UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACESSIBILIDADE CULTURAL GUILHERME GOLDSTEIN CHAZAN ESCLARECENDO AS NECESSIDADES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DE VÍDEO ACESSÍVEL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ - como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de especialista. Rio de Janeiro, 2013 GUILHERME GOLDSTEIN CHAZAN ESCLARECENDO AS NECESSIDADES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DE VÍDEO ACESSÍVEL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ - como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de especialista. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA RESUMO O Brasil conta com uma população superior a 190 milhões de habitantes (IBGE, 2010), entre os quais mais de 45 milhões de pessoas têm alguma deficiência (23,9% da população). Este contingente está privado de acesso a diversos eventos cotidianos devido a barreiras arquitetônicas e comunicativas, desconhecidas por grande parte da população. A legislação brasileira abrange o tópico de acessibilidade para as pessoas com deficiência, porém o conhecimento não é difundido. O propósito deste trabalho é identificar as pessoas com deficiência auditiva, visual e física, apresentar algumas de suas necessidades, as leis existentes sobre o tema e divulgar essas informações em um vídeo acessível. Palavras-chave: Acessibilidade. Pessoa com deficiência. Legislação. ABSTRACT Brazil has a population of over 190 million inhabitants (IBGE, 2010) and more than 45 million people of this group have some kind of disability (23.9% of the population). These people do not have access to many daily events due to architectonic and communication barriers, unknown by most of the population. Brazilian law comprehends the topic of accessibility for people with disability, however the information is not spread. The goal of this essay is to explain who people with disability are, regarding those with hearing, visual and physical impairment, to point some of their needs, the available laws about the subject and to spread this information through an accessible video. Key words: Acessibility. People with disability. Law. Lista de tabelas Tabela 1 – Cálculo de Estimativa de Prevalência de Cegueira no Brasil por Estados Brasileiros_________________________________________________________64 Tabela 2 – População Total e População com Deficiência____________________70 Tabela 3 – População – Raça e Gênero__________________________________70 Tabela 4 – População– Escolaridade, 15 anos ou mais______________________71 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 1 – AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD) 11 1.1 – Revisão histórica 11 1.2 – As deficiências 13 1.2.1 – Deficiência auditiva 13 1.2.1.1 – Classificação 13 1.2.1.2 – Etiologia 14 1.2.1.3 – Linguagem 15 1.2.2 – Deficiência Visual 17 1.2.2.1 – Conhecendo a tabela de Snellen 17 1.2.2.2 – Classificação da deficiência visual 18 1.2.2.3 – Etiologia 18 1.2.2.4 – Acesso à informação escrita 19 1.2.3 – Deficiência física 20 1.2.3.1 – Classificação 20 1.2.3.2 – Etiologia 21 1.3 – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) 23 1.4 – Pessoas com deficiência no território nacional 23 1.5 – Condições cotidianas 25 2 – ACESSIBILIDADE 28 2.1 – Acessibilidade Cultural 29 2.1.1 – Audiodescrição 29 2.1.2 – Legendagem 32 2.1.3 – Tradutor-intérprete de Libras 34 2.1.4 – Cinema 36 2.1.5 – Teatro 37 2.1.6 – Museu 37 2.1.7 – Legislação existente 39 2.1.7.1 – Emenda de 1978 39 2.1.7.2 – Constituição de 1988 39 2.1.7.3 – Leis nº 10.048 e 10.098, de 2000 40 2.1.7.4 – Decreto nº 5.296 de 2004 41 2.1.7.5 – Ministério das Comunicações – Norma Complementar nº 01/2006, Portaria nº 403, 466 e 661 de 2008, Portaria nº 985 de 2009, Portaria nº 188 de 2010 e Portaria nº 332/A de 2013 43 2.1.7.6 – Projetos de Leis nº 256, nº 327 e nº 1078, todos de 2007 44 2.1.7.7 – Projeto de Lei do Senado nº 122, de 2011 45 3. ROTEIRO 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS 60 REFERÊNCIAS 62 Lista de figuras Cartograma 1 - Percentual de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas na população residente dos municípios - Brasil – 2010____________72 INTRODUÇÃO Este estudo foi realizado como Trabalho de Conclusão de Curso para a Especialização em Acessibilidade Cultural. O tema escolhido deveria associar acessibilidade cultural com a instituição que possibilitou que nos inscrevêssemos para a realização deste curso. A partir disso, idealizei este trabalho visando ao esclarecimento de parte da realidade de quem deveria usufruir de acessibilidade cultural - ou seja, as pessoas com deficiência. Posteriormente, pretendo transformar o conteúdo escrito da monografia em um vídeo acessível, a ser monetizado – ganho de dinheiro por visualizações – no Youtube e revertido para a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) de Porto Alegre. Desta forma, o tema foi dividido em três capítulos. A metodologia deste trabalho dar-se-á através de bibliografias disponíveis sobre acessibilidade, conhecimento de causa do autor, que é uma pessoa com deficiência (PCD) auditiva e já trabalhou com PCD visual e física, somado a uma análise das leis brasileiras que versam sobre acessibilidade. O objetivo do trabalho é de conscientizar os leitores sobre como tornar os eventos culturais e também tarefas cotidianas acessíveis para as PCDs. O vídeo atende a este propósito ao propagar as informações contidas neste trabalho, valendo-se de algumas medidas de acessibilidade – audiodescrição, LIBRAS e legendas. O primeiro capítulo versa sobre as pessoas com deficiência. Aborda uma revisão histórica, conceituação de deficiências, condições deste grupo em situações cotidianas e no território nacional. De uma forma breve, o tratamento destinado às pessoas com deficiência mudou muito da Idade Média até os tempos atuais, assim como a visão do que é deficiência. No Brasil, este grupo tem lutado por uma série de mudanças, que têm ocorrido lentamente. O segundo capítulo discorre sobre acessibilidade cultural e a legislação existente sobre o assunto. É importante conhecer a legislação existente para saber como abordar o tema deficiência e quais aspectos devem ser focados para que se possa pensar a quebra de barreira atitudinal. 10 O terceiro capítulo abrange o roteiro de um vídeo acessível para divulgar as informações contidas nesta monografia. O vídeo acessível versará sobre as necessidades de alguns grupos de PCDs e será disponibilizado no Youtube, para que um maior número de pessoas consiga assisti-lo. Conterá legendas, interpretação em Libras e audiodescrição como medidas de acessibilidade. 11 1 – AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD) 1.1 – Revisão histórica O propósito desta revisão é de reflexão, uma vez que durante a história da humanidade o olhar depositado sobre as PCDs mudou mais de uma vez. Os termos utilizados para se referir ao grupo também foram alterados, e os primeiros empregados são politicamente incorretos na atualidade. Quando houver alguma referência a essa nomenclatura antiga, aparecerá entre aspas. Na Antiguidade, o valor de um homem estava associado à sua utilidade perante a nobreza. Assim, as “pessoas diferentes”, com potencial físico limitado e consideradas amaldiçoadas, eram exterminadas (ARANHA, 2005; FEBRABAN, 2006). Na Idade Média, o poder saiu das mãos da nobreza para parar nas do clero. Para a maioria da população, não houve mudanças: trabalhava para sustentar o clero e a nobreza. As “pessoas doentes, defeituosas e/ou mentalmente afetadas” não mais eram exterminadas, pois o pensamento cristão diz que todos são criaturas de Deus. Seus destinos eram de abandono à própria sorte, dependendo sua sobrevivência de caridade (ARANHA, 2005; FEBRABAN, 2006). No século XIII, surgiram as primeiras instituições para abrigar “deficientes mentais”. Conventos, asilos e hospitais psiquiátricos longe dos centros urbanos funcionavam como locais de confinamento (FEBRABAN, 2006); o propósito não era de tratamento, mas de aprisionamento. Somente no século XVI, com o advento da Revolução Burguesa, as deficiências deixaram de ser vinculadas ao espírito e associadas a causas naturais, segundo a tese da organicidade (FEBRABAN, 2006). Começou-se a investigar mais informações acerca da deficiência, sua etiologia, funcionamento e tratamento. A medida adotada na época foi a de retirar as pessoas com deficiência de suas comunidades de origem e colocá-las em instituições segregadas onde pudessem residir ou em escolas especiais, longe de suas famílias. 12 Este conjunto de ideias e prática de institucionalização durou 500 anos. Começou a ser criticado no século XX, nos anos 60, por diversas frentes, entre elas a academia científica e diferentes categorias profissionais. A meta a que se destinava, de preparar ou recuperar “pessoas com necessidades especiais” para a vida em sociedade, não era atingida; a institucionalização era inadequada e ineficaz. Esta prática onerava o sistema, que arcava com um custo cada vez maior para financiar a segregação. O interesse do sistema era de conferir autonomia e obter produtividade por parte das PCDs, e o meio escolhido para isto foi a normalização e a desinstitucionalização. O objetivo era a normalização, de acordo com o padrão coletivo. Assim, seria viável sua inserção e integração na sociedade. O sujeito a ser modificado passava por uma avaliação, seguido de intervenção e posterior reencaminhamento para o convívio social. Ao contrário do que aconteceu com a institucionalização, que não sofreu contestação por 500 anos, a normalização foi rapidamente alvo de críticas por parte da academia científica e das PCDs. O motivo para isto foi a dificuldade encontrada para “normalizar” este conjunto. As diferenças precisavam ser respeitadas, pois a PCD é cidadã e detentora de direitos como qualquer outra pessoa. Como resultado da prática de normalização, percebeu-se a necessidade da PCD ser avaliada e capacitada para o convívio em comunidade. Não necessariamente adaptada para seguir o padrão social, mas para garantir seu acesso a todo e qualquer recurso disponível aos demais cidadãos. Com isso, seria possível a inclusão social, um processo bidirecional, que envolve ações junto à PCD e ações junto à sociedade (ARANHA, 2005). Tanto a integração como a inclusão preveem que as pessoas com necessidades especiais tenham igualdade de acesso à informação e à vida em sociedade. Entretanto, os meios para atingir este fim diferem. Pelo primeiro conceito, entende-se que a PCD precisa se adaptar ao padrão normal da sociedade, enquanto o segundo diz que é uma via de mão dupla, uma troca de relações entre sujeito e comunidade. 13 1.2 – As deficiências O ser humano é uma criatura complexa, que passa por diversas situações durante a vida. Em muitas situações, ocorrem acidentes ou doenças que deixam marcas. As sequelas decorrentes podem ter alguma gravidade, de forma que a pessoa pode acabar adquirindo alguma deficiência em maior ou menor grau. Por outro lado, há a chance do indivíduo nascer com a deficiência, seja por combinação genética ou doença adquirida durante a gestação. Essas são as causas mais comuns, deficiência adquirida e congênita. Para compreendermos qual é a acessibilidade de que uma PCD necessita, conhecer seu histórico facilita esta tarefa. Conforme Coelho (1997, apud SARRAF, 2008), as PCDs apresentam deficiências muito diferentes entre si. Para que possamos quebrar a barreira atitudinal existente, precisamos conhecê-las em suas especificidades. 1.2.1 – Deficiência auditiva 1.2.1.1 – Classificação A deficiência auditiva é classificada de acordo com o grau de perda de audição. Em ordem crescente: sem perda, leve, moderada, severa e profunda. No grau sem perda, o limiar auditivo se encontra entre 0 e 25 decibéis (dB); não há dificuldade aparente na compreensão auditiva. Na perda leve, o limiar situa-se entre 26 e 40 dB; existe dificuldade em ouvir a fala e conversa em volumes baixos, especialmente em situações ruidosas, e bom entendimento em ambientes silenciosos. Quando se fala em perda moderada, o limiar está entre 41 e 55 dB; há dificuldade aparente na compreensão de fala, especialmente com ruído de fundo. É necessário volume mais alto para o entendimento de televisão ou rádio. Na perda moderada a severa, o limiar é de 56 a 70 dB; a habilidade de conversa diminui consideravelmente. A fala tem que ser alta e tem-se dificuldade em conversas de grupo. 14 No caso de perda severa, o limiar está na faixa de 71 a 90 dB; a fala normal não é audível e, mesmo em volume alto, é difícil sua compreensão. O entendimento é possível através de gritos ou amplificação sonora. Tratando-se de perda profunda, o limiar é superior a 91 dB; mesmo a fala amplificada é de difícil compreensão. É importante frisar que esta é a classificação de deficiência auditiva do ponto de vista biológico, médico, clínico. Há ainda outra classificação, que, aliada a este critério, abrange a cultura, a interação com “o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras” (decreto 5.626 de 2005). De acordo com o decreto 5.626 de 2005, uma PCD auditiva é aquela com “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz”; e uma pessoa surda é aquela que tem perda auditiva e se comunica com o mundo através da língua de sinais. 1.2.1.2 – Etiologia De acordo com Piatto et al. (2005), a proporção de recém-nascidos ou crianças com perda severa a profunda é de 1/1.000 em países desenvolvidos. Em cerca de 60% dos casos, a origem é genética, hereditária; 30% dos casos é de surdez adquirida e os 10% remanescentes de causa desconhecida, idiopática. Na fase adulta, terceira década de vida aproximadamente, a otosclerose tem uma prevalência de 0,2-1% entre adultos de raça branca . Entre as doenças que podem originar surdez congênita, mas não de origem genética, estão rubéola, toxoplasmose, citomegalia, sífilis, herpes, prematuridade ou uso de drogas no período gestacional (Simões et al.,1992, apud Barros, 2009; Das, 2000, apud Barros, 2009). Entre outras causas que podem ter o efeito de perda de audição durante a vida, incluem-se caxumba, meningite, medicamentos ototóxicos, envelhecimento (presbiacusia) (Simões et al., 1992, apud Barros, 2009). Sabe-se que a perda de audição pode ocorrer no nascimento, na infância ou mais adiante durante a vida. Pode ser congênita ou adquirida e também súbita ou 15 progressiva. O modo e a etapa da vida em que o indivíduo é acometido de surdez podem determinar o desenvolvimento de sua forma de comunicação. 