1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA FRANCISCO CERQUEIRA DA SILVA JUNIOR UMA REVISÃO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS FREQÜENTES EM FUNDAÇÕES DE CONCRETO DE EDIFICAÇÕES FEIRA DE SANTANA - BAHIA 2008 2 FRANCISCO CERQUEIRA DA SILVA JUNIOR UMA REVISÃO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS FREQÜENTES EM FUNDAÇÕES DE CONCRETO DE EDIFICAÇÕES Monografia Engenharia apresentada Civil do ao curso de Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito para obtenção do titulo de bacharel em Engenharia Civil. Área de Concentração: Fundações / Patologia de construção Orientador: Prof. Titular M. Sc.. Areobaldo Oliveira Aflitos Co-orientador: Prof. Titular Dr. Carlos Henrique A. Couto Medeiros FEIRA DE SANTANA - BAHIA 2008 3 TERMO DE APROVAÇÃO FRANCISCO CERQUEIRA DA SILVA JUNIOR UMA REVISÃO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS FREQÜENTES EM FUNDAÇÕES DE CONCRETO DE EDIFICAÇÕES Monografia aprovada como requisito para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil, Departamento de Tecnologia, Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS, pela seguinte banca examinadora: _________________________________________ Prof. Areobaldo Oliveira Aflitos, M. Sc. Universidade Estadual de Feira de Santana _________________________________________ Prof.ª Maria do Socorro Costa São Mateus, M.Sc. Universidade Estadual de Feira de Santana _________________________________________ Prof. Carlos César Uchoa de Lima, Dr. Universidade Estadual de Feira de Santana FEIRA DE SANTANA, abril de 2008. 4 Dedico este trabalho ao meu pai e a minha mãe, Francisco e Edna, que com muito esforço fizeram com que eu chegasse ao fim da etapa graduação. 5 AGRADECIMENTOS Sempre fui cobrado em relação aos estudos e ao caráter, graças a minha irmã, Karine, cresci como o homem que sou aprendendo do mais simples como falar até o mais complicado que é como me relacionar. Ao meu irmão Fábio, que foi o passo inicial destes anos de graduação, me incentivando a fazer o processo seletivo em Feira de Santana, quase que me carregando até a cadeira do vestibular. A Carine e a minha família de Feira de Santana, que foram o incentivo e o apoio à minha passagem por Feira encarando e compartilhando as minhas dificuldades com o carinho de uma família. Aos professores Carlos Henrique e Areobaldo Aflitos que me orientaram, até mesmo sob as dificuldades burocráticas impostas pelo “regimento” da universidade e conseguiram me trazer até o final das contas e apresentações. A colaboração dos professores Carlos Uchoa e Maria do Socorro que me ajudarem e aconselharam no desenvolvimento e organização deste trabalho. Aos meus companheiros de graduação Patrick, Isabella e Micheline, juntos nas horas mais complicadas, a Jonas e a empresa GUNITEST FUNDAÇÕES que contribuiram de forma significativa para o desenvolvimento dos estudos de casos reais. 6 Risco é inerente à atividade geotécnica, várias obras de porte colapsaram recentemente na Europa e Ásia sem que a qualidade da engenharia fosse questionada. Eng. Jarbas Milititsky, março de 2007 7 RESUMO UMA REVISÃO SOBRE AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS FREQÜENTES EM FUNDAÇÕES DE CONCRETO DE EDIFICAÇÕES Francisco Cerqueira da Silva Junior Abril / 2008 O presente trabalho apresentou e analisou algumas manifestações patológicas inerentes às estruturas de fundações, sob o foco da área de patologia de construções, abordando temas clássicos de anomalias e um caso real de problema patológico em fundação. O sistema de apresentação e análise figura sob um fluxograma baseado em procedimentos corriqueiros da área da medicina, como anamneses e diagnósticos, e tópicos intrínsecos à engenharia geotécnica, culminando com a apresentação de um laudo técnico desenvolvido neste trabalho, que visou reunir as informações mais importantes e pertinentes ao tema abordado. Todo o embasamento para o escopo do trabalho foi baseado na mecânica dos solos e suas teorias básicas, abordadas de forma sucinta. O foco em fundações foi encaminhado para estacas, principalmente estacas raiz do tipo microestaca, devido a sua abordagem do caso estudado. O exemplo de patologia de fundações apresentado ao final da monografia diz respeito a uma obra, cujas fundações em estacas pré-moldadas de concreto não atingiram a profundidade de cravação prevista em projeto, devido a falhas técnicas na análise do perfil do solo. Como solução para o problema foi adotado reforço estrutural com microestacas injetadas internamente na seção transversal da estaca que é vazada até atingir uma profundidade compensatória, pelos efeitos de ponta e engastamento na rocha, devidamente perfurada por equipamentos específicos. Palavras-chave: Fundações; patologia; microestacas. 8 ABSTRACT A REVIEW ABOUT THE MORE FREQUENT PATHOLOGICAL PROBLEMS IN FOUNDATIONS OF CONCRETE OF BUILDINGS Francisco Cerqueira da Silva Júnior April / 2008 This work presents and analyzes some inherent pathological problems in the foundations structures, under the focus in the area of constructions pathology, approaching classic themes of anomalies and a real case of pathological problem in foundation. The presentation and analysis system is made from a flowchart based on current medical procedures, as anamneses and diagnoses, and intrinsic topics to the geotechnical engineering, culminating with the presentation of a technical report developed in the present work, that aims to gather the most important and pertinent information to the approached theme. The background for the objective of the work was based on the soils mechanics and their basic theories, approached in a succinct way. The focus in foundations was directed for stakes, mainly stakes root of the type micro stakes, due to his approach of the studied case. The example of pathology of foundations presented at the end of the monograph is about a work, whose foundations in premolded stakes of concrete didn't reach the stick depth expected in the project, due to technical faults in the analysis of the profile of the soil. As a solution for the structural reinforcement problem it was adopted with micro stakes internally in the traverse section of the stake that is drained until reaching a compensatory depth, by the tip stick effects and in the rock, properly perforated by specific equipments. Keywords: Foundations; pathology; micro stakes. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1-1 - Fluxograma reduzido de análise patológica (apud Moura, 2007; Milititsky et al., 2005).................................................................................................................................... 19 Figura 2-1 – Representação de fundações rasa e profunda .................................................. 24 Figura 2-2 - Execução da base de uma fundação (disponível em http://www.geotechnia.com.br)............................................................................................. 25 Figura 2-3 - Estaca profunda tipo hélice contínua (disponível em http://www.ibts.org.br).... 26 Figura 2-4 - Estaca pré-moldada de concreto vazada (disponível em http://www.benaton.com.br) ................................................................................................. 30 Figura 2-5 - Cravação de estaca de concreto a percussão (disponível em http://www.estacasprefabricadas.eng.br) ............................................................................. 30 Figura 2-6 - Execução de emenda em solda de estaca pré-moldada (disponível em http://www.estacasprefabricadas.eng.br) ............................................................................. 31 Figura 2-7 - Reforço de estaca vazada com microestaca, internamente (Prado; Faria, & Vaz) ............................................................................................................................................. 31 Figura 2-8 - Ilustração Estaca Raiz...................................................................................... 32 Figura 2-9 - Bloco de microestacas executadas (Prado; Faria & Vaz) ................................. 32 Figura 2-10 - Execução de microestaca (ABMS/ABEF, 2006) .............................................. 33 Figura 2-11 - Etapa de execução da microestaca ................................................................. 34 Figura 2-12 - Estabilidade Global........................................................................................ 39 Figura 2-13 - Fundação x Solo (Milititsky et al., 2005) ........................................................ 40 Figura 2-14 - Gráfico representativo da distribuição de tensões geostáticas no maciço ....... 41 Figura 2-15 - Distribuição de tensões (Pinto, 2002) ............................................................. 42 Figura 2-16 - Sobreposição de Tensões nas Fundações (Milititsky et al., 2005) ................... 43 Figura 2-17 - Distorções angulares e danos associados (Velloso & Lopes, 2004) ................ 46 Figura 2-18 - Principais modos de deformações: (a) recalques uniformes, (b) recalques diferenciais sem distorção e (c) recalques diferenciais com distorção (Velloso & Lopes, 2004) ............................................................................................................................................. 47 Figura 2-19 - Presença de Matacão no Solo (Milititsky et al., 2005) .................................... 49 Figura 2-20 - Procedimentos para patologia de fundações (Moura, 2007) ........................... 51 Figura 2-21 - Falha na Investigação do Solo (apud Milititsky et al., 2005) .......................... 54 Figura 2-22 - Execução do ensaio de sondagem a percussão ............................................... 57 Figura 2-23 - Equipamentos para execução de sondagens rotativas (Diminsky)................... 58 10 Figura 2-24 - Utilização do torquímetro no ensaio SPT-T (Tourruco, 2004) ........................ 59 Figura 2-25 - Equipamentos para execução do CPT (Diminski) ........................................... 60 Figura 2-26 - Prova de carga Vertical (disponível em http://www.insitu.com.br) ................. 61 Figura 2-27 - Prova de carga estática (Medeiros, 2005) ...................................................... 61 Figura 2-28 - Prova de carga dinâmica (Medeiros, 2005) .................................................... 62 Figura 2-29 - Laudo de patologia de fundações ................................................................... 63 Figura 3-1 - Recalque da torre de Pisa. ............................................................................... 65 Figura 3-2 - Vista da deformação nas camadas do perfil ..................................................... 66 Figura 3-3 - Utilização de peso para equilíbrio da torre no processo de recuperação .......... 66 Figura 3-4 - Recalque das edificações em Santos (Milititsky et al., 2005). ............................ 67 Figura 3-5 - Mecanismo de recalque diferencial (Grigoli) ................................................... 68 Figura 3-6 -Palácio da Liberdade (apud http://www.panoramio.com) ................................. 69 Figura 3-7 - Fundação assentada em bloco de rocha ........................................................... 71 Figura 3-8 - Ilustração do perfil real e do perfil adotado por interpretação equivocada ...... 72 Figura 3-9 - Trinca em alvenaria devido à expansão do solo (disponível em www.conder.ba.gov.br) ........................................................................................................ 73 Figura 4-1 - Ilustração da estaca SCAC de mesmo modelo utilizada no empreendimento .... 77 Figura 4-2 - Fluxograma de empresas e serviços contratados .............................................. 77 Figura 4-3 - Representação da estaca reforçada do empreendimento................................... 78 Figura 4-4 - Utilização de reforço na situação do empreendimento ..................................... 79 Figura 4-5 - Resultado do ensaio de sondagem no empreendimento ..................................... 81 Figura 4-6 - Perfuração do solo ........................................................................................... 82 Figura 4-7 - Cravação de SCAC à percussão ....................................................................... 83 Figura 4-8 - Esquema de execução de microestaca com tubo Schedule 80 ........................... 84 Figura 4-9 - Relação entre a carga da estaca de concreto e do reforço com microestaca ..... 85 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1-1 - Problemas Típicos em fundações (Milititsky et al., 2005) ................................. 15 Tabela 2-1 – Índices físicos dos solos ................................................................................... 22 Tabela 2-2 - Classificação de engenharia da rocha intacta (Gusmão Filho, 2003) ............... 27 Tabela 2-3 - Terminologia para o espaçamento das juntas (Gusmão Filho, 2003)................ 28 Tabela 2-4 - Classificação das rochas em função do número de fraturas por metro (Gusmão Filho, 2003) ......................................................................................................................... 