1 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL ELIANA ROSA DA FONSECA A INTERAÇÃO ENTRE O BIBLIOTECÁRIO E O USUÁRIO NO AMBIENTE DE UMA BIBLIOTECA HOSPITALAR UNIVERSITÁRIA: UM ESTUDO SOBRE LITERACIA EM INFORMAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE Niterói 2014 2 ELIANA ROSA DA FONSECA A INTERAÇÃO ENTRE O BIBLIOTECÁRIO E O USUÁRIO NO AMBIENTE DE UMA BIBLIOTECA HOSPITALAR UNIVERSITÁRIA: UM ESTUDO SOBRE LITERACIA EM INFORMAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense. Orientadora: Profª Drª Sandra Lúcia Rebel Gomes. Linha de Pesquisa: Fluxos e Mediações Sócio-Técnicas da Informação. Niterói 2014 3 4 ELIANA ROSA DA FONSECA A INTERAÇÃO ENTRE O BIBLIOTECÁRIO E O USUÁRIO NO AMBIENTE DE UMA BIBLIOTECA HOSPITALAR UNIVERSITÁRIA: UM ESTUDO SOBRE LITERACIA EM INFORMAÇÃO NA ÁREA DA SAÚDE Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense. Aprovado em: 11 de junho de 2014. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Lúcia Rebel Gomes – Orientadora Universidade Federal Fluminense – UFF ________________________________________________________ Profa. Dra. Cícera Henrique da Silva – Membro titular Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ ________________________________________________________ Profa. Dra. Rosa Inês de Novaes Cordeiro – Membro titular Universidade Federal Fluminense – UFF ________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Henrique Marcondes de Almeida – Membro titular Universidade Federal Fluminense – UFF ________________________________________________________ Profa. Dra. Regina de Barros Cianconi - Suplente interno Universidade Federal Fluminense - UFF ________________________________________________________ Profa. Dra. Simone da Rocha Weitzel - Suplente externo Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO 5 DEDICATÓRIA À memória do meu pai Jorge Boaventura da Fonseca, um grande homem, cuja honestidade e sinceridade sempre me servirão de exemplo. À minha mãe especialmente, pois deixou o conforto do lar para trabalhar e garantir a formação de suas filhas. É um grande orgulho, nada abala sua força e perseverança. Aos meus amores José Lucílio e Ana Clara Rosa pelo apoio e pela força que me permitiu continuar tal empreitada. 6 AGRADECIMENTOS Ao meu Deus e ao nosso senhor Jesus Cristo. À professora Sandra Lúcia Rebel Gomes por aceitar ser minha orientadora, e tornar-se mais do que isso, uma referência como docente, orientadora atenciosa, acolhedora e amiga atenta. Além de ser um exemplo de força e perseverança. Aos professores que aceitaram participar como membros da banca de qualificação e defesa Cícera Henrique da Silva, Rosa Inês de Novaes Cordeiro, Carlos Henrique Marcondes de Almeida e aos suplentes, Regina de Barros Cianconi e Simone da Rocha Weitzel. Agradeço as queridas amigas da UERJ, Neusa Cardim e Simone Dib, que fazem parte da minha formação profissional. Obrigada por me incentivar para tentar e conseguir aprovação no mestrado. As amigas que especial atenção e apoio me deram nesta empreitada - Patrícia Maria, Maria Teresa Fonseca, Esther Rocha, Marilda Rocha, Vanessa Mendonça e Maria Helena Rodrigues. E pela colaboração no trabalho as amigas Vanessa Mendonça, Maria Teresa Fonseca e Esther Rocha. Ao Instituto Nacional de Câncer e pelas oportunidades que me deram Maria Alice Sigaud, Sheila Pereira, Eliana Claudia de Otero Ribeiro, Gulnar Azevedo e Silva Mendonça Claudio Noronha, Tânia Chalhub, Silvia Daulston, Silvia Costa. Pela amizade e companheirismo dos amigos Chester Robson, Kelly Cristina, Amanda, Fátima, Beatriz, Edvaldo, Kátia, Gilberto (in memorian), Tadeu Cherif, Tais Facina e tantos outros... Aos colegas da biblioteca do HUCFF, ao coordenador Eduardo Fraga, à chefe Regina Gondim que tanto me apoiou para realizar este trabalho e aos usuários da biblioteca por me inspirarem na composição deste trabalho. Aos professores do PPGCI/UFF pela oportunidade de compartilhar seus conhecimentos. À minha família – marido - José Lucílio, filha - Ana Clara Rosa Costa pela presença e por tudo mais que vivemos. Mãe - Nilza Rosa da Fonseca e irmãs - Valéria e Cátia Rosa. Especialmente à minha sobrinha Sofia (minha massagista), ao sobrinho João Miguel e aos queridos afilhados Ricardo Luiz, Maria Eduarda e Millena. 7 Quem me leva os meus fantasmas Aquele era o tempo Em que as sombras se abriam, Em que homens negavam O que outros erguiam. E eu bebia da vida em goles pequenos, Tropeçava no riso, abraçava venenos. De costas voltadas não se vê o futuro Nem o rumo da bala Nem a falha no muro. E alguém me gritava Com voz de profeta Que o caminho se faz Entre o alvo e a seta. De que serve ter o mapa Se o fim está traçado, De que serve a terra à vista Se o barco está parado, De que serve ter a chave Se a porta está aberta, De que servem as palavras Se a casa está deserta? Quem me leva os meus fantasmas, Quem me salva desta espada, Quem me diz onde é a estrada? De Pedro Abrunhosa (música) 8 RESUMO FONSECA, Eliana Rosa da. A Interação entre o bibliotecário e o usuário no ambiente de uma biblioteca hospitalar universitária: um estudo sobre literacia em informação na área da saúde. 2014. 135f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Programa de Pósgraduação em Ciência da Informação, Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2014. Aborda-se o tema da literacia em informação na área de Saúde, estudado no ambiente da biblioteca setorial especializada vinculada ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ. Estas duas unidades – biblioteca e hospital – consistiram no campo empírico da pesquisa, cuja descrição abrangeu aspectos históricos que remontam às origens de ambas bem como contemplou a configuração que apresentam nos dias de hoje. Destacam-se como elementos importantes que integram o ambiente da biblioteca, os atores sociais – bibliotecário e usuário – os serviços ali prestados, as fontes de informação mais utilizadas sublinhando-se, por sua especificidade e importância, a revisão sistemática. Os operadores teóricos cujo exame implicou em pesquisa bibliográfica realizada em bases de dados brasileiras e internacionais das áreas das ciências da saúde, ciência da informação e algumas bases multidisciplinares encontram-se assim elencados: literacia em informação, interação, abrangendo, por sua vez necessidades de informação, mediação e serviço de referência. Os métodos adotados foram os da pesquisa documental e a observação participante, cujo emprego exigiu, no primeiro caso, a busca e a utilização de relatórios técnicos, formulários de consulta e outros materiais gerenciais produzidos pela biblioteca. No segundo caso, foram utilizadas as anotações feitas no diário de campo, criado para o registro de fatos observados durante a pesquisa ou lembrados e registrados no referido instrumento. Para demonstrar a complexidade inerente ao processo de obtenção de literacia por parte do usuário, conforme os objetivos da pesquisa, elegeram-se casos ilustrativos de diferentes demandas de informação, tomados como emblemáticos, pois implicam na compreensão e no atendimento dos requisitos inerentes às peculiaridades dos recursos informacionais utilizados para tal. O processo consiste em aprendizagem que é aqui concebida como obtenção de literacia em informação. Esta, uma vez alcançada, propiciará maior autonomia e o desenvolvimento de competências por parte do usuário para ver satisfeitas as suas necessidades de informação. Palavras-chave: Interação Informacional; Mediação da Informação; Necessidades de Informação; Literacia em informação; Competência em informação; Bibliotecas Hospitalares; Ciências da Saúde. 9 ABSTRACT FONSECA, Eliana Rosa da. The interaction between the user and the librarian in a university hospital library environment: a study of information literacy in health. 2014. 135f. Dissertation (Master's degree in Information Science) - Information Sciences Postgraduate Program, Fluminense Federal University. . Niterói - Brazil, 2014. This study approaches the topic of information literacy in the Health area, specifically at the environment of the sectoral specialized library linked to the Clementino Fraga Filho University Hospital from UFRJ. These two units – library and hospital – consisted in the empirical research field, whose description included historical aspects dating back to the origins of the configuration of both of them and how they work now a days. The library environment has important elements, such as social actors - librarian and user -, the provided services, the most used sources of information stressing “the systematic review” on its importance and specificity. The theoretical operators whose examination resulted in literature search have undertaken databases of Brazilian and international areas of health sciences, information science and some multidisciplinary databases are listed as well: information literacy, interaction, covering information needs, mediation and referral service. The methods adopted were the documentary research and participant observation, whose employment required in the first case the search and use of technical reports, inquiry forms and other materials produced by the library management. In the second case, the notes taken in the field diary were used, created to record facts observed during the survey or remembered and recorded on this instrument. To demonstrate the complexity inherent in the process of achieving literacy by the user, according to the research objectives, this work elected illustrations of different demands for information. Taken as emblematic cases, they imply in understanding and meeting the requirements inherent to the peculiarities of information resources used. The process consists of learning what is here meant as obtaining information literacy. This, once achieved, will lead to greater autonomy and skills development for the user to see fulfilled their information needs. Keywords: Information Interaction; Mediation of Information; Information Needs; Need Users; Information Literacy; Librarians; Libraries, Hospital; Health Sciences. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Infográfico sobre competência informacional: de 1974 a 1979 (1ª parte)........35 Figura 2 - Infográfico sobre competência informacional: de 1980 a 2001 (2ª parte)........36 Figura 3 - Infográfico sobre competência informacional: de 2003 a 2005 (3ª parte)........37 Figura 4 - Ciclo da comunicação da informação....................................................................... 49 Figura 5 - Modelo do processo de busca (ISP)............................................................................53 Figura 6 - Antigo prédio da Faculdade Medicina na Praia Vermelha..................................56 Figura 7 - Vista aérea do Conjunto de Ciências e Saúde na época de Implantação..........57 Figura 8 - Seqüência de imagens da implosão....................................................................................59 Figura 9 - Biblioteca do HUCFF – layout da inauguração..................................................................62 Figura 10 - Foto do ambiente atual da biblioteca (laboratório de informática e salão de consulta)...........................................................................................................63 Figura 11 - Página institucional da biblioteca do HUCFF. .......................................................74 Figura 12 - Classificação de bases de dados.......................................................................77 Figura 13 - Página principal de pesquisa do MESH...........................................................79 Figura 14 - Estrutura de apresentação dos termos MESH..................................................80 Figura 15 - Página de consulta do DECS............................................................................81 Figura 16 - Estrutura de apresentação dos termos DECS...................................................81 Figura 17 - Hierarquia do termo ‘information literacy’no DECS...................................... 81 Figura 18 - Campos de busca da LILACS e Pubmed.........................................................82 Figura 19 - Página da BVS..................................................................................................83 Figura 20 - Página da BVS Aleitamento Materno...............................................................84 11 Figura 21 - Página da BVS Instituto Evandro Chagas........................................................84 Figura 22 - Página do Portal de periódicos Capes...............................................................86 Figura 23 - Formulário de busca de bases de dados por área e subárea do conheciment...87 Figura 24 - Página do Portal Saúde Baseada em Evidências..............................................89 Figura 25 - Currículo Lattes................................................................................................90 Figura 26 - Menu para acesso à produção bibliográfica, técnica e artista do currículo lattes.................................................................................................................90 Figura 27 - Pirâmide – hierarquia das evidências...............................................................92 Figura 28 - Delimitação das cinco fases da elaboração de uma revisão sistemática...........93 Figura 29 - Esquema de elaboração da revisão sistemática................................................95 Figura 30 - Estratégias de buscas realizadas no Pubmed, registradas no histórico da base de dados..........................................................................................................108 Figura 31- Estratégia realizada na base de dados LILACS - 1ª estratégia...................... 108 Figura 32 - Estratégia realizada na base de dados LILACS - 2ª estratégia.......................109 Figura 33 - Estratégia realizada na base de dados SCOPUS.............................................109 Figura 34 - Estratégia realizada na base de dados SCOPUS com indicação de citação dos artigos.............................................................................................................109 Figura 35 - Solicitação pelo bibliotecário de artigo para o autor......................................110 Figura 36 - Resposta do autor para o bibliotecário com relação ao artigo........................110 Figura 37 - Ponto de acesso de assunto da ficha catalográfica.........................................111 12 LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS Gráfico 1 - Fluxo de usuários de 2010 a 2013....................................................................70 Gráfico 2 - Inscritos na Biblioteca......................................................................................70 Gráfico 3 - Consulta e Empréstimo.....................................................................................71 Gráfico 4 - Recuperação de artigos científicos...................................................................71 Gráfico 5 - Orientação e treinamentos no uso das bases de dados, portal etc................................72 Gráfico 6 - Outros serviços.................................................................................................73 Quadro 1 - Relação de produtos de informação..................................................................72 Quadro 2 - Síntese de conceitos, termos e descritores utilizados na busca (caso)............108 13 ABREVIATURAS E SIGLAS ACRL Association of College and Research Libraries AACR2 Código de Catalogação Anglo Americano ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ALA American Library Association BBE Biblioteconomia Baseada em Evidências CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CI Ciência da Informação EUA Estados Unidos da América HUCFF Hospital Universitário Clementino Fraga Filho IFLA International Federation of Library Associations INCA Instituto Nacional de Câncer MBE Medicina Baseada em Evidências OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento PBE Prática Baseada em Evidências TICs Tecnologias de Informação e Comunicação UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura WEB World Wide Web 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................15 2 MARCO TEÓRICO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS....................................26 2.1 Literacia em informação.........................................................................................29 2.2 Interação informacional no processo de literacia.................................................39 2.2.1 Necessidades da informação......................................................................................43 2.2.2 Mediação da informação............................................................................................46 2.2.2.1 Serviço de referência.................................................................................................49 3 MARCO EMPÍRICO: O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO E A BIBLIOTECA.....................................................................55 3.1 O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho...............................................55 3.2 A Biblioteca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho........................61 3.2.1 Atores sociais: bibliotecário e pesquisador................................................................65 3.2.2 Serviços de informação..............................................................................................68 3.2.3 Fontes de informação na área de Saúde.....................................................................75 3.2.3.1 As Bases de dados mais utilizadas na Biblioteca do HUCFF...................................82 3.2.3.2 A Revisão sistemática...............................................................................................92 