CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL VÍTOR DE-LAZZARI BICALHO PROJETOS APLICADOS E INTERDISCIPLINARIDADE NA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA: Práticas de docentes do Instituto UNA de Tecnologia Belo Horizonte 2014 VITOR DE-LAZZARI BICALHO PROJETOS APLICADOS E INTERDISCIPLINARIDADE NA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA: Práticas de docentes do Instituto UNA de Tecnologia Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Educação Desenvolvimento Local. e Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lucília Regina de Souza Machado Belo Horizonte 2014 2 B583p Bicalho, Vítor De-Lazzari Projetos aplicados e interdisciplinaridade na graduação tecnológica: práticas de docentes do Instituto UNA de Tecnologia. / Vítor De-Lazzari Bicalho. – 2014. 139f.: il. Orientador: Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Curso do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f. 110-115. 1. Ensino profissional. 2. Interdisciplinaridade. 3. Método de projeto no ensino. 4. Currículos integrados. I. Machado, Lucília Regina de Souza. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658.114.8 Ficha catalográfica produzida pela Biblioteca UNA Campus Guajajaras. 3 Dedico esta dissertação aos meus colegas, professores da disciplina Projeto Aplicado, pelo grande incentivo e expectativas quanto ao seu resultado final. Espero não decepcioná-los. Ao compartilhar o que aprendi ao realizá-la, faço-o na esperança de contribuir para a maior valorização dos cursos superiores de tecnologia. À Professora Lucília Machado, uma das grandes intelectuais da educação profissional e tecnológica do Brasil e que, ao orientar-me nesta investigação, provocou-me orgulho e admiração, mas, principalmente, o reconhecimento do valor da humildade, da dedicação e da reflexão constantes. Obrigado! 4 AGRADECIMENTOS Antes de qualquer outro, agradeço à minha orientadora, Profa. Lucília Regina de Souza Machado, pela imensa dedicação e paciência, capacidade de ensinar, incansável disponibilidade; mais do que uma profissional, um exemplo. Aos docentes do PPG em GSEDL do Centro Universitário UNA, em especial ao Prof. Cláudio Márcio Magalhães, Profa. Raquel Garcia Gonçalves, Profa. Eloisa Helena Santos e Profa. Adilene Gonçalves Quaresma, pelo convívio prazeroso e pelos conhecimentos socializados. Aos colegas do Grupo de Pesquisa “A Questão Pedagógica na Educação Profissional”, pela oportunidade do compartilhamento e aprendizado. Aos colegas do mestrado, em especial Cátia Pontes, Michelle Alves e Ana Paula Rodrigues, pelo convívio e por compartilhar angústias, inseguranças e, principalmente, estímulos. Aos colegas da Unatec, em especial à professora Simone Carsalade, grande precursora e incentivadora das práticas interdisciplinares e da educação profissional e tecnológica. À professora Maurília Cássia, diretora do Campus Barreiro, pela autorização para a realização dessa pesquisa. Aos professores da disciplina Projeto Aplicado que disponibilizaram seu tempo para responder à pesquisa e que, como eu, estão esperançosos de ver seus resultados servirem ao aperfeiçoamento da prática pedagógica na Unatec. Da mesma forma, não posso deixar de agradecer o incentivo dos professores Gerson Prando e Marisa Nobre, do Centro Universitário UNIMONTE, pelas palavras de carinho e incentivo constantes. À professora Inês Barreto e ao prof. Ricardo Cançado, pela amizade e exemplo de profissionais apaixonados pela educação. À professora Fernanda Wasner, pelo carinho em momentos tão difíceis, com palavras de fé e esperança. Aos funcionários da biblioteca e da secretaria, à Prof. Gilmara Machado, o meu muito obrigado pela forma carinhosa de atenderem minhas solicitações. 5 É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática. Paulo Freire 6 RESUMO Como forma de garantir a prática da interdisciplinaridade, foi inserida a disciplina Projeto Aplicado em todos os módulos da matriz curricular dos cursos de graduação tecnológica do Instituto UNA de Tecnologia – Unatec. Os projetos aplicados interdisciplinares devem estar diretamente relacionados ao eixo tecnológico do curso e também à certificação intermediária que cada módulo possibilita aos alunos. Eles envolvem atividades de pesquisa e de intervenção de interesse empresarial, social, cultural, artístico, ambiental, extrapolando os limites da sala de aula e da instituição de ensino, o que estimula parcerias com o setor produtivo, órgãos governamentais e a comunidade em geral. As ações didático-pedagógicas de docentes na aplicação do princípio pedagógico da interdisciplinaridade nessa disciplina constituem o objeto de estudo deste projeto de pesquisa. Esta é a questão central que ela buscará responder: Como os professores da disciplina Projeto Aplicado (PA) do Instituto Una de Tecnologia vêm interpretando, nas suas ações didático-pedagógicas, a determinação de colocar em prática o princípio da interdisciplinaridade? O primeiro capítulo desta dissertação recupera paradigmas didáticos que têm norteado a educação profissional e tecnológica no Brasil e, entre eles, a pedagogia de projetos e a prática interdisciplinar. O segundo capítulo apresenta, na forma de um artigo, o resultado da pesquisa sobre as ações didático-pedagógicas dos docentes de PA na Unatec. O terceiro capítulo apresenta uma contribuição técnica à efetivação da interdisciplinaridade na instituição. A pesquisa realizada contemplou, assim, revisão teórica, investigação qualitativa e descritiva com base em entrevistas e análises de conteúdo, e a elaboração de um guia didático visando ao aperfeiçoamento das ações didático-pedagógicas na disciplina de PA na Unatec. Palavras-chave: Projetos Aplicados. Interdisciplinaridade. Prática Docente. Metodologia de Projetos. Desenvolvimento Local. 7 ABSTRACT To guarantee the practice of interdisciplinarity , was inserted discipline Applied Project in all modules of curriculum of undergraduate technology courses at UNA Institute of Technology - Unatec . The interdisciplinary applied projects must be directly related to technological hub of the course and also the intermediate certification that each module affords students . They involve research and intervention business , social, cultural , artistic, environmental interest , beyond the limits of the classroom and teaching institution , which encourages partnerships with the productive sector , government agencies and the wider community activities . The didactic- pedagogic actions of teachers in applying the principle of interdisciplinary teaching this discipline are the subject of this research project . This is the central question we seek to answer it : As teachers of the course Applied Project ( BP) of Una Institute of Technology have interpreted in their didactic and pedagogical actions determination to put into practice the principle of interdisciplinarity ? The first chapter of this dissertation retrieves educational paradigms that have guided the vocational and technological education in Brazil and, among them , the pedagogy of projects and interdisciplinary practice . The second chapter presents , in the form of an article , the result of research on teaching and pedagogical actions of teachers in PA Unatec . The third chapter presents a technical contribution to the realization of interdisciplinarity in the institution . The survey thus included theoretical , qualitative and descriptive research review based on interviews and content analysis , and development of an educational guide aimed at improving the teaching and pedagogical actions in the discipline of PA in Unatec . Keywords: Applied projects. Interdisciplinarity. Teaching practice. Design methodology. Local development 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico I – Evolução do número total de matrículas (presenciais e a distância) por grau acadêmico, 2001-2010 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CBO Classificação Brasileira de Ocupações CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica CFE Conselho Federal de Educação CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura CNE Conselho Nacional de Educação FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais IEL Instituto Euvaldo Lodi LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação PA Projeto Aplicado PDI Projeto Desenvolvimento Institucional PPC Projeto Pedagógico de Curso PPI Projeto Político Institucional SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SESC Serviço Social do Comércio SESI Serviço Social da Indústria SEST Serviço Social de Transportes SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UNATEC Instituto UNA de Tecnologia 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 2 PARADIGMAS PEDAGÓGICOS QUE PERMEIAM A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA 8 2.1 Assistencialismo e educação compensatória 9 2.2 O viés mercadológico e a teoria do capital humano 11 2.3 Taylorismo-fordismo e tecnicismo 15 2.4 O modelo das competências 26 2.5 Positivismo, pragmatismo e utilitarismo 30 2.6 O princípio educativo da pesquisa e a pedagogia de projetos 35 2.7 Interdisciplinaridade pedagógica 43 2.8 A pedagogia histórico-crítica 47 2.9 Considerações finais 53 3 O PRINCÍPIO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA DE PROFESSORES DA DISCIPLINA PROJETO APLICADO DO INSTITUTO UNA DE TECNOLOGIA 54 4 CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA: INTERDISCIPLINARIDADE E PROJETO APLICADO 74 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 99 6 REFERÊNCIAS 107 7 APÊNDICES 114 Roteiro de Entrevista 114 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 115 Termo de Autorização para Coleta de Dados 117 11 Termo de Autorização de Uso de Imagem e Depoimentos 118 8 ANEXOS 119 ANEXO 1 - Resolução 123/2012 - do Manual de Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado 119 ANEXO 2 - Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa 135 12 1 INTRODUÇÃO O interesse pela educação profissional foi despertado no autor desta dissertação quando teve início seu trabalho como gestor de uma escola de ensino técnico do sistema SENAI.1 Esse interesse tornou-se ainda mais aguçado quando passou a ser professor, coordenador e, posteriormente, em 2004, diretor do Instituto UNA de Tecnologia (Unatec). Ao introduzir-se no campo da educação profissional, pôde saber que esta foi iniciada de forma institucionalizada em 1909, no governo do Presidente Nilo Peçanha, quando da implantação das Escolas de Aprendizes e Artífices em diversas capitais dos estados brasileiros. Entretanto, ao longo de seu percurso, essa modalidade de educação vem sendo alvo de preconceito pelos que a entendem como destino das camadas da população menos favorecidas economicamente. Atualmente, cursos superiores de tecnologia também integram a educação profissional e tecnológica brasileira. Eles têm sido pejorativamente chamados de cursos de curta duração, inclusive por instituições que os oferecem. Passase a ideia equivocada de que carga horária menor representa qualidade educacional duvidosa. Com isso, sobrevém o desmerecimento da formação do profissional egresso desses cursos. Entretanto os cursos superiores de tecnologia vêm ganhando a cada dia mais espaço nas instituições educacionais, especialmente nas de iniciativa privada. Os números do Censo da Educação Superior demonstram esse crescimento. O Censo de 2010 ratifica o crescimento do número de matriculados nos Cursos Superiores de Tecnologia: em 2001 as matrículas nessa modalidade de educação não passavam de 69.797, enquanto em 2010 esse número chega a 781.609 matriculados, ou seja, um crescimento de dez vezes no período. Pode1 Escola de Líderes do sistema FIEMG que, à época de 2000-2003, promovia, pelo SENAI, a formação de técnicos em Gestão de Negócios. 1 se observar ainda que as matrículas em Cursos Superiores de Tecnologia correspondiam a 2,3% das matrículas em cursos superiores, chegando, em 2010, a 12,3% dos alunos matriculados. Gráfico 1 - Evolução do Número Total de Matrículas (presencial e a distância) por Grau Acadêmico – Brasil – 2001‐2010 Fonte: MEC/Inep Os Cursos Superiores de Tecnologia vêm também ganhando a adesão de muitos que pretendem conseguir uma qualificada inserção nos setores produtivos ou fortalecer a possibilidade de permanência nos empregos. Além de conferir diplomação em menor tempo, oferecem certificações intermediárias e apresentam maior abertura ao saber que o ingressante traz de sua experiência profissional. Com isso, a inserção no mundo do trabalho se faz de forma mais rápida. Ainda quando gestor da Escola de Líderes do SENAI, o autor desta pesquisa teve seus primeiros contatos com um currículo que buscava valorizar uma maior integração dos conteúdos curriculares, tornando o ambiente de aprendizagem mais envolvente e desafiador. As disciplinas de cada módulo eram integradas por uma disciplina eixo que tinha, além desse objetivo, a tarefa de realizar a articulação dessas com as práticas da gestão empresarial. Essa disciplina eixo buscava, assim, explorar a relação entre conteúdos teóricos, 2 saberes da prática e a interdisciplinaridade, levando os alunos a entenderem que a dicotomia teoria e prática e a fragmentação disciplinar não existem no mundo real. Na UNATEC, o caminho encontrado para enfrentar esses dois desafios foi a criação da disciplina Projeto Aplicado, que busca, conforme sua concepção original, o envolvimento direto ou indireto de diversos profissionais que podem colaborar com as suas atividades didático-pedagógicas. Mediante a Resolução nº 100/2008 do Conselho de Ensino e Extensão do Centro Universitário Una, foram estabelecidas as normas para a implantação da disciplina, concebida como Projeto Interdisciplinar Aplicado, extensiva a todos os Cursos Superiores de Graduação Tecnológica da instituição. Por essa Resolução, foi também aprovado o Manual do Projeto Aplicado. Segundo esse manual, O Projeto Aplicado é uma ação institucional da UNATEC, presente em todos os seus currículos, que realiza a prática formativa de projetos de trabalho, dentro da concepção interdisciplinar e da aprendizagem significativa. Os alunos desenvolvem, em todos os módulos do curso, projetos interdisciplinares que abrangem atividades de pesquisa e de intervenção de interesse empresarial, social, cultural, artístico, ambiental, extrapolando os limites da sala de aula e do Centro Universitário, o que estimula parcerias com o setor produtivo, órgãos governamentais e a comunidade em geral (UNATEC, 2008, p. 3). A implantação da disciplina de Projeto Aplicado busca materializar os conceitos da metodologia de projetos e tem como propósito propiciar ao aluno um ambiente de aprendizagem envolvente, desafiador, participativo, no qual são desenvolvidos projetos de ensino e aprendizagem, permitindo-lhes participar da tomada de decisões sob a orientação do professor. A interdisciplinaridade, segundo Azevedo e Andrade (2007, p. 259), tem como proposta promover uma nova forma de trabalhar o conhecimento, na qual haja interação entre sujeitos-sociedade e conhecimentos na relação professoraluno, professor-professor e aluno-aluno, de maneira que o ambiente escolar seja dinâmico e vivo e os conteúdos e/ou temas geradores sejam problematizados e discutidos juntamente com as outras disciplinas. 3 Desde que se iniciou no trabalho com a educação profissional, o autor desta dissertação vem percebendo que os alunos, no processo de desenvolvimento de um projeto, têm a oportunidade de organizar seus conhecimentos, identificando o que sabem e o que não sabem, levantando dúvidas e hipóteses ante a temática a abordada. Da mesma forma, tem percebido que essa metodologia leva o aluno a tornar-se capaz e consciente para organizar seu próprio aprendizado. Entre os inúmeros modelos pedagógicos existentes, a pedagogia por projetos tem atraído o interesse de educadores como uma possibilidade de atender às demandas educacionais de uma sociedade em constante transformação e ansiosa pela formação de pessoas capazes de realizar inovações tecnológicas e sociais. Barbosa (2008) destaca que a pedagogia de projetos surgiu no início do século XX, nos Estados Unidos da América, a partir de estudos de John Dewey2 e William Kilpatrick3 sobre a “Pedagogia Ativa” com o nome de “Método de Projetos”. Para Dewey, a educação era o único meio para a construção de uma sociedade que respeitasse o indivíduo dentro de seu contexto sócio-histórico e cultural. Nesse sentido, a pedagogia de projetos foi por eles apresentada como o caminho para evitar a fragmentação do ensino, o tratamento dos conteúdos de forma desconexa, a repetição e o autoritarismo, tendo em vista a realização da aprendizagem efetiva dos alunos (DEWEY, 1922 apud HERNÁNDEZ, 1998). Para os professores que utilizam essa metodologia, o mais importante não é que o aluno acumule informações de forma mnemônica, mas que aprenda a pensar, a organizar-se em grupo e gerenciar o trabalho que está 2 John Dewey, filósofo, psicólogo e pedagogo liberal norte-americano, exerceu forte influência sobre toda a pedagogia contemporânea. Ele foi o defensor da “Escola Ativa”, que propunha a aprendizagem do aluno através da atividade pessoal. 3 William Kilpatrick (1871-1965), professor de Educação da Universidade de Columbia em Nova York, foi o iniciador da reflexão sobre o trabalho de projeto como método educativo. Em 1919, levou para a sala de aula algumas concepções de Dewey. Esse método de ensino tinha como objetivo trabalhar com os alunos as possibilidades de desenvolver o espírito de pesquisa, envolvendo a utilização de várias disciplinas ao mesmo tempo. Trata-se de um método ativo, que permitiria a contextualização e a significação dele próprio. 4 desenvolvendo. O mais importante é que ele saiba relacionar o que está aprendendo com que está acontecendo no mundo do trabalho e, da mesma forma, se torne autônomo, capaz de atuar de forma efetiva como autor da construção de uma nova realidade. O desafio para o professor que, confortavelmente, desenvolvia sua ação pedagógica tal como havia sido preparado durante a sua vida acadêmica e pela sua experiência em sala de aula é se ver diante de uma situação que implica novas aprendizagens e mudanças na prática pedagógica. Mas qual prática pedagógica desenvolver? Para Fazenda (1979, p. 48-49), a introdução da interdisciplinaridade implica simultaneamente uma transformação profunda da pedagogia, um novo tipo de formação de professores e um novo jeito de ensinar: Passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de um é a posição de todos. Nesses termos, o professor passa a ser atuante, crítico, animador por excelência. Entretanto, segundo Azevedo e Andrade (2007, p.257), na prática da sala de aula, os professores formadores não conseguem estabelecer ambientes de ensino e aprendizagem interdisciplinares, mesmo que a matriz curricular e as atividades de ensino propiciem aberturas para que isso aconteça de fato. O professor, na perspectiva da interdisciplinaridade, segundo Tomazetti (1998), não é um mero repassador de conhecimentos, mas é um reconstrutor destes juntamente com seus alunos. Logo, o professor é um pesquisador que possibilita aos alunos também a prática da pesquisa. A problematização como metodologia para a reconstrução de construtos dá condições ao aluno de mover-se no âmbito das teorias, das diferentes áreas do saber, construindo a teia de relações que vai torná-lo autônomo diante da autoridade do saber. O professor pesquisador constitui-se, portanto, em agente necessário de uma formação calçada na interdisciplinaridade. (TOMAZETTI, 1998, p. 13 apud AZEVEDO; ANDRADE, 2007, p. 257). 5 Azevedo e Andrade (2007, p. 257) afirmam que se percebe o aumento da responsabilidade do professor à medida que ele deve abrir mão do seu paradigma de processo de ensino-aprendizagem, arraigado durante anos, para adotar uma nova postura frente aos novos desafios exigidos por uma sociedade em transformação. De todo modo, o professor precisa tornar-se um profissional com visão integrada da realidade, compreender que um entendimento mais profundo de sua área de formação não é suficiente para dar conta de todo o processo de ensino. Ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações conceituais que sua área de formação estabelece com as outras ciências. É importante destacar que os termos aprendizagem significativa e interdisciplinaridade estão presentes em documentos normativos institucionais do Centro Universitário UNA (Projeto Político Institucional – PPI – e Projeto de Desenvolvimento Institucional - PDI) e ainda nos Projetos Pedagógicos de Curso – PPC. Contudo correntemente são tratados com pouca profundidade por coordenadores e professores, correndo o risco, como afirma Hernández (1998), de serem interpretados com base em senso comum e de não merecerem cuidados metodológicos. Na UNATEC a disciplina Projeto Aplicado cumpre o papel de realizar a integração dos conteúdos de cada módulo. Pressupõe-se que os professores dessa disciplina tenham experiência profissional compatível com o eixo de formação do módulo curricular, de maneira a atuar de forma adequada na construção da interação entre as disciplinas do módulo e, ainda, entre tais disciplinas e a vida profissional. Espera-se, também, que os professores dessa disciplina tenham perfil de pesquisador e dominem os conteúdos e métodos relacionados à pesquisa científica, de modo a motivar e promover a efetiva aprendizagem dos alunos. De maneira intuitiva e espontânea, os professores, coordenadores e alunos afirmam que a disciplina Projeto Aplicado contribui muito para a formação dos alunos dos cursos superiores de tecnologia do Instituto UNATEC. Entretanto não existe nenhuma pesquisa sobre como as ações didático-pedagógicas 6 nessa disciplina estão buscando cumprir seu papel de integração dos saberes disciplinares e destes com os da prática profissional. Mais especificamente, se tais ações didático-pedagógicas têm buscado apoio na metodologia de projetos, ou ainda quais as necessidades que professores dessa disciplina têm para o cumprimento das expectativas que devem atender. No mundo considerado globalizado, numa sociedade da informação, o professor com o objetivo maior de promover condições para a aprendizagem do educando não pode mais ser o único detentor de saberes com objetivo de transmitir conhecimentos. É preciso ser capaz de orientar, mediar, buscando a construção de um saber coletivo. Dessa forma, a relevância do tema dessa dissertação está associada às exigências da contemporaneidade, que impõe ao docente a atitude de oferecer ao aluno novas condições que permitam sua formação como cidadãos críticos, participativos e reflexivos. Centralmente, a pesquisa guiou-se pela seguinte pergunta: Como os professores da disciplina Projeto Aplicado do Instituto Una de Tecnologia vêm interpretando nas suas ações didático-pedagógicas a determinação de colocar em prática o princípio da interdisciplinaridade? A investigação realizada demandou, inicialmente, o estudo dos paradigmas pedagógicos que têm orientado o desenvolvimento da educação profissional e tecnológica no Brasil. Para tanto, foi realizada uma revisão teórica, da qual se ocupou o primeiro capítulo. No terceiro capítulo, são apresentados, na forma de um artigo, os resultados da pesquisa realizada junto a professores da disciplina de Projeto Aplicado da Unatec com relação à aplicação do princípio da interdisciplinaridade em suas práticas didático-pedagógicas. O terceiro e último capítulo apresenta a contribuição técnica derivada da investigação realizada, um guia didático sobre projetos aplicados e interdisciplinaridade, com o propósito de contribuir com o aperfeiçoamento das práticas discentes na instituição. 7 2 PARADIGMAS PEDAGÓGICOS QUE PERMEIAM A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA Busca-se, neste capítulo, analisar paradigmas pedagógicos que permeiam a educação profissional e tecnológica brasileira e que alimentam o debate pedagógico nacional e contemporâneo sobre essa modalidade educacional. A educação profissional no Brasil inicia-se logo após a inauguração da República, quando ainda predominavam, embora não formalmente, elementos da ordem escravocrata. Com um padrão econômico agrário e engatinhando para a industrialização, o país buscava se desenvolver, a exemplo de outros países do eixo norte. Com um recorte assistencialista e compensatório em seu início, a educação profissional e tecnológica chegou, nos dias atuais, a uma grande expansão e diversificação. A incorporação de avanços tecnológicos aos processos produtivos pautou dois novos desafios para essa modalidade educacional: cumprir finalidades de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e formar profissionais que, além de conhecerem e dominarem tecnologias avançadas, sejam também capazes de agir em ambientes em constante mudança, comprometidos com valores sociais e de forma crítica com relação à realidade em que se acham envolvidos. Esses desafios remetem à necessidade de inovar nas ações didático-pedagógicas, compreendendo conteúdos curriculares, métodos e processos de ensino-aprendizagem. Precisa promover mudanças nas relações pedagógicas, hábitos discentes e docentes e espaços de aprendizagem intra e extramuros escolares, além de firmar compromissos institucionais com projetos socioeconômicos e ambientais de desenvolvimento sustentável. Para tanto, requer que o desenvolvimento de autonomias e a construção de intersubjetividades se pautem em superação das fragmentações de conteúdos, (re)construção de conhecimentos e em trabalhos em equipe. 8 2.1 Assistencialismo e educação compensatória A educação profissional no Brasil surgiu como opção de ensino para as camadas sociais menos favorecidas da população - os “pobres e desvalidos de fortuna” - e como forma de controle social. Surgiu, assim, com um viés assistencialista, caracterizado por ações paliativas que visavam apenas mitigar os efeitos da desigualdade social, compensar de alguma forma dificuldades que camadas sociais menos favorecidas encontravam para sua inclusão no mundo do trabalho e, consequentemente, no mercado de consumo. Surgiu como controle social, como política de prevenção dos efeitos sociais, políticos e econômicos potencialmente provocados pelas privações vividas pelos pobres, sem qualquer compromisso de ir à raiz de tais problemas, de alterar a estrutura social promotora das desigualdades sociais. Segundo Scheibe, Kreutz e Noronha (1984), o movimento da educação compensatória teve origem nos Estados Unidos em meados do século XIX, logo após o final da Guerra Civil e com o início da urbanização. Com o crescimento das cidades em razão da migração crescente da população do campo, reformistas se preocuparam com o atendimento a crianças pobres e com a promoção social. Kramer (1982) explica que a educação compensatória marca um momento histórico da educação pré-escolar nos Estados Unidos, a “era de salvação da criança”, pois se acreditava que todos os problemas sociais poderiam ser resolvidos por meio do acolhimento à criança pequena, pelo resgate das crianças de um meio pernicioso e sua recuperação para uma vida sadia. Sheibe, Kreutz e Noronha (1984, p. 84) destacam que a educação, nessa perspectiva, é vista como “instrumento adequado para a correção das injustiças sociais” e se traduz em “reformas que não têm o propósito de alterar as estruturas sociais”. Segundo Kramer (1982), almeja-se neutralizar os efeitos sociais decorrentes da existência de populações pobres e vistas como ignorantes, como um obstáculo ao desenvolvimento econômico. 9 4 Desenvolveu-se, segundo Bernstein uma enorme máquina burocrática de pesquisa financiada por fundações particulares, pelos tesouros dos diversos Estados ou pelo Tesouro Nacional. A partir destas pesquisas, novas categorias educativas foram desenvolvidas: os culturalmente desfavorecidos, os linguisticamente deficientes, os socialmente prejudicados, e, consequentemente, foi introduzida a educação compensatória como forma de mudar a condição dessas crianças (SCHEIBE; KREUTZ; NORONHA, 1984, p. 57). Esses autores (1984) explicam que, nos primeiros anos da década de 1960, a educação compensatória ganha nova ênfase e surgem as teorias sociológicas da privação cultural, que buscam interpretar o fracasso das crianças como deficiência do desenvolvimento cognitivo e afetivo devido à falta de estimulação do meio em que elas vivem, ou seja, fora dos padrões esperados socialmente padrões da criança da classe média bem-sucedida. No Brasil, o modelo de educação compensatória já se faz presente na educação profissional desde seus primórdios, mas é desenvolvido tardiamente para a educação geral e vem com um sentido pedagógico bem demarcado politicamente. Como a maioria da população brasileira se apresenta com os déficits advindos de diversas privações, esse viés se aplicou de forma bem ampla. A partir dos anos de 1970, segundo Sheibe, Kreutz e Noronha (1984), descobriu-se que a educação compensatória poderia colaborar com propostas de soluções para os problemas que se manifestavam no ensino do então primeiro grau, tais como evasão, repetência e baixo nível de aproveitamento. Tais referências ganharam campo na educação profissional e tecnológica brasileira, que, desde seus primórdios, tem sido entendida como o destino de escolarização das camadas da população menos favorecidas economicamente. Ela surgiu como recurso das classes dominantes para a contenção de frustrações e possíveis ações antissociais da população carente em busca de melhores condições de vida e de trabalho (BRASIL, 2009). Foram, assim, 4 Os autores se referem ao texto de B. Bernstein, Uma crítica ao conceito de educação compensatória, publicado como capítulo do livro Democratização do ensino: meta ou mito?, organizado por Zaia Brandão, edição de 1979, da editora Francisco Alves. 