28 Tabela 2-5 - Pressões básicas para materiais rochosos ........................................................ 29 Tabela 2-6 - Características técnicas de estacas centrifugadas (ABMS/ABEF, 2006) ........... 36 Tabela 2-7 –Dimensionamento estrutural do concreto da estaca raiz (ABMS/ABEF, 2006).. 37 Tabela 2-8 - Cargas admissíveis máximas de estacas raiz (ABMS/ABEF, 2006) ................... 38 Tabela 2-9 – Abertura de fissuras e danos associados (Velloso & Lopes, 2004) ................... 47 Tabela 2-10 - Definições de termos da área da saúde (apud Moura, 2007) .......................... 52 12 SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14 1.1 - JUSTIFICATIVA............................................................................................. 16 1.2 - OBJETIVOS ..................................................................................................... 17 1.2.1 - OBJETIVO GERAL .................................................................................... 17 1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................... 17 1.3 2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 20 2.1 - MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES ............................................... 20 2.1.1 - COMPRESSIBILIDADE DO SOLO ........................................................... 20 2.1.2 - PROPRIEDADES DO SOLO PERTINENTES AO TEMA ......................... 21 2.1.3 - FUNDAÇÕES ............................................................................................. 24 2.1.4 - FUNDAÇÕES EM ROCHAS (GUSMÃO FILHO, 2003) ........................... 26 2.1.5 - ESTACAS PRÉ-MOLDADAS E MICRO ESTACAS (breve comentário) .. 29 2.1.6 - CAPACIDADE DE CARGA....................................................................... 35 2.1.7 - INTERAÇÃO SOLO-FUNDAÇÃO ............................................................ 39 2.1.8 - TENSÕES E DEFORMAÇÕES .................................................................. 40 2.1.9 - DEFORMAÇÕES (RECALQUE) ............................................................... 44 2.2 - PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES .................................................................. 49 2.2.1 - PATOLOGIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................. 49 2.2.2 - METODOLOGIA DE ESTUDOS PATOLÓGICOS ................................... 50 2.2.3 - CAUSAS DAS ANOMALIAS EM FUNDAÇÕES ..................................... 53 2.2.4 - PROCEDIMENTOS PARA DIAGNÓSTICO DA ANOMALIA ................. 54 2.2.5 - ENSAIOS PARA INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO .................................. 56 2.2.6 - PROVAS DE CARGA ................................................................................ 60 2.2.7 - LAUDO TÉCNICO DE PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES.......................... 63 2.3 3- METODOLOGIA ............................................................................................ 18 RECUPERAÇÃO DE FUNDAÇÕES ............................................................ 64 ALGUMAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM FUNDAÇÕES ..... 65 3.1 - APRESENTAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES ............................................. 65 3.2 - UTILIZAÇÃO DO LAUDO TÉCNICO PARA APRESENTAÇÃO DE UMA ANOMALIA ....................................................................................................... 75 4- ESTUDO DE CASO ............................................................................................. 76 13 4.1 - INFORMAÇÕES GERAIS ............................................................................. 76 4.2 - A ANOMALIA E O DIAGNÓSTICO ........................................................... 76 4.3 - A TERAPÊUTICA .......................................................................................... 80 4.4 - EXECUÇÃO DO REFORÇO ......................................................................... 82 4.5 - O PROGNÓSTICO E AS OBSERVAÇÕES................................................. 85 4.6 - LAUDO TÉCNICO ......................................................................................... 86 5- CONCLUSÕES ..................................................................................................... 87 6- REFERÊNCIAS .................................................................................................... 89 14 1 - INTRODUÇÃO A patologia das construções, área específica da engenharia civil, nas últimas décadas, tem se preocupado não só com o projeto e sua execução, mas também com a durabilidade da obras de construção. Segundo Helene (1992), “A patologia pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens das anomalias em construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema”. Logo esse estudo ganhou espaço significativo na engenharia, devido à grande ocorrência de “doenças” das construções, observadas com o passar dos anos. Para inserir as fundações no contexto de patologia é necessário um arcabouço básico de terminologias e procedimentos usados, muitas vezes, por profissionais da área de saúde. Souza & Ripper (1999) introduzem o conceito de patologia das estruturas como sendo “um novo campo da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação, conseqüências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de degradação das estruturas”. As causas mais freqüentes de problemas patológicos nas fundações, segundo Cânovas (1988), são: excesso de carga, movimentação do solo (provocando recalque), ações de natureza química, erros de projeto e/ou execução, alterações das características do solo, instabilidade e problemas de deterioração devido à ação da umidade. Todas as obras de Engenharia Civil são apoiadas sobre uma estrutura de solo ou rocha, que em conjunto com a fundação e a superestrutura definem o seu comportamento. As manifestações patológicas mais freqüentes apresentadas no projeto e execução das fundações e obras de terra são: Problemas de deformações do solo (recalque), problemas relacionados à ruptura de um maciço (colapso) e ataque ao concreto por agentes agressivos. 15 Numerosos acidentes ocorridos com obras de engenharia, principalmente relacionados ao solo, nos séculos XIX e XX, mostram o quão é importante um estudo mais aprofundado da Mecânica dos Solos. A maior parte da fundamentação teórica e prática desta ciência foi proposta por Karl Terzaghi no início do século XX este, foi um marco significativo para o desenvolvimento de técnicas de análises, projeto e construção de sistemas de fundações, servindo como base para os modernos estudos e avanços tecnológicos atuais. Cânovas (1988) classifica as fundações como inadequadas, quando há um aumento nas cargas ou sobrecargas ou quando as dimensões das fundações são inadequadas para as solicitações normais. A umidade do solo é outra causa de problemas patológicos, ocorrendo geralmente quando há uma mudança nas condições do solo alterando o nível do lençol freático, propiciando principalmente o carreamento de materiais que formam a estrutura de fundação, e o ataque ao concreto da fundação por sais de magnésio e de cálcio em forma de sulfatos e cloretos, o que caracteriza outra anomalia em concreto, muito freqüente, abordada por Cânovas (1988). A tabela 1-1 apresentada por Milititsky et al. (2005) mostra problemas típicos em fundações devido à falta de investigação adequada do subsolo. Tabela 1-1 - Problemas Típicos em fundações (Milititsky et al., 2005) TIPO DE FUNDAÇÃO PROBLEMAS TÍPICOS DECORRENTES Fundações diretas Tensões de contato excessivas com as reais características do solo, resultando em recalques inadmissíveis ou ruptura. Fundações sobre solos compressíveis sem estudos de recalque, resultando grandes deformações Fundações apoiadas em materiais de comportamento muito diferente, sem junta, ocasionando o aparecimento de recalques diferenciais Fundações Profundas Fundações apoiadas em crosta dura sobre solos moles, sem análise de recalques, ocasionando a ruptura ou grandes deslocamentos da fundação Estacas de tipo inadequado ao subsolo, resultando mau comportamento Geometria inadequada, comprimento ou diâmetro inferior aos necessários Estacas apoiadas em camadas resistentes sobre solos moles, com recalques incompatíveis com a obra Ocorrência de atrito negativo não previsto, reduzindo a carga admissível nominal adotada para a estaca 16 1.1 - JUSTIFICATIVA Todos os tipos de manifestações patológicas comprometem a durabilidade das estruturas, sendo que um erro pode significar um custo muito mais alto de execução, portanto, quanto antes for detectado o problema, menores serão estes custos para repará-lo. Com um mercado crescente, o ramo da engenharia que estuda as patologias, tem se destacado em relação às outras áreas, devido às maiores exigências dos clientes das empresas construtoras e à crescente incidência de construções com problemas, principalmente, relacionados a projetos, execução e à falta de manutenção da estrutura. Normalmente as manifestações patológicas nas fundações são estudas e avaliadas com minúcia apenas quando apresentam problema de cunho relativamente alto para manter a segurança da estrutura e, por este motivo, não há uma preocupação ativa sobre o tema ao decorrer da sua vida útil. Esta realidade, na área técnica, pode se apresentar na forma de desastres de grandes dimensões e repercussão, que poderiam ser minorados ou evitados apenas com pequenas precauções e mudanças de pensamentos, visto que, para Milititsky et al. (2005), o custo de uma fundação gira em torno de 3 a 6 % do valor da obra. O estudo de problemas patológicos de fundações de concreto, bem como suas causas e, uma terapêutica aceitável são temas atuais e ainda pouco difundidos, apresentando técnicas de solução com custo bastantes elevados, pois necessita de profissionais especializados e equipamentos sofisticados. Trata-se de um campo de trabalho bastante desafiador apresentando grandes perspectivas de crescimento e evolução para a engenharia civil. Do exposto, verifica-se a importância da realização de estudos sobre o tema abordado a partir de informações teóricas correlacionadas com os acontecimentos na prática de forma a enriquecer os conhecimentos acadêmicos, abrindo espaço para uma maior interação entre a teoria e a prática. 17 1.2 - OBJETIVOS 1.2.1 - OBJETIVO GERAL Este trabalho fez uma revisão sobre o tema manifestações patológica em fundações de concreto em obras de construção civil, utilizando conceitos da mecânica dos solos, e ao final apresentou um exemplo real de patologia de fundações. 1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Correlacionar procedimentos e terminologias aplicadas na medicina com a engenharia, no campo denominado patologia das construções; b) Apresentar casos clássicos de anomalias em fundações; c) Apresentar uma anomalia e a aplicação da terapêutica com microestacas em uma situação real da construção de um empreendimento; d) Desenvolver um modelo de laudo técnico de patologia e terapêutica de fundações; e) Apresentar um caso real de anomalia em fundações em estaca, que apresentou problemas de cravação, não conseguindo atingir as especificações do projeto. 18 1.3 - METODOLOGIA No presente trabalho realizou-se uma revisão bibliográfica através de consultas em revistas e artigos técnicos da área, além de pesquisas específicas noutros trabalhos acadêmicos relativos ao mesmo campo de estudo, com apresentação de casos clássicos de patologia de fundações e de um exemplo de recuperação de uma estrutura de fundação. O estudo foi subdivido em três etapas: 1ª. etapa – revisão de conceitos e tecnologias intrínsecos à mecânica dos solos e fundações, que serviram como base para a compreensão das principais causas e conseqüências das anomalias apresentadas neste trabalho. 2ª. etapa - estudo de manifestações patológicas específicas em fundações. 3ª. etapa - estudo de caso em um empreendimento particular, onde ocorreu uma anomalia na execução da fundação. As anomalias foram abordadas de forma sistemática, iniciando pela identificação da manifestação patológica, em seguida a apresentação de sua origem e possíveis causas com a descrição do diagnóstico (procedimento onde se verifica a anomalia, as causas e os sintomas, determinando sua origem e o mecanismo de deterioração); prescrição dos prognósticos (contextualização sobre a evolução futura de um problema patológico) da situação; e, por último, a terapia indicada e viável tecnicamente para os sinistros abordados. A sequência de estudos patológicos pode ser revisada, conforme o fluxograma apresentado na figura 1-1. 