Brasília, segunda-feira, 1 de setembro de 2014 JORNAL DE BRASÍLIA Cidades. 3 FOTOS: RAFAELA FELICCIANO JARDINS MANGUEIRAL Venda ilegal de imóveis Sedhab afirma que já foram identificados 21 casos suspeitos até o momento Ludmila Rocha [email protected] Apesar de terem concordado com todas as regras para a aquisição de um imóvel pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal – entre elas a impossibilidade de transferência do domínio, posse ou qualquer outro direito de uso da propriedade pelo período de dez anos –, muitos moradores do Jardins Mangueiral não têm cumprido essa determinação. Desde o ano passado, a Secretaria de Habitação (Sedhab) já identificou 21 possíveis casos de comercialização indevida de imóveis. Desde o ano passado, a irregularidade foi comprovada em três das suspeitas. É o que afirma o presidente da Companhia Habitacional do Distrito Federal (Codhab), Rafael Carlos Oliveira. De acordo com ele, os outros 18 seguem em fase de averiguação. Nas proximidades do condomínio Jardins Mangueiral, em São Sebastião, não é fácil encontrar cartazes sobre o aluguel e venda de imóveis como em outras regiões. Isso porque, cientes das ações de fiscalização da Codhab - e mais tarde terem sido informados de casos de quebra de contrato em função da comercialização -, muitos proprietários têm evitado se expor dessa maneira. NA PRÁTICA É DIFERENTE Moradores e comerciantes do condomínio relataram à reportagem que a prática é mais comum do que pode parecer à primeira vista. A cabeleireira Rosa Maria, de 42 anos, afirmou que há muito tempo não vê placas e cartazes oferecendo imóveis no Mangueiral. “A publicidade nas ruas diminuiu bastante”, destacou Rosa. Mas ela frisa que a divulgação por meio do tradicional boca a boca segue firme e forte. “Ficamos sabendo porque a notícia de que há quem negocie os imóveis indevidamente se espalha ”, comenta. Denúncia QUEBRA DE CONTRATO » Após a identificação da comercialização ilícita é aberto um processo administrativo. Durante o processo é assegurado o direito de ampla defesa ao beneficiário. » Se ficar constatado que a conduta do beneficiário foi incorreta ocorre a quebra do contrato e a Codhab solicita então a retomada do imóvel. » Se ficar comprovado que o proprietário agiu de má-fé, a Codhab pode abrir processo criminal contra o ato; Caso sejam considerados culpados pela Justiça, os proprietários podem ter os contratos desfeitos e responder criminalmente pelo ato fraudulento. Para fazer uma denúncia anônima sobre anúncio de venda e aluguel de imóveis pertencentes a programas habitacionais, basta enviar um e-mail para [email protected] ou entrar em contato com a ouvidoria do GDF pelo telefone 156. De acordo com o Art. 171 o crime de estelionato é obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro. Sujeito a pena de reclusão, de um a cinco anos, e multa. Variedade de anúncios Anúncios de imóveis no Mangueiral são encontrados em sites de compra e venda de produtos, como o OLX. No último dia 24 de julho, um homem, que se identificou como Sílvio, anunciou um apartamento de três quartos e 68m² por superfaturados R$ 275 mil. O valor inicial para aquisição pelo programa é de R$ 167 mil com o habite-se. Ao entrar em contato com ele, o JBr. descobriu que o local já estaria quitado, mesmo vigorando o prazo dizaí O que você acha sobre conseguir um benefício do governo e alugar ou vender o imóvel posteriormente? Darley Dias, 27 anos, estudante, Acho errado porque tira a oportunidade de quem realmente precisa de ajuda governamental. Lucinete Freitas, 44 anos, estudante, Se a pessoa está pagando tem o direito de fazer o que bem entende com o seu imóvel. Nada aqui foi dado. Bruno Quaranta, 35 anos, empresário Se os donos estão arcando com os custos do imóvel, não vejo problema nenhum em fazerem o uso que quiserem. Rosemary de Fátima, 54 anos, corretora Se estão vendendo é porque não precisam. Com tantas pessoas lutando para conseguir um imóvel. de 10 anos em que o aluguel e a venda são proibidos. “Meu apartamento já está pago. Primeiro fazemos um contrato de gaveta e depois providenciamos a transferência”, garantiu o rapaz. Segundo Rafael Carlos Oliveira, presidente da Codhab, o problema tem se restringido a esse projeto habitacional, o que fez com que o órgão buscasse formas para combater a prática. “Verificamos os anúncios em jornais e na internet para identificar possíveis infratores. Também possuímos linhas telefônicas para entrar em contato com proprietários ou corretores sem que eles percebam que é a Codhab”, afirma. Oliveira conta que já existe até um sistema dentro da companhia, capaz de identificar palavras-chaves na internet que possam fazer referência ao condomínio. “Tem ofertas de imobiliárias. Por isso, solicitamos ao Conselho Regional de Corretores de Imóveis do DF (Creci) que oriente os seus profissionais quanto à impossibilidade de comercialização”, explica.