O GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA NAS PRÁTICAS ESCOLARES DA
LEITURA E DA ESCRITA
Sandra Araujo Lima (PPGE UFAL)
[email protected]
Resumo: Este artigo baseia-se numa pesquisa de mestrado, na área de Educação e
Linguagem, que tem como tema central o gênero textual crônica e sua presença no
ensino de Língua Portuguesa na educação básica, principalmente no ensino médio. De
fato, a crônica, além de sua presença nos livros didáticos, é muito freqüente nas mídias
impressa e eletrônica. A autora, além de caracterizar a crônica e apresentar alguns
aspectos de sua origem e evolução, discute a prática de leitura e escrita na escola,
sugerindo a crônica como um meio de se despertar nos jovens a motivação e o gosto
para o exercício dessas habilidades.
Palavras chaves: leitura e escrita na escola; crônica; motivação para ler e escrever
Introdução
Este artigo aborda a importância de se desenvolver um trabalho voltado à
leitura e à escrita de textos na escola, a partir do gênero crônica. O trabalho tem
relevância visto que, atualmente, muito se discute sobre o baixo nível de compreensão e
de produção de texto dos alunos que se encontram na educação básica, principalmente
no ensino médio, bem como daqueles que já estudam nos anos iniciais de uma
universidade. Mediante esse fato, várias ações para erradicar os problemas de leitura e
escrita têm surgido; no entanto parece que cada vez mais eles progridem.
A leitura exige muito mais do que uma simples decodificação das palavras ou
interpretações superficiais. É necessário que haja as inferências para que o texto seja –
de fato – compreendido; desse modo, é que a verdadeira leitura acontece. Ela abre as
possibilidades para a escrita, a partir da variedade de conhecimentos adquiridos pelo
2
leitor; e a crônica pode contribuir para isso, pois é um gênero que aparece em vários
suportes textuais, a exemplo dos jornais, revistas, internet, entre outros, e até no rádio e
na televisão. Assim, a crônica chega facilmente às pessoas, despertando nelas o
interesse pelo texto escrito.
Uma metodologia de ensino voltada tanto à leitura quanto à escrita, a partir de
uma crônica, conduz o indivíduo à apreciação de outros gêneros com os quais ele
mantém contato diário, bem como – dependendo do tema tratado – o leva a adentrar em
conteúdos abordados em outras áreas do saber, desenvolvendo, dessa forma, a
interdisciplinaridade. Além disso, a crônica é um gênero frequentemente encontrado nos
livros didáticos, o que facilita as atividades do professor, que, por sua vez, pode
incentivar à leitura e à produção textual a partir de uma variedade de crônicas que
circulam na mídia impressa e na internet (além das do livro didático); contribuindo,
dessa forma, para dinamizar as atividades em sala de aula.
É bom lembrar, ainda, que contribuir para a formação de leitores e produtores
de textos não é tarefa apenas do professor de Português, mas também dos professores
que lecionam outras disciplinas; eles – da mesma forma – são responsáveis por isso.
Assim sendo, a abordagem aqui colocada, em relação ao gênero crônica, direcionada
quase que especialmente àqueles que lecionam a língua materna, poderá também
favorecer aos que transmitem o conhecimento de outras áreas do saber.
Portanto, este trabalho é dirigido aos profissionais que vivenciam o cotidiano
da sala de aula e buscam meios que conduzam, enfim, à aprendizagem e ao exercício da
leitura e, por meio destes, à produção escrita.
