Merisandra Côrtes de Mattos SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DA ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA EM NEONATOS - SARE Florianópolis – SC 2001 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO Merisandra Côrtes de Mattos SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DA ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA EM NEONATOS - SARE Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciência da Computação Silvia Modesto Nassar, Dra. Orientadora Edson Carvalho de Souza, M.Sc. Co-orientador Florianópolis, novembro de 2001 ii SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DA ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA EM NEONATOS - SARE Merisandra Côrtes de Mattos Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Computação Área de Concentração Sistemas de Conhecimento e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação. _____________________________________ Fernando Álvaro Ostuni Gauthier, Dr. Coordenador do Curso Banca Examinadora _____________________________________ Silvia Modesto Nassar, Dra. (Orientadora) _____________________________________ Edson Carvalho de Souza, M.Sc.(Co-orientador) _____________________________________ Anita Maria da Rocha Fernandes, Dra. _____________________________________ Luiz Fernando Jacintho Maia, Dr. _____________________________________ Mauricio José Lopes Pereima, Dr. _____________________________________ Rogério Cid Bastos, Dr. iii "O pensamento lógico pode levar você de A a B, mas a imaginação te leva a qualquer parte do Universo." (Albert Einstein) iv Dedico esta pesquisa aos meus pais Libanio e Tereza Lenir, que iluminam os meus caminhos com afeto e dedicação. v AGRADECIMENTOS A pesquisa de Mestrado é um processo que envolve várias pessoas. Agora chegou o momento de agradecer-lhes pela colaboração e apoio durante esta etapa da minha vida. Agradeço: A Deus por me proteger e guiar os meus passos para os caminhos certos. Aos meus pais Libanio e Tereza Lenir, pelo afeto e dedicação, eles que sempre se doam por inteiro para que eu possa realizar os meus sonhos. À minha irmã Maristane, pela amizade, companheirismo e palavras de incentivo. Sempre agradeço por ter você como irmã. Ao meu cunhado Paulo Fernando Strada, pela amizade e apoio na concepção desta pesquisa, pois foi ele, como pediatra intensivista, que teve a idéia do domínio de aplicação, ou seja, as alterações de parâmetros no ventilador mecânico. Aos meus sobrinhos Gabriel e Rafael...meninos iluminados. À Anita Maria da Rocha Fernandes, que conheci em 1997 como minha professora de Engenharia de Software na graduação, pessoa especial que se tornou uma querida amiga e incentivadora da realização deste Mestrado. À Silvia Modesto Nassar, professora orientadora e grande amiga, que me ensinou muito sobre amizade, ensino, aprender a aprender e me mostrou que existe dentro de cada um capacidades muito superior a que se pensa ter e várias possibilidades. Ao Edson Carvalho de Souza, professor co-orientador, pela paciência, capacidade de aceitar desafios fuzzy e disponibilidade sempre que precisei. vi À Priscyla Waleska Targino de Azevedo Simões, minha colega, grande amiga, uma irmã de alma, muito obrigada por todo o apoio e incentivo durante esta pesquisa e em todos esses anos que nos conhecemos. Aos professores Masanao Ohira, Rogério Cid Bastos, Luiz Fernando Jacintho Maia, pelas colaborações para esta pesquisa. Ao Maurício José Lopes Pereima e Maria Marlene de Souza Pires, pelo carinho e amizade, conhecê-los foi um dos momentos especiais da minha existência. Ao Renato Boeing, pela paciência e pelos exercícios de alongamento que me ajudaram a suportar os dias anteriores a defesa. À Ana Paula Soares Fernandes e Elizabeth Soares Fernandes, pela amizade. Ao Departamento de Ciência da Computação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), em especial ao Coordenador do Curso, professor Rogério Antônio Casagrande, pela colaboração. Aos meus alunos do curso de Ciência da Computação da UNESC, pelo apoio e compreensão. Aos meus amigos e colegas Augusto José Venâncio Neto, Jeferson Pistori, Cristian Cechinel e Paulo João Martins pela amizade, incentivo e colaboração durante o curso. À Verinha e Val, pelo carinho e compreensão. vii RESUMO Esta pesquisa mostra a aplicação dos conjuntos difusos no controle de processos médicos, permitindo que sejam consideradas as imprecisões do raciocínio clínico presentes nos dados. Aspectos esses evidenciados no Sistema Difuso de Controle da Assistência Respiratória em Neonatos (SARE), cujo domínio de aplicação refere-se à ventilação mecânica neonatal, tendo-se a informática como uma forma de contribuir com a terapia intensiva pediátrica. O SARE é o protótipo de um sistema difuso de controle dos parâmetros da assistência respiratória em neonatos (0 a 29 dias), com base na gasometria arterial e na afecção respiratória apresentada pelo paciente. Procurando auxiliar os médicos pediatras e os residentes que trabalham numa Unidade de Terapia Intensiva. Possibilitando que o médico dedique a maior parte do seu tempo no efetivo atendimento à criança criticamente enferma. O SARE foi desenvolvido no ambiente Delphi 5.0, para trabalhar em plataforma Windows, disponibilizadas em PC’s. A modelagem do sistema foi realizada por meio da teoria de conjuntos difusos, que consiste numa contribuição às áreas da saúde e inteligência artificial, permitindo a modelagem e tratamento da imprecisão adequadamente. O SARE foi avaliado de forma qualitativa oferecendo satisfatoriamente as alterações de parâmetros a serem realizadas no ventilador mecânico. viii ABSTRACT This research shows the application of the fuzzy sets in the control of medical processes, permitting the imprecision of clinical reasoning present in the data to be considered. These aspects are evident in the Control Fuzzy System of the Respiratory Assistance in New-born (SARE), in which the control of application refers to neonatal mechanical ventilation, having computer science as a way to contribute to intensive pediatric therapy. SARE is the prototype of control fuzzy system of the parameters in respiratory assistance in neonates (0 to 29 days), with basses on arterial gas values and on the respiratory affection presented by the patient. Seeking to help the pediatric doctors and the intern doctors who work in an Intensive Care Unit. Making it possible for the doctor to dedicate a greater part of his time to the effective attendance of the critically ill child. SARE was developed in the environment Delphi 5.0, to work in Windows platform, available in PC’s. The modeling of the system was done by means of the fuzzy set theory, which consists of a contribution to the health field and artificial intelligence, permitting the adequate modeling and treatment of imprecision. SARE was qualitatively tested, offering satisfaction in the alterations of parameters that are to be performed in the mechanical ventilator. ix SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS.................................................................................................... xi LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................... xii LISTA DE TABELAS ................................................................................................. xiii LISTA DE SIGLAS ..................................................................................................... xiv CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 15 1.1 Objetivos do Trabalho ........................................................................................... 17 1.1.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 17 1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 17 1.2 Justificativa do Trabalho ....................................................................................... 18 1.3 Estrutura do Trabalho .......................................................................................... 19 CAPÍTULO 2 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ........................................................ 21 2.1 Definições de Inteligência Artificial ..................................................................... 23 2.2 Abordagens da Inteligência Artificial.................................................................. 24 2.3 Principais Áreas da Inteligência Artificial .......................................................... 25 CAPÍTULO 3 CONHECIMENTO: FORMAS DE RACIOCÍNIO E REPRESENTAÇÃO .................................................................................................... 27 3.1 Raciocínio Plausível................................................................................................ 27 3.2 Raciocínio Difuso .................................................................................................... 30 3.3 Raciocínio Qualitativo............................................................................................ 31 3.4 Raciocínio Probabilístico ....................................................................................... 31 3.5 Representação do Conhecimento .......................................................................... 32 CAPÍTULO 4 SISTEMAS ESPECIALISTAS .......................................................... 35 4.1 Componentes de um Sistema Especialista............................................................ 36 4.2 Aplicações de Sistemas Especialistas .................................................................... 38 CAPÍTULO 5 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL MÉDICA ...................................... 41 5.1 Histórico da Evolução da Inteligência Artificial Médica .................................... 42 5.2 Sistemas Inteligentes Desenvolvidos na Área Médica......................................... 44 5.3 Exemplos de Sistemas Desenvolvidos na Área de Ventilação Mecânica ........... 51 CAPÍTULO 6 CONJUNTOS DIFUSOS ................................................................... 54 6.1 Conceitos Gerais .................................................................................................... 55 6.2 Operações com Conjuntos Difusos....................................................................... 60 x 6.3 Variáveis Lingüísticas ............................................................................................ 61 6.4 Etapas de Implementação de um Sistema Difuso................................................ 62 6.5 Sistema Difuso de Controle.................................................................................... 65 6.6 Algumas Ferramentas para Desenvolvimento de Sistemas Difusos .................. 67 CAPÍTULO 7 DOMÍNIO DE APLICAÇÃO ............................................................ 70 7.1 A Mecânica Respiratória ....................................................................................... 70 7.2 Assistência Respiratória......................................................................................... 71 7.2.1 Histórico da Ventilação Pulmonar Mecânica ....................................................... 72 7.2.2 Tipos e Classificação de Ventiladores Mecânicos ................................................ 73 7.2.3 O Ventilador Mecânico ........................................................................................ 74 7.2.4 Causas de Falência Respiratória e Indicações para Ventilação............................ 77 7.3 Gasometria Arterial .............................................................................................. 78 7.4 Distúrbios Respiratórios em Neonatos ................................................................. 79 CAPÍTULO 8 DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DA ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA EM NEONATOS ................ 81 8.1 Aquisição do Conhecimento .................................................................................. 82 8.2 Modelagem Difusa do Problema ........................................................................... 83 8.2.1 Fuzificação das Variáveis...................................................................................... 83 8.2.1.1 Funções de Pertinência da pO2 ......................................................................... 84 8.2.1.2 Funções de Pertinência da pCO2 ...................................................................... 87 8.2.2 Inferência Fuzzy..................................................................................................... 89 8.2.3 Defuzificação......................................................................................................... 92 8.2.3.1 Funções de Pertinência da FiO2 ....................................................................... 93 8.2.3.2 Defuzificação pelo Método do Centro de Gravidade........................................ 97 8.3 Desenvolvimento do SARE .................................................................................. 101 8.4 Avaliação do SARE .............................................................................................. 105 CAPÍTULO 9 - CONCLUSÕES ............................................................................... 106 9.1 Trabalhos Futuros ................................................................................................ 107 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 108 GLOSSÁRIO .............................................................................................................. 115 APÊNDICE I BASE DE REGRAS DO SARE ........................................................ 116 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - O processo indutivo do raciocínio plausível (LINARES, 1997). ................. 28 Figura 2 - O processo de generalização do raciocínio plausível (LINARES, 1997)...... 29 Figura 3 - O processo de analogia do raciocínio plausível (LINARES, 1997). ............. 29 Figura 4 - Componentes de um sistema especialista (RABUSKE, 1997)...................... 36 Figura 5 - Estrutura funcional do simulador (CAJACURI, 1997) ................................. 52 Figura 6 - Características da função de pertinência........................................................ 58 Figura 7 - Intersecção entre conjuntos difusos ............................................................... 60 Figura 8 - União entre conjuntos difusos ....................................................................... 60 Figura 9 - Complemento de um conjunto difuso............................................................ 61 Figura 10 - Estrutura básica de um sistema difuso (LEE, 1990)................................... 63 Figura 11 - Defuzificação pelo método do centro de gravidade..................................... 64 Figura 12 - Estrutura básica de um controlador difuso (LEE, 1990). ............................ 67 Figura 13 - Tela principal do FuzzyCLIPS .................................................................... 68 Figura 14 - Interface da ToolBox Fuzzy do MATLAB................................................. 69 Figura 15 - Janela principal do UNFUZZY.................................................................... 69 Figura 16 - As fases do ciclo respiratório (DUPUIS, 1986)........................................... 75 Figura 17 - Painel frontal do respirador neonatal e pediátrico Inter3 (INTERMED) .... 77 Figura 18 - Etapas da implementação de um sistema fuzzy............................................ 81 Figura 19 - Tela dos dados pessoais ............................................................................. 102 Figura 20 - Tela do SARE de informações sobre a gasometria ................................... 103 Figura 21 - Valores atuais no ventilador mecânico ...................................................... 104 Figura 22 - Tela de sugestões das alterações no ventilador mecânico ......................... 105 xii LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Funções de pertinência da pO2 ................................................................... 86 Gráfico 2 - Funções de pertinência do PCO2.................................................................. 89 Gráfico 3 - Intersecção fuzzy - regra 5............................................................................ 91 Gráfico 4 - Intersecção fuzzy - regra 8........................................................................... 92 Gráfico 5 - Funções de pertinência da FiO2 .................................................................. 95 Gráfico 6 - Funções de pertinência do TI ...................................................................... 95 Gráfico 7 - Funções de pertinência da PIP .................................................................... 96 Gráfico 8 - Funções de pertinência da FR ...................................................................... 96 Gráfico 9 - Funções de pertinência da PEEP.................................................................. 96 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Variáveis lingüísticas e seus valores ............................................................. 62 Tabela 2 - Cálculo da t-norma - regra 5 ......................................................................... 90 Tabela 3 - Cálculo da t-norma – regra 8......................................................................... 