A NATURALIZAÇÃO DOS EDUCADORES FRENTE AOS PROBLEMAS ETNICORRACIAIS, A DISCRIMINAÇÃO E A DESIGUALDADE RACIAL Marcos silva da Silveira ¹ Veroni Salete Del Ré² RESUMO Este artigo é o resultado de estudos, pesquisas e reflexões, do dia a dia de educadores, acerca de ações sobre a Lei 10639/03 e, com vistas a elaborar práticas, subsidiando os (as) Trabalhadores em Educação, em sala de aula e fora dela, a construir e reconstruir conceitos, deixando assim de ser um mero reprodutor de conteúdos e de ideologias, possibilitando aos educando afro-descendentes o resgate de sua identidade étnico respeitando a diversidade étnica, a história e a cultura negra no Brasil. Ensinar a História e a Cultura Africana e Afro Brasileira, não é mais uma questão de vontade pessoal e de interesse particular, mas sim, uma questão curricular de caráter obrigatório que envolve toda a comunidade escolar, não apenas como instrumento de orientação para o combate a discriminação, mas também, como Leis Afirmativas, no sentido de que reconhecem a escola como um espaço de formação de cidadãos e afirmam a relevância de que a escola deve promover a necessária valorização das matrizes culturais que fizeram do Brasil um país rico, múltiplo e plural que somos. Para avançar na direção da constituição de relações sociais justas e igualitárias, a educação, necessariamente necessita desvelar e superar as ideologias de dominação fundadoras da realidade brasileira, entre elas, a ideologia de dominação racial. ¹ Artigo orientado pelo Profº. Drº. Marcos Silva da Silveira, da Universidade Federal do Paraná. [email protected] ² Professora de História do Colégio Estadual Santo Agostinho – Ensino Fundamental e Médio. Curitiba – PR. PDE 2009. [email protected] 2 ABSTRACT This article is the result of studies, research and reflections, the daily lives of educators, about actions on the Law 10639/03 and Affirmative Action, with a view to developing practical, subsidizing (as) Education Workers in room classroom and beyond, to construct and reconstruct concepts, hence no longer a mere player content and ideologies, enabling educating african descent the rescue of his ethnic identity while respecting the ethnic diversity, history and black culture in Brazil. Teaching the History and Culture African and Afro Brazilian, is no longer a matter of personal will and of particular interest, but rather a question of mandatory curriculum that involves the entire school community, not only as a guiding tool for combating discrimination But, like Affirmative Acts, in the sense that recognize the school as a training citizens and affirm the importance that schools should promote the necessary appreciation of the cultural matrix that made Brazil a rich country, multiple and plural are. To move toward the establishment of fair and equal social relations, education, necessarily need to reveal and overcome the ideological domination of the founders of Brazilian reality, among them the ideology of racial domination. Palavras-chaves: Preconceito; Desigualdade Étnica Racial; Democracia Racial; Lei 10639/03. INTRODUÇÃO Em janeiro de 2003, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina a Lei N.º 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro Brasileira nos estabelecimentos da educação básica no Brasil, e, posteriormente, a Lei N.º 11645/2008, que dá a mesma orientação à temática Indígena. 3 Embora a Constituição Brasileira de 1988, afirme que todos os brasileiros são iguais e têm os mesmos direitos perante a Lei, os dados oficiais comprovam que isso não é uma realidade com relação aos negros e pardos. Segundo o Mapa de exclusão educacional, Divulgado pelo Ministério da Educação e Desporto em 2003, os brancos tem quatro vezes mais acesso ao ensino superior do que os negros, pardos e indígenas. O Brasil é a segunda maior nação negra do mundo. No entanto, ainda pesa a herança de três séculos e meio de escravização e de um longo período de invisibilidade, que se traduz em preconceito, discriminação e exclusão social. Em 2003, para garantir o acesso dos negros ao ensino superior, algumas instituições públicas de ensino superior, passaram a destinar cotas de suas vagas a estudantes negros. A decisão causou polêmica. Alguns setores da sociedade se opuseram a ela; outros se mostraram favoráveis. Por que uma lei para fazer valer conteúdo tão fundamental na história, especialmente na história nacional? O fato é que ao longo da nossa história, antigos historiadores trataram indevidamente, ou ignoraram a participação africana em nossa formação, influenciados por preconceitos originários da sociedade escravista, entre os quais os ideais de branqueamento da população brasileira nutridos, desde meados do século XIX, por boa parte das elites nacionais. Essa ideologia foi tão forte que mesmo a intelectualidade mais progressista custou a reconhecer a questão africana na nossa história. Acreditava-se que a luta dos africanos deveria ser estudada dentro da “luta dos dominados”, ou seja, segundo a sua condição de trabalhadores explorados. Assim, num processo de ensino aprendizagem da História Africana, o grande desafio é enfrentar os preconceitos adquiridos ao longo da história, de “desinformação” sobre o continente Africano, pois normalmente as informações