1. Crônica: definição do gênero
A palavra crônica é derivada do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo), o
significado principal que acompanha esse tipo de texto é exatamente o conceito de
tempo. Nesse sentido, a crônica é o relato de um ou mais acontecimentos em um
determinado tempo. A quantidade de personagens é reduzida, podendo inclusive não
haver personagens. É o relato de um fato cotidiano, apresentando lirismo, reflexão, e
certo tom de ironia e humor. Para Arrigucci Júnior (1987, p.52) a crônica é o relato ou
comentário “de fatos corriqueiros do dia-a-dia, dos fait divers, fatos da atualidade que
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alimentam o noticiário dos jornais, desde que esses se tornaram instrumentos de
informação de grande tiragem no século passado 1”. Neves (1995, p. l7) afirma que a
crônica é um texto que “tematiza o tempo e simultaneamente o mimetiza”. É, ao mesmo
tempo, literatura e notícia de jornal, uma vez que comumente encontramos no jornal
uma página dedicada à crônica. Vale ainda ressaltar que pode ser observada em poemas,
narrativas, filmes e seriados de tv. Nos dois últimos, aparece, principalmente, quando
registram os costumes de uma época. Segundo Bender e Laurito (1993, p.11), “o termo
crônica mudou de sentido em sua evolução, mas nunca perdeu os vínculos com o
sentido etimológico que lhe é inerente e que está em sua formação”. Esse dizer
comprova a evolução da crônica, conforme épocas e culturas ao longo do tempo.
Inicialmente, na Idade Média, esse gênero textual tinha como finalidade narrar
o maravilhoso e o lendário, eram os chamados cronicões medievais. Contudo, foi
durante o Humanismo português que o cronista passou a ser um escritor profissional;
dessa época, destaca-se Fernão Lopes, cronista-mor da Torre do Tombo, que tinha como
tarefa registrar a história dos reis de Portugal. No dizer de Bender e Laurito (1993,
p.12), “a palavra crônica, no entanto, ainda que, posteriormente, viesse a abranger
outros sentidos, permaneceu na língua portuguesa com o sentido antigo de narrativa
vinculada ao registro de acontecimentos históricos”.
Enquanto texto jornalístico, a crônica teve início no século XIX, a partir de
publicações que abordavam diversos assuntos e eram colocadas nos rodapés das páginas
dos jornais da época; eram os chamados folhetins, que tinham como finalidade distrair
os leitores, proporciona-lhes um momento de descanso, em meio a uma avalanche de
notícias pesadas. Muitos aderiram a esse tipo de leitura e hoje pode-se dizer que a
crônica atrai bastantes leitores que procuram - tanto nas páginas dos jornais quanto nos
livros e por outros tantos meios - uma forma de distração através de textos curtos, que
tratam dos acontecimentos cotidianos de um jeito que envolve e emociona.
2. A crônica no Brasil.
1
Século XIX
4
A carta de Pero Vaz de Caminha é considerada pelos historiadores a primeira
crônica brasileira, e igual a ela aconteceram outros relatos de cronistas que também
deram notícias da nova terra aos europeus. Caminha registra e relata fielmente as
circunstâncias do Descobrimento num misto de concretude e magia, pelo fato de
encontrar-se, principalmente, diante de um povo cujos costumes eram totalmente
estranhos aos portugueses. Conforme Jorge de Sá apud Ferreira (2008, p.364), “o texto
de Caminha partiu da observação direta dos fatos, o que é condição essencial para que
os acontecimentos efêmeros ganhem concretude e passem a integrar a realidade dos
leitores [...]”.
No século XIX, a crônica passa a ter uma conotação diferente do relato
histórico, passando a fazer parte do jornal, na época conhecida como folhetim de
variedade.
Das duas espécies de folhetins publicados na imprensa do século XIX, a que
deu origem ao gênero crônica – tal como o concebemos modernamente – foi
o folhetim de variedades. E o que era este...? Nos rodapés dos jornais, ao
mesmo tempo que cabiam romances em capítulos, também cabia – ainda
quando em outras folhas – aquela matéria variada dos fatos que registravam e
comentavam a vida cotidiana da província, do país e até do mundo.
(BENDER e LAURITO, 1993, p. 16)
Os cronistas daquela época eram conhecidos como folhetinistas, ou seja,
aqueles que escreviam os folhetins de variedades; tinham como objetivo conquistar o
público a proporção em que este tomava gosto por esse tipo de texto e, a partir daí,
adquiria
a
prática
da
leitura.