92 xiv LISTA DE SIGLAS FiO2 – Fração de Oxigênio FR – Freqüência Respiratória IA – Inteligência Artificial IAM – Inteligência Artificial Médica pCO2 – Pressão Parcial de Dióxido de Carbono PEEP – Pressão Positiva no Final da expiração pH – Íon Hidrogênio PIP – Pressão Inspiratória pO2 – Pressão Parcial de Oxigênio SARE – Sistema Difuso de Controle da Assistência Respiratória em Neonatos SE – Sistema Especialista TE – Tempo Expiratório TI – Tempo Inspiratório UTI – Unidade de Tratamento Intensivo VM – Ventilação Mecânica CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Muitos progressos foram realizados na construção de sistemas especialistas, desde a época em que os primeiros trabalhos foram desenvolvidos, na segunda metade da década de 60. Assim, os sistemas de apoio à decisão e controle têm sido bastante utilizados, devido ao avanço tecnológico que, associado aos novos conceitos de inteligência artificial, propiciam a elaboração de sistemas inteligentes e eficientes (RICH & KNIGHT, 1993). Uma das principais áreas de aplicação dos sistemas especialistas é a Medicina, tendo seu início na década de 70, época em que foram desenvolvidos vários sistemas de apoio à decisão médica de diferentes complexidades. Esses programas incluem aspectos importantes ao longo da atividade do médico como o diagnóstico, prognóstico e planejamento terapêutico que estão relacionados com a medicina clínica. A introdução da informática na saúde se deve a uma necessidade de ordem clínica, administrativa ou de pesquisa. Essas necessidades levam a decisão de adquirir ou desenvolver um sistema computacional impulsionado pelas melhorias que este pode proporcionar, como aumentar a qualidade, baixar o custo, disponibilizar acesso as informações a fim de evoluir o processo de cuidados com a saúde (SOUZA, 1999). Em sistemas especialistas uns dos maiores problemas é o tratamento de dados com incerteza, ou seja, como chegar a uma decisão quando não se tem disponível todas as informações necessárias. Procedimento esse bastante comum na área médica, já que as informações fornecidas pelo paciente e os testes laboratoriais podem apresentar incerteza, além do próprio raciocínio clínico. Portanto, processar essas informações para se chegar ao diagnóstico e a terapia a ser adotada fazem parte do dia-a-dia do médico. 16 Para que seja possível representar esse conhecimento com incerteza, tem-se quatro linhas matemáticas de estudo, as quais são: o Modelo Lógico; a Teoria de DempsterShafer; o Modelo Probabilístico e o Modelo Lingüístico baseado no raciocínio difuso. Os sistemas que se baseiam no modelo lingüístico para representar o conhecimento com imprecisão são os que utilizam uma série de regras condicionais difusas derivadas da base de conhecimento especialista, expressando as imprecisões e aproximações dos métodos de decisão dos especialistas, ou seja, esses sistemas fazem uso dos conjuntos difusos que são capazes de capturar informações vagas, descritas em geral numa linguagem natural e convertê-las para um formato numérico de fácil manipulação pelos computadores, suportando os modos de raciocínio que são aproximados ao invés de exatos (WANG, 1997). Nesse âmbito, tem-se os sistemas difusos de controle que utilizam a abordagem de conjuntos difusos para programar e controlar processos, proporcionando um algoritmo que pode converter a estratégia de controle lingüístico, baseado no conhecimento de um especialista, em uma estratégia de controle automática, tornando a operação de um processo mais eficiente e confortável para tarefas que envolvam temperatura, velocidade, fluxo, pressão e outros; adaptando-se à solução de problemas complexos que envolvam o pensamento intuitivo ou descritivo humano (LEE, 1990). Isto os torna ideais para aplicações médicas, onde o raciocínio é impreciso e muitas vezes intuitivo, além desses sistemas propiciarem uma menor dependência de pessoal específico. Portanto, por meio da informática, que vem facilitando diariamente a vida das pessoas, este trabalho propõe o desenvolvimento de um sistema difuso de controle na área de alterações de parâmetros em ventilação mecânica para afecções respiratórias em neonatos. Seu objetivo é fornecer aos médicos da Unidade de Tratamento Intensivo Pediátrica (UTI) uma ferramenta de apoio à tomada de decisão no que diz respeito aos parâmetros a serem modificados no ventilador mecânico, além de estabelecer procedimentos adequados por meio dos quais a complexidade e dificuldades inerentes a esse problema possam ser ultrapassadas pelo uso de novas tecnologias. Possibilitando que o médico dedique a maior parte de seu tempo no efetivo atendimento à criança 17 criticamente enferma, ao invés de controlar o equipamento, podendo assim fornecer um melhor suporte no atendimento a essas crianças. Atualmente, há uma grande interação entre a informática e a área médica, aplicações como esta, quando desenvolvidas utilizando técnicas de inteligência artificial podem propiciar um grande benefício àquela área, pois o conhecimento de especialistas é disponibilizado em programas computacionais que podem ser acessados por faculdades, instituições e outros profissionais de saúde. 1.1 Objetivos do Trabalho 1.1.1 Objetivo Geral Desenvolver o protótipo de um sistema especialista difuso de controle dos parâmetros da ventilação mecânica neonatal, SARE, com base na gasometria arterial e na afecção respiratória apresentada pelo paciente. 1.1.2 Objetivos Específicos Este trabalho volta-se a aplicação da informática na Medicina, mais precisamente de sistemas de controle difuso em atividades médicas, a fim de auxiliar os profissionais de saúde e contribuir com a terapia intensiva pediátrica. Dentre os objetivos específicos, visa-se: a) mostrar a adequação do uso de conjuntos difusos no controle de processos aplicados à medicina; b) aplicar a função S para fuzificação das variáveis; c) aplicar o método do centro de gravidade para defuzificação das variáveis; d) desenvolver o protótipo do SARE. 18 1.2 Justificativa do Trabalho Dentre as medidas terapêuticas utilizadas em Unidades de Tratamento Intensivo, uma das que mais desperta interesse é a assistência ventilatória, por realizar momentaneamente a mecânica respiratória, mas também por ser um dos maiores avanços da medicina intensiva nos últimos anos, sendo seguro, eficaz e um procedimento rotineiro em UTI (PIVA et al, 1997). A ventilação mecânica é uma prática recente que ganhou impulso nos últimos 30 anos. Sendo que na década de 80, intensificaram-se os estudos sobre o tema e numerosos avanços foram atingidos, tornando-a uma prática muito mais eficiente e fisiológica além de facilitar o retorno do paciente à ventilação espontânea (BORGES et al, 1999). Os resultados cada vez mais satisfatórios obtidos com a ventilação mecânica devem ser creditados a no mínimo três importantes fatores: (i) melhor conhecimento das alterações fisiopatológicas da insuficiência respiratória e suas inter-relações com as variáveis dos respiradores; (ii) o desenvolvimento de equipamentos cada vez mais adequados para tais condições; (iii) aprimoramento na técnica de manutenção e suporte dos pacientes quando em ventilação mecânica (PIVA et al, 1997). Este último fator, justifica a realização desse trabalho, pois o uso da informática, especialmente das técnicas de inteligência artificial, podem possibilitar ganhos de informação, melhora do desempenho e atendimento ao paciente. Dessa forma, a Medicina pode ter na informática uma forte aliada, no sentido de promover uma melhoria no atendimento e suporte a pacientes. Qualquer método novo voltado à saúde, por exemplo, os que envolvem o uso da informática, devem apresentar como maior vantagem a capacidade de levar o médico à beira do leito, fazendo com que se dê uma maior atenção e assistência ao paciente (PIVA et al, 1997). 19 Trabalhos que, como este, refere-se a controle difuso têm sido de vasto interesse e estudo nas mais diversas instituições e centros de pesquisas, sendo esse um domínio de grande sucesso na utilização de conjuntos difusos. Obtendo-se também resultados bastante animadores na aplicação de conjuntos difusos no desenvolvimento de aplicações baseadas em conhecimento, já que essa teoria possibilita a modelagem e tratamento da imprecisão de forma adequada. Por outro lado, a partir desta pesquisa poderá ser desenvolvido um controlador difuso, para ser adaptado ao ventilador mecânico, o que efetivamente poderia proporcionar um melhor suporte de equipamento e, portanto, liberar os profissionais intensivistas para o atendimento de crianças criticamente enfermas. 1.3 Estrutura do Trabalho O trabalho está estruturado em nove capítulos. No primeiro é apresentado o problema a ser estudado, especificando os objetivos e justificando a importância da realização do mesmo. O segundo capítulo enfoca a inteligência artificial, suas definições e principais áreas. O terceiro capítulo descreve o conhecimento, nas várias formas de raciocínio e de representação. No quarto capítulo define-se sistemas especialistas, seus principais componentes e suas aplicações. O quinto capítulo é um estudo realizado sobre inteligência artificial médica, comentando-se sobre diferentes pesquisas desenvolvidas na área coincidente com a da pesquisa aqui apresentada. No sexto capítulo o enfoque é sobre conjuntos difusos, incluindo as etapas de implementação de um sistema difuso, definições referentes a sistemas difusos de controle e algumas ferramentas disponíveis no mercado. Os conceitos referentes a esse capítulo serão explorados na realização deste trabalho. 20 No sétimo capítulo descreve-se o domínio de aplicação do trabalho, iniciando-se com conceitos sobre a mecânica respiratória e posteriormente é abordada a assistência respiratória. O oitavo capítulo descreve o desenvolvimento do SARE, as etapas do desenvolvimento de um sistema difuso em ambiente de programação e os resultados obtidos por meio da abordagem difusa. No capítulo 9 tem-se as conclusões e alguns trabalhos futuros que poderão ser desenvolvidos a partir desta pesquisa na área de sistemas difusos aplicados à Medicina. CAPÍTULO 2 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL A inteligência artificial (IA) é um ramo da ciência da computação ao mesmo tempo recente, já que oficialmente nasceu em 1956, e muito antigo, pois foi construída a partir de idéias filosóficas, científicas e tecnológicas herdadas de outras ciências, algumas tão antigas quanto a Lógica (BITTENCOURT, 2001). Assim, tem-se há muito tempo buscado explicitar o raciocínio humano e modelá-lo da melhor maneira possível. No decorrer da história, muitos cientistas e filósofos dedicaram-se as análises da inteligência humana, estudo esse que iniciou no campo da Filosofia e posteriormente passou a ser estudado de forma científica pela Psicologia, Pedagogia, Ciência Cognitiva, Engenharia, Neurologia, Lingüística e Computação, entre outros, visando aspectos práticos e comerciais (GANASCIA, 1993). A inteligência artificial destaca-se na busca pela compreensão da inteligência, reunindo vários campos do conhecimento com o propósito prático de simular a inteligência. Sendo utilizada a fim de expandir a capacidade de inteligência humana e até mesmo a substituir em algumas funções, o que em parte tornou-se possível devido ao desenvolvimento dos sistemas especialistas e dos conjuntos difusos (GANASCIA, 1993). A fim de se compreender a inteligência necessário anteriormente definir o que é Assim, a seguir, apresenta-se um conjunto de vários autores, cuja maioria referencia-se humano (RABUSKE, 1995): artificial é inteligência. definições de ao raciocínio • Binet: “Inteligência é julgar, compreender bem, raciocinar bem”. 22 • Tearman: “A capacidade de conceituar e de compreender o seu significado”. • Vernon: “Capacidade geral de pensamento” ou “eficiência mental”. • Burt: “Habilidade inata, geral e cognitiva”. • Helm: “A atividade inteligente consiste na compreensão do essencial de uma situação e numa resposta reflexa apropriada”. • Wechsler: “A capacidade agregada ou global de um indivíduo agir com propósito de pensar racionalmente, e de se adaptar eficientemente ao ambiente”. • Piaget: “Adaptação ao ambiente físico e social”. Inúmeras pesquisas estão sendo realizadas com relação a inteligência, como resultado sabe-se que é a combinação harmoniosa de diversas habilidades, tais como, a memória, motivação e capacidade de suportar esforços mentais. Na realidade, a inteligência é uma abstração feita com base em certos comportamentos, a partir dos quais pode-se deduzir inteligência. Aspecto este que é de fundamental importância para a computação, pois se observa o comportamento do sistema que resolve problemas e faz inferências (RABUSKE, 1995). Deve-se destacar que a inteligência artificial permite que as máquinas possam realizar tarefas complexas no lugar do ser humano, liberando-o assim de atividades enfadonhas ou que de certa forma sejam inseguras, possibilitando também uma maior interação das pessoas com equipamentos que sejam sofisticados. Além disso, a inteligência artificial permite que o conhecimento seja compartilhado pelas pessoas, não havendo a necessidade de permanentes consultas a especialistas (NASCIMENTO JR & YONEYAMA, 2000). 23 2.1 Definições de Inteligência Artificial Segundo RABUSKE (1995), existe muita discussão em busca de uma definição ideal para inteligência artificial, sendo que algumas das definições correntes estão reproduzidas a seguir: • “ Inteligência artificial é a parte da Ciência da Computação que compreende o projeto de sistemas computacionais que exibam características associadas, quando presentes no comportamento inteligência” (BARR & FEIGENBAUM, 1981). humano, a • “ Inteligência artificial é o estudo de conceitos que permitem aos computadores (WINSTON, 1984). • “ Inteligência serem inteligentes” artificial é o estudo das faculdades mentais com o uso de modelos (CHARNIAK & McDERMOTT, 1985). computacionais” • “ Inteligência artificial é o estudo de como fazer os computadores realizarem coisas que, no momento, pessoas fazem melhor” (RICH & KNIGHT, 1993). as Analisando-se as definições citadas, pode-se dizer que inteligência artificial é o resultado da aplicação de técnicas e recursos, principalmente de ordem não-numérica o que viabiliza a solução de problemas que exijam dos seres humanos um determinado grau de raciocínio e perícia. Dessa forma, a inteligência artificial caracteriza-se como uma nova era da computação, ou seja, a do processamento não-numérico (RABUSKE, 1995). 24 2.2 Abordagens da Inteligência Artificial Em inteligência artificial existem três correntes de pensamento denominadas de abordagem simbólica, conexionista e evolucionária (BITTENCOURT, 2001). Na inteligência artificial simbólica o comportamento inteligente é simulado com base nos princípios da Psicologia Cognitiva. Devendo essa abordagem ser utilizada quando se tem o domínio do problema bem definido, sabe-se como resolvê-lo e como encontrar a sua solução. Segundo BARRETO (1997), programas de jogar xadrez, diagnósticos e monitorização, entre outros, são produtos resultantes da abordagem simbólica. Fazendo uso de ferramentas como lógica, regras SE-ENTÃO e técnicas de aquisição de conhecimento de especialistas. A inteligência artificial conexionista visa investigar a possibilidade de simulação de comportamentos inteligentes por meio de modelos baseados na estrutura e funcionamento do cérebro humano, apresentando um desempenho melhor quando o problema não é bem definido, ou seja, quando não se sabe explicitamente como realizar a tarefa (BITTENCOURT, 2001). A abordagem evolucionária é baseada nos mecanismos evolutivos encontrados na natureza, como a auto-organização e o comportamento adaptativo, tendo-se os algoritmos genéticos como uma das áreas de aplicação do conceito evolucionário (BITTENCOURT, 2001). 