10 criadas as escolas de aprendizes e artífices, em 23 de setembro de 1909, para prover as classes proletárias de meios que garantissem a sua sobrevivência: Com o falecimento de Afonso Pena, em julho de 1909, Nilo Peçanha assume a Presidência do Brasil e assina, em 23 de setembro de 1909, o Decreto nº 7.566, criando, inicialmente em diferentes unidades federativas, sob a jurisdição do Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, dezenove “Escolas de Aprendizes Artífices”, destinadas ao ensino profissional, primário e gratuito (BRASIL, 2009). Essas instituições nasceram sob o signo de política de caráter moralizante, assistencialista e de contenção social, e com essas perspectivas vieram também desempenhar papel relevante no processo de industrialização e desenvolvimento econômico do país. 2.2 O viés mercadológico e a teoria do capital humano Na educação, esse viés ocorre quando ela é transformada de bem público e direito de cidadania a bem privado ou mercantil, por se tornar uma moeda de troca ou uma mercadoria como outra qualquer. Como produto destinado a ser trocado no processo de compra e venda, no capitalismo a educação revela que guarda em si não somente valor de uso, mas o valor que possibilita a valorização do capital. A transformação da educação em mercadoria faz com que sua oferta e gestão sejam orientadas pela lógica competitiva dos mecanismos, interesses e forças do mercado; leva à constituição de um mercado específico para o qual são empreendidos planos estratégicos e de marketing voltados para a sua comercialização. Esse processo faz da educação um campo de disputa e colabora para desqualificar a educação pública. Segundo Machado (1982, p. 104), “com a finalidade de investigar as condições de maximização dos lucros decorrentes do investimento na educação e de contribuir na fundamentação da educação como mecanismo justificador da desigualdade social”, surge a Teoria do Capital Humano, inspirada na teoria estrutural-funcionalista da educação. 11 Segundo a autora, na teoria estrutural-funcionalista, a educação é considerada como um processo amplo que exerce função relevante na regulamentação e na incorporação das normas sociais, fundamentais para corroborar o comportamento individual esperado pela sociedade. Para tanto, a escola deve investir no condicionamento dos indivíduos para o acatamento das normas sociais, socializando-os. Nesses termos, a socialização educacional e escolar significa concorrerem para o processo de interiorização de estruturas de ação desejadas pela sociedade, ajustando comportamentos de indivíduos e grupos às tradições e heranças sociais. Machado (1982) esclarece que a escola é uma das agências socializadoras, além de outras como a família, a igreja e os meios de comunicação de massa. Segundo a autora, a educação deve, então, desempenhar dois papéis fundamentais: primeiro, criar condições para que os indivíduos aprendam a exercer um papel socialmente adequado, uma função especial no organismo social, daí a necessidade e importância do aprendizado de uma profissão; e, em segundo lugar, controlar a aquisição de hábitos e práticas que assegurem a estabilidade social (MACHADO, 1982, p. 98). Conforme o estrutural-funcionalismo, a sociedade não existiria sem que houvesse certa homogeneidade dos seus membros, e caberia à educação perpetuar e reforçar esse requisito, servindo à interdependência entre os indivíduos e a sociedade mediante a participação de cada um na divisão social do trabalho. Essa teoria confere grande ênfase aos papéis sociais e à divisão do trabalho, cabendo à educação a função de preparar os indivíduos para essa participação. Para Durkheim, segundo Machado (1982), em uma sociedade, não é possível nem é recomendado que todos se dediquem ao mesmo gênero de vida, mas, segundo aptidões pessoais, grupos de pessoas exercem diferentes funções. Também deve-se sempre distinguir os indivíduos aos quais cabe a reflexão daqueles que são encarregados de agir. Machado esclarece que Durkheim concebe a divisão do trabalho, intelectual e manual, como um processo natural e a-histórico, originado das diferentes habilidades e motivações individuais, 12 cabendo à educação desenvolvê-las de forma que as pessoas se ajustem adequadamente ao seu papel social. Contrapondo-se a Durkheim, a autora questiona a divisão do trabalho intelectual/manual como fruto de relações sociais de produção determinadas historicamente. Decorrente dessa premissa, a educação escolar corroboraria a reprodução e manutenção dessa divisão, constituindo-se ora como um dos mecanismos de justificação da desigualdade social, ora como instrumento ou canal para a mobilidade social ascendente legitimada. Segundo a autora, A importância atribuída a esse canal seria tão grande, de forma a conferir-lhe um caráter messiânico. Esse messianismo se justificaria não só pela eficiência do remédio para os problemas relativos à mobilidade social, como também pelas possibilidades de aplicação a uma ampla variedade de distúrbios: ela (a educação) é imprescindível à elevação do nível de vida das populações, pois concorre para o aumento do poder aquisitivo, ampliação dos mercados, progresso técnico e científico, treinamento em serviço, aperfeiçoamento dos padrões de consumo, realização de invenções, inovação tecnológica e incremento do desejo renovador (MACHADO, 1982, p. 103). Machado (1982) diz que T. Schultz5, em seu livro O Capital Humano, afirma que o pensamento econômico tem negligenciado duas classes de investimentos fundamentais: o que precisa ser feito no homem e o que precisa ser aplicado à pesquisa. Justifica a primeira pela importância das capacidades adquiridas pelos indivíduos para a promoção de ganhos de produtividade. Segundo Schultz, esses gastos com aperfeiçoamento dos chamados recursos humanos não poderiam ser considerados apenas como consumo, mas, sobretudo, como investimento, cujos retornos viriam em forma de benefícios aos indivíduos e à sociedade. Partindo dessa premissa, Schultz defende, 5 Theodore William Schultz (Arlington, 30 de Abril de 1902 — 26 de Fevereiro de 1998) é economista americano e Prêmio de Ciências Econômicas por seu trabalho sobre o desenvolvimento econômico centrado na economia agrícola. Introduziu a ideia de "capital educacional" relacionando-o especificamente aos investimentos em educação. Construiu a base da Teoria do Capital Humano, posteriormente desenvolvida por Gary Becker, e inspirou um grande número de trabalhos sobre o desenvolvimento nos anos 1980, motivando investimentos no ensino técnico e vocacional pelas instituições financeiras do Sistema Bretton Woods como o FMI e o Banco Mundial. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_teoria_%20do_capital_human o.htm 13 segundo Machado (1982, p. 107), a revisão e ampliação do conceito tradicional de capital para absorver a realidade do capital humano. Machado (1982, p. 107) informa que Schultz define esse tipo de capital como aquele que consiste em entidades que têm a prioridade econômica de prestar serviços futuros de um valor determinado. Esse conceito não deve ser confundido com o de capital como uma entidade fungível. Ao classificar-se o capital que presta serviços futuros, é conveniente começar com uma dicotomia, a saber, a do capital humano e não humano. Nenhuma dessas duas classes de capital é homogênea; ao contrário, cada qual, na verdade, consiste em muitas formas diferentes de capital e cada qual é, por conseguinte, extremamente heterogênea. Não obstante a distinção entre capital humano e não humano é real e analiticamente fundamental (SCHULTZ, 1973, p. 7 apud MACHADO, 1982, p. 107). A autora informa que Schultz entende que o capital humano é inerente ao homem, é parte dele: seria humano por ser configurado pelo homem e capital porque ser fonte de satisfações futuras ou de futuros rendimentos. Ele considerava o capital humano como um ativo não negociável, na medida em que não pode ser vendido e só pode ser adquirido por intermédio do investimento no próprio indivíduo. A pessoa e o capital humano seriam, assim, para esse autor, indissociáveis, ou seja, ele entendia que não se pode separar o homem do capital que ele possui. Segundo Machado (1982), Schultz transformou todos os trabalhadores em supostos capitalistas e justificou desta forma: Os trabalhadores transformaram-se em capitalistas, não pela difusão da propriedade das ações da empresa, como o folclore colocaria a questão, mas pela aquisição de conhecimentos e de capacidades que possuem valor econômico. Esse conhecimento e essa capacidade são em grande parte o produto de investimento e, combinados com outros investimentos humanos, são responsáveis predominantemente pela superioridade produtiva dos países tecnicamente avançados (SCHULTZ, 1973, p. 35 apud MACHADO, 1982, p. 108). A autora esclarece que o conceito de capital humano deriva do conceito marginalista de capital utilizado pelos adeptos da escola da utilidade marginal 14 ou neoclássicos. Estes se basearam na seguinte premissa: o que dá valor a qualquer mercadoria não é o trabalho em si, mas a utilidade desse trabalho. No Brasil, o viés mercadológico e a teoria do capital humano têm sido utilizados para justificar os investimentos em educação da população em geral e na educação profissional, em particular. Ou seja, não porque seriam um bem público e direito de cidadania, mas pelas suas vantagens de bem privado ou mercantil. Mas Machado levanta, no seu livro de 1982, uma questão fundamental e ainda extremamente pertinente para os dias de hoje: Como exigir do sistema educacional uma qualificação de ótimo nível, se a tendência observada é a da gradativa parcelização do saber, a divisão cada vez mais acentuada entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, produzida pela acumulação capitalista? (MACHADO, 1982, p. 119). 2.3 Taylorismo-fordismo e tecnicismo Os princípios tayloristas e fordistas de organização da produção se pautam pelo recurso à acentuada fragmentação e especialização de tarefas e pelo controle hierárquico como estratégias de promoção do aumento da produtividade. O tecnicismo pedagógico também confere ênfase à organização racional dos meios. Para Azevedo (2007), a organização da escola, tal como conhecemos e convivemos, imita e reproduz de forma acrítica os padrões de organização da produção e do trabalho do modelo taylorista-fordista. Organizada a partir desse paradigma, a instituição escolar reproduz no seu cotidiano um trabalho fragmentado, disciplinar, com tempos pré-estabelecidos em que cada um desempenha suas tarefas isoladamente. As “comunicações” são verticalizadas, reproduzindo-se em procedimentos e comportamentos ritualizados e automatizados. As práticas repetitivas e sem significados atrofiam a criatividade e colocam educadores e educandos em uma camisa de força face ao dilema da adaptação ou da exclusão. Dessa forma, educadores e educandos são submetidos a uma maratona em que tudo tem que acontecer em determinados dias letivos, como na esteira fabril, produzindo em série, trabalhando com conteúdos isolados, “conhecimentos” fragmentados, formando uma visão parcial, 15 unilateral do mundo, impedindo o conhecimento e a percepção das relações, dos princípios que permitem a visão universal e globalizadora da realidade como totalidade (AZEVEDO, 2007, p. 3). Esse modelo de organização escolar, associado a pressupostos tecnicistas e positivistas, vem pautando os currículos na educação brasileira, em especial na educação profissional e tecnológica, resultando em abordagens disciplinares e processos de ensino-aprendizagem fragmentados. Segundo Azevedo (2007), o tecnicismo como concepção educacional é um produto histórico, que teve suas origens na expansão da atividade industrial e na subordinação dos objetivos educacionais aos objetivos da produção. Assim, segundo esse autor, as primeiras elaborações teóricas sobre currículo foram no intuito de estabelecer sentidos práticos da relação entre a educação escolar e a produção fabril. Azevedo (2007) esclarece que Bobbitt6 é um marco no surgimento dos primeiros estudos e teorias do currículo, cuja visão de eficiência do ensino se ligava à incorporação e desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários ao trabalho produtivo. O autor também esclarece que ainda hoje tal conceito de currículo é dominante nas escolas brasileiras, mas a sua associação com a organização fabril clássica é encoberta, pouco explicitada, tornando obscura a sua origem. É preciso ficar expresso que o parâmetro organizacional da escola é a organização científica do trabalho, o “management”, os processos de “training”, de origem anglo-saxônica, desenvolvida desde o início do século passado nas fábricas, no exército, com o propósito de superaproveitamento da energia humana na produção da eficácia, da rentabilidade, do controle social, da padronização e do controle dos grupos humanos. (AZEVEDO, 2007, p. 4) 6 John Franklin Bobbit, professor universitário norte-americano, nascido em 1876, foi um pioneiro nos estudos sobre currículo, realizando-os na perspectiva da valorização dos resultados em termos de eficiência na preparação dos alunos para o exercício de suas funções na nova sociedade industrial. Entendia que a educação deveria oferecer a cada classe de indivíduo um currículo que fosse apenas o suficiente ao exercício de suas respectivas e futuras funções produtivas. Nesse sentido, deveria variar conforme o gênero, pois meninas teriam um futuro muito diferente com relação aos meninos. 16 De fato, a teoria de administração criada por Taylor e Fayol no final do século XIX e princípio do século XX buscava a racionalização dos processos produtivos, tendo em vista a sua maior eficiência. Segundo Kuenzer e Machado (1982), [...] os trabalhadores, até então independentes, nos primórdios do capitalismo industrial são contratados por tarefas, trazendo inúmeros problemas de produção: desperdícios de matéria prima, padrões qualitativos diferentes, tecnologia artesanal, produção quantitativamente desigual, horários de trabalho estabelecidos diferentemente por trabalhador segundo suas próprias necessidades. Consequentemente a produtividade não atingia os níveis esperados (KUENZER; MACHADO, 1984, p. 31). Devido às demandas crescentes de aumento da produção capitalista, surge a necessidade de intervir na sua organização e sistematização, de forma a mudar esse quadro e alcançar padrões mais altos de produtividade. Segundo Kuenzer e Machado (1982), a busca pela racionalização dos processos produtivos mediante nova organização do trabalho levou Taylor a parcelá-los e a separar o poder de decisão da execução das tarefas. Com isso, a ocupação da maioria dos postos de trabalho não exigiria mais que baixos níveis de qualificação da força de trabalho. As autoras esclarecem ainda que, em decorrência da fragmentação e do empobrecimento do conteúdo do trabalho, que passa a ser mais automatizado e menos interessante ao trabalhador, advém a necessidade imediata por parte da gerência de maior controle e supervisão, de forma a assegurar que as atividades pudessem seguir tal como previamente planejado. No Brasil, a inspiração taylorista-fordista fez-se presente na organização educacional, particularmente naqueles campos mais diretamente envolvidos com a formação da força de trabalho. Kuenzer e Machado (1982) chamam a atenção para o fim da década de 1960, quando, por conta do aumento da demanda educacional pela sociedade, ocorrem a expansão e o crescimento da complexidade do sistema de ensino, requerendo sistemas de controle mais efetivo, os quais vieram atender também ao sistema político vigente na época interessado em despolitizar a educação. 17 O viés taylorista-fordista inspira um modelo pedagógico fortemente centrado nos meios que possibilitam o exercício do controle e da direção pela administração escolar, impondo rígida programação das atividades acadêmicas. Segundo Luckesi (1994), nesse modelo a escola funciona como modeladora do comportamento por meio de técnicas específicas. Ao sistema-escola compete a organização da aquisição de conhecimentos específicos, úteis e necessários à integração acrítica dos sujeitos aos esquemas do setor produtivo. O autor afirma: É privilegiado no ensino o conhecimento observável e mensurável, advindo da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. Os métodos utilizados são os procedimentos e técnicas necessários ao arranjo e controle do ambiente da aprendizagem a fim de que seja assegurada a transmissão/recepção das informações. A atividade de descoberta é função da educação, mas deve ser restrita aos especialistas, sendo sua aplicação de competência do processo educacional comum (LUCKESI, 1994, p.3) Para ele, a tecnologia do ensino programado vem influenciando a formação de profissionais da educação e o modelo escolar. A escola se revestiu de uma grande autossuficiência, reconhecida por ela e por toda a comunidade atingida, criando assim a falsa ideia de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia; o professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder a respostas esperadas pela escola para ter êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve implementar (LUCKESI, 1994, p.4). A década de 1970, identificada pelo chamado milagre brasileiro como modelo de desenvolvimento econômico e tecnológico, trouxe, especificamente para o sistema educacional, a disseminação do “tecnicismo educacional”, ancorado em teorias behavioristas e sistêmicas de aprendizagem. Galvêas (2013) afirma que práticas educacionais assumiram um caráter altamente burocrático, com controle absoluto do professor, currículo pouco 18 flexível, proposta educacional exageradamente rígida, conteudista e planejada nos mínimos detalhes, com acentuada utilização de tecnologias e foco na especialização. Segundo Galvêas (2013), nessa abordagem nem o professor nem o aluno são elementos centrais do processo de ensino-aprendizagem; o que de fato é valorizado são os meios, o uso da tecnologia. Em razão disso, do professor se requer basicamente que seja apenas o transmissor do conhecimento técnico, que siga um planejamento minuciosamente detalhado. Ele passa a ser visto como um especialista na leitura e interpretação de manuais, alguém que deve submeter sua criatividade aos limites estreitos da técnica prescrita. Do aluno se requer que reaja aos estímulos de forma a replicar as respostas esperadas pela escola, que se ajuste ao ritmo imposto pelo processo de ensino, que siga o conteúdo de forma pragmática e os cronogramas estabelecidos. A escola organizada nesses padrões reproduz em sua rotina processos de trabalho fragmentadores e disciplinadores, que priorizam a individualização da aprendizagem e as avaliações por resultados. A formação integral do indivíduo como fator fundamental do fortalecimento de sua força de trabalho e do exercício crítico da cidadania, condições fundamentais para a construção de uma sociedade livre e justa, bem como a efetivação dos direitos sociais e a promoção do desenvolvimento local não são contemplados. Até a década de setenta, predominou o modelo de estruturação empresarial fortemente hierarquizada, departamentalizada, centralizadora do controle das operações. Segundo Rago e Moreira (1987), o processo de produção, visando sempre o aumento da produtividade, era rigidamente padronizado, bem como o controle de matéria prima e dos fornecedores. A divisão de tarefas em atividades elementares objetivava o controle fabril, a diminuição da incidência de erros e facilitar as atividades de treinamento da força de trabalho. Num contexto de 19 forte prescrição do trabalho, a produção é estimulada principalmente por incentivos financeiros. Lembra Hirata (1992) que a década de 1970 é marcada pela crescente concorrência internacional, fazendo com que o processo de globalização se tornasse mais acirrado. Esse novo cenário fez com que as organizações adotassem novos modelos de gestão que garantissem a sua permanência no mercado cada vez mais competitivo. Assim, começou-se a buscar novos padrões, novos modelos de organizações, para fazer frente a esses emergentes desafios de competitividade. A autora esclarece que esse acirramento da concorrência, que chegou tardiamente ao Brasil, na década de 1990, entrou em crise devido a fatores como a saturação do mercado com bens duráveis, perda do poder aquisitivo, entrada de novos concorrentes e a formação de blocos regionais. Segundo Kuenzer (1998), as profundas modificações que têm ocorrido no mundo do trabalho trazem novos desafios para a educação. Para ela, o capitalismo vive um novo padrão de acumulação decorrente da globalização da economia e da reestruturação produtiva, que, por sua vez, determina novas formas de relação entre o Estado e a sociedade. O mercado globalizado faz novas e constantes exigências em termos de qualidade e produtividade. O modelo taylorista-fordista, que até a década de 1970 regia os processos produtivos, não se mostra condizente com essas demandas. Um novo paradigma tecnológico apoiado na utilização da microeletrônica e na flexibilidade e agilidade dos processos produtivos requer outra concepção de gestão e de formação dos trabalhadores. Empresários buscam, então, competitividade por meio de novas formas de ganhos de produtividade decorrentes da flexibilização da produção, na tentativa de adequar o aparelho produtivo às exigências de um mercado de muita produção e pouco consumo, numa concorrência não só nacional, mas principalmente internacional. Para isso, é preciso contar com a capacidade de inovar em produtos e processos. 20 Kuenzer (1998, p. 2) esclarece: Estabelecem-se novas relações entre trabalho, ciência e cultura, a partir das quais constitui-se historicamente um novo princípio educativo, ou seja, um novo projeto pedagógico através do qual a sociedade pretende formar os intelectuais/trabalhadores, os cidadãos/produtores para atender às novas demandas postas pela globalização da economia e pela reestruturação produtiva. O velho princípio educativo, decorrente da base técnica da produção taylorista/fordista, vai sendo substituído por um outro projeto pedagógico determinado pelas mudanças ocorridas no trabalho. Segundo a autora, perde centralidade a estrutura organizacional do modelo anterior, assim estabelecido: A organização da produção em linha expressa o princípio taylorista da divisão do processo produtivo em pequenas partes em que os tempos e movimentos são padronizados e rigorosamente controlados por inspetores de qualidade, e as ações de planejamento são separadas da produção (KUENZER, 1998, p. 3). Com isso, o que se exigia dos operários consistia, sobretudo, na capacidade de memorização e repetição de determinada sequência de produção prescrita pela hierarquia, ainda que o contexto do trabalho real lhes solicitasse burlar tal norma. O taylorismo-fordismo teria, assim, requerido e sedimentado determinada educação: A pedagogia, em decorrência, propõe conteúdos que, fragmentados, organizam-se em sequências rígidas; tendo por meta a uniformidade de respostas para procedimentos padronizados, separa os tempos de aprender teoricamente e de repetir procedimentos práticos e exerce rigorosamente o controle externo sobre o aluno. Essa pedagogia responde adequadamente às demandas do mundo do trabalho e da vida social, que se regem pelos mesmos parâmetros das certezas e dos comportamentos que foram definidos ao longo do tempo como aceitáveis (KUENZER, 1998, p.15). Trata-se, segundo a autora, de uma pedagogia que fragmenta o trabalho pedagógico, que tem por substrato uma sociedade dividida em classes sociais. Dois tipos de escola, cada qual em conformidade com a origem e a classe social do aluno e com sua destinação em relação ao mundo do trabalho, expressariam essa divisão. No plano dos conteúdos, materializa-se a cisão do 21 conhecimento, sua organização disciplinar e seu engessamento em “grades curriculares”: A fragmentação curricular, que divide o conhecimento em áreas e disciplinas trabalhadas de forma isolada, que passam a ser tratadas como se fossem autônomas entre si e da prática social concreta, a partir da pretensa divisão da consciência sobre a ação, a partir do que a teoria se supõe separada da prática; a expressão desta fragmentação é a grade curricular, que distribui as diferentes disciplinas com suas cargas horárias por séries e turmas de forma aleatória, supondo que a unidade rompida se recupere como consequência "natural" das práticas curriculares, ficando por conta do aluno a reconstituição das relações que se estabelecem entre os diversos conteúdos disciplinares (KUENZER, 1998, p. 3). Segundo a autora, também a formação dos professores é parcelada por módulos, ciclos, séries; fragmenta-se em temas e disciplinas e em grupos de especialidades. Contratados, de maneira geral, por horas de trabalho ou por tarefas, os docentes não se sentem pertencentes à instituição em que trabalham e tendem a demonstrar maior identidade com sua área de formação do que com aquela. O trabalho pedagógico, assim fragmentado, respondeu, e continua respondendo ao longo dos anos, às demandas de disciplinamento do mundo do trabalho capitalista organizado e gerido segundo os princípios do taylorismo/fordismo, em três dimensões: técnico, político e comportamental (KUENZER, 1998, p. 4). Mas mudanças sobrevieram no setor produtivo em decorrência dos novos padrões de competitividade, que pedem outros métodos de trabalho e a incorporação da ciência e da tecnologia. A descoberta de novos princípios científicos permite a criação de novos materiais e equipamentos; os processos de trabalho de base rígida vão sendo substituídos pelos de base flexível; a eletromecânica, com suas alternativas de solução bem definidas, vai cedendo lugar à microeletrônica, que assegura amplo espectro de soluções possíveis, desde que a ciência e a tecnologia, antes incorporadas aos equipamentos, passem a ser domínio dos trabalhadores; os sistemas de comunicação interligam o mundo da produção (KUENZER, 1998, p. 5). O modelo das linhas de produção idealizado por Henry Ford cede espaço para as células de produção; a supervisão funcional dá lugar à gestão matricial ou 22 por processos. Solicita-se que o próprio operador, além de executar a tarefa, também controle a qualidade da sua produção. A referência vem do Japão, o modelo toyotista de gestão. Nas décadas de 1970/80, um novo vocabulário aparece. Dentre outros, surgem os termos kanban, kaizen, just-in-time e siglas como CQC (Control Quality Circles) e TQC (Total Quality Control). Segundo Machado (1992), esse momento marca a transição de uma sociedade industrial para uma sociedade tecnizada: A sociedade tecnizada não é somente a sociedade industrial mais desenvolvida. Trata-se de algo novo, que não modifica a essência do modo de produção capitalista, mas lhe traz novos contornos. Não se trata de um movimento evolucionista, com meras alterações quantitativas. As inovações introduzem mudanças qualitativas que atingem os métodos de produção (MACHADO, 1992, p. 13). Segundo ela, o desenvolvimento da sociedade tecnizada é policêntrico e se manifesta em todos os níveis da sociedade, tem caráter difuso e acelerado graças a inovações rápidas e constantes e à velocidade com a qual fluem as informações permitidas pelas novas tecnologias de comunicação. São movimentos que, segundo a autora, incidem substancialmente sobre processos produtivos e o desenvolvimento e aplicação do conhecimento. “ As possibilidades de aplicação da microeletrônica criaram novas oportunidades para o processo de automação, com consequências bastante significativas para alteração do mundo do trabalho.” (MACHADO, 1995, p.14) Machado explica que a incorporação da microeletrônica aos processos produtivos fez com que os equipamentos se tornassem mais leves e flexíveis, podendo ser planejados de diferentes modos e em consonância com imediatas demandas do mercado. Tais alterações trouxeram implicações para o perfil da força de trabalho, exigindo do trabalhador características pessoais antes não exigidas, entre as quais a flexibilidade: [...] a adoção de novas tecnologias e das novas formas de trabalho levariam a uma elevação da qualificação média da força de trabalho, muito aquém, entretanto, se for considerado o patamar das conquistas obtidas pela humanidade no campo do conhecimento científico e tecnológico. Por outro lado, dado o caráter restritivo, capital-intensivo, heterogêneo e não coetâneo desse processo de inovações, apenas um pequeno grupo apresentaria o perfil qualificado, restando no outro pólo, um enorme contingente de 23 trabalhadores “descartáveis” e desqualificados (MACHADO, 1998, p. 16). No caso do Brasil e dos países em desenvolvimento, haveria ainda a vulnerabilidade gerada pela rápida obsolescência dessas tecnologias, em geral importadas dos países centrais. Trata-se também de um desenvolvimento tardio e desigual da economia capitalista brasileira. Apesar disso, ganham espaço novos requerimentos de qualificação do trabalhador nacional: habilidades cognitivas e psicossociais para dar conta da organização flexível do trabalho, capacidade de comunicação (inclusive por meio de língua estrangeira), de relacionar-se e trabalhar em equipe, de autonomia, de resolver problemas imprevistos, ética, disposição para enfrentar desafios. Esse novo trabalhador deve se comprometer com seu trabalho. Kuenzer também indica que esse processo de elevação dos requisitos de qualificação é polarizado com o surgimento de uma categoria de profissionais qualificados, que se contrapõe ao grande número de trabalhadores precariamente educados. É o que diz também Machado (1998, p. 18): Do lado do trabalho, dois pólos marcam sua presença de forma elucidativa e ao mesmo tempo desconcertante pela significativa diferença de situação e perspectivas, que ao final culminam, por vias diferentes, num mesmo processo de exploração e alienação. A autora adverte que um proletariado tradicional, de nível educacional e salarial baixo, desqualificado, se faz presente em grande parte do mundo do trabalho, do qual não se ausentaram totalmente os princípios tayloristas de organização do trabalho. E que mesmo aqueles com nível educacional e salarial mais alto padecem da alienação do trabalho gerada pelas relações sociais comandadas pelo fetiche da mercadoria. Não se pode entender qualificação como simplesmente conhecimento e utilização de técnicas mais avançadas. Como bem expressa Garay (s/d, p. 15): Conceituar qualificação não é tarefa fácil, na medida em que este termo pode expressar diferentes preocupações com o fenômeno e diferentes bases teóricas que precisam ser levadas em consideração. Duas "faces" desse fenômeno já foram mencionadas acima, qualificação como resultado de um processo de trabalho (espaço de 24 relações sociais) e como saúde (expressão de sentimentos, vivências). Assim, o tecnicismo pedagógico e a razão instrumental podem ainda ter garantido seu espaço na educação se os sujeitos do processo de ensinoaprendizagem não ocupam posição central, se deles se requer adaptação em nome da neutralidade científica, da “objetividade”, da operacionalidade do processo educativo, da lógica sistêmica, da obediência a padrões pedagógicos previamente estabelecidos. Os baixos resultados do sistema escolar e os altos índices de evasão e repetência dos alunos não foram afastados da realidade educacional brasileira. A pedagogia tecnicista inspirada na chamada administração “científica”, no paradigma positivista7, nos princípios da psicologia behaviorista8 está ainda presente nas práticas pedagógicas da maioria das escolas do país. Para Saviani (2008, p. 383), tal pedagogia preconiza: a operacionalização dos objetivos, de modo a garantir a eficiência do processo educativo; a ênfase à utilização de recursos audiovisuais no ensino e o desenvolvimento de componentes de instrução programada; a avaliação somativa e periódica (visando a verificar/mensurar o atingimento dos objetivos previamente elaborados); a separação entre os que planejam e os que executam o trabalho educativo, com a consequente fragmentação do processo pedagógico; o planejamento e o controle do processo educativo pelos técnicos da educação/especialistas, de modo a assegurar a produtividade do processo. 