19 Figura 1-1 - Fluxograma reduzido de análise patológica (apud Moura, 2007; Milititsky et al., 2005) 20 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 - MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES 2.1.1 - COMPRESSIBILIDADE DO SOLO O estudo da compressibilidade dos solos é importante para a avaliação de recalques em fundações. O solo é um sistema composto de partículas sólidas e espaços vazios, os quais podem estar parcialmente ou totalmente preenchidos com água. Vargas (1978) define como compressibilidade a propriedade do solo em mudar seu volume ou forma quando é aplicada, ao corpo, uma força externa. Os decréscimos de volume (as deformações) dos solos podem ser atribuídos, de maneira genérica, a três causas principais (BRAJA, 1994): • Realocação das partículas do solo com re-arranjo da sua estrutura (recalque imediato); • Compressão dos espaços vazios do solo, com a conseqüente expulsão da água, no caso de solo saturado (recalque primário); • Compressão das partículas sólidas, com deformação das mesmas (recalque secundário). O resultado prático da compressibilidade dos solos é o recalque das fundações, ou seja, a deformação vertical de uma superfície no terreno. Caputo (1978) define compressibilidade do solo, como sendo a diminuição do volume do maciço sob a ação de cargas aplicadas, sendo seus principais mecanismos: deformação do esqueleto do solo, quebra de grãos, deslocamento relativo do solo. Em solos saturados a variação de volume está diretamente relacionado com a drenagem da água, sendo este fluxo governado pela lei de Darcy. O recalque constitui-se em uma das causas mais encontradas de problemas em fundações trazendo conseqüências que podem variar, desde fissuras simples, até mesmo a ruína da estrutura. 21 Para os níveis de tensões usuais aplicados na engenharia de solos, as deformações que ocorrem na água, pois são incompressíveis (VELLOSO E LOPES, 2004). As deformações volumétricas do solo são calculadas a partir da variação do índice de vazios, que é função da variação das tensões efetivas. É importante mencionar que o projeto de fundações precisa prever e avaliar a magnitude dos recalques das fundações de uma obra, embora neste trabalho, este tema, não seja apresentado de forma tão enfática. 2.1.2 - PROPRIEDADES DO SOLO PERTINENTES AO TEMA Para o perfeito entendimento da relação fundação – solo – anomalia é necessário alguns conhecimentos e conceitos sobre os diversos tipos de solo e suas propriedades. Pinto (2002) afirma que o comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das três fases de sua constituição (sólidos, água e ar). As quantidades de água e ar podem variar indicando propriedades distintas como umidade, índice de vazios, porosidade, peso específico e grau de saturação dos solos. Os parâmetros que sevem de base para avaliar recalques são a porosidade e o índice de vazios, que são definidos, respectivamente, pelas seguintes relações: Onde: =Volume de vazios da amostra do solo da amostra do solo (1) (2) 22 Estas propriedades são de grande valia no estudo de recalques e podem ser relacionadas, segundo as expressões (3 a 8), já bastante conhecidas ma Mecânica dos Solos. A tabela 2-1 apresenta os índices físicos, que são utilizados no estudo do comportamento dos mesmos. !"# % ' . (3) * ( +, " ( Onde: Tabela 2-1 – Índices físicos dos solos SÍMBOLO DEFINIÇÃO CONCEITO UNIDADE Peso especifico Relação entre o peso total do solo e o kN/m³ γ natural volume total Peso especifico Relação entre o peso das partículas kN/m³ γs dos sólidos sólidas e o seu volume Umidade Relação entre o peso da água e o % w peso dos sólidos Peso especifico Relação entre o peso das partículas kN/m³ γd aparente seco sólidas e o volume total (completamente seco) Peso especifico Peso específico do solo se viesse a kN/m³ γsat aparente saturado ficar saturado, sem variação de volume Saturação Relação entre o volume de água e o % S volume de vazios ($) (&) ()) (-) (/) 23 Algumas propriedades relacionadas com a estrutura dos solos podem ser avaliadas a partir dos índices físicos e fornecem subsídios para a compreensão do comportamento dos solos: a) Compacidade: Estado em que se encontra uma areia, solo não coesivo, expressado pelo índice de vazios, analisando a relação entre limites mínimos e máximos com o valor encontrado na amostra de campo, definindo se a areia está num estado fofa ou compacta (PINTO, 2002). b) Consistência: Característica das argilas, solos coesivos, em permanecerem rijas em determinadas situações, sendo determinada por meio de um ensaio de resistência a compressão simples. Esta resistência varia a depender do arranjo entre os grãos de argila e do seu índice de vazios (PINTO, 2002). c) Resistência a compressão simples: É o nível de esforço que um maciço de solo suporta; a partir de ensaios de compressão simples é possível obter a coesão do solo (VARGAS, 1978). d) Resistência ao cisalhamento: Tensão cisalhante máxima que o solo pode suportar devido ao atrito e a coesão entre as partículas por efeito físico e químico respectivamente, sem sofrer ruptura, ou seja, sem sofrer excessivo movimento de partículas, Estas propriedades são de fundamental importância para o entendimento da fundação e para a parametrização de procedimentos e rotinas referentes ao tema e, em muitos casos, para o diagnóstico rápido e preciso de problemas corriqueiros do meio técnico. 24 2.1.3 - FUNDAÇÕES Velloso & Lopes (2004) dividem as fundações em duas classes: fundações superficiais ou rasas e fundações profundas, distintas segundo um critério arbitrário que classifica a fundação profunda como aquela que apresenta mecanismo de ruptura de base fora da superfície do terreno e profundidade de apoio da base da fundação de 3 (três) metros, valor acima do qual a fundação se afigura antieconômica devido a escoramentos, rebaixamento de nível de água, entre outros fatores. Fundação rasa, segundo NBR6122/1996, são elementos de fundação onde a carga é transmitida ao terreno pelas pressões distribuídas através da base e a profundidade de assentamento deve ser inferior a duas vezes a sua menor dimensão. Veja a figura 2-1 comparando as fundações rasas e profundas. Figura 2-1 - Representação fundações rasa e profunda 25 A fundação é o elemento estrutural com função de transmitir as cargas da estrutura ao terreno onde ela se apóia, devendo apresentar resistência mecânica para suportar as tensões devido aos esforços solicitantes, rigidez suficiente para não provocar a ruptura e controlar deformações (AZEREDO, 1988), A figura 2-2 mostra uma base de fundação em etapa de construção. Figura 2-2 - Execução da base de uma fundação (disponível em http://www.geotechnia.com.br) A estaca, definida pela NBR6122/1996 é um elemento de fundação profunda, podendo ser de aço, concreto ou madeira executada com a utilização de equipamentos e ferramentas, dependendo do tipo da fundação, como por exemplo Straus, Franki, raiz, entre outras. As fundações classificam-se em diretas ou indiretas, de acordo com a forma de transferência de cargas da estrutura para o solo de apoio e, em rasas ou profundas que dependo da profundidade da camada de suporte. Segundo Velloso e Lopes (ABMS/ABEF, 2006) a fundação rasa ou superficial é utilizada quando a camada superficial do solo apresenta resistência suficiente para suportar as cargas da edificação, com custo reduzido e, tecnicamente, quando a camada de suporte está próxima a 3,0 (três) metros, recomenda-se até 2,5 m, de profundidade, ou quando a cota de apoio é inferior à largura do elemento da fundação. 26 A NBR6122/1996 designa que, fundações profundas são aquelas cujas bases estão implantadas a uma profundidade com pelo menos 3m ou duas vezes a sua menor dimensão. Este tipo de fundação pode ser considerada direta, quando o carregamento é transmitido diretamente pela ponta da estrutura, ou indireta quando o carregamento é transmitido tanto pela ponta, quanto pelo atrito lateral com o solo. A transição entre a superestrutura e a fundação propriamente dita é feita através de um bloco de concreto chamado bloco de coroamento. A figura 2-3 mostra estaca tipo hélice executadas, aguardando a execução do bloco de coroamento Figura 2-3 - Estaca profunda tipo hélice contínua (disponível em http://www.ibts.org.br) 2.1.4 - FUNDAÇÕES EM ROCHAS (GUSMÃO FILHO, 2003) O modelo de projeto de fundações em rocha segue o mesmo modelo de solos, devendo iniciar pela verificação das propriedades do maciço, que é mais complexo do que os maciços em solos, levando em muitas situações a projetos conservadores. No caso da capacidade de carga e dos recalques, a teoria difere da teoria aplicada aos solos. Existem dois grandes grupos de rochas, caracterizadas na engenharia civil, que são as rochas intactas e as rochas alteradas. No primeiro caso, trata-se de rochas que não sofreram intemperismo, sua classificação está fundamentada nas propriedades de resistência a compressão simples ou uniaxial (σ) e na propriedade de elasticidade (E), conforme apresentado na tabela 2-2. 27 Tabela 2-2 - Classificação de engenharia da rocha intacta (Gusmão Filho, 2003) REFERÊNCIA CLASSE RESISTÊNCIA VALOR (MPa) Resistência (σ) Bloco de rocha E/σ A Muito Alta >200 B Alta 100<σ<200 C Média 50< σ <100 D Baixa 25< σ <50 E Muito Baixa <25 H Alto >50 M Médio 20< σ <50 L Baixo <20 As rochas de classe A são quartzito, diabasio e os basaltos, enquanto que na classe B encontram-se outras rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. Na classe C, verifica-se a presença, apenas, de rochas metamórficas, já nas classe D e E são encontradas as rochas menos resistentes, geralmente intemperizadas ou quimicamente alteradas. A segunda parte desta tabela 2-2 classifica as rochas considerando o fator de deformabilidade oriundos da teoria da elasticidade, confira as equações (9. 4 5 5 4 0 12 3 2 3 6 (9) As rochas alteradas formam o outro grupo de rochas, que diferenciam das rochas intactas em propriedades estruturais como a zona de transição entre rocha sã e saprólitos, com efeitos de deformabilidade e resistências muito vaiáveis. A classificação das rochas in situ é realizada corriqueiramente analisando-se o grau de fraturamento, que seria o número de fraturas (F1) em um metro, sendo esta propriedade muito importante para avaliar o desempenho do maciço. O espaçamento entre as fraturas também é avaliado, conforme pode ser visto nas tabelas 2-3 e 2-4. A alteração devido à intemperização da rocha pode ser classificada em sã, medianamente alterada e muito alterada. 28 Tabela 2-3 - Terminologia para o espaçamento das juntas (Gusmão Filho, 2003) Descrição das Juntas Espaçamento das Juntas Menor que 5 cm Muito Próxima 5 – 30 cm Próxima 30 cm – 1m Moderadamente Próxima 1 – 3m Afastada Maior que 3m Muito Afastada Tabela 2-4 - Classificação das rochas em função do número de fraturas por metro (Gusmão Filho, 2003) Rocha Símbolo Número de Espaçamento Fraturas por entre fraturas metro (metro) Ocasionalmente Fraturada F1 <1 >1 Pouco Fraturada F2 2-4 0,50 – 0,25 Medianamente Fraturada F3 5 - 10 0,25 – 0,10 Muito Fraturada F4 11 - 15 0,10 – 0,06 Extremamente Fraturada F5 > 16 < 0,06 O projeto de fundações em rocha inicia-se com a adoção da tensão admissível da rocha, seguida da análise da capacidade de carga e do recalque. A tensão admissível da rocha é definida a partir de provas de carga em escala real, métodos empíricos, métodos racionais, normas e/ou códigos de construção. A tensão admissível na rocha pode ser obtida através de diversos métodos, sendo a prova de carga o método mais indicado. A NBR6122/1996 indica alguns valores, assumidos de forma conservadora, apresentados na tabela 2-5. A formulação para o cálculo da capacidade de carga da fundação é semelhante às fundações em maciço de solo, com métodos de Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma. 29 Tabela 2-5 - Pressões básicas para materiais rochosos (apud NBR6122/1996) CLASSE DESCRIÇÃO DO MATERIAL VALOR (MPa) 1 Rocha sã, sem sinal de decomposição 3,0 2 Rocha laminada, com pequenas fissuras, estratificada 1,5 3 Rochas alteradas ou em decomposição Nota “a” 4 Conglomerados ou solos granulares 1,0 Nota a: Para rochas alteradas ou em decomposição, têm que ser levados em consideração a natureza da rocha matriz e o grau de decomposição/alteração. Um problema patológico de fundações em maciços rochosos é a presença de um bloco de rocha em uma região de predominância de maciço terroso. Durante a sondagem à percussão, em um dos resultados, poderá apresentar a formação de um perfil com camadas de solos e blocos de rochas. Quando um matacão for encontrado, deve-se proceder aos passos citados pela NBR8036 (1983), que aconselha: na presença de um bloco rochoso deve-se afastar o equipamento de sondagem 1 (um) metro de distância daquele ponto e refazer o ensaio, para verificar se o elemento encontrado é um simples matacão ou bloco de rocha, ou se existe uma camada de rocha no local. 2.1.5 - ESTACAS PRÉ-MOLDADAS E MICRO ESTACAS (breve comentário) A escolha do tipo de fundação depende de uma analise criteriosa de elementos como a natureza e características do solo no local, a grandeza de cargas a serem transmitidas à fundação, a proximidade de edifícios limítrofes e o fator de mercado que impõe indiretamente a escolha da fundação (ALONSO, 2001). a) ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO Para Alonso (ABMS/ABEF, 2006) as estacas pré-moldadas são cravadas no terreno por percussão, prensagem ou vibração, por isso são consideradas estacas de deslocamentos. Estas são constituídas de concreto armado ou protendido confeccionadas por vibração ou centrifugação (mais usado). 