Produtores do Salitre comemoram boa safra de cebola Produtores do perímetro de irrigação Salitre – gerido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e localizado no município de Juazeiro, no norte da Bahia – já começaram a comemorar os primeiros resultados da safra de cebola de 2013, cujo plantio foi feito no início do ano com o objetivo de atender às demandas dos mercados consumidores das regiões norte e nordeste, castigadas pela seca, e sul e sudeste. A estimativa é que a safra atinja 13,6 mil toneladas de cebola colhida no perímetro, o dobro do resultado do ano passado, que foi de aproximadamente 6,7 mil toneladas. Até o momento, mais de 7,7 mil toneladas de cebolas branca e roxa já foram colhidas, numa área plantada de 212,7 hectares - mas uma área plantada ainda maior, de 374 hectares, está esperando sua vez de passar pela colheita. Segundo o engenheiro agrônomo Fernando José Bruno de Faria Neto, especialista em irrigação e drenagem, no nordeste a cebola é cultivada durante todo o ano, mas a melhor época de semeadura para se obter os melhores preços é no período de janeiro a março. Quanto aos resultados obtidos no perímetro, o engenheiro observa que “a alta produtividade de cebola no Salitre se deve à fertilidade do solo e ao uso de tecnologia de ponta. Nós temos alta tecnologia em irrigação, utilizando o sistema de gotejamento, ficando a eficiência em torno de 95%. Além disso, temos a tecnologia do plantio direto, feito por máquina, que possibilita uma densidade de plantio maior que o sistema convencional do transplantio, feito com o uso de mudas já germinadas, que são colocadas manualmente uma a uma na terra”, diz. Outra característica que distingue os dois métodos de plantio é que, no sistema automatizado, a produtividade naquela área é de 100 toneladas por hectares, e no transplantio ela cai para 60 toneladas por hectare, podendo chegar até a 80 toneladas por hectare, no caso de produtores mais experientes - mas mesmo assim esses números estão acima da média da região. Resultados O produtor Hilário Ferreira da Silva, de 32 anos, que trabalha com o irmão em uma área de aproximadamente 5,8 hectares plantados com cebola das variedades Mata Hari (roxa), Tuareg e Serena (brancas), está contente com os resultados obtidos até gora. A expectativa é que, ao final da colheita, ele alcance os R$ 1,6 milhão arrecadados, quase R$ 275 mil por hectare colhido. Nas últimas semanas, cerca de 12 caminhões saíram carregados de seu lote. Cada um tem capacidade para transportar, em média, cerca de 1,2 mil sacos (24 toneladas). Já Sidinei Evangelista Reis tem um lote plantado com 2,36 hectares de goiaba, 2,30 hectares de manga Palmer, 1,58 hectare com banana, e resolveu investir também na cebola. Ele possui 1,5 hectare com cebolas dos tipos IPA 10 (roxa) e IPA 11 (branca). Embora tenha utilizado o transplantio, Sidinei espera colher 550 sacos de cebola roxa e 750 sacos da cebola branca. Aos 44 anos, natural da localidade de Juremal, distrito de Juazeiro, Sidinei conta com a ajuda de um irmão e um funcionário contratado para cuidar exclusivamente de seu empreendimento agrícola. Comercialização No caso de Sidinei, a produção já estava vendida quando foi plantada. Ele fechou negócio com um comprador da região. A cebola que é colhida vai para classificação e embalagem no Mercado do Produtor de Juazeiro, onde esse trabalho é feito por empresas particulares, que cobram uma taxa, e só então são contabilizados os valores finais. Já Hilário está levando toda a produção para o Centro de Abastecimento da vizinha cidade de Petrolina, a cerca de 30 km do Perímetro. Lá, a seleção e embalagem da cebola são feitas em uma área reservada, sem nenhuma taxa, e dependendo da lei de oferta e procura, o negócio é fechado no próprio CEAPE. Fernando Faria calcula que a cebola tem sido responsável por 60% do faturamento bruto do perímetro Salitre, que até o mês passado chegou a R$ 14,8 milhões. No ano passado, o valor bruto da produção (VBP) chegou a R$ 24,1 milhões. Para ele, considerando o que vem ocorrendo nas regiões sul e sudeste – onde as variações climáticas forçaram os preços da cebola para cima -, “a previsão é de que até o final deste ano e início do próximo, os preços subam, e isso tem levado muitos produtores a investirem na cebola. E esta situação deve continuar por um bom tempo ainda”. Mas ele alerta: “Nós temos que considerar que a cebola é uma cultura de ciclo curto, e dependendo do tipo de variedade plantada, esse ciclo pode variar entre 90 e 120 dias, e nesse período muita coisa pode acontecer e interferir no processo de aumento de preços”. Mão de obra feminina Outro fator que merece destaque no cultivo da cebola no Salitre, apesar da crescente onda de mecanização do plantio, é o grande uso de mão de obra local para os tratos culturais, como limpeza dos canteiros, raleio, colheita, separação e ensacamento das hortaliças. O produtor Hilário Ferreira, para esta safra, além de seus 15 funcionários, contratou mais 60 pessoas da localidade próxima de Goiabeira. “Há épocas em que utilizamos cerca de 80 pessoas ou mais até, mas este ano está faltando mão de obra”, observa Ferreira. Uma curiosidade é que, a exemplo da maioria dos produtores, Hilário Ferreira prefere contratar mulheres para executarem os tratos culturais. Ele justifica que “as mulheres têm mais paciência, mais atenção, mais capricho e executam as atividades com mais perfeição, diferentemente dos homens, que não têm paciência e não são detalhistas”. Sidinei Evangelista tem cinco funcionários, e contratou mais 50 pessoas da localidade de Lagoa do Salitre para a colheita. Normalmente ele usa por semana em sua propriedade a mão de obra de 15 agricultoras. Sustentabilidade Uma preocupação da Codevasf, responsável pela implantação do perímetro irrigado Salitre, e também dos técnicos do consórcio de empresas que administra o perímetro, é com a qualidade dos solos. “Da mesma forma que os solos são extremamente férteis, eles são bastante delicados, por conta de sua genética”, aponta o engenheiro agrônomo Fernando Farias. “No processo de formação dos solos temos 40% das manchas de solo do salitre com pouca profundidade. Se não trabalharem com esses solos com o uso consciente de água, irrigando na quantidade certa, haverá uma grande facilidade para a salinização, tornando o solo improdutivo”, ensina. Para evitar isso, a Codevasf e o consórcio responsável têm desenvolvido conjuntamente um programa para o uso sustentável do solo, através de práticas conservacionistas de utilização de matéria orgânica, de manejo adequado de irrigação e práticas de macro e microdrenagem. Além disso, as obras de infraestrutura realizadas pela Codevasf, aliadas aos trabalhos de capacitação e conscientização dos produtores, desenvolvimento de atividades de assistência técnica no campo, com o objetivo de fazer o próprio produtor buscar a sustentabilidade para que seu lote continue produtivo por mais tempo, são algumas das ações que podem garantir a própria sustentabilidade do perímetro. Para o agrônomo Fernando Faria, “as boas práticas culturais é que vão garantir o sucesso do Salitre em nossa região”.