7 Em um sentido mais amplo, um tanto vago, o termo "positivismo" designa várias doutrinas filosóficas do séc. XIX, como as de Stuart *Mill, *Spencer, *Mach e outros, que se caracterizam pela valorização de um método empirista e quantitativo, pela defesa da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, pela hostilidade em relação ao *idealismo, e pela consideração das ciências empírico-formais como paradigmas de cientificidade e modelos para as demais ciências. Contemporaneamente muitas doutrinas filosóficas e científicas são consideradas "positivistas" por guardarem algumas dessas características, tendo este termo adquirido uma conotação negativa nesta aplicação. (Dicionário Básico de Filosofia, disponível em: http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/filosofia/index11.html ) 8 Método da psicologia experimental que consiste em fazer um estudo científico do homem e do animal, limitando-se à investigação de seus comportamentos (conjunto das reações sensoriais. nervosas, musculares e glandulares determinadas por um estímulo) como resposta a um estímulo externo, sem nenhuma referência à consciência. Em outras palavras, trata-se de um método que consiste essencialmente em observar estímulos e comportamentos e em extrair daí as leis que os reúnem. (Dicionário Básico de Filosofia, disponível em: http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/filosofia/index11.html ) 25 Segundo Marques (2012, s/p), [...] pode-se dizer que o elemento central da pedagogia tecnicista era a organização racional dos meios, sendo que o planejamento era o centro do processo pedagógico elaborado pelos especialistas. O professor e os alunos eram relegados a posições secundárias; não se valorizava a relação professor-aluno, pois o aluno devia se relacionar com a tecnologia. Essa abordagem deu ênfase à reprodução do conhecimento, valorizando o treinamento e a repetição para garantir a assimilação dos conteúdos. O problema da educação era, fundamentalmente, um problema de método. Para Kuenzer e Machado (1982), tal pedagogia, fundamentada na abordagem sistêmica da educação, confere aos especialistas educacionais a prerrogativa da elaboração dos procedimentos e objetivos da educação em detrimento da valorização do trabalho do professor; desconsidera as diferenças de classe entre os estudantes supondo que os meios técnicos sejam a chave para compensar defasagens; entende que são as técnicas que determinam os fins educacionais; dá crédito apenas a resultados educacionais mensuráveis e previstos pelo planejamento. Enfim, busca ocultar as relações entre educação e sociedade. 2.4 O modelo das competências Nos anos de 1990, comprometidos com as grandes corporações multinacionais e com sistema capitalista, [...] organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BIRD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), passam a ter o papel de tutorar as reformas dos Estados nacionais, mormente dos países de capitalismo periférico e semiperiférico (ARRIGHI, 1998, p. ) (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 98). 26 Essas reformas premeditadas e planejadas por instituições que não são diretamente ligadas à educação chamam a OMC (Organização Mundial do Comércio) a intervir. E no plano jurídico-econômico, a Organização Mundial do Comércio (OMC) vai tecendo uma legislação cujo poder transcende o domínio das megacorporações e empresas transnacionais. É interessante ter presente o papel da OMC, pois em 2000, numa de suas últimas reuniões, sinalizou para o capital que um dos espaços mais fecundos para negócios rentáveis era o campo educacional (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003, p. 98). Além do papel destacado face ao processo de reestruturação das economias, o BID vem se notabilizando pela difusão de orientações para a educação na América Latina, em harmonia com diretrizes de abertura ao capital estrangeiro e ao comércio mundial, privatizações e mercantilização da educação. Empréstimos foram concedidos ao Brasil por esse banco, para o pagamento da dívida externa brasileira, tendo a adoção de suas diretrizes políticas como condição. Dourado se reporta à análise de Coraggio (1996) sobre as políticas propostas pelo Banco Mundial para a educação, à indicação de que estas estão fundamentadas no reducionismo economicista, [...] cujo escopo se centra na visão unilateral de custos e benefícios. Desse modo, tal concepção de política assenta-se: na defesa da descentralização dos sistemas (ênfase no localismo, desarticulação de setores organizados...); no desenvolvimento de capacidades básicas de aprendizagens necessárias às exigências do trabalho flexível; na realocação dos recursos públicos para a educação básica; na ênfase na avaliação e na eficiência, induzindo as instituições à concorrência; na implementação de programas compensatórios (programas de saúde e nutrição, por exemplo), onde se fizerem necessários; na capacitação docente em programas paliativos de formação em serviço, entre outras orientações (DOURADO, 2002, p. 239). A política educacional defendida pelo BID, de interesses utilitaristas econômicos, aceita e oficializada pelo governo Fernando Henrique Cardoso, por meio de legislação educacional, ampliou a fragmentação da educação brasileira e contribuiu para desarticular a luta pela democratização da educação, um direito social inalienável. 27 Dourado (2002) argumenta que, ao priorizar a educação básica, o Banco Mundial restringe a aprendizagem a habilidades cognitivas básicas, minimizando a importância da educação não formal, da educação profissional e da educação superior, que são pressionados à privatização e à mercantilização. Entretanto, desde a promulgação, em 20 de dezembro de 1996, da Lei nº 9394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), os debates pedagógicos no contexto da educação profissional se intensificaram. Ou seja, a intervenção neoliberal, contraditoriamente, serviu para aumentar o calor e qualificar a discussão sobre essa modalidade educacional no país, mais especificamente sobre suas finalidades sociais, organização com perspectiva nacional, implicações das diversidades culturais e locais, papel do estado e da sociedade, relação com a educação básica, superação do assistencialismo, combate ao preconceito social que a atinge, como fazer intervenções críticas e qualificadas nesse campo, como nele propiciar inclusão social e democratização, a questão da certificação profissional, como colocá-la na agenda do desenvolvimento nacional e local, como nela incorporar os avanços tecnológicos, como combater as interferências das agências transnacionais na definição da sua política, como superar o neoliberalismo na sua gestão e pedagogia, como desmistificar a teoria do capital humano e o tecnicismo. Entre todas essas questões, contudo, a crítica ao modelo das competências foi e ainda é um dos pontos mais nevrálgicos. Nas últimas décadas, a noção de competências vem sendo difundida nos vários contextos da sociedade, vinculada às mudanças nas formas de produção e organização do trabalho, associada à competitividade das empresas, ao suposto desempenho que “promove a empregabilidade” dos trabalhadores, à flexibilização dos diversos sistemas produtivos. A mediação dos dois últimos governos brasileiros na implantação e monitoramento de políticas educacionais, mais especificamente, aquelas decorrentes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), ao mesmo tempo em que tem contribuído para acomodar os trabalhadores às exigências do sistema produtivo, busca recompor o sistema econômico. Nesse contexto, a noção de competência, proveniente do modelo de gestão empresarial, estende- 28 se a vários níveis e modalidades da educação escolar, enquanto elemento estruturante do currículo (NUNES, 2007, s/p). Segundo a autora, a noção de competência aparece associada a estratégias de busca da melhoria dos padrões de qualidade e competitividade das empresas, em face da crise do modelo taylorista-fordista motivada pela perda de produtividade da produção e pelos desafios colocados pela organização de produção flexível. Nunes (2007) argumenta que ela é tomada como princípio da organização e prática curricular da educação profissional e tecnológica. O Parecer CNE/CEB nº 16/99 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico a definiu como “a capacidade de articular, mobilizar e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (BRASIL, 1999, p. 24). A autora argumenta que essa noção promove o deslocamento do foco na qualificação para outra lógica - a de maior adequação da educação escolar aos propósitos e requerimentos do mercado. Chama a atenção para a maneira impositiva pela qual é inserida no currículo escolar, sem nenhuma participação democrática dos profissionais da educação e de suas entidades na decisão de adotá-la. Em sua essência, ela revelaria o pragmatismo ao gosto do mercado e dos interesses do capital. Sobre o processo de institucionalização da noção de competências pelo governo brasileiro, este confere a tal noção caráter oficial, sentido universal e prescritivo de comportamentos, normas e valores não deixando margem para considerar que tal prescrição é socialmente determinada e para discutir suas implicações (MACHADO, 2003, p. 2). A autora relaciona esse processo com as transformações vividas pelo mundo do trabalho e com o emergente “paradigma empresarial de gestão flexibilizada, individualizada e personalizada”, que teria o sentido de: regular a relação entre oferta e demanda de força de trabalho, pelo refinamento das exigências seletivas; mobilizar, de forma competitiva, os trabalhadores através de sua implicação subjetiva, ativa, produtiva e resolutiva nas atividades de trabalho; 29 transferir para eles responsabilidades pelo seu próprio desempenho no trabalho ou profissional, situação no mercado de trabalho e seguridade; intensificar o trabalho (MACHADO, 2003, p. 3). Segundo a autora (2007), a lógica empresarial do uso da noção de competências está subsumida aos interesses pelo aumento da produtividade e da competitividade, contraposta ao sentido da emancipação e autonomia do sujeito crítico e criativo. Por isso, ela questiona: “[...] capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação quais conhecimentos, habilidades, valores e afetos? Segundo quais critérios de eficiência? E sob qual prisma de eficácia?” Considera, então, que “[...] a noção de competências precisa ser significada; (pois) seu uso é suscetível de disputas, não é aleatório. Ela ganha significado e sentido dentro do contexto em que é empregada” (MACHADO, 2007, p. 286). Tal questionamento, segundo a autora, transcende o contexto produtivo, pois a noção de competências não está a ele restrita, tendo também invadido outras esferas da vida social levando consigo a sua lógica de racionalidade, como o que ocorre com as atividades educacionais e a própria organização do trabalho escolar. 2.5 Positivismo, pragmatismo e utilitarismo Como vertentes filosóficas do empirismo radical, marcaram a emergência da pedagogia nova em reação à pedagogia tradicional, trazendo implicações importantes para as finalidades e formas de organização da educação profissional e tecnológica. Segundo Quaresma (2010, p. 101), o positivismo influenciou as reformas da educação de 1890 e 1911. Benjamin Constant, uma das principais figuras que deflagraram a República em 1889, Ministro da Instrução Pública do governo provisório, que promoveu uma importante reforma curricular, era um positivista militante. Na educação profissional, essa corrente de pensamento encontrou abrigo, pois a concepção positivista de ciência leva a privilegiar os campos práticos, técnicos e aplicados do ensino. Segundo Skandar e Leal (2002), o 30 positivismo admite apenas o conhecimento que se fundamenta na experiência. Desse modo, a escola deve privilegiar a busca do que é prático, útil, objetivo. Na educação, a influência do positivismo tem sido responsável pela fragmentação de currículos, especialização precoce e incipiente diálogo entre disciplinas. O pragmatismo se configurou como uma escola filosófica norte-americana, para a qual contribuíram três pensadores: Charles S. Peirce (1839-1914), William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952). Abbagnano (2007, p.3) explica que o pragmatismo se caracteriza pela “atitude de desviar o olhar das primeiras coisas, princípios, ‘categorias’, necessidades supostas”. Em vez disso, busca “focalizar a visão nas últimas coisas, frutos, consequências, fatos”. Segundo esse autor (2007, p.3), Peirce idealizou o nome Pragmatismo para a teoria segundo a qual “uma concepção, ou seja, o significado racional de uma palavra ou de outra expressão consiste exclusivamente em seu alcance concebível sobre a conduta da vida” e serve como distinção para o sentido “prático” da filosofia Kantiana, que faz referência ao mundo moral, onde não há lugar para a experimentação, enquanto a doutrina proposta é justamente uma doutrina experimentalista. Peirce estabelece uma distinção entre duas concepções de pragmatismo: a primeira, ele chama de pragmatismo metodológico, que é substancialmente uma teoria do significado; e a segunda, de pragmatismo metafísico, que é uma teoria da verdade e da realidade. É nessa segunda concepção que se encontra o sentido de reduzir a verdade à utilidade, e a realidade ao espírito. O prefixo pragma vem do grego e significa obra, ação. O pragmatismo é, portanto, uma corrente idealista subjetiva, amplamente difundida em diferentes domínios da prática social. Para ela, o conteúdo do saber seria determinado pelos seus efeitos práticos. Estes, por sua vez, seriam determinados pelo critério da utilidade, que satisfaz os interesses subjetivos dos indivíduos. O pragmatismo identifica a realidade objetiva com a experiência subjetiva. Na explicação da realidade, o pragmatismo manifesta pontos de vista do empirismo radical. 31 Segundo Souza (2012), compreender o contexto histórico onde se localizam as origens do pragmatismo é fundamental. Elas se encontram nos Estados Unidos do final do século XIX, pós-guerra civil, fase de desenvolvimento e consolidação do capitalismo industrial. Segundo Nascimento (2011, p. 43), O pragmatismo surgiu nos Estados Unidos no final do século XIX e começo do século XX, mais precisamente, em 1870, quando um grupo de intelectuais de Cambridge, Massachusetts, se reunia para discutir filosofia. Esse grupo, de maneira irônica, se autodenominou The Metaphysical Club [Clube Metafísico] - uma alusão crítica à metafísica clássica e ao mesmo tempo uma tomada de posição em defesa de uma metafísica pragmática. O grupo incluía, entre outros pensadores, William James, Charles Sanders Peirce, Oliver Wendell Holmes Jr. e Nicholas Saint John Green. Tiballi (2003, p.2) esclarece que Peirce buscou [...] advertir que o pragmatismo constituiu-se na formulação de princípios e métodos sistematizados, advindos da interlocução direta com a tradição filosófica. Mas a correspondência ideológica entre os valores propagados pelas contingências do desenvolvimento econômico do período e as proposições pragmatistas permitiu ampla difusão dessa concepção filosófica em diferentes setores da sociedade americana. Valendo-se de Pierce, a autora diz que há um equívoco bastante frequente, o de “pensar o pragmatismo como simples elevação à categoria de filosofia daquilo que já era senso comum na sociedade americana” (TIBALLI, 2003, p. 3). As ideias de Peirce e James influenciaram o pensamento de John Dewey, filósofo e educador norte-americano, que caracteriza o pragmatismo como a intenção de reparar o atraso da filosofia em relação ao mundo moderno. Seu interesse por pedagogia nasceu da observação de que a escola de seu tempo continuava, em grande parte, orientada por valores tradicionais, e não havia incorporado as descobertas da psicologia, nem acompanhara os avanços políticos e sociais. Ele preferia o nome instrumentalismo em vez de pragmatismo para identificar seu pensamento filosófico. Para ele, as ideias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais. Ele propõe um novo paradigma pedagógico, o da Escola 32 Progressiva ou Democrática, centrada na experimentação, voltada ao enriquecimento das experiências dos próprios alunos. Sobre a experiência, Dewey escreve: A concepção ampla de experiência, que estamos esboçando, deixanos logo ver que a experiência não é, em si mesma, cognitiva, mas que pode ganhar esse atributo, que será tão real e orgânico quanto qualquer dos outros que já possua (DEWEY, 1979, p. 14). Para ele, a experiência educativa é mais do que simplesmente uma experiência, pois a ela soma-se a reflexão sobre ela mesma. Essa experiência reflexiva alarga os conhecimentos e dá cotidianamente significação mais profunda à vida. Nesse sentido, a educação é vista como um processo de reconstrução e reorganização da experiência. Nascimento (2011) esclarece que Dewey busca superar a filosofia tradicional ao conferir centralidade a uma ferramenta especial, a inteligência, para resolver problemas e fornecer sentido à experiência. Segundo ela, para Dewey, o pensamento surge de uma imperiosa necessidade prática e nos remete à condição humana, que é derivada da interação que o homem estabelece com o ambiente, tendo em vista sua sobrevivência. Para Dewey (1979), a consciência humana não é algo dado, mas sim construído por um processo histórico de interação socioambiental. O conhecimento também é um processo natural e não é resultado de representações e das relações estabelecidas, ou seja, é um problema natural, que deve ser estudado com base em métodos naturais. Nascimento (2011) esclarece a concepção de Dewey de que o ser humano mergulha em suas experiências herdadas dos ancestrais e que elas vão determinar o que ele percebe; o que ele percebe determina o que faz; e o que ele faz determina o que experimenta, criando um círculo virtuoso de experiência-percepção-experiência. A perspectiva instrumentalista, na acepção de Dewey, assim configura o conhecimento: 33 Por essa lógica, a verdade deve ser entendida como um acréscimo feito à realidade e não como uma mera cópia dela. Dewey argumenta que o conhecimento deriva de uma realidade complexa, marcada por conexões entre as coisas e entre o sujeito e as coisas. O conhecimento não pode mais ser visto como derivado de uma consciência ou de um sujeito representante (NASCIMENTO, 2011, p. 54). Isso quer dizer que as ideias só têm importância se servirem de instrumento para a resolução de problemas reais. Por isso, em Dewey, a educação, ainda que tenha uma função social, é uma necessidade da vida. Dewey fazia severas críticas ao modelo de educação tradicional, que privilegiava a memorização. Para ele, o conhecimento é uma atividade dirigida pela experimentação. A educação, segundo ele, deve propiciar ao indivíduo condições para que resolva problemas, partindo da reflexão de suas experiências próprias. A escola não deve ser somente a preparação para a vida, mas sim a própria vida, na qual a experiência e a aprendizagem estão unidas, e é na escola que se busca a reconstrução permanente das experiências. No modelo de educação progressiva é fundamental que o professor descubra os interesses dos alunos. Dewey confere grande importância às atividades manuais, pois acredita que elas podem apresentar problemas concretos que devem ser resolvidos pela experimentação. Sugere que as atividades sejam realizadas em grupo, pois dessa forma se desenvolvem o espírito de comunidade e a divisão das tarefas, estimulando a cooperação, o espírito social, a independência e a autonomia. No Brasil, as ideias de Dewey foram difundidas inicialmente por Anísio Teixeira9, seu discípulo. 9 Anísio Spínola Teixeira (Caetité, 12 de julho de 1900 — Rio de Janeiro, 11 de março de 1971) foi jurista, intelectual, educador e escritor. Personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização. Reformou o sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro, exercendo vários cargos executivos. Foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em defesa do ensino público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Fundou a Universidade do Distrito Federal, em 1935, depois transformada em Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. (Diniz 34 2.6 O princípio educativo da pesquisa e a pedagogia de projetos A educação pela pesquisa se propõe a ser um meio de promover o desenvolvimento intelectual e a autonomia dos sujeitos frente a situaçõesproblema, fazendo-os refletir criticamente a realidade, na sua complexidade e atuar sobre ela. Busca a criação de formas de apropriação de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades, a produção de significados, a agregação de valores e princípios éticos e tornar os sujeitos agentes ativos do próprio processo de aprendizagem. [...] a aula que apenas repassa conhecimento, ou a escola que somente se define como socializadora de conhecimento, não sai do ponto de partida, e, na prática, atrapalha o aluno, porque o deixa como objeto do ensino e instrução (DEMO, 2003, p. 7). O autor, em outro texto, complementa essa ideia: [...] se o docente só dá aula, sem produção própria, não podemos superar o instrucionismo dominante na escola e na universidade (Demo, 2009). Para que o aluno aprenda a produzir conhecimento, antes precisamos resolver a questão do professor, redefinindo-o por sua autoria. (DEMO, 2010, p.7). Contudo, segundo Freiberger e Berbel (2010), mesmo que se discuta a importância da prática docente investigativa ou que se busque cotidianamente desenvolver o pensamento crítico e a autonomia dos alunos, ainda permanece o desafio da formação de sujeitos que não sejam reprodutores de conhecimentos. As autoras confirmam que ainda é usual nas escolas a seguinte atitude: A ênfase dada aos conteúdos que “precisam ser vencidos” no decorrer dos bimestres letivos, a busca prioritária pelos resultados e, em alguns casos pelas notas, faz com que o professor acabe sendo um transmissor desses conteúdos, adotando metodologias que contemplam mais a cópia e as respostas explicativas, do que o estímulo a questionamentos, à elaboração de perguntas pelo aluno e numismática, disponível em: brasileiros-anisio-teixeira.html ) http://diniznumismatica.blogspot.com.br/2013/06/grandes- 35 a instrumentação pela pesquisa (FREIBERGER; BERBEL, 2010, p. 211). Acreditam que a educação para pesquisa requer nova postura dos docentes no processo de ensino-aprendizagem, reflexão crítica sobre seu papel e relação com o conhecimento e a pesquisa. Demo também reclama por mudança do papel do docente no processo educativo: Educar pela pesquisa tem como condição primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana. [...] Não se busca um profissional da pesquisa, mas um profissional da educação pela pesquisa. (DEMO, 2003, p. 2). Segundo o autor, para que a educação pela pesquisa aconteça, o professor deve se colocar como um orientador do questionamento da realidade, o que requer mudança de atitude e olhar diferenciado frente às demandas do processo de ensino-aprendizagem. A Pedagogia de Projetos se apoia na concepção da pesquisa como princípio educativo e científico e também demanda o aluno e o professor como sujeitos na construção de saberes, este com o papel de orientador. Ela surgiu da necessidade de atender demandas por processos de ensino-aprendizagem inovadores e com capacidade de responder aos questionamentos e anseios de uma sociedade em constante transformação. O primeiro a divulgar essa metodologia foi o filósofo e pedagogo William Kilpatrick, discípulo de John Dewey, ambos militantes da corrente filosófica pragmatista e do movimento reformista, que veio a ser conhecido como Escola Nova. Kilpatrick fez a divulgação dessa metodologia por meio da publicação do artigo The Project Method, no v. 19, n. 4, de 1918, da revista norte-americana Teachers College Record.10 O movimento da Escola Nova teve seu início no final do século XIX, na Europa e nos EUA, contestando o modelo da Escola Tradicional vigente na época, centrado no professor, em aulas expositivas, na memorização e repetição, na 10 Disponível em < http://www.tcrecord.org/content.asp?contentid=3606>. 36 sequência de passos pré-determinados e fixos, estabelecidos para todo e qualquer contexto instrucionismo, escolar. imobilismo Tratava-se, portanto, e conteudismo de uma reação descontextualizados, ao que provocavam grande defasagem entre a vida e a escola, esta destinada às camadas mais abastadas da sociedade. No Brasil, o movimento da Escola Nova ganhou impulso na década de 1930 com a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), assinado por iminentes intelectuais e educadores, tais como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Hermes Lima, Cecília Meirelles, Paschoal Lemme, entre outros. Para Freitas (2002), a Escola Nova propõe o trabalho ativo do aluno, a experimentação, a participação discente no processo de aprendizagem, a relação pedagógica horizontal, pesquisas, descobertas e vivências em grupo. De acordo com a autora, são propostas de renovação da prática pedagógica visando à preparação do aluno para a vida em sociedade e seu engajamento no mundo do trabalho. A ideia era, e ainda é, segundo Freitas (2002), trabalhar com projetos que valorizem a pesquisa e o cotidiano do aluno. A consequência seria uma mudança de postura pedagógica, fundamentada na concepção de que a aprendizagem ocorre a partir da resolução de situações didáticas significativas para o aluno, aproximando-o, o máximo possível, do seu contexto social, por meio do desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. Diferentemente do paradigma tradicional, aprender não se resumiria a memorizações, e ensinar não se limitaria a repassar conteúdos prontos. No Brasil, a Escola Nova teve como um dos seus principais representantes e defensores Anísio Teixeira (1900-1971), um dos mais importantes protagonistas da educação brasileira. Teixeira (1967, p. 46) defende uma escola na qual os alunos são ativos e em que os projetos formam a unidade típica do processo de aprendizagem. Atividades queridas e projetadas pelos alunos poderiam fazer da experiência escolar uma vida que, para os alunos, 37 valesse a pena viver. As ideias de Anísio Teixeira vão permitir que a metodologia de projetos tome forma no Brasil, na tentativa de romper com a passividade do aluno promovida pelo ensino tradicional, caracterizado por conteúdos fragmentados e organização compartimentada de disciplinas. Na visão de Espíndola e Köche (2008) apud Prado (2009), mudanças sociais mais recentes incentivaram experiências e adaptações na metodologia de projetos. Entre elas, a mudança de paradigmas da ciência que atingiram também a educação. Atualmente, a metodologia de projetos tem se apresentado como uma proposta de trabalho coletivo, que se define a partir de um problema, necessidade, oportunidade ou desafio comum a um grupo de pessoas. Este se propõe, então, a se organizar, pesquisar, traçar planos de ação visando alcançar resultados concretos que resolvam ou amenizem a situação-problema, que originariamente motivou o projeto. Pensar em projeto significa a antecipação de algo que se deseja, é pensar uma realidade que ainda não aconteceu. A palavra projeto deriva do latim projectus, que significa algo lançado para frente. Segundo Prado (2009), a ideia de projeto é inerente à própria atividade humana, à sua forma de pensar algo que deseja tornar real. Portanto projeto é inseparável do sentido de ação. E ainda, segundo o autor, o ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não determinado, e flexibilidade para reformular as metas à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. Segundo Hernández (1998), a metodologia de projetos de trabalho parte do pressuposto de que as relações entre os conteúdos e as áreas de conhecimento têm lugar devido às necessidades de resolução de problemas de aprendizagem. Ele a considera como uma resposta – nem perfeita, nem definitiva, nem única – para os processos de ensino-aprendizagem e enfatiza que os professores devem utilizá-la para refletir a própria prática e melhorá-la. Para o autor, o entendimento do projeto como forma de aprender a pensar criticamente leva a dar significado à informação, analisá-la, planejar ações e resolver problemas. O projeto considerado como um ato problematizador pode 38 contribuir para o desenvolvimento do raciocínio do aluno na formulação de suas hipóteses, pondo à prova suas próprias conclusões. Segundo Prado (2009), a participação do aluno é ativa na Pedagogia de Projetos. O aluno deve ser estimulado constantemente a produzir, levantar dúvidas, pesquisar e criar relações que incentivem novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Pressupõe ruptura com o papel do professor como centro do processo de ensino-aprendizagem e requer que ele passe a fomentar a discussão de problemas a partir da história do próprio aluno, do seu contexto e relações com a realidade. Cabe, então, ao professor realizar as mediações necessárias para que o aluno possa encontrar sentido naquilo que está aprendendo a partir das relações criadas nessas situações. É fundamental que o professor tenha clareza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formalizados pelo aluno (PRADO, 2009, p. 2). Nesse sentido, o professor deve considerar três aspectos ao trabalhar com projetos: as possibilidades de desenvolvimento de seus alunos, as dinâmicas sociais do contexto em que atua e as possibilidades de sua mediação pedagógica. Para tanto, pode utilizar os recursos disponíveis na escola (computador, televisão, livros), construir interações entre os conteúdos das diversas áreas do conhecimento e estabelecer relações interdisciplinares. O fato de um projeto de gestão escolar estar articulado com o projeto de sala de aula do professor, que por sua vez visa propiciar o desenvolvimento de projetos em torno de