1.2.1.3 – Linguagem A linguagem é adquirida por meio da interação social desde o princípio do ciclo da vida. A criança aprende a linguagem gradualmente, por imitação e reforço com membros da cultura de um determinado grupo social (SOARES, 2009). O bebê começa usando a língua, os lábios, o céu da boca e qualquer dente que esteja aparecendo para emitir sons. A esta etapa de exploração própria, seguese a absorção de sons, tons e palavras que serão usadas para expressar a fala. Percebe-se então que, para que a fala seja possível, a audição é a porta de entrada para a compreensão de sons. Um bebê com surdez nesta fase de vida é considerado pré-lingual e, caso os pais decidam pela comunicação oral, precisa ser estimulado desde cedo com profissionais da fonoaudiologia e fazer uso de próteses auditivas ajustadas à sua perda. O mesmo estímulo deve ser oferecido ao bebê caso a família opte pela comunicação por língua de sinais. Seja qual for a forma adotada de comunicação, se uma, outra ou ambas, é imprescindível a exposição do bebê a modelos da linguagem a ser adquirida. Quando a surdez ocorre em uma fase posterior da vida, como na infância – chamada de surdez peri-lingual - ou na fase adulta – pós-lingual –, a linguagem oral já está mais consolidada. Tal aquisição prévia não significa que o sujeito então com surdez vá se comunicar oralmente, nem a perda determina que passe a utilizar a língua de sinais; esta é uma decisão que depende de diversos fatores, como poder econômico – e interesse – para aquisição, reabilitação e adaptação com prótese auditiva; interesse em aprender leitura orofacial (também chamada de leitura labial) ou língua de sinais; nível de informações a respeito do tema da surdez; tempo disponível, apoio e esforço por parte do surdo e da família. O poder econômico engloba diversos passos a serem percorridos quando a família é comunicada da surdez de seu participante. Como 95% das pessoas com deficiência auditiva são provenientes de famílias de pais ouvintes e grande parte 16 desses pais deseja se comunicar com seus filhos de forma oral, a língua de sinais é uma hipótese que raras vezes é considerada como primeira opção e é adotada pelos que “fracassam” no processo de oralização (WITKOSKI et al., 2010). Então, como instrumento da aquisição da língua oral, adquirem-se próteses auditivas de acordo com a perda do indivíduo, que é encaminhado para terapia de fala com fonoaudiólogos. É um processo que costuma levar tempo e dedicação, que exige muitas vezes um longo deslocamento da família para um atendimento gratuito afastado de seu local de moradia ou, se forem consultas pagas, constitui um investimento com o qual poucas famílias conseguem arcar. A leitura orofacial é uma habilidade que também exige tempo, talento e paciência e que ainda depende muito da articulação da pessoa cujos lábios serão lidos. Presença de bigode, aparelhos dentários, má articulação das palavras, velocidade muito rápida da fala, falar virado de costas, pouca luminosidade no ambiente, mão na frente, boca cheia, vários podem ser os obstáculos para quem precisa fazer leitura labial (TORRES et al., 2007). O mesmo vale para o aprendizado de uma língua de sinais. Para que este flua, o contato com usuários desta modalidade linguística, com estrutura própria que difere da falada, é imprescindível. Alguns locais, como igrejas, escolas bilíngues e associações funcionam como pontos de encontro que facilitam a interação com esta língua espaço-visual. O nível de informação a respeito da surdez varia muito, assim como a aceitação da notícia. A surdez congênita pode ser detectada a partir de uma triagem auditiva neonatal, exame popularmente conhecido como teste da orelhinha. A descoberta da surdez ou a perda de audição também podem ocorrer em um período mais adiante do ciclo de vida e serem observadas por uma série de exames, entre os quais se inclui audiometria. Seja qual for a situação, a primeira área que informa a família da surdez do indivíduo é a área médica. Em muitos casos, este acontecimento é uma surpresa, o sujeito é a primeira pessoa surda da família, que, desprevenida, procura orientação sobre o que pode ser feito, qual a melhor solução, qual o caminho a ser seguido. Este é o primeiro de muitos passos na decisão da oralização ou sinalização por parte da família e do sujeito surdo. 17 O tempo disponível, o apoio prestado e o esforço despendido por parte do surdo e da família é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da pessoa. Quanto mais precocemente o indivíduo for estimulado, melhor e mais rápida será a aquisição de linguagem e menor será o atraso no desenvolvimento (POKER, 2002). 1.2.2 – Deficiência Visual 1.2.2.1 – Conhecendo a tabela de Snellen A deficiência visual é dividida em categorias de acordo com a acuidade visual (AV) do sujeito no melhor olho, levando em conta correção óptica por óculos ou lentes. A AV pode ser medida através da tabela de Snellen, em que a pessoa testada deve ler as letras contidas na linha. Os caracteres da tabela são conhecidos como optotipos. A tabela tradicional de Snellen possui 11 linhas, sendo que a linha superior contém o optotipo de maior tamanho, diminuindo nas linhas subsequentes. A pessoa em avaliação cobre um dos olhos e lê em voz alta os optotipos de cada linha, começando pela maior. A linha com o menor optotipo lido com precisão indica a AV do olho em questão. Para representar a AV, usa-se uma fração da tabela de Snellen, em que o denominador é a distância em que o teste foi realizado e o numerador é o menor optotipo identificado, subentendido em um ângulo de 5 minutos de arco. Originalmente, o teste era realizado com o indivíduo localizado a 20 pés (6 metros) da tabela. Com o passar do tempo, adaptaram-se as distâncias para consultórios menores e por consequência o tamanho da tabela e das letras também, mantido o resultado proporcionalmente à tabela original. Exemplo: um teste executado a 3 metros e com menor optotipo lido a 6 metros resulta em 3/6. Mantida a proporção, fica 6/12 (20/40 em pés). Na distância de 6 metros, a 8ª linha, cujos caracteres são os menores possíveis que uma pessoa com acuidade normal consegue ler, é designada 6/6 (20/20 em pés) no sistema. Os caracteres da 5ª linha possuem o dobro do tamanho da 8ª e, devido ao dobro do tamanho, uma pessoa com acuidade normal conseguiria 18 lê-los a uma distância também dobrada, de 12 metros, sendo então designado 6/12 (20/40 em pés). A 2ª linha possui símbolos 5 vezes maiores que a 8ª linha, sendo assim designada 6/30 (20/100 em pés). O que significam esses números, 6/6, 6/12 e 6/30? Eles servem para interpretação de resultados. Podemos ler assim: “uma pessoa com acuidade visual de (fração de AV obtida) enxerga a (número do numerador) metros de distância o que uma pessoa com acuidade visual normal vê a (número do denominador) metros”. Ou seja, uma pessoa com 6/6 possui uma AV normal. Se for 6/12, pode-se dizer grosseiramente que este indivíduo possui metade da AV normal. Caso seja 6/30, a AV já é bem prejudicada, enquadrando-se como baixa visão. Se for 6/36 ou pior, considera-se que o indivíduo é legalmente cego nos Estados Unidos. 1.2.2.2 – Classificação da deficiência visual No Brasil, de acordo com o Decreto nº 5.296, de 2004, as categorias de deficiência visual foram classificadas entre faixas de máximo e mínimo de AV, com o uso de correção óptica no melhor olho. Um indivíduo com baixa visão é aquele cuja acuidade visual está entre 0,3 (30%) e 0,05 (5%) no melhor olho, com a melhor correção óptica. Enxerga no máximo 6/18 (20/60) até 6/120 (20/400). De 20/400 para valores menores de AV, já se considera cegueira. 1.2.2.3 – Etiologia De acordo com Taleb (2009) e Brito e Veitzman (2000), a prevalência da cegueira está associada a condições socioeconômicas, e não a fatores genéticos e hereditários, situação que pode ser verificada ao se analisar o percentual de prevalência nos diferentes Estados brasileiros na tabela 1. A perda de visão pode ser congênita ou adquirida e se manifestar durante as diferentes etapas da vida. 19 Durante a infância, as principais causas da perda de visão são ambliopia, ametropias não corrigidas, neoplasia, meningite, catarata congênita, sarampo, glaucoma congênito, toxoplasmose, rubéola congênita e retinopatia da prematuridade (Taleb, 2009; Brito e Veitzman, 2000). Estas causas estão associadas “às anomalias do desenvolvimento, às infecções transplacentárias e neonatais (toxoplasmose, rubéola e sífilis), à prematuridade, aos erros inatos do organismo, às distrofias, traumas e tumores” (Taleb, 2009:6). Na fase adulta, os principais fatores que costumam levar à cegueira são “catarata, glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade” (Taleb, 2009). Além destas, “outras causas importantes são o tracoma, traumatismos, uveorretinites, descolamento de retina, infecções, tumores e complicações da hipertensão arterial sistêmica” (Taleb, 2009:5-6). 1.2.2.4 – Acesso à informação escrita Os principais obstáculos da PCD visual não são na comunicação do dia a dia, mas no deslocamento (FORNAZIERO e ZULIAN, 2010) e acesso à informação escrita, conforme relatos em Coutinho (2011). A leitura tradicional depende da visão. Como opção mais adequada, a PCD visual pode lançar mão de vários métodos. Antes de se aprofundar no tema, enfatiza-se que há diversidade na forma de leitura das PCD visual. Como visto no tópico de etiologia, a perda de visão pode ocorrer em diversos momentos da vida, fazendo com que a adaptação a um novo sistema de leitura, entre outras ações do cotidiano, torne-se mais rápida – perda congênita, normalmente, em que a criança cresce com a deficiência – ou mais lenta – quando o indivíduo já é adulto. O mais conhecido sistema de leitura é o Braille, que consiste em escrita tátil executada em papel com gramatura maior. Dessa forma, o papel resiste por mais tempo ao manuseio. Os usuários podem escrever em Braille usando reglete e punção ou uma máquina Braille. Os caracteres desta forma de escrita são blocos retangulares chamados de células que contêm 6 pontos cada. O número e o arranjo destes pontos diferenciam um caractere de outro, resultando na possibilidade de 63 combinações. 20 O Braille pode ser aprendido em vários níveis. O Braille por extenso é chamado de grau um e é usado para representar o alfabeto, pontuação, números e alguns sinais mais específicos do sistema. É praticamente uma reprodução da escrita visual. Porém, o fato de tudo estar escrito por extenso torna a leitura mais lenta e também gera um maior volume de papel. O Braille grau dois já apresenta abreviações e, dessa forma, o volume final gerado no papel é menor, assim como o tempo de transcrição. É o grau mais comum utilizado. A aplicabilidade do Braille não se restringe ao papel. Desenvolveu-se uma tecnologia assistiva chamada Linha Braille, que em conjunto com softwares leitores de tela transfere textos do computador para Braille em tempo real. Pode vir inclusive com teclado Braille para usuários sem habilidade com o teclado convencional. Softwares leitores de tela, como JAWS, DOSVOX, NVDA e outros, ao invés de passarem a informação para o Braille, via tato, transformam em som o conteúdo selecionado na tela. Para os que possuem um pouco de visão, está disponível também o uso de letras ampliadas, que consiste no conteúdo escrito, porém com fonte aumentada e com contraste. O contraste, tamanho e estilo da fonte para que seja possível ler depende do usuário. Para os que leem com fonte ampliada e querem usar este recurso no computador, há a possibilidade de aumentar o zoom e inverter as cores com o aplicativo de acessibilidade que vem com o computador. Outros programas para este fim podem ser encontrados na internet. 1.2.3 – Deficiência física 1.2.3.1 – Classificação De acordo com o Decreto nº 5.296, de 2004, a deficiência física é a alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, 21 hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. Compreendendo melhor o que significam os termos, plegia significa paralisia, enquanto paresia é dificuldade de movimento. Paraplegia e paraparesia acometem os membros inferiores; monoplegia e monoparesia afetam um membro; tetraplegia e tetraparesia, os quatro membros; triplegia e triparesia, três membros; hemiplegia e hemiparesia, um lado do corpo; ostomia é a exteriorização de um órgão oco (intestino, condutos urinários, estômagos); nanismo é alteração do crescimento. 