QUANDO O DESENHO É FEITO NO COMPUTADOR ... Construção e avaliação de um manual por crianças do pré-escolar Isabel Pereira, Isabel Dias, Marta Gesteiro, Susana Silva ESE – Instituto Politécnico de Leiria {ipereira, mdias}@esel.ipleiria.pt; {martagesteiro, susanasilv}@portugalmail.pt Resumo A aprendizagem é um processo que ocorre ao longo da vida, havendo necessidade de uma constante adaptação do conhecimento. Admitir que a criança desempenha um papel activo na construção do seu desenvolvimento e aprendizagem, supõe encará-la como sujeito e não como objecto do processo educativo de acordo com as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar em Portugal. Na tentativa de atingir o objectivo a que nos propomos, este trabalho pretende abordar e clarificar alguns conceitos essenciais à compreensão desta temática, tais como o papel do computador na sociedade actual, e mais especificamente enquadrado no contexto educativo; o novo papel da criança e do educador. Considerámos também importante analisar o modo como a criança constrói o seu conhecimento, abordando para tal algumas teorias cognitivista da aprendizagem. Por último abordámos o conceito de autonomia como preocupação central do processo educativo, dando como exemplo um dos modelos curriculares propostos para a educação pré-escolar que valoriza esse aspecto, tendo como base as aprendizagens significativas. Apresentaremos ainda o processo de construção e de uma manual de apoio ao programa Paint realizado com as crianças e ainda a sua avaliação. 1. Introdução Nas últimas décadas têm sido desenvolvidos inúmeros estudos no quadro das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), através dos quais emerge a necessidade da escola proporcionar aos alunos o contacto com as novas tecnologias como ferramenta de aprendizagem. No entanto, a educação pré-escolar não é ainda abrangida por estas disposições legislativas, apesar de ser inquestionável a importância de permitir que crianças da mais tenra idade contactem com esta realidade. Nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar em Portugal é referido que a linguagem oral e a abordagem à escrita merecem uma especial atenção na educação préescolar. Contudo, as novas TIC são formas de linguagem com que muitas crianças contactam diariamente. A questão que se coloca não é saber se é viável utilizar o computador na educação pré-escolar, uma vez que esta é uma realidade já confirmada por vários autores. Mas antes, partindo do pressuposto que a criança deve começar desde cedo a contactar com estes meios, permitir que esta comece a dominar uma ferramenta que será essencial para a sua adaptação e integração na sociedade. 2. A Escola e as Novas Necessidades Sociais No 1º relatório anual apresentado à Comunidade Europeia pelo Fórum da Sociedade de Informação (1996), foram sistematizadas algumas conclusões que se prendem com a ideia da urgência da reorganização da educação. O que tem acontecido é que a escola, ao invés de se adaptar às novas tecnologias educativas, colocou os novos meios ao serviço de uma velha pedagogia, não estando, desta forma, a promover a nova alfabetização para a sociedade da VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 590 informação, já que não possui os instrumentos e linguagens capazes de produzir e sistematizar o saber existente na sociedade. Para que a escola possa tirar um verdadeiro proveito das TIC, tem de repensar as suas estruturas, apostando em novas infra-estruturas. A sua organização geral, nomeadamente a forma de distribuição do tempo escolar, dos grupos de trabalho (turmas, professores), de programas centrados na aquisição de competências, entre outros; e os seus métodos pedagógicos, tendo em conta que o professor não é a única fonte de informação, devendo assumir antes o papel de orientador das aprendizagens, passando o aluno a ser um agente activo da sua própria aprendizagem. Neste sentido, as atitudes de cooperação, compreensão, tolerância, respeito, colaboração, autonomia, responsabilidade, e, de um modo geral, todas as atitudes que nos ensinam a viver em comum, são aspectos essenciais que o sistema educativo deve valorizar. 