uma problemática de interesse de um grupo de alunos, integrando o computador, materiais da biblioteca e a televisão, torna-se fundamental para o processo de reconstrução de uma nova escola (PRADO, 2009, p. 4). Contudo, a organização funcional dos horários de aula, recortes de 50 minutos e a estrutura curricular sequencial podem dificultar o desenvolvimento dessa metodologia. Por outro lado, ela pressupõe a devida compreensão dos seus objetivos, sob pena de colocar em risco o processo de aprendizagem, pois 39 cabe ao professor viabilizar a criação de situações que propiciem aos alunos desenvolverem seus próprios projetos, que devem ter características individuais, mesmo que sejam desenvolvidos em grupos e equipes, mantendo certa singularidade. A pedagogia de projetos pressupõe que o aluno aprenda fazendo, que ele se reconheça naquilo que produz por meio da investigação, contextualize conceitos novos e antigos, que devem emergir de forma natural durante o processo de construção/criação do projeto. O aluno deve, assim, selecionar informações que sejam significativas, tomar decisões, trabalhar em grupo, gerenciar conflitos, desenvolver relações interpessoais e trabalhar de forma colaborativa. O professor assume o papel de mediador, pois o aluno deve reconhecer sua autoria no projeto e concomitantemente a presença do professor que questiona, orienta, servindo à interlocução ativa. A mediação implica a criação de situações de aprendizagem que permitam ao aluno fazer regulações, uma vez que os conteúdos envolvidos no projeto precisam ser sistematizados para que os alunos possam formalizar os conhecimentos colocados em ação. O trabalho por projeto potencializa a integração de diferentes áreas de conhecimento, assim como a integração de várias mídias e recursos, os quais permitem ao aluno expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de representação (PRADO, 2009, p. 6). A Pedagogia de Projetos pode ainda ser vista como potencializadora da interdisciplinaridade. Para Prado, “isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite romper com as fronteiras disciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as diferentes áreas do conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem” (PRADO, 2009, p. 9). Almeida corrobora essas ideias, destacando [..] que o projeto rompe com as fronteiras disciplinares, tornando-as permeáveis na ação de articular diferentes áreas de conhecimento, mobilizadas na investigação de problemáticas e situações da realidade. Isso não significa abandonar as disciplinas, mas integrá-las no desenvolvimento das investigações, aprofundadas verticalmente em sua própria identidade, ao mesmo tempo em que estabelecem articulações horizontais numa relação de reciprocidade entre elas, a 40 qual tem como pano de fundo a unicidade do conhecimento em construção (ALMEIDA, 2002, p. 58). O termo metodologia de projetos vem sendo constantemente atrelado à ideia de interdisciplinaridade. Hernández (1998) adverte, porém, que o trabalho com projeto não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola. Essa compreensão seria fundamental porque aqueles que buscam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para desenvolver projetos acabam se frustrando, pois não existe um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da complexidade que envolve a realidade da sala de aula, do contexto escolar. A metodologia de projetos também é conhecida por diferentes designações, tais como projetos de aprendizagem baseados em problemas, metodologia por pesquisa, desenvolvimento de projetos, metodologia participativa, ensinar por projetos, projetos de aprendizagem, projetos de trabalho, trabalho com projetos, tecnologia de projetos, entre outras. Conforme Prado (2011, p. 9), todas essas nomenclaturas pretendem nomear uma forma de ensinoaprendizagem que consiste em dar autonomia ao aluno para pesquisar um tema e/ou problema, envolvendo, se possível, outras classes e professores de duas ou mais disciplinas. A aprendizagem passa, então, a ser vista como um processo complexo e global, em que teoria e prática não estariam dissociadas, em que o conhecimento da realidade e a intervenção nela se tornariam faces de uma mesma moeda. A aprendizagem seria desencadeada a partir de um problema que surge e que conduz à investigação, à busca de informações, à construção de novos conceitos, à seleção de procedimentos adequados. Prado afirma que a metodologia de projetos aplicada à educação profissional contribui para preparar cidadãos para o autodesenvolvimento, o desempenho de funções no sistema produtivo e para atuar na sociedade com desenvoltura, flexibilidade e criatividade (PRADO, 2011, p. 3). 41 Segundo Santos, com a difusão da transdisciplinaridade na Educação, o Método de Projetos vem se destacando como o que melhor responde aos requerimentos dessa visão. No entanto o seu uso adequado requer um marco conceitual ressignificado pelo professor que adota tal método. Esse método divulgado no Brasil pela Escola Nova tem sido reinterpretado e também utilizado por docentes que se pautam por outros referenciais, como, por exemplo, os da Pedagogia Crítica. Nesse ressurgimento do interesse por esse método, também se percebe a abordagem simplista que omite a teoria pedagógica que o acompanha, passando-se a direcioná-lo pelo senso comum, o que leva à reprodução do sistema social (SANTOS, 2006, p. 1). É possível que na educação profissional, no Brasil, a abordagem simplista dirigida pelo senso comum na utilização da metodologia de projetos também esteja presente. É possível que nessa área educacional ainda predomine a perspectiva original do instrumentalismo e do pragmatismo de Dewey e Kilpatrick. O seu uso com tal sentido reforça, segundo Santos (2006), o tecnicismo pedagógico. Essa associação, conforme a autora, pode ter como fatores o emprego da seguinte metodologia: a) com o sentido de fazer a adaptação acrítica dos alunos à lógica predominante no sistema produtivo, e não na perspectiva de situar cada um no mundo contemporâneo, visando à transformação da sociedade; b) com um conceito behaviorista de aprendizagem, que se fundamenta apenas em mudanças de comportamento já que o sentido é fazer a adaptação do aluno ao meio social, de fazê-lo internalizar hábitos mecânicos; c) com a perspectiva não da interdisciplinaridade, mas na justaposição multidisciplinar de conhecimentos, deixando para o aluno o encargo de encontrar a relação entre eles; d) com a orientação da racionalização do ensino mediante o estímulo de uma relação pedagógica que se propõe a executar um programa instrutivo (razão instrumental); 42 e) com a preocupação exclusiva com a formação técnico-profissional, com a técnica e o saber-fazer, sem maiores questionamentos e aprofundamento do conhecimento. A pedagogia por projetos tem atraído o interesse de educadores como uma possibilidade de atender às demandas educacionais de uma sociedade em constante transformação e ansiosa pela formação de pessoas capazes de realizar inovações tecnológicas e sociais. Contudo seus desafios são grandes: levar o aluno a aprender a pensar, a organizar-se em grupo, a gerenciar o trabalho que está desenvolvendo, a relacionar o que está aprendendo com o que está acontecendo na realidade, a se tornar autônomo e capaz de atuar de forma efetiva como autor na construção de conhecimentos. Com relação aos professores, é preciso criar as condições de formação, condições de trabalho e valorização profissional que os favoreçam a responder aos desafios que essa pedagogia lhes apresenta: novas aprendizagens e mudanças na prática pedagógica. 2.7 Interdisciplinaridade pedagógica Thiesen (2008) esclarece que o debate a respeito da interdisciplinaridade tem sido tratado, basicamente, sob dois pontos de vista: o epistemológico e o pedagógico. No campo da epistemologia, toma-se a ciência e seus paradigmas e o método como mediação entre o sujeito e a realidade. Já no enfoque pedagógico, trata-se da sua aplicação à composição curricular e ao processo de ensino-aprendizagem. A interdisciplinaridade é uma resposta à fragmentação disciplinar advinda do paradigma filosófico do positivismo. Ela busca suprir a necessidade de extrapolar a visão fragmentada nos processos de produção e socialização do conhecimento. Compreende que os fenômenos da realidade precisam ser considerados na perspectiva da totalidade e na sua complexidade, o que implica construir 43 conhecimentos unitários mediante relação pedagógica dialógica e interlocuções entre teorias e práticas; ciência, tecnologia, trabalho e cultura; saberes tácitos e formalizados; maior interação entre alunos, professores e sociedade. Para tanto, a proposta da interdisciplinaridade reclama pela superação da fragmentação dos conteúdos e rompimento com a hiperespecialização, o que requer, respeitando as especificidades, a integração de conteúdos de disciplinas, a mobilização de professores como também de pesquisadores e a existência de ambiente escolar vivo e dinâmico. Segundo Fazenda (1979), a interdisciplinaridade surgiu na França e na Itália em meados da década de 1960, num período marcado pelos movimentos estudantis que, entre outras coisas, reivindicavam um ensino mais sintonizado com as questões de ordem social, política e econômica da época. A interdisciplinaridade teria sido uma resposta a tal reivindicação, na medida em que os grandes problemas da época não poderiam ser resolvidos por uma única disciplina ou área do saber. Formalmente, a interdisciplinaridade começou a ser discutida no Brasil a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 5.692/71. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se tornado mais constante. Além da legislação e de propostas curriculares para todos os níveis de ensino, a interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais presente no discurso e na prática de professores e instituições de ensino. Ela ganhou força no discurso pedagógico brasileiro graças à legislação educacional e às propostas curriculares, mas ainda é um desafio prático para os professores de todos os níveis de ensino. A interação entre disciplinas ou entre áreas específicas do saber é uma das características da interdisciplinaridade. Entretanto essa interação pode acontecer em diferentes níveis de complexidade, o que levaria à distinção entre essa ela e a multidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade. Japiassu (1976) considera que entre esses termos há uma gradação que se estabelece entre os níveis de cooperação e coordenação entre as disciplinas, 44 entendendo-se por disciplina diferentes domínios do conhecimento, na medida em que são sistematizados de acordo com critérios. O autor esclarece que os termos multi e pluridisciplinaridade pressupõem uma atitude de justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração de conteúdos numa mesma disciplina, atingindo-se, quando muito, o nível de integração de métodos, teorias e conhecimentos. Dessa forma, de acordo com Japiassu (1976), na multidisciplinaridade, a solução de um problema exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades sem que as disciplinas levadas a contribuir para aquelas que a utilizam sejam modificadas ou enriquecidas. É desenvolvida uma análise de um determinado objeto de estudo sob vários ângulos, mas sem antes haver um acordo prévio sobre os métodos a seguir e os conceitos a serem utilizados. O autor compreende que, no nível da pluridisciplinaridade, o agrupamento das disciplinas se faz entre aquelas que guardam algumas relações entre si visando à construção de um sistema de um só nível e com objetivos distintos, embora excluindo toda coordenação. Já no sistema multidisciplinar, disciplinas são articuladas simultaneamente para estudar um objeto sem que apareçam as relações entre elas. No paradigma pluridisciplinar, as disciplinas são justapostas e situadas no mesmo nível hierárquico de modo que se estabeleçam relações entre elas. Quanto à interdisciplinaridade, Japiassu (1976) esclarece que existe uma relação de reciprocidade, de mutualidade, em regime de copropriedade que possibilita um diálogo mais inventivo entre os vários campos do saber. Dessa forma, para ele, a exigência interdisciplinar impõe a cada disciplina que transcenda sua especialidade, formando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas. A interdisciplinaridade provoca trocas generalizadas de informações e de críticas e amplia a formação geral quando questiona pressupostos implícitos de cada área, fortalecendo o trabalho de equipe. Em vez de disciplinas 45 fragmentadas, a interdisciplinaridade postula a construção de interconexões apresentando-se como arma eficaz contra a pulverização do saber. A utilização da interdisciplinaridade vem como forma de desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos de disciplinas aparentemente distintas, o que possibilita superar a fragmentação existente entre elas, buscando a formação de sujeitos criativos, com visão de totalidade e capazes de compreender e agir sobre a realidade. Segundo Lenoir (2004, p. 46), “a perspectiva interdisciplinar não é [...] contrária à perspectiva disciplinar; ao contrário, não pode existir sem ela e, mais ainda, alimenta-se dela.” Para Fazenda (1979), a introdução da interdisciplinaridade implica uma transformação profunda da pedagogia, o que requer um novo tipo de professor. Segundo ela, passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a uma relação pedagógica dialógica, na qual a posição de um é a posição de todos. Entretanto, segundo Azevedo e Andrade (2007), há professores que não conseguem estabelecer ambientes interdisciplinares de ensino-aprendizagem, mesmo que a matriz curricular preveja que isso aconteça. Eles se apoiam em Tomazetti (1998) para dizer que, na perspectiva da interdisciplinaridade, o professor não pode ser mero repassador de conhecimentos. Precisa se envolver com seus alunos e outros docentes na reconstrução dos conhecimentos. Isso exige que seja um professor-pesquisador e que possibilite também aos alunos a prática da pesquisa. O professor-pesquisador constituise, portanto, como agente necessário de uma formação mediada pela interdisciplinaridade. Para Azevedo e Andrade (2007), há, com isso, um aumento da responsabilidade do professor e de exigências que lhe são feitas, especialmente a mudança de seu paradigma com relação ao processo ensinoaprendizagem ao qual se habituou. 46 O professor precisa tornar-se um profissional com visão integrada da realidade, compreender que não basta se limitar ao conhecimento de sua área de formação, pois ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações teóricas e metodológicas que ela estabelece com outras. A proposta pedagógica da interdisciplinaridade é vir em auxílio da compreensão dos fenômenos da realidade na sua complexidade. Ela diz respeito a uma forma de trabalhar o conhecimento, que busca a interação entre os alunos, professores e sociedade, requer um ambiente escolar que seja vivo, dinâmico, que favoreça o exercício da problematização e a articulação entre as disciplinas. Para Thiesen (2008), é um movimento contemporâneo que emerge do diálogo e da integração das ciências e do conhecimento, que busca romper com a hiperespecialização e fragmentação dos saberes. Isso significaria romper com o paradigma positivista. O mundo atual se caracteriza por conexões extensivas permitidas por tecnologias de comunicação e informação. Entretanto o movimento da interdisciplinaridade ainda é bastante incipiente. Segundo Thiesen (2008), não é difícil entender porque isso acontece: Não é difícil identificar as razões dessas limitações; basta que verifiquemos o modelo disciplinar e desconectado de formação presente nas universidades, lembrar a forma fragmentária como estão estruturados os currículos escolares, a lógica funcional e racionalista que o poder público e a iniciativa privada utilizam para organizar seus quadros de pessoal técnico e docente, a resistência dos educadores quando questionados sobre os limites, a importância e a relevância de sua disciplina e, finalmente, as exigências de alguns setores da sociedade que insistem num saber cada vez mais utilitário (THIESEN, 2008, p. 550). 2.8 A pedagogia histórico-crítica Essa proposta pedagógica surge com a intenção de contribuir para o resgate da importância da escola e dos processos educativos. No que se refere à educação profissional e tecnológica, preconiza a realização da sua função social por meio da formação integral, politécnica, unitária e emancipatória, que permita situar cada educando no mundo contemporâneo como sujeito ativo da transformação da sociedade. Isso implica o posicionamento crítico e propositivo 47 dessa modalidade de educação com relação à agenda do desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável, o que requer autonomia em face das interferências de agências transnacionais comprometidas com interesses alheios à realização da escola democrática e inclusiva, atenção às diversidades culturais e locais, discernimento sobre incorporação de avanços tecnológicos, interação criativa com a educação básica e compromissos com a educação pública de qualidade para todos. Com tal designação, essa pedagogia surgiu no Brasil na década de 1980, a partir das contribuições de Dermeval Saviani, alunos e orientandos, à época coordenador do Doutorado em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atual Programa em História e Filosofia da Educação. Segundo Saviani (2008), essa proposta desenvolveu-se aos poucos, mas, desde o seu princípio, assumiu alguns pressupostos teóricos vindos de outras áreas: da filosofia marxista (a ontologia realista fundamentada no materialismo histórico e na epistemologia dialética); da psicologia, especialmente dos trabalhos da Escola de Vigotski; da área da educação, em particular das contribuições de Georges Snyders, Antonio Gramsci, Mario Alighiero Manacorda e Bogdan Suchodolski. (SAVIANI, 2008, p. 12). Os períodos finais da ditadura militar no Brasil (1964-1984) e do início da redemocratização do país tiveram importância fundamental como contexto histórico para a construção e desenvolvimento dessa pedagogia. Os movimentos sociais surgiram e saíram às ruas pedindo democracia, neles se envolvendo estudantes e professores de escolas de todos os níveis educacionais. Segundo Menger e Valença (2012), foi alicerçado pela ideia de escola para todos que Saviani se tornou conhecido no Brasil. Seu primeiro livro, Escola e Democracia, de 1982, reuniu uma série de artigos relacionando a escola e a educação à necessidade de revolução social, tomando-as como participantes estratégicos na promoção das transformações na estrutura social. Segundo as autoras, Saviani não vê a escola como “salvadora da pátria”, nem como “redentora dos males brasileiros”, mas como um espaço de ação com potencial 48 para exercer grande influência sobre outros existentes na sociedade, e com esses articular tais transformações. A escola, na visão de Saviani, tem sua face de reprodutora da estrutura social, mas a realidade não é feita só nesse sentido, senão também de processos movidos por contradições sociais. Nesse sentido, a escola pode agir como um catalisador de processos educativos com o sentido da formação de um novo homem, uma nova sociedade. Segundo Saviani (2008), garantir o acesso amplo aos conhecimentos produzidos pela humanidade é não apenas resultado desse processo de transformação social, mas também seu requisito de importância crucial. A isso Saviani (2008) chama de socialização do saber, e, no seu entendimento, toda produção de saber se faz nas relações sociais, ou seja, na práxis social e é, portanto, histórica e socialmente determinada. Para Saviani, nessa pedagogia, pelo seu caráter ontológico e de socialização, “a essência da realidade humana é o trabalho, pois é através dele que o homem age sobre a natureza, ajustando-a às suas necessidades” (SAVIANI, 2008, p. 94). Dessa forma, ao mesmo tempo em que o homem transforma o meio atual, transforma a si mesmo, construindo-se e construindo sua própria história. Ele esclarece que a pedagogia histórico-crítica, como teoria da educação, tem três tarefas. A primeira consiste identificar as expressões do saber objetivo, onde, sob que condições e com que tendências de transformação ele é produzido. Em especial, [...] a identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências de transformação (SAVIANI, 2008, p. 9). Após essa identificação, é imprescindível transformar ou converter tais formas de saber em saber escolar, em conteúdos a serem ensinados/aprendidos. Trata-se da “[..] conversão do saber objetivo em saber escolar, de modo que se torne assimilável pelos alunos no espaço e no tempo escolares” (SAVIANI 2008, p. 10). 49 A terceira tarefa, segundo Saviani (2008), passa por gerar métodos que sejam efetivos para que os alunos, mais do que assimilar os conteúdos, sejam capazes de aprender o processo de produção e de ação para transformá-los. Ou seja, requer o [..] provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção, bem como as tendências de sua transformação (SAVIANI 2008, p. 10). Segundo Menger e Valença (2012), os conteúdos assumem uma importância fundamental para a pedagogia histórico-crítica, o que teria gerado a crítica de que ela seria apenas uma renovação da pedagogia tradicional, conteudista. Saviani esclareceu que essa pedagogia tem suas origens na escola jesuítica e tem pressupostos radicalmente opostos aos que se propõe o paradigma histórico-crítico. Enquanto a escola tradicional trabalha os conteúdos com a finalidade da legitimação e conservação da estrutura social vigente, a pedagogia histórico-crítica busca a transformação social, tomando o conhecimento como um instrumento de luta e mediação desse processo. Assim, Os conteúdos são fundamentais e, sem conteúdos relevantes, conteúdos significativos, a aprendizagem deixa de existir, ela se transforma num arremedo, ela se transforma numa farsa. Parece-me, pois, fundamental que se entenda isso e que, no interior da escola, nós atuemos segundo essa máxima: a prioridade de conteúdos, que é a única forma de lutar contra a farsa do ensino. Por que esses conteúdos são prioritários? Justamente porque o domínio da cultura constitui instrumento indispensável para a participação política das massas. Se os membros das camadas populares não dominam os conteúdos culturais, eles não podem fazer valer os seus interesses, porque ficam desarmados contra os dominadores, que se servem exatamente desses conteúdos culturais para legitimar e consolidar a sua dominação. Eu costumo, às vezes, enunciar isso da seguinte forma: o dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Então dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação (SAVIANI, 1996, p. 66). Menger e Valença (2012) se referem também à incorporação do pressuposto marxista da relação entre educação e trabalho pela pedagogia histórico-crítica, como parte da formação do ser humano como um sujeito integral, e dos vínculos da escola com a prática social. 50 No seu livro Escola e Democracia, Saviani apresenta a metodologia de ensinoaprendizagem da pedagogia histórico-crítica alicerçada em cinco passos, que dialeticamente se propõem a ir do empírico imediato e simples ao concreto elaborado e complexo (1996, p. 79-82). O ponto de partida dessa metodologia seria diferente dos propostos pelas pedagogias tradicional e nova. Na primeira, ele consiste na atividade de preparação dos alunos realizada pelo sujeito que ela considera central no processo, o professor. Na segunda, a centralidade está na atividade dos alunos. Saviani propõe que o ponto de partida se constitua na prática social comum a professores e alunos, em relação à qual, como agentes sociais diferenciados, podem ter posicionamentos diferentes. Pedagogicamente, eles teriam uma diferença essencial em relação à prática social, por conta dos níveis distintos de compreensão dela: uma "síntese precária" por parte do professor e com caráter sincrético por parte dos alunos (p. 80). O segundo passo na metodologia proposta por Saviani também diverge dos que caracterizam as pedagogias tradicional e nova. Para a primeira, ele consistiria na apresentação de novos conhecimentos pelo professor. Para a segunda, seria a apresentação do “problema como um obstáculo que interrompe a atividade dos alunos” (p. 80). Saviani chama o segundo passo de problematização, momento destinado a “detectar que questões precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e, em consequência, que conhecimento é necessário dominar” (p. 80). O terceiro passo, na pedagogia tradicional, consistiria na “assimilação de conteúdos transmitidos pelo professor por comparação com conhecimentos anteriores”; e, na pedagogia nova, na coleta de dados (p. 80). Já na metodologia proposta por Saviani, ele denomina instrumentalização, que o autor adverte não ter o mesmo sentido dado pelo tecnicismo. Trata-se da apropriação “dos instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento dos problemas detectados na prática social”, que pode ocorrer por transmissão direta ou indireta realizada pelo professor (p. 81). 51 Na metodologia da pedagogia histórico-crítica, “o quarto passo não será a generalização (pedagogia tradicional) nem a hipótese (pedagogia nova)” (p. 81). Saviani o chama de catarse e explica que esse termo vem de Gramsci, que explica: Pode-se empregar a expressão “catarsis” para indicar a passagem do momento puramente econômico (ou egoísta-passional) ao momento ético-político, isto é, a elaboração superior da estrutura em superestrutura na consciência dos homens. Isto significa, também, a passagem do “objetivo ao subjetivo” e da “necessidade à liberdade” (GRAMSCI, 1978, p. 53). Trata-se, segundo Saviani, do “momento da expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social a que se ascendeu”, da “efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados agora em elementos ativos de transformação social” (1996, p. 81). O quinto e último passo, segundo explica Saviani, [...] não será a aplicação (pedagogia tradicional) nem a experimentação (pedagogia nova). O ponto de chegada é a própria prática social, compreendida agora não mais em termos sincréticos pelos alunos. Neste ponto, ao mesmo tempo em que os alunos ascendem ao nível sintético em que, por suposto, já se encontrava o professor no ponto de partida, reduz-se a precariedade da síntese do professor, cuja compreensão se torna mais e mais orgânica (SAVIANI, 1996, p. 81). Ressalva, entretanto, “que a alteração objetiva da prática só pode se dar a partir da nossa condição de agentes sociais ativos, reais” (p. 81). Assim, o ponto inicial e a finalização do processo de ensino-aprendizagem é a prática social, entendendo o ponto final como a realidade modificada a partir dos conhecimentos e nova consciência adquirida pelos alunos. Saviani (1996) pondera que a pedagogia histórico-crítica é um modelo a se completar, que a questão metodológica precisa ser mais trabalhada, assim como a sistematização de técnicas que condizem com a abordagem dialética. Não se trata de uma fórmula para práticas docentes, mas de uma base teórica da qual os educadores possam se servir para promover os avanços metodológicos necessários. 52 2.9 Considerações finais Este capítulo teve o objetivo de analisar paradigmas pedagógicos que permeiam a educação profissional e tecnológica brasileira e que alimentam o debate pedagógico nacional e contemporâneo sobre essa modalidade educacional. O principal desafio da educação profissional é formar profissionais que, além de conhecerem e dominarem tecnologias avançadas, sejam também capazes de agir em ambientes em constante mudança, incorporar valores sociais e agir criticamente sobre a realidade, dessa forma colaborando para desenvolvimento socioeconômico do país e as transformações sociais necessárias a uma sociedade mais justa e mais avançada socialmente. O legado das diversas concepções pedagógicas discutidas neste capítulo se faz presente, sincreticamente, nas práticas pedagógicas dos docentes da educação profissional e tecnológica brasileira. Nenhuma dessas concepções é neutra ou desinteressada. Por outro lado, o sentido atribuído a cada uma delas também pode variar conforme o que se pretende alcançar com essa modalidade educacional. No capítulo seguinte, será apresentado um artigo sobre a pesquisa realizada com professores de cursos superiores de tecnologia da Unatec. Ela visou compreender como eles entendem os motivos para a realização da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado, como vêm buscando implementá-la, as dificuldades encontradas, fatores facilitadores percebidos e condições que seriam necessárias para que essa proposta se concretize efetivamente. 53 3 O PRINCÍPIO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA DE PROFESSORES DA DISCIPLINA PROJETO APLICADO DO INSTITUTO UNA DE TECNOLOGIA Resumo: Este artigo analisa os resultados da investigação qualitativa e descritiva sobre práticas docentes na disciplina Projeto Interdisciplinar Aplicado de cursos superiores de tecnologia do Instituto UNA de Tecnologia (Unatec), em Belo Horizonte, Minas Gerais. Analisa especificamente como eles vêm interpretando nas suas ações didáticas a determinação institucional de colocar em prática os princípios da interdisciplinaridade, paradigma pedagógico que alimenta o debate pedagógico contemporâneo, inclusive na educação profissional e tecnológica. Pretende-se que o diálogo interdisciplinar responda à necessidade de superar a visão fragmentada da realidade e promova processos colaborativos de produção e socialização do conhecimento. Trata-se de um movimento que propõe novas formas de organização e de construção de conhecimentos e saberes, que penetrou diversos espaços da vida social, do mundo do trabalho e da escola. Os dados obtidos mediante entrevista com os professores foram organizados em cinco categorias de análise: motivos, recursos, facilitadores, dificultadores e condições que precisam ser criadas. A investigação encontrou evidências de que a interpretação desses docentes na aplicação prática desse princípio tem seguido orientação intuitiva e pouco estruturada, que a transformação dessa intenção institucional em realidade se apresenta como um grande desafio e que, apesar das dificuldades encontradas, eles demonstraram grande interesse em superá-lo. Palavras-chave: Projeto Aplicado, Interdisciplinaridade, Prática docente, Graduação tecnológica. Abstract: This research analyzes the results of qualitative and descriptive research on teaching practices in the discipline of Applied Interdisciplinary Project superior technology courses at UNA Institute of Technology (Unatec) in Belo Horizonte, Minas Gerais. Examines specifically how they have interpreted in their teaching actions to institutional determination to put into practice the principles of interdisciplinarity, pedagogical paradigm that feeds currently the contemporary educational debate, including vocational and technical education. It is intended that interdisciplinary dialogue addressing the need to overcome the fragmented view of reality and promote collaborative processes of production and socialization of knowledge. It is a movement that proposes new forms of organization and construction of knowledge and learning, which penetrated many areas of social life, the world of work and school. The data collected through interviews teachers were organized into five categories of analysis: motives, resources, facilitators, and complicating conditions that need to be created. The investigation found evidence that the interpretation of such teachers in the practical application of this principle is followed intuitive guidance and unstructured, that the transformation of the institutional intention 54 into reality presents itself as a challenge and that, despite the difficulties encountered, they showed great interest in overcome it. Keywords: Project applied, Interdisciplinarity, Teaching practice, technology graduation. 