1.2.3.2 – Etiologia A deficiência física pode ser congênita ou adquirida durante a vida. Pode ocorrer por doenças progressivas, regressivas ou estáveis, por acidentes, traumas, alterações genéticas, lesão medular, doenças neuromusculares, má formação, poliomielite, síndrome pós-polio, amputações, lesões encefálicas adquiridas, síndromes genéticas, paralisia cerebral. Segundo a Rede Sarah, citada por Barbosa (2003), algumas das causas mais comuns de lesão medular são ferimento por arma de fogo, acidente de trânsito, quedas, mergulho, tumores e infecção. O comprometimento depende do nível e grau da lesão. Quanto mais próximo do cérebro – diz-se lesão mais alta –, maior a perda de movimento e sensações corporais; quanto mais afastado – mais baixa lesão –, maior é a chance de preservação e sensibilidade de movimentos. Sobre doenças neuromusculares, de acordo com Zatz ([20--]), conhecem-se até agora 30 formas diferentes de Distrofias Musculares Progressivas, que afetam áreas musculares com gravidades diferentes. Estão propensos a essa doença indivíduos de todas as idades e ambos os sexos. É ocasionada pela alteração de um gene, induzindo à não produção de uma proteína essencial para o músculo, que degenera progressivamente. A mais comum delas é a Distrofia de Duchenne em meninos, uma herança genética ligada ao gene X que costuma se manifestar na infância, com tombos mais frequentes que o normal, progride para a incapacidade 22 de andar aos 10, 12 anos aproximadamente, chegando a comprometer os braços e ao ponto de causar problemas cardíacos e respiratórios (ZATZ, [20--]). A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença contagiosa, transmitida através do contato com fezes ou com secreção expelida pela boca de pessoas infectadas, que foi praticamente erradicada com a aplicação da vacina VPO-Sabin, a vacina da gotinha, em crianças (VARELLA, [20--]). A doença continua ativa em alguns países da África e Ásia e, para combater o vírus, as campanhas de imunização são repetidas todos os anos. Mesmo quando ocorre infecção, na maioria dos casos a pólio é assintomática (VARELLA, [20--]). Os que contraíram a doença em sua forma sintomática, não paralítica, no entanto, apresentam como “sinais mais característicos febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez na nuca e meningite” (VARELLA, [20--]). Na forma paralítica, além do já citado, apresenta-se flacidez muscular que acomete um dos membros inferiores. Estima-se que 75% dos afetados pela poliomielite paralítica desenvolvam síndrome pós-pólio (VARELLA, [20—]), que surge de repente e causa fraqueza, dor muscular, fadiga excessiva, dores nas articulações, intolerância ao frio e dores de cabeça. O uso de cadeira de rodas em algumas situações pode ser necessário. De acordo com Guedes ([20--]), as amputações sofreram uma evolução desde a primeira vez que se teve notícia. Antigamente, eram realizadas para tratar de pessoas no pós-guerra, de forma cruenta, sem anestesia, sem assepsia e antissepsia, na tentativa de salvar o membro da extremidade afetada. Na atualidade, com olhar mais criterioso, procura-se orientar o paciente a evitar certos hábitos para minimizar a chance de amputação, como no caso de diabéticos, e, quando necessária, amputar de forma que a prótese permita a reabilitação (GUEDES, [20--]). Muitos são os tipos de lesões encefálicas adquiridas. Entre elas, podemos citar acidente vascular cerebral (AVC); traumatismo cranioencefálico devido a acidentes, quedas, ferimentos por arma de fogo, espancamento; neuroinfecções, anóxia (falta de oxigênio); tumores. Podem resultar em flacidez ou espasticidade; rigidez; tremores; incoordenação dos movimentos; alteração de sensibilidade e dor; comprometimento da fala e da comunicação. A gravidade das sequelas varia conforme a lesão e a reabilitação. 23 A paralisia cerebral (PC) pode afetar o movimento e a postura, além de causar alteração na sensação, percepção, cognição, comunicação, comportamento e crises convulsivas. Sua incidência está muito associada à falta de acesso a serviços adequados de saúde antes, durante e imediatamente após o nascimento (sendo mais comum em bebês prematuros), por infecções congênitas, hipóxia cerebral e alterações metabólicas (MSD, 2009). 1.3 – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) Essa classificação, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, World Health Organization – WHO) em 2001, considera as noções de “saúde” e “deficiência” por outro viés, não apenas do ponto de vista clínico. Ela associa as dimensões biomédica, psicológica e social com fatores ambientais (FARIAS e BUCHALLA, 2005). Assim, a deficiência e a incapacidade originada por ela não são explicadas somente pela condição de saúde/doença do sujeito, mas pela sua relação com os quatro elementos citados (FARIAS e BUCHALLA, 2005). Através deste novo paradigma oriundo da CIF, adquirem-se novas ferramentas para políticas de inclusão social (FARIAS e BUCHALLA, 2005). 1.4 – Pessoas com deficiência no território nacional Para fins de censo da população com deficiência do ponto de vista médico/biológico em território brasileiro, o IBGE questionou os entrevistados sobre suas percepções visuais, auditivas, físicas e intelectuais. A população total brasileira, de acordo com o Censo de 2010, é de 190.755.799 habitantes, dos quais 160.934.649 (84,4%) habitam os centros urbanos e 29.821.150 (15,6%) a zona rural. Deste conjunto, 45.606.048 são pessoas com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 23,9% da população brasileira (IBGE, 2010). Destas 45.606.048 pessoas, 38.473.702 (84,4%) se encontravam em áreas urbanas e 7.132.346 (15,6%) em áreas rurais, conforme pode-se ver na tabela 2. O total de PCDs na zona urbana, dividido pela população total urbana, traduziu-se na 24 mesma média observada em nível nacional: 23,9%, valor que se repetiu na zona rural, o que permite dizer que, apesar do número de PCDs encontrado ser muito maior nas áreas urbanas que em comparação com a zona rural, a concentração delas é igual em ambas as situações. A Região Nordeste concentra os municípios com os maiores percentuais da população com pelo menos uma das deficiências investigadas, conforme ilustra o Cartograma 1, e tem a maior concentração de pessoas com alguma deficiência sobre a população total da região – 26,6% –, enquanto as regiões Norte e Sudeste concentram 23% e as regiões Sul e Centro-Oeste, 22,5%. A distribuição de pessoas com deficiência por faixa etária é crescente. Na base, na faixa de 0 a 14 anos de idade, 7,5% crianças apresentaram pelo menos um tipo de deficiência; no meio, no intervalo de 15 a 64 anos, o percentual sobe para 24,9% das pessoas. No topo, de 65 anos para cima, são 67,6% as pessoas com pelo menos um tipo de deficiência. Este crescimento deve-se ao fato de que com o envelhecimento vem uma perda gradual da acuidade visual e auditiva e da capacidade motora do indivíduo. Quando se trata de gênero, o Brasil possui uma diferença de aproximadamente 4 milhões de indivíduos femininos a mais que masculinos, devido a motivos diversos. Em 2010, 97.348.809 mulheres e 93.406.990 homens constituíam a população brasileira. Entre as mulheres, 25.800.681 apresentavam algum tipo de deficiência, 26,5% do grupo. O contingente masculino com deficiência é menor, numérico e proporcionalmente: 19.805.367 indivíduos, 21,2% do conjunto. Referente a raça, em 2010 o Brasil estava distribuído em 90.621.281 pessoas de raça ou cor branca, 14.351.162 preta, 2.105.353 amarela, 82.820.452 parda, 821.501 indígena e 36.051 sem declaração. Entre as PCDs do censo, 21.252.847 eram brancas (23,5% da categoria), 3.884.965 pretas (27,1%), 569.838 amarelas (27,1%), 19.733.079 pardas (23,8%), 165.148 indígenas (20,1%) e 171 sem declaração (0,5%). Os dados de raça e gênero podem ser visualizados na tabela 3. Em relação ao nível de instrução, da população na faixa de 15 anos ou mais de idade, de 144.814.164 indivíduos, 65.043.145 (44,9%) não tem instrução ou fundamental incompleto, 27.511.216 (19%) tem fundamental completo e médio incompleto, 37.963.308 (26,2%) possuem médio completo e superior incompleto, 25 13.463.757 (9,3%) detém superior completo e 832.737 (0,6%) não foi determinado. O número de PCDs analisadas foi de 42.146.647, das quais 25.766.944 (61,1%) não tem instrução ou fundamental incompleto, 5.967.894 (14,2%) tem fundamental completo e médio incompleto, 7.447.983 (17,7%) possuem médio completo e superior incompleto, 2.808.878 (6,6%) detém superior completo e 154.947 (0,4%) não foi determinado. As proporções mostram que a PCD tem mais dificuldade no acesso à educação, observando-se que 61,1% do grupo está na faixa sem instrução ou nível fundamental incompleto, contra 44,9% da média da população. As proporções das demais categorias encontradas também foram menores (tabela 4). 1.5 – Condições cotidianas A rotina de uma PCD não necessariamente difere do cotidiano de uma pessoa sem deficiência. Porém, para que essa rotina aconteça sem sobressaltos, muitas vezes há necessidade de adaptações. Enumeremos exemplos. Comecemos com uma PCD visual, sem entrar no mérito de ela ser cega ou ter baixa visão. Dentro de casa, o ambiente já lhe é familiar. Ela sabe a localização e disposição dos objetos em seu lar e pode ter alguma estratégia desenvolvida para não esbarrar neles. Pode ser a contagem de passos – exemplo: da porta até o sofá são sete passos -, o uso de bengala branca1, tato na parede, cão-guia, pessoa guia. Fora de casa, mais opções surgem. Além da bengala branca e cão-guia, para deslocamento independente, a PCD visual pode utilizar alarme sonoro em sinaleiras, avisando quando o sinal vai abrir ou fechar; alto-falante em ônibus/metrô e elevadores, informando a parada e andar, respectivamente; piso podo tátil nas calçadas; Braille ou letra ampliada, de acordo com a acuidade visual do indivíduo, nas diversas fontes de informações escritas, tais como os botões para chamar o elevador. 1 Bengala branca é um instrumento dobrável ou inteiriço de cor predominantemente branca, utilizado por PCDs visual. O usuário move a bengala à sua frente, da esquerda para a direita, encostando o chão. Assim, ao esbarrar em algo ou alguém ou ao não encostar o chão, a pessoa sabe que tem um obstáculo no caminho ou mudança de patamar. 26 Agora, uma PCD física ou de mobilidade reduzida. Pode ser usuária de cadeira de rodas, de muletas, com paralisia cerebral, problema de motricidade fina, nanismo ou outra situação que a enquadre como deficiente física. As estratégias enumeradas a seguir são genéricas para este grupo. Como adaptações dentro de casa, podem-se citar portas maiores, para permitir fácil acesso e circulação de cadeira de rodas; presença de corrimãos, para os que tiverem problemas de equilíbrio e coordenação; quando a moradia tiver mais de um andar, a oferta de elevador para deslocamento entre os andares; terrenos planos, para facilitar a locomoção de todos; aproximação ou afastamento de móveis, de acordo com a necessidade do indivíduo; redução da altura de móveis. Fora de casa, como opções para suprir a necessidade do grupo, há rampa; vaga de estacionamento com espaço extra nas laterais, próximo da entrada de estabelecimentos; cadeiras de rodas ofertadas em determinados locais. Para pessoas com deficiência auditiva ou surdas, as mudanças no lar são principalmente direcionadas a estímulos visuais. Pode ser uma campainha luminosa; despertador vibratório; interfone com vídeo acoplado, permitindo a visualização de lábios ou de língua de sinais; exaustor com luz avisando quando está em funcionamento. Fora de casa, como a maioria das informações é visual, este grupo se locomove bem. A dificuldade maior é comunicativa. Embora muitas das adaptações que possibilitam uma rotina mais tranquila e independente por parte das PCDs seja simples e de fácil implementação, raros são os locais que as oferecem. A diferença de acessibilidade existente entre os municípios do Brasil é enorme. Em muitas cidades do interior, falta pavimentação nas ruas, tornando-as, assim, estradas de terra batida, muitas vezes irregulares, com buracos. Mesmo nas cidades onde há asfalto, não há nivelamento pleno na calçada ou na rua. Desta forma, pessoas com deficiência física enfrentam dificuldades de deslocamento nas calçadas. O mesmo acontece com as pessoas com deficiência visual que se guiam pelo tato e audição através da bengala branca. A iluminação em muitas ruas também é precária. Postes de luz com lâmpada queimada ou ausente são comuns em vários municípios, desencorajando a saída no período vespertino. Pisos podo táteis, 27 quando presentes, não são contínuos entre uma estrutura e outra, restringindo assim sua utilidade. 28 2 – ACESSIBILIDADE De acordo com o Decreto nº 5.296, de 2004, art. 8º, inciso I, acessibilidade é toda e qualquer estratégia que dê condições e possibilidade para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. Desta forma, a acessibilidade visa a tornar o mundo um lugar para todos, em que todos possam usufruir do seu entorno. Embora o conceito seja simples, na prática é difícil vê-lo tomar forma. Em parte porque as pessoas com deficiência, os diferentes, os destoantes da normalidade, são minoria. No território nacional, como observado no tópico anterior, este contingente corresponde a 23,9% da população. É um percentual bem expressivo, porém com alta diversidade dentro do grupo, em função das diferentes deficiências e também dos diferentes graus e peculiaridades de cada um. Uma PCD leve tem, em princípio, suas necessidades supridas mais facilmente que outra com grau profundo, por exemplo. Também conta o fato de que nem todas as PCDs estão engajadas na luta pela acessibilidade. Muitas delas estão isoladas socialmente, são escondidas e/ou superprotegidas pelas famílias, não se reconhecem ou não assumem que são deficientes, pois sua visão remonta aos tempos mais antigos, em que deficiência significava doença e limitações. É difícil que haja uma aceitação de imediato do sujeito e sua família quanto à sua condição, quando a norma é ser pessoa sem deficiência. Há um período de luto, de negação, antes da fase de adaptação. Este preconceito acerca do tema deficiência precisa ser combatido através da quebra de barreira atitudinal. A acessibilidade favorece, mas é necessário mais que isto para que seja possível confrontar as limitações impostas pela deficiência. 29 2.1 – Acessibilidade Cultural Quando as estratégias de acesso estão direcionadas para o usufruto de eventos culturais, diz-se acessibilidade cultural. Inicialmente pensadas somente para a adequação arquitetônica dos espaços, com a implementação de rampas, elevadores e instalações adequadas para pessoas com deficiência física e de mobilidade reduzida, hoje cobra-se também acessibilidade comunicativa, voltada para as pessoas com deficiência visual e auditiva. Das ferramentas existentes para o âmbito cultural, algumas são de fácil implementação, enquanto outras exigem uma logística mais avançada na elaboração do projeto e orçamento. 