30 As estacas de concreto possuem forma quadrada, hexagonal, octogonal e circular maciça ou vazada em forma de coroa circular ver figura 2-4. Em casos de solo muito rígidos ou cravação até o perfil rochoso, pode-se acoplar à estaca de concreto um perfil metálico internamente, que tem por finalidade evitar a ruptura de segmentos da estaca. Figura 2-4 - Estaca pré-moldada de concreto vazada (disponível em http://www.benaton.com.br) O método executivo para estacas pré-moldadas, geralmente é por cravação a percussão (bate-estaca figura 2-5), Em estacas vazadas pode-se utilizar um sistema misto com perfil metálico dentro da estaca, garantindo maior rigidez flexional, evitando efeitos de fissuras e rupturas de parte da estaca. A emenda (Figura 2-6) das 2 (duas) bordas é executada com perfil de aço soldado ao concreto, sendo uma vantagem, pois possibilita maiores alcances de profundidades. Depois de cravada a estaca faz-se o arrasamento com o corte cabeça (topo) da estaca. Figura 2-5 - Cravação de estaca de concreto a percussão (disponível em http://www.estacasprefabricadas.eng.br) 31 Figura 2-6 - Execução de emenda em solda de estaca pré-moldada (disponível em http://www.estacasprefabricadas.eng.br) Uma solução que está sendo muito adotada é a cravação da estaca de concreto vazada até a proximidade do perfil rochoso e, por dentro do furo, executa-se outra estaca, injetada, embutida na rocha veja figura 2-7. Esta solução está detalhada mais adiante. Figura 2-7 - Reforço de estaca vazada com microestaca, internamente (Prado; Faria, & Vaz) 32 b) MICROESTACAS As estacas escavadas com injeção, tipo raiz (figura 2-8) , são fundações profundas executadas a partir da injeção de compostos aglutinantes como nata de cimento ou argamassa de areia e cimento sob pressão ou por gravidade. NBR6122 (1996). Figura 2-8 - Ilustração Estaca Raiz Figura 2-9 - Bloco de microestacas executadas (Prado; Faria & Vaz) 33 A microestaca (figura 2-9) é uma estaca concretada “in-loco”, considerada de pequeno diâmetro, pois o mesmo varia entre 100 mm e 410 mm, tendo elevada capacidade de carga baseada essencialmente na resistência por atrito lateral do terreno atravessado, no seu diâmetro e no comprimento da estaca. Evidentemente, se constatada a presença de rocha na ponta da mesma, a estaca poderá contar com a resistência de ponta. Em ambos os casos, o cálculo de uma fundação em estacas raiz é semelhante ao método clássico utilizado em outros tipos de estacas e baseia-se na capacidade de carga da mesma. A estaca raiz é indicada para reforços em locais de difícil acesso. Atualmente está sendo muito empregada para fundações de pontes, viadutos, contenções de encostas, perfuração do subsolo com matacões e rochas, já na etapa de construção (disponível em http://www.estacaraiz.com.br). O método executivo da microestaca conforme Alonso (ABMS/ABEF, 2006) consiste na perfuração do solo, instalação de um tubo manchete, execução da bainha, injeção da calda e vedação do tubo manchete (figura 2-10). As propriedades da calda como resistência, densidade, viscosidade e vida útil/durabilidade, deverão ser controladas através de ensaios e parâmetros definidos em normas específicas. Figura 2-10 - Execução de microestaca (ABMS/ABEF, 2006) 34 Baseado na figura 2-10 tem-se que: a. A perfuração do solo é realizada por uma perfuratriz de rotação associada a um sistema de limpeza que pode ser a água ou a ar. Em função da profundidade alcançada pela penetração faz-se a emenda do tubo por meio de rosca; b. Instalação do tubo manchete: Armadura que tem por finalidade resistir estruturalmente a tensões laterais do solo, composto de aço ou PVC; quando usar em PVC, envolver por armadura de aço, caso contrário não haveria contribuição estrutural para a estaca; c. Execução da bainha: Serve como fuste da estaca, proporcionando atrito lateral e é executada após a instalação do tubo manchete, injetando-se calda de cimento pela válvula inferior até extravasar pela boca do furo; d. Injeção de calda de cimento: É feita com o auxílio de um tubo dotado de obturador duplo acoplado a um misturador e bomba de injeção. Executada no sentido ascendente através de cada uma das válvulas, formando sucessivos bulbos no fuste da estaca, procedimento ilustrado na figura 2-11. e. Vedação do tubo-manchete: Depois de concluída a injeção, pode-se adicionar armadura de aço na parte central do tubo-manchete, que será preenchida com nata de cimento ou argamassa. Figura 2-11 - Etapa de execução da microestaca 35 2.1.6 - CAPACIDADE DE CARGA I. CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS EM SOLO A capacidade de carga, segundo Décourt e Quaresma (ABMS/ABEF, 2006), de uma estaca é definida a partir da soma da capacidade de suporte lateral devido ao atrito e com a capacidade de carga obtida pela ponta. Os métodos de Aoki e Velloso e o Método de Décourt e Quaresma são os mais utilizados para o cálculo da capacidade de carga de estacas. a. Método Aoki e Velloso: Este método avalia a capacidade de carga da estaca, tanto a tensão limite de ruptura de ponta (qp), quanto à de atrito lateral (qs), relacionando-as com a resistência de ponta (qc) obtida do ensaio de penetração do cone (CPT). 78 7 9: (10) ; < 9: (11) ;= Onde: α = coeficiente de ajuste para cada tipo de solo. F1 e F2 = Fatores de escala e execução da fundação b. Método Décourt e Quaresma: Este método avalia a capacidade de carga da estaca com base nos valores de N do ensaio SPT (Standard Penetration Test), podendo tanto ser o SPT tradicional, quanto o SPT-T (SPT com torque). >9 ? @= AB 78 C8 D 7 C 7 F G D, (12) !,E) (,$# 36 onde: > = Resistência dinâmica do solo a cravação >9 = Resistência equivalente para ensaios com torque H = Torque verificado no ensaio SPT-T AB = Capacidade de carga 78 = Tensão de ruptura de ponta C8 = Área da seção transversal da ponta 7 = Atrito lateral unitário C = Área lateral II. ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO A capacidade de carga da estaca pré-moldada de concreto centrifugado corresponde ao menor valor referente à resistência estrutural do concreto armado, correlacionado-a com o valor da resistência do solo que a envolve, veja tabela 2-6. Tabela 2-6 - Características técnicas de estacas centrifugadas (ABMS/ABEF, 2006) Diâmetro (cm) 20 23 26 33 38 42 50 60 70 Carga Max. (kN) 300 400 500 750 900 1150 1700/1800 2300/2500 3000/3300 Peso Esp. Área da Nominal Parede Seção conc. Área da Seção cheia (N/m) (cm) (cm²) (cm²) (cm) (cm) Tipo 660 800 940 1430 1700 2140 2900 3930 5100 6 6 6 7 7 8 9/10 10/11 11/12 264 320 377 572 682 855 1159/1257 1571/1693 2039/2167 314 415 531 655 1134 1385 1963 2827 3848 63 72 82 104 119 132 157 188 220 70 70 70 85 95 105 130 150 175 CA-50A Perímetro Dist. Min. entre eixos Armadura Long. No caso da microestaca, segundo Alonso (ABMS/ABEF, 2006), a carga admissível máxima estrutural é fornecida pela resistência dos materiais que a compõe, com a aplicação de um coeficiente de segurança de no mínimo 2 (dois). Existem dois tipos de microestaca que sediferenciam apenas pela sua resistência característica, que são: 37 • Carga até 500 kN: Com percentual de aço inferior a 6%, o dimensionamento é feito semelhante ao de um pilar de concreto armado; • Carga superior a 500 kN: Com percentual acima de 6%, a capacidade de carga da estaca será somente a capacidade de resistência da armadura, desprezando a contribuição da nata ou argamassa. Na tabela 2-7 apresentam-se as propriedades da estaca raiz, enquanto a tabela 2-8 são mostrados os tipos de microestaca mais utilizadas com a análise entre a capacidade de carga da estaca, o diâmetro da seção transversal e a armadura de aço necessária para o dimensionamento. Tabela 2-7 –Dimensionamento estrutural do concreto da estaca raiz (ABMS/ABEF, 2006) Ø (mm) Área (cm²) Peso (kg/m) 25,00 5,00 4,00 22,00 3,80 3,05 20,00 3,15 2,50 16,00 2,00 1,60 12,50 1,25 1,00 10,00 0,80 0,63 8,00 0,50 0,40 6,30 0,32 0,25 5,00 0,20 0,16 38 Tabela 2-8 - Cargas admissíveis máximas de estacas raiz (ABMS/ABEF, 2006) Diâmetro (mm) Carga (kN) T 1400-1500 A 1300-1400 B 1200-1300 C 1100-1200 D 1000-1100 E 900-1000 F 800-900 G 700-800 H 650-700 I 600-700 J 550-650 L 550-600 M 450-550 N 350-450 O 250-350 P 100 120 150 Q R 150-200 S 100-150 T 0-100 U 200 250 310 410 6Ø 22mm 6Ø 20mm 4Ø 22mm 5Ø 16mm 6Ø 20mm 5Ø 20mm 7Ø 22mm 5Ø 22mm 5Ø 20mm 5Ø 16mm 4Ø 16mm 4Ø 20mm 4 Ø 22mm 3Ø 20mm 250-300 200-250 160 1Ø 25mm 1Ø 16mm 2Ø 22mm 2Ø 20mm 1Ø 20mm 1Ø 12,5mm 3Ø 16mm 3 Ø 20mm 3 Ø 16mm 6Ø 20mm 5Ø 20mm 5Ø 16mm 4Ø 16mm 4Ø 12,5mm 4Ø 12,5mm 4Ø 16mm 4Ø 12,5mm 4Ø 12,5mm Diâmetro (mm) T Carga (kN) A 1400-1500 B 1300-1400 C 1200-1300 D 1100-1200 E 1000-1100 F 900-1000 G 800-900 H 700-800 I 650-700 J 600-700 L 550-650 M 550-600 N 450-550 O 350-450 P 250-350 Q R 250-300 200-250 S 150-200 T 100-150 U 0-100 39 2.1.7 - INTERAÇÃO SOLO-FUNDAÇÃO A análise solo-fundação, para Velloso & Lopes (2004), tem por objetivo possibilitar o dimensionamento estrutural e a escolha da fundação apropriada considerando-se as deformações e os deslocamentos reais da estrutura, bem como seus esforços internos, que podem ser obtidos diretamente pela análise física da interação ou de forma indireta por meio das pressões de contato. Estas pressões, por sua vez dependem das: características das cargas aplicadas, rigidez relativa solo-fundação, propriedades do solo e intensidade da carga. O problema desta interação, para Velloso & Lopes (2004), está basicamente no estado de rigidez da estrutura da fundação, onde quanto mais rígido for o sistema, menores serão os deslocamentos atingidos. Assim sendo seria muito melhor para o sistema de fundação-solo que fossem adotadas soluções combinadas para a estrutura, veja figura 2-12. Figura 2-12 - Estabilidade Global 40 Os problemas intrínsecos a esta relação são basicamente o recalque e a capacidade de carga (carga que pode provocar a ruptura da fundação), que são influenciadas pelas dimensões e pelo posicionamento da fundação, mas dependem principalmente da resistência e da compressibilidade do solo e da posição do nível d’água. A ruptura ocorre quando a tensão de resistência do maciço é inferior à resistência do esforço transferido pela fundação, provocando a destruição de parte da estrutura do solo. A escolha da fundação depende das características do solo, da interação do mesmo com a fundação, considerando-se as características das camadas de solos abaixo da cota de apoio da fundação (figura 2-13), para evitar problemas de instabilidade da fundação. Figura 2-13 - Fundação x Solo (Milititsky et al., 2005) 2.1.8 - TENSÕES E DEFORMAÇÕES Os esforços solicitantes num maciço são proporcionados pela carga da estrutura, pelo seu peso próprio e outras cargas acidentais. Para Pinto (2002), o solo é constituído de camadas aproximadamente horizontais e a tensão vertical (0 #, devido ao peso próprio do solo, resulta do somatório dos efeitos das diversas camadas; ou seja, é o produto do peso especifico do solo pela espessura da camada, resultando num esforço distribuído linearmente por uma área (figura 2-14). 0 IJ (,&) 41 onde: 0 = Tensão vertical devido ao peso próprio do solo = Peso específico da camada de solo IJ = Espessura da camada de solo O cálculo da tensão efetiva (σ’) será efetuado levando em consideração a parcela da pressão neutra (u), ou pressão exercida pela água que se encontra nos vazios do solo, portanto: I" (,)) 0 K 0 + (,-) " onde: u = Pressão neutra – Pressão exercida pela água na camada analisada " = Peso específico da água I" = Altura da coluna de água no maciço Figura 2-14 - Gráfico representativo da distribuição de tensões geostáticas no maciço Onde: Z = Cota de cada camada do maciço NA = Cota da altura do nível d’água 42 As tensões totais atuando em um maciço de solo são o resultado das tensões geostáticas mais o acréscimo de tensão (sobrecarga) devido às construções. No caso da sobrecarga, segundo Pinto (2002), a distribuição dos esforços é transmitida de camada a camada (figura 2-15) e diminui com a profundidade. Para a estimativa do acréscimo de tensões, faz-se o emprego da teoria da elasticidade com algumas modificações sugeridas por vários autores como Boussinesq, Newmark, Love, entre outros. Uma prática corrente para determinar o valor das tensões consiste em considerar a propagação de tensões segundo áreas crescentes com uma inclinação de 30º, conforme a formulação básica proposta por Pinto (2002): 0 =L (,/) =L= M NOPQ onde: 2L = Largura de carregamento; Z = Profundidade requerida; 0R = Tensão de carregamento. Figura 2-15 - Distribuição de tensões (Pinto, 2002) Segundo Alonso (1979), a deformação é um deslocamento específico da estrutura devido a fatores como adensamento e recalque, sendo que o deslocamento dos solos diante dos carregamentos depende da constituição do maciço de solo e do estado momentâneo. 