O que está por trás da redução da conta de luz? Uma avaliação do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro Solução apontada pelo Governo não resolve o problema TARIFA DE ENERGIA AUMENTA É REDUZIDA porque o preço é influenciado por uma lógica de mercado às custas de (a) subsídios públicos; (b) redução de receita das estatais. PROBLEMA ≠ SOLUÇÃO A decisão da redução... 1. Não foi negociada com as estatais do setor e nem com sindicatos e trabalhadores. 2. Não atua sobre a causa do problema que gerou a elevação do custo de energia elétrica nos últimos anos. 3. Transfere renda para o empresariado. 4. Está causando o desmonte das estatais do setor elétrico. 5. Deverá trazer impactos negativos para os trabalhadores do setor elétrico. 6. A redução não deverá se sustentar no médio prazo. A decisão da redução... (1) não foi negociada com as estatais do setor e nem com sindicatos e trabalhadores. Representa o distanciamento do atual governo em relação aos trabalhadores/sindicatos do setor elétrico, diferentemente do cenário anterior; Evidencia o descolamento entre o governo e os gestores das estatais, tendo sido observado o baixo poder de barganha destes. Medida concebida pelo Governo Federal com apoio de consultoria externa (PSR, Mário Veiga), do presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, e da Aneel. A decisão da redução... (2) não atua sobre a causa do problema que gerou a elevação do custo de energia elétrica nos últimos anos Não altera o modelo mercantil adotado no setor elétrico desde 1995 • As geradoras térmicas continuam tendo sua remuneração garantida, mesmo sem gerar energia; • Estatais (maioria das geradoras hidrelétricas) subsidiam custos das térmicas. Mantém o Mercado Livre de Energia • Contratos de curto/curtíssimo prazo não incentivam investimentos de longo prazo (ex.: geração hidrelétrica); • Apenas alguns consumidores têm acesso (grandes compradores e alta tensão); • Lógica oferta/demanda = tarifas mais elevadas em períodos de escassez de chuvas. Mantém metodologia tarifária da Aneel • Cálculo das tarifas tem forte componente indexadora (atrelado ao IGP-M) = pressão inflacionária e elevação constante da tarifa; • Metodologia pressiona por redução de custos das empresas = precarização, terceirização, dos acidentes de trabalho. Lucros das geradoras térmicas privadas Companhias com maior dividend yield* nos últimos cinco anos Dividend yield Empresa Setor médio Eletropaulo Energia elétrica 19,4% Brasmotor Eletrodomésticos 17,9% Whirlpool Eletrodomésticos 15,8% Celpe Energia elétrica 15,3% Elektro Energia elétrica 14,1% Coelce Energia elétrica 13,1% Taesa Energia elétrica 13,0% Eletrobrás Light Energia elétrica 13,0% (holding): Sondotecnica Construção 12,7% em torno Transmissão Paulista Energia elétrica 12,2% de 4,0% Cosern Energia elétrica 12,0% AES Tietê Energia elétrica 11,9% Fonte: Revista Exame, publicada em agosto de 2011 (*) i ndi ca o va l or dos di vi dendos por a çã o di vi di do pel o preço da a çã o A decisão da redução... (3) Transfere renda para o empresariado Trabalhadores do Setor Elétrico População Empresários Redução na tarifa será maior para o setor eletrointensivo eletrointensivos alumínio siderurgia ferroligas papel celulose petroquímica Fonte: Redução do custo de energia elétrica - MME, 11 de setembro de 2012. Peso da energia elétrica nos custos dos setores industriais, em 2010 0% G ases Indústriais C loro e A lcalis A lum ínio Ferro-Ligas M etalurgia M adeira Texteis M in. N ão m etálicos E xtrativas C elulose e papel B orracha e P lásticos Q uim icos P rod. M etal Im pressão e gravação M óveis C ouro, calçados D iversos B ebidas A lim entos V estuário M áquinas E létricas V eículos M aquinas e E quip. O utros transportes Farm aceutica Fum o M anutenção M aquinas Inform ática e eletrõnica D eriv. P etróleo e B iocom b. 