3. O Computador – Novas Possibilidades Educativas A investigação educacional relativa ao computador teve, durante muito tempo, como principal preocupação constatar a possível vantagem do ensino assistido por computador, face ao ensino tradicional, já que se acreditava que o primeiro poderia proporcionar uma aprendizagem mais eficiente, profunda e rápida. Contudo, por questões de rigor metodológico, não se podem ou devem comparar dois meios de ensino diferentes. Os computadores poderão ter um papel a desempenhar, quer como ferramenta de trabalho, meios de descoberta e de formação de conceitos, quer como instrumentos de resolução de problemas. O uso do computador pode ter uma forte influência ao nível da motivação das crianças, criando, grandes oportunidades educativas. Algumas destas possibilidades apontam para a criação de sentimentos de autoconfiança e maior responsabilização da criança pelo seu próprio trabalho. Ao contrário de alguns objectos tradicionais, como uma boneca ou um pequeno carro em que a criança vai compreendendo o seu mecanismo ao relacionar-se com eles e, por isso, facilmente percebe que estes não têm vida, no caso do computador a criança sente bastante dificuldade em compreender o seu sofisticadíssimo mecanismo. E como não consegue compreendê-lo em termos físicos procura “descodificá-lo” a nível psicológico. A criança adquire conhecimentos informáticos e tecnológicos através de um processo relativamente fácil, pois ao utilizar o computador o que a criança pretende é explorá-lo, encarando este desafio como uma aventura divertida. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 591 De acordo com Piaget, a utilização do computador integra-se na fase de “assimilação egocêntrica”, pois é através da experimentação e assimilação que a criança adquire conhecimentos, respeitando a sua lógica pessoal. Através da utilização do computador a criança recebe estímulos adequados à sua estruturação, que definirão a transformação e a auto-regulação da sua estrutura cognitiva. A utilização pedagógica do computador pode ainda proporcionar à criança a aprendizagem por tentativa e erro, desenvolvendo a autonomia e espírito crítico. Mas para que a criança possa lidar harmoniosamente com os seus erros é necessário que tenha próximo de si um educador atento, que encare o erro como um meio para que alcançar o sucesso da aprendizagem de cada criança. Deste modo a aprendizagem é estimulante para a criança, pois “aprende fazendo”. Quando a criança utiliza o computador deve fazê-lo com um par, pois assim se promovem atitudes como a cooperação e a superação de sentimentos de frustração e desmotivação que poderão surgir num grupo com mais de três crianças. O trabalho em equipa desenvolve na criança competências comunicativas e relacionais, sendo por isso importante, tanto em termos de processos como em resultados finais. 4. O Novo Papel da Criança e do Educador Quando se fala no presente e no futuro do ensino, constatamos que o processo de ensinoaprendizagem aspira a uma maior individualização, onde cada criança assume o papel central, tendo em atenção os seus interesses, necessidades, aspirações e ritmos próprios. A capacidade de resolução de problemas será, neste sentido, um dos principais aspectos a ter em consideração. Não parece haver uma idade pré-determinada para a introdução da criança na utilização das TIC, nomeadamente na utilização do computador, visto que isso depende fortemente do seu grau de desenvolvimento e da sua motivação. Contudo, devido à grande plasticidade mental que a criança comporta, é possível, desde cedo, introduzir o computador nas suas actividades, pois esta aprende com relativa facilidade a utilizar os mais variados programas informáticos, sendo para isso necessário que os métodos e as técnicas proporcionados sejam acessíveis e estimulantes à exploração das possibilidades do computador, bem como à descoberta das próprias capacidades da criança. Para além da necessária formação pessoal e pedagógica do educador, a orientação que este dá é fundamental para a definição de regras de utilização do computador e atribuição de papéis específicos. É por isso que é importante uma orientação flexível, de modo a respeitar os interesses, motivações, nível de desenvolvimento, competência e desempenho que a criança evidencia na utilização deste recurso educativo. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 592 5. A autonomia da criança como preocupação central Para que a criança possa ser de facto um sujeito activo no seu processo de ensinoaprendizagem, é necessário proporcionar um ambiente que promova a sua autonomia, de modo a tornar as suas aquisições mais significativas. Na enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura a autonomia é considerada como o comportamento de um sujeito que apenas obedece às leis que este próprio criou ou às leis cujo o valor compreendeu e aceitou. A sua conduta rege-se em função das suas próprias leis e sistemas de valores criados por si, sendo que a autonomia é o “processo pessoal de consciencialização do Eu no Mundo que não existe em sentido absoluto, pois está sujeito a um constante desenvolvimento”. A segurança, a autonomia, a disponibilidade e a motivação são factores essenciais a toda a actividade humana e é a partir destes que surgem aprendizagens realmente efectivas. É neste âmbito que surge a aprendizagem-acção. Toffler, citado por Yves Bertrand (1991), propõe, então, uma estratégia pedagógica denominada por aprendizagem-acção. Esta estratégia consiste no desenvolvimento de um trabalho colaborativo onde impera uma aprendizagem sistemática e activa por parte do sujeito. Através da aprendizagem-acção é possível a criança auto-organizar-se em grupos de trabalho. Assim, cada grupo de trabalho traça planos para concretizar um objectivo comum. Deste modo, a criança apreenderá a avaliar problemas reais, a imaginar e a comunicar potenciais soluções. Neste sentido, a criança desenvolverá importantes competências ao nível comunicativo e social. O que promoverá o desenvolvimento da autonomia, de fortes laços afectivos, colaborativos e de sentimentos de pertença a um grupo. O currículo High-Scope como base de aprendizagens significativas Júlia Formosinho (1996), refere três modelos curriculares para a educação de infância – Movimento da Escola Moderna; Modelo Curricular High-Scope e o Projecto Reggio Emília. Estes modelos têm princípios em comum que se baseiam no respeito pelos interesses e capacidades de cada criança, encarando-a como um sujeito activo no seu processo de aprendizagem. Distinguem-se, contudo, na especificidade dos seus pressupostos, nomeadamente ao nível da organização do tempo e do espaço educativos e nas metodologias de trabalho aplicadas. Devido à natureza do nosso trabalho de investigação – desenvolvimento da autonomia da criança na utilização dos recursos educativos, nomeadamente o computador, e mais VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 593 especificamente o programa Paint – debruçar-nos-emos essencialmente no modelo curricular High-Scope, visto que a sua estrutura está essencialmente orientada para a construção do conhecimento pela criança, de modo a desenvolver a sua autonomia a nível moral e intelectual - assente na teoria de Piaget.1 O currículo High-Scope é regido pela aprendizagem em acção. Este tipo de aprendizagem mostra ser indispensável ao desenvolvimento integral da criança e ocorre quando se proporcionam oportunidades adequadas do ponto de vista do desenvolvimento. A aprendizagem activa implica o envolvimento em “experiências-chave”, as quais permitem que a criança interaja autonomamente com o meio que a rodeia, contribuindo assim para o seu desenvolvimento intelectual, social, emocional e físico. O processo de aprendizagem realizase através da interacção entre as acções da criança e o meio implicando quatro elementos críticos: 1) acção directa sobe os objectos; 2) reflexão sobre as acções; 3) motivação intrínseca, invenção e produção; 4) resolução de problemas. A implementação da rotina diária é outro ponto essencial para a segurança e a independência da criança face ao adulto, pois esta, ao interiorizar uma determinada rotina, pode facilmente orientar a sua actividade em função do tempo disponível, sem necessitar do auxílio do adulto. A rotina diária inclui um processo de planear-fazer-rever. Ou seja, há uma planificação, concretização e consequente reflexão/avaliação das actividades desenvolvidas. As actividades são desenvolvidas em pequeno e grande grupo, assentes nas decisões e realizações individuais e colectivas. Deste modo, para além de promover a autonomia de cada criança, promove também a cooperação e a interacção grupal. 