Grandes
nomes
do
Romantismo
e
do
Realismo/Naturalismo brasileiro também escreveram folhetim de variedades: José de
Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul
Pompéia (desse autor vale lembrar a obra O Ateneu, também conhecida como crônica de
saudades), entre outros. Machado de Assis, por exemplo, trabalhava no jornal ao mesmo
tempo em que cuidava de sua produção literária. Ao misturar notícia e ficção, encontrou
meios para a produção de crônicas, escritas com uma linguagem num tom coloquial,
como se o autor estivesse conversando com o leitor, a exemplo do que acontece em seus
romances. “Muitas vezes, sua crítica vinha desferida indiretamente através de histórias
fictícias ou anedotas (FERREIRA, 2008, p.365).”
Enquanto o folhetim do século XIX tratava de assuntos variados, além de
tomar quase metade da página do jornal, a crônica moderna encurtou e trata apenas de
um assunto, já que o jornal de hoje tem várias seções e cada uma delas, um assunto
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diferente. Grande parte dos escritores (poetas e romancistas) que se iniciaram na
carreira literária no início do século XX também escreveram crônicas; desse período
podemos destacar Lima Barreto, com suas crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro;
Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.
Dentre os cronistas atuais,
podemos citar Stanislaw Ponte Preta, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, estes
inclusive têm crônicas que já se eternizaram, foram publicadas em livros, inclusive os
didáticos.
Como se vê, a crônica no Brasil, desde a carta de Pero Vaz de Caminha até os
escritos dos cronistas atuais sofreu mudanças; isso se deve às diferenças sociais e
culturais existentes em cada povo, cada raça, em cada época. Com o passar do tempo, a
crônica brasileira passou a ter um caráter mais literário, fazendo uso de uma linguagem
mais leve e envolvendo lirismo, poesia e fantasia.
3. A crônica e a formação de leitores
Atualmente, muito se discute sobre a importância de se valorizar as aulas
voltadas às habilidades de leitura e escrita. Os alunos precisam ler e escrever mais na
escola. Isso se faz necessário para tentarmos minimizar o que vem acontecendo com os
alunos que saem do ensino médio: eles chegam à universidade sem condições de ler e
compreender a diversidade de gêneros textuais que circulam tanto no âmbito acadêmico
quanto fora dele, bem como não têm condições de produzir, com relativa facilidade,
textos coerentes e significativos.
Tendo em vista esse quadro, muito se tem discutido e tentado fazer para
despertar em nossas crianças e jovens o interesse pela leitura e, consequentemente,
encaminhá-los a uma boa escrita. No entanto, o problema ainda não foi sanado, e as
discussões a esse respeito crescem cada vez mais. O que fazer então?
O primeiro passo – de acordo com o que já se tem colocado - é levar o aluno à
leitura, conduzi-lo a desenvolver essa prática, tendo-a como uma atividade prazerosa, da
qual se torne um aficcionado. Para isso, é importante levar à sala de aula textos que
despertem o interesse dos jovens pelo ato de ler e apreciar vários gêneros textuais que
aparecem não só nos livros didáticos, como também noutros suportes. Assim, sem
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precisar descuidar do ensino da gramática e da redação, há de se promover mais
oportunidade de leitura nas aulas de Português e também de outras disciplinas.
Um gênero textual com possibilidades de abrir esse caminho é a crônica. Por
apresentar uma linguagem moderadamente elaborada, mais tendente à informalidade;
forma breve, estilo próximo ao da conversação, ora lirismo, ora humor, refletindo sobre
fatos do cotidiano, a crônica facilmente se aproxima dos leitores. Além de ser um
gênero híbrido que informa e diverte, a crônica (no momento adequado) pode
encaminhar ao trabalho com outros gêneros textuais que, na maioria das vezes, são
introduzidos na sala de aula secamente, provocando de certa forma o desinteresse dos
alunos pela leitura.