2.1.1 – Audiodescrição A audiodescrição (AD) é uma ferramenta que ajuda a garantir que pessoas cegas ou com baixa visão usufruam com igualdade de acesso eventos culturais ao fornecer informação visual por via auditiva. David et al. (2012), ao descrever como é a AD em filmes, resume de uma forma simples o que é AD: “...[a AD] consiste basicamente na descrição verbal das imagens visuais”. Possui vários critérios e aplicações. Primeiramente, há que se levar em conta que o público com deficiência visual que assiste a um espetáculo pode ser muito amplo (DAVID et al., 2012). Faixa etária, nível de escolaridade e conhecimento cultural, quando o indivíduo perdeu a visão ou parte dela, para citar alguns aspectos, afetam o tipo de informação esperado pelo público. Pessoas com cegueira ou baixa visão congênita costumam ficar satisfeitas com o que recebem auditivamente e por vezes desconhecem o quanto está disponível visualmente. Pessoas que perderam a visão, por já terem enxergado, estão cientes das informações visuais existentes e querem saber em detalhes o que há em volta. Algumas pessoas pedem uma caracterização mais intensa, outras menos. Cabe ao audiodescritor achar a dose ideal de informação, a média, que satisfaça a maioria (AUDIO DESCRIPTION COALITION (ADC), 2009). 30 O folder ou sinopse de uma peça de teatro pode ser lido pelo audiodescritor, tornando acessível uma informação que o público vidente2 já tem ao seu dispor. Antes de começar o evento cultural, em se tratando de uma peça de teatro, apresentação circense, de dança ou outro espetáculo com atuação presencial, alguns locais autorizam que o público com deficiência visual chegue com algum tempo de antecedência, encontre os atores no palco, ouça-os, distinguindo a voz dos personagens, sinta o figurino pelo tato e pela descrição. Outra alternativa, utilizada para filmes ou quando não é possível a visitação do palco, é a descrição dos personagens via áudio, com vozes pré-gravadas. Iniciado o evento, a AD se vale das pausas naturais do diálogo ou narração (DAVID et al., 2012), momento em que se insere descrições dos elementos visuais essenciais: ações, aparência de personagens, linguagem corporal, figurino, iluminação, etc. As descrições são enviadas através de um fone de ouvido wireless para permitir que pessoas cegas ou com baixa visão possam sentar em qualquer lugar na plateia. “A AD descreve o que se pode ver, aparências e traços físicos, não motivações ou intenções” (ADC, 2009). A interpretação dos fatos é particular e não deve ser incluída (FRANCO, 2006); nem o que é perceptível pelo diálogo precisa ser audiodescrito, pois a informação sonora já torna a situação clara para o receptor. É impossível descrever tudo em função das brechas curtas entre uma fala e outra, então o foco é no que é essencial no tempo disponível (ADC, 2009). Não há necessidade de toda pausa ser preenchida com AD (David et al., 2012), assim como é possível se sobrepor a sons de fundo. A palavra-chave é objetividade. O público deve formar sua opinião e chegar a suas próprias conclusões, sem que haja interpretação, explicação ou análise por parte do audiodescritor (ADC, 2009). A equipe de AD consiste de pelo menos 3 pessoas para exercer 4 funções: o audiodescritor ou narrador, o técnico de áudio, o consultor e o roteirista. O audiodescritor ou narrador é a pessoa que descreve as cenas do evento ou espetáculo. O técnico de áudio é responsável por regular a intensidade do som que chegará ao público com os fones, podendo abafar os sons de fundo quando 2 Vidente é a terminologia utilizada para descrever o indivíduo que enxerga 31 necessário, como em filmes, por exemplo. O consultor é uma PCD visual que fará a avaliação do conteúdo audiodescrito. O roteirista costuma ser uma pessoa vidente – e redige o conteúdo a ser audiodescrito, valendo-se de tempo de entrada e saída entre as falas para melhor orientar o narrador. As funções de narrador e roteirista podem ser exercidas pela mesma pessoa e mais de um consultor pode ser utilizado para a avaliação do roteiro. Cenas mais fortes, de violência, nudez ou sexo, devem ser descritas, pois o direito do público com deficiência visual é o mesmo que o público vidente (ADC, 2009). Se há algo acontecendo e é possível de visualizar, a descrição precisa ser feita para que haja igualdade de acesso às informações. A linguagem deve ser adequada ao público. Temas infantis devem conter uma linguagem também infantil. Uma vez nomeados, personagens devem ser sempre chamados pelo mesmo termo. Gírias devem ser evitadas, visto que pode haver confusão e não compreensão da expressão utilizada. Havendo somente um personagem do gênero, “ele” ou “ela” podem ser utilizados; se for plural, o uso de nomes facilita o entendimento. O aviso de adequação do tempo para situar o espectador deve acontecer em situações em que ocorram flashback ou visões futuristas (ADC, 2009). A AD tem muitos outros critérios gerais além dos já discorridos acima, para descrever expressões faciais, cores, aparência, etnia, raça, personagens com identidade em segredo, sincronização de reação do público vidente com o público ouvinte, sistema de entrada e saída, orientação para pessoas com baixa visão, combinar o ritmo e timbre de voz com a situação da trama etc. A AD pode ser realizada de três formas: ao vivo, pré-gravada e simultânea (FRANCO, 2010). A modalidade pré-gravada é utilizada para filmes e vídeos. Isto é possível porque, uma vez definido, o conteúdo visual a ser transmitido não pode ser alterado. A trilha de AD segue um roteiro e é realizada em separado da trilha sonora original, podendo assim sincronizar uma descrição mais completa, precisa e adequada ao tamanho da pausa entre os diálogos. Esta trilha é trabalhada pelo técnico de áudio, que pode esticar ou diminuir o tempo de duração da fala até um limite, sem que comprometa a clareza do conteúdo falado. A voz contida na trilha, a do narrador, 32 deve ser diferente dos personagens, evitando confusão, e misturada o mais naturalmente possível à trilha sonora original. A AD ao vivo se faz presente em teatros, shows de circos, casamentos, palestras e outros eventos que possam acontecer ações imprevistas. Por ter um conhecimento prévio do evento, o audiodescritor se guia por um roteiro e ajusta a narração de acordo com os acontecimentos dos fatos. A AD simultânea é de improviso, sem conhecimento prévio do que irá ocorrer. Devido a isto, pode ocorrer sobreposição de falas do narrador e dos personagens. 2.1.2 – Legendagem O conteúdo deste tópico virá do próprio autor, através de conhecimento de causa e por trabalhos já realizados com legendagem, de forma geral, visto não haver um padrão único de legendagem. As legendas são realizadas para atender um cliente específico, que possui suas próprias regras a serem cumpridas. Não há, portanto, um padrão único. A legendagem é a ferramenta para tornar a comunicação auditiva acessível para as pessoas com deficiência auditiva ou surdas. Interessados em aprender uma língua estrangeira, assim como desconhecedores deste idioma, também se beneficiam desta prática. As legendas podem ser tanto open quanto closed caption. A legenda open caption não pode ser removida da gravação e é encontrada nos vídeos anteriores ao DVD, nos filmes exibidos no cinema e no teatro, quando disponíveis. A legenda closed caption é opcional, pode ser ativada e desativada conforme o usuário desejar. Os DVDs atuais e alguns canais da TV aberta e fechada oferecem closed captions. A norma ABNT 15.290, de 2005, detalha os princípios a serem seguidos para execução de closed caption. As legendas open caption, no entanto, não são contempladas por este documento. A legendagem possui vários elementos. Letras em itálico, número de linhas, tempo de duração das legendas, caracteres por legendas, vírgula, pronomes, spotting e indicação do personagem que está falando são alguns deles. 33 Um dos propósitos das letras em itálico é indicar que a fala está ocorrendo fora de cena (off screen). Narrador, vozes alteradas por microfone, megafone, telefone (a pessoa que está fora de cena), gravador, televisão, robô, computador, comunicação interna, música em ópera, voz abafada atrás da porta são exemplos de letras em itálico em filmes e séries. Nos canais de televisão, as legendas costumam ter 2 linhas no máximo. Raros são os canais que oferecem 3. Em teatros, ocasião em que a legenda não está consolidada e dificilmente é oferecida, não há padrão. O tempo de duração de uma legenda está compreendido entre 1 segundo no mínimo até 6 segundos para a maioria das situações. Aceitam-se até 32 caracteres por linha, 2 linhas no máximo. Em virtude de os estados brasileiros se expressarem usando diferentes pronomes e conjugações, adota-se nas legendas de filmes estrangeiros o uso na região sudeste do país. Usa-se o pronome na 3ª pessoa, sendo possível misturar com 2ª pessoa de acordo com a informalidade do filme. Quando é filme nacional, procura-se legendar fielmente ao que é falado. O spotting é a sincronização, o timing da legenda. Ela deve surgir quando o personagem começa sua fala e sair quando esta se encerra. As ações também devem ser legendadas, no caso de legenda de ruídos para espectadores surdos ou deficientes auditivos. Existe o spotting externo e interno. O primeiro consiste na divisão do texto em legendas e o segundo, na divisão em 1 ou 2 linhas. Deve-se dividir preferencialmente a legenda em frases completas. Quando não for possível devido ao número de caracteres ou tempo, divide-se na pausa natural da fala. Sendo a legenda para surdos ou deficientes auditivos, sinaliza-se quem é o autor da fala do momento. Isso facilita a compreensão, principalmente quando a fala é fora de cena. Quando se trata de filme legendado no cinema, apresenta-se open caption eletrônico e gravado no filme. Para o teatro, depende muito da apresentação. Se a peça seguir um roteiro, preparam-se as legendas com textos prontos e, conforme a fala for surgindo na peça, disponibiliza-se a legenda no telão para este fim no teatro. Se for uma peça 34 em que haja muitos improvisos, como em stand up comedy, é possível haver legendagem por meio do recurso de estenotipia em tempo real. A estenotipia é feita com o uso de um teclado que possui bem menos teclas que o teclado alfanumérico ao qual estamos acostumados. Muitas teclas são pressionadas simultaneamente para escrever sílabas, palavras e frases com um simples movimento de mão. Com este método, torna-se possível realizar transcrição em tempo real. As palavras digitadas são enviadas para um computador, corrigidas rapidamente e enviadas para visualização do público. Porém, conforme a norma ABNT 12.590, de 2005, este recurso requer um profissional altamente qualificado, que digite com precisão 98% das palavras, e tem custo muito elevado, sendo usado em raríssimas ocasiões. 2.1.3 – Tradutor-intérprete de Libras O tradutor-intérprete de língua de sinais (TILS), também conhecido no Brasil como intérprete de Libras, é mencionado no decreto nº 5.626, de 2005, e regulamentado na Lei n º 12.319, de 2010. A diferença no termo de tradução e interpretação está na modalidade de comunicação. Quando o trabalho é uma conversão de uma língua escrita para outra também escrita, diz-se tradução. Quando a conversão é de uma língua falada para outra, diz-se interpretação (LIMA, 2006). No caso da língua de sinais, uma modalidade que não é oral-auditiva, mas sim espaço-gestual, também se usa o termo interpretação. A tradução é para o caso de passar um texto escrito para a estrutura da língua de sinais (LIMA, 2006). De acordo com o decreto nº 5.626, de 2005, até o fim de 2015, para o exercício da profissão no mercado formal, o intérprete precisa ter nível médio completo e fluência comprovada através da Certificação de Proficiência na Tradução e Interpretação da Libras/Língua Portuguesa (PROLIBRAS). Após essa data, o profissional virá de formação no curso de nível superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras/Língua Portuguesa. Segundo este decreto, tendo o intérprete nível médio completo, ele está autorizado a atuar na educação infantil. Se a formação for em nível superior, poderá 35 interpretar em sala de aula de nível médio e superior. Se o intérprete for surdo, cabe a ele transpor uma língua de sinais estrangeira para Libras. Na prática, isto não tem sido obedecido. Concursos têm exigido nível médio dos intérpretes, mesmo que sejam utilizados em universidades. A origem do conhecimento linguístico de um intérprete pode vir de várias fontes. Algumas delas são mais comuns, como no caso de igrejas, parentes de surdos e cursos de interpretação (CARVALHO, 2010; LIMA, 2006). A primeira igreja a promover a educação de surdos foi a católica, porém o enfoque era mais na oralidade que na língua de sinais. Posteriormente, as igrejas protestantes (luterana e batista) entraram com mais força, encarando a língua de sinais mais a sério nos anos 1980, época que a língua ainda não era reconhecida por lei. Mais uma igreja trabalhou com os surdos por meio da língua de sinais, as Testemunhas de Jeová. Diferente das outras, em que o surdo tem sua participação garantida por meio de um intérprete, toda congregação se comunica por língua de sinais (CARVALHO, 2010). Os parentes de surdos atendem por diferentes termos em inglês, dependendo do parentesco e da idade, sendo os mais comuns CODA (Child Of a Deaf Adult, filho de surdo), SODA (Sibling ou Spouse Of a Deaf Adult, irmão ou cônjuge de surdo), GODA (Grandchild Of a Deaf Adult, neto de surdo) e KODA (Kid Of a Deaf Adult, filho de surdo, idade abaixo de 18 anos). O aprendizado da língua pode se dar em maior ou menor grau, de acordo com a proximidade e a interação com o surdo da família. É comum que CODAs cresçam e se tornem intérpretes para a comunidade surda. Recentemente, com a regulamentação do Decreto 5.626 de 2005, a Língua Brasileira de Sinais recebeu o status de 2ª língua oficial do Brasil e seu ensino foi incluído como disciplina curricular obrigatória nas universidades nos cursos de licenciatura, Fonoaudiologia, Pedagogia e Educação Especial. Nos demais cursos, é uma disciplina optativa. Com essa maior exposição, muitos curiosos e interessados experimentam aprender a língua de sinais e alguns acabam se aprofundando no tema, procurando por cursos de interpretação. São poucos os cursos de formação de intérpretes no país. As instituições de educação superior oferecem conteúdos complexos, que exigem conhecimento e 36 treinamento por parte do intérprete. Como já dito anteriormente, há intérpretes de nível médio com proficiência traduzindo conteúdo de nível superior. A qualidade da interpretação e tradução pode ficar comprometida e o acesso à informação ao surdo é negado (LIMA, 2006). Os intérpretes estão muito associados a instituições de educação. Quando se voltam para atuar no âmbito cultural, às vezes a instituição para a qual trabalham os envia junto com o(s) aluno(s) surdo(s) para realizar o intermédio, enquanto em outras situações o próprio evento oferece seu intérprete. Em situações de falas rápidas, diálogo e terminologias específicas, sem sinal correspondente, pode acontecer de o intérprete perder parte da informação a ser passada. Por isso é importante o intérprete conhecer o conteúdo a ser debatido ou apresentado de antemão, para preparar melhor a mensagem a ser passada. Isso vale para sala de aula, eventos culturais e todas as ocasiões em que for possível ter um conhecimento prévio. 