25 2.3 Principais Áreas da Inteligência Artificial Existem muitos campos de estudo que compreendem o desenvolvimento da inteligência artificial, porém sendo uma ciência relativamente nova ainda há muito que ser explorada, assim nos próximos anos novas áreas de pesquisa e aplicações devem surgir. As aplicações da inteligência artificial são todas importantes para a computação, mas segundo (RABUSKE, 1995), algumas se destacam devido a vários fatores, como os esforços dedicados ao seu desenvolvimento ou pela importância que a aplicação assume. Assim, pode-se destacar: • Sistemas especialistas: sistemas que fornecem conclusões sobre assuntos especializados, a principal aplicação desses sistemas é na área médica. São também aplicados nas demais áreas de conhecimento como na Matemática, Química e Engenharia, entre outros. • Processamento de linguagem natural: visa aperfeiçoar a comunicação entre as pessoas e os computadores, voltando-se, portanto a construção de programas que possam compreender a linguagem natural e gerar textos. • Reconhecimento de padrões: essa capacidade possibilita ao programa reconhecer, por exemplo, a fala em linguagem natural, os caracteres digitados e a escrita. • Robótica: volta-se ao desenvolvimento de métodos de construção de máquinas que possam interagir com o meio, ou seja, ver, ouvir e reagir a estímulos sensoriais. Sendo utilizados na execução de atividades em ambientes hostis aos humanos, como em viagens espaciais e na prospecção de petróleo. • Bases de dados inteligentes: se uma base de conhecimento capaz de fazer raciocínios e produzir resultados difíceis de serem conseguidos de outra forma, 26 for associada ao DBMS (Database Management System), tem-se uma base de dados inteligente. Possibilitando aumento de produtividade e funcionalidade dos sistemas computacionais. • Prova de teoremas: é uma aplicação Matemática, mas que é interessante como metodologia de solução de problemas. Requer habilidade de levantar hipótese e perícia intuitiva na busca de resultados que foram provados anteriormente, auxiliando assim a prova do teorema principal. • Jogos: a ciência encontrou nos jogos um campo propício para testes da teoria, tornando-se interessantes para a exploração da inteligência da máquina, porque eles constituem uma tarefa estruturada, sendo fácil medir o sucesso ou fracasso. • Raciocínio Baseado em Casos: busca a solução para uma situação atual baseando-se em casos semelhantes que aconteceram anteriormente. A pesquisa realizada nesta dissertação focaliza-se na área de sistemas especialistas, constituindo-se no desenvolvimento de um sistema especialista difuso aplicado à área médica. CAPÍTULO 3 CONHECIMENTO: FORMAS DE RACIOCÍNIO E REPRESENTAÇÃO O raciocínio é a capacidade humana de chegar a conclusões, partindo-se de conhecimentos ou informações sobre um problema. Existem algumas formas de raciocínio, que possibilitam a visualização de como as informações que apresentam incerteza e imprecisão são tratadas. Informações essas que constituem a base do processo de raciocínio. Na resolução de problemas, percebe-se que as pessoas não utilizam apenas uma forma de raciocínio, usam-se várias formas simultaneamente ou uma após a outra, conforme o problema a ser resolvido (LINARES, 1997). A seguir, são apresentadas as formas de raciocínio, para que dentre elas se possa escolher a melhor para modelar o problema em questão. 3.1 Raciocínio Plausível O raciocínio plausível é o modo de se chegar a uma conclusão, partindo-se do conhecimento de evidências sobre o fato que se está analisando. Esse tipo de raciocínio consiste de conjecturas, pressentimentos e suposições; apresenta controvérsias; é transitório; envolve o aprendizado de algo novo sobre o mundo, sendo portanto de interesse no dia a dia; seus padrões são claros (POLYA, 1990). O objetivo principal do raciocínio plausível é distinguir uma suposição de outra, ou seja, uma suposição mais razoável de outra menos razoável, constituindo-se numa 28 habilidade prática que proporciona a aprendizagem por imitação e método (LINARES, 1997). O raciocínio plausível envolve processos como (LINARES, 1997): • Experiência: conhecimento pela observação, que altera o comportamento. • Indução: inicia-se com a observação, levando ao raciocínio que possibilita uma conclusão genérica do fato observado (Figura 1). FATO OBSERVAÇÃO EXPERIÊNCIA CONHECIMENTO CONCLUSÃO GENÉRICA Figura 1 - O processo indutivo do raciocínio plausível (LINARES, 1997). • Generalização: é passar de um conjunto de objetos para outro conjunto maior, mas que contém o anterior. Por exemplo, um médico generaliza quando passa dos sintomas para uma doença que contenha esses sintomas (Figura 2). • Especialização: é passar de um conjunto de objetos a um conjunto menor que esteja contido no anterior. Por exemplo, um médico realiza esse processo quando ele passa dos sintomas das doenças respiratórias aos sintomas específicos que caracterizam cada doença desse tipo. 29 SINTOMAS OBSERVAÇÃO EXPERIÊNCIA CONHECIMENTOS BÁSICOS GENERALIZAÇÃO Figura 2 - O processo de generalização do raciocínio plausível (LINARES, 1997). • Analogia: quando se observa um fato novo que é similar a outro já conhecido e se tem uma opinião, então se pode ter uma opinião sobre o novo fato baseado na experiência adquirida anteriormente (Figura 3). FATO OBSERVAÇÃO INFORMAÇÃO BASEADA NA EXPERIÊNCIA EXPERIÊNCIA ADQUIRIDA ANTERIORMENTE CONHECIMENTO CONCLUSÃO POR ANALOGIA Figura 3 - O processo de analogia do raciocínio plausível (LINARES, 1997). O raciocínio médico para tomada de decisão, por exemplo, é um raciocínio plausível, pois se baseia em evidências que levam a conjecturas, o diagnóstico, percorrendo processos desde a indução (médico iniciante) até a analogia (médico especialista). 30 3.2 Raciocínio Difuso O raciocínio difuso foi formalizado após a publicação do artigo “Fuzzy Sets” de Lofthi Zadeh no anos 60, quando criou a Teoria dos Conjuntos Difusos. Teoria que foi originada pelas discussões das diferenças entre os conceitos de imprecisão e incerteza, que na época eram tratados da mesma forma. A imprecisão da linguagem natural é uma conseqüência lógica da necessidade de expressar informação de forma resumida (ZADEH, 1978). Segundo DUBOIS & PRADE (1980), “aproximar” é equivalente a raciocínio difuso e representa os processos pelos quais uma conclusão imprecisa é deduzida a partir de premissas imprecisas. Esse raciocínio é mais de natureza qualitativa do que quantitativa, portanto está fora da aplicabilidade da lógica clássica. Assim, o raciocínio difuso pode ser definido como uma forma de raciocínio que se baseia em dados imprecisos que são representados por graus de pertinência a um conjunto difuso, levando a uma conclusão e sendo caracterizado por distribuições de possibilidade. No raciocínio difuso trabalha-se com funções de pertinência, grau de pertinência, variáveis lingüísticas, domínio e universo de discurso; envolvendo processos como de fuzificação e defuzificação. Conceitos estes que serão abordados no Capítulo VI, já que no desenvolvimento dessa pesquisa a modelagem do raciocínio foi realizada pela forma difusa. 31 3.3 Raciocínio Qualitativo O raciocínio qualitativo baseia-se em informações qualitativas para chegar a uma conclusão, envolvendo os valores que podem ser adotados pelas variáveis no espaço quantitativo, e o tempo qualitativo ou tempo no qual os valores qualitativos são válidos (BARRETO, 1990). Esta forma de raciocínio é útil para a modelagem de sistemas quando não se tem informação completa. A representação qualitativa da informação, não é conveniente, por exemplo, para ser aplicada às informações médicas, pois apresenta mudanças abruptas, o que não acontece na Medicina. No entanto, os conjuntos difusos possibilitam uma transição menos abrupta, representando melhor alguns conceitos médicos (LINARES, 1997). 3.4 Raciocínio Probabilístico O raciocínio probabilístico se apóia em informações probabilísticas sobre fatos de um domínio, chegando a uma conclusão sobre um novo caso. Sendo proveitoso para modelar sistemas onde há informações que apresentam incerteza, por aleatoriedade que conduz a um vetor de probabilidades. A base de conhecimento de sistemas que utilizam o raciocínio probabilístico deve ser representada como uma Rede Bayesiana, possuindo informações verossímeis, relevantes e com relações causais. As redes Bayesianas são estruturas gráficas que representam sistemas baseados em conhecimento, sendo composta por duas partes, uma qualitativa e outra quantitativa. Apesar das probabilidades serem expressas em números, a sua vantagem consiste em proporcionar um meio para articular e manipular relações qualitativas, que segundo PEARL (1988) são consideradas primitivas básicas, as quais são: 32 • Verossimilhança: as decisões dependem dessa relação qualitativa para considerar os resultados da aplicação de uma regra ou adquirir mais informações. • Condicional: Thomas Bayes fez sua contribuição à teoria da probabilidade pela associação da frase “...dado que se conhece C” com o teorema de Bayes, que é um método quantitativo para a revisão de probabilidades conhecidas, com base em nova informação amostral, sendo fundamental para se analisar um conjunto de informações disponíveis e se chegar a uma conclusão objetiva, expressa numericamente (KOEHLER, 1998). • Relevância: relação que demonstra uma mudança potencial de crença decorrente de uma alteração no conhecimento, podendo ser definida em termos de verossimilhança e condicional. • Causal: analisa-se estruturas de relações relevantes, com o objetivo de separar o relevante do supérfluo, identificando-se a causa direta de um evento. Num domínio de aplicação podem existir mais de uma forma de raciocínio, assim num sistema computacional deve-se buscar a representação de conhecimento mais adequada. 3.5 Representação do Conhecimento Quando se pretende uma ação inteligente, deve-se analisar aspectos relacionados à aquisição e desenvolvimento da inteligência, sendo o conhecimento que possibilita o seu encadeamento e desenvolvimento (RICH & KNIGHT, 1993). Segundo RABUSKE (1995) trabalhar com conhecimento é uma tarefa complicada, principalmente quando se dispõe de mecanismos artificiais, como os 33 computadores. Assim, a manipulação do conhecimento exige formas de representação e o entendimento de como ele é estruturado. O conhecimento, conforme FISCHLER & FIRSCHEIN (1986), “pode ser definido como a informação armazenada, ou os modelos usados pela pessoa ou máquina para interpretar, predizer e responder apropriadamente ao mundo exterior”. Conceito este que contempla as idéias computacionais relacionadas a representação de conhecimento. Para a estruturação do conhecimento num sistema computacional, utiliza-se a representação do conhecimento, que segundo RICH & KNIGHT (1993) apresenta as seguintes características: • é generalizável, necessitando-se de vários pontos de vista do mesmo conhecimento para ser atribuído a diferentes situações e interpretações; • como o conhecimento está em constante mudança, a sua representação deve possibilitar atualização e correção; • deve ser robusta, permitindo a sua utilização mesmo quando todas as possíveis situações não são abordadas; • deve ser compreensível ao ser humano, permitindo a sua interpretação para avaliação do estado de conhecimento do sistema. A representação do conhecimento é realizada por meio dos métodos de IA que modelam o conhecimento para organizarem a informação exigida, visando que o programa possa acessá-lo para solucionar os problemas. 34 Segundo RICH & KNIGHT (1993), existem vários métodos de representação do conhecimento, dentre os quais: • Conhecimento procedural: representação em forma de funções/procedimentos. • Lógica: modo de declaração que representa o conhecimento, empregando a lógica proposicional e a de predicados. • Árvores de decisão: organiza-se os conceitos em forma de árvores. • Redes semânticas: o conhecimento é modelado por um conjunto de nós que representam um objeto, situações ou conceitos, que são ligados por meio de arcos que exprimem as relações entre estes elementos. • Frames: são estruturas semelhantes as redes semânticas, sendo que cada nó representa conceitos e/ou situações, possuindo propriedades que podem ser especificadas ou herdadas por padrão. • Casos: utiliza experiência passada, reunindo casos e procurando descobrir por similaridade soluções para outros problemas. • Processamento paralelo distribuído: utiliza modelos conexionistas. • Esquemas híbridos: emprega a combinação de diferentes esquemas de representação do conhecimento. No trabalho desenvolvido, o conhecimento foi representado por meio da teoria de conjuntos difusos, utilizando-se regras SE-ENTÃO. CAPÍTULO 4 SISTEMAS ESPECIALISTAS Os sistemas especialistas são aqueles que resolvem problemas de forma bastante semelhante a do especialista humano, esses sistemas possuem um conhecimento específico profundo sobre campos restritos do conhecimento (RABUSKE, 1995). Esses sistemas caracterizam-se por um conhecimento poderoso e amplo, o que torna o armazenamento da informação de extrema importância. Também os sistemas especialistas devem explicar o que realizam e qual a finalidade. Constituindo-se assim, em importantes ferramentas de treinamento. Segundo SABBATINI (1993), os sistemas especialistas possuem algumas facilidades que aumentam a sua flexibilidade e eficiência como: (i) possibilidade para construção de regras; (ii) tomada lógica de decisões mediante ausência ou imprecisão de informações; (iii) podem recuperar novos fatos e regras, utilizando-os sem modificar a estratégia de busca. Conforme MAUS (1991), um sistema especialista que reúne o conhecimento de um ou mais especialistas humanos, tem sua essência mais aparente se alguns atributos básicos se fizerem presentes: (i) o sistema tem separado o conhecimento específico do especialista e a metodologia de solução de problemas; (ii) a transferência interativa de conhecimento pode minimizar o tempo necessário para transferir o conhecimento do especialista para uma base de conhecimento; (iii) a estratégia de controle pode ser simples e transparente ao usuário, ou seja, ele é capaz de compreender e prever os efeitos de adição, alteração e exclusão de itens na base de conhecimento. 36 4.1 Componentes de um Sistema Especialista Segundo RABUSKE (1995), um sistema especialista possui basicamente cinco componentes (Figura 4) os quais são: máquina de inferência, base de conhecimento, subsistema de aquisição de conhecimento, subsistema de explicação e interface do usuário. BASE DE CONHECIMENTO MÁQUINA DE INFERÊNCIA SUBSISTEMA DE SUBSISTEMA INTERFACE COM AQUISIÇÃO DO DE O USUÁRIO CONHECIMENTO EXPLICAÇÃO USUÁRIO Figura 4 - Componentes de um sistema especialista (RABUSKE, 1997) • Base de conhecimento A base de conhecimento fornece as características de funcionamento do sistema e armazena os fatos e as regras a serem utilizadas. Vários sistemas especialistas usam regras para sua operação, enquanto outros utilizam redes semânticas ou frames para a representação do conhecimento. 37 A representação por regras, uma das mais utilizada em sistemas especialistas, consiste na representação do conhecimento por pares de condição-ação, como regras SE-ENTÃO, estruturadas da seguinte forma: SE <condição> ENTÃO <ação> Segundo BITTENCOURT (2001), o tipo de encadeamento é definido normalmente conforme o problema a ser resolvido. Pode-se usar encadeamento progressivo (forward chaining) quando se tem problemas de planejamento, projeto e classificação; enquanto o encadeamento regressivo (backward chaining) é utilizado em problemas de diagnóstico, ou seja, quando há algumas saídas possíveis e um grande número de estados iniciais. Pode-se ainda ter encadeamento misto, onde os dois tipos se alternam, em decorrência do desenvolvimento da solução do problema e da disponibilidade dos dados. Como no sistema especialista a base de conhecimento é separada da máquina de inferência, consegue-se alterar com relativa facilidade o conhecimento presente na base, por meio da inserção, alteração ou remoção de regras. • Máquina de inferência A máquina de inferência é o mecanismo que procura as respostas na base de conhecimento, indicando a operação a ser realizada sobre o conhecimento contido no sistema especialista, para isso busca as regras necessárias a serem avaliadas, ordena-as de uma maneira lógica e direciona o processo de inferência (JACKSON, 1991). A estrutura da máquina de inferência relaciona-se diretamente com a natureza do problema envolvendo, por exemplo, método de raciocínio e representação de incerteza (Conjuntos Difusos, Método Bayesiano e outros). 38 • Subsistema de aquisição do conhecimento O subsistema de aquisição do conhecimento é utilizado para alimentar a base de conhecimento, podendo-se introduzir novos conhecimentos e alterar ou eliminar conhecimentos antigos, de acordo com a necessidade (MAUS, 1991). • Subsistema de explicação O subsistema de explicação elucida a linha de raciocínio que o sistema especialista usa para chegar a uma conclusão. Este mecanismo é bastante interessante em situações instrucionais (MAUS, 1991). • Interface com o usuário Estabelece um meio de comunicação entre o usuário e sistema, exibindo todas as perguntas, respostas resultados de consultas, e imprimindo relatórios. interface pode ser em forma de menus, perguntas representações gráficas. o e A e Segundo BITTENCOURT (2001), algumas características interessantes para a interface são: (i) interfaces de diferentes tipos, conforme o tipo de usuário; (ii) interrupção da execução do sistema sem necessidade de reprocessamento ao executá-lo novamente; (iii) mensagens de erro claras; (iv) capacidade de alterar certas entradas e comparar os resultados; (v) possibilidade de armazenar telas de execução. 4.2 Aplicações de Sistemas Especialistas A aplicação dos sistemas especialistas ocorre em quase todos os tipos de situações em que se necessita de raciocínios formais para sua solução, como por 39 exemplo, diagnósticos médicos e de defeitos em equipamentos, previsões meteorológicas e outros que possuam um número grande de variáveis. O propósito desses sistemas não é substituir o especialista, mas ampliar e organizar a sua experiência e conhecimento. Já a medida que novas situações forem sendo identificadas, o acervo da base de conhecimento é realimentado, tornando as novas informações disponíveis para toda a organização, podendo incrementar a produtividade e o conhecimento (CUER & HIRABARA, 1997). Os sistemas especialistas aplicam-se em quase todas as áreas do conhecimento, como na administração, advocacia, agricultura, computação, eletrônica, engenharia, física, geologia, matemática, química e medicina, entre outros. Segundo BITTENCOURT (2001), os sistemas especialistas mais conhecidos são: • MYCIN: trata-se do primeiro sistema especialista que teve sucesso, sendo o mais conhecido no mundo. É um sistema para diagnóstico e terapia de doenças infecciosas, desenvolvido pelos Departamentos de Ciência da Computação e de Medicina da Universidade de Stanford (EUA). A base do sistema é formada por 450 regras, que lhe permite diagnosticar e prescrever tratamentos para bacteremia, meningite e cistite infecciosa. A partir, do MYCIN foi desenvolvida uma shell denominada EMYCIN, utilizada para implementar outros sistemas especialistas. • DENDRAL: é um projeto desenvolvido na Universidade de Stanford (EUA), a partir de 1965, para desenvolver programas capazes de inferir a composição molecular de compostos desconhecidos. Desde 1968 o sistema DENDRAL tem sido utilizado em várias pesquisas sobre química orgânica, apresentando resultados bastante satisfatórios. O uso de sistemas especialista possibilita benefícios como a velocidade na determinação dos problemas; decisão baseada em conhecimento; segurança; estabilidade; menor dependência de pessoal específico e flexibilidade. 