Uma metodologia voltada à leitura a partir do gênero crônica encaminha os
jovens a outros gêneros com os quais eles mantêm contato diário, bem como –
dependendo do assunto tratado – os faz adentrar em conteúdos abordados em outras
áreas do conhecimento. Segundo Silveira (2009, p. 238), “[...] a crônica se presta muito
bem ao uso de oficinas de leitura e produção de texto e, se o professor fizer uma boa
seleção de crônicas, ela poderá despertar no aluno o tão desejado prazer do texto”.
Contudo, para que essas ideias, de fato, se concretizem, faz-se necessário que
os professores se empenhem na condução do processo de leitura e escrita em sala de
aula, buscando meios viáveis para isso, e a crônica se presta muito bem a esse papel. Há
que se considerar também que esse gênero é um meio eficaz de se despertar a
consciência literária, como lembram Bender e Laurito (1993, p.44): “principalmente por
ser tão difundido nos livros didáticos, acaba sendo a principal fonte de texto literário
para a maioria dos nossos jovens, quando não a única, pelo menos no 1º grau”.
É por meio de uma crônica que se podem conhecer particularidades de várias
culturas, manifestações de um povo, de uma época, numa miscigenação entre o
jornalístico e o literário, além da abordagem de temas mais próximos dos leitores,
especialmente daqueles que não têm a leitura como uma prática. Para Ferreira ( 2008, p.
388):
A instauração da informalidade e do lúdico favorecerá o diálogo entre
gêneros, entre tipos, entre espécies, que vimos chamando de intercâmbio.
Este que desencadeará surpresas e facilitará o riso, diante da certeza que tem
o leitor de que o humor começa desse inesperado. Sendo assim, mesmo em
textos dissertativos, há uma reflexão menos tensa, menos densa, mais
dialogada. Afinal, o intercâmbio chama o leitor já em um primeiro momento
para o diálogo e para a própria reflexão.
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Desenvolver, portanto, uma metodologia visando à formação de leitores a
partir de crônicas tende a contribuir para uma melhor situação de aprendizagem.
Através desse gênero, o ato de ler pode ser despertado e intensificado. Então, por que
não aproveitar um gênero acessível a todos e com um leque de possibilidades a ser
trabalhado? Se as aulas forem bem desenvolvidas, os resultados poderão ser
satisfatórios.
4. A produção do texto escrito e o gênero crônica
Escrever tornou-se essencial ao mundo moderno; a comunicação através da
escrita cada vez mais é crescente, isso porque em todos os lugares nos deparamos com
informações escritas, das mais simples às mais complexas. Escrever não se associa
somente aos bancos escolares, também somos solicitados a escrever nas mais diversas
situações cotidianas, os mais diversos tipos de textos.
Se houve um tempo em que era comum a existência de comunidades ágrafas,
se houve um tempo em que a escrita era de difícil acesso ou uma atividade
destinada a alguns poucos privilegiados, na atualidade, a escrita faz parte da
nossa vida, seja porque somos constantemente solicitados a produzir textos
escritos (bilhete, e-mail, listas de compras, etc.,etc.), seja porque somos
solicitados a ler textos escritos em diversas situações do dia-a-dia (placas,
letreiros, anúncios, embalagens, e-mail, etc., etc.). (KOCH e ELIAS 2009, p.
31)
No entanto, observa-se que escrever tornou-se um grande problema para muita
gente, até mesmo para aquelas pessoas que são letradas, que passaram pelos bancos
escolares e encontram-se nos bancos de uma universidade, mediante uma seleção.
Pessoas que, diante de uma solicitação para escrever um texto (por menor que seja), não
conseguem fazer isso com a necessária proficiência, e chegam a perder, por exemplo,
boas oportunidades no mercado de trabalho. Tal situação nos leva a questionar o que faz
a escola durante a educação básica; o que realmente acontece ao longo desse processo
de escolarização; enfim, o que se está fazendo para direcionar os alunos à leitura e à
escrita.