4 INTERAÇÃO DOS ATORES NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE LITERACIA EM INFORMAÇÃO........................................................................98 4.1 Procedimentos metodológicos.................................................................................98 4.2 Casos emblemáticos...............................................................................................105 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................113 REFERÊNCIAS.....................................................................................................117 APÊNDICES...........................................................................................................130 ANEXOS.................................................................................................................132 15 1 INTRODUÇÃO A presente dissertação focaliza o tema “literacia em informação”, no ambiente de uma biblioteca hospitalar universitária, mais precisamente a do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A investigação enfatiza o processo de mediação no qual o bibliotecário é o protagonista, com foco na interação ocorrida entre este e o usuário requerente de tal mediação e demandante dos serviços oferecidos pela referida biblioteca. Pautamos nossa análise no processo de interação dos mencionados atores sociais – bibliotecário e usuário – no âmbito das Ciências da Saúde. Na concepção da presente pesquisa, tal interação propicia ao usuário, mediante forte participação do bibliotecário, o alcance ou obtenção de literacia em informação para ver contempladas as suas necessidades de informação e, consequentemente, poder desenvolver suas pesquisas de maneira mais eficaz. Adiante, ao apresentarmos os pressupostos deste estudo, verticalizamos o que consideramos, nos termos desta investigação, literacia em informação na área das Ciências da Saúde. Como marco cronológico, consideramos o período compreendido entre os anos de 2002 a 2014, referente à nossa experiência profissional como bibliotecária em duas instituições: Instituto Nacional de Câncer (INCA) de 2002 a janeiro de 2010 e Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ, de fevereiro de 2010 até o presente ano de 2014 O estudo abarca questões relacionadas à biblioteca especializada e ao exercício profissional do bibliotecário, considerando suas práticas e seu papel fundamental que é a mediação para a recuperação e acesso à informação. Inclui, como não poderia deixar de ser, o ambiente – hospital universitário cuja finalidade é a pesquisa, o ensino e a formação de médicos e profissionais da área de saúde – e o usuário, alvo deste ensino e formação, com vistas ao aprimoramento de sua atividade relacionada à saúde e ao cuidado pela via da pesquisa e/ou da fundamentação de uma decisão clínica. Em ambas as situações, tal aprimoramento consiste no maior domínio da capacidade requerida para que este possa identificar e recuperar a informação bem como analisar os resultados obtidos – um conjunto de evidências científicas1. Devemos acrescentar que tal capacitação inclui o conhecimento e a Segundo Cruz e Pimenta (2005) “evidência” é “algo” que fornece provas, e a evidência pode ser categorizada em 5 níveis. A força da evidência nessa classificação é definida por características das fontes em que foram 1 16 habilidade no uso da rede eletrônica que, inexoravelmente, passou a abrigar (desde os anos de 1990 e num crescendo) a informação científica, sendo a área da saúde das mais prolíficas em termos da informação disponível na Internet. Portanto, um aspecto de fundamental importância para o delineamento da nossa questão, diz respeito ao surgimento da Internet, à criação da World Wide Web (Web) na década de 1990 e, também, ao volume progressivo de informações técnico-científicas. As tecnologias de comunicação e informação (TIC) conformam, então, um cenário no qual “a utilização de tais tecnologias cria e recria novas formas de interação, novas identidades, novos hábitos sociais, enfim, novas formas de sociabilidade”, conforme Morigi e Pavan (2004, p. 117). Assim, cabe sublinhar os desafios enfrentados pelos dois segmentos que vimos destacando – bibliotecário e usuário – no aludido processo de interação/mediação, considerando sobretudo o advento e emprego das TIC, na medida em que estas passaram a abrigar e disseminar, cada vez mais intensamente, a informação científica em diversos dispositivos/serviços. Se por um lado estes oferecem visibilidade e acesso (ou podem oferecer, atendidas as exigências e compreendida a complexidade de como organizam e disponibilizam a informação) por outro, essas mesmas exigências implicarão em conhecimento a ser transferido pelo bibliotecário e “adquirido” pelo usuário para, então, ver atendidas as suas necessidades de informação. Sobre a mediação exercida pelo bibliotecário, vale citar a definição de Almeida Junior (2009, p. 92) para quem esta abrange Toda ação de interferência – realizada pelo profissional da informação –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional. Pretendemos demonstrar que grande expertise é exigida do primeiro para o pleno atendimento e satisfação das necessidades do segundo. Desejamos igualmente salientar a especificidade e a complexidade implicadas na própria natureza da informação em saúde. Tais características dizem respeito, igualmente, à oferta, disponibilização e recuperação dessa informação como inerentes aos desafios enfrentados por ambos. Em artigo recente, Kleyman e Tabaei (2012) sinalizam que 2,5 milhões de artigos são publicados a cada ano na área de Ciências Biomédicas, atribuindo a esta quantidade a causa de desafios maiores para os alunos de medicina do que os enfrentados pelos estudantes geradas, tais características são determinadas pelo delineamento metodológico das evidências. Estas definições serão explicitadas adiante no presente estudo. 17 de física, ciências da computação, ou de programas de matemática, conforme menciona. Assim, além do grande volume de informação – que, em se tratando da informação em saúde é uma característica muito expressiva – deve-se ainda considerar, em termos das peculiaridades dessa informação, a afirmação de Greenhalgh (2008, p. 33) relativa ao material publicado nesta área atualmente. Segundo a autora, “somente 10% a 15% provarão ter valor científico subseqüente duradouro”. A nosso ver corroborando com tal afirmativa, a Association of College and Research Libraries - ACRL aponta que “a qualidade incerta e a expansão da quantidade de informação impõem grandes desafios para a sociedade”. O excesso de informação e tecnologia não irá criar por si cidadãos mais informados, se não houver o entendimento e a capacidade para usar a informação (ACRL, 2000, p. 2). Este panorama compreende distintas organizações sociais que são diretamente influenciadas pelas possibilidades e recursos das tecnologias. Em relação ao ensino, muito afetado por elas, e especialmente nas universidades, impactam i) os processos de produção, comunicação e disseminação do conhecimento e da informação; ii) os processos de ensino e aprendizagem; iii) os serviços dos sistemas de informação e consequentemente, a atuação do profissional bibliotecário. No tocante à informação em saúde, um outro aspecto a somar-se aos que vimos ressaltando diz respeito à questão da medicina baseada em evidências (MBE). A medicina foi a primeira área da saúde a ser influenciada pelo movimento da “epidemiologia clínica”, iniciado nos anos 80, na Universidade McMaster (Canadá) originando, nos anos 90, a denominada MBE, termo cunhado em 1996 por David Sackett. A MBE enquanto prática sustenta-se na busca de informações publicadas e de qualidade para a tomada de decisão clínica. As tecnologias e o excesso de informações produzidas na área de saúde imprimem uma situação adversa, no seguinte sentido: as TIC possibilitam acesso ágil e dinâmico a variados recursos informacionais, mas o grande volume de informações requer dos pesquisadores um maior cuidado para a seleção criteriosa e a adoção de informações publicadas considerando-se a sua credibilidade2. A MBE se estabeleceu e seus princípios foram adotados por outras áreas da saúde, fazendo surgir a “prática baseada em evidências” (PBE), questão a ser aprofundada adiante. A expressão também vem sendo utilizada por especialidades médicas e não médicas. Citam-se, por exemplo: “enfermagem baseada em evidências”, “odontologia baseada em evidências e Para Tomaél et al (2008, p. 21) “a credibilidade de uma fonte de informação está relacionada à sua valorização e à utilização por usuários que dela necessitem. Vincula-se à sua origem – criação – e disponibilização – na Internet”. Para esta autora a credibilidade é um indicador de qualidade das fontes de informação na Internet. 