Manufatura Enxuta Cultura de eficácia através da educação Carlos Roberto Lopes 1 RESUMO: A Manufatura Enxuta ( M.E. ) é um termo que designa a filosofia de negócios oriunda do Sistema Toyota de Produção, a qual consolidou-se no Japão a partir do final da 2ª guerra mundial como alternativa ao modelo de produção em massa norteamericano para a administração da produção. Baseados em sua cultura milenar, os japoneses enfrentaram a escassez do pós-guerra através da aplicação de conceitos que eliminam desperdícios, possibilitam grande flexibilidade e agregam valor ao cliente. Nas décadas seguintes a M.E. foi estudada e implantada em empresas de todo mundo, muitas vezes sem os resultados esperados. Esse artigo promove uma reflexão sobre alguns conceitos da M.E. sob o ponto de vista educacional e pretende defender que sua sustentabilidade se apoia principalmente no desenvolvimento de todos os seus participantes para pensar, aprender e decidir. Palavras-chave Manufatura enxuta; Lean Manufacturing; Melhoria contínua;Kaizen;Kata;Educação 1 Prof. Eng. Carlos Roberto Lopes Graduado e especializado pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP Professor da Metrocamp nos cursos de Engenharia de Produção e Engenharia de Controle e Automação http://lattes.cnpq.br/7750895433121043 [email protected] INTRODUÇÃO Após mais de meio século de estudo e divulgação da Manufatura Enxuta (M.E.) como modo de administrar a produção, seria esperado encontrar muitas empresas com avançado grau de aplicação. Entretanto em muitos casos após um grande impulso inicial de implantação, geralmente motivado pelos resultados financeiros 1 esperados, segue-se um período de estagnação, senão decepção e abandono. Implantam-se algumas ferramentas de organização como o 5S, desenham-se mapas de agregação de valor, aplicam-se alguns kanbans; enfim todo um arsenal de praticas úteis as quais, porém, isoladamente não vão obter os benefícios estáveis e compensadores. Esses casos indicam que , semelhante a um iceberg, a aplicação da M.E. se divide em parte visível (10%) e outra invisível (90%). A implantação inicial concentra-se muito mais na parte visível e pode ocorrer de cima para baixo, sem o sincero comprometimento da alta direção e o engajamento de todos. Isso gera a falsa impressão de uma transformação em curso. Passado um tempo sente-se grande dificuldade em visualizar novas melhorias. Os líderes esmorecem, o pessoal se acomoda e aquele ímpeto inicial fica para trás. “ O problema é que as empresas tomaram um determinado conjunto de ferramentas como sendo o profundo “pensamento enxuto”. O modo de pensar enxuto baseado no Modelo Toyota envolve uma transformação cultural muito mais profunda e mais abrangente do que a maioria das empresas pode sequer imaginar. “. ( Liker, Jeffrey K., “ O Modelo Toyota “ , 2004, pag. 32 ) A cultura, ainda que documentada por diversos meios, se mantêm viva apenas no ser humano e se expressa através de suas convicções e atitudes. O maior desafio não é implementar programas e métodos, por melhores que sejam, e sim promover o adequado desenvolvimento do ser humano a fim de torná-lo agente do aprimoramento. Para tanto se promove o aprendizado contínuo, o qual não pode ser confundido com ensino continuado. Muitas vezes as empresas oferecem ensino de qualidade de diversos conteúdos, entretanto isso isoladamente não garante a eficácia do aprendizado, posto esse ser dependente da convicção do aprendiz quanto aos benefícios da aplicação daquele conteúdo, seja para si próprio como para o coletivo. A FILOSOFIA A maturação da M.E., assim como um processo formal de educação, exige tempo. Entretanto nenhuma organização pode se dar ao luxo de esperar anos ou décadas para obter resultados financeiros consistentes. A aceleração da dinâmica econômica influi na carreira do profissional a qual depende cada vez mais dos resultados de 2 curto prazo. Portanto é compreensível a tentação de muitos dirigentes para implantar algumas ferramentas da M.E., assim que as conhecem, obter alguns resultados, conseguir destaque e promoção. A conciliação do conflito entre carreira rápida e filosofia de longo prazo exige coragem e compromisso seja para elaborar planos estratégicos assim como para desdobrá-los em práticas coerentes. A implantação da M.E. depende do apoio dos investidores e a disposição dos líderes para desenvolver o aprender e ensinar. “ Quando não existe uma pessoa capaz de colocar o sistema em prática, o melhor nível de desempenho