As construções pedagógicas e o cotidiano da escola: a experiência do estágio curricular XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Leduina Dutra Ferreira1, Julio Cesar Bresolin Marinho1, Ulrika Arns1 (orientador) 1 Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, Campus São Gabriel Introdução A formação do educador de Ciências Biológicas exige preparação, planejamento e acompanhamento. A formação ocorre em diferentes momentos, sendo um que um deles é a experiência dos estágios curriculares supervisionados. No Curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pampa, no componente curricular Estágio Supervisionado I, a proposta é de que o educando conheça o cotidiano escolar através de observações do funcionamento da escola de ensino fundamental, das práticas educativas realizadas pelas educadoras, bem como nas interações que são estabelecidas com a equipe diretiva, funcionários e educandos. Bolzan (2009, p.24) destaca que “Ao observarmos o modo como se desenrolam os processos de interação e de mediação na atividade cotidiana das professoras e dos alunos, podemos evidenciar mais do que o processo de ensinar e de aprender, na sala de aula, senão também compreender o processo de conhecimento pedagógico em um sentido mais amplo.” Em vista destes aspectos, o presente estudo tem como objetivo relatar as experiências vivenciadas por uma educadora em formação durante a realização do seu primeiro estágio realizado em uma escola de ensino fundamental da rede municipal de São Gabriel /RS. Metodologia As atividades realizaram-se em uma escola pública municipal de ensino fundamental do município de São Gabriel, durante o primeiro semestre do ano letivo de 2009. Os seguintes aspectos observados na escola serão apontados neste estudo: um relacionado com os recursos disponíveis e o outro com as práticas educativas de ciências nas duas 5ªs séries analisadas. Foram realizadas doze visitas semanais com carga horária de cinco h/aula cada, sendo XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1169 utilizado um diário de campo para coleta das informações. Após cada observação foi elaborado um relato sobre o que havia acontecido. Ao final do estágio os dados foram analisados e apresentados no relatório final. Resultados e Discussão A proposta da Comissão do Curso de Ciências Biológicas é de que os estágios obrigatórios do ensino fundamental ocorram em instituições públicas municipais. Inicialmente o futuro educador escolheu a escola de ensino fundamental para realização do seu estágio e em seguida iniciaram-se os encontros semanais. Nestes, buscou-se um maior conhecimento da estrutura física oferecida pela instituição de ensino e das práticas pedagógicas de ciências realizadas pela educadora da escola, nas 5ªs séries. Com isso, pode-se conhecer as relações que se estabeleceram entre educadora/educando e entre conhecimento/aprendizagem. Nessa experiência, alguns aspectos tornaram-se evidentes, e estes demonstraram estar relacionados com a formação oferecida pela escola para seus educandos e educadores. A estrutura física da escola é um exemplo. O número reduzido de salas de aula fazia com que as turmas concentrassem um grande número de educandos em espaços muito apertados, o que prejudicava o desenvolvimento das atividades, bem como o potencial de desenvolvimento das turmas. Esse aspecto pode ser demonstrado no relatório público do Plano de Ações Articuladas (PAR) de São Gabriel. No indicador Infra-Estrutura Física e Recursos Pedagógicos a pontuação do município não passou de dois em nenhum dos indicadores analisados. Isso demonstra que o município necessita receber ações imediatas de melhorias nessa área. A falta de educadores formados na área também prejudicava o desenvolvimento da disciplina de ciências. A educadora responsável pela disciplina nas duas 5ªs não possuía formação na área e sim em pedagogia. Esse fator mostrou-se prejudicial em situações onde os educandos faziam questionamentos durante a prática pedagógica. Outro aspecto percebido foi a diferença no tratamento que a educadora dava para cada uma das séries. O perfil de cada turma talvez influenciasse em suas atitudes. A turma 50, que era formada na sua maioria por alunos vindos da 4ª série, com idades compatíveis com a série, recebia um melhor tratamento que a turma 51, que era formada principalmente por alunos repetentes. Brandão (2006, p.42) em sua crítica da educação para todos destaca que “É importante que seja consagrada a ideia de que não apenas todas as crianças e adolescentes devem ser XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1170 educados qualitativamente da mesma maneira, como também, através da educação, os „menos favorecidos‟ devem conquistar condições de acesso ao trabalho e à vida social que, fora da escola, a sociedade oferece com sobras a uns e, com extrema avareza, a outros. Conclusão Para um futuro educador toda a informação obtida durante sua formação é válida. Em vista disso o estágio de observação trouxe muitas contribuições, no sentido de ampliar conceitos em relação ao ambiente escolar e, principalmente, reflexões sobre como proceder no estágio seguinte. No que se refere às práticas pedagógicas e a diferença de tratamento dada para cada 5ª série, percebeu-se a necessidade de criar metodologias diferentes, para as diferentes turmas. É fundamental que o educador saiba lidar com os diferentes perfis das turmas, pois todos os educandos merecem uma formação de qualidade. A falta de recursos chamou a atenção para a importância do relatório do PAR, pois este já diagnosticou os problemas existentes no município, e melhorias na infra-estrutura das escolas e na formação inicial e continuada dos educadores estão previstas. A grande lotação das turmas trouxe alguns questionamentos como: Como tornar uma única atividade interessante para todos os educandos da turma? Que postura assumir em relação aos educandos que se mostrarem indiferentes as atividades? Desafios a serem vencidos a partir do planejamento do próximo estágio, que se inicia com a reflexão da experiência passada. Ao final desta reflexão, pode-se dizer que o educador em formação segue a caminhada com muitas dúvidas, mas também algumas certezas: a de que educar não é uma tarefa fácil, e que com o seu trabalho focado no compromisso com a educação será possível mudar alguns padrões escolares ultrapassados, que não conseguem mais obter bons resultados. Referências BRANDÃO, C. R., O que é educação popular. São Paulo: Brasiliense. 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Ações Articuladas. Disponível em: http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php?system=indicador&ordem=7&inuid=226&itrid=2&es t=RS&mun=Sao%20Gabriel&municod=4318309&estuf=RS. Acesso em: 02 jun. 2010 BOLZAN, D. P. V., Formação de professores: Compartilhando e reconstruindo conhecimentos. 2 ed. Porto Alegre: Mediação. 2009. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1171