apresentaram e apresentam caráter racista, alienante e restritivo. Um desafio frente á implementação da Lei 10639/2003 é a integração da teoria-prática. O abismo entre o que dizem os livros, o que se fala, e o que de fato, acontece no cotidiano escolar é tão grande, que muitas vezes chega 4 a ser uma utopia, uma esperança. É desafiante, pois, estamos falando de diversidade, diferenças, de visões predominantes de mundo, muitas vezes antagônicas. Igualdade pressupõe semelhanças e diferenças, e não contempla a inferioridade, que é a marca do preconceito e da discriminação racial. O que se evidencia é a falta de oportunidade e de acesso, e não a falta de capacidade e de competências. Sabe-se que a aprendizagem na escola não deveria se restringir apenas aos conteúdos dos programas curriculares, pois como cita Arroyo (2007, p.23) O ordenamento curricular não é neutro, é condicionado por essa pluralidade de imagens sociais que nos chegam de fora. Imagens sociais de crianças, adolescentes, jovens ou adultos nas hierarquias sociais, raciais ou de gênero, no campo e na cidade ou nas ruas e morros. Essas imagens sociais são a matéria-prima com que configuramos as imagens e protótipos de alunos. Os currículos deverão incluir “o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política (...)”. Proporcionar ao educando a aprendizagem contínua, é função social do/a professor/a e da escola na busca de uma sociedade justa e igualitária e se torna inconcebível que a "naturalização" das desigualdades etnicorraciais atinja de modo eficiente e de proporções gigantescas, o sistema educacional. Portanto os/as professores/as, através de sua atuação em sala devem refletir que “faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais decidida qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.” (FREIRE, p.39, 1997). Faz-se necessário, portanto, analisar como se dá a abordagem das questões étnicas na prática do docente, através da implementação da Lei 10639/03 e 11645/08, que trata sobre a obrigatoriedade do Ensino de História, Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena na Educação Básica e suas diretrizes. Para possibilitar esse desvelamento, este artigo, propõe elencar 5 referenciais e princípios que podem nortear na construção da “Pedagogia da Diversidade”, contribuindo para a Educação das Relações entre Negros e Brancos, para que estas possam construir-se de forma harmônica, em clima de respeito. Neste sentido, este Artigo tem a pretensão e a intenção de mostrar que a educação é uma ferramenta importante para a superação do nefasto mito da democracia racial brasileira. Mito este que ao "naturalizar" o racismo, configura-se como um instrumento eficaz para a manutenção das diferenças sociais etnicorraciais no país. Por isso faz-se necessário debater o porquê da “naturalização dos educadores frente aos problemas etnicorraciais, a discriminação e a desigualdade racial”? Pretende-se, que o cumprimento da Lei 10639/03 não se dê apenas como uma obrigação legal. As atividades pedagógicas que objetivam desenvolver um processo de desnaturalização das manifestações de cunho racial no interior da escola e na comunidade. REFLEXÕES SOBRE ALGUNS CONCEITOS O IBGE é um dos órgãos oficias do Brasil que trabalha com censo de cor no Brasil. O IBGE não trabalha com categoria de raça, nem descendência. Trabalha apenas com a cor: branco, preto, pardo, amarelo e com a categoria indígena para identificar os indígenas. Os negros são, portanto, a soma dos “pretos”, mais “pardos”. Exemplo: O Brasil é a segunda nação negra do mundo. 50,6% da população são de negros. Destes, a maioria se auto-declara como sendo “pardos”. NEGRO: Construída fora do Continente Africano na diáspora para caracterizar a diferença do outro. Uma espécie de marca. No Brasil os africanos e seus descendentes eram chamados de “pretos”, de “negros”, mas também de “cidadãos de cor”. Segundo José 6 Correia Leite o termo “preto” historicamente era utilizado pelos escravocratas para designar os “escravos dóceis e gentis” e o “negro” para os negros que resistiam à escravidão (revoltosos fujões). Quem é Negro? É aquele que é socialmente reconhecido como negro. São os pretos e os pardos por sua ascendência africana e que se identificam com grupo étnico afro brasileiro; Quem é o Branco? São os brasileiros com ascendência européia e que se identificam principalmente com o grupo europeu; Quem é Pardo? São os brasileiros com ascendência africana e européia e que se identificam principalmente como afro brasileiro; Esta categoria, apesar de utilizada há décadas pelo IBGE, era praticamente inexistente no imaginário das pessoas. Atualmente, em função dos programas de ações afirmativas elas estão aparecendo mais. PRETO: Atualmente é uma categoria de cor utilizada pelo IBGE, em que os “negros” estão incluídos. Historicamente o termo tinha relação direta com a identificação genérica do escravizado que não resistia (dócil, trabalhador, ordeiro). Ainda é possível identificar estas categorias em “comunidades negras ou tradicionais”; Quem é Preto? São brasileiros com ascendência africana e que se identificam principalmente com os afros brasileiros; “Vem cá minha preta!!!” (sentido carinhoso) “A coisa ta preta!!!” (sentido pejorativo) Quem é Amarelo? 