40 Ocasionando-se a proliferação desses sistemas na Medicina, que necessita de informações rápidas e seguras (MÜLLER, 1997). CAPÍTULO 5 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL MÉDICA A aplicação da informática na Medicina tem se difundido em vários países, como Estados Unidos, Itália, Grécia, Alemanha, Irlanda e Reino Unido, entre outros, que realizam projetos entre si e difundem a informática médica em suas universidades, visando o desenvolvimento de sistemas de apoio à prática e ensino médico (FERNANDES, 1997). Dentre os vários momentos da moderna história da informática, o surgimento da inteligência artificial cativou cientistas e médicos pelo potencial que esta tecnologia poderia ter se aplicada à Medicina, auxiliando médicos em tarefas como o diagnóstico. A partir dessas motivações, um pequeno e talentoso grupo de cientistas da computação e profissionais médicos de vários centros de pesquisas dos Estados Unidos, organizaram um programa de pesquisa para uma nova área denominada de Inteligência Artificial Médica (IAM). Estes pesquisadores tiveram a visão de que a IAM revolucionaria a prática da Medicina, sendo que as pesquisas realizadas nessa área, na primeira década, constituem-se uma notável realização (COIERA, 1997). No início da IAM, visava-se a construção de programas de IA que realizassem diagnóstico e recomendações terapêuticas, porém desde então muito mudou. Atualmente, a importância da diagnose em situações clínicas rotineiras recebe menos ênfase; sistemas como os especialistas são voltados a ambientes laboratoriais e educacionais, para vigilância e alertas clínicos ou em áreas muito ricas em dados, como na Medicina Intensiva. Sendo que uma das tarefas mais importantes, que um desenvolvedor de sistemas de IAM depara-se é com a caracterização precisa dos 42 aspectos da prática médica que são mais adequados a introdução de sistemas de IA (COIERA, 1998). Na Inglaterra, um programa para diagnóstico da etiologia de uma dor abdominal aguda tem sido usado nas enfermarias de alguns hospitais, o que reduziu em 50% as taxas de apêndice perfuradas e reduziu de 36% para 14% a incidência de cirurgias abdominais desnecessárias (SABBATINI, 1993). 5.1 Histórico da Evolução da Inteligência Artificial Médica Segundo BRONZINO (1995), a evolução da IAM pode ser dividida em quatro estágios, que estão descritos a seguir: • O primeiro estágio ocorreu por volta de 1968 a 1976, sendo bastante influenciado pelo artigo “Medicine and the computer: The promise and problems of change” (SCHWARTZ, 1970) que demonstrava o potencial dos métodos informatizados para transformar a prática médica, possibilitando ao médico se concentrar mais no cuidado ao paciente. Nessa época surgiram os primeiros sistemas médicos, como o CASNET (1972) que usou regras de trabalho causais para descrever os processos de doenças; o MYCIN (1974) com o raciocínio baseado em regras; o DIALOG/INTERNIST (1975) usando redes de trabalho hierárquicas, e o PIP (1976) utilizando frames ou templates para definição das doenças. Estes sistemas foram projetados como ferramentas de consulta para auxiliar médicos não especialistas ou outros profissionais de saúde, por meio da aquisição de algumas regras do raciocínio de um médico especialista em uma determinada área. 43 Assim, com o sucesso destes sistemas as pesquisas em inteligência artificial voltaram-se aos sistemas baseados em conhecimento, ocorrendo a partir de então a proliferação dos sistemas especialistas. Os sistemas especialistas, como o próprio nome diz, são capazes de apoio à decisão médica apenas em áreas especializadas da medicina, ou seja, quanto mais especializada a área, melhor o sistema funciona (WIDMAN, 1998). • O segundo estágio da evolução da IAM ocorreu entre 1977 e 1982, fase em que usou-se estruturas gerais para construção da base de conhecimento especialista. Em 1979, desenvolveu-se o EMYCIN, EXPERT e AGE, que foram desenvolvidos e aplicados em diversos problemas médicos, como de instrumentos de controle em UTI e na interpretação de testes laboratoriais para aconselhar no diagnóstico e tratamento de várias doenças. Nesta fase ocorreu a disseminação das idéias de sistemas especialistas e de shells para a representação do conhecimento e decisões heurísticas, especialmente entre os anos de 1981 e 1982. • O terceiro estágio compreende o período de 1983 a 1987, época em que os pesquisadores da IAM concentraram-se nas complexidades do raciocínio médico e no desenvolvimento de formas para representá-lo; novos e poderosos métodos foram introduzidos, como as redes neurais, que passaram a ser aplicadas na tomada de decisão médica. • O quarto estágio da IAM iniciou-se em 1987, caracterizando-se pelo contínuo desenvolvimento de representações baseadas em conhecimento; progressos nas experiências com o uso do raciocínio qualitativo; modelagem e controle em processos críticos, como em UTI’s; interesse nos métodos estatísticos para a tomada de decisão, unindo-se a modelos de processos representados em diagramas de influência; redes bayesianas; desenvolvimento contínuo de aplicações de redes neurais e conjuntos difusos. Caracterizando-se assim, a 44 crescente complexidade e diversidade da IAM, que se constitui num campo de pesquisa em constante evolução. 5.2 Sistemas Inteligentes Desenvolvidos na Área Médica Desde que começaram a ser utilizadas as técnicas de inteligência artificial em Medicina, um grande número de sistemas de diferentes complexidades e nas mais variadas áreas da Medicina foram e estão sendo desenvolvidos em diversos centros de pesquisa. Dentre os quais pode-se destacar: • CASNET/GLAUCOMA: desenvolvido na Universidade de Rutgers (EUA), esse sistema é voltado para o diagnóstico e aconselhamento terapêutico nos casos de glaucoma, que é a principal causa de perda de visão e cegueira. Na década de 80, no Congresso Americano de Oftalmologia, este sistema foi considerado como sendo um dos vinte melhores especialistas no assunto (BRONZINO, 1995). • PUFF: foi desenvolvido em 1979 por pesquisadores do Centro Médico Presbiteriano do Pacífico e da Universidade de Stanford (EUA). O PUFF é um sistema para interpretar medidas relacionadas a testes respiratórios e identificar distúrbios respiratórios. A primeira versão do PUFF teve 64 regras SEENTÃO, sendo que a versão mais recente tem cerca de 400 regras. O procedimento de validação do sistema foi realizado, comparando-se o seu diagnóstico com o de dois médicos especialistas em pneumologia, concluindose que o sistema era consistente em mais de 90% dos casos testados (COIERA, 1997). • VIE-PNN: é um sistema especialista que representa o conhecimento teórico e clínico sobre a composição das soluções de nutrição parenteral para recémnascidos tratados em UTI Neonatal, desenvolvido por meio da cooperação do Austrian Research Institute for Artificial Intelligence, Departament of Medical 45 Cybernetics and Artificial Intelligence, Department of Pediatrics of the University of Vienna. A base de conhecimento do VIE-PNN consiste em regras para compor a solução parenteral, aplicando-se estas regras os fluidos diários, eletrólito, vitaminas e exigências nutricionais são calculadas de acordo com as necessidades estimadas, o peso da criança, a idade e a tolerância individual. O médico também pode ajustar valores calculados conforme exigências clínicas especiais. O VIE-PNN está em uso na Áustria: UTI Neonatal - Department of Pedriatics of the University of Vienna; UTI Neonatal - University of Graz Medical School; Pediatric Clinic Glanzing em Viena (COIERA, 1997). • POEMS (Post Operative Expert Medical Systems): é um sistema de apoio à decisão no cuidado pós-operatório desenvolvido na University of Leeds, U.K., que oferece aconselhamento na ausência de um médico experiente e auxilia no monitoramento dos aparelhos. O POEMS trabalha com dados referentes aos pacientes como história médica, história operatória, exames e testes investigativos. Destes dados, ele apresenta uma lista ordenada dos prováveis diagnósticos e que tratamento seria mais satisfatório (COIERA, 1997). • DXPLAIN: desenvolvido no Massachussetts General Hospital, o DXPLAIN é usado para diagnóstico em Medicina Interna, a partir de um conjunto de achados clínicos, incluindo sinais, sintomas e dados laboratoriais. O sistema produz uma lista de diagnósticos possíveis por ordem decrescente de importância e sugere investigações posteriores. O DXPLAIN contém uma base de probabilidades aproximadas para cerca de 4,5 mil manifestações associadas a 2 mil doenças diferentes. Esse sistema está em uso em vários hospitais e escolas médicas, principalmente para educação clínica, sendo também utilizado para consultas médicas (COIERA, 1998). • QMR (Quick Medical Reference): desenvolvido na Universidade de Pittsburg (EUA), realiza o diagnóstico diferencial em muitas áreas da medicina interna, sendo também útil para ensino. O QMR abrange aproximadamente 80% da Medicina Interna, apresentando uma base de conhecimento com 46 informações sobre mais de 600 doenças e 4500 sinais e sintomas. Informados os sinais e sintomas do paciente, o algoritmo do mecanismo de inferência do QMR determina um escore seqüencial de probabilidades, baseando-se no Teorema de Bayes, classificando assim as várias hipóteses diagnósticas. Em 1989, foi publicado um trabalho no Annals of Internal Medicine, que avaliou o desempenho desse sistema na determinação de um diagnóstico, comprovandose que o sistema tem um desempenho semelhante ao de um especialista (WIDMAN,1998). • ILIAD: desenvolvido pelo Departamento de Informática Médica da Universidade de Utah em Salt Lake City (EUA), o ILIAD tem abrangência em Medicina Interna, sendo um sistema especialista para suporte à decisão ou treinamento de profissionais e estudantes de Medicina. A base de conhecimento foi construída partindo-se dos dados armazenados nos registros clínicos do Hospital durante 12 anos, a estas informações foram acrescentadas as opiniões de especialistas locais e dados retirados da literatura médica. O mecanismo de inferência do sistema utiliza, além da lógica booleana, cálculos probabilísticos, por meio do Teorema de Bayes (ELSON & CONELLY, 1995). • LIST-S20: desenvolvido pelo Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, este sistema é um novo instrumento para multidiagnóstico em esquizofrenia. O LIST-S20 é um sistema especialista baseado em regras, que utiliza um modelo similar ao processo de diagnóstico diferencial empregado na prática clínica. O uso de conjuntos difusos em aplicações na área médica, também têm estado presentes em diferentes pesquisas, por exemplo, tem-se disponível na literatura alguns sistemas difusos de diagnóstico como: RENOIR, sistema especialista na área de reumatologia (BELMONTE-SERRANO et al, 1994); AMDIS para o diagnóstico da osteoporose pós-menopausa (BINAGHI et al, 1993); MEDUS, sistema de diagnóstico da dor abdominal aguda (FATHI-TORBAGHAN & MEYER, 1994); LITO para o diagnóstico de doenças hepáticas (LESMO et al, 1989); FLORIDA, sistema especialista 47 para medicamento intensivo (PILZ, 1995) e ABVAB para o diagnóstico de hemorragia vaginal anormal (WONG et al, 1990). Além dos sistemas citados anteriormente, a seguir são apresentados outros, com um breve comentário. • CADIAG-2: está entre os primeiros sistemas especialistas difusos, foi desenvolvido para apoiar o diagnóstico e as decisões terapêuticas em vários subdomínios da Medicina Interna. O CADIAG-2 usa a teoria dos conjuntos difusos para capturar dados com incerteza em relação a diferentes aspectos tais como: se os sintomas do paciente (sinais, resultados de testes laboratoriais) são patológicos ou normais, se os sintomas necessariamente têm que ocorrer com a doença, se eles suficientemente confirmam ou excluem a doença. O conceito de representação de conhecimento e inferência difusa do CADIAG foi confirmado aplicando-se o sistema em aproximadamente 500 casos clínicos, os quais compreendiam 800 sintomas, sinais e resultados de testes laboratoriais, que estavam presente, parcialmente presente ou ausente. A análise do diagnóstico realizado pelo CADIAG-2 comparado com o diagnóstico clínico e laboratorial atingiu precisão de 93%, o que é considerado suficiente para um sistema de apoio à decisão médica. O CADIAG-2 tem sido utilizado como um assistente do médico no processo de diagnóstico clínico e também como um sistema tutorial para o ensino médico (STEIMANN & ADLASSNIG, 1998). • Sistema de Apoio à Decisão Médica em Valvulopatias: desenvolvido no Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), esse sistema implementa um algoritmo desenvolvido com base nos conjuntos difusos e na teoria de clusters, em que a estenose e insuficiência das válvulas cardíacas são descritas, com a possibilidade de discriminar a ocorrência e o estágio de desenvolvimento das doenças (discreta, moderada ou importante). Na fase de testes, verificou-se que o sistema foi capaz de diagnosticar corretamente quase todas as valvulopatias, apresentando 48 um número de acertos maior para os estágios importantes em relação aos estágios moderados e/ou discretos (FERREIRA & COSTA, 2000). • Sistema Difuso de Controle de um Eletroestimulador e de Simulação da Resposta Muscular: este sistema encontra-se em fase de desenvolvimento no Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET/PR), visando melhorar o controle da estimulação elétrica neuromuscular e monitorando a posição do membro sob estimulação. As saídas dos sistemas difuso são: (1) saída do controlador do eletroestimulador – quantidade que deve-se aumentar ou diminuir da amplitude de estimulação em relação ao valor atual; (2) saída do simulador da resposta muscular – o quanto o músculo contraiu ou alongou e conseqüente alteração no ângulo da articulação. O sistema foi desenvolvido no Simulink do MATLAB, já que oferece uma interação fácil com os módulos de lógica difusa utilizados para o controle e simulação (SILVA & NOHAMA, 2000). • Controlador Neurofuzzy para Geração da Marcha Via Estimulação Elétrica: desenvolvido pela Universidade Estadual de Capinas (UNICAMP) e pela Pontifícia Universidad Católica del Perú, esse controlador é capaz de predizer os padrões necessários de estimulação elétrica neuromuscular em pacientes com lesão medular, visando seu uso em sistemas de reabilitação de locomoção. Foram utilizadas estratégias de controle inteligente baseadas em conjuntos difusos e redes neurais (PEREZ, CAJACURI, QUEVEDO, 2000). Na Universidade Federal de Santa Catarina, já faz algum tempo que estão sendo realizadas aplicações na área de inteligência artificial médica, reunindo-se nos projetos o Centro de Ciências da Saúde, o Hospital Universitário e o Centro Tecnológico. Vários sistemas foram desenvolvidos, como por exemplo: • PROVANES (Proposta e Avaliação de Procedimentos Anestésicos): é um sistema especialista integrado, com processamento semântico-numérico, redes neurais, regras SE-ENTÃO, modelos clínicos e bases de dados, atuando 49 conjuntamente para dar apoio à tomada de decisão médica na proposta e avaliação de procedimentos anestésicos. O PROVANES é um sistema especialmente voltado para residentes do primeiro ano da especialidade de anestesiologia (OJEDA, 1992). • DoTor (Sistema para Apoio ao Diagnóstico de Dor Torácica Aguda de Origem Não-Traumática): o sistema DoTor é capaz de diagnosticar doze diferentes doenças, incluindo algumas potencialmente letais, cujo sintoma comum é a dor torácica. Nesse sistema é utilizado o raciocínio por analogia com protótipos de doenças, sendo a inferência realizada por meio do grau de similaridade entre um protótipo e o caso real. Foi também implementado um sistema de aprendizado com algoritmos genéticos paralelos, utilizado para aumentar o desempenho do DoTor (LOPES, 1996). • EPIIS (Sistema de Apoio ao Ensino do Diagnóstico de Epilepsia): o EPIIS é um sistema inteligente de ensino, que utiliza inteligência artificial distribuída por meio do paradigma de sociedade multi-agentes, incluindo uma interface hipermídia. O EPIIS cria condições similares àquelas que o aluno encontrará posteriormente na sua vida profissional (POZO, 1996). • SEDMAN (Sistema Especialista para Diagnóstico Médico por Analogia Nebulosa): o SEDMAN utiliza Raciocínio Baseado em Casos (RBC), para modelar o raciocínio do especialista e conjuntos difusos para a representação das variáveis lingüísticas representando assim a imprecisão nos dados clínicos. Esse sistema tem seu domínio de aplicação na área de reumatologia, sendo capaz de diagnosticar Artrite Reumatóide e Lupus Eritematoso (LINARES, 1997). • SDDEP (Sistema de Apoio ao Diagnóstico da Desnutrição EnergéticoProtéica): o SDDEP é um sistema especialista de apoio ao diagnóstico e terapêutica segundo os três tipos clínicos de desnutrição grave em crianças de 0 a 18 meses. Utiliza Raciocínio Baseado em Casos (RBC), que possibilita 50 simular o raciocínio de um especialista utilizando a experiência de casos passados para analisar e resolver uma situação atual. Com curto tempo de resposta, taxa de acertos satisfatórias e interface amigável, o SDDEP fornece o diagnóstico, bem como explicações e sugestões para o tratamento das crianças (REIS & CARGNIN, 1998). • SISPAN (Sistema de Apoio à Avaliação Nutricional em Pediatria): este é um sistema especialista probabilístico para avaliação do estado nutricional de crianças com até dois anos de idade. Neste sistema, a base de conhecimento, chamada de Rede Bayesiana, contém a representação dos sinais, sintomas, dados antropométricos e hipóteses diagnósticas (KOEHLER, 1998). • SCDM (Sistema de Controle de Pacientes Portadores de Diabetes Mellitus): o SCDM é um sistema de gerenciamento de dados, capaz de administrar todo o processo de atendimento a pacientes diabéticos realizado no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Tendo-se também um módulo especialista, que por meio das técnicas de inteligência artificial é capaz de identificar se um paciente apresenta ou não alguma predisposição para desenvolver complicações cardiovasculares, baseando-se na análise dos fatores de risco (MONTELLO, 1999). • SANPANEO (Sistema Especialista de Apoio à Nutrição Parenteral em Recém-Nascidos): o SANPANEO é um sistema especialista para auxiliar na prescrição de nutrição parenteral em recém-nascidos que baseia-se nos parâmetros antropométricos, necessidades calóricas e hidroeletrolíticas, fatores que levaram à indicação deste tipo de nutrição (SOUZA, 1999). • SACI (Sistema de Apoio na Avaliação de Distúrbios do Crescimento Infantil): é um sistema especialista probabilístico para o diagnóstico de alguns distúrbios relacionados à falência do crescimento em crianças com até 2 anos de idade. As hipóteses 51 diagnósticas do SACI engloba má absorção por intolerância à lactose, deficiência de ferro e etiologia a esclarecer. O SACI foi desenvolvido para as plataformas DOS e Windows, no ambiente Delphi 5, utilizando as DLL’s da shell Netica (SIMÕES, 2001). 