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% Fonte: Pesquisa Industrial Anual do IBGE (2010) Elaboração: Roberto D´Araújo O setor eletrointensivo a) setor que exporta grande parte da sua produção. Portanto, a redução gera subsídios para a indústria estrangeira; b) gera baixo valor agregado ao produto; c) gera poucos e mal remunerados postos de trabalho (baixa relação entre nº empregos/GWh consumidos na produção); d) Grande pressão sobre recursos naturais e alto potencial poluente. POR QUE ESSE SEGMENTO É TÃO PRIVILEGIADO? É ESSA A INDÚSTRIA QUE QUEREMOS PARA O BRASIL? Impactos nas estatais do Setor Elétrico: O ajuste nas despesas com PESSOAL será feito, dentre outros, por um enxugamento no quadro de trabalhadores, sem a perspectiva de reposição das vagas. É o Plano de Desligamento Voluntário (PID) da Eletrobrás. Com isso, a perda de memória técnica incorporada nas empresas trará reflexos na sua capacidade operacional – projeção, construção, operação e manutenção das instalações. Impactos nas estatais do Setor Elétrico: Áreas técnicas de projetos serão reduzidas ou desmontadas (ex. Pró-Furnas), transformando as empresas em gestoras de ativos e prospectoras de novos investimentos – passarão a ser escritórios de negócios? Serão mantidos os investimentos em pesquisa e novas tecnologias? • Cepel? • Centro tecnológico de Engenharia Civil de Furnas, em Aparecida de Goiânia-GO ? Centro de referência mundial no controle de qualidade de materiais e obras de construção civil e de barragens e o maior laboratório do centro-oeste brasileiro na área de Concreto e Solos. Impactos nas estatais do Setor Elétrico: Risco de privatização: distribuidoras federalizadas podem ser vendidas como forma de capitalização do Grupo Eletrobrás (segundo declaração de Costa Neto ao Valor Econômico). Novos investimentos já estão sendo feitos por meio de SPEs. Na prática, todos os novos são empreendimentos são privados, com a participação das estatais. Como vem ocorrendo a expansão do setor SEB: Financiamentos do BNDES, em R$ bilhões correntes, 2004-2011 Fonte: BNDES Projetos hidrelétricos aprovados no BNDES 2004-2011 Impactos patrimoniais – Eletrobrás, 2012 Em milhões de Reais Antes da Lei Geração Imobilizado (*) Ativo financeiro Indenizações a receber Contratos onerosos Transmissão Ativo financeiro Indenizações a receber Contratos onerosos Distribuição Ativo financeiro Contratos onerosos Total do ativo líquido (*) Inclui ativos administrativos consolidados. Fonte: Demonstrações Financeiras - Eletrobrás, 2012 Depois da Lei Variação 60.592 (1.692) 47.407 1.484 6.153 (3.283) -22% 100% 100% 94% 29.373 - 19.624 8.284 (1.491) -33% 100% 100% 4.237 (131) 92.379 4.596 (131) 82.643 8% 0% -11% A decisão da redução... (5) deverá trazer impactos negativos para os trabalhadores do setor elétrico Redução do número de empregos: a) Plano de Demissão Voluntária sem reposição das vagas; b) Terceirização da atividade fim (veto da presidência à Emenda 72); c) Precarização do trabalho com o aumento da terceirização; Redução dos benefícios conquistados pelos trabalhadores. Impacto sobre o fundo de pensão, com nº menor de contribuintes na ativa. A decisão da redução... volta A decisão da redução... (6) não deverá se sustentar no médio prazo. Dificilmente a redução da tarifa será mantida, já que as causas da elevação não foram alteradas e o esforço fiscal do Governo não poderá ser de longo prazo. Tesouro aporta R$ 8,46 bilhões/ano E a posição do empresariado... FIESP “Essa redução nas tarifas é resultado direto de uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A campanha sensibilizou o governo federal, que em setembro criou uma Medida Provisória (579/12) analisada e aprovada em dezembro pelo Congresso Nacional.” Confederação Nacional da Indústria – CNI “O custo da eletricidade para o setor diminuiu 5% ante igual período do ano passado. Na comparação com o último trimestre de 2012, a queda é maior e chega a 11,7%. O recuo verificado pela CNI fica significativamente abaixo dos valores anunciados por Dilma”. Setor industrial eleva preços e recupera margem de lucro “Com a maior alta nos preços das mercadorias manufaturadas em cerca de quatro anos, a indústria começou 2013 recuperando margem de lucro. Os custos do setor continuaram desacelerando e fecharam com expansão de 5,8% no primeiro trimestre do ano em relação a igual período de 2012. No lado da inflação dos produtos, o aumento foi de 7,6% na mesma comparação, portanto, superior ao das despesas.” Fonte: Jornal Valor Econômico, 07/06/2013