geralmente dura apenas o tempo que o agente da mudança está diretamente encarregado dela.” ( Womack, James P.; Jones, Daniel T.; “ A mentalidade enxuta nas empresas “ , 2004, pag. 329 ) Essa temporariedade, focada exclusivamente nos resultados financeiros, prejudica o desenvolvimento da eficácia da empresa, sua capacidade de agregar cada vez mais valor ao seu produto e serviço. A adequada atuação do mentor ( professor ) em relação ao aprendiz ( aluno ) pressupõe laços de respeito e responsabilidade, por um período razoável a fim de se formar novos mentores. “ Agora aceitamos o fato de que a aprendizagem é um processo vitalício de acompanhamento da mudança. E a tarefa mais urgente é ensinar as pessoas como aprender. ” ( Drucker, Peter ; citação em “ Toyota Kata “ , 2010, pag. 163 ) O VALOR Conforme a M.E. é o cliente, e por extensão a sociedade, quem define o que é valor e qual o ritmo de produção necessário. O valor norteia o negócio desde seu principio. “ O papel principal de um desenvolvimento de produto eficiente é a criação de novos e lucrativos fluxos de valor para a organização.Isso se traduz em um objetivo em duas etapas : aferir o valor definido pelo cliente com máxima precisão e, a partir dessa avaliação, eliminar ou reduzir desperdícios que interfiram no desenvolvimento do produto que corresponda aquele valor.” ( Mogan, James; Liker, Jeffrey ; “ Sistema Toyota de Desenvolvimento de Produto”, 2008,p45 ). Através dos fluxos as empresas agregam valor ou geram desperdícios, portanto é essencial conhecer e desenhar os processos para enxergar e “separar o joio do trigo”, como por exemplo estoques intermediários ou falta de qualidade do produto. 3 Mas o valor atribuído pelos clientes assim como seu ritmo de consumo variam ao longo do tempo. Por isso a M.E. promove a flexibilidade baseada na “produção puxada”, ou seja, uma produção voltada à reposição do consumo, ao contrário da “produção empurrada” a qual resulta em estoques exagerados. Mas, assim como o processo de fornecimento de água doméstica que demanda tratamento e tempo além de reservatórios sequenciais para viabilizar consumo instantâneo a qualquer tempo, toda disponibilização de produto ou serviço pressupõe etapas anteriores que dificilmente conseguem reagir adequadamente. “ A esmagadora maioria dos produtos de que necessitamos como consumidores ainda é molecular. Nossos refrigerantes e carros precisam se mover através de várias etapas ao longo da corrente de provisão para chegar até nós, e ocorre que a localização das etapas no fluxo de provisão é muito importante se realmente esperamos obter o que queremos” ( Womack, Janes; Jones, Daniel ; “ Soluções Enxutas “ , 2006, pag. 92 ) Isso configura uma contradição entre a variabilidade do consumo e a desejada estabilidade do sistema produtivo. O consumo atual não se assemelha mais a um restaurante “a la carte” no qual o cliente pode aguardar seu pedido ser processado, nem tão pouco se restringe ao estilo de um restaurante por quilo, extremamente rápido e de baixo custo porém sem flexibilidade de cardápio. O cliente deseja variedade de produtos e serviços que aliem qualidade, prazo adequado e preço competitivo. Então como administrar a produção sem desperdícios, para minimizar custos e de acordo com o ritmo e característica do consumo? Isso demanda bem mais que equipamentos e métodos, exige constante aperfeiçoamento das pessoas pois apenas cumprir os padrões estabelecidos é insuficiente. A conciliação do conflito entre disciplina para seguir regras e criatividade para propor melhorias contínuas ( Kaizen ) ou radicais ( Kaikaku ) depende muito das competências, habilidades e atitudes dos envolvidos. “ Se quisermos atingir a melhoria, primeiro devemos ter flexibilidade mental para acreditar que, mesmo havendo um único fim, existem muitos caminhos que podemos percorrer até alcança-lo. Se pensarmos de modo inflexível que os métodos atuais são os melhores e que nenhum outro meio é possível, as ideias de melhoria nunca surgirão.”