UM GÊNERO TIPICAMENTE BRASILEIRO
p. 7- “A própria falta de assunto, volta e meia, vira assunto”
p.9- "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte“Rubem Braga
p. 10- “Eternamente deleitável ou imediatamente deletável...”
“Um subgênero, há quem desdenhe.”
“Para Wilson Martins, trata-se de uma ´espécie literária"
que de jornalístico "só tem o fato todo circunstancial de
aparecer em periódicos’ ".
UM GÊNERO TIPICAMENTE BRASILEIRO
p. 11- "[A crônica] não tem pretensões a durar, uma vez que é filha
do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela
não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação
efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para
embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha". A.
Candido
“Uma crônica, num livro, é como um passarinho afogado”- Alceu
Amoroso Lima
"Quando passa do jornal ao livro, nós verificamos meio
espantados que a sua durabilidade pode ser maior do que ela
própria pensava", observa Antonio Candido, que vê na crônica
"uma conversa aparentemente fiada".
UM GÊNERO TIPICAMENTE BRASILEIRO
p. 12- "A crônica é o pássaro dodô da literatura. Em quase
todos os países, é um gênero extinto. Mas na reserva
literária do Brasil é uma espécie em sempre crescente
proliferação". De fato, aclimatou-se aqui melhor do que em
qualquer outra parte do mundo - a ponto de se poder
considerá-la um gênero tipicamente brasileiro.
Vinicius de Moraes: "o público não dispensa a crônica...”
ETIMOLOGIA....
A palavra crônica deriva do grego
"chronos" que significa "tempo“.
HISTÓRIA...
Narrativa de acontecimentos importantes, registros históricos;
Início século XIX- Jornal- Journal de Débats, publicado em Paris.
Esses textos comentavam, de forma crítica, acontecimentos que haviam
ocorrido durante a semana. Tinham, portanto, um sentido histórico e
serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor.
Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi, gradualmente,
distanciando-se daquela crônica com sentido documentário originada na
França. Ela passou a ter um caráter mais literário, fazendo uso de
linguagem mais leve e envolvendo poesia, lirismo e fantasia.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
• Narração curta;
• Descreve fatos da vida cotidiana;
• Pode ter caráter humorístico, crítico, satírico e/ou
irônico;
• Possui personagens comuns;
• Segue um tempo cronológico determinado;
• Uso da oralidade na escrita e do coloquialismo na
fala das personagens;
• Linguagem simples.
• Texto temporal, efêmero.
TIPOS DE CRÔNICAS
Jornalística
Literária
Esportiva
 A CULPA É SEMPRE DO OUTRO/ Zuenir Ventura
As reações ao choque de ordem promovido pela prefeitura são
um prato cheio para quem gosta de observar o comportamento
do carioca. Todo mundo é contra a desordem urbana, a
indisciplina no trânsito, a bandalha e a bagunça em geral. E, em
tese, a favor das medidas para combatê-las, mas desde que
não me atinjam, contanto que comecem pelo outro. Este, sim,
anda fora da lei, suja a rua, fura o sinal, é incivilizado. Por que
começar logo por mim? Isso é perseguição. Há tanta coisa para
moralizar antes!
O morador da mansão construída irregularmente se revolta com o
fiscal na hora da multa e pergunta por que ele não faz isso nas
favelas, "onde tudo é ilegal"? Na favela, a dona da escandalosa
construção sem licença de 22 quartos reage da mesma maneira
à ordem de demolição: "Está fazendo comigo porque sou pobre.
Quero ver fazer com os ricos." O cara que está no bar protesta
contra a blitz: "Por que vocês não vão prender bandidos em vez
de incomodar quem está tomando sua cerveja sossegado?"
A dama que leva o cachorro para fazer cocô na calçada se irrita
quando lhe chamam a atenção para a sujeira que ela não quer
limpar: "Pior sujeira é essa aí", e aponta para o morador de rua
dormindo no banco. A placa na Praia de Ipanema informa que a
cada meia hora uma tonelada de lixo é deixada na areia. O grupo
de jovens dourados a caminho do mar passa pelo aviso tomando
refrigerante e logo em seguida joga a lata, adivinha onde? Devem
achar que lata não é lixo.
Recebi ontem do leitor Mauricio Faez a cópia de uma coluna que
escrevi há dez anos com exemplos de maus modos do carioca.
Ele sugeria a republicação por causa da atualidade das histórias.
São casos de pequenos delitos: carros sobre as calçadas, avanço
de sinais, desrespeito aos pedestres. Chamava a atenção
principalmente a agressividade com que os infratores reagiam ao
serem repreendidos, julgando-se acima da lei. Um motorista que
quase atropelara alguém na faixa de segurança xinga a senhora
que reclamou: "Sua recalcada. Vai ver que nem carro tem." O
motociclista buzinando diante de um prédio e que, advertido,
responde: "Ah, é? Agora é que você vai ver", e não tira a mão da
buzina. O outro que ameaça passar por cima da velhinha: "Tá
atrapalhando, Vovó. Por que não fica em casa?" Um senhor de 55
anos mandou um e-mail perguntando: "De que adiantam nossas
belezas naturais se impera a cultura da bandalha?”
A cena mais emblemática passou-se num cinema. Alguém fez
"psiu" pedindo silêncio a um mal- educado espectador que
falava alto demais durante a sessão. Em vez de se calar, ele se
levantou furioso: "Eu falo como quiser, a boca é minha, os
incomodados que se mudem." O Rio só será uma cidade
civilizada quando essa prática se inverter. Não são os
incomodados que devem se mudar, mas os que incomodam.
O Globo, 01/04/2009.
GRANDE EDGAR/ POR LUIS FERNANDO VERISSIMO
Já deve ter acontecido com você.
— Não está se lembrando de mim?
Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as
fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e
não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele esta
ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta.
Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.
Um, curto, grosso e sincero.
— Não.
Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O "Não" seco
pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim,
potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas
educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e
mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto
mas igualmente razoável, é o da dissimulação.
— Não me diga. Você é o... o...
"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade
dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia.
Ou você pode dizer algo como:
— Desculpe, deve ser a velhice, mas...
Este também é um apelo à piedade. Significa "não tortura um
pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma
maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia
de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância
dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.
E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável.
O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você
escolhe.
— Claro que estou me lembrando de você!
http://www.releituras.com/i_artur_lfverissimo.asp
QUESTÕES PARA ANÁLISE
1- Identifique a razão para a mentira do personagem.
2- Identifique a consequência desta mentira para o desenvolvimento da narrativa.
3- Que aspecto do cotidiano está presente na crônica.
4- O final da crônica traz um desfecho surpreendente. Explique.
Estudo de vocabulário e linguagem.
5- Explique o sentido da expressão sublinhada:
Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser.
6- Busque no dicionário expressões sinônimas para as expressões sublinhadas:
a) Você ainda arremata:
b) Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará
c) Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser
audacioso.
7- Transcreva do texto um exemplo de onomatopeia.
http://www.releituras.com/i_artur_lfverissimo.asp
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2013/10/1363203-e-eles-viveram-felizespara-sempre.shtml
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Crônica um gênero tipicamente brasileiro