7 São os brasileiros com ascendências oriental/asiática e que se identificam com esse grupo; Quem é Indígena? São os brasileiros nativos e aqueles com ascendência indígena e que se identificam com esse grupo. AFROBRASILEIRO: Surge na década de 70 e é difundido na década de 80. Está vinculado à origem e a cultura africana e ao território de nascimento do indivíduo, marcando, portanto, uma situação sócio-cultural e com viés identitário. Deste modo, o afro-brasileiro é alguém caracterizado não somente pelo fenótipo, mas também pela cultura que porta consigo. Cultura esta originada na África ou por seus descendentes na diáspora imposta pela escravidão. AFRODESCEDENTE: Surge no séc. XX no bojo do Movimento Social Negro e tem mais visibilidade a partir do ano de 2001 (Conferência Mundial de Combate ao Racismo) em que vários países ao discordar do termo “negro” acordaram que a categoria mais aceita para fins de ações afirmativas e reparações é a de AFRODESCENDENTE. Neste contexto é que o Estatuto da Igualdade que trabalha com a categoria “afrodescendente” assim como os diversos programas de ações afirmativas voltados para negros no mercado de trabalho e na universidade. Exemplo: O Edital do Programa de Cotas Raciais da UFPR assegura que os interessados em ingressar por cotas raciais devem “se auto-declarar como sendo AFRODESCENDENTES, ser „preto‟ ou „pardo‟, conforme o IBGE, e apresentar características fenotípicas que o identifique o tipo „negro‟”. O termo “afrodescendente” substitui o termo “negro” em função de como o país juridicamente compreende o termo desde 2001. RACISMO: 8 Comportamento hostil e de menosprezo em relação a grupos humanos entendidos como “inferiores” por outros grupos que se consideram “superiores”. O racismo se pauta pelas características físicas e culturais que identificam um grupo. Surge na sociedade ocidental do século XVIII quando se procurava bases “científicas” para explicar as diferenças entre os seres humanos e justificar a dominação colonial expansionista. Durante o século XIX o racismo fixou-se como uma doutrina, uma ideologia (formulação teórica e política) de dominação. Justificou a escravização dos povos africanos e o massacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial. INTOLERÂNCIA: Falta de respeito em relação às praticas e crenças alheias, que por serem diferente das nossas são tidas como “erradas” e sem direito de existir. A intolerância pode produzir-se pela rejeição ou exclusão de pessoas por causa da sua crença religiosa, orientação sexual, ou mesmo de vestimenta ou corte de cabelo. XENOFOBIA: Termo de origem grega que significa: “medo ou aversão ao estrangeiro”. Alimenta-se de estereótipos e preconceitos em relação aos que são considerados estrangeiros (desconhecidos). Traduz-se muitas vezes na rejeição, na violência. Exemplo: no Brasil, estrangeiros europeus recebem melhor tratamento do que estrangeiros africanos. PRECONCEITO: É uma idéia que fazemos de uma pessoa, grupo ou indivíduo sem a conhecermos bem. Um tipo de sentimento ou opinião irrefletida, (Idéia pré-concebida). O preconceito procura justificar o injustificável, ou seja, o tratamento desigual e a discriminação. 9 Exemplo: “Fernando não sabe lavar roupa muito bem, porque homem não é bom nestas coisas”. DISCRIMINAÇÃO: É a conduta que viola direitos das pessoas com base em critérios como raça, sexo, idade, orientação sexual, religião, etc. A discriminação é a materialização do racismo, do preconceito e do estereótipo. MARGINALIZAÇÃO: O conceito de marginalização está vinculado aos processos de exclusão do outro promovido por um indivíduo ou grupo social. Marginalizar é colocar a margem da vida social, dos centros decisórios, na periferia do sistema e das relações cotidianas existente na sociedade. Exemplo: os negros geralmente estão concentrados nas periferias das cidades, ganham (fazendo o mesmo serviço) menos que um branco. GRUPO ÉTNICO: Conjunto de indivíduos que se percebem e são percebidos como formando um grupo humano distinto de outros com os quais interagem em relações sociais contraditórias, geradoras de identidades coletivas que irão se basear na construção de auto-identificação cultural, através de diversos elementos, como língua, religião e costumes comuns. Exemplo: Índios: Guarani # Kaingang Negros: Bantus # Sudanês Brancos # Negros DESAFIOS PARA A IMPEMENTAÇÃO DA LEI 10639/2003: Uma das saídas para o fim das desigualdades educacionais do Brasil está em enfrentar as desigualdades raciais que estão presentes no ambiente escolar. A Educação não tem cor, e é possível combater o preconceito racial que existe, sim, na escola, através de projetos e discussões. Está em nossas 10 mãos, enquanto educadores comprometidos com o sucesso das crianças negras e brancas, como alunos (as) e cidadãos, defensoras dos seus direitos. Percebemos que a temática sobre a Igualdade Racial, das Africanidades, das Relações etnicorraciais, ganha visibilidade significativa no cenário Nacional. Assim, quero destacar a tensão existente entre o reconhecimento, a necessidade, a priorização e a ação. A discussão e a ação dos/as professores/as, no cotidiano escolar, tem sido uma demanda reprimida da sociedade brasileira, referente às questões dos negros. Há uma grande distância e um longo caminho, com muitos obstáculos