Noção de “burguês” e a de
“burguesia”
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“Para alguns, o ‘burguês’ e a ‘burguesia’ teriam surgido e florescido
com a implantação e a expansão da grande lavoura, como se o
senhor de engenho pudesse preencher, de fato, os papéis e as
funções socieconômicas da Metrópole e da economia mercantil
européia, o fluxo de suas atividades socioeconômicas. Para outros,
ambos não teriam jamais existido no Brasil, como se depreende de
uma viagem em que não aparece nem o Castelo nem o Burgo,
evidências que sugeririam, de imediato, ter nascido o Brasil (como
os Estados Unidos e outras nações da América) fora e acima dos
marcos histórico-culturais do mundo social europeu. Os dois
procedimentos parecem-nos impróprios e extravagantes. De um
lado, porque não se pode associar, legitimamente, o senhor de
engenho ao ‘burguês’(nem a ‘aristocracia agrária’ à ‘burguesia’. De
um lado, porque não se pode associar, legitimamente, o senhor de
engenho ao ‘burguês’(nem a ‘aristocracia agrária’ à
‘burguesia’.”p.32”(FERNANDES,2006:32)
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Não tivemos o “feudalismo”, não tivemos o
‘burgo’ característico do mundo medieval.
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“ O burguês já surge, no Brasil, como uma entidade
especializada, seja na figura do agente artesanal
inserido na rede de mercantilização da produção interna,
seja como negociante (não importando muito seu
gênero de negócios: se vendia mercadorias importadas,
especulava com valores ou com o próprio dinheiro; as
gradações possuíam significação apenas com o código
de honra e para a etiqueta das relações sociais e nada
impedia que o ‘usuário’, embora malquisto e tido como
encarnação nefasta do ‘burguês mesquinho’, fosse um
mal terrivelmente necessário). Pela própria dinâmica da
economia colonial, as duas florações do ‘burguês’
permaneceriam sufocadas, enquanto o escravismo, a
grande lavoura exportadora e o estatuto colonial
estiveram conjugados.” (FERNANDES,2006: 34)
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“espírito revolucionário”
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mesmo manifestando-se dessa forma, ele teve um alcance criador,
pois deixou o palco livre para um novo estilo de ação econômica: a
partir daí, seria possível construir ‘impérios econômicos’ e abrir
caminho para o ‘grande homem de negócios’ ou para o ‘capitão de
industria’, figuras inviáveis no passado recente (como o atesta o
infortúnio de Mauá). (FERNANDES,2006:36)
2 tipos de burguês:
O que combina poupança e avidez de lucro à propensão de
converter a acumulação de riqueza em fonte de independência e de
poder
O que encara a “capacidade de inovação” e o “talento organizador”
Burguês e burguesia como categorias histórico-sociais (análise
macrossociológica) do desenvolvimento do capitalismo no
Brasil
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Existe ou não uma “Revolução
Burguesa” no Brasil?
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“Portanto, ao se apelar para a noção de
“Revolução Burguesa”, não se pretende explicar
o presente do Brasil pelo passado de povos
europeus. Indagar-se, porém, quais foram e
como se manifestaram as condições e os
fatores histórico-sociais que explicam como e
por que se rompeu, no Brasil, com o imobilismo
da ordem tradicionalista e se organizou a
modernização como processo social.”
(FERNANDES,2006:37)
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Revolução no Brasil como um fenômeno
estrutural:
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“ela se desenvolve e se desenrola através de
opções e de comportamentos coletivos, mais ou
menos conscientes e inteligentes, através dos
quais as diversas situações de interesse da
burguesia, em formação e em expansão no
Brasil, deram origem a novas formas de
organização do poder em três níveis
concomitantes: da economia, da sociedade e do
Estado.”(FERNANDES,2006:38)
Revolução social foi diluída e débil
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Sociedade Nacional:
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“Uma nação não aparece e se completa de uma
hora para outra. Ela se constitui lentamente, por
vezes sob convulsões profundas, numa
trajetória de ziguezague. Isso sucedeu no Brasil,
mas de maneira a converter essa transição, do
ponto de vista econômico, no período de
consolidação do capitalismo. Esse processo
abrange duas fases: 1) a ruptura da
homogeneidade da ‘aristocracia agrária’; 2) o
aparecimento de novos tipos de agentes
econômicos, sob a pressão da divisão do
trabalho em escala local, regional ou nacional.”
(FERNANDES,2006:44-45)
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Emancipação
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“O processo de diferenciação dos interesses
entre colônia e metrópole- do qual surgira o
espírito nativista e a adesão ao liberalismo dos
homens que realizaram a Independência- teria
importado uma forma particular de
internalização da ideologia liberal, em que esta
viria a expressar mais o anseios ‘de
emancipação dos estamentos senhoriais da
‘tutela colonial’ do que os ‘de emancipação
nacional’”(VIANA, 199: 181)
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espírito burguês”
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“ “Esses tipos de homens, malgrado sua
variedade e heterogeneidade, impulsionaram
silenciosamente, na trilha de seus êxitos e
fracassos, a revolução que pôs em xeque os
hábitos, as instituições e as estruturas sociais
persistentes da sociedade colonial.”p.46
Para plena instauração da ordem social
competitiva
Condições econômicas
Condições jurídicas
Condições políticas
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“antigo regime”: “Não era a sociedade nacional
em si mesma, nascida da Independência. Mas,
a sociedade nacional que, apesar da
Independência, manteve-se (por causa da
escravidão e da dominação patrimonialista),
esclerosada por componentes do mundo
colonial que subsistiam, independentemente,
com renovada vitalidade. Contra o ‘antigo
regime’, assim percebido e concebido, o
‘espírito burguês’ era espontâneo e
substancialmente
revolucionário.”(FERNANDES,2006:47)
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Mudança lenta e gradual
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“ao provocar a eclosão de um mercado
propriamente capitalista, embora com formas e
funções limitadas, a mudança de relação com o
mercado mundial forçou a ordem social
escravocrata e senhorial a alimentar um tipo de
crescimento econômico que transcendia e
negava as estruturas econômicas preexistentes.
Não obstante, o crescimento econômico
desencadeado a partir de tal mudança teve de
desenrolar-se, a curto e médio prazos, dentro
dos quadros sociais daquela ordem. Aqui não
sucedeu algo parecido com o que ocorreu nos
Estados Unidos. “ (FERNANDES,2006:210-211)
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Florestan Fernandes A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de