2 18 medicina de emergência baseada em evidências (LETELIER; MOORE, 2003, p. 939). Estes autores, considerando o trabalho profissional de bibliotecários na área de saúde, incluem no contexto da PBE a expressão “biblioteconomia baseada em evidência” (BBE) ou evidencebased librarianship (EBL). Cumpre acrescentar que a inclusão da BBE, arrolada junto às demais expressões, deve-se à adoção da expressão “baseada em evidências” no âmbito da literatura da área da Ciência da Informação e à sua constituição como tema de pesquisa, presente nos registros e nas discussões de eventos científicos nacionais e internacionais3. O Dicionário Houaiss (2009, p. 335) indica no verbete “evidência” o sinônimo de “prova: comprovação”. Para sublinhar que a atuação de médicos e dos demais profissionais das áreas das ciências da saúde deve estar pautada em estudos que provam a utilidade da informação publicada na tomada de decisão em saúde, pode-se adotar, para melhor compreender o sentido do termo “evidência”, que este consiste em "estudos clínicos publicados em diferentes periódicos ou banco de dados eletrônicos sob forma de artigos originais, resumos estruturados de artigos originais, revisões sistemáticas, avaliações de tecnologia de saúde e consensos (guidelines)" (BERWANGER; GUIMARÃES; AVEZUM, 2006, p. 56). Considerando as questões até aqui levantadas, concernentes ao volume de informação produzida na área, à responsabilidade de sua aplicação para a tomada de decisão na prática clínica e à convergência das áreas de ciência da informação e ciências da saúde, no que diz respeito à especificidade de seu ambiente informacional, o foco deste estudo encontrase no âmbito da temática “information literacy”. A nossa opção pelo emprego do termo “literacia em informação”, segue a maneira como este foi adotado/traduzido em Portugal. Cumpre observar que existem diferentes traduções para a expressão nos países da América Latina, Europa e Estados Unidos4, bem como definições, concepções e análises da expressão. Para o enfoque que lhe é dado no estudo em tela, julgamos importante considerar que A information literacy apresenta um significado que vai além da soma de suas partes (information e literacy) admitindo que informação é um conceito muito complexo que engloba muitas definições e interpretações, conforme área de conhecimento na qual se insere (DUDZIAK, 2003, p. 23). 3International Evidence Based Library and Information Practice Conference:http://eblip7.library.usask.ca/#about/past-eblip-conferences; International Congress on Medical Librarianship, ICML9. Disponível em: http://www.icml9.org/. Acesso em: 19 maio 2014. XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, CBBD: http://www.febab.org.br/congressos/index.php/cbbd/xxiv. 4 Cf estudo de Horton (2013) que aborda a questão da nomenclatura em diferentes países. Termo que, no Brasil, é concebido e tratado como “competência em informação”. 19 Carvalho (2009, p. 179) sinaliza a utilização do termo em outros contextos, tais como: literacia para a saúde, literacia informática, literacia cultural, literacia política e também literacia científica (“scientific literacy”). As discussões em torno do termo fazem parte não somente de uma realidade no Brasil, mas em diversos países do mundo. Alguns dos principais pesquisadores do tema, Elisabeth Adriana Dudziak5, Carol Collier Kuhlthau6 e Alejandro Uribe Tirado7 mantém sítios na Internet com informações, publicações, eventos que revelam a importância e o panorama do tema no mundo. Na definição de Dudziak8 (2003, p. 28) a information literacy consiste no “processo contínuo de internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessário à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”. Podemos acrescentar, com o objetivo de verticalizar o conceito, conforme a nossa acepção sobre o mesmo, que a dinâmica do universo informacional de que fala a autora é fortemente condicionada pelo advento das TIC. Para seguirmos introduzindo a questão da literacia tendo em vista o enfoque deste estudo, que é o da informação científica em saúde (já que aprofundaremos o conceito no capítulo subsequente), assinalamos que aqui tratamos de “literacia” nos termos da definição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) (2000, 2003 apud TENREIRO-VIEIRA;VIEIRA, 2013, p. 171): “é a capacidade de usar conhecimento científico para identificar questões e tirar conclusões baseadas em evidência com o propósito de compreender e ajudar a tomar decisões sobre o mundo natural e as mudanças nele operadas por meio da atividade humana”. Conforme Tenreiro-Vieira e Vieira (2013, p. 171) a literacia científica, compreende três aspectos ou dimensões: (1) conteúdo científico, interpretado como grandes idéias e não como fatos isolados; (2) processos científicos, entendidos como ações mentais, e por vezes físicas, usadas na concepção, obtenção, interpretação e uso de evidência; e (3) áreas de aplicação, nas quais são usados os processos e a compreensão de grandes idéias e que tomam a forma de questões baseadas na ciência. No contexto desta pesquisa, o termo refere-se a um processo de aprendizagem do usuário para uso qualificado do conhecimento científico, o que implica na aquisição de um conjunto de habilidades, que chamaremos de competência, para localizar, interpretar, acessar e recuperar informação. A habilidade adquirida pode ter uma temporalidade, ou seja, tal competência poderia esgotar-se conforme a presença de mudanças no processo de 5 https://www.blogger.com/profile/15824040374580435857 http://www.ebsi.umontreal.ca/formanet/kuhlthau/kuh_publ.htm 7 http://alfiniberoamerica.blogspot.com.br/ 8 Nota sobre a participação/ autoridade desta autora, representante do Brasil etc. 6 20 comunicação científica como um todo, sobretudo decorrentes da interveniência das TIC. Portanto, a literacia é aqui entendida como podendo ser um estágio transitório de conhecimento dos atores envolvidos, bibliotecário e usuário. Concebemos que o intercâmbio dos saberes do profissional de informação e do usuário – de natureza diferenciada – implica na complementaridade das expertises dos mencionados atores. Os papéis diferenciados desses atores demandam requisitos especiais, envolvendo trâmites que incluem a mediação exercida pelo profissional de informação bem como a imprescindível participação do usuário. A complementaridade destes papéis é, pois, o que chamamos de processo de interação. Desta interação tem-se a possibilidade de obtenção de literacia (aprendizado) resultando assim em aquisição de competência (saber). Neste sentido, vale acrescentar, o que se almeja alcançar é maior autonomia por parte do usuário, resultante do processo que aqui denominamos de literacia em informação na área de Saúde. Ao nos referirmos ao termo “competência” ponderamos que, quando este é justaposto à palavra “informação” tem-se uma expressão – “competência em informação – que consiste em área de estudos tradicional nas áreas da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Podemos acrescentar que o termo se origina do latim competentia: significando proporção, simetria, sendo definida como soma de conhecimentos ou de habilidades (HOUAISS, 2009). Fleury e Fleury (2001) afirmam que a “Competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa. O seu oposto, ou o seu antônimo, não implica apenas a negação desta capacidade, mas guarda um sentimento pejorativo, depreciativo”. Devemos contudo acrescentar que, no artigo de Elizete Vieira Vitorino e Daniela Piantola (2009, p.132) a noção de competência e de informação nos discursos sociais é abordada de forma sucinta. As autoras sinalizam que “as ciências sociais muitas vezes tratam de realidades já nomeadas, sem atentar para os atos de constituição de tais noções, tomandoas por objeto, deixando de examinar o espaço que as palavras ocupam na construção das coisas sociais”. Estas citações são importantes no sentido em que sinalizam e oportunizam a reflexão sobre o tema abordado e subsidiam nossas opções conceituais. Para tanto, assinalamos que igualmente consideramos a crítica ao “discurso competente” endereçada por Marilena Chauí (1982) em seu livro Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas: [...]