5.3 Exemplos de Sistemas Desenvolvidos na Área de Ventilação Mecânica No domínio de aplicação desta pesquisa, ou seja, na área de ventilação mecânica, tem-se alguns trabalhos realizados, os quais serão descritos a seguir. • Identificação da Mecânica Respiratória e Controle da PEEP Durante Ventilação Mecânica – Simulação: desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro, esse trabalho consiste num simulador do comportamento mecânico do sistema respiratório durante ventilação mecânica, com ondas de vazão ou pressão controlada. Este sistema incorpora rotinas de regressão linear múltipla e também possui a capacidade de adquirir e processar sinais. Com esta simulação, estudou-se a regressão linear múltipla como uma ferramenta para controlar a pressão positiva nos pulmões ao fim da expiração (PEEP) e como forma de identificação dos parâmetros mecânicos (resistência, complacência e PEEP) do sistema respiratório. Como resultados desse trabalho, verificou-se que a identificação da mecânica respiratória, da forma como foi implementada, mostrou-se satisfatória apenas para o acompanhamento da evolução do quadro clínico de pacientes. Por outro lado, o controle automático da PEEP mostrou ser potencialmente útil e passível de utilização prática (PINO, 1996). • SILMEV (Sistema Simulador e de Treinamento da Ventilação Mecânica Usando o Ventilador Pulmonar): desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, na Universidade Federal de Santa Catarina, esse sistema simulador da ventilação mecânica utiliza no seu desenvolvimento modelos matemáticos da mecânica respiratória e do 52 ventilador pulmonar. Os modelos representam tanto o comportamento normal quanto patológico, tendo-se diferentes doenças do pulmão e das vias aéreas de um paciente hipotético sob ventilação mecânica. O simulador possibilita testar e avaliar o suporte ventilatório controlado, podendo-se configurar as variáveis de controle, fase e base (CAJACURI, 1997). Os parâmetros do modelo são definidos pelo usuário no processo de configuração do paciente e do ventilador simulado, não havendo ajuste automático de parâmetros. O SILMEV apresenta características didáticas, incluindo em conjunto a mecânica respiratória do paciente e o ventilador pulmonar, para que seja possível aprender os procedimentos da ventilação mecânica na UTI. A estrutura funcional do simulador pode ser observada na Figura 5, tendo-se a interface com o usuário, onde serão configurados os modelos tanto da mecânica respiratória, quanto do ventilador pulmonar. INTERFACE COM O USUÁRIO ESTÁTICA DINÂMICA MODO DE VENTILAÇÃO MODELO DA MODELO DO MECÂNICA RESPIRATÓRIA VENTILADOR SIMULADOR PACIENTE - VENTILADOR APRESENTAÇÃO CONVENCIONAL DE RESULTADOS Figura 5 - Estrutura funcional do simulador (CAJACURI, 1997) O SILMEV define a mecânica do aparelho respiratório, determinando os volumes e capacidades pulmonares; característica estática do pulmão e tórax; e o comportamento dinâmico do fluxo de ar nas vias aéreas. Os parâmetros da mecânica respiratória apresentam primeiramente os valores normais de uma pessoa adulta, porém o SILMEV possibilita que sejam definidos outros valores. 53 O SILMEV possibilita que sejam simulados de forma completa os modos ventilatórios controlados e de forma restrita os modos assistido/controlado, já que o sistema não dispõe de um modelo matemático do padrão respiratório do paciente. O SARE, sistema desenvolvido nesta pesquisa, é um trabalho na área de inteligência artificial médica, para ser utilizado em ambientes de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Constituindo-se numa abordagem da teoria de conjuntos difusos para o controle de parâmetros da assistência respiratória em neonatos, estas características o diferenciam dos exemplos aqui mostrados. CAPÍTULO 6 CONJUNTOS DIFUSOS A reprodução de características inteligentes em máquinas construídas pelo homem é um dos objetivos mais perseguidos pela comunidade científica e tecnológica, surgindo e desenvolvendo-se vários métodos computacionais. Nesse contexto, tem-se os conjuntos difusos que trabalham com a imprecisão e o raciocínio aproximado. Assim, nesse contexto, busca-se uma solução aproximada para um problema formulado imprecisamente o que é difícil para os métodos computacionais convencionais, pois estes métodos não tratam do problema de se explorar a tolerância por imprecisão. Diante de situações como essa, os pesquisadores sentiram a necessidade de novos métodos. Surgindo a idéia dos conjuntos nebulosos ou difusos (fuzzy), que partiu de L.A. Zadeh e R. Bellman. Eles verificaram a necessidade de criar uma teoria que trabalhasse com a imprecisão em sistemas dinâmicos, já que os recursos tecnológicos disponíveis eram incapazes de automatizar as atividades relacionadas a problemas de natureza industrial, biológica ou química, que compreendessem situações ambíguas, não passíveis de processamento por meio da lógica computacional fundamentada na lógica booleana. Zadeh, conhecido como o grande colaborador do Controle Moderno, publicou em 1965 o artigo “Fuzzy Sets” o qual faz a formalização dos conjuntos difusos. Incentivados pelas possibilidades das aplicações que foram desenvolvidas utilizando-se conjuntos difusos, os estudos na área de sistemas difusos e controle de processos cresceram bastante nos últimos tempos, tendo-se destacado como uma área de pesquisa promissora. A cada dia surgem novos e diferentes produtos que o utilizam no seu funcionamento, já que tenta imitar o trabalho do cérebro humano, sendo aplicado em processos que se modelam de maneira semelhante à do pensamento humano (KOSKO, 1994). 55 A nova teoria proposta por Zadeh começou a ser utilizada primeiramente no Japão, chamando a atenção dos demais países pelo sucesso das aplicações desenvolvidas, tornando-se essa uma das mais interessantes teorias para implementar sistemas de controle e de inteligência artificial. 6.1 Conceitos Gerais Os conjuntos difusos são uma técnica inteligente que fornecem um mecanismo para que se possa manipular informações imprecisas, como conceitos de pequeno, alto, bom, muito quente, frio, entre outros, que permitem inferir uma resposta aproximada para uma questão baseada em um conhecimento que é inexato, incompleto ou não totalmente confiável. Tendo como objetivo modelar o modo aproximado de raciocínio, tentando imitar a habilidade humana de tomar decisões racionais em um ambiente de imprecisão (KLIR & YUAN, 1995). Os conjuntos difusos são capazes de incorporar o conhecimento objetivo, ou seja, aquele a partir de dados numéricos; como também o conhecimento subjetivo, aquele a partir de informações lingüísticas. Esses conjuntos suportam os modos de raciocínio que são aproximados, ao invés de exatos, respeitando critérios subjetivos. Ao contrário dos conjuntos tradicionais (conjuntos crisp), nos quais um elemento pertence ou não a este conjunto, assumindo apenas dois valores {0, 1}, os conjuntos difusos podem ser vistos como uma generalização dos conjuntos tradicionais, nos quais as funções que representam elementos do conjunto, assumem valores reais dentro do intervalo [0,1]. Então, a idéia de conjunto difuso está associada a um grau de pertinência, que varia de acordo com o elemento em questão. Desta forma, um elemento pode pertencer muito ou pouco e até não pertencer a um conjunto difuso. O grau de pertinência varia de 0 a 1, isto é, da completa exclusão até a total pertinência, podendo assumir todos os valores intermediários. Ou seja, o 56 elemento pertence ao conjunto segundo um determinado nível ao qual é dado o nome de grau de pertinência. Veja: µ(x) 1 0 ≤ x < 2, x não pertence 2 ≤ x < 4, x pertence cada vez mais 4 ≤ x < 6, x pertence cada vez menos 0 2 4 6 x x ≥ 6, x não pertence Então, o grau de pertinência em um conjunto difuso é medido pela generalização de uma função característica chamada função de pertinência e definida por: µA(x): x → [0,1] Essa função de pertinência mapeia x no domínio dos números reais definidos no intervalo desde 0 a 1, inclusive. A função de pertinência é um número real definido por (KLIR & YUAN, 1995): 0 ≤ µA ≤ 1 Onde: 0 significa não pertinência e 1 significa total pertinência ao conjunto. Por exemplo, um valor particular qualquer como 0.4 é chamado grau de pertinência de um elemento x a um conjunto A. Um conjunto difuso A em X é caracterizado como um conjunto de pares ordenados de um elemento genérico x e o seu valor para a função de pertinência, então (KLIR & YUAN, 1995): A = {(x, µA(x)); x ∈ X} 57 Uma função de pertinência deverá refletir o conhecimento que se tem em relação a intensidade com que um objeto pertence a um conjunto difuso. A função de pertinência é utilizada para medir o grau de pertinência de um objeto a um conjunto difuso. A seguir, tem-se alguns exemplos das funções de pertinência. 1- Função Triangular 2- Função Z 3- Função Trapezoidal 4- Função S O grau de pertinência é definido por meio da função de pertinência, que é definida com base na intuição ou experiência. O número de funções de pertinência e a forma apropriada são determinados levando em consideração fatores como a exatidão e estabilidade do sistema, facilidade de implementação, manipulação e manutenção (ROSS, 1995). A função de pertinência µA(x) descreve a existência da “percepção”, “confiança” ou “crença” que x ∈ A. Nota-se que a designação de uma função de pertinência para um conjunto difuso é subjetivo, refletindo o contexto no qual o problema é visto (GUPTA et al, 1988). 58 Conforme ROSS (1995), nos conjuntos difusos o eixo x compreende uma classificação inteira ou o universo de discurso do sistema, o eixo y mapeia uma faixa de 0 a 1 e representa o grau pelo qual um valor é membro de um conjunto difuso. Como todas as informações contidas em um conjunto difuso estão descritas pela função de pertinência, torna-se importante descrever as características desta função (Figura 6). µ(x) 1 Núcleo Limites x Suporte Figura 6 - Características da função de pertinência As funções de pertinência são monotonicamente crescentes, decrescentes ou subdivididas em parte crescente e outra decrescente. O núcleo de uma função de pertinência para um conjunto difuso é a região do universo que é caracterizada pela pertinência completa ou total em um conjunto difuso. Assim, dado um conjunto difuso qualquer A, o núcleo é compreendido pelos elementos do universo x onde µA(x) = 1. O suporte de uma função de pertinência para um conjunto difuso é a região do universo caracterizada por pertinência diferente de zero, ou seja, aqueles elementos de um universo x onde µA(x) ≠ 0. Por exemplo: dado um conjunto difuso A = { (1, 0.2), (2, 0.5), (3, 0.8), (4, 1.0), (5, 0.7), (6, 0.3) }, o suporte é S(A) = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. 59 Os limites de uma função de pertinência para um conjunto difuso são considerados como aquela região do universo que contém uma pertinência diferente de zero, mas não uma pertinência completa, ou seja, os limites são compreendidos pelos elementos de um universo x onde 0 < µA(x) < 1. Outra característica importante das funções de pertinência é aquela que se refere a normalização, ou seja, um conjunto difuso normalizado é aquele cuja função de pertinência tem pelo menos um elemento no universo x cuja pertinência é igual a 1. µ µ 0.8 x x Não-normalizado Normalizado A convexidade é outra característica das funções de pertinência, ou seja, um conjunto difuso convexo é todo o conjunto difuso em que para dois pontos quaisquer de sua função de pertinência, o segmento da reta que os une também pertence ao conjunto. µ µ Convexo x Não convexo x A cardinalidade |A| para um conjunto difuso finito A é definida como: |A| = Σ µA (x), onde x ∈ X 60 Por exemplo, dado o conjunto difuso: A = {(1, .2), (2, .5), (3, .8), (4, 1), (5, .7), (6, .3)}, a cardinalidade do conjunto é |A| = .2 + .5 + .8 + 1 + .7 + .3 = 3.5 6.2 Operações com Conjuntos Difusos As operações com conjuntos difusos são união, intersecção e complemento, sendo definidas por meio de suas funções de pertinência. • Intersecção entre conjuntos difusos: a intersecção C = A ∩ B está sendo definida como sendo a intersecção padrão, que utiliza-se do mínimo: µC = min ( µA(x), µB(x) ), x ∈ X Figura 7 - Intersecção entre conjuntos difusos • União entre conjuntos difusos: a união D = A ∪ B é definida como sendo a união padrão: µD = max ( µA(x), µB(x) ), x ∈ X Figura 8 - União entre conjuntos difusos 61 • Complemento: o complemento padrão de um conjunto difuso A, µCA(x), é definido como: µCA(x) = 1 - µA(x), x ∈ X Figura 9 - Complemento de um conjunto difuso Por exemplo, dado os seguintes conjuntos difusos: A = { (1, .2), (2, .5), (3, .8), (4, 1), (5, .7), (6, .3)} B = { (3, .2), (4, .4), (5, .6), (6, .8), (7, 1), (8, 1)} Então, tem-se: D = A ∩ B = { (3, .2), (4, .4), (5, .6), (6, .3)} E = A ∪ B = { (1, .2), (2, .5), (3, .8), (4, 1), (5, .7), (6, .8), (7, 1), (8, 1)} µCB = { (1, 1), (2, 1), (3, .8), (4, .6), (5, .4), (6, .2), (9, 1), (10, 1)} 6.3 Variáveis Lingüísticas Um conjunto difuso é formado por um ou mais conjuntos que são identificados por variáveis lingüísticas e caracterizados pelas suas funções de pertinência. As variáveis lingüísticas são variáveis cujos valores não são números, mas sim palavras ou frases na linguagem natural. Os conjuntos difusos e as variáveis lingüísticas podem ser utilizados para quantificar o significado da linguagem natural, a qual pode logo ser manipulada. Essas variáveis lingüísticas são representadas nos conjuntos difusos, possibilitando uma aproximação com o mundo real (BASTOS, 1994). 62 A seguir, mostra-se algumas variáveis lingüísticas e os valores típicos que poderiam ser designados a elas. Tabela 1 - Variáveis lingüísticas e seus valores VARIÁVEL LINGÜÍSTICA VALORES TÍPICOS Estatura baixa, mediana, alta Idade Criança, jovem, adulto, idoso Cor Temperatura Vermelho, verde, amarelo, laranja Muito baixa, baixa, média, alta, muito alta As variáveis lingüísticas não possuem valores precisos, representam um espectro de valores. Quando se define, por exemplo, que uma pessoa é alta, isto não significa um valor exato, mas sim um intervalo de valores. 6.4 Etapas de Implementação de um Sistema Difuso Os sistemas difusos diferem dos sistemas convencionais por se aproximarem mais do pensamento humano e da linguagem natural, sendo portanto, mais utilizados em sistemas que visam capturar e aproximar a natureza inexata do mundo real. Esses sistemas além de tratarem a imprecisão, são também capazes de modelar o raciocínio de senso comum (LEE, 1990). Para o desenvolvimento de um sistema difuso pode-se definir alguns passos, como: (i) determinar se a escolha de fazer um sistema difuso realmente é adequada para a solução do problema; (ii) identificar a extensão dos parâmetros de entrada e saída; (iii) definir a função de pertinência para cada parâmetro de entrada e saída, sendo a escolha da função de pertinência influenciada pelo comportamento do sistema; (iv) construir uma base de regras; (v) verificar se a base de regras de saída está dentro da extensão das entradas correspondentes e se está correta (RÉ, 1995). 