43 Uma forma de mensurar a evolução de deformações da estrutura é partir para o controle e acompanhamento de fissuras, ou seja, utilizar uma técnica ou equipamento que identifique o grau de evolução da abertura da fissura, fazendo esta verificação periodicamente para avaliar o grau de risco à estrutura. Vargas (1978) admite que haja uma relativa proporcionalidade entre tensões e deformações, desde que aplicadas fórmulas da teoria da elasticidade, como modelo de uma simples mola. Entretanto há de se considerar um efeito viscoso da deformação, onde se percebe o amortecimento das deformações, assim que aplicadas as tensões, fazendo com que as deformações sejam inversamente proporcionais às velocidades de aplicação das cargas, desconfigurando a linearidade entre tensões e deformações, pelo menos acima de certo valor das pressões aplicadas. As tensões oriundas das fundações são propagadas no solo, de camada a camada até uma determinada profundidade, com a formação de um bulbo, que a região onde são concentradas as tensões de uma única fundação nas camadas. Estes bulbos de tensões têm uma característica natural de estabilizar-se na camada de solo, porém quando outra estrutura interferir nesta região de concentração de tensões, isto poderá ocasionar problemas na estrutura como visto na figura 2-16. Este problema acontece muito comumente nas grandes cidades pela existência de edificações muito próximas umas das outras e deverá ser previsto no projeto de fundações. Figura 2-16 - Sobreposição de Tensões nas Fundações (Milititsky et al., 2005) 44 2.1.9 - DEFORMAÇÕES (RECALQUE) Recalque, para Velloso & Lopes (2004), é todo deslocamento sofrido por uma estrutura, na sua fundação, e pode acontecer imediatamente após o carregamento e/ou com o decorrer do tempo. Segundo Pinto (2002), o comportamento do solo e a deformação do mesmo perante um carregamento, dependem de sua constituição e do estado do maciço, podendo ser expresso por parâmetros obtidos em ensaios de compressão triaxial e edométrica. O cálculo do recalque de fundações é feito utilizando a equação (19). . .S D .8 D . (,T) .' .8 D . (UV) Onde: . Recalque total .S Recalque imediato .8 Recalque por adensamento primário . Recalque por adensamento secundário .' Recalque por adensamento total O cálculo do recalque imediato (.S ) pode ser efetuado através da teoria da elasticidade, dependendo de variáveis obtidas no ensaio de compressão triaxial como o modulo de defromabilidade (E) e o coeficiente Poisson (ν) expressados pela equação Pinto (2002): .S W 4P X 5 !, + Y = # (U,) onde: 0R = Pressão uniformemente distribuída na superfície; Z= Largura ou diâmetro da área carregada; I= Coeficiente que leva em consideração a forma da superfície carregada e do sistema de aplicação das pressões. 45 Vargas (1978) explica que um maciço de solo pode sofrer recalque imediato quando carregado. Este tipo de recalque ocorre predominante em solos não coesivos (Areias), sem variação do índice de vazios e o mecanismo que predomina é o deslocamento relativo dos grãos com rearranjo das partículas sólidas do maciço. A teoria da elasticidade é utilizada para o cálculo do recalque imediato. O recalque por escoamento lateral ocorre quando há deslocamento das partículas do solo das zonas mais carregadas para as zonas menos solicitadas (Perpendicular ao carregamento). Verifica-se de maneira mais acentuada nos solos não coesivos sob fundações rasa. O recalque por adensamento (.' ) ocorre após um determinado tempo de atuação do carregamento, predominante em solos coesivos (Argilas), ocorrendo com variação de volume. O mecanismo que predomina é a deformação do esqueleto do solo. É calculado pela teoria do adensamento vertical de Terzaghi, que considera a expulsão da água dos vazios do solo. São recalques lentos, seculares, face ao baixo coeficiente de permeabilidade das argilas. “Aplicada uma pressão externa à camada argilosa, toda ela no primeiro momento é transmitida à água intersticial, a qual sob pressão tende a escoar através dos poros do solo. À medida que a água intersticial escoa, a pressão externa vai sendo transferida para o esqueleto dos grãos de solo e este vai deformando, diminuindo o volume dos poros,... Quando toda pressão externa for transferida para os grãos, a água deixa de escoar, pois já não mais estará sob pressão.” (VARGAS, 1978), explicando o processo de adensamento primário. O recalque por adensamento secundário começa a ocorrer após o final de toda drenagem da água, quando as partículas sólidas começam a sofrer as solicitações impostas pelo carregamento e iniciam um processo de deformação física. Não há formulações que sirvam de embasamento para o cálculo destas deformações e poucos pesquisadores da área conseguiram implementar com sucesso seus estudos. 46 As manifestações que mais ocorrem, são os recalques diferenciais, que vão desde o aparecimento de fissuras até o comprometimento da estrutura. A figura 2-17 apresenta as distorções correlacionadas com aos desvios causados às estruturas. Ela subdivide em recalque total, diferencial e distorções, salientando que o recalque total seria o somatório dos recalques imediatos devido a distorções internas do solo e de adensamento devido à dissipação de poropressão em argilas moles e também adensamento devido à fluência do solo após a dissipação do poro-pressão. A figura 2-18 ilustra os danos causados na estrutura pela deformação. Figura 2-17 - Distorções angulares e danos associados (Velloso & Lopes, 2004) 47 Figura 2-18 - Principais modos de deformações: (a) recalques uniformes, (b) recalques diferenciais sem distorção e (c) recalques diferenciais com distorção (Velloso & Lopes, 2004) Para fundações existem limites de deformações que são aceitáveis, em níveis ou ordens de grandeza estabelecidos por vários autores e em diferentes tempos. O problema como descreve Milititsky et al., (2005) é que as regras na maioria dos casos são empíricas e que estes limites recomendados não identificam o dano correspondente, que podem ser divididos em visuais, de usabilidade e estruturais. A tabela 2-9 apresenta um gráfico comparativo entre a abertura de fissuras e os danos associados à estrutura. Tabela 2-9 – Abertura de fissuras e danos associados (Velloso & Lopes, 2004) ABERTURA DA FISSURA (mm) < 0,1 0,1 a 0,3 0,3 a 1 1a2 2a5 5 a 15 15 a 25 > 25 INTENSIDADE DOS DANOS RESIDENCIAL Insignificante Muito Leve Leve Leve a moderada Moderada Moderada a severa Severa a muito severa Muito severa a perigosa COMERCIAL OU PÚBLICO INDUSTRIAL Insignificante Muito Leve Leve Leve a moderada Moderada Moderada a severa Severa a muito severa Insignificante Insignificante Muito leve Muito leve Leve Moderada Moderada a severa Severa a perigosa Severa a perigosa FISSURA < 0,1 a 0,3 0,3 a 5 5 a 25 EFEITO NA ESTRUTURA E USO DO EDIFÍCIO Nenhum Apenas estética com deterioração acelerada do aspecto externo Utilização do edifício será afetada e, no limite superior, a estabilidade pode também estar em risco > 25 Cresce o risco da estrutura tornar-se perigosa 48 Além do recalque devido à carga estática, citam-se entre outras as seguintes causas: Cargas dinâmicas (vibrações, tremores de terra); Operações vizinhas (Abertura de escavações, execução de novas estruturas); Erosão do subsolo; Alterações químicas do solo; Rebaixamento do nível de água. Os prédios de Santos são exemplos de casos de recalque de fundações. Segundo Reis (2000) os fatores que se destacam neste problema são: a rigidez relativa solo-estrutura; a influência recíproca entre elementos de fundações do mesmo prédio e também de prédios vizinhos; etapas de construção de reforço de fundações com mudança de ambiente. 49 2.2 - PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES 2.2.1 - PATOLOGIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL A incidência de manifestações patológicas em edificações é um problema que afeta várias cidades do Brasil e do mundo e gera conflitos de interesses, onde, as verdadeiras causas das manifestações, acabam muitas vezes desconhecidas. “Patologia pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens das anomalias das construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema” (HELENE, 1992). O resultado deste estudo pode ser utilizado para a difusão de conhecimentos técnicos da área que possam desmistificar alguns aspectos devido a desconhecimentos dos profissionais que tem contato com a área. Segundo Logeais (1982), quando se trata de problemas patológicos com ênfase em fundações, estudos comprovam que, a maior parte das anomalias ocorre devido ao desconhecimento das características do solo. Na figura 2-19 observa-se um problema característico de erro na investigação do solo, onde um matacão (volume pequeno de rocha) foi confundido com uma camada inteira rochosa e foi adotada uma solução de fundação inadequada para o perfil de solo. Na medida em que o solo é o meio que vai suportar as cargas, sua identificação e caracterização são essenciais à previsão do seu comportamento. Figura 2-19 - Presença de Matacão no Solo (Milititsky et al., 2005) 50 Os problemas patológicos simples, para Souza & Ripper (1999) são aqueles nos quais o diagnóstico fica bastante evidente, e admite padronização dos procedimentos, enquanto que os problemas complexos não são diagnosticados com mecanismos convencionais e esquemas rotineiros de inspeção, tornando sua terapêutica personalizada e individualizada. As manifestações segundo Gotlieb (ABMS/ABEF, 2006) indicam o mau desempenho de uma fundação e podem ser caracterizadas por uma peça única, com deterioração dos materiais que a compõe ou então, por deformações excessivas, perda de cobrimento mínimo e oxidação das armaduras, esmagamentos, rupturas, fissuras e outras. As manifestações podem se apresentar na obra como um todo, com recalques e desaprumos. Os danos ocasionados por estas manifestações podem ser configuradas como: danos arquitetônicos, funcionais e estruturais. Para Gotlieb (ABMS/ABEF, 2006) as soluções para os problemas de fundações são muito diversificadas e depende principalmente de: tipo de solo; urgência do cliente no prazo de entrega, interferindo apenas em questões financeiras, nível de carregamento; espaço físico disponível para instalação de equipamentos e execução do serviço e as fundações já existentes. 2.2.2 - METODOLOGIA DE ESTUDOS PATOLÓGICOS A metodologia proposta por Cânovas (1988), usada para atuação em problemas patológicos inicia-se com detecção da anomalia através de uma vistoria no local, etapa em que poderão ser utilizados apenas os sentidos humanos e a experiência do profissional ou a utilização de instrumentos técnicos específicos. A partir desta etapa introduz-se ao processo um mecanismo de coleta de um conjunto de informações a respeito do início e da evolução da anomalia até aquele momento, que é designado anamnese. Caso seja necessário, serão feitas verificações complementares, in loco ou em laboratório, com uma possível pesquisa técnica em referências da área específica para incrementar o banco de dados. Na figura 2-20 apresenta-se um fluxograma de etapas para identificação das causas das anomalias por Milititsky et al. (2005). 51 Figura 2-20 - Procedimentos para patologia de fundações (Moura, 2007) Segundo Milititsky et al. (2005) quando verificada a ocorrência de manifestações patológicas deve-se caracterizar suas origens e os mecanismos de degradação. Os conhecimentos básicos de mecânica dos solos, como capacidade de carga e recalques admissíveis, devem ser utilizados para o diagnóstico do problema. Tendo em mãos dados como tipo de fundação, dados referentes à investigação geotécnica do solo, projetos e cálculos de dimensionamento da fundação, poder-se-á fazer uma intervenção na estrutura e recuperála, se possível, de forma a garantir a integridade estrutural e o uso da edificação. 52 Algumas terminologias da área da saúde foram utilizadas neste trabalho e, às vezes, são utilizadas no meio técnico de forma equivocada por muitos profissionais da área de engenharia. Como o público alvo, desta monografia, geralmente não tem muita afinidade e conhecimentos sobre o tema, terminologias e procedimentos foram apresentados no tabela 210, para facilitar a compreensão do assunto. Tabela 2-10 - Definições de termos da área da saúde (apud Moura, 2007) TERMINOLOGIAS DEFINIÇÕES E ESCLARECIMENTOS BÁSICOS PROCEDIMENTOS Conjunto de informações coletadas no local que trata desde o Anamnese início da manifestação até período atual, constando o processo evolutivo e todo apanhado de informações e documentos encontrados que auxiliarão no diagnostico do problema Anomalia Causa Diagnóstico Mecanismo de deterioração Problema patológico propriamente dito como falha ou dano. Conhecido popularmente como patologia, termo erroneamente empregado para anomalia Motivo da anomalia, razão objetiva ou subjetiva que levou a estrutura apresentar danos ou falhas Procedimento onde se verifica a anomalia, as causas e os sintomas, determinando sua origem e o mecanismo de deterioração Processo físico ou químico que induzem a causa Patologia Estudo de manifestações patológicas, sintoma, mecanismos, origens e causas Prognóstico Contextualização sobre a evolução futura de um problema patológico Conjunto de ações destinadas a restituir uma edificação até um estado aceitável Recuperação Reforço Reparo Terapêutica Aumento da capacidade portante da estrutura Correção localizada de problemas patológicos Área que trata da recuperação do problema patológico Através de monitoramento do comportamento de fissuras, trincas, desaprumos, desalinhamentos e outras situações pré-identificadas como problemas em solos expansivos ou colapsíveis (que são situações comuns), pode-se iniciar os estudos do problema. 