. Esse discurso competente não exige uma submissão qualquer, mas algo profundo e sinistro: exige a interiorização de suas regras, pois aquele que não as interiorizar corre o risco de ver-se a si mesmo como incompetente, anormal, a-social, 21 como detrito e lixo. Estamos de volta ao Discurso do Método*, porém não mais como projeto de dominação da natureza (pois, de há muito, a sociedade burguesa já se encarregou dessa tarefa) e sim como exigência de interiorizar regras que nos assegurem que somos competentes para viver (CHAUÍ, 1982, p. 13). Estes autores, no conjunto, levaram-nos a propor uma abordagem que sinalizasse que, na nossa concepção, no tocante à participação dos atores nas ações envolvidas nos processos estudados, existe uma simetria de conhecimentos, embora estes sejam muito diferenciados em sua natureza e que é do intercâmbio entre estes, que a literacia é obtida e a competência alcançada. No processo de aquisição das mencionadas habilidades por parte dos usuários, o papel do bibliotecário é fundamental, já que além de ter como missão desenvolver produtos e serviços de informação, deve ser capaz de identificar e/ou conhecer as necessidades de informação de seu público alvo, bem como, para acompanhá-lo e auxiliá-lo, deverá exercer o seu papel de mediador da informação o que implica (e pretendemos demonstrar) em acionar o conhecimento adquirido (sua expertise) no manejo de complexos dispositivos. A mediação apresenta-se, portanto, como um conceito fundamental concernente à atuação do profissional de informação junto ao usuário no tocante à possível satisfação das necessidades de informação destes últimos. Em suma, nos termos deste estudo, literacia liga-se à aprendizagem e a competência liga-se ao saber alcançado. A proposta desta dissertação consiste, pois, em analisar o conceito, considerando a especificidade da área de Saúde, atribuindo-lhe relevância por entendermos que o processo de literacia (aprendizagem) possibilita desvendar a complexidade das demandas que importam no desempenho especialmente qualificado do bibliotecário; demonstrar o intricado conjunto constituído pelas fontes de informação em saúde e como são desenvolvidas, por parte do usuário, as competências (saberes) imprescindíveis para a busca, identificação, seleção e uso dos registros do conhecimento científico ou das fontes de informação especializada, como também podemos chamar tais registros. Os pressupostos desta investigação englobam necessariamente as novas configurações de apresentação dos conteúdos informacionais, as complexas plataformas em que eles se encontram, resultando em complexos modos de manuseio e de uso das fontes de informação em saúde que modificam igualmente a forma de mediar a informação. Esse pressuposto completa-se mediante a idéia de que tal equilíbrio revela que os resultados considerados relevantes não podem prescindir da expertise do profissional da informação no manejo das 22 fontes, no conhecimento da utilização dos recursos eletrônicos, por um lado e, por outro, na participação ativa do usuário com o seu conhecimento sobre a sua questão de pesquisa. Por fim, voltamos a enfatizar que, no que concerne aos pressupostos aqui desenhados, as TIC têm especial importância para o conceito de literacia, o que levou-nos a dar especial atenção às especificidades dos estoques da área de informação em saúde abrigados em plataformas operacionalizadas por meio das TIC. Para o desenvolvimento da pesquisa, formulamos então as seguintes questões: Quais as especificidades do papel do profissional da informação no aludido processo de mediação para a literacia em informação, considerado o contexto da área de saúde? Considerando tal contexto, como se apresentam as demandas de informação do usuário especializado em saúde? O que se pode destacar como características mais expressivas dos recursos de informação conformados pelas TIC em ambiente de rede eletrônica, influenciando ou determinando as dificuldades do processo de literacia em informação na área de saúde? De que maneira os recursos de informação abrigados, organizados e disseminados por meio da rede eletrônica, influenciam e delineiam o processo de literacia em informação na área de saúde? Nesta pesquisa, tivemos como objetivo geral, examinar o processo de literacia em informação – identificando e discorrendo sobre os diferentes papéis exercidos pelos dois atores fundamentais que o integram, o bibliotecário e o usuário especializado – considerando a interação destes atores sociais para lidar com a complexidade do aparato compreendido pelos diferentes recursos informacionais na especificidade da área de saúde em ambiente de rede eletrônica. Foram elencados os seguintes objetivos específicos: Apresentar as diferentes fontes de informação em saúde, considerando as plataformas tecnológicas que as sustentam, destacando os pontos que demonstram ou revelam a complexidade do processo de Literacia em Informação na área de Saúde; Identificar e descrever os recursos informacionais da Biblioteca do HUCFF (UFRJ) que demandam interação dos atores sociais envolvidos no processo de literacia; Ilustrar os diferentes perfis de usuários do HUCFF (UFRJ); Exemplificar e examinar as demandas de usuários, tomadas como emblemáticas, no sentido de exigir maior interação pela complexidade da necessidade de informação demandada; Para tratar do aporte teórico da pesquisa, o trabalho focaliza um conjunto de conceitos, noções e categorias que requereram aprofundamento para melhor entendimento do problema 23 da pesquisa, tendo em vista o contexto da área de saúde em que esta investigação se desenvolve. Destacam-se, portanto, os seguintes: literacia em informação, necessidades de informação, mediação da informação. A pesquisa, como já assinalado, ambienta-se na Biblioteca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seus usuários encontram-se assim caracterizados: acadêmicos (últimos períodos), pós-graduandos e pósgraduados (residência, mestrado, doutorado), funcionários (profissionais da saúde que desenvolvem pesquisa na instituição ou são alunos de cursos de pós-graduação em outras instituições) e professores. Estes exigem informação de qualidade e com credibilidade para fundamentar suas decisões, alicerçar sua capacitação e desenvolver suas pesquisas. Nesse sentido, todo o esforço que contribua para iluminar a complexidade das práticas de pesquisas/recuperação da informação, em função das novas configurações impostas pelas TIC e da permanente alteração da natureza das informações nos novos ambientes eletrônicos, em sua permanente modificação, principalmente considerando um enfoque nas mediações sócio-técnicas da informação e da comunicação. O tema interessa: i) aos bibliotecários das unidades de informação da saúde e de outras áreas, na medida em que tal problemática é de fundamental importância para o cumprimento de suas funções nos processos de gestão, organização e disseminação da informação; ii) aos gestores do hospital universitário, ambiente onde a pesquisa se insere, pois os dados coletados poderão ser utilizados como indicadores que subsidiarão novas propostas de atuação e estruturação dos serviços; iii) à área da Ciência da Informação, considerando sobretudo as relações entre as tecnologias da informação e da comunicação e os diferentes campos do conhecimento científico e técnico, seus padrões, demandas e uso de informação”; iv) por contribuir para as discussões sobre a temática da literacia em informação, tema recente na literatura, tanto na sua configuração mais ampla quanto na sua especificidade da pesquisa no campo da saúde; v) por fim, por apontar uma nova conformação para o papel do bibliotecário que, especificamente no escopo da saúde, passa a participante na produção de literatura científica, nomeadamente nas Revisões Sistemáticas (Systematic Review), tipo de publicação das abordagens da prática e medicina baseada em evidências, aspecto este que já vem sendo contemplado na literatura9. Podemos acrescentar que embora já existam casos registrados, tal 9 GORE, Sally A. A Librarian by Any Other Name: The Role of the Informationist on a Clinical Research Team. Journal o eScience Librarianship, v. 2, n. 1, p. 6, 2013; DUDDEN, Rosalind F.; PROTZKO, Shandra L. The Systematic Review Team: Contributions of the Health Sciences Librarian. Medical Reference Services Quarterly, v. 30, n. 3, p. 301-315, 2011; dentre outros. 24 possibilidade é incipiente, não havendo ainda ocorrências significativas do estabelecimento de co-autoria para o bibliotecário no trabalho a ser publicado. Com relação à abordagem do problema, a opção metodológica da presente investigação caracteriza-se como pesquisa qualitativa. De acordo com Minayo et al. (2005, p. 82) o método objetiva “compreender as relações, as visões e o julgamento dos diferentes atores sobre a intervenção na qual participam, entendendo que suas vivências e reações fazem parte da construção da intervenção e de seus resultados”. Dessa forma, sua adoção permite a verificação do pressuposto que se centra na interação e complementaridade de saberes e experiências do usuário e do bibliotecário. Para atingir os objetivos da investigação adotaram-se tanto métodos da pesquisa direta quanto da indireta, nomeadamente os estudos descritivos e exploratórios. Assim, utilizou-se como recurso de pesquisa direta a observação participante, mediante o exame do atendimento do usuário no serviço de referência, o que permitiu acompanhar e/ou observar o acontecimento, como ele se desenrolou, possibilitando sua posterior análise. Paralelamente, utilizaram-se fontes documentais específicas do campo empírico em estudo. Conforme a literatura especializada da área de antropologia, é indispensável para o emprego de tal método que o pesquisador examine seu objeto com o distanciamento requerido pela investigação científica, analisando a ambiência, olhando