Convite Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? José Paulo Paes Poesia Poesia é um gênero literário caracterizado pela composição em versos estruturados de forma harmoniosa. É uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras. No sentido figurado, poesia é tudo aquilo que comove, que sensibiliza e desperta sentimentos. É qualquer forma de arte que inspira e encanta, que é sublime e bela. Existem determinados elementos formais que caracterizam um texto poético - como por exemplo, o ritmo, os versos e as estrofes - e que definem a métrica de uma poesia. Poema Poema é uma obra literária que pertence ao gênero da poesia, e cuja apresentação pode surgir em forma de versos, estrofes ou prosa, com a finalidade de manifestar sentimento e emoção. Um poema possui extensão variável e ao longo do texto expõe temas variados em que há enredo e ação, escritos através de uma linguagem que emociona e sensibiliza o leitor. Versos Em um poema, o verso corresponde a cada uma das linhas que o constituem. É o elemento que define a poesia, por oposição à prosa. Um conjunto de versos com sentido completo chama-se “estrofe”. Os versos dão ritmo, melodia e métrica a uma poesia. Eles podem ser medidos através de técnicas de metrificação e classificados quanto ao número de sílabas métricas (ou sílabas poéticas). As sílabas métricas são diferentes das sílabas gramaticais. Conceito de Rima Uma rima é a repetição de uma sequência de sons a partir da vogal da última sílaba tónica do verso. Quando a repetição inclui todos os fonemas a partir desse limite, trata-se de uma rima consonântica (também se diz rima consoante). Por sua vez, se a repetição apenas se verificar com as vogais a partir desse limite, estaremos perante uma rima vocálica (ou rima toante/assoante). O conceito de rima também permite fazer referência à composição em verso do género lírico, ao conjunto de versos (poemas) e ao conjunto dos sons consoantes ou assoantes usados numa composição (“Este livro apresenta uma rima bastante pobre”). Exemplos de rimas: E fico, pensativa, olhando o vago… Tomo a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim… E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim! (extraído de “Lágrimas Ocultas”, de Florbela Espanca) Estratégias de Escrita Infância Carlos Drummond de Andrade Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Velha infância Marisa Monte Você é assim: Um sonho pra mim E quando eu não te vejo, Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito. Eu gosto de você E gosto de ficar com você. Meu riso é tão feliz contigo. O meu melhor amigo é o meu amor. E a gente canta E a gente dança E a gente não se cansa De ser criança. A gente brinca Na nossa velha infância. Seus olhos, meu clarão, Me guiam dentro da escuridão. Seus pés me abrem o caminho; Eu sigo e nunca me sinto só. Você é assim: Um sonho pra mim; Quero te encher de beijos. Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito. Eu gosto de você E gosto de ficar com você. Meu riso é tão feliz contigo... O meu melhor amigo é o meu amor. E a gente canta E a gente dançar E a gente não se cansa De ser criança. A gente brinca Na nossa velha infância. Seus olhos, meu clarão, Me guiam dentro da escuridão. Seus pés me abrem um caminho; Eu sigo e nunca me sinto só. Você é assim: Um sonho pra mim. Você é assim... Você é assim: um sonho pra mim. Você é assim... Meus Oito Anos Casimiro de Abreu Oh! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais ! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais ! Como são belos os dias Do despontar da existência ! – Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é – lago sereno, O céu – um manto azulado, O mundo – um sonho dourado, A vida – um hino d’amor ! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar ! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh ! dias de minha infância! Oh ! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez de mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberta ao peito, – Pés descalços, braços nus Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo, E despertava a cantar! Oh ! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! – Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!