53 2.2.3 - CAUSAS DAS ANOMALIAS EM FUNDAÇÕES As causas para anomalias em fundação são as mais diversas possíveis, Logeais (1982) cita algumas em seu trabalho como construção de edificações em aterros mal compactados; presença de água principalmente em aterros; perturbações devido a novas construções vizinhas; profundidade insuficiente das fundações; construções em maciços de solos instáveis, como encostas. As anomalias mais freqüentes encontradas em fundação segundo Cânovas (1988), são originadas por: a) Falha ou negligência no processo de investigação geotécnica; b) Fundações Inadequadas: Dimensões das fundações inadequadas ou aumento nas cargas ou sobrecargas previstas em projeto; c) Recalques do Solo: Que podem provocar um estado de fissuração na estrutura podendo levá-la ao colapso. Ex.: torre de Pisa (Itália) e as edificações da cidade de Santos-SP; d) Mudanças nas condições do solo: Umidade relativa do solo ou alteração no nível do lençol freático com a exploração da água subterrânea. O problema com a interação solo-estrutura, segundo Souza & Ripper (1999) é o principal responsável por instabilidade da estrutura, por isso é indispensável conhecer as características do solo. Quando a execução de sondagens é relegada a segundo plano, ou quando os resultados não são corretamente interpretados, a escolha do tipo de fundação fica prejudicada, podendo sofrer recalques , aparecimento de fissuras na estrutura e outros problemas. Vários relatos de acontecimentos demonstram que, a maioria dos problemas patológicos encontrados no Brasil são por falta de uma elaboração correta e minuciosa dos projetos de engenharia, principalmente no que tange à coleta de informações e parâmetros adequados para cada situação de construção. 54 Na área de fundações o problema não é muito diferente. Milititsky et al. (2005) afirmam que a investigação do subsolo pode apresentar vários problemas e pode ser a causa da ocorrência de anomalias em fundações. Os problemas com a investigação do subsolo podem ser desde a simples ausência de investigação, investigação ineficiente, investigação com falhas, até a interpretação errônea dos resultados das sondagens, problema retratado na figura 2-21, onde a profundidade estudado no ensaio de sondagem não reflete a real situação apresentada pela distribuições de tensões pelas camadas do solo. Figura 2-21 - Falha na Investigação do Solo (apud Milititsky et al., 2005) 2.2.4 - PROCEDIMENTOS PARA DIAGNÓSTICO DA ANOMALIA Algumas técnicas são adotadas para a identificação de anomalias e evolução do estado de depreciação da estrutura de fundação, e muitos deles só poderão ser entendidos através de ensaios de campo. Entretanto, para Cânovas (1988), algumas manifestações que acontecem com freqüência, podem ser diagnosticadas apenas com a experiência do profissional habilitado. 55 O diagnóstico para Souza & Ripper (1999) é um processo que consiste em apresentar as origens, as causas e os mecanismos de degradação que a anomalia propicia à estrutura. Com estes novos dados, o profissional pode apontar o prognóstico (que é a previsão da evolução do problema e do desempenho futuro da construção), auxiliando na escolha da conduta a ser adotada para a solução do problema. Para finalizar este processo é definida uma terapêutica adequada para a situação, que pode ser: reparo, reforço ou restauração, além de outras soluções mais drásticas como restrição ao uso da edificação. Os ensaios de investigação do subsolo, tanto para sua identificação como para avaliação de propriedades, são etapas que deveriam anteceder a execução da fundação. Todavia no estado de anomalias são refeitos algumas destas investigações são realizadas pela primeira vez na obra, para subsidiarem o estudo, fornecendo informações detalhadas sobre situação atual física da estrutura de fundação. Entre os ensaios mais importantes estão: a) Investigação tátil-visual: Segundo Pinto (2002), é a verificação de propriedades através do contato direto do profissional com o solo a ser analisado. Esta situação depende principalmente da habilidade e experiência do profissional, sendo uma provável etapa inicial, base para definição de um planejamento de investigação mais consistente. b) Sondagens: São procedimentos de engenharia utilizando equipamentos específicos de perfuração, visando à obtenção de informações do solo como determinação da resistência das camadas, nível do lençol freático, profundidade do perfil rochoso, amostra de jazidas, etc.. Os mais utilizados são: SPT, SPT-T e, internacionalmente utiliza-se o CPT com bastante freqüência. 56 2.2.5 - ENSAIOS PARA INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO O estudo do solo e reconhecimento de suas principais características constitui um prérequisito para projetos de fundações a fim de garantir a segurança. Segundo Schnaid (2000) os projetos geotécnicos são normalmente elaborados a partir de dados obtidos nos ensaios em campo e fazendo-se estimativas dos parâmetros de comportamento dos materiais envolvidos. Atualmente, modernos equipamentos podem ser utilizados para uma melhor investigação do subsolo, garantindo uma melhor precisão de dados sobre o maciço. Milititsky et al. (2005) afirmam que a causa mais freqüente de problemas de fundações está na investigação do subsolo, sendo que os problemas em solos colapsíveis, expansivos e em adensamento podem ter as manifestações patológicas previstas em fase preliminar, desde que realizado um planejamento adequados dasde investigações e que estes sejam diretamente acompanhados por um engenheiro experiente, evitando falhas e interpretação equivocadas dos resultados. Os métodos de investigação mais utilizados, segundo Pinto (2002) são: a) Trincheiras: São valas longas com profundidade máxima de 2 metros, para uma investigação linear das primeiras camadas do terreno, em situações específicas. b) Sondagem a trado: As sondagens a trado são efetuadas com uma ferramenta chamada trado concha, com diâmetro de 75 mm, 100 mm e 150 mm, podendo ser usados outros diâmetros. Outro tipo de trado usual é o helicoidal. Estas sondagens são executadas em solos argilosos ou arenosos até atingir uma profundidade, que é limitada pelo nível de água ou natureza do terreno. São utilizadas para coletas de amostras deformadas, identificação do perfil do terreno, determinação do N.A, e servem como ferramenta auxiliar de outros tipos de sondagem e para a execução de furos em ensaios especiais, como permeabilidade e palheta. 57 c) Sondagem à Percussão (figura 2-22): Estas sondagens são as mais freqüentes na engenharia e usualmente executadas com o objetivo de: • Determinar o perfil geológico das camadas do subsolo; • Determinar a capacidade de carga das diferentes camadas do subsolo; • Coletar amostras de solo; • Determinar o nível do lençol freático; • Determinar a compacidade ou consistência das camadas do subsolo Segundo a NBR6448 (2001) o Standard Penetration Test (ensaio de penetração padrão) tem por objetivo determinar uma carga dinâmica (NSPT) com a cravação de um amostrador padrão, no solo, através de furo de escavação devido à queda de um corpo livre de massa 65 kg e altura de queda igual a 75 cm. Durante o ensaio, anota-se o número de golpes do amostrador padrão, necessários para a penetração 75 cm, sendo avaliado apenas os últimos 30 cm. Figura 2-22 - Execução do ensaio de sondagem a percussão 58 d) Sondagens Rotativas: Estas sondagens são as mais freqüentes na engenharia e usualmente executadas para: • Identificar a profundidade em que se encontra o embasamento rochoso; • O tipo ou os tipos de rocha e seu estado de sanidade e fraturas; • Implantação de uma fundação ou de tirantes; • Obtenção de poços para captação de águas; • Possibilitar injeção de cimento ou de outros materiais em fraturas que podem ocorrer nos maciços rochosos em profundidade. Na figura 2-23 são mostrados os equipamentos utilizados na sondagem rotativa. Figura 2-23 - Equipamentos para execução de sondagens rotativas (Diminsky) 59 e) Sondagens Mistas: São aquelas executadas por sondagem à percussão e por meio de sondagem rotativa, no trecho onde for inoperante o sistema à percussão, face à impenetrabilidade no terreno prospectado. Os dois métodos são utilizados alternadamente, de acordo com a natureza do terreno atravessado, até ser atingida a cota do estudo e/ou critérios estabelecidos em especificação para sua paralisação. Sua execução é recomendada, dentre outras em: Terrenos com presença de blocos de rocha e de matacões; Área de tálus (matacões erráticos em maciços terrosos); Área de concreções lateríticas; Área de rejeito de pedreira; Área de bota fora, etc.. f) SPT-T: Executado logo após o término do SPT, o SPT-T, “Standard Penetration Test whit Torque measurements” visa determinar a intensidade do torque necessário para vencer a aderência do amostrador padrão com o solo que o envolve. Para este ensaio, utiliza-se um instrumento denominado torquímetro (figura 2-24) fixo à haste do amostrador, que medirá o torque máximo (Tmáx) e o torque residual (Tres) (TOURRUCO 2004). Figura 2-24 - Utilização do torquímetro no ensaio SPT-T (Tourruco, 2004) 60 g) CPT: Consiste na cravação contínua, no terreno, de uma ponteira cônica a uma velocidade aproximada de 10 mm/s, usando equipamento hidráulico. Considerado um dos mais importantes ensaios de investigação do subsolo no mundo (DIMINSKI). A maior característica benéfica do ensaio é que o cone de penetração é semelhante a uma estaca pré-moldada, servindo de modelo de ensaio. Os resultados do CPT fornecem, através de relações empíricas, o cálculo da capacidade de carga da estaca, além de definir o perfil do solo, e propriedades do solo como densidade, ângulo interno e coesão (GEO IN SITU). Figura 2-25 - Equipamentos para execução do CPT (Diminski) 2.2.6 - PROVAS DE CARGA Existem outros ensaios de campo que podem auxiliar no diagnóstico e prognóstico e que são utilizados para verificação real do desempenho da estrutura, que são as provas de carga estática e dinâmica (figura 2-26 - ensaio vertical), também utilizado como fonte de dados para a terapêutica do problema. Segundo ABMS/ABEF (2006) a prova de carga é destinada a estudar fundações diretas ou profundas e consiste, basicamente, em verificar as condições da fundação e a interação solo-fundação. 61 Figura 2-26 - Prova de carga Vertical (disponível em http://www.insitu.com.br) Segundo Medeiros (2005), a melhoria do projeto e processo executivo de fundações em estacas moldadas in loco está relacionado à realização de ensaios que comprovem a capacidade de carga e a integridade da peça. Segundo a engenheira Gisleine Campos (MEDEIROS, 2005), os ensaios são muito importantes, principalmente se forem realizados em seqüência, pois possibilitam a comparação de alguns dados e o complemento de dados de um ensaio para o outro, com relação à prova de carga estática, e dinâmica. a) Prova de carga estática (figura 2-27): Ensaio em verdadeira grandeza, que permite avaliar a capacidade de carga de uma fundação pela simulação de carregamentos. É executada com macaco hidráulico, bomba, manômetro e célula de carga, através do qual são aplicadas etapas de carregamentos, registrando-se os deslocamentos a cada estágio. O principal dado obtido é a curva carga x recalque. Figura 2-27 - Prova de carga estática (Medeiros, 2005) 62 b) Prova de carga dinâmica (figura 2-28): Aplicada com golpes em um sistema de percussão, determina a carga de ruptura da interação fundação-solo. São usados 2 (dois) pares de sensores, onde um gera tensão proporcional a deformação sofrida e o outro gera tensão proporcional à aceleração das partículas, baseados na teoria da onda. É obtido o valor da resistência estática e o valor da capacidade de carga, é mais rápido e possui o custo mais baixo que a prova estática. Figura 2-28 - Prova de carga dinâmica (Medeiros, 2005) Para Milititsky et al. (2005), o custo mais baixo da prova de carga dinâmica e o reduzido prazo de execução, resultou numa procura muito maior deste procedimento, constituindo-o como uma ferramenta valiosa no processo de verificação da qualidade de fundações profundas. 63 2.2.7 - LAUDO TÉCNICO DE PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES O uso de relatórios visa simplificar um processo longo com muitas etapas, impondo transparência e facilidade no entendimento e difusão de informações sobre um determinado tema. Neste trabalho foi utilizado um relatório padronizado (figura2-29) para apresentação da patologia de fundações, facilitando a apresentação e a análise de anomalias encontradas. Este relatório foi elaborado utilizando o sistema proposto por Helene (1992) e modificado para este trabalho pela abordagem de Milititsky et al. (2005) já apresentados nos tópicos anteriores. Figura 2-29 - Laudo de patologia de fundações 64 2.3 - RECUPERAÇÃO DE FUNDAÇÕES Os reforços podem ser permanentes ou provisórios. No primeiro caso, são utilizados devido ao mau desempenho das fundações ou aumento de carga, atuando como complemento à capacidade de carga. O reforço provisório é usado quando a estrutura não poderá manter-se integra até o fim da recuperação. Existem várias formas de realizar o reforço ABMS/ABEF (2006): • Reparo do material: Quando o material está em fase de degradação, pode-se fazer a recuperação ou até mesmo reforçá-lo; • Enrijecimento da estrutura: Para evitar recalques diferenciais, pode-se utilizar uma técnica de enrijecimento da fundação com a interligação das fundações com vigas; • Aumento da Área de Apoio: Quando a área de transferência da fundação for inadequada, pode-se utilizar esta técnica para solucionar os problemas, inclusive com soluções mistas como o aumento da base da fundação e o uso de estacas vinculadas à base desta fundação. Outros tipos de reforços podem ser utilizados para recuperação de fundação como: Utilização de estacas raiz, estaca prensada, tubulões, estacas mega, sapatas adicionais, porém com restrições peculiares a cada um, como por exemplo, restrição de espaço para trabalhabilidade, espaço físico para locação de equipamentos, problemas de vibrações. Uma forma relativamente nova de efetuar o reforço é a utilização de técnicas como injeções de cimento (Jet grounting) para melhoria do solo, no que tange às propriedades de resistência e compressibilidade dos solos. 