63 A estrutura básica de um sistema difuso envolve processos de fuzificação, inferência e defuzificação (Figura 10). Regras Entrada Saída Crisp Defuzificação Fuzificação Crisp Inferência Fuzzy Figura 10 - Estrutura básica de um sistema difuso (LEE, 1990) • Fuzificação das Entradas O processo de fuzificação é aquele em que determina e calcula um valor para representar o grau de pertinência de entrada em um ou mais conjuntos difusos, sendo que cada valor de entrada terá um grau de pertinência em cada conjunto (FERNANDES, 1997). Portanto, nessa etapa os valores numéricos são transformados em graus de pertinência para um valor lingüístico. Permitindo uma ligação entre os termos lingüísticos (frio, próximo, quente, e outros) e as funções de pertinência. Segundo VIOT (1993), o número e a forma das funções de pertinência em conjuntos difusos são escolhidos dependendo da exatidão, resposta, estabilidade, facilidade de implementação, manipulação e manutenção requeridas pelo sistema. • Inferência Depois das variáveis lingüísticas serem interpretadas, por meio da fuzificação, a próxima etapa será a descrição das situações nas quais há reações, ou seja, a 64 determinação das regras SE-ENTÃO. Cada regra na saída especifica uma ou várias conclusões. O antecedente da regra contém uma ou mais condições e o conseqüente contém uma ou mais ações. O antecedente da regra corresponde aos graus de pertinência calculados durante a fuzificação. Durante a avaliação das regras, a intensidade de saída é calculada com base em valores dos antecedentes e estão indicadas pelas saídas difusas da regra. • Defuzificação A defuzificação converte um conjunto difuso de saída de um sistema em um valor crisp correspondente. Esse processo é importante para decifrar o significado da ação difusa usando função de pertinência e também para resolver conflitos entre ações de competição (VIOT, 1993). Conforme VIOT (1993), existem várias formas de defuzificação, dentre as quais destacam-se: • Método do Centro de Gravidade (COA): é bastante utilizada para gerar o centro de gravidade da distribuição de possibilidade. Determina-se um ponto central sobre o eixo x, para cada função de pertinência de saída. A defuzificação é produzida pela média ponderada dos pontos do centróide do eixo x pelas áreas são consideradas (Figura 11). Y Saída 1 1 Saída 2 0.6 0.4 0 10 20 30 40 50 60 70 32,4 Figura 11 - Defuzificação pelo método do centro de gravidade X Saídas Sistema 65 O cálculo para a obtenção do centróide (Figura 11) é descrito a seguir: no eixo x a centróide é: ponto 1 = 20 ponto 2 = 50 o grau de pertinência: saída 1 = 0.6 saída 2 = 0.4 área 1 = 0.6 (40+28)/2 = 20.4 área 2 = 0.4 (40+32)/2 = 14.4 média ponderada = 20.4 (20) + 14.4 (50) / 20.4 + 14.4 = 32.4 • Método do Critério Máximo (MAX): gera um ponto onde a distribuição de possibilidade atinge um valor máximo, escolhendo-se a ação para a qual a função de pertinência tem um valor máximo. • Método da Média Máxima (MOM): produz uma ação de controle que representa o valor médio de todas as ações cuja função de pertinência atinge o máximo. 6.5 Sistema Difuso de Controle GUPTA & TSUKAMOTO (1980), consideram o controle difuso como um avanço em relação ao controle matemático convencional preciso e a tomada de decisão similar a realizada por um agente humano. A metodologia desses controladores difusos é útil quando os processos são complexos para serem modelados por meio das técnicas quantitativas convencionais, ou também quando as fontes de informações são de forma qualitativa ou imprecisa. O controle difuso tem se destacado como uma das áreas mais ativas para pesquisa na aplicação da teoria de conjuntos difusos, tendo-se aplicações para o controle da qualidade de água, para operação de trem automático, de reator nuclear, de elevador, da poluição em túneis urbanos, da direção de veículos autoguiados, entre outros (LEE, 1990). 66 A essência de um controlador difuso é o conjunto das regras lingüísticas de controle, que se baseiam no conhecimento de um especialista, apresentando conceitos de conjuntos difusos e regra de inferência. O Contolador Lógico Difuso (Fuzzy Logic Control - FLC), proporciona um algoritmo capaz de converter a estratégia lingüistica em uma estratégia de controle automático (RÉ, 1995). Um sistema de controle difuso trata do relacionamento entre entradas e saídas, agregando vários parâmetros de processo e controle. O processo pode ser controlado a partir de um conjunto de regras difusas SE–ENTÃO, capaz de coordenar conhecimentos incompletos e imprecisos. No desenvolvimento de um controlador difuso é importante analisar várias ações que modelam a atividade de controle humano, como: (i) as características do comportamento de controle humano; (ii) o desenvolvimento da habilidade para controlar o processo; (iii) as diferenças entre operadores de processos; (iv) fatores que influenciam na performance e (v) a organização do comportamento de controle do operador (PEDRYCZ, 1988). Um sistema difuso de controle, conforme LEE (1990), apresenta quatro componentes importantes, com as seguintes funções: • Interface de fuzificação: desenvolvimento de uma escala que transfere a lista de valores das variáveis de entrada dentro do universo de discurso correspondente, e também da função de fuzificação que converte os dados de entrada. • Base de conhecimento: possui o conhecimento do domínio de aplicação e o controle de metas, apresentando uma base de dados e uma base de regras de controle lingüístico. • Lógica de tomada de decisão: é capaz de simular a tomada de decisão humana, baseando-se no conceito difuso e na dedução da ação de controle utilizando implicação difusa e regras de inferência difusas. 67 • Interface de defuzificação: converte as variáveis de saída dentro do controle, partindo da dedução da ação de controle. A Figura 12, mostra a estrutura de um controlador difuso. Base de Conhecimento Interface de Lógica de Tomada Interface de Fuzificação de Decisão Defuzificação Controlador do Sistema Figura 12 - Estrutura básica de um controlador difuso (LEE, 1990). 6.6 Algumas Ferramentas para Desenvolvimento de Sistemas Difusos Existem alguns softwares para o desenvolvimento de sistemas difusos, como Fuzzy Logic Inferencing Engine (FLIE), Fuzzy Logic Development Environment (FLDE), FuzzyTECH, Fuzzy Knowledge Builder, XFUZZY, FuzzyJAVA, UNFUZZY, FuzzyCLIPS, MATLAB, entre outros. A seguir são comentadas algumas ferramentas para o desenvolvimento de sistemas difusos, as quais facilitam o processo de desenvolvimento de sistemas desse tipo. • FuzzyCLIPS: é uma shell para o desenvolvimento de sistemas especialistas baseados em conjuntos difusos, que foi implementada para a representação e manipulação de fatos e regras difusas, possibilitando que se trabalhe juntamente com termos difusos e crisp. A figura 13, mostra a tela do FuzzyCLIPS. 68 • MATLAB: o seu módulo difuso (ToolBox Fuzzy) é uma das ferramentas mais tradicionais, permitindo desenvolver sistemas difuso e gerar o código em C++. Na figura 14, mostra-se a interface da ToolBox Fuzzy do MATLAB. • UNFUZZY: é um ambiente para simulação e desenvolvimento de sistemas difusos, que gera o código fonte em C e C++. Na figura 15, tem-se a janela principal do UNFUZZY. Figura 13 - Tela principal do FuzzyCLIPS 69 Figura 14 - Interface da ToolBox Fuzzy do MATLAB Figura 15 - Janela principal do UNFUZZY 70 O sistema desenvolvido, denominado SARE, é difuso, pois tanto os seus dados de entrada, ou seja, aqueles referentes a gasometria arterial, bem como os de saída, que referem-se aos parâmetros do ventilador mecânico são considerados variáveis difusas. As variáveis de entrada da gasometria arterial, podem ser classificadas nos conjuntos difusos muito baixo, pouco baixo, normal e alto. Enquanto as ações de controle no ventilador mecânico, também podem estar classificadas: em aumentar, manter e diminuir. Para a implementação do protótipo, não se utilizou nenhuma das ferramentas apresentadas anteriormente, a fim de que houvesse uma maior compreensão sobre as etapas englobadas no desenvolvimento de um sistema difuso. Optou-se pela implementação do SARE no ambiente de programação Delphi 5.0, já que proporciona a criação de aplicações visuais utilizando-se de orientação a objetos. CAPÍTULO 7 DOMÍNIO DE APLICAÇÃO Neste capítulo, será comentado o domínio de aplicação, relativo aos diferentes aspectos da área médica cujo entendimento é importante para que fosse possível a realização do sistema. 7.1 A Mecânica Respiratória A respiração tem como função principal prover oxigênio às células do corpo e remover o excesso de dióxido de carbono. O ar, assim como a água, flui de uma zona de alta pressão para uma de baixa pressão. Para que ocorra a inspiração a pressão alveolar deve ser menor que a pressão atmosférica, enquanto na expiração a pressão alveolar deve ser maior que a pressão atmosférica (COMROE, 1975). Segundo GUYTON (1993), o processo de respiração compreende quatro fases: ventilação pulmonar; difusão de oxigênio e dióxido de carbono entre os alvéolos e o sangue; transporte de oxigênio e dióxido de carbono no sangue e nos líquidos orgânicos para dentro e fora das células; regulação da respiração. A ventilação pulmonar significa a entrada (inspiração) e saída (expiração) de ar entre a atmosfera e os alvéolos (COMROE, 1975) e (CARVALHO, 1993). • Inspiração: é realizada pela contração ativa dos músculos de inspiração, principalmente o diafragma. Assim, aumenta-se o volume torácico e cria-se uma pressão interpleural negativa, normalmente menor que a pressão atmosférica, o que possibilita o ingresso de ar no pulmão e insuflação dos alvéolos, ductos alveolares e bronquíolos. Conforme o ar vai penetrando no 71 pulmão, a pressão alveolar vai aumentando, até que o gradiente de pressão inicial termine, sendo esse o momento do término da inspiração. • Expiração: é um processo inteiramente passivo, ou seja, quando o diafragma se relaxa, as estruturas elásticas do pulmão, da caixa torácica e do abdômen, forçam o diafragma para cima. Nessa fase gera-se um gradiente de pressão positiva inverso, sendo a pressão alveolar maior que a pressão atmosférica, assim por meio desse gradiente o ar sai do pulmão. À medida que o ar vai saindo do pulmão, a pressão alveolar vai diminuindo até que o gradiente de pressão volta a terminar, sendo esse o momento final da expiração. 7.2 Assistência Respiratória A assistência respiratória pode ser definida como o movimento de gás para dentro e fora do pulmão por meio de um recurso externo conectado diretamente ao paciente. Esse recurso externo pode ser uma bolsa de ressurreição, um dispositivo que mantém a pressão contínua nas vias aéreas, por exemplo, CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas) nasal ou um ventilador mecânico (GOLDSMITH & KAROTKIN, 1988). Em neonatos, a assistência respiratória é normalmente uma medida temporária para apoiar a mecânica respiratória até o paciente poder respirar adequadamente sem ajuda. Tem como finalidade proporcionar ventilação alveolar e remoção de gás carbônico, oxigenação adequada e uma redução do trabalho respiratório. Isto é realizado por um dispositivo que substitui a ação de contração e relaxamento da musculatura respiratória (ibidem). A assistência respiratória de neonatos é um procedimento complexo e altamente invasivo. Para ventilar efetivamente o pulmão doente, tem-se que entender a fisiologia pulmonar normal, como também a fisiopatologia das doenças pulmonares em neonatos (ibidem). 72 O médico também tem que correlacionar o tipo de terapia para a fase do crescimento e desenvolvimento pulmonar, bem como para a severidade da doença. Deve-se também conhecer os princípios mecânicos básicos do respirador em uso. Efeitos benéficos da terapia ventilatória são dependentes de uma ampla base de conhecimento dos assuntos, habilidades e experiência em gerenciamento combinado a uma constante vigilância por médicos e equipe de enfermagem durante o tratamento. 7.2.1 Histórico da Ventilação Pulmonar Mecânica Na literatura médica dos últimos séculos encontram-se descritas inúmeras tentativas de ventilação, sendo que o primeiro médico a investigar e relatar sua experiência com intubação da traquéia, com o objetivo de dar suporte ventilatório, foi Hipócrates (460 – 377 a.C.). Em 1543, começou-se a utilizar a ventilação artificial, mas somente como um método de estudo da fisiopatologia pulmonar. A partir de 1800, aumentou o interesse pela reanimação e ventilação de neonatos, sendo desta época a referência de uma intubação nasotraqueal com ventilação mecânica, publicada em Genebra (CARVALHO et al, 1993). Em 1789 foi desenvolvido o aerofole pulmonar, primeiro invento específico para reanimação e ventilação por curtos períodos de tempo de neonatos. Desde então, vários pesquisadores desenvolveram novas técnicas de ventilação mecânica, introduzindo-as na prática médica. Até que em 1971 um novo protótipo de ventilador neonatal foi desenvolvido, constituindo-se num marco na história da ventilação mecânica pediátrica (ibidem). A partir dessas descobertas e à medida que a fisiologia pulmonar foi sendo melhor entendida, várias pesquisas e estudos foram realizados, aprimorando-se tanto as técnicas quanto os aparelhos (ibidem). 73 7.2.2 Tipos e Classificação de Ventiladores Mecânicos O movimento de ar para dentro e fora do pulmão é resultante de uma diferença de pressão entre a via aérea superior e a pressão alveolar. Dessa forma, a ventilação pode ser estabelecida por uma diminuição na pressão alveolar, ou seja, ventilação por pressão negativa; ou pelo aumento na pressão da via aérea superior, que é a ventilação por pressão positiva (PIVA et al, 1997). Nos dispositivos de pressão positiva, a classificação mais comum é pela forma como é ciclado, ou seja, o modo como o ciclo inspiratório é finalizado, permitindo o início da expiração. Há cinco tipos básicos (PIVA et al, 1997): • Ciclados a volume: a inspiração termina quando um certo volume é alcançado. • Ciclados a pressão: a inspiração termina quando a pressão pré-fixada é alcançada. • Ciclados a tempo: a inspiração termina quando o tempo pré-fixado é atingido. • Ciclados a fluxo: a inspiração termina quando o fluxo alcançou um nível baixo. • Mistos: dois ou mais mecanismos independentes estão presentes no mesmo ventilador. A maioria dos ventiladores de pressão positiva para neonatos são classificados em três categorias: ciclados a pressão, tempo e volume. Os ventiladores também podem ser classificados de acordo com o controle da ventilação, freqüentemente denominado de modo de ventilar, podendo ser uma ventilação mecânica controlada, assistida-controlada, intermitente (CARVALHO et al, 1993). assistida e mandatória 74 • Ventilação Mecânica Controlada (VMC): o ventilador mecânico fornece um número predeterminado de ciclos ventilatórios por minuto, sendo ativado com uma determinada freqüência, independentemente de qualquer esforço inspiratório do paciente, não permitindo que ele apresente movimentos respiratórios espontâneos. Esse modo de ventilar é aplicado em situações específicas e restritas, quando ocorre diminuição da condição ventilatória, por exemplo nos casos de recuperação de sedação anestésica e lesões do sistema nervoso central que necessitem de hiperventilação (ibidem). • Ventilação Mecânica Assistida – Controlada (VMAC): nesse modo o ventilador mecânico fornece um ciclo ventilatório quando o esforço inspiratório do paciente o deflagra, ou quando este esforço não acontece em um determinado período preestabelecido. O aparelho fornece um número específico de respirações por minuto, apesar do esforço do paciente (ibidem). • Ventilação Mecânica Assistida (VMA): nesse modo de ventilação, a freqüência respiratória é desencadeada pelo paciente, enquanto o volume corrente e a taxa de fluxo são estabelecidos pelo médico. Porém, poucos aparelhos desse modo são adequados para ventilação em pacientes pediátricos (ibidem). • Ventilação Mandatória Intermitente (VMI): esse modo de ventilação permite que o paciente respire espontânea e independentemente dos ciclos ventilatórios do aparelho (ibidem). 