Sabe-se que o ensino da produção textual tem acontecido, na maioria das
vezes, sem uma visão pragmática, sem que o aluno pense nos seus supostos leitores,
mesmo no “faz de conta”. Noutras palavras, a produção acontece sem a intenção de uma
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interação entre os interlocutores; até porque a escrita, desse modo, dá-se sem que o
autor leve em conta o conteúdo e os meios utilizados para a organização deste. Como
diz Bakhtin (1997, p. 350),“não se pode deixar a palavra para o locutor apenas. O autor
(locutor) tem seus direitos sobre a palavra, mas também o ouvinte tem seus direitos
[...]”. Por isso é importante que as aulas de produção de texto visem, principalmente, às
situações de interação entre autor e leitor (es). Nesse sentido, é necessário – como já foi
mencionado – que o professor de Língua Portuguesa priorize a leitura, em sala de aula,
de textos que despertem o interesse dos alunos, para em seguida serem trabalhadas as
atividades de produção com base no texto lido. Koch e Elias (2009, p.43) colocam que
“para a atividade de escrita, o produtor precisa ativar “modelos” que possui sobre
práticas comunicativas configuradas em textos [...]”.
Partindo dessa visão, a crônica é um gênero textual capaz de conduzir também
(além da leitura) as atividades de produção; visto que, de acordo com o que foi
colocado, nela podem ser observados outros gêneros, além das tipologias textuais
clássicas: narração, descrição e dissertação. Conforme Silveira (2009, p.237), a crônica
é
um gênero heterogêneo, não tendo, portanto, uma forma rígida. Pode servir-se
de todos os tipos textuais (narração,descrição,argumentação,etc) e guarda
fronteiras muito tênues com o artigo de opinião, e com outros gêneros, como o
pequeno conto, o causo, a narrativa pessoal e até com o ensaio [...]
Com tantas alternativas que esse gênero oferece, tornar-se-á possível, a partir
dele, montar e desenvolver aulas direcionadas à produção de textos escritos, visto que,
quando bem trabalhado na sala de aula, primeiramente com leitura, em seguida com
várias produções a partir dele, os educandos poderão ser direcionados às práticas de
escrita de outros gêneros também. Primeiro, porque, ao produzirem um texto tendo
como base outro do qual eles gostam, torna menos pesado o contato inicial com a
produção textual, levando em conta que no gênero aqui citado encontram-se a conversa
fiada, as marcas da oralidade, o tom conversacional, que também caracterizam as
produções de boa parte dos alunos; segundo, porque, a partir daí, quando já habituados a
escrever, poderão partir para as peculiaridades de produção de outros gêneros. O
importante, nesse primeiro momento, é que eles aprendam escrever de forma coesa e
coerente, pensando nos seus interlocutores; que o texto, enfim, busque a competência
comunicativa dos interlocutores. Koch e Elias (Op. Cit., p. 74) defendem que
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cabe, pois, à escola possibilitar ao aluno o domínio do gênero,
primeiramente, para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, de modo a ser capaz de
compreendê-lo, produzi-lo na escola ou fora dela; para desenvolver
capacidades que ultrapassam o gênero e são transferíveis para outros gêneros
próximos ou distantes.
Ainda, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (2001, p.
25), “para boa parte das crianças e dos jovens brasileiros, a escola é o único espaço que
pode proporcionar acesso a textos escritos, textos estes que se converterão,
inevitavelmente, em modelos para a produção”. Compete, portanto, ao professor
orientar adequadamente à produção do texto escrito, já que é ele - nesse sentido – o
mediador entre o aluno e a produção escrita deste.