a percorrer, entre a intenção e a ação, como a realidade social e histórica da população negra; O silêncio, o sorriso e a conivência ainda são ações pedagógicas, cúmplice do racismo; A disposição afetiva, política e pedagógica é muito tímida, para enfrentar a ignorância acerca da temática; “Os negros educadores e educadoras, são humanos e não super-humanos. Como quaisquer pessoas, possuem personalidades diversas. Há negros educadores e educadoras, que jamais lutarão pela liberdade. Há outros que procuraram obter com a luta vantagens pessoais. E há os que colaborarão com os opressores”. Dr. Martin Luther King Jr. Poderemos dizer que esta diversidade, também se faz presente no pensamento pedagógico relacionado à aplicação e implementação da lei 10639/2003. É diverso, plural, amplo como é presença negra, afrodescendente neste país e como anuncia a própria lei que altera a nossa lei maior da educação, a lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Que passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos: “Art. 26-A - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro brasileiro e Africana e Indígena.” “§1°. O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a 11 cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil. §2º– Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro brasileiro serão ministrados no âmbito de todo currículo escolar, em especial, nas áreas Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras. Como então, iremos ensinar Cultura? Como ensinar modo de ver, de ser e compreender o mundo? Como formar docentes para o ensino fundamental e médio, que sejam mais multiculturais, potentes para a nossa brasilidade, incluindo os afrodescendentes, indígenas, européia, oriental, árabe, judaica, mulçumana, japonesa, etc. Ainda que, a temática das relações etnicorraciais seja uma obrigatoriedade legal no que se refere aos currículos básicos, a História e Cultura Africana e Afro Brasileiro e Indígena ainda não fazem parte da identidade da escola, do seu currículo oficial, do seu projeto político pedagógico. Existem educadores que não percebem mais tratam de forma diferenciada seus/as alunos/as de pele mais escura. São mais exigentes, são mais rigorosos. Não reconhecem os progressos desses estudantes, pelo contrario, estereotipam negativamente seu desempenho escolar. Temos uma responsabilidade com a educação dos estudantes que, nos dias atuais, por si só, já é um imenso desafio. Educar para a igualdade onde a diversidade se anuncia e denuncia sua exclusão, onde a muticulturalidade passa a ter um novo sentido de positividade, onde grupos historicamente excluídos da cidadania exigem visibilidade e reconhecimento. Embora saibamos que existem práticas docentes que se abrem num leque de possibilidades e caminhos para o ensino da história e cultura Afro Brasileira, sobretudo quando se destaca que seus conteúdos serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar. 12 ROMPENDO COM O SILÊNCIO NO COTIDIANO DA ESCOLA E DOS/AS EDUCADORES/AS “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se pode aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” (Nelson Mandela) O educador enfrenta no cotidiano da escola, as mais diversas situações de conflito, porque então é tão difícil debater e encaminhar as questões de racismo, quando elas acontecem? Como se dá a abordagem das questões étnicas na prática do docente, através da obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica implantada desde 2003? A efetivação da Lei 10639/2003, no ambiente escolar, ainda têm sido tímida, o que tem preocupado os intelectuais e gestores envolvidos com a temática na educação. Várias razões têm sido apresentadas pelos educadores para justificar as dificuldades para a alteração da abordagem dada ao negro no currículo escolar. Entre elas, a falta de conteúdos previstos nas Leis, nos currículos de formação inicial dos (as) professores (as), investimento ainda insuficiente na formação continuada dos educadores, e a pequena disponibilidade de livros e materiais didáticos sobre a temática nas escolas. Estas são algumas das justificativas apresentadas em quase todas as discussões sobre o tema. Entretanto, em que pese às razões apresentadas acima, o entendimento é de que, uma das principais dificuldades a ser superada para a efetivação da Lei, é o fato das construções ideológicas sustentadoras do racismo brasileiro estar presentes ainda hoje, no conjunto da sociedade brasileira. Soma-se a estas dificuldades, a necessidade de entendimento de que a Lei 10639/2003, foi fruto de um longo processo de debate e estudos, com setores da sociedade, interessada nesta discussão. Falar das Leis 10639/2003 e da Lei 11645/2008 em uma entrevista 13 com colegas de trabalho, foi um desafio difícil, pois a constatação inicial é de que estas ainda não conseguiram trazer alterações significativas nas práticas escolares. A comprovação esta no trabalho de pesquisa realizada com professores/as de todas as disciplinas, e funcionários (as) do Colégio Estadual Santo Agostinho, periferia de Curitiba, que atende cerca de 1.300 estudantes, distribuídos entre o ensino fundamental e o ensino médio, nos três períodos. Os profissionais da educação, em sua maioria, fazem parte do Quadro Próprio do Magistério (QPM), e do Quadro dos Funcionários da Educação Básica (QFEB). O colégio conta aproximadamente com 70 professores (as), 10 funcionários (as) agente educacional II e 12 funcionários (as) agente educacional I. Ao todo, foram apresentadas 15 questões, divididas em dois blocos de perguntas; O primeiro bloco era para identificação dos (as) educadores, como nome, tempo de serviço no magistério, tempo de serviço na escola e disciplina e/ou função. O segundo bloco era sobre as Leis 10639/2003 e 11645/2008, para verificação do conhecimento dos educadores sobre elas e sua ação diante de situações de preconceito e discriminação. Entre elas destacam-se: Dos que responderam o questionário, sobre à auto declaração 82% se identificaram como branco 12% se identificaram como negro e 06 % como Pardo. Interessante observar que há mais professores/as e funcionários/as pardos do que realmente os que se auto declararam. Sobre o conhecimento e do que se trata a Lei, 71% dos entrevistados, afirmaram saber do que se tratavam, os outros 29% afirmaram não ter conhecimento dos mesmos. Isto significa que quase 30% dos educadores não leram ou não se informaram sobre os documentos oficiais do MEC ou da SEED/PR sobre a Lei 10639/2003. Nessa mesma pesquisa, 40% dos entrevistados, afirmaram ter recebido da Secretaria de Estado da Educação os Cadernos Temáticos sobre História e Cultura Afrobrasileira, porque então há tantos educadores declarando que não sabem como trabalhar com a Lei? O que realmente há nos espaços de discussão sobre a Lei? Em relação à abordagem da Temática, sobre as Leis 10639/03 e 14 11645/08, 52% responderam que avaliam sua prática cotidiana e reflete sobre os valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo e a cultura negra e indígena; 24% responderam que tem participado de formação e buscado informações sobre as questões raciais; e Outros 24% responderam: “Não ter conhecimento suficiente sobre o assunto. Quando perguntado como deve ser estudada a cultura Negra e Indígena: 47% dos entrevistados afirmaram que deve ser um tema presente na Proposta Pedagógica da escola, 29% acham que deve ser assunto de aula quando surge algum fato na imprensa, 12% afirma que deve ser estudada como rico folclore do Brasil, e 12% deram respostas próprias, como exemplo: “Se fala mais do Negro do que no Índio”; “Que se deve priorizar temas como o preconceito de quaisquer espécies, de cor, nível social, econômico, de crença e de orientação sexual”; ou “Que há pouco tempo atrás, era tratado apenas dentro de um conteúdo escolar, agora esta havendo mudanças e a cultura esta sendo trabalhada de forma mais ampla e difundida em todos os âmbitos, tanto na escola como fora dela”. Constatamos que as ações realizadas pela SEED/PR, até aqui, ainda não conseguiram trazer alterações significativas nas práticas pedagógicas dos educadores. Em relação as desigualdade e discriminação na sala de aula: 72% afirmaram aproveitar o momento para conscientização dos/as alunos/as, quanto à luta contra todas as formas de injustiça social; outros 22% afirmaram que são temas para reflexão com todos/as os/as alunos/as; e 6% que as desigualdades sempre existirão que é uma situação sócia cultural e que as discriminações estão embutidas nas ações, representações, que são determinantes das desigualdades; Os educadores também foram indagados sobre as diferenças culturais dos/as nossos/as alunos/as, 60% afirmaram que serve como reflexão para rever posturas preconceituosas e comparações hierarquizadas, os outros 40% responderam que são mostradas como diversidade cultural. Também foi solicitado aos entrevistados, sobre as Cotas Raciais se eram a favor ou contra e por que: 64% dos entrevistados afirmaram ser a favor, com as seguintes justificativas: “Oportunidade de maior acesso à educação, podendo se diminuir as desigualdades existentes”; “Ainda precisamos do sistema de cotas para se deixar mais humano o processo de entrada nas 15 Universidades”; “Mas acredita que ainda é uma solução que discrimina o negro”; “Porque acredita que uma pessoa que tenha um diploma universitário pode melhorar sua condição econômica e a da sua família, servir de exemplo e incentivo a outras pessoas excluídas que se sentem incapazes de mudar de vida através da educação”; “O Brasil tem uma dívida histórica com os negros desde a escravidão”; “Uma iniciativa em incluir os alunos negros e de escolas públicas nas instituições superiores, como forma de amenizar a desigualdade educacional e social que sempre assolou o país”; “Está mais do que na hora de fazer um resgate histórico dos nativos indígenas e dos negros que tiveram que atravessar o Atlântico de uma maneira forçada”; “Sou a favor, mas é algo tratado com polêmica”; 71% afirmaram que “sim”, com diferentes justificativas, entre elas, destacamos: “É um direito tem que se lutar para mantê-lo”; “Se fosse o meu caso”; “Deve-se aproveitar as oportunidades, mas esclareceria que de certa maneira vai gerar discriminação quanto ao seu potencial”; “Principalmente por sentir a dificuldade pelo meu direito de estudar, quando muitos parentes não conseguiram devido a situação de pobreza e falta de investimento do país e do Estado, na época. Hoje, com o sistema de cotas para negros e alunos de escolas pública a desigualdade começa a