os fatos e identificando as expressões mais significativas, que permitem relacionar tais fatos às questões investigadas. Em relação ao método da pesquisa documental adotado, foram consideradas as peculiaridades registradas nos formulários de solicitação de serviços, e-mails enviados pelos usuários e outros meios de interlocução com os usuários e anotações feitas na caderneta de campo, oriundas dos contatos diretos (orientações, solicitações e treinamentos) ocorridos conforme a demanda e no decorrer do atendimento. Quanto à estrutura da presente dissertação, a partir desta introdução, tratamos, na seção 2, da questão da literacia em informação, desde sua origem e historicidade até a situação atual, em níveis internacional e nacional. Destacam-se, nesta seção, entre os autores precursores da temática – no exterior: Paul G. Zurkowski, Carol C. Kuhlthau, Alejandro Uribe Tirado e as associações American Library Association (ALA) e a Association of College and Research Libraries (ACRL). Nas subseções destacam-se Yves-François Le Coadic, Juan José Calva Gonzalez e Denis Grogan. No Brasil – Elizabeth Adriana Dudziak, Bernadete Campello, Sônia Elisa Caregnato e Silvânia Vieira Miranda. A seção 3 delineia o campo empírico da investigação que se ambienta no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e, nele, a Biblioteca setorial especializada. Pela 25 importância do hospital no cenário da saúde e educação, atenção especial será dada a sua história. Com relação a biblioteca observada destacamos a descrição de seu ambiente, serviços, produtos e atores sociais: bibliotecário e usuário) – a amostra observada foi constituída pelos usuários atendidos pelo serviço de referência, destacando-se as suas demandas, que foram tipificadas e analisadas. A seção trata, assim, do ambiente e dos atores sociais que o integram – bibliotecário e usuários – ambos aqui caracterizados como sujeitos da pesquisa. Destacamos os autores Francisco Strauss, Jaqueline Leta, Clementino Fraga Filho e a página do HUCFF A seção 4 focaliza a interação entre o bibliotecário e o usuário no processo de literacia em informação, calcada em casos tomados como emblemáticos das interações necessárias que decorrem da mediação, confluindo para a obtenção de literacia em informação e para a aquisição de competência pelo usuário. Descreve o “aparato informacional”, compreendido pelas fontes de informação especializadas no contexto da área das Ciências da Saúde, os vocabulários controlados e as técnicas de busca. Adotamos inicialmente como referencial a National Library of Medicine - http://www.nlm.nih.gov nos Estados Unidos, Centro LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde - http://www.paho.org/bireme/ e o Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) - http://www.periodicos.capes.gov.br. A análise destes casos encerra esta seção. A seção 5 apresenta as considerações finais do trabalho, ou seja, ali são sintetizadas as reflexões e considerações suscitadas pela pesquisa. 26 2 MARCO TEÓRICO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS Nesta seção, tratamos da rede de conceitos que balizam o estudo. Antes de discorrermos sobre os mesmos, apontamos algumas questões relativas à variedade terminológica que cerca a temática da “literacia em informação” e que se refletiu nos procedimentos adotados na pesquisa bibliográfica que subsidiou a presente revisão de literatura, no tocante a este tema. As fontes utilizadas serão também apresentadas. Siqueira e Siqueira (2012, p.3) indicam, com relação à mencionada variedade de termos empregados para denominar o nosso tema (com sentidos igualmente diversos) que nos EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá utilizam-se as expressões: information literacy (predominantemente), library skills, digital literacy e media literacy. Segundo estes autores: Na França, são frequentes as expressões formation des usagers, competences informationnelles, éducation à l’information e maîtrise de l´information. Esta última é o termo selecionado pela IFLA para a tradução de information literacy nos países francófonos (CHEVILLOTTE, 200710). Ultimamente, mesmo na França, observa-se também o uso do termo em inglês. Na Espanha, por exemplo, usa-se “Alfabetização Informacional” – ALFIN e, em Portugal empregam-se os termos “Literacia da Informação” e, também, “Competências da Informação” (GASQUE, 2010, p.83; SIQUEIRA e SIQUEIRA, 2012, p.3). Na América Latina são encontradas as expressões: Alfabetización em Información, Competencia Informacional e Desarrollo de Habilidades Informativas – DHI (México) (SILVA e FERNÁNDEZ MARCIAL, 2008 apud SIQUEIRA E SIQUEIRA 2012, p.3). No Brasil, o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB) do ano de 2012 reflete no conjunto de trabalhos apresentados sobre o tema tal diversidade terminológica. Os artigos e pôsteres apresentados utilizaram os seguintes termos: competências em informação (quatro trabalhos), competência informacional (dois trabalhos), competências informacionais (um trabalho), competências infocomunicacionais (um trabalho), habilidades de letramento informacional (um trabalho) e Information literacy (um trabalho). Gasque (2010, p. 84) que, por sua vez, utiliza o termo “letramento informacional”, menciona que “muitos são os termos e as expressões utilizadas para traduzir o termo original – ‘information literacy’”. 10 CHEVILLOTTE, S. French Speaking Countries: Belgium, France, Quebec, Switzerland Information Literacy State-of-the Art Report. In: LAU, J. (Ed.) Information literacy: an international state of the art report. Info Lit Global. [Online] Available: http://www.ifla.org/files/informationliteracy/UNESCO_IL_state_of_the_art_fre_2010.pdf. 27 Gasque (2010) então compila as freqüentemente utilizadas pelos autores brasileiros. Segundo a autora, Caregnato (2000) o traduziu como ‘alfabetização informacional’, mas optou pelo emprego ‘habilidades informacionais’ como equivalente em língua portuguesa. Campello (2002), Miranda (2004), Belluzzo (2005), Silva et al (2005), Lins & Leite (2008), Vitorino (2008), Liston & Santos (2009), Vitorino & Piantola (2009), dentre outros, entendem que o termo tem sido traduzido como ‘competência informacional’. A autora frisa que a expressão information literacy tem sido utilizada no Brasil como “competência informacional” e assinala que tal diversidade terminológica “reflete a natureza emergente do tema, o que implica uma definição mais precisa dos conceitos relacionados à questão em causa para que seja possível a utilização do mesmo referencial de representação”. Julgamos estar evidenciado que a diversidade representada na terminologia pode significar igual diferenciação de conceitos e contextos e que cada um deve ser analisado de acordo com o país de origem e contexto de utilização. Segundo seu ponto de vista, diferentes sentidos vinculam-se a diferentes expressões: Letramento informacional: processo de aprendizagem voltado para o desenvolvimento de competências para buscar e usar a informação na resolução de problemas ou tomada de decisões. Alfabetização informacional: refere-se à primeira etapa do letramento informacional, isto é, abrange os contatos iniciais com as ferramentas, produtos e serviços informacionais. Habilidade informacional: realização de cada ação específica e necessária para alcançar determinada competência. Competência informacional: refere-se à capacidade do aprendiz de mobilizar o próprio conhecimento que o ajuda a agir em determinada situação (GASQUE, 2013, p. 5-6) A variedade constatada levou-nos a estabelecer, para as buscas nas bases de dados no tocante a este tema, os seguintes descritores (terminologia padronizada) e termos (linguagem natural): information literacy, alfabetización en información, competencia informacional e desarrollo de habilidades informativas, library skills, digital literacy e media literacy. Estas expressões em inglês foram utilizadas nas bases internacionais e, no que concerne ao termo information literacy, igualmente nas bases nacionais, em função de sua adoção por alguns autores brasileiros. Para as buscas sobre o tema na literatura nacional, os descritores foram: competências em informação, competência informacional, competências informacionais, competências infocomunicacionais, habilidades de letramento informacional, literacia em informação, habilidade em informação e literacia informacional. Em relação aos demais operadores teóricos contemplados nesta seção – interação informacional; necessidades de informação – utilizamos: information interaction, mediation of 28 information, information needs e needs users. Em português, os descritores e termos foram: interação informacional, interação, mediação informacional, mediação da informação, necessidade de informação, necessidades de informação e necessidades informacionais. Outros termos utilizados como suporte às subseções. Em português e inglês: biblioteca hospitalar (libraries hospital), revisão