2.1.4 – Cinema Para o cinema, as adaptações necessárias para que se tenha acessibilidade já existem, porém não são implementadas. Em uma pesquisa que realizei, visitando um cinema, perguntei ao gerente se poderia ver como eram as salas do local. Tive meu pedido atendido e pude observar que havia escadas com degraus nos dois lados da sala e nenhuma rampa. Primeiramente, indaguei se o cinema tinha clientes com deficiência física – mais especificamente usuários de cadeira de rodas – com alguma frequência. A resposta foi: sim, havia poucos. Na sequência, perguntei como as PCDs físicas assistiam ao filme, ao que o gerente respondeu: “elas assistem na primeira fila”. Questionei se elas não pediam para ver em um assento mais elevado. A resposta foi “não, elas ficam bem aqui. Elas não reclamam”. A adaptação arquitetônica para lugares como este cinema seria rampas no lugar dos degraus existentes para se chegar ao assento desejado, pois, como descrito anteriormente, é garantido o “direito de ir e vir a todos os lugares que necessitar”, não sendo adequada a oferta de cadeiras destinadas ao público com deficiência física somente na primeira fila. Apesar de “não reclamarem”, é direito de 37 todos poderem sentar onde bem entenderem. A Norma Brasileira ABNT NBR 9050 existe para orientar como deve ser realizada a rampa. Para as PCDs visual e auditiva, a adaptação seria de cunho comunicativo. A preferência deste público é por filmes com AD e legenda, respectivamente, para filmes nacionais e estrangeiros. Se o filme for estrangeiro e não houver dublagem para o público com deficiência visual, realiza-se o “voice over” (fala interpretada em português sobre o idioma original). A AD, neste caso, é gravada, como explicado anteriormente. Porém, a implementação destas medidas não cabe ao local físico do cinema, mas à distribuidora. 2.1.5 – Teatro O teatro, apesar de ser uma apresentação da performance de atores, tal como no cinema, também está devendo acessibilidade ao seu público com deficiência. As providências a serem tomadas são da mesma ordem, ou seja, arquitetônica e comunicativa, porém em modalidades diferentes. Há andares superiores e camarotes no teatro. Desta forma, assim como no cinema e em qualquer edificação, mobiliário, espaço e equipamento urbano, o acesso ao nível superior para os espectadores interessados deve ser planejado via elevadores e rampas com inclinação obedecendo a Norma Brasileira ABNT NBR 9050 de acessibilidade. No tocante ao aspecto comunicativo, por ser uma apresentação ao vivo, utiliza-se a modalidade de AD ao vivo, legendas pré-prontas ou transcrição em tempo real (raridade) e intérpretes de Libras. 2.1.6 – Museu O museu difere do cinema e do teatro por ser uma atividade que tem a oferecer um conteúdo principalmente estático, movimentação do visitante e 38 interação com o mediador quando solicitado, ao invés de o visitante simplesmente ficar como observador. A informação encontrada sobre o museu, em meio virtual, deve estar acessível a todos. A entrada do museu deve estar acessível para as PCDs física através de terreno plano ou rampa com inclinação adequada e porta com largura que permita a entrada de cadeira de rodas (vide a norma ABNT 9050). Para as PCDs visual, a acessibilidade é garantida através de piso podo tátil. O deslocamento no interior de museus, quando houver algum desnível, pode ser resolvido com a presença de rampa ou elevador adaptado. O elevador deve ter sinalização em Braille e aviso sonoro, caso o usuário possa se locomover independentemente, sem a presença do mediador. Para que o público com deficiência visual tenha uma noção do trajeto a ser percorrido dentro do museu, monta-se uma maquete tátil. Esta maquete procura preservar as dimensões reais do museu, guardadas as proporções da miniatura, orientando o caminho do interior da estrutura, a construção arquitetônica do prédio e espaços adjacentes. O material com que ela é feita é resistente ao toque e não pode oferecer riscos ao usuário. Um audioguia pode conter as descrições da obra, tanto para o público vidente em uma faixa, quanto para o público com deficiência visual em outra. Deve ser de uso prático, para que qualquer visitante consiga manuseá-lo. Para o público com deficiência auditiva, pode-se usar um videoguia, com a mesma descrição em Libras e legendada. Obras colocadas em cima de mesas ou balcões não ficam acessíveis a pessoas de baixa estatura ou cadeirantes. Para PCD visual terem a possibilidade de tocar nas obras, podem ser oferecidas réplicas com material de textura e cor semelhante, visto que o tato é um dos grandes vilões para manutenção de obras. As etiquetas com os dados das obras podem ser disponibilizadas em letras ampliadas com contraste, assim como Braille. Os profissionais do educativo que trabalham nos museus precisam estar capacitados para lidar com o público com deficiência. 39 2.1.7 – Legislação existente A acessibilidade existe não somente como conceito. Está sendo inserida lentamente na legislação brasileira, através das leis a seguir. 2.1.7.1 – Emenda de 1978 A legislação sobre o tema de acessibilidade no Brasil começou a ser debatida recentemente. Um dos primeiros documentos que trata do assunto é a Emenda Constitucional nº 12, de 17 de outubro de 1978, abordando o assunto de forma muito superficial, referente ao acesso a edifícios e logradouros públicos. Conforme visto no artigo único, “é assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica especialmente mediante: (...) IV - possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos”, observa-se que não é dito como se daria e quem possibilitaria o acesso dos “deficientes” (termo utilizado para PCD na época). 2.1.7.2 – Constituição de 1988 Outro artigo sobre acessibilidade só veio com a promulgação da Constituição de 1988. É o artigo 5º, inciso XV, onde se lê: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens” e também o artigo 227, parágrafo 2º: “A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.” 40 Sobre os dois artigos, pode-se dizer que no primeiro é reconhecida a liberdade de todas as pessoas de circularem no país, o que vem a ser uma confirmação da Emenda de 1978, visto que a “possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos” só vem com a liberdade. Já o segundo artigo reforça essa garantia e acrescenta as normatizações que faltaram em 1978, dizendo como seria possibilitado o acesso a “pessoas portadoras de deficiência” (outro termo antigo e inadequado na atualidade para designar PCD), além de disponibilizar veículos de transporte coletivo com adaptação viável para este grupo. 2.1.7.3 – Leis nº 10.048 e 10.098, de 2000 Em 2000, 12 anos depois da Constituição de 1988, foram decretadas e sancionadas as leis nº 10.048 e 10.098, que trataram de acessibilidade com mais profundidade. A lei nº 10.048 levanta alguns pontos a serem oferecidos a um grupo que, além das PCDs previstas em 1988, abrange idosos (60 anos para cima), gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas por criança de colo. Diz como deve ser o atendimento prioritário, a oferta de assento reservado em transporte coletivo e reitera que haverá normas para logradouros e sanitários públicos. Foi estabelecido um prazo para adaptar o transporte coletivo – 2001 – e, fato inovador e de rigor, a multa no caso de não cumprimento da lei. O tópico de logradouros e edifícios públicos foi tratado em seguida, pela lei nº 10.098. A lei nº 10.098 estabelece normas gerais e critérios básicos para o cumprimento da lei nº 10.048. Os itens enumerados abrangem majoritariamente a quebra das barreiras arquitetônicas, observando os parâmetros das normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para estruturas públicas e fiscalização por órgão federal em edifício privado. Esta lei é a primeira a se referir à acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização para acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer, citando de forma pontual, sem aprofundamento. 41 2.1.7.4 – Decreto nº 5.296 de 2004 As leis nº 10.048 e 10.098 de 2000 foram regulamentadas pelo Decreto 5.296 de 2004, que descreve com profundidade a acessibilidade arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, no que concernem PCDs e com mobilidade reduzida. Além destes tópicos, também foram abordados o atendimento prioritário, bens culturais imóveis acautelados e transportes coletivos. De acordo com o artigo 7º, parágrafo único, a responsabilidade de “criar instrumentos para a efetiva implantação e o controle de atendimento prioritário […]” cabe “[...] aos Estados, Municípios e Distrito Federal, no âmbito de suas competências”. No tocante à fiscalização da acessibilidade arquitetônica e urbanística, cabe às entidades das atividades de Engenharia, Arquitetura e correlatas exigir o cumprimento das regras de acordo com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT. No que tange a acessibilidade em bens culturais imóveis acautelados (tombados) em nível federal e outras categorias, a incumbência é do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Caso alguma medida de acessibilidade seja projetada e adotada, deve passar por análise e aprovação desta instituição. Esta medida passará por levantamentos histórico, físico, iconográfico e documental para se determinarem quais são as prioridades e nível de intervenção necessários na promoção de acessibilidade para todos. O objetivo é de proporcionar livre circulação no imóvel, de forma autônoma tanto quanto possível e usufruindo de comodidades, serviços e acervo do local, em uma linguagem acessível pelo usuário. Também é atribuição do IPHAN capacitar o quadro técnico e administrativo para o atendimento adequado do público com deficiência. Para acompanhar, fiscalizar e avaliar os projetos aprovados, o IPHAN deve indicar um responsável técnico, que permanecerá em ação até 6 meses depois das intervenções. Referente a serviços de transporte coletivos, o decreto inclui todos os meios – rodoviário, metroviário, ferroviário, aquaviário e aéreo – e divide a responsabilidade do provimento de acessibilidade de acordo com o órgão de abrangência. Para transportes coletivos municipais, o encarregado é o governo municipal; para o 42 transporte coletivo metropolitano e intermunicipal, o governo estadual; para o transporte coletivo interestadual e internacional, o governo federal. As instituições do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial são as responsáveis pela elaboração das normas técnicas para fabricação de veículos e dos equipamentos neles utilizados, enquanto o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) está encarregado das adaptações necessárias, a partir de orientações normativas da ABNT. No que concerne ao acesso à informação e comunicação, prevê-se: internet e pelo menos um computador de telecentro comunitário acessíveis para PCD visual; telefones, centrais e celulares adaptados para PCD auditiva, a serem providenciados pelas empresas prestadoras de serviços de telecomunicações; celulares com comandos sonoros para PCD visual; canais de televisão com closed captions, intérpretes de Libras e AD através do canal secundário de áudio (SAP), sendo o Ministério das Comunicações o responsável pelo regulamento e o Poder Público o encarregado de incentivar a oferta destas medidas, juntamente com a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE, hoje Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência); promoção de capacitação de profissionais em Libras via órgãos e entidades da administração pública, diretamente ou em parceria com organizações sociais civis de interesse público, sob a orientação do Ministério da Educação e da Secretaria Especial dos Direitos Humano, por meio da CORDE; disponibilização em meio magnético das obras publicadas no país; bulas de medicamentos em meio magnético, braile ou letra ampliada; e “apoio preferencial a PCDs em congressos, seminários e demais eventos que ofereçam, mediante solicitação, acessibilidade 43 comunicacional.” Referente a ajudas técnicas, a elaboração de tecnologias assistivas dar-se-á através de parcerias com universidades e centros de pesquisa. Haverá estímulo financeiro para este fim por parte de linhas de crédito, assim como possível redução ou isenção de impostos e tributos sobre o produto final. O propósito do desenvolvimento de tecnologias assistivas é de “cura, tratamento e prevenção de deficiências” ou de contribuir para “impedir ou minimizar o seu agravamento”. O responsável pela concretização deste objetivo é o Comitê de Ajudas Técnicas, com supervisão do CORDE, conforme o artigo 4º do decreto, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, os Conselhos Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, e as organizações representativas de pessoas portadores de deficiência terão legitimidade para acompanhar e sugerir medidas para o cumprimento dos requisitos estabelecidos neste Decreto. 