DESENVOLVIMENTO DA VERSÃO BETA DE SOFTWARE PARA DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS Eduardo Carvalho da Costa Acadêmico do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pampa [email protected] Gabriel Moro Acadêmico do curso de Engenharia de Software da Universidade Federal do Pampa [email protected] Magnos Baroni Professor/Pesquisador do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pampa [email protected] Resumo. Este trabalho apresenta o desenvolvimento da versão beta de um software para o dimensionamento de fundações profundas. A linguagem Java foi utilizada para a programação devido à sua flexibilidade de uso em diversas plataformas, e os métodos de cálculo da capacidade de carga de estacas escolhidos foram os métodos de Aoki-Velloso (1975) e Décourt-Quaresma (1978). Até então, foram gerados protótipos de telas onde o usuário poderá inserir informações relevantes ao projeto. Essa ferramenta busca automatizar o processo de coleta de informações do relatório de sondagem e do cálculo da capacidade de carga das estacas. Tratando-se das fundações profundas podemos considerar duas parcelas de resistência aos esforços solicitantes: resistência lateral (resistência de fuste) e resistência de ponta. Entre os diversos métodos para o cálculo do dimensionamento de fundações profundas, foram utilizados neste trabalho os métodos semi-empíricos de Aoki-Veloso e Décourt-Quaresma. O desenvolvimento do software tem por objetivo otimizar o dimensionamento de fundações profundas, realizando os cálculos de forma rápida e respeitando as normas pertinentes, principalmente a NBR 6122/2010 “Projeto e Execução de Fundações”. Palavras-chave: Fundações Profundas. Solos. Software. 2. 1. INTRODUÇÃO Dentro do universo da Engenharia Civil, o ramo das fundações certamente é aquele onde o engenheiro necessita de maior experiência na área (Velloso, 2004). Isso pode ser explicado devido à grande quantidade de solos existentes e de sua variedade comportamental. Segundo Velloso e Lopes (1998), o projeto de fundações deve atender requisitos básicos, como deformações aceitáveis, segurança ao colapso do solo e segurança ao colapso de elementos estruturais. METODOLOGIA Para o desenvolvimento do software de cálculo, vem sendo utilizada a linguagem de programação Java para ambientes desktops, a qual é indicada para desenvolver sistemas compatíveis com inúmeras plataformas. O diagrama de atividades é um artefato de engenharia de software utilizado para apresentar o fluxo das ações que o usuário (Engenheiro Civil) poderá realizar no sistema como: fluxos condicionais, laços de interação, etc. Na Fig. 1 é possível visualizar tal artefato. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil Tabela 1. Valores dos coeficientes k e i Tipo de Solo Areia Areia siltosa Areia silto-argilosa Areia-argilosa Areia argilosa-siltosa Silte Silte arenoso Silte areno-argiloso Silte argiloso Silte argilo-arenoso Argila Argila arenosa Argila areno-siltosa Argila siltosa Argila silto-arenosa Figura 1. Diagrama de atividades i (%) 1,4 2,0 2,4 3,0 2,8 3,0 2,2 2,8 3,4 3,0 6,0 2,4 2,8 4,0 3,0 K (MPa) 1,00 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,55 0,45 0,23 0,25 0,20 0,35 0,30 0,22 0,33 A resistência de ponta pelo método de Aoki-Veloso é calculada segundo a Eq (2): Desenvolveu-se, dentro da linguagem de programação, as equações do cálculo do dimensionamento de fundações profundas. R P K N B Ab F1 (2) Onde: 2.1 Método de Aoki-Veloso K = coeficiente de correlação com os Método baseado em resultados de resistência do ensaio de Cone (CPT), foi apresentado por Aoki e Velloso em 1975 no V Congresso Panamericano de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações. A resistência total pode ser definida como a soma das parcelas de resistência lateral e resistência de ponta. A resistência lateral é dada pela Eq. (1): resultados do cone; N B = valor de NSPT na base (ponta) da estaca; AB = área da base (ponta) da estaca; F1 = coeficiente de correlação de resistência de ponta para levar em conta a diferença de comportamento entre a estaca e o ensaio de cone. A Tabela 2 mostra os valores dos coeficientes F1 e F2 segundo o tipo de solo. R ( L i k i N m P L F2 ) (1) Onde: = i razão de atrito na camada i; N m = valor de NSPT médio na camada i; L = comprimento da estaca na camada i; k i =coeficiente de correlação com resultados do ensaio de cone na camada i; F2 = coeficiente de correlação de resistência lateral para levar em conta a diferença