sistemática (systematic reviews). As bases de dados utilizadas para as buscas bibliográficas foram aquelas das áreas das Ciência da Saúde, Ciência da Informação e algumas bases multidisciplinares: LISA – Library of Information Science Abstracts; Medline – Literature Internacional em Ciências da Saúde; Pubmed – Literature Internacional em Ciências da Saúde; LILACS – Literatura LatinoAmerica e do Caribe em Ciências da Saúde; Scopus (Elsevier) e Web of Science (Thomson Reuters Scientific). As bases brasileiras foram: BRAPCI - Base de Dados Referencial de artigos de Periódicos em Ciência da Informação e Scielo – Scientific Electronic Library Online. No Apêndice A apresentamos as estratégias de busca realizadas e o total de registros obtidos em cada base de dados para o tema da “literacia em informação”, empregando-se as diferentes denominações terminológicas como expressão de busca. No Apêndice B apresentamos graficamente o total de registros por base de dados. Objetivamos expor a freqüência do tema em algumas bases de dados da área da Saúde e ou multidisciplinares bem como visamos a demonstrar a totalidade de documentos em cada base de dados. Tais estratégias e totais identificados não representam o conjunto de referências utilizadas na fundamentação teórica da presente pesquisa. Os resultados obtidos no levantamento bibliográfico da presente pesquisa levaram-nos a traçar uma cronologia que, em relação ao tema da literacia, mostra desde o seu aparecimento na literatura até os dias atuais. Em relação à sua historicidade, destacamos a contribuição de Elisabeth Adriana Dudziak11 (2001) resultante de sua dissertação de mestrado, intitulada “A Information Literacy e o papel educacional das bibliotecas”. A seleção dos textos aqui considerados baseou-se na premissa adotada por este estudo da literacia como um processo de habilitação para uso da informação científica pelo pesquisador. A subseção a seguir apresenta o percurso histórico do tema, aspecto privilegiado na revisão. 11 A pesquisadora foi delegada no evento da UNESCO - High-Level Colloquium on Information Literacy and Lifelong Learning11 que ocorreu na Bibliotheca Alexandrina, Alexandria, Egypt, November 6-9, 2005. Contribui para o avanço do tema em suas publicações, participação em encontros internacionais, regionais e nacionais (HORTON, 2013, p. 172). 29 2.1 LITERACIA EM INFORMAÇÃO Com relação às origens dos estudos sobre literacia em informação, Horton (2013, p.15, tradução nossa) registra que “o conceito e a prática têm evoluído gradualmente, baseando-se e expandindo-se a partir de uma longa história de orientação e instrução bibliográfica, que remonta pelo menos ao século XIX e, talvez, a mais tempo”. Ainda sobre as considerações relativas às origens históricas do tema, Horton (2013, p. 16, tradução nossa) aponta que “por muitos anos, um termo convencional usado com freqüência foi "educação do usuário" e este “ainda é comumente usado como um termo guarda-chuva que abrange a literacia em informação”. Em relação à formação dos usuários, Mata (2009, p. 23) sinaliza “que o interesse pelos usuários e com a sua formação educacional no que se refere aos recursos informacionais da biblioteca surgiu no século XVIII”. Ainda de acordo com Mata (2009, p. 25), o primeiro registro relativo à instrução bibliográfica data de 1840 nos Estados Unidos. A autora ressalta que as primeiras manifestações sobre o assunto surgiram no ambiente acadêmico. A educação de usuários pode ser considerada precursora da competência informacional, conforme Dudziak (2001); Campello (2003); Mata (2009) e Horton (2013). De acordo com Pasquarelli (1996) apud Mata (2009, p. 24), não apenas os Estados Unidos tiveram sua atenção voltada para a educação de usuários, mas outros países também, entre os quais a Inglaterra e o Canadá, a França e a Alemanha. Pasquarelli (1996) trata do tema em diversos países, destacando que na América Latina, mais precisamente na Colômbia, os cursos de instrução bibliográfica tiveram início na década de 1960, e foram dirigidos aos ingressantes nas universidades. Anteriormente, no Brasil, Belluzzo (1989, apud MATA, 2009, p. 24) indica que o primeiro registro sobre tais serviços data de 1955 e foram oferecidos na Universidade de São Paulo (USP), sob o nome “pesquisa bibliográfica”, tendo sido responsável por sua oferta a bibliotecária Terezine Arantes Ferraz. A definição da educação de usuários, segundo Cunha e Cavalcanti (2008, p.142) além de apresentar as diferentes versões do termo na língua inglesa, corrobora com o que aponta Horton com relação às origens da literacia em informação. Educação de usuário – bibliographic instruction, library literacy, library training program, library user education, user education, user instruction, user training, atividades concebidas com o objetivo de ensinar os usuários a utilizar os recursos informativos oferecidos pela biblioteca. A expressão engloba instrução bibliográfica, formação de usuário, orientação bibliográfica, e para a informação = alfabetização informacional e permanente = educação continuada (grifos nossos). 30 Dudziak (2001, p. 51) marca que “a educação de usuários é uma preocupação dos bibliotecários e das bibliotecas brasileiras até os dias de hoje”. A autora destaca que “seguindo a tradição de preocupação social-educativa, ação cultural bibliotecária, interação biblioteca-escola e interação biblioteca-usuário, muitos foram os trabalhos desenvolvidos por bibliotecários brasileiros, que podemos considerar como “sementes” da Information Literacy no Brasil (DUDZIAK, 2001, p. 51). A mesma conceitua a educação de usuários como o “processo pelo qual o usuário interioriza comportamentos adequados com relação ao uso da biblioteca e desenvolve habilidades de interação permanente com os sistemas de informação e competência informacional” (DUDZIAK, 2001, p. 58). A principal diferença entre os conceitos de educação de usuários e literacia em informação, conforme Dudziak (2001, p. 58) é que o primeiro – educação de usuários - “tem, efetivamente, sua origem e ênfase na biblioteca. É produto de bibliotecários que, preocupados com seus usuários, procuram formas de auxiliá-los em sua busca pela informação”. E o segundo, competência em informação, Assume contornos diferentes e dá um passo além, uma vez que se refere ao aprendizado ao longo da vida, assumindo que os processos investigativos e de construção de conhecimento permeiam todas as ações, são aplicáveis a qualquer situação, seja junto a sistemas formais, seja junto a sistemas informais. Em um primeiro momento, as bibliotecas pretendiam com a educação de usuários a orientação, capacitação e promoção de seu acervo, produtos e serviços. Nos dias de hoje, entende-se que há um continuo na expansão do conceito, como consequência não só do emprego das TIC, mas também do volume de informação produzida nas diversas áreas de conhecimento que geraram o terreno receptivo para o surgimento da literacia em informação, abarcando as discussões em torno do tema. A expressão Information Literacy surgiu nos EUA, na década de 70, como um emergente tópico de pesquisa (GASQUE, 2010, p.83). Conforme Dudziak (2003, p. 21) sua primeira aparição na literatura encontra-se no relatório The information service environment relationships and priorities, de autoria do bibliotecário Paul G. Zurkowski (1974). No ano desta publicação, Zurkowski era presidente da Information Industry Association (IIA) e integrava a equipe da National Commission on Libraries and Information Science. Ainda segundo Dudziak (2003, p. 24) “Zurkowski antevia um cenário de mudanças e recomendava que se iniciasse um movimento nacional em direção à information literacy”. Mata (2009, p. 23) assinala que, 31 A partir da década de 1970, foram criados comitês e instituições, nos Estados Unidos, interessados na discussão sobre a educação de usuários. Trata-se, inclusive, dos mesmos que atualmente estudam e promovem eventos e atividades diversificadas a envolver os profissionais da informação ao tema da competência informacional, como a ALA, a ACRL e a LOEX (MATA, 2009, p. 24). Em 1976, o conceito de information literacy reaparece ligado a uma série de habilidades e conhecimentos incluindo a localização e uso da informação para resolução de problemas e tomada de decisão (DUDZIAK, 2003, p.24). Na mesma época, o termo também ganha uma nova conotação e passa a ser usado por alguns autores - Hamelink e Owens12 como vinculado à questão da cidadania e/ou como instrumento de emancipação política (CAMPELLO, 2003, p.30; DUDZIAK, 2003, p.24). Em 1979, a ênfase é nas habilidades técnicas. A questão foi abordada por Robert S. Taylor, bibliotecário norte americano que “estabeleceu o vínculo definitivo entre os bibliotecários e a information literacy, em artigo destinado a discutir o futuro da profissão e intitulado Reminiscing about the Future: Professional Education and the Information Environment13” (DUDZIAK, 2010, p.6). Ainda no tocante ao percurso