2.1.7.5 – Ministério das Comunicações – Norma Complementar nº 01/2006, Portaria nº 403, 466 e 661 de 2008, Portaria nº 985 de 2009, Portaria nº 188 de 2010 e Portaria nº 332/A de 2013 A Norma Complementar sujeita as pessoas jurídicas do ramo de televisão – tecnicamente denominada de radiodifusão de sons e imagens – a conter os recursos de acessibilidade descritos no decreto nº 5.296 de 2004: legenda oculta (closed captions); AD via SAP, sempre que o programa for exclusivamente falado em português; e dublagem com AD para programas em língua estrangeira. As propagandas político-partidária e eleitoral deverão conter janela de intérprete de Libras. O partido político do candidato ou o Órgão de Governo ao qual o político pertence possuem a incumbência de produzir a tradução. Estas medidas, previstas para a televisão analógica na época da publicação da norma, também se estendem para a televisão digital, além do acionamento opcional da janela de intérprete de Libras. O funcionamento seria semelhante ao da legenda oculta e do SAP. Este norma estabeleceu um cronograma e tempos de programação a serem exibidas na televisão, a partir de sua data de publicação. Contudo, em 27 de junho em 2008, através da portaria nº 403, suspendeu-se a obrigatoriedade do subitem 3.3 44 da Norma, referente à AD, na data original prevista pela Norma Complementar. Em um mês o Ministério das Comunicações estabeleceria um novo cronograma. No dia 30 de julho de 2008, portaria nº 466, resolveu-se que dentro do prazo de 90 dias a AD seria veiculada na televisão a partir do cronograma previsto na Norma Complementar. Porém, novamente, através da portaria nº 661, de 14 de outubro de 2008, passados quase 90 dias da portaria nº 466, a obrigatoriedade de veicular AD na televisão foi novamente suspensa. Esta portaria ainda procurou debater sobre a promoção de acessibilidade via AD na televisão através de comentários e sugestões no site do Ministério das Comunicações, sendo o prazo até o dia 31 de janeiro de 2009. Em 26 de novembro de 2009, através da portaria nº 985, estabeleceu-se um novo cronograma para exibição da AD na televisão, com um número de horas muitíssimo menor do que o previsto na Norma de 2006 e com vigor a partir de 1º de julho de 2010, ao invés de a partir da data de publicação, como as leis anteriores. No dia 24 de março de 2010, a portaria nº 188 tornou ainda mais livres os horários que as emissoras poderiam optar para exibição de conteúdo com AD, a partir de 1º de julho de 2010. Para ilustrar, pela portaria nº 985, haveria AD em 2 horários: nos primeiros 12 meses, entre às 8h e 14h, haveria 1h de programação com AD; das 20h às 2h, mais 1h. A mudança ocasionada pela portaria nº 188 determinava que a AD poderia ser oferecida em qualquer momento da grade entre 6h e 2h. Os meses subsequentes sofreram a mesma mudança. Em 2 de dezembro de 2013, pela portaria nº 332/A, as emissoras ficaram obrigadas a cumprir o cronograma previsto pela Norma Complementar de 2006. Assim, ao invés de a AD ser veiculada em 20h semanais ao término de 10 anos, farse-á presente na programação integral. 2.1.7.6 – Projetos de Leis nº 256, nº 327 e nº 1078, todos de 2007 Esses projetos foram apensados – ligados, juntados por tratarem do mesmo tema – e visam a obrigatoriedade da legendagem em filmes nacionais e em 45 exibições teatrais. Caso não seja possível, deve-se oferecer impresso da obra para que as pessoas com deficiência auditiva consigam desfrutar do espetáculo. A legendagem proposta no projeto não abrange todas as categorias de filmes, mas uma grande maioria. Já em relação ao teatro, conforme mencionado anteriormente, a legendagem é mais complexa quando se trata de atuação improvisada no palco. O uso de transcrição em tempo real é muito caro, inviabilizaria a peça. Neste caso, o impresso da obra resolveria parte do problema. Caso não seja cumprida a lei, prevê-se multa de 3.000 reais por exibição, mais um terço quando houver reincidência. Entrariam em vigor na data de sua publicação. 2.1.7.7 – Projeto de Lei do Senado nº 122, de 2011 Este projeto de lei do Senado se assemelha aos Projetos de Leis 256, 327 e 1078, visando não só a legendagem, como também a AD nas exibições de filmes nacionais. A legendagem poderia ser substituída pela interpretação em Libras. 3. ROTEIRO O vídeo será executado de forma bem simples. Uma pessoa falando de frente para a câmera, como um boletim informativo. Descrição da pessoa antes de começar a fala. Este roteiro está sujeito a modificações. Bom dia. Eu gostaria de abordar o tema Acessibilidade Cultural. Sabem o que é isso? Acessibilidade vem a ser toda e qualquer estratégia que objetive tornar o mundo um lugar para todos. Que todos consigam aproveitá-lo. Então eu pergunto: isso está acontecendo? Não, não está. Tem gente que não está aproveitando tudo que o mundo tem a oferecer. Entre este contingente, estão as pessoas com deficiência, que, de acordo com o censo realizado pelo IBGE em 2010, correspondem a 24% da população do nosso território nacional. São mais de 45 milhões de pessoas com alguma 46 deficiência em um conjunto de mais de 190 milhões de habitantes. Divididos em proporções iguais na zona rural e urbana. Localizados em todas as regiões do Brasil. Então, eu pergunto: quem são as pessoas com deficiência? Quais são as deficiências em questão? Vamos entender o que está acontecendo. Começando pela deficiência visual. A deficiência visual é dividida em categorias de acordo com a acuidade visual do sujeito no melhor olho, levando em conta correção óptica por óculos ou lentes. A acuidade visual pode ser medida através da tabela de Snellen, aquela que a gente vê nos consultórios de oftalmologia, com as letras grandonas em cima e diminuindo até a última linha. Os resultados da avaliação são: visão normal, moderada, severa e cegueira. Como que acontece essa perda de visão? Ela pode ser congênita, ou seja, o indivíduo nasce com ela, ou adquirida. O que a perda da visão acarreta? A dificuldade de acesso à informação escrita é um dos itens mais destacados, já que a leitura tradicional depende da visão. Aprender um novo jeito de ler as informações vai depender muito da época que a pessoa teve essa perda. Quando a perda de visão é congênita, a adaptação normalmente é mais rápida que quando a pessoa já é crescida. A forma mais conhecida de acesso à leitura para PCD visual é o sistema Braille. O Braille é um sistema de escrita tátil executado em um papel mais grosso, de gramatura maior. Por ser mais grosso, o papel aguenta por mais tempo o manuseio. Quem escreve em Braille usa reglete e punção ou uma máquina Braille. Os caracteres em Braille são formados por uma combinação de 6 pontos. Dá pra usar até 63 combinações de pontos. O Braille pode ser aprendido em vários níveis. O Braille por extenso, que é aquele Braille básico que aprendemos no primeiro contato de cursos, é chamado de grau um e é usado para representar o alfabeto, pontuação, números e alguns sinais mais específicos do sistema. É praticamente uma reprodução da escrita visual. Só que, já que está tudo por extenso, a leitura fica mais devagar e também fica grandão o volume de folhas. 47 O Braille grau dois é mais abreviado e assim a quantidade de folhas impressas fica menor. É o grau mais usado. A aplicabilidade do Braille não fica só no papel. Tem uma tecnologia assistiva chamada Linha Braille, que usa softwares leitores de tela e transfere textos do computador para Braille em tempo real. A Linha Braille pode vir também com teclado Braille para quem não tem habilidade com o teclado convencional. Esses softwares leitores de tela que falei agora transformam em som o conteúdo escrito na tela. A informação não precisa ser só tátil, pode chegar pelo som também. Para os que conseguem enxergar um pouco, está disponível também o uso de letras ampliadas, que é o conteúdo escrito normal, mas com fonte aumentada e com contraste. O contraste, tamanho e estilo da fonte para que a pessoa consiga ler vai depender do usuário. Agora, um pouquinho sobre deficiência auditiva. Ela é classificada de acordo com o grau de perda auditiva. Em ordem crescente: audição normal, leve, moderada, severa e profunda. As perdas são classificadas de acordo com a faixa de decibéis que a pessoa consegue ouvir. Dependendo da perda, a pessoa pode entender tudo ou nada de uma conversa. É importante destacar que esta é a classificação de deficiência auditiva do ponto de vista médico. Tem outra classificação que leva em conta a interação com o mundo por meio de experiências visuais, com o uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Então, acaba tendo dois critérios. Pelo decreto 5.626 de 2005, uma PCD auditiva é aquela com perda auditiva; uma pessoa surda é aquela que tem perda auditiva e se comunica com o mundo através da Língua Brasileira de Sinais, também chamada de Libras. O que acarreta a perda auditiva? Afeta a linguagem, já que uma pessoa adquire conhecimento através da fala oral. Se a pessoa não ouve ou ouve mal, fica mais difícil de compreender uma conversa. Para aprendermos a falar, usamos a audição para entender os sons. Um bebê com surdez consegue aprender a falar quando a família decide pela comunicação 48 oral e apoia a criança, leva para a fonoaudióloga para estimulação desde cedo. Para isso, o bebê também deve fazer uso de próteses ajustadas à sua perda auditiva. O bebê também precisa ser estimulado caso a família opte pela comunicação por Libras. Seja qual for a decisão da família, é imprescindível a exposição do bebê a modelos da linguagem a ser adquirida. Quando a pessoa perde a audição mais adiante na vida, na infância ou na fase adulta, a linguagem oral já está mais consolidada. O que não significa que o sujeito com surdez vai querer se comunicar oralmente e/ou por sinais, é uma decisão que depende de cada um. São vários os caminhos possíveis de serem trilhados. Agora, falando um pouco sobre deficiência física. A deficiência física está associada a alterações do corpo, acarretando comprometimento na função física. O comprometimento pode ser paralisia ou dificuldade de movimento. O termo técnico para paralisia é plegia e para dificuldade, paresia. Pode afetar de um a quatro segmentos do corpo. Ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral e nanismo também se enquadram na categoria de deficiência física. A deficiência física pode ser congênita ou adquirida durante a vida. A adaptação necessária vai depender do tipo de comprometimento, já que tem uma diversidade muito grande. Essas classificações são do ponto de vista clínico. Em 2001, a Organização Mundial da Saúde criou um novo conceito, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Com esse conceito, entende-se que todo ser humano pode sofrer um decréscimo em saúde e sequelas mais graves. Repetindo, todo ser humano. Assim, todos são responsáveis por agir para que seus próximos sejam capazes. Se isso não acontece, a sociedade passa a ser vista como (d)eficiente, por não proporcionar as condições adequadas a um dos seus. O antigo modelo da deficiência, o modelo médico, é apenas parte da equação. Já vimos as classificações das deficiências. Vamos nos voltar para o que acontece no Brasil. Os dados são do censo do IBGE, de 2010. Nesse censo, o IBGE questionou os entrevistados sobre suas percepções visuais, auditivas, físicas e intelectuais. A população brasileira em 2010 era de mais 49 190 milhões de habitantes, dos quais 160 milhões, 84% do total, estão na cidade e 30 milhões, 16%, no campo. Deste conjunto, 45 milhões são pessoas com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 24% da população brasileira. Dessas 45 milhões de pessoas, 38 milhões (84%) se encontravam em áreas urbanas e 7 milhões (16%) em áreas rurais. A média de pessoas com deficiência no campo e na cidade é de 24%, ou seja, apesar de ter muito mais pessoas com deficiência nas áreas urbanas em comparação com a zona rural, a concentração delas é igual em ambas as situações. A Região Nordeste concentra os municípios com os maiores percentuais da população com pelo menos uma das deficiências investigadas. Também tem a maior concentração de pessoas com alguma deficiência sobre a população total da região, 26,6%. As regiões Norte e Sudeste concentram 23% e as regiões Sul e CentroOeste, 22,5%. A distribuição de pessoas com deficiência por faixa etária é crescente. Na base, na faixa de 0 a 14 anos de idade, 8% das crianças apresentaram pelo menos um tipo de deficiência; no meio, no intervalo de 15 a 64 anos, o percentual sobe para 25%. No topo, de 65 anos para cima, 67% tem um tipo de deficiência. Isso acontece porque, ao envelhecermos, há uma perda gradual da acuidade visual e auditiva e da capacidade motora do indivíduo. Quando se trata de gênero, o Brasil possui uma diferença de aproximadamente 4 milhões de mulheres a mais que homens, devido a motivos diversos. Em 2010, 97 milhões de mulheres e 93 milhões de homens constituíam a população brasileira. Entre as mulheres, quase 26 milhões apresentavam algum tipo de deficiência, 27% do grupo. Entre os homens, os números e a proporção são menores: quase 20 milhões e 21% do grupo. Referente a raça, havia 90 milhões de pessoas de cor branca, 14 milhões de cor preta, 2 milhões de cor amarela, 83 milhões de cor parda, 800 mil indígenas e 36 mil sem declaração. Entre as pessoas com deficiência do censo, 21 milhões eram de cor branca, 23% da categoria. Quase 4 milhões de cor preta, 27% do grupo. 