A escrita, partindo da leitura de crônicas, viabilizará o despertar do interesse
dos alunos para procurar esse gênero em outros suportes até considerados
desinteressantes para eles, a exemplo dos jornais; suscitando então o interesse pelas
notícias, artigos de opinião e de outros que se encontram nas paginas desse veículo de
comunicação. Além disso – ratificando o que já foi dito –, contribuir para o interesse do
aluno à leitura não é tarefa apenas do professor de língua materna, mas também de todos
os outros que desenvolvem seu trabalho em uma sala de aula; essa atitude logicamente
se estende à escrita. Logo, professores que lecionam outras disciplinas, a exemplo de
Sociologia, Filosofia, Arte, História, podem (dentro do assunto em estudo) orientar seus
alunos à produção de uma crônica e desenvolver essa atividade com o auxílio do
professor de Português, realizando assim um trabalho de parceria e, portanto,
interdisciplinar.
Por fim, acreditamos que diante das dificuldades de comunicação, por meio da
produção de um texto escrito, pelas quais passa boa parte dos brasileiros; e sendo a
escola o alicerce dessa competência comunicativa, as orientações para a produção de
texto - mediadas pelo gênero crônica - contribuirão de forma significativa para o bom
andamento do trabalho do professor na sala de aula.
Considerações finais
Formar leitores competentes e capacitados para a escrita da diversidade de
textos que circulam socialmente é a principal missão da escola atual; contudo, ainda se
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observa certa resistência de alguns educadores em valorizar – durante suas aulas – a
leitura de textos escritos, bem como a produção a partir destes. Esse é um problema
gravíssimo que põe em risco o futuro de uma nação, pois é a escola a principal
formadora daqueles que futuramente estarão, de forma direta e indireta, conduzindo o
País; os futuros profissionais que terão a missão de formar outros profissionais.
Entretanto, se a situação de aprendizagem da leitura e da escrita que ora observamos nas
escolas brasileiras permanecer, o futuro do Brasil estará comprometido. Logo, remediar
esse descaso que leva o país a uma enfermidade cultural é urgente; não apenas
comprometer-se, mas efetuar práticas que possam ajudar a despertar o interesse dos
jovens pelos textos escritos. Sabemos que essa não é uma tarefa fácil, em virtude do
contexto que vivenciamos: um mundo onde a internet satisfaz a curiosidade das
crianças, dos jovens e de muita gente adulta também; no entanto, sendo o professor um
ator em sala de aula, pode servir-se de práticas pedagógicas que levem os alunos ao
interesse pelo texto escrito, utilizando, para isso, além dos livros didáticos e outros
suportes textuais, a internet.
Provocar nos jovens o interesse pela leitura, quando se vive em um mundo
bastante concorrido, tornou-se ponto de forte discussão, especialmente entre os
professores de Língua Portuguesa, que são cobrados cotidianamente a formarem leitores
e produtores proficientes de textos, principalmente visando ao novo ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio), cujas questões são relacionadas a textos. Então, por que
não organizar nas salas de aula oficinas de leitura e produção de textos a partir de uma
ou mais crônicas? Certamente os alunos irão agradecer pelas aulas dinâmicas nas quais
o texto passa a exercer poder atrativo. E a escola só tem a ganhar com isso.
REFERÊNCIAS
ARRIGUCCI JR., David. Fragmentos sobre a crônica. In: Enigma e Comentário:
Ensaios sobre Literatura e Experiência. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
BAKHTIN, Mikhail. O problema do texto. In:_________ Estética da criação verbal.
São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BENDER Flora e LAURITO Ilka. Crônica: história, teoria e prática. São Paulo:
Scipione, 1993.
11
FERREIRA, Simone Cristina Salviano. Afinal, o que é crônica?. In:TRAVAGLIA,
Luiz Carlos et al. (org.) Gêneros de texto: caracterização e ensino. Editora EDUFU,
2008.
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de
produção textual. São Paulo: Contexto, 2009.
NEVES, Margarida de Souza. História da crônica. Crônica da história. In: REZENDE,
Beatriz (org) Cronistas do Rio. Rio de Janeiro: José Olimpo, 1995.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS : Língua Portuguesa. Brasília: MEC,
2001; p. 25.
SILVEIRA, Maria Inez Matoso. Ateliê de crônicas & portfólio. Leitura (UFAL), v. 42
p.237-249, 2009.
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