Redação de um artigo científico para revistas indexadas: a visão de uma editora Christine Claire Gaylarde Palestra Proferida no Depto. Eng. Construção Civil da Escola Politécnica da USP 13 Fev 2006 Por quê publicar? A publicação de artigos científicos é o processo através do qual novos conhecimentos são difundidos, refinados, certificados, e preservados para pesquisadores, professores, estudantes e o público. 1 COISA INÉDITA Qual revista? • Ler artigos publicados pelas revistas candidatas. • Informar-se sobre a abrangência dos artigos da revista. • Considerar as áreas de trabalho dos membros dos conselhos editoriais. • Considerar as populações alvos das revistas. – Seu artigo será lido por profissionais da sua área? 2 Qual revista? • Índice de impacto – é mais importante do que o número de pessoas que vai ler o artigo? (Revista geral vs. revista especialista). • Índice de impacto – seu artigo merece ser publicado numa revista de alto impacto? Traz informações novas o suficiente sobre um assunto importante? • www.isiknowledge.com Uma vez escolhida a revista: • Ler cuidadosamente as instruções aos autores. Qualquer dúvida, entrar em contato com o editor principal (ex. sobre a possibilidade de enviar pela Internet). • LEMBRE-SE das instruções! • Talvez seja necessário olhar artigos atuais publicados pela revista. • Algumas revistas nem consideram trabalhos escritos na formatação errada. 3 Redação do Artigo Deve ser curto e claro! O Título • Deve ser apropriado; • Deve chamar atenção; • Não deve ser muito longo, mas deve indicar o conteúdo. 4 O Resumo Faça no final. A Introdução • O objetivo é introduzir o assunto brevemente. • Mencione os trabalhos prévios mais importantes. Qualquer membro do corpo editorial publicou nesta área? Cite! • Enfatize a falta de informação que sua pesquisa vai suprir. • A última sentença deve apresentar seus objetivos, em função da literatura mencionada. • Para um artigo simples, o número de referências na Introdução, normalmente, não deve ultrapassar 20. 5 Pesquisa Bibliográfica • www.periodicos.capes.gov.br • www.isiknowledge.com • Fontes genéricas como Google, Altavista, etc Materiais e Métodos • O formato varia bastante, dependendo da revista, mas deve ter detalhes suficientes para outra pessoa poder repetir seu trabalho, ou descritos no texto, ou na forma de citações. Não escreva “modified from Smith & Jones (1990)” sem descrever como foi modificado. • Não esqueça de falar sobre o número de repetições realizadas e o método de análise estatística usado. 6 Resultados ou Resultados e Discussão O bom é começar com uma colocação geral dos resultados • “603 different types of fungi were identified on the buildings.” • “The characteristics of the different materials are shown in Table 1.” (Não “the determined characteristics”, ou “the measured characteristics”). • “The results of the chloride removal experiments are given in Figure 1.” 7 Não repetir os métodos, nem os objetivos no primeiro parágrafo • “This work was carried out to study the effect of rain on a concrete wall.” • “In order to measure porosity, we used the mercury impregnation technique.” Já foi dito tudo isso! Todos os métodos devem constar na seção de Materiais e Métodos. Se nos Resultados houver necessidade de detalhar qualquer metodologia, é porque ela não foi corretamente apresentada na seção M e M. 8 Tabelas ou gráficos? • Ou um ou outro – nunca expresse os mesmos resultados de duas maneiras. • Tabelas são sempre aceitáveis, mas, às vezes, um gráfico comunica melhor, por exemplo, quando os dados são mostrados ao longo do tempo. Às vezes, 3 (ou mais) tabelas podem ser apresentadas numa só (ex. sob condições diferentes). Tabelas ou gráficos? • Não esqueça de incluir a variância (DP ou EP, CC, intervalo de confiança). O valor do “p” não é suficiente. • Não inclua dados não significativos na tabela. Devem ser incluídos no texto. “There was no significant difference between the water uptake values of compounds A, B and F.” 9 Quando se deve usar gráfico de barra? • Quando os dados são descontínuos – ex. número de pernas. • Quando os dados são categóricos – ex. cores, formas. 