( Shingo, Shigeo; “ Kaizen e a arte do pensamento criativo”, 2007, pag. 99 ) 4 O PROCESSO Na M.E. aplica-se, normalmente, esforço razoável no mapeamento das atividades que compõem o processo de agregação de valor, o que é bom, porém a ansiedade para agir e se obter resultados induz propostas de mudança sem a devida identificação e avaliação do que é considerado desperdício. Qualquer alteração exige equilíbrio entre a razão dos dados apurados, a sensibilidade e experiência dos envolvidos, a criatividade para gerar diversas alternativas e a previsão de suas consequências. Infelizmente a ação, por ironia sufixo da palavra preparação, nos seduz muito mais e proporciona maior reconhecimento, incentivando assim a temerária mudança pela mudança. Alguns casos interessantes de “melhorias” podem ilustrar a importância de considerar os riscos envolvidos. Em 2008 a Ferrari, para conseguir alguns décimos de segundo no pit-stop na formula um, trocou o tradicional “pirulito” manual de sinalização por um painel com luzes controlado por joystick. Por conta de uma falha humana, absolutamente previsível, num pit-stop o piloto Felipe Massa perdeu a corrida de Singapura e o tempo supostamente economizado custou-lhe o que seria provavelmente o título da temporada. A BP (British Petroleum) em 2010, preocupada em cortar custos, teria adotado diversos procedimentos mais baratos e com menor segurança na perfuração de petróleo no golfo do México. Também não instalou o que seria o último recurso de emergência, chamado “gatilho acústico”, o qual poderia evitar vazamentos. Os eventuais milhões de dólares economizados são apenas gotas no oceano de prejuízo estimado em 37 bilhões, sem falar das consequências incalculáveis para o meio ambiente. Será que foi usado o critério de eliminar sistemas de segurança já que nunca haviam sido usados? Afinal, seria um air bag intacto um desperdício dispensável no automóvel? Geralmente somos treinados pelo processo educacional tradicional a resolver problemas propostos, cujo valor educativo é válido para conteúdos conhecidos, mas pode restringir a capacidade investigativa e geradora de novos conhecimentos. Na vida real os problemas, assim como suas causas, se escondem atrás de diversos sintomas por vezes díspares. Para se compreender e definir um problema são necessárias capacidades de observação, formulação de hipóteses, levantamento de evidências e elaboração de síntese. De acordo com Akio Matsubara, diretor 5 administrativo sênior da Toyota encarregado de recursos humanos em conferência no ano de 2004 no Japão: “ A filosofia da Toyota é essa: quando um funcionário resolve um problema, ele contribuiu para a política da organização,que, no fim, está ligada à satisfação do usuário. Nós introjetamos em nosso funcionário a ideia de que a aprendizagem ára solucionar problemas é exigência mínima absoluta para o sucesso da Toyota”( citação em “ Relatório Toyota”, 2008, pag. 92 ) A ATITUDE Uma das formas de aprendizado ocorre através da relação mentor-aprendiz, usada há milênios e adotada pela M.E. Dentro tantos exemplos pode-se citar o período das grandes navegações quando os marujos aprendiam seu ofício na prática diretamente com os comandantes que serviam de exemplo e inspiração. O premiado filme “ Mestre dos Mares” dirigido por Peter Weir em 2003 retrata com detalhes essa relação de aprendizado. Por melhores os procedimentos e padrões conhecidos, nem todos os mares e condições atmosféricas podiam ser previstas e, convenhamos, até hoje isso é válido seja nos oceanos assim como, metaforicamente, na economia. Para garantir a supremacia naval era fundamental manter viva a competência da tripulação. Assim qualquer tormenta poderia ser enfrentada de forma organizada e sem se abrir mão do destino, ou no caso de uma empresa, de sua visão e missão. Atualmente muitos líderes dedicados se abastecem de conhecimentos teóricos, definem objetivos e elaboram detalhadamente cada etapa do plano para implantar a M.E. com prazos e métricas , indicando as ferramentas a serem utilizadas. Acreditam eles que o rigor no cumprimento do planejamento é o fator determinante para se atingir a meta, entretanto negligenciam o desenvolvimento da capacidade do pessoal em entender problemas e criar soluções consistentes. “Ativos de conhecimento não são apenas o conhecimento já criado, como know-how, patentes, tecnologias ou marcas, mas também incluem o conhecimento para criar conhecimento, tais como a capacidade organizacional para inovar. Embora as opiniões atuais sobre ativos de conhecimento tendem a se concentrar no primeiro, porque eles são mais fáceis de medir e tratar, é o último que precisa de maior atenção, porque eles são a fonte de novos conhecimentos a serem criados, e, portanto, uma fonte do valor futuro da empresa.” ( tradução livre de citação : Ichijo, Kazuo and Nonaka, Ikujiro; Knowledge Creation and Management: New Challenges 6 for Managers, Oxford University Press, 2006, pag. 25, disponível