diminuir‟; “Devemos acreditar, lutar e buscar o melhor como cidadão”; “As cotas vem de encontro de soluções de ação afirmativa e não como forma de discriminar determinados grupos sociais”; “se ele se encaixar em alguma não teria problema em incentivá-lo”; “É um direito do meu filho ter um acesso pela dívida histórica que temos com a formação do nosso povo”; “Desde que se dedique e aproveite a oportunidade dada”; Outros 29% responderam que “não”. Alguns e algumas não justificaram, outros justificaram da seguinte forma: “Ele deve lutar para entrar na Universidade assim como todos fazem. As cotas apresentam uma espécie de muleta para pessoas que não estão doentes”. “Eles devem passar pela capacidade intelectual, não porque são deficientes, negros, índios, etc. Acho que colocar as cotas é uma forma de discriminar o ensino aprendizagem”; “Nem que eu fosse negra. Bem ao contrário, incentivaria meus filhos a manterem-se bem informados e atualizados em todos os assuntos justamente para não precisarem das cotas. Ninguém é melhor que ninguém, e ninguém têm as mesmas habilidades. Mesmo com as cotas 16 muitos ficam de fora e esse resto de cotista que sobra como é que fica?” “Porque se privilegiou um cotista e não o outro. Dá pra sentir a fragilidade da coisa. Já conheci muita gente que morava lá no meio do mato, sem qualquer recurso e eram menosprezando”. pessoas “O que cultas. deveria Correram ser atrás, levado a não sério ficaram de não um é “vestibularzinho” e sim uma boa formação. Isso explica porque há muitos profissionais formados em determinada área exercendo função diferente”. “A raiz do problema não está na cota, está nos primeiros passos de uma criança em casa e nas escolas. Quem, o que e como estamos formando?” “A nossa antiga 8ª F falou por si. Será que se pagássemos para aqueles garotos o curso positivo e mais uma boa mesada para se manterem eles realmente se esforçariam para aprender? Eis a questão”. O mesmo questionário foi aplicado aos professores e professoras, do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - 2009/2010, da disciplina de história, no dia 10/05/2003, dentro do projeto “Negro Que Te Quero Negro”, sobre a implementação da lei 10639/2003, e a política de cotas, como ação afirmativa.É importante dizer que esta pesquisa foi realizada somente com os/as educadores/as da disciplina de História de Curitiba e Região Metropolitana. Em relação à abordagem da Temática, sobre as Leis 10639/03 e 11645/08, OBS: Nessa questão os entrevistados responderam mais do que uma alternativa; 54% responderam que reavaliam sua prática cotidiana e reflete sobre os valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo e a cultura negra e indígena; 35% responderam que tem participado de formação e buscado informações sobre as questões raciais; 11% optaram por outras respostas: por exemplo:“Não ter conhecimento suficiente sobre o assunto”; “A base legal da educação nos da suporte para desenvolver o processo ensino aprendizagem; Contextualiza o ritual do candomblé, as músicas de Rita Ribeiro, Bethânia, Elis Regina, Elza Soares, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e ai nosso educando entende que do Candomblé nasce a melhor cultura do Brasil; Sobre as situações de desigualdade e discriminação na sala de aula, 54% afirmaram aproveitar o momento para conscientização dos (as) alunos (as), quanto a luta contra todas as formas de injustiça social; 31% afirmaram que são temas para reflexão com todos (as) os (as) alunos (as); 17 9% Deram outras respostas: “Como já foi relatado que só acontecerá o início do enfrentamento e correção desse racismo quando os movimentos negros assumirem a bandeira do Candomblé e da Umbanda, pois é nela que o racismo é mais violento”. “Devemos trabalhar valores que dêem capacidade intelectual aos nossos alunos de agir no meio em que vive para transformálo”; “Essa questão é bastante delicada, mas é um bom momento para debater todas as formas de discriminação”; “Em qualquer momento que se fizer necessário ou relacionados ao temas trabalhados”. 6% não responderam a questão. Os educadores também foram indagados sobre as diferenças culturais dos (as) nossos (as) alunos (as), 56% afirmaram que serve como reflexão para rever posturas preconceituosas e comparações hierarquizadas, os outros 32% responderam que são mostradas como diversidade cultural; 12% Deram outras respostas, como por exemplo: “Como uma das belezas do Brasil, sem preconceito em relação a qualquer desigualdade”; Sobre as Cotas Raciais, como Política Afirmativa, você é a favor ou contra. Por que. 71% dos entrevistados afirmaram ser a favor, com as seguintes justificativas: “Para corrigir uma injustiça histórica”; “Pois elas representam a vitória da luta dos movimentos sociais e hoje proporciona comparações do antes (da Lei) e do depois (da Lei). Principalmente em seu caráter de ser avaliados os resultados de cada 10 anos no Plano Decenal.” “Como forma de minimamente reparar uma injustiça histórica para com as populações Afro descendentes que não teriam outra oportuidade”; “As cotas raciais tem demonstrado resultados práticos com o acréscimo de oportunidades de crescimento intelectual aos negros e isto trará impactos sociais para a sociedade”; “Considero uma forma de incluir uma etnia que se