de comportamento entre a estaca e o ensaio de cone. A Tabela 1 mostra os valores dos coeficientes k e segundo o tipo de solo. Tabela 2. Valores dos coeficientes Tipo de Estaca Franki de fuste apiloado Franki de fuste vibrado Metálica Pré-moldada de concreto cravada à percussão Pré-moldada de concreto crava à prensagem Escavada com lama betonítica Raiz Strauss Hélice contínua F1 e F2 F1 F2 2,3 2,3 1,75 2,5 3,0 3,2 3,5 3,5 1,2 2,3 3,5 2,2 4,2 3,0 4,5 2,4 3,9 3,8 XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil 2.2 Método de Décourt-Quaresma Foi desenvolvido originalmente para estacas de deslocamento (cravadas), onde os valores QP e Q L são obtidos em função dos valores de N medidos no ensaio de SPT. A resistência de ponta é dada pela Eq. (3): Q P K N P AP Figura 2. Tela indicativa da entrada de dados de NSPT do relatório de sondagem (3) Onde: = coeficiente de ponderação; N p = média dos valores de N SPT medidos na ponta de estaca e imediatamente acima e abaixo da ponta da estaca; AP = área da base (ponta) da estaca; K = coeficiente em função do tipo de solo. A resistência lateral é calculada pela Eq. (4): Q L 10 ( Nl 1) U L 3 (4) Onde: =coeficiente de ponderação; do NSPT na profundidade N l =valor considerada; U = perímetro da seção transversal do fuste; L= comprimento da estaca (em geral utilizar 1,00 m). 3. Figura 3. Tela indicativa da entrada de dados de NSPT do relatório de sondagem, já preenchida Na Fig. 4 observa-se os dados correspondentes à Tabela 1, os quais foram armazenados na memória da ferramenta. Ao usuário, cabe a função de determinar a profundidade e o tipo de solo existente (conforme o relatório de sondagem) através de um duplo click nos dados da biblioteca do software. RESULTADOS Até o presente momento, foram realizadas as fases preliminares do desenvolvimento da ferramenta, as quais geraram artefatos como protótipos de tela. Na Fig. 2, demonstra-se o protótipo de tela onde o operador deve digitar os dados do relatório de sondagem SPT, informando ao software a profundidade de sondagem e o NSPT correspondente. Já na Fig. 3 mostra-se a mesma tela já preenchida com dados fictícios. Figura 4. Tela de determinação da profundidade e do tipo de solo existente conforme relatório de sondagem Após a entrada dos dados referentes à sondagem, pode-se determinar à ferramenta outras opções para o posterior cálculo da XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil capacidade de carga, como, por exemplo, o tipo de estaca a ser utilizada pelo projetista. A captura automática de dados relativos à bibliografia de dimensionamento, como os dados das Tabelas 1 e 2, representa facilidade ao usuário quanto ao dimensionamento. Ao final da versão beta, a ferramenta deverá gerar um relatório em formato .pdf com os resultados obtidos no dimensionamento considerando os métodos de cálculo aplicados e as prerrogativas da NBR 6122/2010. 5. Figura 5. Protótipo de tela de escolha do tipo de estaca Os dados referentes à Tabela 2 também estão automaticamente inseridos à biblioteca do software e serão posteriormente utilizados no cálculo do dimensionamento. Na Fig. 6, mostra-se a seção de determinação da faixa de cálculo, onde o usuário definirá a profundidade máxima e o passo a ser considerado no dimensionamento. REFERÊNCIAS AOKI, N.; VELLOSO,D. An Approximate method to estimate the bearing capacity of piles. In: PANAMERICAN CONFERENCE ON SOIL MECHANICS AND FOUNDATIONS ENGINEERING, 5., 1975, Buenos Aires. Proceedings... Buenos Aires: 1975. V.1. p.367-376. DÉCOURT, L.; QUARESMA, A.R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores SPT. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES, 6., 1978, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: 1978. V.1. p.45-54. VELLOSO, D. A..; LOPES F. R., Fundações: critérios de projeto, investigação do subsolo, fundações superficiais, fundações profundas. São Paulo SP– BRASIL: Oficina de Textos, 2010.– 568p. Figura 6. Protótipo de tela onde ocorre a determinação da faixa de cálculo 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS HACHICH W.; FALCONI F. F.; SAES J. L.; FROTA R. G. Q.; CARVALHO C. S.; NIYAMA S., Fundações: teoria e prática. São Paulo SP– BRASIL: Pini, 1998.– 751p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6122: Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro, 2010. Pode-se afirmar que a ferramenta apresentou desempenho satisfatório quanto às fases preliminares já desenvolvidas. 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