1 O modelo curricular High-Scope é iniciado por David Weikart (1962) sob a denominação “Ypsilanti Perry- School Project”. Este projecto integra a perspectiva desenvolvimentista para a educação de infância, e baseia-se nas investigações de Kohlberg e Mayer. Até hoje, o currículo High-Scope passou por quatro importantes fases. 1ª – educação compensatória – a aprendizagem processava-se através da acção e não somente pela imitação ou memorização; 2ª– tarefas piagetianas/tarefas de aceleração – desenvolvimento de uma rotina diária (plan-do-review). O adulto aplicaria diferentes tarefas com o intuito de promover o desenvolvimento das estruturas próprias de cada estádio permitindo à criança alcançar o estádio seguinte. 3ª– experiências chave – organização das actividades educativas baseadas em “experiências chave” e numa nova concepção do papel do adulto, que deixava de determinar tarefas, técnicas e situações de aplicação estandardizadas para, partindo da teoria, construir a sua prática educativa com base na reflexão. 4ª– a criança como motor da aprendizagem no diálogo – corresponde ao currículo High-Scope actual. É atribuído à criança o poder de iniciativa, decisão e acção. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 594 6. Construção e avaliação de um manual do Paint 6.1. Objectivos do estudo e percurso metodológico Apresentar-se-à de seguida o trabalho desenvolvido com 21 crianças (7 raparigas e 14 rapazes, de quatro a seis anos de idade) que frequentavam um Jardim de Infância (JI) da zona centro de Portugal. Pretendíamos promover o primeiro contacto da criança com o computador, através de um programa de desenho, elaborando para tal um manual de utilização, de forma a desenvolver a autonomia da criança. Propusemos os seguintes objectivos de trabalho: •Levar a criança a reconhecer o computador como um importante recurso; •Sensibilizar a criança para a importância do computador na sociedade actual; •Estabelecer um primeiro contacto com o computador (o rato, teclado e monitor); •Reconhecer as dificuldades de utilização do hardware e do software disponível; •Desenvolver a autonomia das crianças com o recurso a um manual de utilização; •Explorar livremente o programa Paint, nomeadamente as suas ferramentas de trabalho. No grupo, mais de metade das crianças – catorze no total – frequentavam o JI pela primeira vez, e as restantes frequentaram-no apenas no ano lectivo anterior. De um modo geral, o grupo não apresenta problemas de saúde significativos e não regista nenhuma criança com Necessidade Educativas Especiais diagnosticadas. Realizámos, a cada criança, entrevistas semi-directivas ao longo do processo, de modo a perceber o tipo de contacto que cada uma delas estabeleceu com o computador assim como o grau de satisfação. Utilizámos também a observação directa através de grelhas de observação e observação naturalista com vista à recolha de notas de campo que nos permitissem complementar o estudo. No final de todo o processo de recolha da informação foi construído e depois aplicado/utilizado um manual de utilização do programa Pain2t de forma a desenvolver a autonomia das crianças na utilização deste recurso educativo. O trabalho foi desenvolvido em dois momentos fundamentais: 1º - As crianças trabalharam a pares ao longo de dois meses, contactando com o computador, no mínimo, uma vez por semana. A constituição dos grupos foi realizada aleatoriamente. Esta foi uma fase essencialmente dedicada à exploração do 2 Escolhemos o programa de desenho Paint por ser, regra geral, um programa que desperta o interesse das crianças, para além de ser de fácil utilização. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 595 programa Paint; 2º - Procedeu-se à construção e avaliação do manual de utilização do Paint. Esta avaliação foi realizada por cada criança. Iniciámos o trabalho com a planificação/calendarização para a ocupação de um espaço exterior à sala do JI – a Mediateca3. Mais tarde criou-se um novo espaço na própria sala, disponibilizando para tal um computador e uma impressora. Ao longo de seis semanas (de 16 de Fevereiro a 21 de Abril de 2004) as crianças construiram um manual de utilização do Paint. No final da 7ª semana, demos início à aplicação / utilização do manual com as crianças, com vista à sua avaliação. 6.2. Fase da construção e avaliação do manual Este trabalho começou com as crianças a explorarem livremente as ferramentas do Paint. Encontrámos as seguintes categorias na informação recolhida ao longo deste momento: qual o trabalho realizado, o que dizem aprender, o que dizem gostar mais, dificuldades referidas e grau de satisfação. Na 2ª fase procedeu-se à construção e aplicação do manual de utilização do Paint. A avaliação do manual realizada pelas crianças pode organizar-se em dois níveis distintos – o nível funcional e o nível de autonomia de utilização. Cada um destes níveis foi dividido em vários parâmetros. Para o nível funcional foram criados três parâmetros: 1)“facilidade de manipulação”, 2)“facilidade em aceder à informação” 3) “resposta às necessidades”. Para o nível da autonomia da criança na utilização do manual foram estabelecidos sete parâmetros de observação: 1)“consegue ligar o computador sozinho” 2)“consegue aceder ao Paint sem necessitar de ajuda” 3)“utiliza o rato com facilidade” 4)“conhece a função das ferramentas presentes no Paint” 5)“sabe seleccionar a informação que deseja” 6)“consegue empregar eficazmente as ferramentas nas suas produções” 7)“mostra empenho na utilização das ferramentas, utilizando-as com criatividade”. A nível funcional a maioria das crianças, das dez observadas, consideraram o manual como um instrumento de fácil utilização, apesar de, inicialmente, todas as crianças terem sentido alguma dificuldade na compreensão da sua estrutura e função, solicitando a ajuda do adulto 3 Centro de Recursos comum a todo o agrupamento ao qual pertence o JI. É neste espaço que se encontra o único computador disponível para as crianças. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 596 para este fim. Contudo, através da exploração, a grande maioria das crianças foi adquirindo uma certa segurança, deixando, gradualmente, de requisitar ajuda do adulto, desenvolvendo assim uma progressiva autonomia neste campo. Como pode ser observado através do gráfico 1, seis das crianças observadas mostram, através do manual, uma grande facilidade em aceder à informação, encontrando facilmente resposta para as suas necessidades. Nível Funcional 10 8 6 4 2 0 Baixo Médio Elevado 1.1. 1.2. 1.3. Parâmetros de Observação Gráfico 1 1 - Nível Funcional 1.1. Facilidade de manipulação 1.2. Facilidade em aceder à informação 1.3. Resposta às necessidades Como já foi referido, para que a criança exerça um grau satisfatório de autonomia é necessário que se sinta em segurança e disponível em relação a uma determinada situação. (Vayer P.; 1990). Com a utilização do manual, e como pudemos registar através da observação, as crianças sentiram-se mais seguras ao trabalharem com o Paint, um programa que já conheciam e dominavam minimamente, mas sobre o qual existiam sempre algumas dúvidas. Com a utilização do manual, e apesar de puderem recorrer à ajuda do adulto, preferiram pesquisar a informação, desenvolvendo neste sentido um trabalho mais autónomo. Os parâmetros que obtiveram uma resposta mais satisfatória, estão relacionados com as actividades com que as crianças tiveram mais contacto, mostrando que estas, tal como foi referido no enquadramento teórico, privilegiam o desenvolvimento de uma aprendizagem activa, baseada na vivência de experiências directas e significativas, através das quais adquirem conhecimentos, como é defendido pelo modelo High-Scope. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 597 Nível de Autonomia na Utilização do Paint Baixo 10 8 6 4 2 0 Médio 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 2.5. 2.6. 