1 INTRODUÇÃO O Instituto UNA de Tecnologia (Unatec) oferece apenas cursos superiores de tecnologia. No primeiro semestre de 2013, contava com 6.500 alunos, 24 cursos e cinco campi localizados em Belo Horizonte e Contagem. Há dez anos, quando foi criado, contava apenas 360 alunos e tinha seis cursos. Seus cursos são organizados por módulo, conforme faculta o art. 5º da Resolução CNE/CP, de 18 de dezembro de 2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para organização e funcionamento dos cursos superiores de tecnologia. A modularização é uma das formas de flexibilizar e organizar o currículo, de prever o conjunto de conhecimentos profissionais que devem ser estruturados para responder a etapas do processo de formação, de materializar a relação entre os conhecimentos teóricos e práticos. Na Unatec, os módulos são constituídos por um conjunto de disciplinas articuladas por ações didático-pedagógicas em torno de um eixo tecnológico. Tem-se com isso a intenção de fornecer certificações intermediárias por módulo, possibiliando atuação profissional em temas da área antes mesmo da obtenção do diploma. Cada módulo é, assim, estruturado de maneira independente. A obtenção de certificações intermediárias está prevista no § 1º do art. 5º das Diretrizes Curriculares Nacionais, garante um determinado nível de terminalidade e confere possibilidade de exercício imediato de uma ocupação. Há o entendimento de que, nos cursos superiores de tecnologia, os alunos devem ser estimulados a produzir trabalhos acadêmicos que lhes propiciem 55 aprendizados efetivos no campo da sua futura atuação profissional, por meio de uma aproximação maior entre a realidade prática e a teoria aprendida em sala de aula. Como forma de garantir a prática da interdisciplinaridade, foi inserida em todos os módulos dos cursos da Unatec uma disciplina destinada à elaboração de projetos e que deve estar diretamente relacionada ao tema do eixo de formação do aluno e também à certificação intermediária a ser adquirida. Tratase do Projeto Aplicado. Orientados pelos professores dessa disciplina, os alunos devem desenvolver, em todos os períodos, projetos interdisciplinares, que abranjam atividades de pesquisa e de intervenção de interesse empresarial, social, cultural, artístico, ambiental, extrapolando os limites da sala de aula e da universidade, o que estimula parcerias com organizações, poder público e comunidades. Conforme sua concepção original, o Projeto Aplicado busca o envolvimento direto ou indireto de diversos profissionais que podem colaborar com suas atividades didático-pedagógicas. Mediante a Resolução nº 100/2008 do Conselho de Ensino e Extensão do Centro Universitário UNA, foram estabelecidas as normas para a implantação da disciplina. Considerando essa realidade da Instituição, buscou-se investigar como os professores dessa disciplina vêm interpretando nas suas ações didáticopedagógicas a determinação institucional de colocar em prática o princípio da interdisciplinaridade. Partiu-se da conjectura de que eles têm se guiado, para tanto, de forma intuitiva e pouco estruturada. 2 DESENVOLVIMENTO A proposta do diálogo interdisciplinar nos processos de ensino-aprendizagem visa responder à necessidade de superar a visão fragmentada da realidade e promover processos colaborativos de produção e socialização do conhecimento. Trata-se de um movimento que propõe novas formas de 56 organização e de construção de conhecimentos e saberes, que penetrou diversos espaços da vida social, do mundo do trabalho e da escola. As instituições de ensino superior têm sido solicitadas a promover processos de ensino-aprendizagem interdisciplinares, cooperativos e integradores. Todavia tal demanda se apresenta como um grande desafio para o qual as respostas não estão dadas a priori, pois se trata de um processo, uma prática ou uma dinâmica socialmente situada, que pressupõe intercomunicação, intercâmbios, compartilhamentos, reciprocidades, respeito mútuo, ética e atitudes que permitam construir convergências, reconhecer divergências e ter pedagogia própria. Segundo Leis (2005, p. 9), A interdisciplinaridade pode ser definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares) com lógicas diferentes. Ela tem a ver com a procura de um equilibro entre a análise fragmentada e a síntese simplificadora (Jantsch; Bianchetti, 2002). Ela tem a ver com a procura de um equilíbrio entre as visões marcadas pela lógica racional, instrumental e subjetiva (Lenoir; Hasni, 2004). Por último, ela tem a ver não apenas com um trabalho de equipe, mas também individual (Klein, 1990). No desenvolvimento da pesquisa, buscou-se, então, ouvir professores da disciplina Projeto Aplicado sobre como suas ações didático-pedagógicas exprimem a intenção da interdisciplinaridade e como elas servem para explicar esse princípio pedagógico. Como pesquisa de natureza qualitativa, foi desenvolvida de modo a compreender, conforme Godoy (1995), o fenômeno no contexto em que ocorre e do qual faz parte. Considerou-se o universo formado por 106 professores com atuação na disciplina e a intenção de entrevistar 20 professores, isto é, 19,6% do total deles, contemplando uma distribuição representativa dos cursos. Alguns docentes, por alegarem de forma recorrente dificuldades de agendamento ou de disponibilidade, não foram entrevistados. As entrevistas foram realizadas até o momento em que o entrevistador percebeu uma quantidade excessiva de respostas repetitivas, indicando saturação estatística (não agregação de 57 informações diferentes). Dessa forma, foram entrevistados 15 professores, todos do campus Barreiro. Em duas entrevistas realizadas foram detectadas falhas na gravação que inviabilizaram sua transcrição e, consequentemente, não puderam fazer parte do cômputo dos dados analisados. É importante registrar que a coleta de dados somente foi iniciada após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA. Os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos foram observados em todas as etapas dessa consulta, considerando os interesses de todos os participantes e a produção de resultados cientificamente significativos e socialmente úteis. Dessa forma, todos os participantes da pesquisa foram solicitados a se manifestar previamente sobre sua concordância em participar da pesquisa e autorizaram o uso dos dados coletados mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram realizadas no Campus Barreiro, em horários que antecediam as aulas ou nos intervalos entre elas. A amostra de docentes participantes desta pesquisa se mostrou bastante heterogênea com relação ao perfil dos professores (gênero, formação, idade, tempo de formação e tempo de trabalho na Instituição). Alguns eram recémcontratados e outros com mais de oito anos de experiência. Todos os entrevistados eram docentes também em outras disciplinas além da disciplina Projeto Aplicado. Antes das entrevistas, os entrevistados foram informados dos objetivos da pesquisa, do roteiro de perguntas, da necessidade de autorizarem a gravação das suas falas, do caráter de confidencialidade das informações concedidas. Depois disso, foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para o tratamento e análise dos dados foram utilizadas as técnicas da análise de conteúdo. Segundo Bardin (2008, p. 44), elas dizem respeito a 58 [...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Pode-se dizer que é um método de análise de texto utilizado em questões abertas de questionários e sempre no caso de entrevistas. As entrevistas foram gravadas e transcritas, observando-se a fidedignidade das informações. Não foram levados em consideração os equívocos semânticos e gramaticais na reprodução do que foi dito pelos sujeitos entrevistados. Para sua apresentação, foi utilizada a grafia em itálico. O cuidado nessa fase da investigação foi o de transformar as informações obtidas nas entrevistas em algo que fosse interpretável e que fizesse sentido para o investigador. Dessa forma, posteriormente, as respostas foram agrupadas por categorias. Somente após a realização dessa fase de tratamento das informações foi possível fazer a análise delas. Para tanto, buscou-se conhecer o contexto em que cada professor da disciplina está inserido de fato, observando-se as palavras, frases e ideias utilizadas. Os dados obtidos nas entrevistas foram devidamente registrados em planilha, observando-se a confidencialidade, a preservação da identidade do respondente, a fidedignidade das informações, de forma a assegurar a validade e a representatividade dos resultados. As informações foram colhidas, organizadas e consolidadas em cinco categorias principais: a) Motivos: compreendem as interpretações que docentes fizeram das razões pelas quais a instituição estabeleceu que a disciplina Projeto Aplicado deve ser desenvolvida com enfoque interdisciplinar. b) Recursos: compreendem os meios didático-pedagógicos mediante os quais os docentes afirmaram desenvolver a disciplina Projeto Aplicado. 59 c) Facilitadores: compreendem as interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias existentes na instituição que facilitam ações e procedimentos docentes para a realização da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado. d) Dificultadores: compreendem as interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias existentes na instituição que dificultam as ações e procedimentos docentes para a realização da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado. e) Condições que precisam ser criadas: compreendem as interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias que precisam ser criados para que a realização da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado se efetive. O agrupamento das respostas por subcategorias dentro de cada uma dessas cinco categorias passou igualmente por interpretações das informações obtidas dos entrevistados e foi feito respeitando o teor das ideias dos entrevistados e os objetivos da investigação. Essa fase do tratamento dos dados por meio de inferências interpretativas permitiu que os conteúdos recolhidos se transformassem em informação substantiva para a análise reflexiva. 2.1 Interpretações docentes sobre motivos para a prescrição institucional do princípio da interdisciplinaridade no desenvolvimento da disciplina Projeto Aplicado Nas falas dos docentes entrevistados ficou claro que eles entendem que o principal motivo para tratar a disciplina PA com uma abordagem interdisciplinar é a possibilidade de realizar a aproximação do aluno com o mundo do trabalho, sobretudo o empresarial. Consideraram que ele precisa compreender a realidade multifacetada do extramuro da escola. O professor Y interpreta que essa disciplina, com sua abordagem interdisciplinar, deve 60 fazer com que os alunos se aproximem de empresas e façam um diagnóstico empresarial como se fossem consultores aos quais os professores vão dando subsídios para o desenvolvimento da consultoria. Segundo o professor Z, a interdisciplinaridade se justifica nessa disciplina considerando que é necessário trazer outros conteúdos, que nem sempre são curriculares, para serem trabalhados de forma associada aos conteúdos curriculares. Essas são afirmações relativamente às quais os professores argumentam que a disciplina deve contribuir como meio de promoção do desenvolvimento intelectual e da autonomia dos sujeitos diante da necessidade de enfrentarem situações-problema, de refletir sobre a complexidade da realidade do mundo do trabalho e atuar sobre ela. As falas dos entrevistados sinalizaram para interpretações muito favoráveis à adoção do princípio da interdisciplinaridade por essa disciplina, que viria, segundo eles, para: a) possibilitar a apropriação de conhecimentos diversificados, inclusive não acadêmicos; b) desenvolver habilidades difereniadas; c) favorecer a produção de diferentes significados; d) agregar valores e princípios éticos; e) tornar os alunos sujeitos ativos no próprio processo de aprendizagem. Os docentes entrevistados ressaltaram ainda que a interdisciplinaridade nessa disciplina possibilita ao aluno desenvolver um perfil de pesquisador, pois ele precisa fazer investigações e se apropriar do conhecimento gerado por elas. As manifestações dos docentes indicam que tal exigência implica uma nova situação com relação ao seu papel no desenvolvimento dessa disciplina, que requer abordagens específicas no processo de ensino-aprendizagem, de reflexão crítica sobre sua contribuição na formação dos alunos e de maior intimidade com processos de produção de conhecimento, de pesquisa. 61 Para Demo (2003), para que a educação pela pesquisa aconteça, o professor deve se colocar como um orientador do questionamento da realidade, o que requer mudança de atitude e olhar diferenciado frente às demandas do processo de ensino-aprendizagem. Esse novo paradigma de professor definido por outro tipo de relação com o processo de ensino-aprendizagem pede, consequentemente, maior formação do docente da disciplina de PA Para Fazenda (1997), a introdução da interdisciplinaridade implica uma transformação profunda da pedagogia, o que requer um novo tipo de professor. Segundo ela, passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um modelo hierárquico linear, a uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de um é a posição de todos. Assim, também emergiu das entrevistas a importância da interdisciplinaridade no desenvolvimento do trabalho de PA para a interlocução didática e teórica, envolvendo os demais professores das disciplinas do módulo. Os professores de PA disseram que a interdisciplinaridade nessa disciplina pode contribuir para proporcionar aos alunos oportunidades de desenvolvimento da capacidade de trabalho em equipe e de estabelecer relações mais efetivas com os colegas, levando-os ao sentimento de pertencimento a um grupo. Disseram ainda que outro bom motivo para a exigência da interdisciplinaridade é a possibilidade que ela tem de favorecer a aproximação dos professores do módulo no qual a disciplina é desenvolvida. Por causa dela e por meio dela os professores se aproximam e conversam, mesmo que informalmente, durante os intervalos das aulas. Trocam informações sobre o desenvolvimento dos trabalhos dos alunos e a necessidade de trabalharem determinados temas com maior ou menor profundidade. Eles relataram que a interdisciplinaridade requerida pela disciplina Projeto Aplicado se justifica pela efetiva colaboração que ela traz para a melhor compreensão da inter-relação das disciplinas do módulo pelos alunos. Ela ajudaria a suprir a necessidade de extrapolar a visão fragmentada nos 62 processos de produção e socialização do conhecimento e de favorecer o desenvolvimento do raciocínio crítico e científico dos alunos. Segundo os professores entrevistados, os alunos da graduação tecnológica encontram-se distanciados da pesquisa acadêmica, apresentam escassa familiaridade com o método científico e dificuldades no letramento, o que colabora para a pouca compreensão e interpretação da realidade cotidiana. Para eles, a prática interdisciplinar na disciplina de PA ofereceria oportunidades de minimizar essas fragilidades e de trabalhar com os alunos, de forma abrangente, questões referentes ao mundo do trabalho e formas de interpretar a realidade em que irão atuar profissionalmente. O que foi mencionado pelos professores remete à preocupação de Demo (2003, p. 2) quanto à preparação docente para incorporar em seu trabalho com os alunos a pesquisa como princípio educativo. [...] educar pela pesquisa tem como condição primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana. [...] Não se busca um profissional da pesquisa, mas um profissional da educação pela pesquisa. Segundo o autor, para que a educação pela pesquisa aconteça como prática educativa, o professor deve adotar uma postura muito mais de orientador do processo de questionamento da realidade. Dessa forma, são exigidos do docente uma nova atitude e um olhar diferenciado frente às demandas do processo de ensino-aprendizagem. Assim, a atribuição da tarefa de promover o processo de diálogo e intercâmbio interdisciplinar na disciplina Projeto Aplicado encontra suas razões também na necessidade de implementar o princípio educativo e científico da pesquisa na formação do aluno e nas relações entre os docentes, reinterpretando o lugar de cada um desses sujeitos na construção e reconstrução de conhecimentos e saberes. 63 2.2 Recursos didático-pedagógicos mediante os quais os docentes disseram desenvolver a interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado Os professores entrevistados partiram do pressuposto de que o recurso principal que precisam utilizar para desenvolver a prática interdisciplinar é a aproximação do aluno com o mundo do trabalho. O PA é uma atividade acadêmica que visa à formação profissional por meio da aproximação entre os conhecimentos obtidos no curso e os desafios colocados pela futura atuação profissional do aluno. É um trabalho acadêmico voltado para a resolução de problemas e aplicação de conhecimentos à realidade concreta, o que sempre requer pesquisa e o concurso de diferentes olhares disciplinares. De maneira geral, os professores relataram que a dinâmica da interdisciplinaridade na disciplina se inicia com a apresentação dos temas aos alunos, temas esses que estão previamente definidos nos projetos pedagógicos dos cursos e em suas matrizes curriculares. Na sequência, é estabelecido um cronograma como ponto de partida para o planejamento dos trabalhos a serem desenvolvidos. Segundo os professores entrevistados, eles solicitam aos alunos que busquem orientação e sugestões dos professores das demais disciplinas, mais especificamente sobre recortes dentro dos temas e dos objetivos a serem alcançados pelo projeto. Alguns professores adotam como prática o uso de um formulário que os demais professores consultados pelos alunos devem preencher e assinar para que se comprove a orientação fornecida. A Resolução nº 123/2012, do Conselho de Ensino e Pesquisa do Centro Universitário UNA – CEPE –, que aprova e dispõe sobre a elaboração do Projeto Aplicado nos Cursos Superiores de Graduação Tecnológica, instrui sobre a obrigatoriedade de utilização das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – na construção do Projeto Aplicado. Determina também que o trabalho escrito deverá apresentar introdução, desenvolvimento, 64 conclusão e referências bibliográficas e virtuais. Tal resolução é, portanto, um recurso didático-pedagógico muito importante para que os professores tenham uma referência comum sobre as exigências feitas aos alunos nessa disciplina. Porém, como relataram alguns dos entrevistados, os alunos têm apresentado grandes dificuldades para redigir e consolidar o trabalho acadêmico de acordo com tais orientações, apesar de essas exigências constituírem conteúdo curricular oferecido a eles nos primeiros períodos dos cursos de graduação tecnológica do Instituto UNA de Tecnologia. Uma prática bastante comum entre os professores, adotada quase como uma prescrição institucional, mas que não encontra respaldo normativo, é a orientação levada aos alunos de que eles devem, durante o desenvolvimento do trabalho, buscar auxílio dos professores coorientadores na elaboração de um objetivo específico para cada disciplina do módulo. Conforme afirma a professora M: ...aí ele pede um objetivo específico que no final não soma ao objetivo geral. ... então, é uma tentativa – não sei se efetiva de fato – mas é uma tentativa de escolher o objeto de estudo de acordo com o eixo temático e tentar fazer com que os professores se encaixem nessa perspectiva que eles já escolheram... porque se cada professor trabalha com uma diretriz de maneira separada não dá certo. ... cada um vai pra um lado e no final das contas você não tem um trabalho com um problema, com uma pergunta. Aí, eles respondem assim “p’rá atender à Estatística eu fiz isso, p’rá atender Comportamento eu fiz isso.”. No final das contas, essa soma não dá um trabalho. O que se percebe como resultado dessa prática é a superposição de conteúdos, caracterizando o processo como multi ou pluridisciplinaridade, mas não interdisciplinaridade. Como esclarece Santos (2006, p.6) A pluri e multidisciplinaridade podem ser designadas como a justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou, ainda, a integração de conteúdos numa mesma disciplina (FAZENDA, 1979). Em ambas recorremos a informações de várias disciplinas para estudar um determinado fenômeno sem a preocupação de interligá-las entre si. Ao analisar, por exemplo, uma peça de teatro clássica, podemos recorrer à História, à Linguística, à Geografia ou à Política, cada uma trazendo a sua contribuição específica, mas sem uma verdadeira integração entre elas. Esta forma de relacionar disciplinas é considerada ainda incipiente, uma vez que dificilmente realiza a articulação que ultrapasse a tão criticada fragmentação dos conhecimentos. 65 Como esclarece a autora, a interdisciplinaridade é um desafio a ser buscado de forma devotada e é uma opção capaz de favorecer a integração dos conteúdos curriculares promovendo, assim, a reorganização das áreas do conhecimento e um modelo de aprendizagem inovador. Ela favorece a transformação de uma organização curricular fragmentada e fragmentária, reprodutora de posições desiguais para saberes de igual importância. Agindo dessa forma, estimulando alunos e professores coorientadores a desenvolverem objetivos específicos para cada disciplina do módulo, os professores de PA podem estar trabalhando no sentido contrário ao da interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade se constrói com uma nova atitude frente ao conhecimento, tanto por parte dos alunos, mas principalmente por parte dos docentes, que devem romper os limites disciplinares, abrindo mão da defesa do conteúdo da sua disciplina como o mais importante para o aprendizado aluno, passando a entendê-lo como parte integrante e integradora da construção do conhecimento do aluno. Para isso, é preciso, como propõe Fazenda (1979), “uma atitude interdisciplinar”, que nada mais é do que uma atitude de busca, de inclusão, de acordo e de sintonia diante do conhecimento. 2.3 Interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias existentes na instituição que facilitam ações e procedimentos para a realização da interdisciplinaridade na disciplina de Projeto Aplicado Alguns professores entendem que o perfil generalista e a experiência profissional variada dos professores da disciplina de PA são fatores facilitadores do desenvolvimento do processo interdisciplinar. Creem também que o professor com perfil de pesquisador, com domínio de diferentes conteúdos, de técnicas de investigação e das normas aplicadas à construção 66 de projetos acadêmicos também é um fator facilitador para o desenvolvimento da prática interdisciplinar na disciplina. Assim, justifica o professor B: O professor da disciplina de PA sendo um profissional experiente e generalista facilita muito a integração dos conteúdos. Esse professor generalista também despertaria nos alunos mais confiança e passaria a ser uma referência pela contribuição que lhes daria em assuntos de diferentes conteúdos curriculares. Azevedo e Andrade (2007) se apoiam em Tomazetti (1998) para dizer que, na perspectiva da interdisciplinaridade, o professor não pode ser mero repassador de conhecimentos. Deve se envolver com seus alunos e outros docentes na reconstrução dos saberes. Isso exige que seja um professor-pesquisador, que possibilite aos alunos também a prática da pesquisa. O professor-pesquisador constitui-se, portanto, como agente necessário a uma formação mediada pela interdisciplinaridade. Alguns professores entrevistados entendem também que o perfil do aluno trabalhador colabora substancialmente com a possibilidade do exercício interdisciplinar da disciplina, pois traz saberes de outras experiências e contextos, o que facilita a construção e a aquisição de novos conceitos e significados. Japiassú (1976) considera que a relação de reciprocidade, a mutualidade e o regime de copropriedade são condições que facilitam o diálogo entre os vários campos do conhecimento e do saber. Para esse autor, a exigência interdisciplinar impõe a cada disciplina que transcenda sua especialidade, tomando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas. Nesse sentido, os professores entrevistados também fizeram referência à importância do ambiente convivial e da existência de relações profissionais próximas, envolvendo os professores de cada módulo, criando-se, assim, oportunidades de troca de experiências e de conhecimentos. O ambiente da sala dos professores e o horário do intervalo foram interpretados por eles como fatores muito importantes para que essas relações se tornem mais efetivas, apesar de informais. 67 O sistema de avaliação dos discentes utilizado pela disciplina foi também lembrado pelos professores entrevistados como um dos fatores facilitadores da aplicação do princípio da interdisciplinaridade. A nota do aluno precisa passar por um consenso de docentes, o que tem representado um desafio para a sua operacionalização. 2.4 Interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias existentes na instituição que dificultam as ações e procedimentos para a realização da interdisciplinaridade na disciplina de Projeto Aplicado Alguns professores entrevistados afirmaram que, por vezes, não é possível fazer uma amarração interdisciplinar coerente entre todas as disciplinas do módulo. Essa dificuldade seria gerada pela própria matriz curricular dos cursos. Eles foram unânimes em afirmar que também se ressentem da falta de um espaço institucional para troca de ideias e acompanhamento do desenvolvimento dos grupos de alunos, para traçar ou replanejar estratégias de elaboração dos projetos. É nos momentos informais de encontro que eles buscam superar a deficiência encontrada para o desenvolvimento da interdisciplinaridade. Essa é uma questão sobre a qual adverte Japiassú (1976), ao afirmar que a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto. Ou seja, a falta de um espaço institucional para trocas pode colaborar para que a interdisciplinaridade não se concretize de forma efetiva. Alguns professores apontaram a falta de padronização e/ou as deficiências nas normas institucionais vigentes, além da falta de cobrança por parte da instituição do que está prescrito com relação ao princípio da interdisciplinaridade, como principais empecilhos aos bons resultados dessa prática na disciplina de Projeto Aplicado. 68 Além disso, alguns deles apontaram a ausência de um banco de dados, contendo todos os projetos já desenvolvidos, o que cria a oportunidade de cópia de trabalhos e/ou plágio. Houve também relatos de que há professores da disciplina que dominam apenas conteúdos normativos e não os conteúdos técnicos ou não têm perfil generalista ou experiência relevante para desenvolver bem a orientação dos alunos nos temas sugeridos. Isso estaria gerando maior demanda da colaboração dos demais professores. Entretanto não existe um momento institucional para a troca de experiências. Assim, eles creem ser urgente a criação de espaço e tempo para a troca de experiências e o planejamento envolvendo todos os professores de cada módulo. Outro aspecto mencionado pelos professores diz respeito à falta de comprometimento dos colegas na observação dos prazos de entrega das orientações, avaliações e lançamento de notas compartilhadas. Alguns professores declararam que ainda existem colegas que não dão a devida importância à disciplina de PA, que sustentam uma visão exclusivista e buscam trabalhar apenas os conteúdos de sua disciplina, esquecendo-se da relevância da visão integrada dos conteúdos para a formação dos alunos. Assim, alguns professores não estariam obedecendo à diretriz institucional de dedicar 10% (dez por cento) de sua carga horária à coorientação dos projetos aplicados. A falta de compromisso dos professores com a disciplina de Projeto Aplicado e, consequentemente, de interação com os colegas não estaria, assim, gerando oportunidades para a troca de informações e experiências, comprometendo a construção do conhecimento interdisciplinar. Por parte dos alunos, haveria, segundo os professores entrevistados, alguns fatores dificultadores para o desenvolvimento da interdisciplinaridade na disciplina de PA Muitos alunos não lhe dariam importância, a considerariam pouco relevante para sua formação, acreditariam que ela não reprova, que ela seria apenas uma forma de colaborar com a nota obtida em outras disciplinas. Com isso, se empenhariam pouco na realização do diálogo interdisciplinar e para obter melhores resultados em suas pesquisas para o PA 69 Os professores entrevistados reafirmaram que a falta de entendimento e sensibilização por parte dos alunos sobre a importância da disciplina para sua formação e a deficiência na formação básica desses alunos são componentes que impactam desfavoravelmente o desenvolvimento da interdisciplinaridade da disciplina. O baixo nível de letramento dos alunos também é apontado pelos professores entrevistados como um dos empecilhos encontrados para o bom andamento da interdisciplinaridade na disciplina, para o desenvolvimento dela. A insuficiência de letramento, inclusive do acadêmico, seria um fator de forte interferência negativa no desenvolvimento da desenvoltura do aluno para exercitar a interdisciplinaridade, que precisa contar com sua compreensão, motivação e capacidade de interpretação e de elaboração de textos, condições fundamentais para o desenvolvimento de projetos científicos. 