em http://www- personal.umich.edu/~mrother/What_is_a_Kata.html.) A Toyota, conforme Mike Rother, busca se reinventar constantemente. Segue padrões e planos sim, mas admite que o percurso mais adequado para se chegar ao destino deve ser definido a cada remada por quem navega. O conceito do “Kata” , palavra japonesa que representa formas básicas de movimentos nas artes marciais, expressa na M.E. principalmente padrões de pensamento e comportamento. “ A excelência não é um ato, mas um hábito”, dizia Aristóteles. O foco deve ser o modo como as pessoas se portam diante das situações que encontram no caminho, como pensam cientificamente e criam procedimentos conjunturais para que a visão da empresa seja alcançada. Para isso é preciso ter exigentes professores, ou melhor, comandantes, mas que também compreendam as pessoas, fator fundamental para influencia-las. “ A tarefa básica dos gestores e líderes da Toyota não gira em torno do aprimoramento em si, mas em torno do aumento da capacidade de melhoria das pessoas. Essa capacidade, na visão da Toyota, é o que fortalece a empresa.Os gestores e líderes da Toyota desenvolvem as pessoas, as quais, por sua vez, melhoram os processos por intermédio do Kata de melhoria” ( Rother, Mike; “ Toyota Kata “ , 2010, pag. 163) Para construir o Kata do seu pessoal, os líderes deveriam estar junto, sempre que possível , quando da análise de problemas. Todos precisam desenvolver a capacidade de pensar e decidir, sem cair na tentação de adotar a solução surgida na pressa ou na submissão aos desejos dos superiores. Livros e aulas significam conhecimento, mas aplicá-los eficazmente é sabedoria. Mais do que ir ao “Gemba” ( local onde as coisas acontecem, onde o processo ocorre ) é preciso se dedicar ao pessoal, estar com a tripulação. Daí a importância do mentor que se dispõe a aprender e assim construir o aprendizado junto com o aprendiz. “ É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se 7 ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos.” ( Freire, Paulo ; “ Carta de Paulo Freire aos Professores “; 2001; disponível em http://www.scielo.br/scielo ) A LIÇÃO Aplicada mentora e aprendiz da M.E., a Toyota tem obtido sucesso no ramo automotivo, principalmente devido à combinação de conforto, economia e confiabilidade de seus produtos. Entretanto em 2010 sua lição de casa foi posta em dúvida. Centenas de acidentes, alguns com vítimas fatais, foram atribuídos a um defeito no acelerador de alguns modelos. A montadora fez um recall envolvendo milhões de autos em diversos países e seu presidente apresentou-se ao senado norte-americano. “ Na Toyota, acreditamos que a chave para fazer produtos de qualidade é desenvolver pessoas de qualidade. Cada funcionário pensa sobre o que deve fazer, desenvolvendo continuamente melhorias, e ao fazer isso, fabrica carros ainda melhores. Nós estamos engajados em desenvolver pessoas que compartilham e podem executar este valor fundamental. Há 50 anos começamos a vender carros nesse grande país, e há 25 anos iniciamos a produção aqui. E, nesse processo, temos sido capazes de compartilhar esse valor fundamental com as 200.000 pessoas envolvidas com as operações da Toyota, com as revendedores e fornecedores neste país. Isso é o que mais me orgulha. Segundo, eu gostaria de discutir o que causou os problemas de recall que estamos enfrentando agora. A Toyota, nos últimos anos, tem expandido seu negócio rapidamente. Francamente, temo que o ritmo de crescimento pode ter sido rápido demais. Eu gostaria de destacar aqui que as prioridades da Toyota tem sido tradicionalmente as seguintes: primeira, a segurança, segunda, qualidade e terceira, volume. Essas prioridades se tornaram confusas, e não fomos capazes de parar, pensar, e fazer melhorias, como fazíamos antes, e nossa postura básica para ouvir as vozes dos clientes e criar melhores produtos se enfraqueceu um pouco. Nós promovemos um crescimento numa velocidade superior a qual conseguimos desenvolver o nosso pessoal e a nossa organização, e devemos sinceramente estar conscientes disso. Lamento que isso tenha resultado nos problemas de segurança descritos nos recalls que enfrentamos agora, e sinto muito pelos acidentes que os clientes da Toyota sofreram.” ( tradução livre de trecho do pronunciamento de Akio Toyoda ao Congresso dos EUA em fevereiro de 2010 - http://www.guardian.co.uk/business/2010/feb/24/akio-toyoda-statement-tocongress ) A Toyota, como toda empresa, sofre pressões da concorrência desde sua fundação porém acreditava-se ter desenvolvido um “escudo mágico” chamado M.E., cuja eficácia poderia ficar abalada por causa desse recall. Porém ao se vislumbrar a diferença entre a utopia e a prática, entre o conceito e as ferramentas; reforça-se a valiosa, e por vezes esquecida, humildade para reconhecer desvios, aprender e retomar a busca da excelência. 