Noção de “burguês” e a de “burguesia” “Para alguns, o ‘burguês’ e a ‘burguesia’ teriam surgido e florescido com a implantação e a expansão da grande lavoura, como se o senhor de engenho pudesse preencher, de fato, os papéis e as funções socieconômicas da Metrópole e da economia mercantil européia, o fluxo de suas atividades socioeconômicas. Para outros, ambos não teriam jamais existido no Brasil, como se depreende de uma viagem em que não aparece nem o Castelo nem o Burgo, evidências que sugeririam, de imediato, ter nascido o Brasil (como os Estados Unidos e outras nações da América) fora e acima dos marcos histórico-culturais do mundo social europeu. Os dois procedimentos parecem-nos impróprios e extravagantes. De um lado, porque não se pode associar, legitimamente, o senhor de engenho ao ‘burguês’(nem a ‘aristocracia agrária’ à ‘burguesia’. De um lado, porque não se pode associar, legitimamente, o senhor de engenho ao ‘burguês’(nem a ‘aristocracia agrária’ à ‘burguesia’.”p.32”(FERNANDES,2006:32) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 1 Não tivemos o “feudalismo”, não tivemos o ‘burgo’ característico do mundo medieval. “ O burguês já surge, no Brasil, como uma entidade especializada, seja na figura do agente artesanal inserido na rede de mercantilização da produção interna, seja como negociante (não importando muito seu gênero de negócios: se vendia mercadorias importadas, especulava com valores ou com o próprio dinheiro; as gradações possuíam significação apenas com o código de honra e para a etiqueta das relações sociais e nada impedia que o ‘usuário’, embora malquisto e tido como encarnação nefasta do ‘burguês mesquinho’, fosse um mal terrivelmente necessário). Pela própria dinâmica da economia colonial, as duas florações do ‘burguês’ permaneceriam sufocadas, enquanto o escravismo, a grande lavoura exportadora e o estatuto colonial estiveram conjugados.” (FERNANDES,2006: 34) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 2 “espírito revolucionário” mesmo manifestando-se dessa forma, ele teve um alcance criador, pois deixou o palco livre para um novo estilo de ação econômica: a partir daí, seria possível construir ‘impérios econômicos’ e abrir caminho para o ‘grande homem de negócios’ ou para o ‘capitão de industria’, figuras inviáveis no passado recente (como o atesta o infortúnio de Mauá). (FERNANDES,2006:36) 2 tipos de burguês: O que combina poupança e avidez de lucro à propensão de converter a acumulação de riqueza em fonte de independência e de poder O que encara a “capacidade de inovação” e o “talento organizador” Burguês e burguesia como categorias histórico-sociais (análise macrossociológica) do desenvolvimento do capitalismo no Brasil 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 3 Existe ou não uma “Revolução Burguesa” no Brasil? “Portanto, ao se apelar para a noção de “Revolução Burguesa”, não se pretende explicar o presente do Brasil pelo passado de povos europeus. Indagar-se, porém, quais foram e como se manifestaram as condições e os fatores histórico-sociais que explicam como e por que se rompeu, no Brasil, com o imobilismo da ordem tradicionalista e se organizou a modernização como processo social.” (FERNANDES,2006:37) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 4 Revolução no Brasil como um fenômeno estrutural: “ela se desenvolve e se desenrola através de opções e de comportamentos coletivos, mais ou menos conscientes e inteligentes, através dos quais as diversas situações de interesse da burguesia, em formação e em expansão no Brasil, deram origem a novas formas de organização do poder em três níveis concomitantes: da economia, da sociedade e do Estado.”(FERNANDES,2006:38) Revolução social foi diluída e débil 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 5 Sociedade Nacional: “Uma nação não aparece e se completa de uma hora para outra. Ela se constitui lentamente, por vezes sob convulsões profundas, numa trajetória de ziguezague. Isso sucedeu no Brasil, mas de maneira a converter essa transição, do ponto de vista econômico, no período de consolidação do capitalismo. Esse processo abrange duas fases: 1) a ruptura da homogeneidade da ‘aristocracia agrária’; 2) o aparecimento de novos tipos de agentes econômicos, sob a pressão da divisão do trabalho em escala local, regional ou nacional.” (FERNANDES,2006:44-45) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 6 Emancipação “O processo de diferenciação dos interesses entre colônia e metrópole- do qual surgira o espírito nativista e a adesão ao liberalismo dos homens que realizaram a Independência- teria importado uma forma particular de internalização da ideologia liberal, em que esta viria a expressar mais o anseios ‘de emancipação dos estamentos senhoriais da ‘tutela colonial’ do que os ‘de emancipação nacional’”(VIANA, 199: 181) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 7 espírito burguês” “ “Esses tipos de homens, malgrado sua variedade e heterogeneidade, impulsionaram silenciosamente, na trilha de seus êxitos e fracassos, a revolução que pôs em xeque os hábitos, as instituições e as estruturas sociais persistentes da sociedade colonial.”p.46 Para plena instauração da ordem social competitiva Condições econômicas Condições jurídicas Condições políticas 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 8 “antigo regime”: “Não era a sociedade nacional em si mesma, nascida da Independência. Mas, a sociedade nacional que, apesar da Independência, manteve-se (por causa da escravidão e da dominação patrimonialista), esclerosada por componentes do mundo colonial que subsistiam, independentemente, com renovada vitalidade. Contra o ‘antigo regime’, assim percebido e concebido, o ‘espírito burguês’ era espontâneo e substancialmente revolucionário.”(FERNANDES,2006:47) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 9 Mudança lenta e gradual “ao provocar a eclosão de um mercado propriamente capitalista, embora com formas e funções limitadas, a mudança de relação com o mercado mundial forçou a ordem social escravocrata e senhorial a alimentar um tipo de crescimento econômico que transcendia e negava as estruturas econômicas preexistentes. Não obstante, o crescimento econômico desencadeado a partir de tal mudança teve de desenrolar-se, a curto e médio prazos, dentro dos quadros sociais daquela ordem. Aqui não sucedeu algo parecido com o que ocorreu nos Estados Unidos. “ (FERNANDES,2006:210-211) 31/10/2008 Centro Universitário Franciscano Sociologia Brasileira Curso de Servico Social 10