7.2.3 O Ventilador Mecânico Considerando-se o modo de operar de qualquer ventilador mecânico por pressão positiva, como o que será utilizado no trabalho, deve-se distinguir, segundo CARVALHO et al (1993), quatro funções básicas do respirador: 75 • insuflar o pulmão (fase inspiratória); • possuir mecanismo para terminar a fase inspiratória (fase de troca da inspiração para expiração); • permitir o esvaziamento do pulmão (fase expiratória); • possuir mecanismo para iniciar a insuflação pulmonar (fase de troca da expiração para inspiração). Dessa forma, tem-se quatro fases no ciclo respiratório da ventilação por pressão positiva, como mostra a figura 16. Um ventilador mecânico possui uma série de botões no seu painel frontal, que possibilitam controlar diretamente os parâmetros da ventilação mecânica, que são a Pressão Inspiratória (PIP); Tempo Inspiratório (TI); Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP); Tempo Expiratório (TE); Freqüência Respiratória (FR); Relação Tempo Inspiratório/Tempo Expiratório (Relação I/E); Fluxo; Fração de Oxigênio Inspirado (FiO2). Pressão Troca da fase inspiratória para expiratória Troca da fase expiratória para inspiratória Fase Fase Inspiratória Expiratória Tempo Figura 16 - As fases do ciclo respiratório (DUPUIS, 1986) 76 A seguir, conforme o “Manual de Instruções do Respirador Artificial Inter3” (INTERMED) e PIVA et al (1997) são descritos os parâmetros de um ventilador mecânico. • Pressão Inspiratória (PIP): cria um gradiente de pressão entre o início e o fim da fase inspiratória da ventilação mecânica, determinando o movimento de uma quantidade de gás para o interior do pulmão. Então, a PIP determina o nível de máxima pressão durante a fase inspiratória, sendo medida em cm H2O. • Tempo Inspiratório (TI): determina o tempo de inspiração de um ciclo respiratório, sendo medido em segundos. • Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP): consiste na manutenção de uma pressão positiva nas vias aéreas durante a fase expiratória, de forma a impedir um esvaziamento completo dos alvéolos. Então, a PEEP determina o nível de pressão durante a fase expiratória, sendo medida em cm H2O. • Tempo Expiratório (TE): indica que o respirador está na fase expiratória, mantendo a pressão ajustada em PEEP, o TE é medido em segundos. • Freqüência Respiratória (FR): determina a freqüência dos ciclos respiratórios, sendo medida em respirações por minuto (RPM). • Relação Tempo Inspiratório/Tempo Expiratório (Relação I/E): informa a proporção entre a inspiração e a expiração dentro do ciclo respiratório, sem informar os tempos inspiratório ou expiratório. A relação I/E é calculada em função do TI e da FR programados. Sendo a relação apresentada da seguinte forma: I/E = 1 : TE/TI • Fluxo: o fluxômetro possibilita o ajuste do fluxo contínuo utilizado durante a ventilação, liberando um fluxo gasoso por minuto. 77 • Fração de Oxigênio Inspirado (FiO2): a válvula que mistura oxigênio e ar comprimido, permite o ajuste da FiO2 utilizada na ventilação mecânica. A realização do estudo sobre ventiladores mecânicos, baseou-se no Inter3 que é um respirador eletrônico microprocessado, de fluxo contínuo, ciclado a tempo e limitado a pressão, usado em pacientes neonatais e pediátricos. Na figura 17, tem-se o painel frontal do respirador. Figura 17 - Painel frontal do respirador neonatal e pediátrico Inter3 (INTERMED) 7.2.4 Causas de Falência Respiratória e Indicações para Ventilação Embora se tenha várias razões para iniciar a assistência respiratória em neonatos, a causa mais comum é a falência respiratória. Em qualquer criança, esta condição pode ser de duas formas. A primeira é a apnéia, sendo a assistência respiratória necessária porque o paciente não consegue respirar sozinho. O pulmão pode ser normal e a etiologia é mais freqüentemente relacionada ao controle da respiração pelo sistema nervoso central. Exemplos são: apnéia de prematuros, hemorragia intracranial e overdose de drogas (GOLDSMITH & KAROTKIN, 1988). Na segunda forma de falência respiratória, o mecanismo da troca de gás pulmonar foi comprometido. Freqüentemente a etiologia é uma doença pulmonar primária ou da via aérea (por exemplo, Síndrome do Desconforto Respiratório). Nestas condições, 78 alterações fisiológicas na troca gasosa ocasionarão acidose, hipercapnia, e hipoxemia, que necessitam de assistência respiratória para prevenir o dano ou morte do órgão (ibidem). A falência respiratória pode ser causada pela falha de órgãos diferentes do sistema nervoso central e o pulmão. Porém, quando o pulmão é o principal responsável, é importante fazer-se uma distinção entre dois tipos fisiológicos de doença pulmonar, as quais são: atelectásica e obstrutiva (ibidem). A doença atelectásica é caracterizada pela diminuição do volume pulmonar e da capacidade residual funcional (FRC). Por exemplo: síndrome do desconforto respiratório e pneumonia (ibidem). A doença pulmonar obstrutiva é caracterizada pelo aumento do volume pulmonar e da capacidade residual funcional, como por exemplo, na síndrome da aspiração meconial e displasia broncopulmonar (ibidem). A análise dos gases do sangue, gasometria arterial, também deve ser utilizada para identificar pacientes sujeitos à assistência respiratória. 7.3 Gasometria Arterial Desde o século passado é conhecida a existência de gases no sangue arterial, sendo a primeira medida dos níveis gasosos arteriais realizada no início do século XX por Joseph Barcroft. Inicialmente restringia-se a trabalhos experimentais, mas a partir da década de 50 com a evolução do conhecimento tecnológico, por meio dos avanços no desenvolvimento dos eletrodos de pH (íon hidrogênio), pO2 (Pressão Parcial de Oxigênio) e pCO2 (Pressão Parcial do Dióxido de Carbono), os medidores de gases do sangue foram desenvolvendo-se, sendo nos dias atuais possível conseguir uma análise gasométrica em poucos minutos (CARVALHO et al, 1993). 79 A gasometria arterial constitui-se no exame laboratorial de maior importância no acompanhamento de pacientes submetidos à assistência respiratória, que quando aliada aos dados clínicos indicará a maneira mais adequada de realizar o suporte ventilatório. A gasometria é um exame de sangue arterial que proporciona a análise dos gases arteriais, dosando por exemplo, o pH do sangue, as pressões parciais de O2 e CO2 , HCO3, CO2 total, saturação de O2 e Basic Excess (BE) (ibidem). De acordo com a análise dos resultados da gasometria arterial se realizam alterações nos parâmetros da ventilação mecânica, obedecendo a um raciocínio dinâmico e sendo complementado pelo estado clínico do paciente e a fisiopatologia da doença básica, procurando-se manter os valores dos gases sangüíneos os mais próximos possíveis dos padrões fisiológicos normais (ibidem). 7.4 Distúrbios Respiratórios em Neonatos Os problemas respiratórios constituem-se em importante causa de mortalidade e morbidade no recém-nascido (PIVA et al, 1998). Os transtornos respiratórios do recém-nascido podem ser classificados em diferentes tipos de problemas. Porém, aqui serão abordados apenas os distúrbios respiratórios que constarão no trabalho, os quais são: Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido; Síndrome da Aspiração de Mecônio; Apnéia Neonatal e Displasia Broncopulmonar. A Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDR), é a principal afecção pulmonar no período neonatal, caracterizada pela insuficiência respiratória progressiva. Apesar dos casos fatais terem diminuído nos últimos anos, a SDR continua sendo uma das maiores causas de mortalidade precoce. A SDR é resultante da combinação de imaturidade anatômica, diminuição da quantidade de surfactante ativo, presença de PCA (Persistência do Canal Arterial) e aumento do líquido intersticial e pulmonar (CARVALHO et al, 1993). 80 A Síndrome da Aspiração de Mecônio (SAM) é uma complicação respiratória relacionada com a asfixia perinatal, sendo uma das mais freqüentes. Constitui-se na aspiração de líquido amniótico com mecônio nas primeiras incursões respiratórias (PIVA et al, 1998). A Apnéia Neonatal é um problema respiratório condicionado pela prematuridade e adaptação neonatal, sendo uma ausência de fluxo aéreo durante um período, de pelo menos 20 segundos, ou menor, se acompanhado de bradicardia e/ou cianose. Esse distúrbio respiratório compromete especialmente o recém-nascido prematuro, apresentando-se em aproximadamente 50% dos menores de 32 semanas de idade gestacional (PIVA et al, 1998). A Displasia Broncopulmonar (DBP) é caracterizada por alterações crônicas da mecânica respiratória em crianças que foram submetidas à ventilação mecânica e oxigenoterapia no período neonatal. A DBP reflete um comprometimento grave na morfologia pulmonar (PIVA et al, 1998). O sistema SARE, foi desenvolvido baseando-se no modelo Inter 3 de respirador neonatal e pediátrico. Os dados referentes a gasometria arterial são uma das entradas do sistema, já que as alterações realizadas no ventilador mecânico dependem diretamente da análise dos gases do sangue. No SARE, se trabalha apenas com afecções respiratórias, ou seja, Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido; Síndrome da Aspiração de Mecônio; Apnéia Neonatal e Displasia Broncopulmonar, as quais foram abordadas anteriormente. CAPÍTULO 8 DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DIFUSO DE CONTROLE DA ASSISTÊNCIA RESPIRATÓRIA EM NEONATOS A pesquisa realizada consistiu no estudo da abordagem de conjuntos difusos em sistemas inteligentes, desenvolvendo-se uma aplicação para a área médica, que tem como domínio principal a assistência respiratória em neonatos. O protótipo do sistema difuso de controle da assistência respiratória, denominado de SARE, não é um indicador para a submissão de um paciente à ventilação mecânica, mas sim um sistema capaz de auxiliar o médico intensivista pediátrico na manutenção e monitorização de recémnascidos quando acometidos de falhas respiratórias. O SARE foi desenvolvido no ambiente de programação Delphi 5.0, sendo as etapas referentes ao raciocínio difuso, como fuzificação, avaliação das regras e defuzificação implementadas (Figura 18). Entradas Crisp Funções de Pertinência Fuzificação de Entrada Entradas Fuzzy Regras Avaliação das Regras Saídas Fuzzy Funções de Pertinência Defuzificação de Saída Saídas Crisp Figura 18 - Etapas da implementação de um sistema fuzzy 82 O desenvolvimento do SARE compreendeu as etapas de metodológicas de aquisição do conhecimento; modelagem do problema; desenvolvimento e avaliação do sistema, as quais serão abordadas a seguir. 8.1 Aquisição do Conhecimento O processo de aquisição do conhecimento foi realizado por meio de entrevistas com o especialista do domínio de aplicação, o Médico Pediatra Edson Carvalho de Souza. O conhecimento adquirido consiste nas informações acerca da gasometria arterial e das alterações de parâmetros do ventilador mecânico, bem como a definição das variáveis que seriam utilizadas e das regras SE-ENTÃO (foram determinadas nove regras pelo especialista – Anexo 1). Nesta etapa, conseguiu-se compreender o raciocínio seguido pelo especialista ao realizar ajustes no ventilador mecânico. As variáveis definidas como entrada do sistema são relativas a gasometria arterial que compreende o pO2 (Pressão Parcial de Oxigênio) e pCO2 (Pressão Parcial do Dióxido de Carbono). A inferência do sistema inicia-se sobre essas variáveis e realizase análise dos dados para determinar os parâmetros corretos a serem alterados no ventilador mecânico. As variáveis de saída definidas englobam os parâmetros do ventilador mecânico, como a Pressão Inspiratória (PIP), Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP), Tempo Inspiratório (TI), Tempo Expiratório (TE), Freqüência Respiratória (FR), Relação Inspiratória/Expiratória (Relação I/E) e Fração de O2 Inspirado (FiO2). Após a etapa de aquisição do conhecimento, selecionou-se a técnica de inteligência artificial mais adequada para a representação do conhecimento, no caso do SARE, utilizou-se a abordagem de conjuntos difusos, já que ela permite a modelagem e tratamento da imprecisão de forma adequada. 83 8.2 Modelagem Difusa do Problema Esta etapa consistiu na modelagem difusa do problema, no que se refere aos dados coletados com o especialista, para formar a base de conhecimento. A modelagem difusa do sistema SARE englobou as etapas referentes ao desenvolvimento de sistemas fuzzy, realizando-se a fuzificação das variáveis, inferência fuzzy e defuzificação. 8.2.1 Fuzificação das Variáveis A fuzificação das variáveis compreendeu a transformação das entradas crisp em entradas fuzzy, para isso calculou-se as funções de pertinência de entrada. No caso do SARE, as funções de pertinência foram calculadas por meio da função S, porque a sua forma não linear possibilita que seja assumido um espectro de valores com grau de pertinência 1, e não apenas um valor, podendo assim, minimizar as inconsistências e definir as funções de pertinência de uma forma mais aproximada do raciocínio difuso, já que mudanças abruptas de conjuntos são evitadas. A função S é definida por: S (x; α; β; γ) = 0 para x < α 2 . ((x – α)/(γ – α))2 para α ≤ x ≤ β 1 – 2 (( x – γ)/(γ – α))2 para β < x ≤ γ 1 para x > γ 84 Onde: α; β; γ são parâmetros que podem ser ajustados para adequar os dados de pertinência desejados permitindo que a base de conhecimento seja adaptada a interpretação de um outro especialista. Deve-se saber que: • α é o ponto cujo grau de pertinência é 0.0 • β é o ponto cujo grau de pertinência é 0.5 • γ é o ponto cujo grau de pertinência é 1.0 A seguir, tem-se o cálculo das funções de pertinência para as variáveis de entrada crisp do sistema SARE. Na realização da fuzificação se deve ter claro quais são os limites das variáveis. 8.2.1.1 Funções de Pertinência da pO2 As funções de pertinência calculadas para a variável pO2 foram definidas dentro do limite que compreende de 0 a 110, sendo formada pelos conjuntos baixo, normal e alto. • BAIXO: α = 50; β = 45; γ = 40. S = 0 para x > α S = 0 para x > 50 S = 1 para x < γ S = 1 para x < 40 S = 1 – 2 ((x – γ)/(γ – α))2 para γ ≤ x ≤ β S = 1 – 2 ((x – 40)/(40 – 50))2 para 40 ≤ x ≤ 45 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 50)/(40 – 50)) 2 para 45 < x ≤ 50 85 • NORMAL: cálculo do lado esquerdo da curva α = 40; β = 45; γ = 50. S = 0 para x < α S = 0 para x < 40 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 40)/(50 – 40)) 2 para 40 ≤ x ≤ 45 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 50)/ (50 – 40)) 2 para 45 < x ≤ 50 S = 1 para γ < x ≤ a, onde a é o ponto γ do lado direito da curva S = 1 para 50 < x ≤ 70 • NORMAL: cálculo do lado direito da curva α = 90; β = 80; γ = 70. S = 0 para x > α S = 0 para x > 90 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 90)/(70 – 90)) 2 para 80 < x ≤ 90 S = 1 – 2 ((x – γ)/(γ – α))2 para γ ≤ x ≤ β S = 1 – 2((x – 70)/ (70 – 90)) 2 para 70 ≤ x ≤ 80 S = 1 para b < x < γ, onde b é o ponto γ do lado esquerdo da curva S = 1 para 50 < x < 70 • ALTO: α = 70; β = 80; γ = 90. S = 0 para x < α S = 0 para x < 70 86 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 70)/(90 – 70)) 2 para 70 ≤ x ≤ 80 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 90)/ (90 – 70)) 2 para 80 < x ≤ 90 S = 1 para x > γ S = 1 para x > 90 Mediante a aplicação destas definições da função S, realiza-se os cálculos para descobrir qual o grau de pertinência de uma determinada entrada crisp. Por exemplo, quando pO2 é 42 mmHg, calcula-se o grau de pertinência para este valor pertencer aos três conjuntos fuzzy: baixo, normal e alto. Após a realização dos cálculos, para os três conjuntos difusos da variável pO2, tem-se as curvas que podem ser visualizadas no Gráfico 1. Gráfico 1 - Funções de pertinência da pO2 PO2 - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 BAIXO NORMAL ALTO 106 99 92 85 78 71 64 57 50 43 36 29 22 15 8 1 0 87 8.2.1.2 Funções de Pertinência da pCO2 As funções de pertinência calculadas para a variável pCO2 foram definidas dentro do limite que compreende de 0 a 100, sendo formada pelos conjuntos baixo, normal e alto (Gráfico 2). • BAIXO: α = 35; β = 27,5; γ = 20. S = 0 para x > α S = 0 para x > 35 S = 1 para x < γ S = 1 para x < 20 S = 1 – 2 ((x – γ)/(γ – α))2 para γ ≤ x ≤ β S = 1 – 2 ((x – 20)/(20 – 35))2 para 20 ≤ x ≤ 27,5 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 35)/(20 – 35)) 2 para 27,5 < x ≤ 35 • NORMAL: cálculo do lado esquerdo da curva α = 20; β = 27,5; γ = 35. S = 0 para x < α S = 0 para x < 20 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 20)/(35 – 20)) 2 para 20 ≤ x ≤ 27,5 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 35)/ (35 – 20)) 2 para 27,5 < x ≤ 35 S = 1 para γ < x ≤ a, onde a é o ponto γ do lado direito da curva S = 1 para 35 < x ≤ 45 88 • NORMAL: cálculo do lado direito da curva α = 50; β = 47,5; γ = 45. S = 0 para x > α S = 0 para x > 50 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 50)/(45 – 50)) 2 para 47,5 < x ≤ 50 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para γ < x ≤ β S = 1 – 2((x – 45)/ (45 – 50)) 2 para 45 ≤ x ≤ 47,5 S = 1 para b < x < γ, onde b é o ponto γ do lado esquerdo da curva S = 1 para 35 < x < 45 • ALTO: α = 45; β = 47,5; γ = 50. S = 0 para x < α S = 0 para x < 45 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 45)/(50 – 45)) 2 para 45 ≤ x ≤ 47,5 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 50)/ (50 – 45)) 2 para 47,5 < x ≤ 50 S = 1 para x > γ S = 1 para x > 50 89 Gráfico 2 - Funções de pertinência do PCO2 PCO2 - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 BAIXO NORMAL 94 10 0 88 82 76 70 64 58 52 47 41 35 29 24 18 12 6 0 0 ALTO 8.2.2 Inferência Fuzzy Posterior a etapa de fuzificação, realizou-se a determinação das regras SEENTÃO, conforme processo de aquisição do conhecimento junto ao especialista. A base de regras pode ser observada no Anexo I. O antecedente da regra corresponde ao grau de pertinência calculado para a variável durante o processo de fuzificação. Na etapa de avaliação das regras que consiste em avaliar a relevância ou o grau de pertinência de cada antecedente da regra. A relevância da regra é calculada com base nos valores dos antecedentes desta regra. No desenvolvimento do SARE, realizou-se a avaliação das regras por meio do cálculo das t-normas, ou seja, da intersecção fuzzy já que os antecedentes das regras possuem o operador and (e). Dentre os vários tipos de t-normas existentes, decidiu-se realizar uma abordagem comparativa de dois tipos de t-normas, no caso, o mínimo e o produto algébrico. A escolha por eles deu-se em função de o mínimo ser considerado o tipo padrão e o produto algébrico ser o que mais se assemelha ao padrão. 