570 mil de cor amarela, 27% do conjunto. 20 milhões de cor parda, 24%. 165 mil indígenas, 20%, e 171 sem declaração, 0,5%. 50 Em relação ao nível de instrução, da população na faixa de 15 anos ou mais de idade, 45% não tem instrução ou fundamental incompleto, 19% tem fundamental completo e médio incompleto, 26% possuem médio completo e superior incompleto, 9% detém superior completo e 1% não foi determinado. Com as pessoas com deficiência, a proporção foi de 61% sem instrução ou fundamental incompleto, 14% com fundamental completo e médio incompleto, 17% com médio completo e superior incompleto, 7% com superior completo e 1% não determinado. As proporções mostram que a PCD tem mais dificuldade no acesso à educação, observando que 61% do grupo está na faixa sem instrução ou nível fundamental incompleto, contra 45% da média da população. As proporções das demais categorias encontradas também foram menores. E como é o dia a dia de uma PCD? A rotina de uma PCD não necessariamente difere do cotidiano de uma pessoa sem deficiência. Mas para que isso aconteça sem sobressaltos, muitas vezes ocorrem adaptações para que isto seja possível. Vamos dar alguns exemplos. Uma PCD visual, sem entrar no mérito se ela é cega ou baixa visão. Dentro de casa, ela se acostuma com a disposição dos objetos. Pode usar a contagem de passos – exemplo: da porta até o sofá são sete passos -, o uso de bengala branca, tato na parede, cão-guia, pessoa guia. Tudo é válido. Fora de casa, mais opções surgem. Além da bengala branca e cão-guia, para deslocamento independente, a pessoas com deficiência visual podem utilizar, quando estiver disponível, alarme sonoro em sinaleiras, avisando quando o sinal vai abrir ou fechar; alto-falante em ônibus e metrô, informando a parada, alto-falante em elevador, indicando o andar, piso podo tátil nas calçadas, Braille e letra ampliada nas fontes de informações escritas, nos botões para chamar o elevador. Agora, uma PCD física ou mobilidade reduzida. Dentro de casa, podem-se alargar as portas, para facilitar o acesso e a circulação da cadeira de rodas, presença de corrimãos, para quem tiver problemas de equilíbrio e coordenação, quando a casa tiver mais de um andar, um elevador para subir e descer os andares, terrenos planos, para facilitar a locomoção de todos, dá para aproximar ou afastar os móveis, de acordo com a necessidade de cada um. Fora de casa, as rampas ajudam, tem a vaga de estacionamento com espaço extra nas laterais, perto das 51 entradas de estabelecimentos, oferecem cadeiras de rodas em determinados locais, como nos shoppings. Para pessoas com deficiência auditiva ou surdas, as adaptações em casa são principalmente direcionadas a estímulos visuais. Pode ser uma campainha luminosa, um interfone com vídeo acoplado, dando pra ver os lábios ou a sinalização de quem tá chegando, exaustor com luz avisando quando tá funcionando, despertador vibratório. Fora de casa, como a maioria das informações é visual, este grupo se vira bem. A maior dificuldade é a comunicação. Então, essas soluções são exemplos de acessibilidade. Mas o que é acessibilidade? De acordo com o Decreto de 5.296 de 2004, acessibilidade vem a ser toda e qualquer estratégia que dê condições e possibilidade que dê mais autonomia à PCD ou com mobilidade reduzida. Desta forma, a acessibilidade visa tornar o mundo um lugar para todos, em que todos possam usufruir o seu entorno. Embora o conceito seja simples, na prática é difícil ver isso tomar forma. Em parte, porque as PCD são minoria. No Brasil, somos 24% da população. É um percentual bem expressivo, mas com alta diversidade dentro do grupo, em função das diferentes deficiências e dos diferentes graus e peculiaridades de cada um. Também, nem todas as PCDs estão engajadas na luta pela acessibilidade. Muitas delas estão isoladas socialmente, são escondidas e/ou superprotegidas pelas famílias, não se reconhecem ou não se assumem como deficientes. É difícil que haja uma aceitação de imediato do sujeito e sua família quanto à sua condição, quando a norma é ser pessoa sem deficiência. Há um período de luto, de negação, antes da fase de adaptação. Este preconceito acerca do tema deficiência precisa ser combatido através da quebra de barreira atitudinal. As limitações impostas pela deficiência podem ser contornadas através da acessibilidade. Quando as estratégias de acesso estão direcionadas para o usufruto de eventos culturais, diz-se acessibilidade cultural. Pode ser tanto acessibilidade arquitetônica como comunicativa. 52 Das ferramentas que temos hoje para o âmbito cultural, algumas são de fácil implementação, enquanto outras exigem uma logística mais avançada na elaboração do projeto e orçamento. Entre as ferramentas existentes, temos a AD. Ela ajuda a garantir que pessoas cegas ou com baixa visão usufruam com igualdade de acesso eventos culturais ao fornecer informação visual por via auditiva. Possui vários critérios e aplicações. Primeiro, temos que levar em conta que o público com deficiência visual que assiste a um espetáculo pode ser muito amplo. Faixa etária, nível de escolaridade e conhecimento cultural, quando o indivíduo perdeu a visão ou parte dela, para citar alguns aspectos, afetam o tipo de informação esperado pelo público. Tem quem se satisfaça com uma descrição superficial e tem quem queira saber de tudo nos mínimos detalhes. Cabe ao audiodescritor achar a dose ideal de informação, a média, para atender a maioria. A AD pode ser utilizada em todos os lugares que a informação seja visual. Antes de começar uma peça de teatro, apresentação circense, de dança ou outro espetáculo com atuação presencial, alguns locais autorizam que o público com deficiência visual chegue com algum tempo de antecedência, encontre os atores no palco, ouça-os, distinguindo a voz dos personagens, sinta o figurino pelo tato e pela descrição. Outra alternativa, utilizada para filmes ou quando não é possível a visitação do palco, é a descrição dos personagens via áudio, com vozes prégravadas. Durante o evento, a AD usa as pausas do diálogo ou narração para inserir descrições dos elementos visuais essenciais: ações, aparência de personagens, linguagem corporal, figurino, iluminação, etc. As descrições são enviadas através de um fone de ouvido wireless para permitir que pessoas cegas ou com baixa visão possam sentar em qualquer lugar na plateia. A AD descreve o que se pode ver, aparências e traços físicos, não motivações ou intenções. A interpretação dos fatos é particular e não deve ser incluída; nem o que é perceptível pelo diálogo precisa ser audiodescrito, pois a informação sonora já torna a situação clara para o receptor. 53 A equipe de AD consiste de pelo menos 3 pessoas para exercer 4 funções. O audiodescritor ou narrador, o técnico de áudio, o consultor e o roteirista. O audiodescritor ou narrador é a pessoa que estará descrevendo as cenas do evento ou espetáculo. O técnico de áudio é responsável por regular a intensidade do som que chegará ao público com os fones, podendo abafar os sons de fundo quando necessário, como em filmes, por exemplo. O consultor é uma PCD visual que fará a avaliação do conteúdo audiodescrito. O roteirista costuma ser uma pessoa vidente – e redige o conteúdo a ser audiodescrito, valendo-se de tempo de entrada e saída entre as falas para melhor orientar o narrador. As funções de narrador e roteirista podem ser exercidas pela mesma pessoa e mais de um consultor pode ser utilizado para a avaliação do roteiro. A AD pode ser realizada de três formas: ao vivo, pré-gravada e simultânea. A modalidade pré-gravada é usada em filmes e vídeos. Isto é possível porque o conteúdo visual a ser transmitido não pode ser alterado e se insere a trilha de AD sincronizada. Esta trilha é trabalhada pelo técnico de áudio, que pode esticar ou diminuir o tempo de duração da fala até um limite, sem que comprometa a clareza do conteúdo falado. A voz contida na trilha, a do narrador, deve ser diferente dos personagens, evitando confusão, e misturada o mais naturalmente possível à trilha sonora original. A AD ao vivo se faz presente em teatros, shows de circos, casamentos, palestras e outros eventos que possam acontecer ações imprevistas. Por ter um conhecimento prévio do evento, o audiodescritor se guia por um roteiro e ajusta a narração de acordo com os acontecimentos dos fatos. A AD simultânea é de improviso, sem conhecimento prévio do que irá ocorrer. Por causa desse desconhecimento, pode ter sobreposição das falas do narrador e dos personagens. Outra ferramenta de acessibilidade que temos é a legendagem. As legendas tornam a comunicação auditiva acessível para as pessoas com deficiência auditiva ou surdas. Outras pessoas também se beneficiam das legendas, como os interessados em aprender uma língua estrangeira. As legendas podem ser tanto open ou closed caption. A diferença é que a legenda open caption não pode ser removida da gravação. É a legenda encontrada nos vídeos anteriores ao DVD, nos 54 filmes exibidos no cinema e no teatro, quando disponíveis. A legenda closed caption é opcional, pode ser ativada e desativada conforme o usuário desejar, como essa do vídeo. Os DVDs atuais e alguns canais da TV aberta e fechada oferecem closed captions. A legendagem tem alguns critérios. Letras em itálico, número de linhas, tempo de duração das legendas, caracteres por legendas, vírgula, spotting e indicação do personagem que está falando são alguns deles. As letras em itálico servem para indicar que a fala está ocorrendo fora de cena. Off screen. O número de linhas, nos canais de televisão, normalmente são 2 linhas no máximo. Em teatros, não há padrão. Cada legenda fica entre 1 segundo no mínimo até 6 segundos na tela. Uma legenda de 1 linha deve conter até 27 caracteres. Mais do que isso, deve ser dividida em 2. Quando tiver 2 linhas, pode até 32 caracteres. O spotting é a sincronização, o timing da legenda. A legenda aparece no começo da fala e sai quando a fala acaba. As ações também devem ser legendadas, no caso de legenda de ruídos para espectadores surdos ou deficientes auditivos. Se a legenda é para surdos ou deficientes auditivos, indica-se quem tá falando. Isso facilita a compreensão, principalmente quando a fala é fora de cena. Quando é filme legendado no cinema, apresenta-se open caption eletrônico e gravado no filme. Para o teatro, depende muito da apresentação. Se a peça seguir um roteiro, dá para passar as legendas com textos prontos e, conforme a fala for surgindo na peça, a legenda é disponibilizada em um telão. Se for uma peça em que haja muitos improvisos, como em stand up comedy, a legenda seria feita com estenotipia. A estenotipia é uma transcrição em tempo real realizada por um teclado especial. Várias teclas são pressionadas simultaneamente para escrever sílabas, palavras e frases com um simples movimento de mão. As palavras digitadas são enviadas para um computador, corrigidas rapidamente e enviadas para visualização do público. O problema é que esse recurso precisa de um profissional altamente qualificado, que digite com precisão de 98% das palavras. É muito caro, acaba sendo usado em raríssimas ocasiões. 55 Outro recurso para surdos é a Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Antes de prosseguir: a lingual de sinais não é universal. Cada país tem a sua. Recentemente, com a regulamentação do Decreto 5.626 de 2005, a Libras recebeu o status de 2ª língua oficial do Brasil e seu ensino foi incluído como disciplina curricular obrigatória nas universidades nos cursos de licenciatura, Fonoaudiologia, Pedagogia e Educação Especial. Nos demais cursos, é uma disciplina optativa. Com essa maior exposição, muitos curiosos e interessados experimentam aprender a língua de sinais e alguns acabam se aprofundando no tema, procurando por cursos de interpretação. Nos eventos, ela é executada pelos tradutores-intérpretes de língua de sinais, os intérpretes de Libras. Até o fim de 2015, para poder atuar no mercado formal, a exigência para ser um intérprete é de ter nível médio completo e fluência comprovada através do PROLIBRAS. Depois disso, de acordo com o decreto 5.626, de 2005, o profissional virá de formação no curso de nível superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras/Língua Portuguesa. Pelo decreto, tendo o intérprete nível médio completo, ele está autorizado a atuar na educação infantil. Se tiver formação em nível superior, poderá interpretar em sala de aula de nível médio e superior. Se o intérprete for surdo, cabe a ele transpor uma língua de sinais estrangeira para Libras. Na prática, isto não tem sido obedecido. Concursos têm exigido nível médio dos intérpretes, mesmo que sejam utilizados em universidades. São poucos os cursos de formação de intérpretes no país. Paralelo a isso, as instituições de educação superior oferecem conteúdos complexos, que exigem conhecimento e treinamento por parte do intérprete. E tem intérpretes de nível médio incumbidos de traduzir conteúdo de nível superior. A qualidade da interpretação e tradução pode ficar comprometida e o acesso à informação ao surdo, prejudicado. É uma questão séria. Também acontecem situações de falas rápidas, diálogo e terminologias específicas, e às vezes não existe sinal convencionado para determinada palavra. Pode acontecer de o intérprete perder parte da informação a ser passada. Por isso é importante o conhecimento prévio do conteúdo por parte do intérprete, para poder 56 transmitir melhor a mensagem a ser passada. Isso vale para sala de aula, eventos culturais, tudo que for possível ter acesso prévio. Então, essas são as adaptações comunicativas. No cinema, a legendagem e a AD não são implementadas nos filmes nacionais. Se o filme for estrangeiro e não houver dublagem para o público com deficiência visual, realiza-se o “voice over” (fala interpretada em português sobre o idioma original). A AD, neste caso, é gravada, como explicado anteriormente. Porém, a implementação destas medidas não cabe ao local físico do cinema, mas à distribuidora, que, quando muito, oferece acessibilidade em DVD. As adaptações arquitetônicas também não estão disponíveis de um modo geral. Os cinemas costumam ter degraus nos dois lados da sala e nenhuma rampa. É direito de todos poderem sentar onde bem entenderem. A Norma Brasileira ABNT NBR 9050 existe para orientar como deve ser realizada a rampa. O teatro também está devendo acessibilidade ao seu público com deficiência. As providências a serem tomadas são da mesma ordem, ou seja, arquitetônica e comunicativa, porém em modalidades diferentes. Há andares superiores e camarotes no teatro. Desta forma, assim como no cinema e em qualquer edificação, mobiliário, espaço e equipamento urbano, o acesso ao nível superior para os espectadores interessados deve ser planejado via elevadores e rampas com inclinação obedecendo a Norma Brasileira ABNT NBR 9050 de acessibilidade. Na acessibilidade comunicativa, por ser uma apresentação ao vivo, utiliza-se a modalidade de AD ao vivo, legendas pré-prontas ou transcrição em tempo real (raridade) e intérpretes de Libras. E para museu, como fica? Para começar, a informação encontrada sobre o museu, em meio virtual, deve estar acessível a todos. A entrada do museu deve estar acessível para as PCDs física através de terreno plano ou rampa com inclinação adequada e porta com largura que permita a entrada de rodas (vide a norma ABNT 9050). Para as PCDs visual, a acessibilidade é garantida através de piso podo tátil. O deslocamento no interior de museus, quando houver algum desnível, pode ser resolvido com a presença de rampa ou elevador adaptado. O elevador deve ter sinalização em Braille e aviso sonoro. 