2.5 Interpretações dos docentes sobre fatores e circunstâncias que precisam ser criados para que a realização da interdisciplinaridade na disciplina de Projeto Aplicado se efetive Com quase unanimidade, os professores entrevistados apontaram como fundamental o aprimoramento das relações entre os docentes de PA e os demais professores do módulo para o desenvolvimento dessa disciplina e a efetivação do seu caráter interdisciplinar. Esse aprimoramento poderia ser desenvolvido por meio de reuniões. Uma delas poderia ser a que ocorre no início de cada semestre, momento propício para a discussão com mais profundidade dos temas a serem desenvolvidos pelos alunos e das contribuições de cada disciplina para a construção dos PA Eles sugeriram a criação de reuniões específicas envolvendo os professores dos módulos e o professor de PA Essas reuniões poderiam ser realizadas no início do semestre letivo e durante o semestre, como na semana de orientação de PA 70 Outra sugestão apresentada pelos professores entrevistados diz respeito à formação e à qualificação dos professores, tanto dos professores de PA quanto das demais disciplinas. Alguns deles relataram que há colegas, normalmente os recém-contratados, que não têm os conhecimentos necessários ou o domínio dos conteúdos para atuarem como docentes da disciplina. Os entrevistados apontaram ainda uma prática recorrente na Instituição de atribuírem a disciplina de PA a determinado professor como forma de não lhe reduzir a carga horária, ainda que ele não possua conhecimento ou perfil para atuar nela. Além do dano ao conteúdo, essa prática indica a forma como a própria escola trata a disciplina e a importância que lhe é conferida, quando, na verdade, ela deveria ser o eixo onde se apoia todo o projeto acadêmico da instituição. Criar padrões para processos e metodologia para a disciplina Projeto Aplicado também foi proposição dos entrevistados. Eles acreditam que, apesar de existir o caráter normativo e institucional, definido por meio da Resolução nº 100/2008 do Conselho de Ensino e Extensão do Centro Universitário UNA e portarias da direção definindo o edital da disciplina, ainda existem muitas variações nas orientações e na construção do produto final da disciplina, advindas das distintas formações dos docentes orientadores. Essas diferenças podem ser decorrentes não apenas da formação distinta dos professores, mas também da falta de qualificação deles ou da sua inadequação aos padrões normativos da instituição, e ainda da falta de um acompanhamento mais efetivo por parte das coordenações. Outra colaboração dos entrevistados para a efetivação da interdisciplinaridade da disciplina de PA diz respeito à construção das matrizes curriculares. Alguns professores sugerem que elas deveriam ser revisadas, levando-se mais em consideração a necessidade de favorecer o diálogo interdisciplinar. Além disso, sugerem minimizar a troca de professores de Projeto Aplicado, pois a alternância de docentes tem causado descontinuidade nas relações que mal começaram a ser estruturadas, prejudicando, assim, a construção do processo e da dinâmica da interdisciplinaridade. 71 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Azevedo e Andrade (2007), a prática da interdisciplinaridade tem como proposta promover uma nova forma de trabalhar o conhecimento, na qual haja interação entre sujeitos, sociedade e conhecimentos. Ela compreende a relação professor-aluno, professor-professor e aluno-aluno, de maneira que o ambiente escolar seja dinâmico e vivo, e os conteúdos e/ou temas sejam conhecidos e problematizados com a cooperação, interação e compartilhamento de diferentes disciplinas. A consulta a uma amostra de professores da disciplina Projeto Aplicado do Instituto UNA de Tecnologia teve, portanto, o objetivo de compreender como eles vêm interpretando nas suas ações didático-pedagógicas a determinação de colocar em prática tal proposta. Conjecturou-se, ao início da investigação, que eles vêm atuando de forma intuitiva e pouco estruturada na interpretação prática do princípio da interdisciplinaridade. Os dados obtidos confirmaram essa resposta antecipada sobre a prática docente na disciplina de P.A. Verificou-se que há determinação formal da instituição para a implementação da interdisciplinaridade nessa disciplina, consubstanciada em instrumentos normativos e na fala dos entrevistados. Esses, porém, interpretaram que ainda há dificuldades importantes para transformar essa intenção institucional em realidade. Demonstraram interesse em efetivá-la, consideram-se entusiasmados com a proposta, mas têm atuado de maneira limitada e intuitivamente. Eles revelaram ter conhecimentos superficiais sobre o tema, o que faz com que sua prática pedagógica pouco se aprofunde interdisciplinar. 72 na concretização do processo REFERÊNCIAS AZEVEDO, José Clóvis de. Reconversão cultural da escola: mercoescola e escola cidadã. Porto Alegre: Sulina, 2007. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2008. DEMO, Pedro. Educação Científica. Boletim Técnico do Senac.. Rio de Janeiro: v. 36, n.1, jan./abr. 2003. FAZENDA, Ivani C. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008. GODOY, Arilda Schimidt. Pesquisa Qualitativa: Tipos Fundamentais. Revista de Administração de Empresas: v. 35, n. 3, 1995 JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2001. JAPIASSÚ, Hilton. Interdisciplinaridade e a patologia do saber. São Paulo: Imago editora, 1976. LEIS, H. R. Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar: n. 73, ago. 2005. SANTOS, E. H. A interdisciplinaridade como eixo articulador do ensino médio e do ensino técnico de nível médio integrados. In: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica. (Org.). Ensino médio integrado à educação profissional: integrar para quê?. 1ed.Brasília: MEC/SEB, 2006, v. , p. 139-153 UNATEC. Manual de Projeto Aplicado, 2008. 73 4 CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA: INTERDISCIPLINARIDADE E PROJETO APLICADO Assim estamos: cegos de nós, cegos do mundo. Desde que nascemos, somos treinados para não ver mais que pedacinhos. A cultura dominante, cultura do desvínculo, quebra a história passada como quebra a realidade presente; e proíbe que o quebra-cabeças seja armado. (GALEANO, 1990) 74 APRESENTAÇÃO Este guia didático trata da aplicação do princípio da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado, presente em diferentes matrizes curriculares de cursos superiores. Em geral, essa disciplina é apresentada como um meio de promover o desenvolvimento intelectual e a autonomia dos alunos diante de situações-problema, fazendo-os exercitar a pesquisa e a reflexão crítica sobre a realidade na sua complexidade e identificar formas de atuar sobre ela. É vista como uma forma de promover a apropriação e a reconstrução de conhecimentos, sempre com a preocupação de chegar à solução de problemas e/ou demandas reais. Essa intenção de favorecer a produção de significados requer a agregação de valores e princípios éticos, inclusive na mobilização da capacidade dos estudantes de intervir criticamente no próprio processo de aprendizagem. Segundo Demo (2003), a educação para pesquisa requer atitude de docentes e discentes comprometida com a produção de conhecimentos, formas de se colocar no processo de ensino-aprendizagem com perspectiva diferente da usual transmissão de conhecimentos. Isso demanda reflexão crítica sobre a relação com o conhecimento. Para que a educação pela pesquisa aconteça favoravelmente ao processo de desenvolvimento integral e autônomo do aluno, 75 o professor deve se colocar como um orientador, estimulando-o a realizar interlocuções com a realidade, a questionar se os conhecimentos existentes sobre ela são suficientes e adequados, a mudar suas atitudes e seu olhar com relação ao processo de ensino-aprendizagem. A disciplina Projeto Aplicado, por se constituir como oportunidade para a prática do princípio pedagógico da pesquisa, pode favorecer a renovação da prática dos docentes e discentes e oferecer importante contribuição para a formação reflexiva e crítica do aluno e da sua capacidade propositiva, condições fundamentais para sua participação ativa e responsável na vida social e no mundo do trabalho. Trabalhar com projetos requer a valorização da pesquisa sobre temas e problemas de interesse social e a mudança pedagógica. Esta pressupõe que a aprendizagem ocorra motivada pela necessidade da resolução de problemas. Para tanto, é importante que as situações didáticas sejam significativas para o aluno. Isso ocorre quando as novas informações que ele adquire se relacionam de modo relevante com as representações que ele já formou a respeito do tema ou problema em estudo, podendo fortalecê-las ou até modificá-las. Diferentemente da aprendizagem mecânica, a concepção de aprendizagem significativa requer que o aluno perceba relações entre fatos e conceitos, construa novos significados e proposições. Este guia didático focaliza o trabalho pedagógico com projetos, mas tem ainda a intenção de fazer essa abordagem incorporando a importância e a necessidade de enriquecer esse trabalho com a prática interdisciplinar. JUSTIFICATIVA Dentre os paradigmas pedagógicos presentes no atual debate sobre a educação profissional e tecnológica, destacam-se questões relacionadas à aplicação do princípio educativo da pesquisa, como trabalhar com projetos e como realizar a interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem. 76 Investigação realizada sobre o princípio da interdisciplinaridade na prática de professores da disciplina de Projeto Aplicado no Instituto UNA de Tecnologia – UNATEC, destinada à integralização do curso de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA – mostrou que há entre os professores dessa unidade universitária abertura e interesse propícios ao desenvolvimento da interdisciplinaridade nessa disciplina, mas que o fazem de forma intuitiva. Justifica-se, assim, a proposta deste guia didático de contribuir para o desenvolvimento da interdisciplinaridade nas práticas de ensino-aprendizagem de disciplinas que tratam de projetos aplicados em cursos superiores de tecnologia, considerando ser seu compromisso fundamental a integralidade do aluno no seu processo de formação humana. PROJETO APLICADO A disciplina Projeto Aplicado foi inserida em todos os módulos da matriz curricular dos cursos de graduação tecnológica da Unatec. Uma das razões para isso se refere à necessidade de garantir a prática da interdisciplinaridade por alunos e professores. Os projetos aplicados interdisciplinares devem estar diretamente relacionados ao eixo tecnológico do curso e também à certificação intermediária que cada módulo possibilita aos alunos. Eles envolvem atividades de pesquisa e de intervenção de interesse social, cultural, artístico, ambiental de grupos sociais, instituições e organizações, extrapolando os limites da sala 77 de aula e da instituição de ensino, o que estimula parcerias com o mundo do trabalho, órgãos governamentais e a comunidade em geral. CONHECIMENTO Conhecer é um processo sociohistórico da atividade criadora do ser humano, que ocorre em diferentes domínios da vida social: familiar, escolar, recreativa etc. O conhecimento pode ser de diferentes ordens: científico, estético, político etc. Por ser um processo histórico, ele não se constitui no vazio e sim das heranças que as atividades realizadas em diferentes épocas e das que hoje se realizam propiciam. O conhecimento, por ser um processo social, se constitui por meio de relações sociais, que dão significado, abrangências e possibilidades ao contexto nas quais se desenvolvem as interpessoais. Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e transformar conhecimentos e aplicar o que aprendemos por diversos meios. Por meio da atividade sensorial, da percepção e da representação, desenvolvemos significados que se consolidam por meio da linguagem, dando origem a conceitos, juízos, ilações, induções, deduções, análises e sínteses. Somos, assim, os únicos capazes de criar um sistema de símbolos e com ele 78 registrar nossas próprias experiências e nossos raciocínios lógicos para comunicá-los a outros seres humanos. PESQUISA APLICADA Toda pesquisa busca respostas a algum questionamento ou problema insuficientemente explorado ou ainda não esclarecido. Porém nem toda pesquisa concretiza-se em aplicações imediatas. Há aquelas que vão encontrar contexto histórico e condições objetivas para isso muito tempo depois de realizadas. Há aquelas que buscam desvendar propriedades de materiais ou a natureza de fenômenos, cujos resultados servem como subsídios para outras pesquisas, ou seja, a aplicação imediata se circunscreve à atividade científica. Há, além disso, aquelas cujos resultados fundamentam outras atividades humanas: as produtivas, as educacionais, as estéticas etc. Essas últimas recebem, usualmente, o nome de pesquisas aplicadas, muito embora todas as pesquisas, imediata ou mediatamente, tenham o motivo da aplicação. PEDAGOGIA DE PROJETOS (METODOLOGIA DE PROJETOS) Desenvolvida inicialmente por William Kilpatrick, no contexto do pensamento pedagógico progressivista norte-americano ou do movimento da chamada Escola Nova, o método de projetos é uma proposta que visa a proporcionar oportunidades de aprendizagem, desviando o aluno das atividades tradicionais de sala de aula para, com orientação e autonomia, pesquisar um tema e/ou 79 problema. Esse processo pode envolver outras classes e professores, mais de uma disciplina. A pedagogia de projetos tem sido resgatada por outras correntes do pensamento educacional que discutem a aplicação do princípio pedagógico da pesquisa. A ideia central da pedagogia de projetos é possibilitar que o aluno aprenda no processo de levantar dúvidas, de buscar informações e de criar relações, que alimentem suas descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Hernández (1998) enfatiza que o trabalho por projeto não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola. Essa compreensão é fundamental, porque aqueles que buscam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da complexidade que envolve a realidade da sala de aula, do contexto escolar. A Metodologia de Projetos propõe um novo paradigma entre ensino e aprendizagem iniciado pela mudança na relação entre professor e aluno. O aluno é considerado um sujeito ativo no processo de pesquisar. O professor deixa de ser aquele que simplesmente transmite conteúdos para ser um mediador na (re)construção do conhecimento. Ambos precisam encontrar sentidos sociais e pessoais, nesse processo. A educação por meio do desenvolvimento de projetos tem a intenção de permitir uma aprendizagem diferenciada porque promove também a capacidade dos alunos de exercer a participação ativa em face de situaçõesproblema e a reflexão sobre elas, tendo em vista a tomada de atitudes transformadoras. Ao professor compete resgatar os conhecimentos prévios do educando, auxiliá-lo na identificação e seleção de um problema relevante de pesquisa, orientá-lo no desenvolvimento do projeto e estimular as reflexões sobre os resultados alcançados. A intenção é promover a aprendizagem como um processo global, teórico e prático, no qual o conhecimento da realidade e a intervenção nela sejam faces de um mesmo perfil. Entende-se que a aprendizagem é desencadeada a partir 80 da constituição de um problema pelo educando, capaz de conduzi-lo à investigação, à busca de informações, à construção de novos conceitos, à seleção de procedimentos de pesquisa, à análise de resultados e a propostas de intervenção. DISCIPLINA No contexto das diretrizes curriculares nacionais gerais para a educação profissional de nível tecnológico, disciplinas são meros recortes do conhecimento, organizados de forma didática e que apresentam aspectos comuns em termos de bases científicas, tecnológicas e instrumentais. (BRASIL, 2002, p. 30). Esse documento do Conselho Nacional de Educação preconiza a organização curricular que valorize a interdisciplinaridade, entre outros motivos, porque o mundo do trabalho atual rejeita a fragmentação do conhecimento. 81 INTERDISCIPLINARIDADE: Trata-se de um processo de articulação disciplinar, de um sistema que compreende dois níveis: o das disciplinas com seus próprios objetivos, portanto múltiplos, e o do processo de cooperação entre elas, que pressupõe, necessariamente, uma coordenação. Minayo (2010) afirma que a interdisciplinaridade se constitui pela articulação de várias disciplinas, processo que tem como foco um objeto, problema ou tema, que, para ser apreendido na sua globalidade ou complexidade, requer respostas coordenadas de vários campos do conhecimento. Habermas (1987) lembra que, diante de um objeto concreto, sempre se trabalha com fragmentos disciplinares conectados pela pergunta central, e que, para compreendê-lo de forma mais profunda, ampliada e complexa, é necessário, além da cooperação de disciplinas, o acercamento de uma lógica comunicativa com o mundo da vida. A interdisciplinaridade aplicada à pedagogia de projetos é um processo de interação coordenada, que tem implicações para a organização estrutural e as propriedades dessa metodologia. Fazenda (1997) considera que a introdução da interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem implica uma transformação profunda da pedagogia utilizada, da formação de professores, do jeito de ensinar. Ela argumenta que não se trata mais de relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, pois pressupõe ruptura 82 com o modelo de hierarquização linear dos conhecimentos e requer o cultivo da prática pedagógica dialógica, na qual a posição de um é a posição de todos. É o objeto ou problema investigado que faz a convocação da cooperação entre disciplinas e auxilia o processo de coordenação desse diálogo. Então, a interdisciplinaridade não deve ser entendida como uma camisa de força para juntar pessoas e nem para acomodar interesses. Quando demandada pelo objeto ou problema investigado, ela deve ir ao seu encontro tendo em vista proporcionar resposta que ultrapasse a pluridisciplinaridade e a multidisciplinaridade. PLURIDISCIPLINARIDADE Trata-se também de um processo de articulação disciplinar, de um sistema que compreende apenas um só nível, o das disciplinas com seus objetivos múltiplos que podem estabelecer um processo de cooperação entre si, mas sem que isso seja feito sob uma coordenação. Logo, a interdisciplinaridade não se confunde com a pluridisciplinaridade. Nesta última, o que ocorre é uma justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas, geralmente do mesmo nível hierárquico, que guardam relações entre si, mas em caso de cooperação entre elas isso se dá espontaneamente, sem coordenação. É importante considerar que coordenação implica organizar e dispor de materiais, recursos, equipamentos, técnicas, métodos e pessoas para realizar uma determinada atividade ou processo. 83 Um aspecto importante a considerar nesse processo de coordenação se refere ao fato de que pontos de vista sobre conceitos e abordagens podem ser diferentes e até se oporem. 84 MULTIDISCIPLINARIDADE Compreende um sistema de um só nível, o das disciplinas com objetivos múltiplos, com o registro de que entre elas não ocorre cooperação. Portanto não se confunde com a pluridisciplinaridade e muito menos com a interdisciplinaridade. A multidisciplinaridade corresponde à matriz curricular que tradicionalmente tem sido adotada e praticada nas escolas brasileiras, desde a segunda etapa do ensino fundamental até a educação superior. São matrizes curriculares fragmentadas, um conjunto de disciplinas oferecidas ao aluno sem a preocupação de explorar as relações entre elas, sem colocá-las em cooperação. O diálogo interdisciplinar precisa se ocupar também da intercomunicação entre diferentes formas de pensar. A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR Ela pressupõe interação prolongada entre as disciplinas de forma que a cooperação entre elas se desenvolva. Esse processo, que respeita a existência de disciplinas e seus conteúdos específicos, precisa ser coordenado para que favoreça a aproximação dos diferentes discursos, a criação de uma terminologia comum, um quadro conceitual construído a partir das contribuições de cada disciplina, a geração de abordagens novas e até mesmo um novo conhecimento. 85 Trata-se de um processo de ensino-aprendizagem fundado na reciprocidade e na horizontalidade, sem hierarquização. É preciso que todos estejam convencidos de que o problema ou objeto estudado não pode ser estudado ou pesquisado a partir de enfoques monodisciplinares. É possível que estranhamentos epistemológicos, culturais, sociais e subjetivos surjam nesse processo de interação. Daí a importância da sua coordenação democrática e participativa para que tais diferenças sejam explicitadas e negociadas. É importante considerar que interdisciplinaridade não é ecletismo, nem a dominação de uma disciplina sobre outra ou de uma forma de pensar sobre outra. O que requer atenção é entender quanto cada uma contribui para a constituição de um quadro referencial global, para o esclarecimento do problema estudado, para a formação integral, atual, significativa, abrangente do aluno. Daí a importância das seguintes abordagens: A. a relacional, por meio da qual se exploram as ligações que permitam realizar complementaridades, convergências, conexões; B. a ampliadora, que visa preencher os vazios deixados por disciplinas; 86 C. a reestruturante, que, a partir do questionamento de referenciais existentes, introduz uma nova concepção. O que está em questão não é a construção de uma perspectiva integrada, mas simplesmente uma que seja integradora. Nesse sentido, a disciplina Projeto Aplicado Interdisciplinar pode oferecer uma importante contribuição. Para tanto, é preciso que os professores envolvidos se mobilizem como uma verdadeira equipe para a interdisciplinaridade, que sejam liderados por docentes respeitados na sua função de coordenação, que compartilhem objetivos, que escutem uns aos outros, que aceitem debater pontos de vista diferentes de forma aberta e respeitosa, que ajam em cooperação. Assim, a dimensão organizacional da prática interdisciplinar é fundamental. Ela tem a ver com o estabelecimento das condições infraestruturais que alicerçam as dinâmicas curriculares e didáticas, a organização do trabalho pedagógico como processo cooperativo e interativo de fato, com recursos apropriados a suscitar e sustentar o desenvolvimento da interdisciplinaridade. Segundo Azevedo e Andrade (2007), os professores têm encontrado dificuldades para criar e manter ambientes de ensino-aprendizagem interdisciplinares, mesmo quando chamados a concretizá-los. É preciso discutir as barreiras pessoais, institucionais, materiais e outras, que surgem como fatores dificultadores nesse processo. A seguir encontram-se algumas sugestões de recursos didáticos que podem auxiliar a superação de algumas das dificuldades encontradas. É importante, porém, destacar que a atitude interdisciplinar é imprescindível na construção interdisciplinar. RECURSOS DIDÁTICOS Recursos didáticos se apresentam como conjunto de meios, dispositivos e expedientes que dão suporte ao como desenvolver o processo de ensinoaprendizagem. Eles entrelaçam aspectos materiais (objetos) e imateriais (conceitos, símbolos). O desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos recursos 87 didáticos, incluindo o suporte de tecnologias de informação e comunicação, ampliam as possibilidades educacionais. É preciso, contudo, saber avaliar quando um recurso pedagógico pode implicar benefícios ou perdas para o processo de ensino-aprendizagem. É com esse cuidado que devemos entender que ...recurso didático é todo material utilizado como auxílio no ensinoaprendizagem do conteúdo proposto para ser aplicado pelo professor a seus alunos (SOUZA, 2007, p. 111). Os recursos didáticos podem estar incorporados em objetos (materiais, maquinarias etc). Podem estar incorporados em registros, tais como bancos de dados, procedimentos, manuais etc. Podem ser aportados pelos próprios seres humanos quando disponibilizam seus conhecimentos, habilidades e valores. E também da maior importância são os recursos que podem advir do que as escolas construíram em suas experiências e histórias, tais como estruturas, formas organizativas, valores etc. A pesquisa acima mencionada, realizada para fins de conclusão de curso de mestrado, confirmou a impressão inicial de que os professores de Projeto Aplicado no Instituto UNA de Tecnologia pouco diversificam as estratégias e recursos pedagógicos. Os entrevistados mencionaram os seguintes recursos: Trabalho em Grupo: essa é uma indicação das diretrizes oriundas da própria instituição, a de que todo trabalho de Projeto Aplicado deve ser desenvolvido em grupo. Tais diretrizes justificam o uso desse recurso como forma de desenvolver o aluno para o trabalho em equipe. Estudos de Texto: trata-se de técnica de ensino que requer trabalhar textos de modo analítico e crítico. Busca desvendar sua estrutura; perceber os recursos utilizados pelo autor para apresentar seus argumentos; descobrir os objetivos que ele tinha ao escrevê-lo, analisar suas hipóteses, como as testou, confirmou ou refutou, entre outras possibilidades. Sem dúvida, um importante 88 exercício para o diálogo interdisciplinar, mas para isso é preciso que tenha essa intenção deliberada. Textos Técnicos: são recursos importantes, que precisam estar bem relacionados aos temas trabalhados e ser utilizados de forma a explicitar e exercitar a interdisciplinaridade, explorando convergências ou divergências existentes entre o que apresentam. Jornais e Revistas: são fontes de pesquisa importantes, que auxiliam o processo de contextualização da situação-problema, que é objeto de estudo dos alunos, na interação com universos simbólicos diferentes daqueles que pertencem ao mundo acadêmico, na aproximação do trabalho pedagógico com a realidade próxima dos alunos. Contudo é importante não perder de vista as possibilidades e os limites que eles oferecem para o enriquecimento do exercício da interdisciplinaridade. Jogos e Simulações: são importantes para a exploração da visão de processos ou para o entendimento de como um evento do mundo real pode estar provavelmente ocorrendo. Trata-se de expediente que tem o poder de atrair e motivar muitos alunos de cursos superiores de tecnologia e da disciplina de PA Contudo é fundamental que sejam utilizados de forma contextualizada, relacionados ao problema que os alunos estão pesquisando, aos eixos de formação e servir para convocar diferentes conhecimentos à interação. Estudos de Caso: trata-se de abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando se procura compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores. Yin (1994) afirma que essa forma de abordagem se adapta à investigação em educação quando o investigador é confrontado com situações complexas, de tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas importantes, quando ele procura respostas para o “como?” e o “por quê?”, quando procura encontrar interações entre fatores relevantes próprios dessa entidade, quando o objetivo é descrever ou analisar o fenômeno a que se acede diretamente, de uma forma profunda e global, e 89 quando o investigador pretende apreender a dinâmica do fenômeno, do programa ou do processo. Portanto, na disciplina de P.A, é importante considerar tais requisitos e verificar como a interdisciplinaridade pode contribuir para o atendimento de cada um deles. ATITUDE INTERDISCIPLINAR A prática da interdisciplinaridade requer relação de reciprocidade, de mutualidade, atitude diferente a ser assumida diante do problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária pela concepção unitária do ser humano. Segundo o Manual de Projeto Aplicado da UNATEC, a atitude interdisciplinar é compreendida como uma tomada de posição face ao problema do conhecimento por parte de pesquisadores, professores, alunos e demais pessoas envolvidas no projeto educativo. 90 Simone Carsalade, orientadora pedagógica da UNATEC, parafraseando Fazenda (1997), afirma que a interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento e, para concretizá-la, faz-se necessário que o docente tenha sua prática subsidiada por cinco princípios: humildade, coerência, espera, respeito e desapego. Humildade ante a limitação do próprio saber, da perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes - é reconhecer limitações e ter coragem para superá-las. Coerência entre o que digo e o que faço. Espera é tempo de escuta desapegada (ante os atos não consumados). Respeito por si e pelas pessoas. Desapego das certezas, buscando no compartilhamento com o outro as novas possibilidades do agir e do pensar. Tudo isso conduz à atitude de reciprocidade, à troca, que induz o diálogo com pares conhecidos, anônimos ou consigo mesmo. Para Fazenda (2008), a atitude interdisciplinar consiste em perguntar e duvidar da própria prática docente. Uma atitude docente tradicional não condiz como o exercício da docência pelos professores de PA, pois deles se espera um posicionamento aberto, flexível, curioso e comunicativo. Docentes de PA assim comprometidos se sabem pesquisadores de respostas, insatisfeitos com o dito e o estabelecido, movidos pela busca da superação de desafios. OUTRAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES Professores especialistas podem e devem se abrir a áreas diferentes de conhecimento. Ideias e sugestões de alunos são bem-vindas à prática interdisciplinar. 