percebe como cidadão de direito e uma forma de reparar as injustiças sociais”; “Sou a favor, como penso ser a opinião dos demais colegas; É um direito que deve ser conscientizado por nós em sala para que o aluno faça uso dessa Lei e use como afirmação”; “Entender que há uma divida histórica a ser resgatada e como forma de reduzir as desigualdades sociais”; “Porque o candidato passa primeiro por uma avaliação de conhecimento em condição de igualdade a todos, para depois entrar nas cotas”; “Ajudam e garantem o direito a universidade dos excluídos ”; “Uma divida social que toda a sociedade 18 brasileira tem para com o negro”; “Para que haja mais igualdade” 23% Afirmaram ser contra as cotas. Com as seguintes justificativa: “A escola pública é igual para todos. Deve ser meta (intenção) que a qualidade aconteça nas escolas públicas”; “Acredito que é facilitar o caminho de ingresso na universidade e todos tem capacidade de conquistar uma vaga. Para isso a escola pública precisa de qualidade”; “As cotas raciais, acredito que o mais terrível discurso é a racial, foi o que causou maiores danos a humanidade, e é no mínimo perigoso usar esta via para promover resgate social”. “Estude para passar”; “Gostaria que disputasse a vaga de igual para igual”; “Meus filhos estudam em escola pública, vivem a diversidade, quando chegar a hora do vestibular espero que estejam aptos a tomarem suas decisões, que tenham noção do que lhes convém”; “Sempre converso com os alunos a respeito das várias oportunidades nas universidades. Todos têm condições independente de cotas. Querer é poder”; 6% Afirmaram que não saberiam opinar”; 75% Responderam que “sim” com as seguintes justificativas: “É uma oportunidade de acesso e também de dar visibilidade ao grupo discriminado, abrindo oportunidade de discussão e mobilização da sociedade”; Tenho filha que estuda na UFPR pelas cotas”; “Se existe direito adquirido porque não usufruí-lo”; “Para prestigiar a conquista e valorizar a oportunidade que se abre”; “Como uma atitude de Cidadania na participação e na vida social”. “Não há desmérito entrar numa universidade por cotas”; “Desde que seja uma participação justa e honesta”; “Quem realmente precisa. Acho que o sistema de cota deveria ser ligado com o financeiro. Conheço pessoas que passaram pelas cotas e estudaram no Colégio Bom Jesus”; “Meu filho está no sistema de “bolsista” no particular, somente agora no ensino médio e tem informação sobre seu direito na participação como cotista, em breve, para sua formação. Também divulgo isso em sala”; “Por entender que há uma divida histórica e como forma de reduzir as desigualdades sociais”; “Pois a sociedade não divulga o sistema de cota”; “É um direito conquistado por luta sociais. A Lei é uma conquista!”; “É uma oportunidade de ingresso no 3º grau, sem discriminação. É INCLUSÃO, É DIREITO É JUSTIÇA!”; “Se fosse o caso, seria”; “Deve-se aproveitar a lei no máximo, já que ela existe”. “Desde que fosse um direito seu e o beneficio como cidadão incluso numa sociedade igualitária num futuro próximo”; “Se estiver 19 enquadrado”; “Já fiz muito, já divulguei e já tive alunos freqüentando cursos de engenharia, eletrônica, agronomia, engenharia de computação e arquitetura”. Assim, a educação deve ter como horizonte: O reconhecimento do problema racial como uma das formas de dominação de classe no Brasil; O respeito às origens históricas e manifestações culturais e religiosas das etnias dos/as estudantes presentes no cotidiano escolar; O resgate da história de luta e resistência do/a negro/a, indígena e de outros segmentos étnicos historicamente discriminados na constituição da sociedade brasileira; ação constante sobre o racismo no cotidiano escolar; A constituição de relações saudáveis entre a população negra e branca repudiando todas as atitudes preconceituosas no ambiente escolar; Que o ensino de história do Brasil valorize a cultura, a religião da população negra e afrodescendente e traga de forma crítica a participação de todas as etnias constituintes da sociedade brasileira; A superação dos estereótipos presentes especialmente em livros didáticos que levam a uma visão de inferioridade dos/as negros/as e dos afrodescendentes e indígenas brasileiros; O reconhecimento e a valorização da história de resistência dos/as negros/s como constituintes da história de resistência do conjunto dos/as trabalhadores/as; A oferta de formação continuada para professores/as, e funcionários/as, tendo em vista a necessidade de uma educação antirracista, não-discriminatória e não preconceituosa, que reconheça e valorize a identidade etnicorracial presente no ambiente escolar, a fim de que os/as estudantes possam se reconhecer, se valorizar e se afrodescendentes ou indígenas; Implementação no Paraná: identificar como negros/as e ou 20 A Instrução nº 017/06 SUED/SEED estabelece alguns pontos significativos no que diz respeito à implementação da Lei nº10.693/03 nas Escolas Públicas do Paraná. São eles: Garantir, no Projeto Político Pedagógico, que a organização dos conteúdos de todas as disciplinas da matriz curricular contemple, obrigatoriamente, ao longo do ano letivo, a Educação das Relações Etnicorraciais e Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, na perspectiva de proporcionar aos alunos