2.7. Parâmetros de Observação Elevad o Gráfico 2 2 - Nível de autonomia na utilização do Paint 2.1. Consegue ligar o computador sozinho 2.2. Consegue aceder ao Paint sem necessitar de ajuda 2.3. Utiliza o rato com facilidade 2.4. Conhece a função das ferramentas presentes no Paint 2.5. Sabe seleccionar a informação que deseja 2.6. Consegue empregar eficazmente as ferramentas nas suas produções 2.7. Mostra empenho na utilização das ferramentas, utilizando-as com criatividade Com a aplicação/utilização do manual pudemos constatar que as crianças que tinham maior dificuldade em identificar as funções das diferentes ferramentas do Paint, conseguiram, com a consulta, conhecer a sua função, através dos exemplos apresentados ao longo do manual, seleccionando desta forma a informação que desejavam. Através dos desenhos elaborados no Paint ao longo da investigação, observa-se que as crianças utilizam, regra geral, entre duas a quatro ferramentas, sendo as mais utilizadas aquelas que se assemelham aos materiais vulgarmente utilizados no âmbito da expressão plástica sob o tradicional formato do papel. Estas ferramentas são o lápis, o pincel, o spray e a borracha. Neste sentido, os dados obtidos através do parâmetro 2.6. e 2.7., em que sete crianças atingiram um nível de desempenho elevado, revelam que para além das crianças conseguirem empregar eficazmente as diferentes ferramentas nas suas produções, mostram também empenho e criatividade no produto final. A partir da utilização do manual observámos que houve um aumento da pesquisa das características das diferentes ferramentas, o que contribuiu para um maior cuidado e empenhamento na sua aplicação. As crianças que mostraram mais dificuldades neste domínio, são, regra geral, aquelas que nunca tinham tido contacto com o computador. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 598 Conclusão A introdução do computador no JI permitiu uma nova dinâmica na sala de actividades. Solicitado constantemente pela maioria das crianças, algumas vezes foi gerador de pequenos conflitos, que se foram atenuando com a rotação do trabalho de pares. Na primeira fase de exploração do computador as crianças, apesar de motivadas, solicitavam com alguma frequência a ajuda do adulto para realizarem pequenas tarefas essencialmente de exploração de ferramentas. Depois de todo o percurso realizado, entendemos que a utilização do manual facilitou o contacto das crianças com o computador, nomeadamente na utilização do Paint. A análise e discussão dos resultados revelam que as crianças adquiriram uma maior autonomia na utilização deste recurso educativo, o que poderá facilitar a transferência de conhecimentos para novas situações e mais complexas. Com a aplicação do manual, as crianças continuaram a evoluir no seu processo de aprendizagem, mas desta vez de uma forma mais autónoma. Os resultados obtidos apontam para que a utilização desta ferramenta é fundamental porque transmite segurança à criança. Num trabalho futuro seria interessante utilizar o manual noutras salas ou JI, confirmando ou refutando os resultados obtidos e levando as crianças a transmitir os conhecimentos adquiridos a outros pares como forma de valorizar as suas aprendizagens. Tal como é defendido nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, é essencial que a criança tenha as condições necessárias que lhe permitam aprender a aprender, desempenhando o educador um importante papel de facilitador das aprendizagens. Concluímos que, tal como é afirmado por vários autores, é importante sensibilizar e formar a criança desde cedo para a utilização das TIC, procurando garantir, ao maior número de indivíduos, o acesso à informação, tendo em conta que a aprendizagem é um processo que ocorre ao longo da vida. Bibliografia ESTRELA, A.; FERREIRA, J. (2000); Tecnologias em Educação – Estudos e Investigações; X Colóquio – Univ. de Lisboa, Lisboa. FORMOSINHO, J. (1996); Modelos Curriculares para Educação de Infância; Colecção Infância, vol.I, Porto Editora, Porto. Ministério da Educação (1997); Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar; DEB, Núcleo de Educação Pré-Escolar, Lisboa. PONTE, J. P.(2002); A Formação para a Integração das TIC na Educação Pré-Escolar e no 1º Ciclo do Ensino Básico; Porto Editora, Porto. VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa 599