65 3 - ALGUMAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM FUNDAÇÕES Neste item são apresentados alguns exemplos de manifestações patológicas. 3.1 - APRESENTAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES a) TORRE DE PISA Figura 3-1 - Recalque da torre de Pisa. A Torre de Pisa, figura 3-1, teve sua construção iniciada em 1173, e terminada em 1350. Apresentou recalques diferenciais que a levaram a inclinar-se, numa taxa de inclinação de 1,2mm por ano. Alguns procedimentos terapêuticos foram feitos para solucionar o problema no curso da história, mas somente em 1997 foi utilizada uma técnica de sondagem especial, retirando o solo abaixo do trecho que havia recalcado menos, fazendo com que apenas esta região recalcasse, diminuindo o desaprumo da torre, até um nível de segurança de utilização da estrutura. Foi feita a estabilização do solo com uma técnica moderna de congelamento e injeção de caldas de cimento, tudo de forma controlada e monitorada. (http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/deslocament o.htm). 66 Figura 3-2 - Vista da deformação nas camadas do perfil Segundo Terracina (LAMBE & WHITMAN, 1979) o lado sul da torre sofreu recalque de quase 3 (três) metros, resultando num recalque diferencial, com a outra região, de 1,8 m, representando, para época, uma situação de instabilidade muito perigosa. Utilizou-se uma técnica de equilíbrio físico com pesos para manter a estabilidade da torre, no processo de recuperação e reforço da torre. Figura 3-3 - Utilização de peso para equilíbrio da torre no processo de recuperação 67 b) EDIFICAÇÕES EM SANTOS No Brasil, um exemplo de manifestações patológicas em fundações são os prédios da orla santista, figura 3-4, que apresentaram deslocamento diferencial dos apoios diferencialmente, inclinando as estruturas. Várias propostas de correção foram feitas para reverter à situação. A origem do problema foi a deficiência do solo de Santos, formado por uma camada superficial de areia sobre uma extensa camada de solo argiloso, muito compressível. Como as fundações dos edifícios eram sapatas, o sistema fundação-solo não foi adequado e muitos (cerca de cem) destes prédios passaram a inclinar-se. (http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/deslocament o.htm). Figura 3-4 - Recalque das edificações em Santos (Milititsky et al., 2005). 68 Os problemas dos deslocamentos das edificações agravaram-se com a construção de novos empreendimentos que, devido ao carregamento imposto ao solo, influenciaram outras fundações (superposição de bulbo de pressões), interferindo no equilíbrio físico do sistema solo-estrutura. No caso das edificações em Santos-SP houve um processo de recalque gradual, ou seja, o aumento do recalque com o passar do tempo, e atingirem uma situação com riscos eminentes de ruína, (figura 3-5). O problema consiste em fazer a edificação retornar ao prumo e este procedimento poderia ser executado com a mesma técnica utilizada na Torre de Pisa. Entretanto, o custo para estabilizar o solo, neste caso, seria muito elevado. Uma solução apreciável para a recuperação da estrutura seria trazer a estrutura ao prumo através de “macaqueamento” com a realização do reforço da fundação, executando uma placa de concreto sob partes da fundação ou sob a edificação como um todo, aumentando a área de transferência de cargas para o solo e diminuindo, portanto, a solicitação ao mesmo (GRIGOLI). Figura 3-5 - Mecanismo de recalque diferencial (Grigoli) 69 c) PALÁCIO DA LIBERDADE – MINAS GERAIS (ABMS, 1986) A edificação da sede do governo do estado de Minas Gerais (figura 3-6), por volta dos anos 80, apresentou recalque diferencial das suas fundações com presença de trincas e fissuras. O problema ocorreu devido à execução da fundação em sapata sobre solo argiloso poroso. Figura 3-6 -Palácio da Liberdade (apud http://www.panoramio.com) O prédio tem estrutura mural, ou seja, as cargas da edificação são distribuídas pelas alvenarias, que no caso são de tijolo maciço e o telhado é composto por perfis metálicos. No processo de levantamento de informações da obra foram cadastradas as instalações hidráulicas com um minucioso exame das mesmas. Ensaios realizados in loco mostraram que as fundações existentes eram em sapatas apoiadas sobre blocos de concreto ciclópico de dimensões variáveis e irregulares, com 5 estacas de 4 (quatro) metros de comprimento designadas como estacas de compactação. Foi verificado que o nível de água estava a 13,50m de profundidade. O diagnóstico da anomalia indicou que assim que as fundações receberam carregamento iniciou-se um processo de adensamento da argila e essas deformações do maciço de solo geram recalques de mesma intensidade nas fundações. Por um período longo, não surgiu problema algum, pois o recalque ainda era compatível com os valores admissíveis da estrutura. As fissuras na alvenaria apareceram após um longo período. 70 O reforço adotado para o problema viabilizou a transmissão das cargas a horizontes mais profundos do solo, transformando as fundações superficiais em fundações profundas, através de estacas cravadas por reação, microestacas e/ou tubulões. A solução em tubulões foi descartada, pois implicaria principalmente em escavações demasiadamente grandes, próximo à fundação trazendo risco de colapso da estrutura. A solução em estaca cravada não seria uma boa solução, pois apresentaria capacidade de carga insuficiente e falsa “nega”.Optou-se, então, pelo reforço com estaca raiz. 71 d) OCORRÊNCIA DE MATACÕES (MILITITSKY ET AL., 2005) A presença de matacões são problemas que ocorrem com certa freqüência em obras de fundação. Matacões são blocos de rochas que ainda não sofreram a decomposição completa, conseqüência de intemperismo diferencial da rocha. A conseqüência deste problema é a adoção de uma fundação inadequada (figura 3-7) e, em muitos casos, levam a situações de recalques e fissuras das estruturas da edificação. Figura 3-7 - Fundação assentada em bloco de rocha Ao executar um ensaio de sondagem para o reconhecimento do perfil do solo, poderá ocorrer da locação do furo coincidir com um bloco de rocha; estes casos estão previstos na NBR8036/1983. Quando o matacão possui dimensões muito grandes o furo deve ser deslocado conforme NBR8036/1983. Caso acusar rocha novamente, deve-se aumentar a distância para realização de outro furo e se houver outra coincidência e outro matacão for encontrado a interpretação do perfil será feita erroneamente e a da escolha de fundação e dimensionamento estarão prejudicados (figura 3-8). Esta situação também pode ocorrer por falta de investigações suficientes. 72 Figura 3-8 - Ilustração do perfil real e do perfil adotado por interpretação equivocada Os matacões têm que ser ultrapassados e as fundações, assentadas em uma camada consistente. No caso de fundações diretas, isto se torna um grande problema, pois sua execução será dificultada, geralmente com a remoção de parte do bloco; nas fundações profundas, a presença de matacões pode resultar em elementos apoiados de forma não segura. 73 e) SOLOS EXPANSIVOS A expansibilidade é um grande problema do Brasil, em regiões como a Bahia, pois existem vários casos de patologias de fundações registradas com este problema (figura 3-9), principalmente em casas de baixa renda e em estradas de rodagem. Figura 3-9 - Trinca em alvenaria devido à expansão do solo (disponível em www.conder.ba.gov.br) A expansibilidade pode ser compreendida pela pressão de expansão e variação volumétrica do maciço terroso, devido à presença de argilo-minerais. Estruturas apoiadas sobre solos expansivos podem estar sujeitas a uma série de ações indesejáveis, resultantes das expansões durante o umedecimento, bem como das variações de volumes associados, que podem provocar o levantamento ou deslocamento das estruturas (OLIVEIRA, JESUS, & MIRANDA). O controle de variações de umidade não é simples, pois são inúmeros os fatores que provocam estas variações: variações do lençol freático; características pluviométricas; presença de vegetação. Para reduzir as anomalias, não se devem atacar as causas propriamente ditas e sim trabalhar a fundação para reduzir ou evitar estes efeitos. 74 Os procedimentos cabíveis para evitar as anomalias segundo Peck et al. (MILITITSKY ET AL., 2005) são: - Isolar a estrutura dos solos expansivos com a utilização de outros materiais como isopor ou compensados, minimizando os efeitos de compressão dos materiais componentes da fundação. - No caso de estacas, dimensioná-las com armadura para suportar esforços de tração ao longo do fuste, além de garantir a rigidez e resistência da superestrutura para absorver tais esforços; - Eliminar os efeitos de expansibilidade com técnicas de estabilização do solo através de adições de cimentantes alcalinos ou da substituição de parte da camada do solo expansivo por um aterro superficial com material inerte, cujo peso equilibraria as forças de expansão. 75 3.2 - UTILIZAÇÃO DO LAUDO TÉCNICO PARA APRESENTAÇÃO DE UMA ANOMALIA ANOMALIA ERRO DE INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA INFORMAÇÕES PERTINENTES APRESENTAÇÃO No processo de sondagem e VISUAL reconhecimento do solo há um risco de ocorrer falhas tanto na identificação de blocos de rochas, como na interpretação das camadas do perfil. CAUSAS Má interpretação dos resultados dos ensaios de sondagem e reconhecimento das camadas ou falta de investigação suficiente SINTOMAS DIAGNÓSTICO Deslocamentos relativos à fundação que fora executada sobre o bloco de rocha, com aparecimento de fissuras e até mesmo risco de colapso da edificação PROGNÓSTICO A partir do erro no processo de investigação pode-se iniciar uma série de falhas, mas principalmente a escolha equivocada do tipo de fundação OBSERVAÇÕES È um problema muito comum e pode ocorrer por simples coincidência no processo de sondagem, visto que esta análise é feita de fora para dentro e as tecnologias avançadas com boa precisão ainda são inacessíveis para diversos setores da construção civil Executar reforço da fundação com uso de estacas desde que estas TERAPÊUTICA ultrapassem o bloco e seja considerada apenas a contribuição das propriedades abaixo do matacão 76 4 - ESTUDO DE CASO 4.1 - INFORMAÇÕES GERAIS O estudo de caso apresentado, refere-se a uma obra de construção de um galpão que servirá como hipermercado na cidade de Salvador-BA. O empreendimento pertence a um grupo, cuja identificação não será feita nesta monografi, para resgardar as partes envolvidas. A empresa construtora contratada pelo grupo é de grande porte técnico-financeiro com uma equipe muito bem qualificada e que se deparou com um problema durante a execução das fundações. A escolha do tipo de fundação partiu de estudos solicitados pela empresa construtora, que contratou uma empresa de sondagem para investigação do subsolo, que foi acompanhada por um profissional especialista (engenheiro geotécnico) integrante do grupo técnico da construção do galpão, ocorreu, entretanto uma falha do ponto de vista geotécnico, considerada como imprevisto. Para a solução do problema, foi contratada um empresa especializada em serviços geotécnicos e reforços estruturais que, do ponto de vista técnico, resolveu satisfatoriamente o problema. 4.2 - A ANOMALIA E O DIAGNÓSTICO O tipo de fundação escolhida para o projeto do empreendimento foi estaca prémoldada de concreto centrifugado, vazada (SCAC), conforme mostrado na figura 4-1. A cravação foi realizada por percussão (figura 4-7), porém no decorrer do processo de cravação, verificou-se que algumas estacas não penetraram até a profundidade especificada em projeto. Esta situação foi analisada e condenada pelo engenheiro geotécnico contratado pela construtora, o qual desenvolveu estudos sobre o caso e definiu o reforço a ser adotado, sugerindo a contratação de uma empresa especializa para a execução do serviço. O fluxograma da figura 4-2 mostra a situação e os passos para resolução do problema. 