8 Por outro lado, qualquer problema de qualidade não poderia ser completamente entendido sem considerar também o ambiente econômico no qual se originam as decisões técnicas. O estrangulamento dos lucros tem exigido a constante redução de custos, atitude coerente desde que seja resultado da eliminação de desperdícios. Isso explica em parte o interesse geral pela implantação da M.E. em diversos ramos de atividades. Entretanto a ambição pelo lucro, por vezes exagerada, tem contaminado as relações humanas e a qualidade de vida dos que tomam as decisões no dia a dia. As palavras do presidente da Toyota no congresso norteamericano, assim como os resultados positivos posteriores da empresa, indicam que o próprio aprimoramento da M.E. é um dos seus principais fundamentos . CONCLUSÃO Ainda que se possa argumentar ser a M.E. seja apenas uma forma de administrar a produção, assim como outras tantas na história, há de se considerar que não bastam métodos e disciplina para sua aplicação. A variabilidade do valor atribuído e do volume de consumo do cliente, exigem flexibilidade e confiabilidade extraordinárias dos processos produtivos, o que implica em aumento significativo de decisões ao longo do fluxo de agregação de valor. Essas decisões, em maior ou menor grau, são tomadas por cada vez mais pessoas visto a complexidade crescente dos produtos e serviços, pessoas essas que desejam sua própria prosperidade profissional e pessoal. Portanto há de se considerar a contribuição dos envolvidos e promover a respectiva recompensa. Caso a implantação da M.E. não ocorra num ambiente de respeito e gere benefícios aos clientes, investidores, funcionários e sociedade; sua sustentação torna-se inviável no longo prazo. Os fatos e reflexões apresentados mostram como os princípios da M.E. dependem do desenvolvimento completo das pessoas e por consequência da sociedade. A eventual usurpação da M.E., aplicada como se fosse um programa ou projeto, por vezes apenas para geração de lucro rápido, lembra a especulação financeira a qual resulta em ganhos pontuais, insustentáveis e geralmente danosos a muitos. A crise mundial de 2008 nos mostrou como atitudes inconsequentes podem devastar empresas e países, causando sacrifícios injustos para muitos. A eficácia, em 9 qualquer atividade, deve ser avaliada pela contínua, crescente e segura geração de valores e eliminação de desperdícios. Seja para sustentar a M.E. ou para a evolução da sociedade o alicerce é a educação. ABSTRACT Derived from the Toyota Production System the Lean Manufacturing (LM) has been enhanced since end of World War II as an alternative to the US mass production model. Based on traditional culture of simplicity, Japan faced the postwar situation implementing concepts to eliminate waste, improve flexibility and to add value to customer. During the following decades, LM was studied and implemented in companies around the world, often without the expected results. This paper promotes a discussion about some LM concepts under an educational point of view and intends to endorse the significance of developing people to think, learn and decide. Keywords : Lean Manufacturing, Kata, Kaizen, Education REFERÊNCIAS O MODELO TOYOTA – Liker, Jeffrey K. – Bookman – Porto Alegre – 2004 A MENTALIDADE ENXUTA NAS EMPRESAS – Womack, James ; Jones, Daniel – Elsevier Editora - Rio de Janeiro – 2004 FAZENDO ACONTECER A COISA CERTA – Dennis, Pascal – Lean Institute Brasil – São Paulo – 2007 KAIZEN E O PENSAMENTO CRIATIVO – Shingo, Shigeo – Bookman – Porto Alegre – 2010 SOLUÇÕES ENXUTAS – Womack, James P.; Jones, Daniel T.- Elsevier Editora – Rio de Janeiro – 2006 RELATÓRIO TOYOTA – Osono, Emi ; Shimizu, Norihiko; Takeuchi, Hirotaka – Ediouro – São Paulo – 2008 SISTEMA TOYOTA DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – Morgan, James M.; Liker, Jeffrey K. – Bookman – Porto Alegre – 2008 10 TOYOTA KATA – Rother, Mike – Bookman – Porto Alegre – 2010 O TALENTO TOYOTA : O MODELO TOYOTA APLICADO AO DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS – Liker, Jeffrey K.; Meier, David P. – Bookman – Porto Alegre - 2008 11