91 O planejamento de um projeto aplicado interdisciplinar precisa levar em conta quais conceitos podem ser explorados por diferentes disciplinas. As reuniões pedagógicas são fundamentais para a discussão sobre as parcerias que vão dar sustentação aos projetos aplicados interdisciplinares. Professores orientadores e professores coordenadores precisam discutir seus respectivos papéis na construção da interdisciplinaridade. Condições materiais relacionadas a espaços, tempo, apoios, ambientes e infraestruturas precisam ser disponibilizadas. Não há interdisciplinaridade se na há intenção consciente, clara, objetiva e subjetiva por parte daqueles que são chamados a praticá-la. Interdisciplinaridade é um processo de trabalho não transitório e pontual, pois depende da intensidade das trocas disciplinares. Viabilizar a prática interdisciplinar pressupõe mudanças: superar o individualismo, a fragmentação dos conhecimentos e a falta de relação entre os conteúdos escolares e o cotidiano dos alunos. [...] "porém é necessário não fazer dela um fim, pois interdisciplinaridade não se ensina nem se aprende, apenas vive-se, exerce-se e por isso exige uma nova Pedagogia." (FAZENDA, 1997, p. 87) ATRIBUIÇÕES E DEFINIÇÕES DE PAPÉIS O Manual de Projeto Aplicado da UNATEC define as atribuições de professores, alunos e coordenadores de curso. Do professor do Projeto Aplicado: O professor do Projeto Aplicado é considerado como o articulador do desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. Sua principal atribuição é planejar e acompanhar o andamento do trabalho dos alunos e buscar a contribuição dos demais professores, de forma a garantir a construção da interdisciplinaridade. 92 São suas atribuições: apresentação da proposta do trabalho interdisciplinar aos alunos; organização/distribuição dos grupos; distribuição dos subtemas por grupo, se for o caso; descrição das tarefas a serem executadas pelos alunos e distribuição do cronograma de atividades; levantamento de possibilidades de contatos para realização de coleta de dados e pesquisa/trabalho de campo; levantamento de infraestrutura para realização de protótipos, experiências, construção de peças/produtos/projetos. envio da relação dos melhores trabalhos interdisciplinares dos alunos para publicação em revista eletrônica. interlocução contínua com os professores do período/módulo para garantir a participação das diversas disciplinas; avaliação contínua junto aos Coordenadores de Curso do processo de desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. 93 Dos professores das demais disciplinas: Os professores dos períodos/módulos contemplados com o Projeto Aplicado são responsáveis por orientar os grupos já formados, de modo a aguçar a sua percepção quanto à natureza e relevância da questão a ser investigada ou em investigação. Isso significa construir com os grupos uma única questão relacionada ao conteúdo da disciplina e à sua articulação com as demais, contribuindo para o diálogo entre elas. O conjunto das contribuições de todas as disciplinas norteará a coleta de dados empíricos e as referências teóricas e/ou documentais sobre o tema/eixo temático proposto. Cada professor deve, assim, indicar material bibliográfico para análise do material empírico. Como articuladores de conteúdos, esses professores devem se reunir periodicamente ou quando solicitado pela coordenação para discutir as melhores práticas para a construção da interdisciplinaridade. Dos alunos: Todos os alunos devem estar cientes de que a construção interdisciplinar foi proposta visando colaborar com a sua formação, para que ela seja mais rica e abrangente e tenha uma relação mais aproximada possível com a realidade e o mundo profissional. Eles precisam saber que a UNATEC incluiu a disciplina Projeto Aplicado em todas as suas matrizes curriculares e que sua oferta é uma determinação institucional. Cabe a eles: formar grupos de acordo com as normas estabelecidas pelo Edital do Projeto Aplicado; administrar conflitos entre os componentes do grupo; desenvolver o trabalho de acordo com as etapas de planejamento descritas no cronograma e seguir as orientações do professor dessa disciplina (Projeto Aplicado) e dos demais professores do período; desenvolver um produto adequado à sua área de conhecimento; elaborar o trabalho escrito e preparar a apresentação oral do que realizaram. 94 Do Coordenador de Curso: realizar reuniões com os professores do curso antes do início das aulas do semestre letivo, para planejar coletivamente o trabalho interdisciplinar na sua totalidade, respeitando-se, porém, a especificidade de cada período/módulo; fazer a interlocução contínua com os professores de Projeto Aplicado para monitorar o processo de desenvolvimento do trabalho interdisciplinar; dar suporte aos professores da disciplina Projeto Aplicado no levantamento de infraestrutura para a realização de protótipos, experiências, construção de peças/produtos/projetos; cuidar da organização, com os professores de Projeto Aplicado, do período de apresentação do trabalho oral; promover reuniões com os professores, durante o semestre, para avaliar o andamento dos trabalhos interdisciplinares, identificar os aspectos que devem ser revistos e promover a integração entre os professores dos módulos. 95 PRODUTO FINAL ESPERADO DO ALUNO: Modalidades Exemplos Trabalho teórico Artigo Ensaio Relatório técnico Projeto de extensão Assessoria a movimentos sociais Assessoria a políticas sociais para a efetivação de direitos Maquete Produto da engenharia (bomba de calor, bomba hidráulica) Produto da arquitetura (móveis, utensílios, edificações) Projeto gráfico com apresentação e análise do conjunto de trabalhos de um artista (designer, fotógrafo, cineasta, jornalista) na modalidade impressa ou virtual. Manual Material para ensino Produção de cartilhas (saúde, negócios, planejamento financeiro, marketing pessoal, comunicação, elaboração de currículos etc.) Desenvolvimento de software Elaboração de uma home-page Elaboração de um blog e outros produtos relacionados às TICs (sites, podcasts, projetos de convergência) Produção de vídeo Reportagem (impressa, em vídeo, fotográfica, sonora) Ensaio fotográfico Ação de comunicação organizacional Vídeo (curtas) CD-ROM Programa de rádio Anime (animação) Empreendedorismo (Empresa Simulada) Plano de negócios Projeto de design de interiores (ambientes comerciais e residenciais) Diagnóstico, planejamento e Trabalho de campo Protótipo Portfólio Material didático Projeto Case 96 execução de ações em instituições privadas, públicas e não governamentais. Epidemiologia. Internacionalização de empresas Avaliação de desempenho Pesquisa de clima organizacional Pesquisa de mercado e satisfação de cliente. 97 REFERÊNCIAS AZEVEDO, M. A. R.; ANDRADE, M. F. R. o conhecimento em sala de aula: a organização do ensino numa perspectiva interdisciplinar, Educar, Curitiba, n. 30, p. 235-250, 2007. Editora UFPR BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais gerais para a educação profissional de nível tecnológico. Brasília: MEC, 2002. Centro Universitário UNA. Tutorial de TIDIR/PA: orientações gerais e formulários, fevereiro 2014. DEMO, Pedro. Metodologia da Investigação Editora IBPEX, Curitiba, (2005, 2a ed.). R. Tobias de Macedo Junior, 319. 82010-340 Curitiba. 2003 FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.) A Pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. GALEANO, Eduardo. Nós dizemos não. Rio de Janeiro: Revan, 1990. Interdisciplinaridade na Escola, Disponível em: http://interdisciplinaridadenaescola.blogspot.com.br/2009/11/como-ensinarrelacionando-disciplinas.html>. Acesso em: 23, fev. 2014 HABERMAS, Jurgen. 1981b Theorie des kommunikativen Handelns. Zur Kritik der funktionalistischen Vernunft. Frankfurt/M., Suhrkamp Verlag. v.2. Teoria de la acción comunicativa. Madrid: Taurus, 1987. v.2 (trad. em espanhol). HERNÁNDEZ, Fernando, Transgressão e Mudança na Educação: Os Projetos de Trabalho Porto Alegre. Artmed, 1998 MINAYO, Maria Cecília de Souza. Disciplinaridade, interdisciplinaridade e complexidade. Revista Emancipação. Ponta Grossa, 15 de novembro de 2010, Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao>. Acesso em: 23 de fev. de 2014 MOREIRA, Wander. Aulas de projeto Aplicado UNATEC, 2010. SOUZA, Salete Eduardo de. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. In: I ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, IV JORNADA DE PRÁTICA DE ENSINO, XIII SEMANADE PEDAGOGIA DA UEM: “Infância e Práticas Educativas”. Arq Mudi. 2007. Disponível em: http://www.pec.uem.br/pec_uem/revistas/arqmudi/volume_11/suplemento_02/ar tigos/019.pdf. Acesso em: 20 fev. 2014. YIN, Robert. Case Study Research: design and methods. 2. ed. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications, 2011 98 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em 2003, o Centro Universitário UNA deu início às atividades acadêmicas do Instituto UNA de Tecnologia - UNATEC. O momento interno era de muitas mudanças em razão dos investimentos na recuperação da instituição. A oferta de cursos superiores de tecnologia foi vista como uma das alternativas nesse sentido. Os projetos pedagógicos desses novos cursos foram elaborados de acordo com ´a Resolução CNE/CP nº 3, de 18 de dezembro de 2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o funcionamento dos cursos superiores de tecnologia. As matrizes curriculares foram desenhadas de maneira diferente da lógica adotada tradicionalmente pelos bacharelados e licenciaturas, por módulos com a possibilidade de permitir certificações intermediárias ao final de cada um deles. Os módulos foram organizados com a perspectiva da terminalidade considerando o atendimento de requerimentos de uma determinada ocupação profissional. Decidiu-se também incorporar em todos os cursos de superiores de tecnologia os princípios da interdisciplinaridade. Posteriormente tal decisão será estendida às organizações curriculares dos bacharelados e licenciaturas da instituição, com a inclusão da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido – TIDIR. Como forma de garantir a prática da interdisciplinaridade, foi inserida a disciplina Projeto Aplicado em todos os módulos da matriz curricular dos cursos de graduação tecnológica da Unatec. Os projetos aplicados interdisciplinares foram pensados para estabelecer relação direta com o eixo tecnológico do curso e também com as certificações intermediárias que cada módulo possibilita aos alunos. Para a disciplina de projeto aplicado foram previstas atividades de pesquisa e de intervenção visando atender a interesses de diferentes setores da sociedade: empresarial, social, cultural, artístico, ambiental, extrapolando os limites da sala de aula e da instituição de ensino. Para tanto, seria 99 necessário estimular parcerias com as organizações públicas e privadas e a comunidade em geral. O problema que motivou a pesquisa que deu suporte à presente dissertação nasceu da necessidade de conhecer como as ações didáticopedagógicas de docentes na aplicação do princípio pedagógico da interdisciplinaridade na disciplina Projeto Aplicado são desenvolvidas. A realização desse estudo também contou com a motivação de colher informações que poderiam configurar eventuais práticas pedagógicas inovadoras, fruto de experiências criativas que docentes e discentes vêm desenvolvendo e, com isso, propiciar contribuições a todos que buscam inovar nas práticas educacionais. Dessa forma, tal finalidade se mostrou coerente com a área de concentração do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, centrada em Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Além disso, é importante assinalar o caráter interdisciplinar desse Programa, princípio científico e pedagógico que norteou o interesse pelo desenvolvimento desta dissertação. Os cursos superiores de tecnologia constituem a modalidade de graduação que mais cresce, nos últimos anos, no Brasil. Devem contemplar não apenas conteúdos técnicos, mas também aspectos mais amplos da formação humana, especialmente os que possibilitem o desenvolvimento da capacidade de atuar com autonomia, discernimento crítico e criatividade diante de problemas da prática social e profissional. A UNATEC apresenta uma história institucional marcada por grande crescimento e diversificação na oferta desses cursos. Pesquisar elementos dessa experiência é importante para a linha de pesquisa Educação e Desenvolvimento Local do Programa, pois é preciso conhecer as contribuições sociais da graduação tecnológica. Atualmente as discussões sobre os desafios da educação ganharam um interesse maior diante do aumento da complexidade das sociedades contemporâneas e das exigências que têm sido colocadas aos indivíduos no exercício de seus diversos papéis sociais. Alternativas pedagógicas, 100 formação integral, escola motivadora, interesse dos alunos pelo aprendizado, perfil do aluno a ser formado são temas recorrentes nos debates educacionais contemporâneos. A proposta do diálogo interdisciplinar busca responder à necessidade de superação da visão fragmentada da realidade e promover processos colaborativos de produção e socialização do conhecimento. Trata-se de um movimento que caminha para novas formas de organização e construção de conhecimentos e saberes. A capacidade de orientar, mediar e contribuir com a construção de conhecimentos de forma coletiva e em rede também tem sido apontada como fundamental no atual contexto de globalização societária e das tecnologias de informação e comunicação. Dessa forma, a relevância desta dissertação deriva das exigências da contemporaneidade, que impõem ao docente a necessidade de ações de ensino-aprendizagem interdisciplinares, mediadoras de processos cooperativos e integradores. Ela foi desenvolvida orientada pela hipótese de que no Instituto Una de Tecnologia, os professores da disciplina Projeto Aplicado atuam de forma intuitiva e pouco estruturada na interpretação prática do preceito da interdisciplinaridade. Assim, o objetivo geral que a norteou consistiu em analisar as atuações correntes e as possíveis de professores da disciplina Projeto Aplicado do Instituto Una de Tecnologia na aplicação do princípio da interdisciplinaridade tendo em vista o desenvolvimento de contribuição técnica na área de educação voltada ao desenvolvimento local e com características de inovação social. Esta dissertação se estruturou em três capítulos. No primeiro, foram analisados paradigmas pedagógicos que, historicamente, estiveram ou estão presentes no desenvolvimento da educação profissional brasileira. 101 Ele foi construído com base em pesquisa bibliográfica. Teve a finalidade de oferecer substratos para a discussão pedagógica, objeto da pesquisa programada para ser realizada na Unatec. Dentre os paradigmas, foi particularmente importante para essa pesquisa recuperar a metodologia de projetos e a proposta do diálogo interdisciplinar no ensino-aprendizagem. No segundo capítulo, relatou-se a pesquisa sobre o desenvolvimento dessa proposta por professores da disciplina de Projeto Aplicado na UNATEC. Esses dois capítulos serviram de sustentação para a elaboração e apresentação da contribuição técnica, um manual dirigido aos docentes dessa instituição contendo aspectos básicos a serem considerados na política de formação docente continuada, como forma de tornar efetiva a interdisciplinaridade nessa disciplina. Essa contribuição técnica constitui, assim, o terceiro capítulo desta dissertação. Esses capítulos foram construídos considerando-se que, ao longo do seu percurso histórico, a educação profissional e tecnológica brasileira tem sido alvo de preconceitos e depreciações pelos que a entendem como destino apropriado e exclusivo de escolarização das camadas da população menos favorecidas economicamente. Atualmente, a mudança de paradigma tecnológico, incluindo equipamentos e organização do trabalho, tem apontado a necessidade de uma força de trabalho mais qualificada. Esse é um grande e atual desafio para educação brasileira: formar profissionais com capacidade de lidar com tecnologias avançadas, mas também de agir em um ambiente de constante mudança, praticando valores sociais e desenvolvendo atitudes críticas, colaborando com o desenvolvimento local. Há expectativa da política pública de que os cursos superiores de tecnologia atendam tais demandas do Brasil nesse momento de grande expansão econômica. A educação profissional e tecnológica tem sido interpelada a formar sujeitos para o trabalho, mas principalmente pessoas conscientes e capazes de agir e mudar a própria realidade. 102 A interdisciplinaridade é uma tentativa de resposta à fragmentação disciplinar advinda do paradigma filosófico do positivismo. Ela busca suprir a necessidade de extrapolar a visão fragmentada sobre os processos de produção e a socialização do conhecimento. Dessa forma pode ser considerada como fundamental para que se materializem tais finalidades educacionais. Thiesen (2008) esclarece que o debate a respeito da interdisciplinaridade tem sido tratado, basicamente, sob dois pontos de vista: o epistemológico e o pedagógico. No campo da epistemologia, toma-se a ciência e seus paradigmas e o método como mediação entre o sujeito e a realidade. Já no enfoque pedagógico, trata-se da sua aplicação à composição curricular e ao processo de ensino-aprendizagem. Aspectos pedagógicos da interdisciplinaridade requerem um novo tipo de professor, pois a relação pedagógica não pode mais se circunscrever à transmissão de conteúdos, se pautar num modelo hierárquico linear, ela requer diálogo no qual a posição de um é a posição de todos, sem desconsiderar que os processos educacionais não estão isentos de contradições sociais. A pesquisa realizada, de natureza qualitativa, foi desenvolvida no Câmpus Barreiro da Unatec. Buscou-se, ouvir professores sobre como suas ações didático-pedagógicas exprimem a intenção institucional da interdisciplinaridade e como elas servem para explicar esse princípio pedagógico. Dos 106 professores, que estavam à frente da disciplina Projeto Aplicado na Unatec, vinte foram selecionados para serem entrevistados (19,5%). Entretanto, alguns professores alegaram problemas de agenda ou de ordem particular e não puderam participaram. Dessa forma, foram entrevistados quinze professores (14,1%). Essa amostra de docentes entrevistados se mostrou bastante heterogênea com relação a aspectos como gênero, formação, idade, tempo de formação e tempo de trabalho na Instituição. Alguns eram recém-contratados e outros 103 com mais de oito anos de experiência. Todos os entrevistados eram docentes também em outras disciplinas além da disciplina Projeto Aplicado. As entrevistas somente tiveram início após a validação, por meio de préteste, do instrumento utilizado. Elas foram precedidas de explicações sobre os objetivos e finalidade da pesquisa e da assinatura dos docentes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Para o tratamento e análise dos dados foram utilizadas as técnicas da análise de conteúdo. As entrevistas foram gravadas e transcritas, observando-se a fidedignidade das informações. O cuidado nessa fase da investigação foi o de transformar as informações obtidas nas entrevistas em algo que fosse interpretável e que fizesse sentido para o investigador. Dessa forma, posteriormente, as respostas foram agrupadas por categorias e analisadas de acordo com as categorias: Motivos, Recursos, Facilitadores, Dificultadores e Condições que precisam ser criadas O agrupamento das respostas por subcategorias dentro de cada uma dessas cinco categorias passou igualmente por interpretações sobre as informações obtidas dos entrevistados e foi feito respeitando o teor das ideias dos entrevistados e os objetivos da investigação. Respeitando o caráter ético e metodológico de pesquisas, essas informações são mantidas em caráter confidencial e serão mantidas para consulta, pelo pesquisador, pelo período de cinco anos. As informações obtidas esclareceram a questão central da invetigação sobre como os professores da disciplina Projeto Aplicado do Instituto Una de Tecnologia vêm interpretando nas suas ações didático-pedagógicas o princípio da interdisciplinaridade. Pelo menos no que se refere à amostra entrevistada, confirmou-se a resposta antecipada de que os professores atuam de forma intuitiva e pouco estruturada na interpretação prática desse preceito. Constatou, igualmente, que existe um clima favorável para o 104 desenvolvimento dessas práticas. É importante registrar o investimento institucional na melhoria contínua dos documentos normativos que orientam tais ações. Ressalte-se, entretanto, que foram encontradas fragilidades que requerem a continuidade desses esforços. Segundo Azevedo e Andrade (2007), a prática da interdisciplinaridade tem como proposta promover uma nova forma de trabalhar o conhecimento, na qual haja interação entre sujeitos, sociedade e conhecimentos. Ela compreende a relação professor-aluno, professor-professor e aluno-aluno, de maneira que o ambiente escolar seja dinâmico e vivo, e os conteúdos e/ou temas sejam conhecidos e problematizados com a cooperação, interação e compartilhamento de diferentes disciplinas. Um dos problemas que merecem maior atenção se refere aos critérios para alocação de professores para ministrar essa disciplina. Nem sempre os professores contratados para essa responsabilidade possuem perfil de generalista e pesquisador, interdisciplinaridade e, dominam possuem referências os a fundamentos respeito da do projeto acadêmico da instituição. Por outro lado, trata-se de uma disciplina que pressupõe uma série de práticas pedagógicas diferenciadas: de planejamento, aulas expositivas, orientações em grupo, acompanhamento e avaliação processual dos alunos, usos de diferentes recursos didáticos, relacionamento com outras disciplinas do módulo. Com isso, muitas vezes, os professores que a ministram sentem-se pouco valorizados vis-à-vis o número e complexidade de práticas desenvolvidas, sendo que algumas extrapolam a sala de aula. Alguns professores apontaram que, por vezes, sentem dificuldades em enxergar a interpelação ou a condição interdisciplinar entre as diversas disciplinas do módulo. Frente a essa situação estabelecem como tarefa para os alunos como forma compensatória estabelecer um objetivo específico para cada disciplina. Essa prática acaba por fomentar ainda mais uma construção mais próxima do caráter multidisciplinar do que interdisciplinar. A metodologia de enturmação que a instituição passou a adotar visando a evitar classes com poucos alunos, à qual deu o nome de modularização, 105 teria, segundo professores mais antigos entrevistados esse problema. Alguns professores no desenvolvimento da disciplina utilizam esse artifício, de permitir que o Projeto Aplicado dos alunos seja construído contemplando objetivos específicos atribuíveis a cada disciplina do módulo. Trata-se de um arranjo distante da proposta da interdisciplinaridade. Outra questão sensível se refere à inexistência de instrumentos de controle da autoria dos trabalhos finais dos alunos, das ocorrências de plágio. Eles não são publicados, o que aumenta o risco de alunos atuais copiarem trabalhos de anos anteriores. A cada semestre, há produção numerosa de trabalhos finais de alunos. Muitos deles de boa qualidade, que, entretanto, são pouco reconhecidos pela instituição, pois os instrumentos para sua divulgação são tímidos e pouco abrangentes com relação à comunidade acadêmica. A existência de uma revista eletrônica traria benefícios para maior divulgação desses trabalhos e poderia se tornar um veículo de consulta para os próprios alunos em trabalhos posteriores. Ela poderia ser, também, um dos instrumentos a serem utilizados pelos professores no controle de cópia e plágio, aprimorando assim o sistema de avaliação nessa disciplina. A consolidação da interdisciplinaridade passa pela superação das metodologias tradicionais de ensino. Isso foi discutido em diversos momentos desta dissertação. Mas sua materialização depende, como esclarece Fazenda (1999), da adoção da atitude interdisciplinar por todos. Em que pese o viés subjetivista dado pela autora a esse conceito, a aquisição dessa atitude só é alcançada mediante o exercício da troca constante entre os pares envolvidos na construção de um projeto ou tarefa. Assim, se a instituição almeja, como previsto em seus instrumentos normativos, construir em toda sua estrutura acadêmica a interdisciplinaridade como prática pedagógica, deve gerar condições para que essas trocas se efetivem. Essas são feitas, atualmente, de forma aligeirada, nos intervalos das aulas, por mensagens eletrônicas ou nas reuniões de planejamento, que acontecem apenas no início do semestre. Pelo que se nota nos resultados obtidos por esta pesquisa, esses encontros se mostram insuficientes como forma de incorporação de uma nova atitude 106 interdisciplinar Dessa forma, faz-se necessário que se repense como oportunizar o desenvolvimento dessa mudança cultural na prática dos docentes. O produto técnico produzido para esta dissertação, apresentado no terceiro capítulo, se apresenta, assim, como uma contribuição nesse sentido. Ele foi construído para servir de instrumento de formação dos docentes dessa disciplina. Espera-se que possa fornecer subsídios para que a Instituição consiga fomentar o pensamento e as atitudes interdisciplinares, importantes no contexto dos atuais desafios enfrentados pela educação profissional e tecnológica. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2007 ALMEIDA, F. J.; FONSECA JÚNIOR, F. M. Projetos e ambientes inovadores. 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Relate as circunstâncias existentes que dificultam suas ações e procedimentos docentes para a realização da interdisciplinaridade na disciplina de PA. 5. Relate as circunstâncias que precisam ser criadas para que a realização da interdisciplinaridade na disciplina de PA seja mais efetiva. 114 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Belo Horizonte, ____ de __________________de 2013 Prezado colega professor, meu nome é Vítor De-Lazzari Bicalho, sou aluno do curso de mestrado em gestão social, educação e desenvolvimento local do centro universitário UNA. Meu projeto de pesquisa é intitulado: Projetos aplicados e interdisciplinaridade na graduação tecnológica: práticas de docentes do Instituto UNA de Tecnologia. O objetivo da minha pesquisa é investigar quais são as ações atuais e possíveis dos professores na aplicação da interdisciplinaridade na disciplina projeto aplicado. Como resultado esperado dessa investigação, espera-se conhecer como os professores de PA vêm atuando na aplicação do princípio da interdisciplinaridade e sobre como poderão aperfeiçoar suas ações didáticopedagógicas se beneficiando das contribuições que metodologia de projetos oferece. A metodologia de investigação da pesquisa utilizará um questionário escrito em formulário próprio e uma entrevista que será gravada, diretamente com o titular da investigação. Tanto as respostas do questionário quanto da entrevista serão mantidas em caráter de confidencialidade, resguardando o respondente de qualquer tipo de identificação ou constrangimento. Todo material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a minha responsabilidade; Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação; Assumo com você o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento. Aproveito para esclarecer que você é livre para recusar a participar ou ainda retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado. 115 Como contrapartida e em agradecimento à sua inestimável colaboração, proponho-me a disponibilizar para você os resultados desta pesquisa. Em caso de dúvida, recomendo a leitura integral do texto original da resolução nº 196/1996 do CNS ou entre em contato com o CEP pelo telefone 35089110/911ou pelo e-mail: [email protected] Estando de acordo assino em duas vias este documento. Belo Horizonte, _____ de __________________de 2013 _____________________________________ Nome: CPF: ______________________________________ Vítor De-Lazzari Bicalho – Pesquisador CPF: 550.209.336-00 Contato: 31 9306 1323 ou [email protected] 116 TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS Eu, Alice Maria Hosken Vieira ocupante do cargo de Diretora Acadêmica do Instituto UNA de Tecnologia - UNATEC, AUTORIZO a coleta de dados do projeto - PROJETOS APLICADOS E INTERDISCIPLINARIDADE NA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA: Práticas de docentes do Instituto UNA de Tecnologia, do pesquisador Vítor De-Lazzari Bicalho nas instalações físicas do Instituto UNA de Tecnologia após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, 26 de Maio de 2013 117 TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS Eu ____________________________, CPF ____________, RG_______________, depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, os pesquisadores (especificar nome de todos os pesquisadores envolvidos na pesquisa) do projeto de pesquisa intitulado “(especificar título do projeto)” a realizar as fotos e/ou vídeos que se façam necessárias e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes. Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004). BH, ______ de ______ de 20_____. ______________________________ Participante da pesquisa ____________________________________________ Pesquisador responsável pelo projeto 118 8. ANEXOS ANEXO 1: RESOLUÇÃO Nº 123/2012 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO Nº 123/2012 Assunto: Altera a Resolução Nº109/2009, que aprova as normas para o Trabalho Interdisciplinar Dirigido - TIDIR para os cursos de Bacharelado e Licenciatura e as Resoluções do CEPE Nº39/2004, Nº66/2007 e Nº109/2009 e, que aprovam e dispõem sobre a elaboração do Projeto Aplicado nos Cursos Superiores de Graduação Tecnológica. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário UNA, no uso de suas atribuições e, considerando os parâmetros legais dos Cursos Graduação, a autonomia institucional quanto à elaboração da matriz curricular, a revisão curricular e a avaliação do processo e da condução do Trabalho Interdisciplinar Dirigido para os cursos de Bacharelado e Licenciatura e do Projeto Aplicado para os Cursos de Graduação Tecnológica, RESOLVE: Art. 1º - Alterar as Normas para o Trabalho Interdisciplinar Dirigido para os cursos de Bacharelado e de Licenciatura e para o Projeto Aplicado para os cursos de Graduação Tecnológica, constantes do Manual de Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado anexo Art. 2º - Esta resolução entrará em vigor na data de sua aprovação, revogadas as disposições em contrário, especialmente as Resolução CEPE Nº 69/2007, Nº 39/2004, Nº 66/2007 e nº 109/2099 Registre-se. Divulgue-se. Cumpra-se. Belo Horizonte, 28 de setembro de 2012. Professor Átila Simões da Cunha Presidente do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão 119 MANUAL DO TRABALHO INTERDISCIPLINAR DIRIGIDO/PROJETO APLICADO 1. Apresentação Este manual substitui os antigos manuais que disciplinavam até então o Trabalho Interdisciplinar Dirigido (que passou a compor a matriz curricular dos cursos de bacharelado e licenciatura desde o primeiro semestre de 2008) e o Projeto Aplicado (disciplina integrante da matriz dos cursos tecnológicos desde 2004). É um documento interno cujo objetivo é orientar a comunidade acadêmica no processo de elaboração do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. Partimos do entendimento de que, durante o curso de graduação, o aluno deve ser estimulado a produzir trabalhos acadêmicos que lhe propiciem o desenvolvimento de um conjunto de competências no campo de sua futura atuação profissional, por meio de uma aproximação maior entre a realidade prática e a teoria aprendida em sala de aula. Como o conhecimento na vida cotidiana não aparece fragmentado, pois a realidade é necessariamente global e multidimensional, precisamos encontrar uma forma de garantir espaço e tempo no currículo para a integração dos saberes, sem que isso signifique desconsiderar as especificidades disciplinares. Para tal, faz-se necessária a adoção de uma atitude interdisciplinar, a qual envolverá o corpo docente e discente em uma mudança no processo de tomada de decisão frente aos problemas que permeiam as disciplinas envolvidas. Nesse processo, alunos e professores atuam colaborativamente, pois são co-construtores do conhecimento, em um movimento que enfoca a metacognição (aprender a pensar) e acentua os processos gerais, como a resolução de problemas comuns às disciplinas. Assim, trabalhando em pequenos grupos e coletivamente, os alunos poderão pesquisar e resolver problemas suficientemente complexos, relacionados à realidade do mundo em que vivem como forma de provocar a aplicação e produção de conhecimentos sobre temas que não podem ser encerrados nos compartimentos das disciplinas existentes. Nessa perspectiva, os passos que caracterizam os processos acadêmicos envolverão grupos de alunos e os levarão a atuar da seguinte maneira: • discussão de um problema particular que constitua um desafio cognitivo e cuja solução demande pesquisa; • utilização dos próprios conhecimentos e experiências dos alunos, que para isso contam com a orientação de professores e são incentivados a buscar, por si mesmos, os conhecimentos necessários para chegarem a uma resposta para o problema abordado; • levantamento de uma série de hipóteses que podem explicar e resolver o problema; • investigação das hipóteses apontadas; • indicações de possíveis respostas e soluções e, ao final do processo, preparação de uma apresentação profissional com resultados para a turma. 120 Nesse contexto da reforma curricular a interdisciplinaridade, por meio do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado ajudará a abrir as portas da sala de aula, a trazer significado aos conteúdos e a construir pontes para todos os ambientes/espaços que corroborem a aventura de aprendizagem dos alunos. 2. Paradigma Interdisciplinar A interdisciplinaridade, não é apenas a reorganização metódica de disciplinas e conteúdos numa “grade”, é uma tomada de posição, face ao problema do conhecimento, por parte das pessoas envolvidas num projeto educativo que retoma e reconhece a complexidade do dilema da presença do homem no mundo, isto é, dos problemas com os quais nos defrontamos, e propõe soluções para que a humanidade possa se expressar em sua plenitude. Isso se manifesta em: • uma relação de reciprocidade, de mutualidade, um regime de co-propriedade, de interação, que irá possibilitar o diálogo entre os envolvidos num projeto pedagógico e nutrirse de uma intencionalidade; • um regime de cooperação entre disciplinas ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência, que se faz por meio de trocas e visando ao enriquecimento mútuo; • um movimento entre prá tica nos processos de ensino e aprendizagem que favorece a eliminação do hiato existente entre a formação universitária e a atividade profissional e atribui sentido aos conteúdos; • uma premissa de que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma capaz de dar conta de uma determinada realidade. O diálogo do conhecimento científico e tecnológico com formas variadas de saberes – o saber tácito, o saber intuitivo, o saber popular, o saber informal, o saber do inconsciente, os saberes presentes em toda a expressão da vida humana – é estimulado de modo a deixar-se interpenetrar por elas, preservando-se, todavia, o olhar científico sobre o fenômeno em estudo; • uma substituição da concepção fragmentária do conhecimento e do ser humano por uma outra, unitária, complexa e multifacetada. A interdisciplinaridade é, portanto, uma atitude epistemológica e pedagógica que incorpora uma nova concepção de: - conhecimento; - sujeito; - relação do sujeito com o conhecimento. 3. Atitude Interdisciplinar A atitude interdisciplinar é compreendida como uma tomada de posição face ao problema do conhecimento por parte de pesquisadores, professores, alunos e demais pessoas 121 envolvidas num projeto educativo. Não se esgota na junção de conteúdos ou de métodos, nem na junção de disciplinas ou criação de novos conteúdos, produto dessas junções. Uma vez que se trata de encontro entre sujeitos com uma determinada intencionalidade face ao conhecimento, a parceria é apontada como premissa maior da interdisciplinaridade, já que o educador que a pratica não o faz solitariamente, mas dialogando com teóricos, com seus pares, com seus alunos. O diálogo entre formas e tipos variados de conhecimento com os quais não estamos habituados e a interpenetração daí decorrente cria a possibilidade de consolidação da intersubjetividade – a possibilidade de um pensar que venha se completar no outro – e será tanto mais profícua quando houver a intencionalidade de efetivação de novas, melhores e mais consistentes parcerias. O trabalho interdisciplinar sustentado na parceria é muito mais fruto do encontro de sujeitos parceiros com idéias e disposição para o trabalho do que de disciplinas. A responsabilidade mútua surge como uma característica fundamental dos parceiros em um trabalho interdisciplinar, fruto do envolvimento com o projeto em si, com as pessoas, com as instituições. 4. Princípios norteadores da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. A disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado, caminho encontrado por nossas instituições de ensino superior para a efetivação da interdisciplinaridade e circulação dos saberes, apresenta-se como uma proposta de prática interdisciplinar que desempenhará a função aglutinadora das dimensões da Aprendizagem Significativa, das quais merecem destaque: DCNs e PPCs O tema/eixo temático foco do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado deve estar diretamente relacionado à formação de habilidades (específicas e globais) e de competências descritas nas Diretrizes Curriculares Nacionais e nos Projetos Pedagógicos dos Cursos, de modo a corroborar a formação profissional, humana e cidadã dos alunos e a ajudar na sua inserção político-social. Letramento acadêmico O letramento acadêmico traduz-se em ações que viabilizam o desenvolvimento dos alunos e a sua formação como sujeitos acadêmicos. Alguns descritores são considerados fundamentais para que os alunos possam, por exemplo, desenvolver senso crítico, capacidade de integrar conhecimentos outras habilidades/competências essenciais para uma participação efetiva na sociedade. Esses descritores incluem, principalmente: a) o desenvolvimento contínuo das habilidades de leitura e escrita nas diferentes áreas do conhecimento; b) o desenvolvimento contínuo do raciocínio lógico-matemático; c) o entendimento do processo de construção do conhecimento científico. Autonomia do Aprendiz 122 A disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido no Bacharelado e na Licenciatura e Projeto Aplicado nos cursos de Graduação Tecnológica adotam como princípio o papel ativo dos estudantes na construção do conhecimento, em que o processo de aquisição do saber é mais importante que o próprio saber. Porém, para que se envolvam ativamente nas decisões relacionadas a seu processo de aprendizagem e na implementação dessas decisões, assumindo responsabilidade pela própria aprendizagem e tornando-se mais independentes da ajuda dos professores, os estudantes devem, primeiramente, se conscientizar quanto a seus estilos de aprendizagem (i.e., como aprendem) e desenvolver diferentes estratégias (i.e., procedimentos específicos – comportamentos, técnicas, recursos usados) para possibilitar e melhorar sua aprendizagem e, consequentemente, ajudá-los a construir o próprio conhecimento. O professor deve atuar, nesse contexto, como um facilitador da autonomia dos alunos. Trabalho em Equipe Outro componente facilitador da autonomia e da auto-regulação da aprendizagem é o trabalho em equipe, sustentado pela teoria sociocultural proposta por Vygostsky e colaboradores, segundo a qual a aprendizagem ocorre a partir de interações significativas, através das quais os indivíduos co-constroem o seu conhecimento. Nessa teoria fundamentam-se também os pressupostos da aprendizagem colaborativa: as interações são a chave para o desenvolvimento social, afetivo e, sobretudo, cognitivo. Trabalhando juntos, os alunos e os professores não compartilham apenas idéias e informações, mas também estilos e estratégias de aprendizagem. Espaços de aprendizagem A sala de aula e qualquer outro ambiente/espaço de aprendizagem, intramuros (bibliotecas, laboratórios, auditórios, clínica, agência, espaços de convivência, etc.) ou extramuros (cinema, teatro, museus, empresas, portos, hospitais, postos de saúde, etc.), devem estimular a experiência, a experimentação e a habilidade de problematizar dos alunos. 5. Normas gerais 5.1 Atribuições dos Coordenadores 5.1.1 Coordenador de Curso • Reuniões com os professores do curso, antes do início das aulas do semestre letivo, para planejar, coletivamente, o trabalho interdisciplinar na sua totalidade, respeitando-se, porém, a especificidade de cada período/módulo; • Aprovação da proposta por período/módulo em forma de Edital, elaborado pelos professores do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado encaminhado ao Diretor do Instituto para ser assinado e publicado; 123 • Alocação, ao longo do semestre, de espaço nas reuniões com o corpo docente, com o objetivo de avaliar o andamento do trabalho interdisciplinar e definir novos encaminhamentos, quando necessário; • Interlocução contínua com os professores do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado para monitorar o processo de desenvolvimento do trabalho interdisciplinar; • Preparação de cartas de apresentação de alunos às instituições, no caso de trabalho de campo, assim como certificados de participação, quando necessário; • Suporte ao professor da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado no levantamento de infraestrutura para a realização de protótipos, experiências, construção de peças/produtos/projetos; • Organização, com os professores do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado, do período de apresentação do trabalho oral; • Reuniões com os professores, no final do semestre letivo, para avaliar o trabalho interdisciplinar e identificar os aspectos que devem ser revistos no planejamento do semestre seguinte. 5.1.2 Atribuições do Coordenador Pedagógico (quando houver) • Construir versão final do Manual do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado a partir de reunião de avaliação com os diretores, coordenadores, professores e tutores. • Garantir a integração dos alunos, professores e coordenação de curso. • Criar estratégias de implantação e acompanhar a execução das atividades do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. • Organizar e promover junto a professores e diretores, cronogramas para a realização do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado; • Participar da comissão editorial para publicação eletrônica dos trabalhos assim que receber dos coordenadores a relação dos melhores trabalhos. • Promover o evento de apresentação dos Trabalhos finais relativos à disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. 5.2 Atribuições do professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado O professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado será o articulador do desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. Sua principal atribuição é planejar e acompanhar o andamento do trabalho pelos alunos e articular a contribuição dos demais professores, de forma a garantir a construção da interdisciplinaridade. O professor da disciplina Trabalho Interdisciplinar responsabilizará, antes do início das aulas: Dirigido/Projeto Aplicado se • pela definição, em parceria com os professores do módulo, do tema/eixo temático/foco da disciplina/módulo, conforme o projeto pedagógico do curso; 124 • pelo envolvimento dos professores na delimitação do que deve ser pesquisado em cada disciplina do módulo (Questão); • pela sistematização das decisões do grupo de professores do módulo na forma de Edital; • pela entrega do Edital ao Coordenador do Curso para sistematização e encaminhamento ao Diretor do Instituto para publicação no site da UNA. O professor da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado será responsável, durante o semestre letivo, pela (o): • apresentação da proposta do trabalho interdisciplinar aos alunos e divulgação do Edital; • organização/distribuição dos grupos; • distribuição dos sub-temas por grupo, se for o caso; • descrição das tarefas a serem executadas pelos alunos e distribuição do cronograma de atividades; • levantamento de possibilidades de contatos para realização de coleta de dados e pesquisa/trabalho de campo; • levantamento de infra-estrutura para realização de protótipos, experiências, construção de peças/produtos/projetos. • envio da relação dos melhores trabalhos interdisciplinares dos alunos para publicação em revista eletrônica. • interlocução contínua com os professores do período/módulo para garantir a participação das diversas disciplinas; • avaliação contínua junto aos Coordenadores de Curso do processo de desenvolvimento do trabalho interdisciplinar. O professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado não trabalhará o conteúdo específico das disciplinas e sim a articulação desses conteúdos no trabalho escrito e na apresentação oral. Ele se encontrará com os membros de cada grupo para: • garantir a implementação da proposta; • construir a metodologia do trabalho; • acompanhar a realização dos trabalhos nas modalidades previstas em Edital; • acompanhar a coleta de dados, se for o caso; • acompanhar a elaboração dos trabalhos escrito e oral; • colaborar na resolução dos obstáculos encontrados pelos grupos; • avaliar o processo de desenvolvimento (etapas do processo) e o produto gerado. 125 5.3 Atribuições dos professores das demais disciplinas do período/módulo Os professores dos módulos contemplados com o Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado serão responsáveis por orientar os grupos já formados, de modo a aguçar a sua percepção quanto à natureza e relevância da questão a ser investigada. Isso significa, pois, construir com os grupos uma única questão relacionada ao conteúdo da disciplina e à sua articulação com as demais, contribuindo para o diálogo entre elas. O conjunto de questões de todas as disciplinas norteará a coleta de dados empíricos e referências teóricas e/ou documentais sobre o tema/eixo temático proposto. Cada professor indicará material bibliográfico para análise do material empírico. Cada disciplina deve assegurar O MÍNIMO DE 10% da carga horária total de aulas para garantir a construção da resposta da questão formulada pela disciplina no trabalho interdisciplinar. A distribuição dessa carga horária deverá ser definida em cronograma durante a fase de planejamento e deverá constar do plano de ensino. Os professores das demais disciplinas do módulo avaliarão o produto final do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. A pontuação do trabalho em cada disciplina corresponderá a 10 (dez) pontos no semestre, conforme Edital do curso/módulo/turno. A nota será lançada na segunda etapa do semestre letivo. 5.4 Atribuições dos alunos • Formar grupos de acordo com as normas estabelecidas pelo Edital do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado; • Administrar conflitos entre os componentes do grupo; • Desenvolver o trabalho de acordo com as etapas de planejamento descritas no cronograma e seguir as orientações do professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado e dos demais professores do período; • Desenvolver um produto adequado à sua área de conhecimento; • Elaborar o trabalho escrito e preparar a apresentação oral do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. 5.5 Formação dos grupos As normas para a constituição dos grupos de trabalho interdisciplinar são: • Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado será desenvolvido obrigatoriamente em grupo de no mínimo 5 e no máximo 8 alunos participantes, conforme Edital. Casos especiais deverão ser avaliados e deliberados pelo coordenador de curso. São considerados casos especiais: Alunos excluídos dos grupos ao longo do semestre; 126 As normas de avaliação do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado podem ser alteradas no caso de mudança no sistema de avaliação. Turmas cujo número de alunos não permita o atendimento ao número mínimo estipulado pelo Edital; Outros casos que fujam as determinações dessa resolução. • os grupos poderão ser formados por livre escolha dos alunos. • o professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado deverá auxiliar no processo de constituição dos grupos para garantir que todos os alunos sejam alocados. 5.6 Produto Final A experiência do desenvolvimento do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado deverá gerar um documento final escrito, que poderá assumir vários formatos, adequandose às necessidades e especificidades das diversas áreas do conhecimento, respeitado o Edital do Período/Curso – Produto Final. Dentre as modalidades sugeridas, poderão ser formatos do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado: Modalidade Exemplo Trabalho teórico Artigo Ensaio Relatório Técnico Etc. Trabalho de campo Projetos de extensão Movimentos sociais Políticas sociais como efetivação de direitos Etc. Protótipo Maquete Produtos da engenharia (bomba de calor, bomba hidráulica) Produtos da arquitetura (móveis, utensílios, edificações) Etc. 127 Portfólio Projetos gráficos com apresentação e análise do conjunto de trabalhos de um artista (designer, fotógrafo, cineasta, jornalista) na modalidade impressa ou virtual. Etc. Material didático Manual Material para o ensino de Cinema e Audiovisual Produção de cartilhas para a sociedade (saúde, negócios, planejamento financeiro, marketing pessoal, comunicação, elaboração de currículos, etc.) Projeto Desenvolvimento de software Elaboração de uma home - page Elaboração de um blog e outros produtos relacionados às novas tecnologias (sites, podcasts, projetos de convergência) Produção de vídeo Reportagem (impressa, em vídeo, fotográfica, sonora) Ensaio fotográfico Ações de comunicação organizacional Vídeos (curtas) CD-ROM Programas de rádio Anime (animação) Empreendedorismo (Empresa Simulada) Plano de Negócios Projeto de Design de Interiores (ambientes comerciais e residenciais) Case Diagnóstico, planejamento e execução de ações em instituições privadas, públicas e não governamentais. Epidemiologia. Internacionalização de empresas Avaliação de desempenho 128 Pesquisa de clima organizacional Pesquisa de mercado e satisfação de cliente 5.7 Avaliação O processo de avaliação do trabalho interdisciplinar será feito na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado e em todas as demais disciplinas do módulo. Na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado serão distribuídos 100 pontos, conforme descrito abaixo: Avaliação Processual Valor Apresentação da proposta aos alunos 60 Construção da metodologia Elaboração do instrumento de coleta de dados Realização das etapas do trabalho Trabalho escrito 10 Avaliação 360 ° 10 Apresentação oral 20* Total 100 * Apresentação oral dividida em: Habilidades (conforme especificado no Edital de cada módulo) 10 pontos Arguição da banca examinadora (foco na pertinência e articulação do conteúdo) 10 pontos Nas demais disciplinas do módulo a distribuição das notas se dará da seguinte forma: Avaliação Valor Data Prova - P1 30 pontos Final da primeira etapa Prova - P2 30 pontos Final da segunda etapa Trabalho – T1 30 pontos* Até final da segunda etapa Nota consensual do TIDIR/PA - TDC 10 pontos 129 Entrega trabalho escrito final *Dos 30 pontos distribuídos em forma de trabalho, 10 pontos devem ser vinculados ao tema do TIDIR/Projeto Aplicado conforme edital, devendo o professor avaliar individualmente o aluno na sua disciplina. Nas demais disciplinas do módulo, será dada uma nota consensual pelos professores ao trabalho escrito final, no valor máximo de 10 pontos. A nota será lançada na segunda etapa do semestre letivo. Os 100 pontos relacionados a cada disciplina passam, então, a ser distribuídos da seguinte maneira: Os pontos deverão ser lançados na data do fechamento da ata da segunda etapa de avaliação, como parte da distribuição dos pontos de trabalho. Em caso de plágio, compra de trabalho, cópia parcial sem os devidos créditos e fraudes semelhantes, confirmada e comprovada a ocorrência do fato, o professor da disciplina poderá atribuir a nota zero (0) a todos os integrantes do grupo, que serão advertidos disciplinarmente pela coordenação. O não comparecimento do grupo para a apresentação oral, implicará na reprovação do grupo, mesmo que esse tenha atingido a nota mínima para aprovação em função da realização das demais etapas do projeto. A falta injustificada de qualquer elemento do grupo à apresentação, levará a reprovação do aluno faltoso. Caberá ao professor da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado, juntamente com o coordenador do curso, avaliar a justificativa do aluno que por ventura precisar se ausentar da apresentação oral, formalizando a decisão junto ao aluno em data anterior à ata prevista para a apresentação do trabalho, salvo em caso de doença comprovada por atestado médico. Nesse ultimo caso, o aluno deverá apresentar o atestado ao professor de TIDIR/Projeto Aplicado no período de três dias úteis a contar da data da realização da banca. Caberá ao professor, juntamente com o coordenador do curso, acatar ou não a justificativa de ausência do aluno, comunicando-o da decisão em até cinco dias úteis após a entrega do atestado. Caso a justificativa seja acatada, fica o aluno dispensado de apresentar o trabalho, devendo os professores atribuir-lhe nota compatível a atribuída ao grupo por ocasião da apresentação. No caso dos alunos irregulares que por ventura estiverem realizando apenas alguma(s) da(s) disciplina(s) do Módulo e não estiverem cursando a disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado, deverá(ão) o(s) professor(es) da(s) disciplina(s) na(s) qual(is) estiver(em) matriculado(s) esses alunos estabelecer outra forma de avaliação no valor de 10,0 (dez) pontos. Na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado não existe a possibilidade de recuperação em prova alternativa. 5.8 Assistência Pedagógica Domiciliar (APD) O aluno que, por motivo de doença comprovada por laudo/atestado médico (afecção congênita, infecções, traumatismos e outras condições incompatíveis com a frequência às atividades escolares), não puder comparecer às aulas, poderá receber orientação 130 acadêmica domiciliar. Para tanto, aluno deverá protocolar, no período de três dias úteis a contar da data de emissão do laudo/atestado médico, o requerimento de APD junto ao CAA, conforme disposto na Resolução 87/2008. O regime de ADP somente será concedido se o período de afastamento for de no mínimo 20 dias e, no máximo, 40 dias. Para afastamentos superiores há 40 dias, o aluno deverá solicitar o cancelamento da disciplina. Uma vez concedido o regimento de APD, o professor da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado deverá programar trabalhos e exercícios compatíveis com o estado de saúde do aluno, preferencialmente durante o período de afastamento, compreendendo: I- As unidades de ensino a serem desenvolvidas II- As especificações das atividades a serem cumpridas pelo aluno (tipo, roteiro, data de entrega) III- A indicação de bibliografia para o período de assistência, quando for o caso. Os trabalhos e orientações para o aluno em APD, exclusivamente como compensação da ausência às aulas, serão colocadas à disposição do mesmo, preferencialmente na sala virtual, ou a ele encaminhados por e-mail ou portador devidamente autorizado. Se o afastamento do aluno coincidir com a data de apresentação oral do trabalho interdisciplinar, a pontuação correspondente a essa etapa do trabalho será acrescida, para o aluno em APD, à apresentação escrita do mesmo. 6. Operacionalização Etapa 1 – Planejamento A etapa de planejamento do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado será realizada no final do semestre anterior à realização do trabalho interdisciplinar e na primeira semana do semestre letivo, durante o Simpósio de Professores. Deverá respeitar os princípios norteadores da interdisciplinaridade e os Projetos Políticos-Pedagógicos de cada curso, de tal forma que seus produtos estejam adequadamente articulados com os temas/eixos temáticos de cada Módulo/Curso. Esta etapa consistirá em reunião de planejamento com todos os professores de cada Módulo/Curso e na elaboração de Edital por Período/Módulo/Curso, com o propósito de estabelecer: • as normas gerais; • os objetivos; • propor a formatação dos trabalhos; 131 • as regras para a composição dos grupos; • as modalidades de apresentação escrita e oral; • e o cronograma. O planejamento da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado deve contemplar as seguintes etapas: 1 - Definição do tema/eixo temático: Tema/eixo temático que será o fio condutor do projeto. 2- Justificativa Definição dos motivos pelos quais se pretende trabalhar este ou aquele tema/eixo temático de forma articulada ao Projeto Político-Pedagógico do Curso. 3- Objetivos O que se pretende alcançar e como o tema/eixo temático se liga ao projeto curricular do curso. 4- Abrangência Definição de como as disciplinas e seus conteúdos estarão envolvidos no Trabalho Interdisciplinar. 5- Metodologia Definição pelos professores, juntamente com os alunos (quando apropriado ao curso), de como cada um trabalhará o tema/eixo temático em sua disciplina e definição da(s) referência(s) bibliográfica(s), da metodologia da pesquisa, do produto final e do modelo de apresentação. 6- Cronograma Definição de datas, etapas e responsáveis do processo de desenvolvimento, bem como dos processos avaliativos. O trabalho escrito deverá apresentar introdução, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas, e deve ser elaborado segundo as normas da ABNT. O tamanho mínimo e 132 máximo do trabalho deverá constar no Edital específico de cada Módulo/Curso, de acordo com as características do curso. A apresentação do trabalho oral deverá ser construída através de pôster, seminário, apresentação para banca de professores ou outra modalidade de apresentação contemplada em Edital do Módulo/Curso. Etapa 2 - Desenvolvimento do Trabalho Interdisciplinar Cada trabalho, dependendo de sua natureza e das peculiaridades de cada curso, poderá subdividir o desenvolvimento em diferentes formatos, de acordo com os objetivos e as metodologias traçadas. A partir da coleta de dados, os grupos deverão começar a relatálos por escrito, sintetizando-os e trazendo as referências teóricas e documentais para dialogar com os dados primários ou secundários. O desenvolvimento do Trabalho Interdisciplinar deverá contemplar as seguintes etapas: 1- Trabalho de campo Os grupos de alunos se formam, fazem leituras e fichamentos dos textos indicados pelos professores das disciplinas do período/módulo, constroem instrumentos de pesquisa, realizam trabalhos de campo, reuniões, elaboram o trabalho escrito e o formato das apresentações. Ao longo do processo de desenvolvimento do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado os grupos serão avaliados processualmente. 2 – Recursos, espaços de aprendizagem e definição dos campos de pesquisa Os espaços para o desenvolvimento do Trabalho Interdisciplinar poderão ser intra-muros (bibliotecas, laboratórios, empresas simuladas, auditórios, clínica, agência, espaços de convivência, etc.) ou extra-muros (cinema, teatro, museus, empresas, ONGs, portos, hospitais, postos de saúde, etc.). Etapa 3 – Processo Avaliativo Tanto na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado quanto nas demais disciplinas do módulo serão distribuídos pontos conforme o Edital do Módulo/Curso. Disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado O processo avaliativo da disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado envolverá as seguintes etapas: 1- Avaliação Processual (Avaliação Formativa) 133 O aluno será avaliado durante o processo de formação de habilidades e competências que possam contribuir para o seu desenvolvimento. A chave para esse tipo de avaliação está no fornecimento (pelo professor) e internalização (pelo aluno) de feedback sobre o desempenho deste último, com um olhar voltado para a continuação da sua formação. Ao longo do semestre, o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar será avaliado de acordo com seguintes itens, dentre outros: Apresentação da proposta do problema/pesquisa Construção da problematização pelos grupos Elaboração do instrumento de coleta de dados/pesquisa Realização das etapas do trabalho pertinentes à metodologia Análise dos dados Elaboração do trabalho final escrito 2 – Trabalho Escrito O desenvolvimento do trabalho interdisciplinar produzirá um trabalho escrito final. A disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado cobrará a interlocução entre os saberes construídos a partir do trabalho. Os trabalhos deverão ser entregues ao professor do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado na data fixada no cronograma. Os professores das demais disciplinas do período/módulo também avaliarão o trabalho escrito, com pontuação a ser definida no edital do Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado. 3 - Apresentação oral Cada grupo fará uma apresentação oral e será argüido por uma banca de professores, conforme Edital do Período/Módulo/Curso. Demais disciplinas do período/módulo A avaliação do produto final será feito por todos os professores das disciplinas do período/módulo e a nota deverá ser lançada na segunda etapa de avaliação de cada disciplina. 134 ANEXO 2 PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 135 136 137