57 Para que o público com deficiência visual tenha uma noção do trajeto a ser percorrido dentro do museu, monta-se uma maquete tátil. Esta maquete procura preservar as dimensões reais do museu, guardadas as proporções da miniatura, orientando o caminho do interior da estrutura, a construção arquitetônica do prédio e espaços adjacentes. O material com que ela é feita é resistente ao toque e não pode oferecer riscos ao usuário. Para descrever as obras, usa-se um audioguia. Pode ter uma faixa para o público vidente e outra para o público com deficiência visual. É fundamental que seja de uso prático, para que qualquer visitante consiga usar. Para o público com deficiência auditiva, pode-se usar um videoguia, com descrição em Libras e legendada. Obras colocadas em cima de mesas ou balcões não ficam acessíveis a pessoas de baixa estatura ou cadeirantes. Para PCD visual terem a possibilidade de tocar nas obras, podem ser oferecidas réplicas com material de textura e cor semelhante, visto que o tato é um dos grandes vilões para manutenção de obras. As etiquetas com os dados das obras podem ser disponibilizadas em letras ampliadas com contraste, assim como Braille. Os profissionais do educativo que trabalham nos museus precisam estar capacitados para lidar com o público com deficiência. Agora, um ponto que acredito que não esteja muito divulgado. A legislação que abrange acessibilidade. Para saber mais sobre as leis, elas estão disponíveis abaixo, na descrição do vídeo. Só serão mencionadas as datas agora, para não ficar muito maçante. Em 1978, foi a primeira vez que se tocou no assunto, de forma bem tímida. A Emenda Constitucional de 1978 visava o acesso das pessoas com deficiência em edifícios e logradouros públicos. Só que ela não dizia como isso deveria ser feito. Só em 1988 que foi determinada a normatização desse acesso a locais públicos. Também foi prevista a adaptação de transportes públicos para pessoas com deficiência. Mas de fato, a norma só veio em 2000. A quebra das barreiras arquitetônicas dos locais públicos e transportes públicos ocorreriam através do cumprimento das Normas Técnicas de Acessibilidade da ABNT. Se não for cumprida, prevê-se 58 penalidades para o responsável por instituir a mudança. Não importa se for repartição pública, empresa, instituição financeira, tem penalidade prevista para todos. Em 2000, foi a primeira vez que se referia à acessibilidade nos sistemas de comunicação, mas sem se aprofundar no assunto. Quatro anos depois, essas leis de 2.000 foram regulamentadas. Esse decreto descreve com profundidade a acessibilidade arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, no que concernem pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Além destes tópicos, também foram abordados o atendimento prioritário, um direito de todas as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Cabe aos Estados, Municípios e Distrito Federal implantar e controlar o atendimento prioritário. A parte de acessibilidade arquitetônica e urbanística é de responsabilidade das entidades das atividades de Engenharia, Arquitetura e afins. Elas que precisam exigir o cumprimento das regras de acordo com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT. E a acessibilidade em casas e prédios tombados é de responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O IPHAN avalia se o projeto pode ir adiante, no caso de querer modificar a estrutura, deixando mais acessível. Também é atribuição do IPHAN capacitar o quadro técnico e administrativo para o atendimento adequado do público com deficiência. Para acompanhar, fiscalizar e avaliar os projetos aprovados, o IPHAN deve indicar um responsável técnico, que permanecerá em ação até 6 meses depois das intervenções. O decreto inclui todos os meios de transporte coletivos: rodoviário, metroviário, ferroviário, aquaviário e aéreo, e atribui a responsabilidade de tornar o transporte acessível de acordo com o órgão de abrangência. Para transportes coletivos municipais, o encarregado é o governo municipal; metropolitano e intermunicipal, o governo estadual; para interestadual e internacional, o governo federal. No que concerne ao acesso à informação e comunicação, tem um conteúdo bem extenso. Incluem-se: celular com plano de mensagens para pessoas com deficiência auditiva, com central para surdos, com comando sonoro para pessoas 59 com deficiência visual, canais de televisão com closed captions, Libras e AD, capacitação de profissionais para atuar com Libras, disponibilização das obras em meio magnético e mais. A regulamentação de closed captions, Libras e AD são de responsabilidade do Ministério das Comunicações. O Poder Público e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência ficam incumbidos de incentivar a oferta dessas medidas. Essa regulamentação surgiu a partir da Norma Complementar nº 01, de 2006. Inicialmente, as pessoas jurídicas do ramo de televisão deveriam veicular os recursos de acessibilidade descritos no decreto de 2004: legenda oculta (closed captions); AD via SAP, sempre que o programa for exclusivamente falado em português; e dublagem com AD para programas em língua estrangeira. Deveria ser oferecido tanto para a televisão analógica quanto para a digital e, de acordo com o cronograma, em 2017 toda a programação estaria acessível. Mas, em 27 de junho em 2008, suspendeu-se a AD, na data original prevista pela Norma Complementar. Em um mês o Ministério das Comunicações reestabeleceu o cronograma, a partir da nova data de divulgação. Já era para estar passando 4 horas diárias de AD na época. Desse jeito, zerando tudo, voltou-se a obrigatoriedade de passar só 2 horas. Só que em 14 de outubro de 2008, a necessidade de passar AD foi suspensa de novo. Em 26 de novembro de 2009, o assunto voltou à tona, com um novo cronograma para exibição da AD na televisão, com um número de horas muitíssimo menor do que o previsto na Norma de 2006. Houve um retrocesso. Chegando a agora, em 2 de dezembro de 2013, as emissoras ficaram obrigadas a cumprir o cronograma previsto pela Norma Complementar de 2006. Assim, ao invés de a AD ser veiculada em 20h semanais ao término de 10 anos, conforme a portaria que retrocedeu o cronograma, prevê-se programação integral com AD na televisão. De televisão, essa são as leis. Para o cinema, tem projetos de lei em tramitação. Três projetos foram juntados por tratarem do mesmo tema e almejam a obrigatoriedade da legendagem em filmes nacionais e em exibições teatrais. Caso 60 não seja possível, deve-se oferecer impresso da obra para que as pessoas com deficiência auditiva consigam desfrutar do espetáculo. A legendagem proposta no projeto não abrange todas as categorias de filmes, mas uma grande maioria. Caso não seja cumprida a lei, prevê-se multa de 3.000 reais por exibição, mais um terço quando houver reincidência. Entrariam em vigor na data de sua publicação. Tem ainda outro projeto de lei em tramitação, que também abrange a legendagem em filmes nacionais e clama por AD também. Neste projeto, a legendagem poderia ser substituída por Libras. Para finalizar... Podemos ver que a acessibilidade está caminhando lentamente. As leis estão sendo criadas aos poucos e preveem penalizações. Às vezes são suspensas e passam por um retrocesso, como no caso da AD. Às vezes a proposta é boa, como no caso do projeto de lei da legendagem e AD no cinema, mas falta conhecimento da diversidade dentro das deficiências – Libras não atende as pessoas com deficiência auditiva como um todo, nem legenda. Falta fiscalização, visto que a lei dos transportes coletivos já está em vigor há tempos e não aconteceu a adaptação prevista. Tem intérpretes sendo utilizados onde não estariam qualificados por lei. Há o retardamento do processo, como no caso das emissoras de televisão em relação a AD, closed captions e Libras. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. Espero que essas informações tenham sido úteis. Se tiverem algo a acrescentar, escrevam nos comentários ou façam outro vídeo, vamos criar uma rede. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho visou esclarecer parte da realidade dos usuários de acessibilidade cultural, as pessoas com deficiência. Abordou-se a apresentação dos sujeitos com deficiência, diante de uma revisão histórica, conceituação de deficiências, condições deste grupo em situações cotidianas e no território nacional. Posteriormente, a acessibilidade cultural e a legislação existente sobre o assunto. 61 Com isso, espera-se atingir o objetivo de informar a situação atual para o leitor e criar um roteiro para disseminação das informações obtidas. A acessibilidade está caminhando lentamente. As leis estão sendo criadas aos poucos e preveem penalizações. Às vezes são suspensas e passam por um retrocesso, como no caso da AD. Às vezes a proposta é boa, como no caso do Projeto de Lei do Senado nº 122, de 2011, da legendagem e AD no cinema, mas falta conhecimento da diversidade dentro das deficiências – Libras não atende as pessoas com deficiência auditiva como um todo, nem legenda. Falta fiscalização, visto que a lei dos transportes coletivos, edificação, mobiliário, espaço e equipamento urbano já está em vigor há tempos e não aconteceu a adaptação prevista em tempo hábil. As empresas responsáveis estão sendo penalizadas? Tem intérpretes sendo utilizados onde não estariam qualificados por lei, prejudicando as informações recebidas por surdos. Há o retardamento do processo de veiculação de acessibilidade comunicativa, como no caso das emissoras de televisão em relação a AD, closed captions e Libras. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. 62 REFERÊNCIAS ARANHA, M. S. F. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005. 5 v. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/visaohistorica.pdf> Acesso em: 10 mar. 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Estimativa Censo 2005 669.736 3.015.912 3.232.330 594.587 13.815.334 8.097.276 2.333.108 3.408.365 5.619.917 6.103.327 19.237.450 2.264.468 2.803.274 6.970.586 3.595.886 8.413.593 3.006.885 10.261.856 15.383.407 3.003.087 1.534.594 391.317 10.845.087 5.866.568 1.967.791 4.0442.795 1.305.728 Fonte: Taleb et al., 2007 Total de cegos 5.964 29.949 26.369 4.752 124.878 74.640 16.372 23.983 39.514 59.585 134.114 16.062 19.802 58.909 32.350 78.701 29.233 72.915 108.639 26.502 12.392 3.425 77.053 38.149 17.422 278.832 10.942 Percentual Região Posição 0,89 N 8º 0,99 NE 1º 0,82 N 14º 0,80 N 16º 0,90 NE 6º 0,92 NE 5º 0,70 CO 24º 0,70 SE 22º 0,70 CO 23º 0,98 NE 2º 0,70 SE 25º 0,71 CO 19º 0,71 CO 20º 0,85 N 12º 0,90 NE 7º 0,94 NE 4º 0,97 NE 3º 0,71 S 17º 0,71 SE 21º 0,88 NE 10º 0,81 N 15º 0,88 N 11º 0,71 S 18º 0,65 S 27º 0,89 NE 9º 0,69 SE 26º 0,84 N 13º 70 Tabela 2 – População Total e População com Deficiência. População total Número de indivíduos TOTAL URBANA RURAL População com deficiência Número de indivíduos 190.755.799 Percentual (%) 45.606.048 160.934.649 29.821.150 84,4 15,6 38.473.702 7.132.346 % de referência (PCD/PCD total) 84,4 15,6 Fonte: IBGE, Censo 2010. Tabela 3 – População – Raça e Gênero. População total Número de indivíduos TOTAL RAÇA OU COR GÊNERO População com deficiência Número de indivíduos % de referência (PCD/População da 45.606.048 categoria) 21.252.847 23,5 3.884.965 27,1 569.838 27,1 19.733.079 23,8 165.148 20,1 190.755.799 90.621.281 14.351.162 2.105.353 82.820.452 821.501 Percentual (%) 47,5 7,5 1,1 43,4 0,4 36.051 0,0 171 0,5 População masculina 93.406.990 49,0 19.805.367 21,2 População feminina 97.348.809 51,0 25.800.681 26,5 Branca Preta Amarela Parda Indígena Sem declaração Fonte: IBGE, Censo 2010. 71 Tabela 4 – População – Escolaridade, 15 anos ou mais. População total Faixa etária de 15 anos ou mais Total 1 144.814.164 65.043.145 % população total População com deficiência 42.146.647 % população com deficiência Escolaridade 2 3 4 5 27.511.216 37.963.308 13.463.757 832.737 44,9 19 26,2 9,3 0,6 25.766.944 5.967.894 7.447.983 2.808.878 154.947 61,1 14,2 17,7 6,6 0,4 1 = não tem instrução ou ensino fundamental incompleto 2 = ensino fundamental completo e ensino médio incompleto 3 = ensino médio completo e superior incompleto 4 = ensino superior completo 5 = não foi determinado Fonte: IBGE, Censo 2010. 72