, com maior número de informações. Indica no sistema de balanças e caixas de supermercado a data de validade do produto Propriedades Fornece informações que não estão visíveis no item já identificado com padrão GS1. Possui dados lidos por meio de leitores de imagem, softwares ou aplicativos de smartphones Benefícios Possibilita o rastreamento de informações com data de validade e lote, evitando falsificações e desvio de cargas Benefícios Impede a compra de produtos vencidos e ajuda a rastrear produtos quando há problemas de qualidade Benefícios Dá ao consumidor acesso a dados dos itens, como lote, localidade de origem e dia da colheita, no caso das frutas FONTE: GS1 BRASIL (CNP). Trata-se de um grande banco de dados padronizado que a GS1 criou para todos os seus associados, alimentado de diversasinformaçõespelosfabricantes. Todo produto ganha uma “ficha” no sistema, com dados pertinentes a sua fabricação. OCNPpodeserusadoporpeque- nas, médias e grandes empresas de qualquer segmento, auxiliandoaindústriaeovarejonocadastro e também no gerenciamento de informações. Com uma linguagem única em todos os canais, as empresas apresentam ao mercado dados sempre com as mesmas caracte- rísticas, como conteúdo, descrição, marca, etc. Todos os dados dos itens fabricados são lançados no sistema para que se obtenha a numeração do código de barras, o que é fundamental para se integrar informações com o grande varejo, que já utiliza o código nos produtos. (MV) 363685795