90 A intersecção padrão consiste em i(a,b) = min(a,b), enquanto o produto algébrico é i(a,b) = a.b, onde a e b são os graus de pertinência dos antecedentes da regra originados do processo de fuzificação. Ao se realizar o estudo comparativo entre os dois tipos de t-normas, chegou-se a conclusão que o produto algébrico é o que mais se aproxima do raciocínio do especialista por ser mais restritivo, adaptando-se melhor ao problema modelado. Como se pode observar nos gráficos 3 e 4. • Antecendente regra 5: If pO2 alto and pCO2 normal Por exemplo, considerando-se as situações da tabela 2 quando pO2 = 79 tem grau de pertinência 0.4 ao conjunto alto e pCO2 = 27 tem grau de pertinência 0.43 ao conjunto normal, tem-se como resultado do mínimo, o grau de pertinência para a regra de 0.4, enquanto para o produto algébrico tem-se 0.18. Podendo-se observar isto no ponto 8 do gráfico 3. Tabela 2 - Cálculo da t-norma - regra 5 Situação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PO2 42 17 46 41 47,5 42 44 79 89 73 PCO2 27 32 22 55 34 48 47,5 27 23 29 uPO2 0 0 0 0 0 0 0 0,405 0,995 0,045 uPCO2 0,435556 0,92 0,035556 0 0,991111 0,32 0,5 0,435556 0,08 0,68 MÍNIMO 0 0 0 0 0 0 0 0,405 0,08 0,045 PRODUTO ALGÉBRICO 0 0 0 0 0 0 0 0,17640018 0,0796 0,0306 91 Gráfico 3 - Intersecção fuzzy - regra 5 REGRA 5 (t-norma) 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 1 2 3 4 MÍNIMO 5 6 7 8 9 10 PRODUTO ALGÉBRICO • Antecedente regra 8: If pO2 normal and pCO2 normal Considerando-se a tabela 3, realizou-se para a regra 8 da base de regras (Gráfico 4), processo semelhante ao realizado para o antecedente da regra 5, bem como para as demais regras. Considerando-se a tabela 3, realizou-se para a regra 8 da base de regras, bem como para as demais. Para melhor compreensão do processo de inferência fuzzy por meio do produto algébrico se tem, por exemplo, a regra 8: If pO2 normal and pCO2 normal then FiO2 manter and FR manter and TI manter and PEEP manter and PIP manter. Onde: pO2 = 79 µnormal = 0.59 pCO2 = 27 µnormal = 0.43 Produto algébrico = 0.59 * 0.43 = 0.25 Assim, o grau de pertinência das ações de saída da regra é 0.25. 92 Tabela 3 - Cálculo da t-norma – regra 8 Situação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PO2 42 17 46 41 47,5 42 44 79 89 73 PCO2 27 32 22 55 34 48 47,5 27 23 29 uPO2 0,08 0 0,68 0,02 0,875 0,08 0,32 0,595 0,05 0,955 MÍNIMO 0,08 0 0,035556 0 0,875 0,08 0,32 0,435556 0,05 0,68 uPCO2 0,435556 0,92 0,035556 0 0,991111 0,32 0,5 0,435556 0,08 0,68 PRODUTO ALGÉBRICO 0,034844448 0 0,024177808 0 0,867222213 0,0256 0,16 0,259155582 0,004 0,6494 Gráfico 4 - Intersecção fuzzy - regra 8 REGRA 8 (t-norma) 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1 2 3 4 MÍNIMO 5 6 7 8 9 10 PRODUTO ALGÉBRICO 8.2.3 Defuzificação O processo de defuzificação do sistema se iniciou com a definição das funções de pertinência de saída, também por meio da função S, para as variáveis de saída FiO2, TI, PIP, FR e PEEP. Posteriormente, realizou-se a defuzificação das variáveis por meio do Método do Centro de Gravidade, a fim de converter um conjunto difuso de saída do sistema em um valor crisp correspondente aos ajustes nos parâmetros do ventilador mecânico. A 93 defuzificação foi realizada por meio do centro de gravidade em função de ser bastante utilizado em pesquisas que envolvam raciocínio difuso, e também por gerar o ponto central para cada função de pertinência de saída, o que possibilita o cálculo da média ponderada destes pontos. 8.2.3.1 Funções de Pertinência da FiO2 As funções de pertinência calculadas para a variável FiO2 foram definidas dentro do limite que compreende de 0 a 100, sendo formada pelos conjuntos aumentar, manter e diminuir (Gráfico 5). • AUMENTAR: α = 80; β = 65; γ = 50. S = 0 para x > α S = 0 para x > 80 S = 1 para x < γ S = 1 para x < 50 S = 1 – 2 ((x – γ)/(γ – α))2 para γ ≤ x ≤ β S = 1 – 2 ((x – 50)/(50 – 80))2 para 50 ≤ x ≤ 65 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 80)/(50 – 80)) 2 para 65 < x ≤ 80 • MANTER: cálculo do lado esquerdo da curva α = 50; β = 65; γ = 80. S = 0 para x < α S = 0 para x < 50 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 50)/(80 – 50)) 2 para 50 ≤ x ≤ 65 94 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 80)/ (80 – 50)) 2 para 65 < x ≤ 80 S = 1 para γ < x ≤ a, onde a é o ponto γ do lado direito da curva S = 1 para 80 < x ≤ 90 • MANTER: cálculo do lado direito da curva α = 100; β = 95; γ = 90. S = 0 para x > α S = 0 para x > 100 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para β < x ≤ α S = 2 ((x – 100)/(90 – 100)) 2 para 95 < x ≤ 100 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para γ < x ≤ β S = 1 – 2((x – 90)/ (90 – 100)) 2 para 90 ≤ x ≤ 95 S = 1 para b < x < γ, onde b é o ponto γ do lado esquerdo da curva S = 1 para 80 < x < 90 • DIMINUIR: α = 90; β = 95; γ = 100. S = 0 para x < α S = 0 para x < 90 S = 2 ((x – α)/(γ – α)) 2 para α ≤ x ≤ β S = 2 ((x – 90)/(100 – 90)) 2 para 90 ≤ x ≤ 95 S = 1 – 2((x – γ)/ (γ – α)) 2 para β < x ≤ γ S = 1 – 2((x – 100)/ (100 – 90)) 2 para 95 < x ≤ 100 S = 1 para x > γ S = 1 para x > 100 95 Gráfico 5 - Funções de pertinência da FiO2 FiO2 - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 AUMENTAR MANTER 97 91 85 79 73 67 61 55 49 43 37 31 25 19 13 7 1 0 DIMINUIR Durante todo o processo de definição das funções de pertinência de saída o raciocínio foi semelhante, portanto, a seguir, pode-se visualizar as curvas das funções de pertinência das demais variáveis, como do TI (Gráfico 6); PIP (Gráfico 7); FR (Gráfico 8) e PEEP (Gráfico 9). Gráfico 6 - Funções de pertinência do TI TI - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 AUMENTAR MANTER DIMINUIR 2, 8 2, 6 2, 4 2, 2 2, 0 1, 8 1, 6 1, 4 1, 2 1, 0 0, 8 0, 6 0, 4 0, 25 0, 1 0 96 Gráfico 7 - Funções de pertinência da PIP PIP - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 AUMENTAR MANTER 69 65 61 57 53 49 45 41 37 33 29 25 21 17 9 13 5 1 0 DIMINUIR Gráfico 8 - Funções de pertinência da FR FR - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 AUMENTAR MANTER 97 91 85 79 73 67 61 55 49 43 37 31 25 19 13 7 1 0 DIMINUIR Gráfico 9 - Funções de pertinência da PEEP PEEP - Funções de Pertinência 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 1 1,5 2 3 AUMENTAR 4 5 6 MANTER 7 8 8,5 DIMINUIR 9 10 97 8.2.3.2 Defuzificação pelo Método do Centro de Gravidade A realização da defuzificação ocorre somente após se ter calculado as funções de pertinência de saída e as t-normas, pois serão necessárias para a realização do processo. A seguir, tem-se um exemplo de defuzificação realizada. No caso, por exemplo, de pO2=42 e pCO2=27, as regras com grau de diferente de zero, disparadas são: Regra 1: µregra1 = 0,5192885 (pela t-norma produto algébrico) If pO2 baixo and pCO2 baixo then FiO2 aumentar and FR diminuir and TI aumentar and PEEP aumentar and PIP aumentar. Regra 2: µregra2= 0,40071152 (pela t-norma produto algébrico) If pO2 baixo and pCO2 normal then FiO2 aumentar and FR manter and TI aumentar and PEEP aumentar and PIP aumentar. Regra 7: µregra7= 0,04515552 (pela t-norma produto algébrico) If pO2 normal and pCO2 baixo then FiO2 manter and FR diminuir and TI manter and PEEP manter and PIP diminuir. pertinência 98 Regra 8: µregra8= 0,034844448 (pela t-norma produto algébrico) If pO2 normal and pCO2 normal then FiO2 manter and FR manter and TI manter and PEEP manter and PIP manter. Dessas quatro regras, a defuzificação ocorre com as de maior grau de pertinência, ou seja, regra 1 e regra 7. A saída fuzzy é determinada pela comparação de todas as regras que especificam o mesmo conseqüente, ou seja, ação de saída. Tendo-se que calcular: Para a regra 1: • O valor do ponto x, quando µregra1=0,5192885, por meio da função (função S) aplicada na fuzificação do conjunto de saída, por exemplo PEEP (conjunto aumentar). S = 1 – 2 . ((x – γ )/(γ – x))2 para γ ≤ x ≤ β S = 1 – 2 . ((x – 0)/(0 – 3))2 para 0 ≤ x ≤ 1,5 0,51928885 = 1 – 2 . (x / -3) 2 0,51928885 . 9 = 9 – 2x2 2x2 – 4,3264035 = 0 x= ± 2,16320175 x ≅ 1,4707827 99 • Área da figura formada: Aquadrado = a . b Atriângulo = (a .b)/2 Aquadrado = 1,4707827 . 0,5192885 Atriângulo= (1,5292173 . 0,5192885)/2 Aquadrado ≅ 0,763760542 Atriângulo ≅ 0,397052479 A1 = Aquadrado + Atriângulo Aregra1 ≅ 1,160813021 • Centro de gravidade: CGquadrado = x/2 CGtriângulo = x/3 CGquadrado = 1,4707827/2 CGtriângulo = 1,5292173/3 CGquadrado ≅ 0,73539135 CGtriângulo ≅ 0,5097391 + 1,4707827 CGtriângulo ≅ 1,9805218 CG = ((Aquadrado . CGquadrado) + (Atriângulo . CGtriângulo))/( Aquadrado + Atriângulo) CG r1 ≅ 1,161284343 Para a regra 7: • O valor dos pontos x1 e x2, quando µregra7 = 0,04515552, por meio da função (função S) aplicada na fuzificação do conjunto de saída, como na regra 1, PEEP (conjunto manter). - lado esquerdo da função = x1 S = 2 . ((x – α)/(γ – α))2 para α < x ≤ β S = 2. ((x –0)/(3 – 0)) 2 para 0 ≤ x ≤ 1,5 0,04515552 = 2 . (x/3) 2 2x2 – 0,40639968 = 0 x ≅ 0,4507769 ≅ x1 100 - lado direito da função = x2 S = 2 . ((x – α)/(γ – α))2 para β < x ≤ α S = 2. ((x – 10)/(7 – 10)) 2 para 8,5 < x ≤ 10 0,04515552 = 2 . ((x – 10)/-3) 2 0,04515552 = 2 . (x2 – 2 . x . 10 + (10)2)/9 0,04515552 = 2 . (x2 – 20x +100)/9 2x2 – 40x – 199,59360032 = 0 x’ = (40 + ((-40)2– 4 . 2 . 199,59360032))/2 . 2 x’ ≅ 10,4507771 x’’ = (40 – ((-40)2– 4 . 2 . 199,59360032))/2 . 2 x’’ ≅ 9,549222893 ≅ x2 O valor de x2 é 9, 55 pois está dentro do limite definido para o conjunto manter (lado direito da curva) quando o µregra ≤ 0.5 , ou seja, para 8,5 < x ≤ 10. • Área da figura formada: Ar7 = (h . (b1 + b2))/2 b2 = x2 – x1 Ar7 = (0,04515552 . (10 + 9.5040674))/2 b2 ≅ 9,5040674 Ar7 ≅ 0,440358153 • Centro de gravidade: CG = x/2 CG = 10/2 CG r7 ≅ 5 101 Finalizando-se o processo de defuzificação pelo método do centro de gravidade tem-se: µregra1= 0,5192885 Aregra1 ≅ 1,160813021 CG regra1 ≅ 1,161284343 µregra7= 0,04515552 Aregra7 ≅ 0,440358153 CG regra7 ≅ 5 Média Ponderada = ((Ar1 . CG r1) + (Ar7 . CG r7))/(Ar1 + Ar7) Média Ponderada ≅ 2,217017648 Média Ponderada ≅ 2,22 De forma similar, o processo de defuzificação das demais variáveis de saída é semelhante ao desenvolvido para o PEEP. 8.3 Desenvolvimento do SARE O desenvolvimento do SARE consistiu na implementação das etapas referentes ao desenvolvimento de sistemas especialistas difusos, calculadas anteriormente, para que fosse possível implementar no ambiente de programação Delphi 5.0, utilizando-se as variáveis consideradas e a base de conhecimento onde estão as regras SE-ENTÃO determinadas pelo especialista. O SARE é voltado para atender às necessidades dos médicos intensivistas pediátricos, como também dos médicos residentes. Ele armazena informações do paciente como os dados de identificação (nome, data de nascimento, nome da mãe e número do prontuário), os antropométricos (peso, estatura) e a afecção respiratória como também os parâmetros iniciais da ventilação e as alterações realizadas. Podendose imprimir essas informações para serem anexadas ao prontuário da criança. O desenvolvimento da interface do sistema foi realizada de forma a possibilitar um acesso fácil as informações e apresentando os dados necessários para o processo de controle de um ventilador mecânico. 102 A seguir, tem-se algumas telas do sistema SARE. A figura 19 mostra a tela com os dados de identificação como nome da criança e da mãe, número do prontuário, data de nascimento; dados antropométricos (peso e estatura) e a afecção respiratória que a criança apresenta. Figura 19 - Tela dos dados pessoais 103 A tela referente a gasometria arterial solicita os valores da pO2, pCO2 e pH, demonstra os respectivos gráficos, referentes a fuzificação (Figura 20). Figura 20 - Tela do SARE de informações sobre a gasometria Na figura 21, tem-se que dar entrada aos atuais valores que estão presentes no ventilador mecânico, ou seja, aqueles valores com os quais se iniciou a assistência respiratória. Nesta tela, também se geram os gráficos de cada um dos parâmetros. Os parâmetros do ventilador mecânico, considerados no desenvolvimento do SARE foram: Pressão Inspiratória (PIP), Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP), Tempo Inspiratório (TI), Tempo Expiratório (TE), Freqüência Respiratória (FR), Relação Inspiratória/Expiratória (Relação I/E) e Fração de O2 Inspirado (FiO2). 104 Figura 21 - Valores atuais no ventilador mecânico Finalmente, tem-se a tela com as sugestões de alterações nos parâmetros do ventilador mecânico, bem como a presença do botão raciocínio seguido, que acessa o módulo de explicação que mostra as diretrizes de raciocínio do sistema (Figura 22). O SARE foi desenvolvido no ambiente de programação Delphi, para trabalhar em plataforma Windows, disponibilizadas em PC’s, tendo como requisitos mínimos necessários um microcomputador Pentium 100 MHz, com 64 MB memória RAM. 105 Figura 22 - Tela de sugestões das alterações no ventilador mecânico 8.4 Avaliação do SARE A avaliação qualitativa do SARE foi realizada por uma médica pediatra neonatologista e pelo próprio especialista. Nas situações clínicas experimentadas o sistema ofereceu, satisfatoriamente, as alterações de parâmetros a serem realizadas no ventilador mecânico. O SARE trabalha com uma base de conhecimento adequada, devendo porém serem realizados maiores refinamentos dessa base. CAPÍTULO 9 CONCLUSÕES Nesta pesquisa foi desenvolvido o protótipo de um sistema de controle dos parâmetros da assistência respiratória em neonatos com base nos valores da gasometria arterial, utilizando-se da abordagem de conjuntos difusos, a fim de auxiliar os profissionais de saúde. O SARE é um sistema computacional para auxiliar médicos pediatras no controle dos parâmetros do ventilador mecânico, constituindo-se num meio de contribuir com a terapia intensiva em pediatria. O SARE pode futuramente constituir-se num aliado aos médicos pediatras intensivistas na execução rotineira da tarefa de alteração nos parâmetros do ventilador, podendo vir a ser usado ininterruptamente no apoio ao cuidado da criança internada, desde que sejam realizados maiores refinamentos na base de conhecimento. O SARE foi desenvolvido no ambiente de programação Delphi 5.0, para trabalhar em plataforma Windows, disponibilizadas em PC’s. O sistema engloba dados de identificação do paciente, da gasometria arterial e dos parâmetros atuais do ventilador mecânico, retornando como saída os parâmetros do ventilador mecânico que devem ser alterados. Esta pesquisa mostra um caminho a ser seguido na área de inteligência artificial médica, abordagem difusa, que pode trazer muitos benefícios tanto para os médicos como para os pacientes, contribuindo-se para um maior aprofundamento do conhecimento no processo de diagnóstico e tratamento de doenças, bem como para controle de processos médicos. Na Medicina é comum o médico utilizar classificações relativas a variáveis clínicas, onde há um ponto de corte distinguindo duas classes adjacentes, ou ainda utilizar variáveis lingüísticas no raciocínio clínico. Na aplicação realizada, observa-se a 107 presença de variáveis lingüísticas tais como: em relação ao pO2, pode-se classificá-lo em baixo, normal e alto. Para realizar o ajuste nos parâmetros do ventilador mecânico tanto os dados de gasometria quanto o próprio ajuste existe a presença de expressões lingüísticas em todas as variáveis utilizadas no raciocínio clínico. Em domínios similares ao aqui trabalhado, recomenda-se a aplicação de conjuntos difusos para modelar a imprecisão presente. O SARE como um sistema difuso voltado à área da saúde, constitui-se num instrumento que demonstra a aplicabilidade das técnicas da inteligência artificial, neste caso dos conjuntos fuzzy, que possibilitam uma adequada modelagem do raciocínio médico com presença de imprecisão. 9.1 Trabalhos Futuros Como trabalhos futuros na área de conjuntos difusos seria interessante ampliar o estudo comparativo entre os diferentes tipos de t-normas, como também explorar outros métodos de defuzificação. Além disso, pode-se realizar a validação quantitativa do protótipo. BIBLIOGRAFIA BARRETO, J. A Topological Model for Qualitative Time. Proceedings: IASTED Artificial Intelligence Application and Neural Networks, Zurich (Switzerland), p. 25-27, june, 1990. BARRETO, J. Inteligência Artificial. Florianópolis: UFSC, 1997. BASTOS, R. C. 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APÊNDICE I BASE DE REGRAS DO SARE IF PO2 BAIXO AND PCO2 BAIXO THEN FIO2 AUMENTAR AND FR DIMINUIR AND TI AUMENTAR AND PEEP AUMENTAR AND PIP AUMENTAR IF PO2 BAIXO AND PCO2 NORMAL THEN FIO2 AUMENTAR AND FR MANTER AND TI AUMENTAR AND PEEP AUMENTAR AND PIP AUMENTAR IF PO2 BAIXO AND PCO2 ALTO THEN FIO2 AUMENTAR AND FR AUMENTAR AND TI AUMENTAR AND PEEP AUMENTAR AND PIP AUMENTAR IF PO2 ALTO AND PCO2 BAIXO THEN FIO2 DIMINUIR AND FR DIMINUIR AND TI DIMINUIR AND PEEP DIMINUIR AND PIP DIMINUIR IF PO2 ALTO AND PCO2 NORMAL THEN FIO2 DIMINUIR AND FR MANTER AND TI DIMINUIR AND PEEP DIMINUIR AND PIP DIMINUIR IF PO2 ALTO AND PCO2 ALTO THEN FIO2 DIMINUIR AND FR AUMENTAR AND TI DIMINUIR AND PEEP DIMINUIR AND PIP MANTER IF PO2 NORMAL AND PCO2 BAIXO THEN FIO2 MANTER AND FR DIMINUIR AND TI MANTER AND PEEP MANTER AND PIP DIMINUIR IF PO2 NORMAL AND PCO2 NORMAL THEN FIO2 MANTER AND FR MANTER AND TI MANTER AND PEEP MANTER AND PIP MANTER IF PO2 NORMAL AND PCO2 ALTO THEN FIO2 MANTER AND FR AUMENTAR AND TI MANTER AND PEEP MANTER AND PIP AUMENTAR