uma educação compatível com uma sociedade democrática, multicultural e pluriétnica; Registrar, no requerimento da matricula do aluno o seu pertencimento étnico-racial, garantindo-se o registro da sua auto declaração; Compor Equipe Multidisciplinar, que poderá envolver direção, equipe pedagógica, professores e funcionários, para orientar e auxiliar o desenvolvimento de ações relativas à educação das Relações ÉtnicoRaciais e ao Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, ao longo do período letivo. Portanto, precisamos superar no campo do currículo: O negro a partir da escravidão; Que o Negro/a não seja fonte histórica somente a partir da, e tão somente a escravidão. Visão da África como continente primitivo e selvagem: Desconstruir no imaginário dos/as educandos e dos/as educadores “essa África Selvagem e Primitiva”; Como salienta professor Henrique Cunha Junior, “A África não é uma selva tropical, nem o mais distantes dos continentes (...)”. Os negros foram escravizados por que eram mais dóceis; Mostrar a Resistência e a Luta dos Negros/as contra a Escravização. O fim da escravidão como uma dádiva da Princesa Isabel; Recuperar valores positivos da população negra, fugindo do folclorismo; Trabalhar com os escritores, artistas negros no país, suas contribuições para a humanidade como: A Arquitetura e a Medicina desde o Egito; As Tecnologias trazidas para o país, como ferro, mineração, cana-de-açúcar, café, algodão etc. Cuidado com os textos e imagens nos livros didáticos que trazem reflexos da ideologia de dominação racial; 21 Consideração Final Segundo, Kabengele Munanga, em seu livro “O Negro No Brasil Hoje” nos faz refletir acerca de “Quem Somos?” “De Onde Viemos?” “Para Onde Vamos? Perguntas que as pessoas fazem para conhecer a si e reconhecer os outros para definir-se para identificar-se, para criar sentimento de pertencimento a um ou vários grupos, para conhecer a realidade presente, passada e projetar-se para o futuro”. Neste sentido, poderemos caracterizar o Brasil como um País de vários contrastes sociais e desigualdades, por causa da má distribuição de renda, ou ainda, por suas características socioculturais, como um país com grande diversidade cultural em termos religiosos, artísticos, musicais, culinários, entre outros tantos aspectos. Aprender e conhecer sobre o Brasil e sobre o povo brasileiro é aprender a conhecer a história e a cultura de vários povos que aqui se encontraram e contribuíram com suas bagagens e memórias na construção deste país e na produção da identidade brasileira. Criar espaços nos quais seja possível apresentar e discutir os pleitos das comunidades negras, indígenas e diversas, propondo neles que seja assumida a responsabilidade pela construção e divulgação das relações étnicas raciais positivas como forma de enfrentamento e superação de preconceitos, exclusão, ódio e segregação e de valorização dos contrastes das diferenças buscando, além disso, construir formas de convivência dialógica das diferentes identidades culturais. Enfrentar hoje o desafio de assumir a identidade racial negra no Brasil, um país considerado com diferenças sociais, culturais, raciais e étnicas, é um processo difícil e sofrido. Sendo assim é de fundamental importância que se resgate uma imagem positiva do homem negro e da mulher negra, para que as crianças e adolescentes se projetem nessa imagem e se percebam com possibilidades de uma vida melhor com oportunidades iguais a todos e a todas. 22 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Joel de. e CARDOSO, Patrícia de Resende. Alforria Curricular através da Lei 10639/03. Revista Espaço Acadêmico nº30, novembro/2003. ARCO - VERDE Y. F. de S. Desafios educacionais contemporâneos e o currículo escolar. Texto SEED, 2008. ARROYO, Miguel Gonzáles. Indagações sobre currículo: Educandos e educadores: seus direitos e o currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. Disponível em < http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/ espaco-virtual/espacopraxis-pedagogicas> acesso em 06 abril de 2009. BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394 de 20 de novembro de 1996. Congresso Nacional – Brasília. BRASIL. LEI N. 10639 de 9 de janeiro de 2003. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. BRASIL. Ministério da Educação. MEC – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília. Outubro. 2004. CARONE, Iray. e SILVA BENTO, Maria Aparecida. Psicologia Social do Racismo. Estudo sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ. Editora Vozes. 3ª Edição. 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra S/A, 1997. JACCOUD, Luciana. (Organizadora) A construção de uma Política de Promoção da Igualdade Racial: Uma análise dos últimos 20 Anos. Brasília, DF. IPEA. 2009. MUNANGA, Kabengele. e GOMES, Nilma Lino. O Negro no Brasil Hoje. São Paulo. Global Editora e Distribuidora Ltda. 2006. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: Inserção dos conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares - Curitiba: SEED-PR, 2005. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais - Curitiba: SEED-PR, 2006. 23 THEODORO Mário. (organizador) As Políticas Públicas e a Desigualdade Racial no Brasil 120 Anos Após a Abolição. Brasília, DF. IPEA. 2º Edição. 2008.