77 Figura 4-1 - Ilustração da estaca SCAC de mesmo modelo utilizada no empreendimento Figura 4-2 - Fluxograma de empresas e serviços contratados 78 Fazendo a anamnese da situação, a empresa especializada contratada conseguiu relatórios técnicos de caráter estrutural e alguns relatórios de ensaios de sondagem executados pela construtora, além das informações obtidas através de reuniões periódicas junto ao corpo técnico da referida construtora. Alguns ensaios foram realizados pela empresa especializada para a análise de parâmetros e obtenção de propriedades pertinentes ao reforço que fora adotado. Alguns dos relatórios estão apresentados adiante e serviram de base para a determinação das causas e do diagnóstico do problema aqui exposto. Por meio de informações obtidas para a elaboração do presente trabalho, sabe-se que a construtora tinha em mãos os resultados de sondagem a percussão realizados inicialmente. Sabe-se que a cravação era interrompido quando havia alcançado uma camada muito resistente do solo e esta camada poderia ser rocha ou não. Com base nestes resultados foi definido que a fundação seria estaca tipo SCAC, apoiada na rocha. De fato esta solução obteve algum êxito, todavia não em todas as estacas, conduzindo à reprovação da fundação por parte do engenheiro geotécnico que prestava consultoria à construtora. Algumas estacas de uma região do terreno não conseguiram ultrapassar a camada de solo e ficara com a capacidade de carga comprometida devido à área lateral não cravada. A figura 4-3 ilustra a fundação do empreendimento com utilização de reforço. Figura 4-3 - Representação da estaca reforçada do empreendimento 79 Posteriormente, foi comprovado que em alguns setores a camada encontrada era rocha mesmo assim, a cravação não obteve sucesso no critério profundidade, comprometendo a capacidade de carga por atrito lateral (fuste). Deste modo o engenheiro geotécnico definiu, de antemão, que iria ter de reforçar a fundação e também definiu que o reforço seria executado com o uso de microestaca trabalhando como complemento da capacidade de carga perdida pela estaca; ou seja, a microestaca trabalharia engastada na rocha e transferiria parte da carga da estaca para o perfil rochoso. Para o desenvolvimento deste serviço, o engenheiro propôs a contratação de uma empresa especializada nesse tipo de serviço. A causa detectada para o problema, e que foi identificada neste trabalho, foi a interpretação equivocada do perfil da sondagem e, como conseqüência, a capacidade de carga da fundação inadequada para as solicitações da superestrutura.A figura 4.4 apresenta um esquema ilustrativo do problema até o procedimento de reforço adotado. Figura 4-4 - Utilização de reforço na situação do empreendimento 80 4.3 - A TERAPÊUTICA A solução adotada para reforço foi determinada a partir de reuniões da construtora com o engenheiro geotécnico e com a empresa especializada. Decidiu-se pela utilização de microestaca executada por dentro da estaca SCAC e engastando na rocha, para complementar o desempenho estrutural da estaca vazada de concreto. Sabe-se que parte dos novos ensaios, feitos pela empresa especializada, foram executados internamente através da estaca vazada de concreto. Nas reuniões entre a construtora e a empresa especializada surgiram várias propostas de terapêutica para a situação: inicialmente pensou-se que as estacas tinham atingido a nega no embasamento rochoso e a solução seria utilização de tubo PVC e um feixe de barras de aço, aumentando a capacidade portante da estaca com a aplicação da calda por gravidade. A segunda alternativa proposta após a verificação da existência de uma camada de solo intermediária entre a camada rochosa e a cota de cravação alcançada da estaca. Para este caso, sugeriu-se a utilização de tubo Schedule em lugar do feixe de barras, e a calda injetada a alta pressão. A última alternativa foi semelhante à segunda alternativa, todavia a calda seria injetada por gravidade. Segundo o relatório fornecido pela empresa especializada, o dimensionamento geométrico considerou engastamento da microestaca na rocha e a predominância da resistência de ponta obtida através da transferência das cargas verticais nos blocos para a ponta das estacas engastadas no embasamento. O referido relatório afirma que, segundo a NBR6122/1996, o atrito lateral poderia ser desprezado desde que fosse garantido o engastamento da estaca injetada de no mínimo 3 (três) vezes o diâmetro da estaca, dentro da rocha. Além dos ensaios de sondagem a percussão, foram executados ensaios de sondagem rotativa, configurando sondagem mista, com a finalidade de caracterização das camadas do perfil e obtenção de propriedades do solo e, também, buscando identificar a profundidade da camada de rocha que serviu de base para o reforço. A seguir, apresenta-se um dos boletins de sondagem a percussão (figura 4-5), feito pela empresa especializada. Pode-se verificar através destes boletins que não houve a constatação da camada de rocha no perfil, confirmando que houve faltade precisão por parte dos dados obtidos nas sondagens iniciais. 81 Figura 4-5 - Resultado do ensaio de sondagem no empreendimento 82 4.4 - EXECUÇÃO DO REFORÇO A perfuração foi executada internamente (na estaca SCAC) até alcançar a camada de rocha, utilizando uma perfuratriz, a seco (com ar comprimido), com profundidades variadas, de acordo com as propriedades da rocha. Normalmente era perfurado derca de 1 (um) metro dentro da rocha, onde observou características de rochas sãs. Foram perfuradas as estacas que apresentaram profundidades entre 1,98 m e 4,30 m, prosseguindo até uma profundidade média de 5,50 m. Houve um caso em que foram perfurados 7,00 m e não foi encontrada a camada de rocha. A figura 4-6 ilustra o processo de perfuração do solo com perfuratriz, até alcançar a camada de solo. Figura 4-6 - Perfuração do solo 83 O sistema utilizado para cravação da estaca foi à percussão, veja ilustração abaixo. Como já foi abordado, não obteve êxito em parte de seus objetivos, pode-se verificar na figura abaixo (meramente ilustrativa) que uma parte da estaca fica externamente ao solo, o que é normal (haverá o arrasamento destas pontas), porém no caso da execução do empreendimento estudado grandes comprimentos da estaca ficaram expostos. Para a correção do problema relatado, foi necessária a aplicação de um sistema de reforço permanente e de aumento do desempenho estrutural da fundação, já que parte da capacidade portante da estrutura de fundação ficara prejudicada pela anomalia. Figura 4-7 - Cravação de SCAC à percussão A alternativa inicial proposta pela empresa especializada fora microestaca constituída por um feixe de três barras de aço CA-50 ∅=20 mm, fixados a um tubo (tipo manchete) de PVC com diâmetro de 32 mm. Os pinos seriam instalados em furos executados com uma perfuratriz roto-pneumática no interior de algumas estacas pré-moldadas de concreto, que tiveram a cravação interrompida sob a suspeita da presença de camada rochosa. O reforço consistia em perfurar 1m de profundidade na camada rochosa abaixo da cota de interrupção das cravações e o posterior engastamento dos pinos, que seriam incorporados às estacas formando um único elemento de fundação. 84 A função do tubo de PVC consistia, inicialmente, na limpeza do furo executado pela perfuratriz e, logo em seguida, na injeção por gravidade de nata de cimento até a superfície do furo. Esta opção, porém, foi descartada devido à descoberta de uma camada de solo entre a rocha e a cota de nega da estaca, conforma já relatado. A solução proposta foi modificada através de reuniões internas, ficando definida, por sugestão da empresa especializada, a substituição do feixe de barras por um tubo manchete de aço Schedule 80 ∅=3” e armadura complementar interna de 4 ∅25 mm em aço CA-50. O tubo manchete compreende o trecho que envolve o topo da estaca cravada até a extremidade engastada na rocha e foi preenchido através de injeção por gravidade de cimento (fator a/c=0,5). Um esquema mostrando a utilização de microestaca com tubo Schedule conforme a solução adotada, é apresentado na figura 4-8. Figura 4-8 - Esquema de execução de microestaca com tubo Schedule 80 85 O sistema proposto, (estaca de concreto vazada com reforço em microestaca), garante uma rigidez maior flexional à estrutura de concreto armado da fundação, visto que a coroa circular da estaca pré-moldada foi preenchida pela microestaca e argamassa, tornando a estaca “maciça”. 4.5 - O PROGNÓSTICO E AS OBSERVAÇÕES A solução construtiva proposta pela empresa especializada foi executada com sucesso em todas as estacas que apresentaram a anomalia abordada. Do ponto de vista técnico, foram executados os cálculos de capacidade de carga da estaca vazada, considerando que o comprimento adotado em projeto, foi executado. Através de comparação de cargas, pôde-se verificar a parcela de resistência por atrito lateral perdida devido a não-cravação da estaca por completo. Partindo desses dados, foram dimensionadas as microestacas e suas propriedades para este caso especificamente, considerando apenas a resistência de ponta e desconsiderando a contribuição do fuste (figura 4-9). Figura 4-9 - Relação entre a carga da estaca de concreto e do reforço com microestaca 86 4.6 - LAUDO TÉCNICO ESTUDO DE CASO - HIPERMERCADO ANOMALIA ERRO NA INTERPRETAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA INFORMAÇÕES PERTINENTES APRESENTAÇÃO Empreendimento implementado com VISUAL fundações em estacas de concreto centrifugado vazado; Havia uma equipe preparada tecnicamente, com um especialista prestando consultoria no campo da engenharia geotécnica; Ocorreu problema com a execução da cravação das estacas de concreto e uma empresa especializada foi contratada para solucionar o problema CAUSAS Ocorreu falha na interpretação dos resultados da investigação geotécnica por parte da equipe de empresa construtora o que resultou na falha do processo de cravação das estacas de concreto SINTOMAS DIAGNÓSTICO As estacas de concreto não alcançaram o comprimento requerido pelo projeto em uma região da área construída, implicando na reprovação técnica do sistema solo-estrutura PROGNÓSTICO Foram executados os cálculos de capacidade de carga da estaca vazada considerando a perda da capacidade de carga por atrito lateral devido a não-cravação e dimensionou-se a microestaca para complementar esta capacidade, que neste caso foi considerado apenas contribuição da resistência de ponta da microestaca OBSERVAÇÕES Na prospecção do subsolo foi encontrada uma camada de solo muito rígida, antes da camada de rocha, o que dificultou a continuação do ensaio. A empresa continuou o processo de cravação, mesmo após verificar a anomalia nos primeiros casos. Os pilares que apresentaram anomalias foram: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P7A, P8, P158, P159, P160, com blocos compostos de 2 (duas) estacas por pilar Foi utilizada uma solução em microestaca que fora executada na parte interna da estaca vazada, com a finalidade de complementar a TERAPÊUTICA capacidade da mesma interagindo como ponte de distribuição da carga oriunda da SCAC. A microestaca fora dimensionada desprezando sua contribuição de carga lateral. 87 5 - CONCLUSÕES Patologia de fundações é um tema recente, principalmente no Brasil, com poucas publicações na área técnica e com uma significativa importância para criação de novas áreas e tecnologias na análise de problemas intrínsecos à estrutura de fundação. O presente trabalho abordou teorias básicas de mecânica dos solos e fundações, que servem de base para o entendimento dos problemas em fundações, bem como suas causas. Para tal, foram apresentados termos e procedimentos específicos da área da medicina, como anamnese, diagnóstico, etc., correlacionando-os à engenharia civil e geotécnica, em casos reais e clássicos de problemas patológicos geotécnicos. Por fim foi feita uma apresentação de um caso de patologia de fundação em estaca, focando-o para a área de patologia e resumindo-o em um laudo de manifestações patológicas. A partir do apresentado no escopo do trabalho pode-se concluir que: Existem inúmeros problemas patológicos em fundações, muitos já foram estudados por especialistas da área de geotecnia, porém não há a propagação destes conhecimentos específicos; As anomalias são geralmente conhecidas e as soluções são de fácil acesso mas em geral, com elevado custo. No entanto, a melhor solução é garantir a qualidade do empreendimento desde o seu início, sendo este procedimento mais seguro e economicamente mais viável; A correlação entre conceitos da área da saúde com a área de engenharia civil pode auxiliar nos procedimentos de diagnósticos de anomalias e nos processos de terapêuticas no campo de engenharia; É possível utilizar microestaca com capacidade de carga apenas de ponta, desconsiderando o efeito lateral, desde que a microestaca seja dimensionada e reforçada (se necessário) para o caso, e que a resistência do embasamento seja compatível com as características desta estaca de pequeno diâmetro; 88 A microestaca pode ser locada internamente numa estaca vazada como reforço, garantindo a distribuição de esforços da estaca e complementando a capacidade de carga, além de aumentar a rigidez flexional da estaca vazada; A investigação do solo bem feita e criteriosa, é fundamental para a definição das fundações adequadas, evitando custos adicionais e atrasos no cronograma da obra; Existe um moderno campo dentro da engenharia, a patologia de construção, falta o incentivo, novas pesquisas na área e o investimento das universidades e institutos tecnológicos que possibilitem a difusão do tema e a abordagem do mesmo na graduação, com mais ênfase. 89 6 - REFERÊNCIAS 1. 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