0,09 0,08 SA_Navg SA_Savg 0,07 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0 K2O CaO M gO P2O5 Fe2O3 M nO ZnO Aqui são apresentados os níveis de componentes inorgânicos em duas rochas diferentes. A análise estatística deve ser apropriada para os dados analisados! Por exemplo:- 10 O Teste de Tukey • Foi desenvolvido para testes de controle de qualidade na engenharia. (Quick and dirty methods in statistics [Métodos rápidos e sujos de estatística], Tukey, 1948). • De maneira geral, não é apropriado para ser aplicado em dados biológicos! • Um teste não paramétrico é normalmente mais apropriado. A discussão A parte mais difícil! 11 Discussão • Se for apresentada separadamente dos resultados, será necessário repetir os dados, ou referir-se a eles (tabelas, figuras, etc). É melhor apresentá-los digeridos, ou transformados, ao invés de repetí-los! Por ex., colocando porcentagens: “50% of the fungi isolated are normal air mycoflora and 30% known paint deteriogens (Tab.1)”. • Depois, continue com a discussão:- Discussão “The level of paint deteriogens is higher than that previously reported in similar environments (Smith & Jones, 2001). This could be due to the presence of several paint manufacturing plants in the area. Released vapour and liquid wastes from these industries could lead to the adaptation of the local microflora, resulting in a population more readily able to colonise paint.” 12 Discussão • Forneça uma justificativa ou alguma evidência, para sua hipótese:“Mable & Johnson (1999) showed that the air in paint factories in Piracicaba contained higher than normal numbers of fungi recognised as paint degraders.” Discussão • Utilize uma sentença de conclusão:“These results show that…” “Further studies are envisaged/in progress to clarify/extend/determine whether…” 13 As Referências Referências • Estão apresentadas no texto no formato correto? (números entre parênteses, nomes com data, etc). Não é comum em revistas internacionais ter nomes de autores em letras maiúsculas (Ex. ABNT, ISO) • Se for como números, estão na órdem numérica certa no texto? • É sempre interessante incluir, pelo menos, uma referência publicada na própria revista. 14 Lista de Referências • Estão TODAS presentes? • Estão na configuração requerida? (Enumerados, em órdem numérica, alfabética, etc). • Todas as regras da revista foram atendidas? (título do trabalho, número certo dos nomes de autores, data na posição correta, editores e cidades para livros, etc). • Não siga as normas ABNT! Finalizando… 15 Pontos para checar • As abreviações são em inglês? Ex. cfu (colony-forming units) e não ufc (unidades formadoras de colônias). • Usou o ponto decimal e não a vírgula? • Não colocou algarismos significativos demais, após o ponto decimal? Ex: 0.38762 • Usou seus próprios códigos, difíceis de entender? Use outros, mais lógicos ou curtos. Ex: PC6793, PC9032 para A, B, etc. Mais pontos para checar • Explicou as abreviaturas não padronizadas na primeira vez em que foram usadas? • Mencionou algum resultado cujo método não consta nos M e M? • Qualquer local geográfico mencionado é bem identificado? (Nem tudo mundo sabe que Piracicaba fica no Brasil!). 16 O Resumo • Selecionar as partes mais importantes dos Resultados e da Discussão e colocar no Abstract. Não ultrapassar o número máximo de palavras. • Lembre-se de que muitas pessoas vão ler somente o Resumo. Serviços de divulgação de artigos científicos frequentemente publicam somente o Resumo. • Deve ter impacto e ser significativo!! Estamos chegando! • Utilizar o “spell check” do seu computador para eliminar os erros. • Pedir a revisão de alguém confiável. • Preferencialmente, peça a revisão para alguém cuja língua nativa seja o inglês. 17 Reler “Instruções aos Autores”. Checar mais uma vez o texto, incluindo as referências, e a formatação. Finalmente, envie para a revista! • Não é necessário explicar por que seu trabalho é importante – os revisores vão julgar isso! • Faça uma carta simples – “I should be grateful if you would consider the attached article for publication in …”. 18 Motivos comuns para a recusa de trabalhos • Não foi considerado como um assunto importante. • Não foi inédito (o estudo, ou algo similar, já foi publicado). • Os experimentos não foram apropriados para testar a hipótese. • O número de amostras/repeticões foi muito pequeno. • Os controles foram inadequados. • A análise estatística não foi apropriada. • Os resultados foram interpretados incorretamente. • O trabalho foi tão mal escrito que não foi possível entendê-lo. Boa sorte! 19