histórico da literacia em informação, Siqueira (2012, p.1-2) ao adotar a expressão information literacy e as diferentes acepções dadas ao tema em trabalho em que aborda a diversidade terminológica, cita que, na década de 1970, havia uma ênfase no desenvolvimento das habilidades técnicas do usuário e no uso da informação visando à sua qualificação profissional. Em 1983, publica-se nos EUA um documento governamental intitulado A Nation at risk: the imperative for education al reform, que ao mostrar um diagnóstico da situação de deterioração em que se encontrava o ensino público naquele país, apresentava a questão da aprendizagem de habilidades intelectuais superiores, mas não incluía o papel das bibliotecas. Essa situação provocou uma reação dos bibliotecários que se manifestaram publicando uma profusão de publicações, na tentativa de explicar o papel que a biblioteca tinha a desempenhar no esforço de formar a comunidade de aprendizagem proposta no mencionado documento (CAMPELLO, 2003, p.31). Esta autora afirma que “a reação mais enfática foi na forma de um documento chamado Libraries and the Learning Society: papers in response to A Nationat 12 HAMELINK, C. An alternative to news.Journal of Communication, New York, v. 26, n. 4, p. 120-123, 1976; OWENS, M. R. State government and libraries. Library Journal, v.101, n.1, p.19-26, jan.1976. 13 TAYLOR, R. Reminiscing about the future: professional education and the information environment. Library Journal, New York, v.104, n.16, p.1871-1875, Sep.1979. O artigo apresenta as seis áreas de desenvolvimento profissional e educacional que Taylor considerava como as mais promissoras; destaca, dentre estas áreas, a information literacy. 32 Risk, publicado em 1984 pela American Library Association – ALA”. Seu conteúdo versava sobre a contribuição que a biblioteca escolar poderia oferecer para uma educação que ensinasse o aluno a aprender a aprender e desenvolvesse habilidades para buscar e usar informação, consideradas essenciais para viver em uma sociedade complexa e mutável. Em 1987, a monografia de Carol C. Kuhlthau–Information Skills for an Information Society: a review of research14(1987), consistiu , conforme Dudziak (2010, p. 6) numa importante contribuição para o tema, pois lançou as bases da Information Literacy Education. Sua ênfase era a aprendizagem por meio da Competência em Informação, na qual importava a valorização do ser humano e o seu processo de aprendizagem, e não, necessariamente, conteúdos e procedimentos. O trabalho apresentava os fundamentos do conceito de Competência em Informação, articulando-o ao processo educacional como mais uma prática pedagógica capaz de contribuir, significativamente, para a formação de indivíduos competentes no que tange ao manuseio de informação (Information Literacy Education). Em 1989, segundo Dudziak (2003, p. 25-26), houve a publicação de dois documentos fundamentais para o desenvolvimento da temática information literacy, ambos enfocando o papel educacional das bibliotecas acadêmicas e a importância dos programas educacionais em information literacy para a capacitação dos estudantes. O primeiro foi o livro Information Literacy: revolution in the library, de Patricia S. Breivik e E. Gordon Gee15 e o segundo foi o relatório da American Library Association (ALA), Presential Committe on information literacy: final report16. Ambos elaborados por bibliotecários e educadores. A importância do mencionado relatório é igualmente reconhecida por Pinto (2010, p. 4), pois a publicação dirigia-se a um público amplo, incluindo cidadãos, trabalhadores, estudantes, professores e bibliotecários, que defendiam: A introdução de um novo e mais dinâmico modelo do processo de aprendizagem, centrado na aprendizagem de habilidades para lidar e usar informações de forma crítica. Este relatório foi um marco na formação do conceito atual de literacia da informação, uma vez que foi baseada numa concepção mais ampla da função de informações em nossas vidas, e considerou cenários da criação e utilização de informação (PINTO, 2010, p. 4). 14 KUHLTHAU, C. C. Information skills for an information society: a review of research. Syracuse, NY: Syracuse University, 1987. 15 5. BREIVIK, P. S.; GEE, E. G. Information literacy: revolution in the library. New York : Collier Macmillan, 1989. 16 AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Report of the Presidential Committee on information literacy: Final Report. [S. l.], 1989. Disponível em: < http://www.ala.org/acrl/nili/ilit1st.html >. Acesso em: ago. 2000. 33 Neste relatório consta também a definição mais citada na literatura sobre literacia da informação, conforme reconhece Dudziak (2003) dentre outros autores. Trata-se da definição apresentada pela ALA (1989, p. 1 apud DUDZIAK, 2003, p. 26). Para ser competente em informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e usar efetivamente a informação... Resumindo, as pessoas competentes em informação são aquelas que aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir dela. As observações de Varela et al (2010, p.4-5) mostram que Se até a década de 80, as bibliotecas se preocuparam com a necessidade de capacitar o usuário para usar a infraestrutura de informação instalada em seu interior, a partir da década de 90, com as soluções inovadoras da tecnologia criadas e utilizadas para representar, organizar e difundir a informação, ampliando potencialmente o estoque de informação disponível, as bibliotecas tiveram de repensar os modelos de educação do usuário aplicados até então. Os anos de 1990 constituíram “o período marcado pela busca de uma fundamentação teórica e metodológica sobre a information literacy” (DUDZIAK, 2003, p.26). Para Siqueira (2012, p. 2) a década de 1990 é o “período em que ocorre a institucionalização e maior abrangência do conceito (...). A temática se estende para além do domínio educacional, sendo verificada a sua aplicação em diversas áreas. Neste período, arrolam-se as contribuições de diversos autores: Kuhlthau (1991), Behrens (1994), Bruce (1997), Doyle (1999) e Eisenberg (1998). Dudziak destaca a contribuição de Cristine Bruce (1997 apud DUDZIAK 2003, p.27) pois esta Introduziu um novo entendimento a respeito da IL e denominou-o modelo relacional. Tomando como ponto de partida os estudos de Candy e seus colaboradores, defendeu sua tese intitulada Information literacy: a phenomenography. Bruce desenvolveu um estudo baseado nas experiências de educadores e profissionais de informação de duas universidades australianas sobre o que significaria ser competente em informação. Ainda sobre a contribuição de Bruce em suas considerações sobre a “information literacy como fenômeno”, Dudziak (2003, p. 27) acrescenta que a autora “parte do pressuposto de que a information literacy está acima do desenvolvimento de competências; é muito mais uma questão situacional experimentada pelos sujeitos, resultando disso uma ênfase em determinadas concepções e experiências”. A ligação mais estreita do tema da literacia em informação no âmbito da discussão que vimos contemplando, ou seja, da literacia (ou letramento) do pesquisador, encontra-se na 34 criação do Institute for Information Literacy da ALA – ACRL (Association of College and Research Libraries). Este destina-se prioritariamente a treinar bibliotecários e dar suporte à implementação de programas educacionais no ensino superior (DUDZIAK, 2003, p. 27). Dudziak (2003, p. 28) sintetizou o período afirmando que: Várias organizações se estabeleceram nos anos 90, e a information literacy ganhou dimensões universais, disseminando-se nos vários continentes, havendo uma busca constante pela elucidação do conceito, procurando torná-la acessível a um número cada vez maior de pessoas. Os países que mais publicam sobre o tema são Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá e África do Sul. A autora constata, a partir dos estudos existentes, que influências conceituais agem sobre a information literacy e acabam por determinar diferentes concepções, mas que estas convivem e dependem da ênfase dada pelos autores, seu contexto e experiência, podendo ser definidas com níveis de complexidade (DUDZIAK, 2003, p. 28). A ACRL (2000) publica o documento Information Literacy Competency Standars for Higher Education17, estabelecendo diretrizes para a competência informacional no ensino superior nos EUA (MELO; ARAÚJO, 2007, p. 193-194). Estes, ao traçarem um breve histórico em torno do conceito, para o qual adotaram a expressão “competência em informação”, sintetizam que “tivemos a emergência do conceito no período dos anos 50 a 70; o desenvolvimento de programas nacionais, institucionalização nos anos 80 e 90 e, no final dos anos 90 e início do século XXI, a avaliação dos programas implementados em diferentes países”. Uribe Tirado (2012, p. 136), que adota o termo “alfabetización informacional” identifica e apresenta diferentes fases de desenvolvimento do tema no contexto latinoamericano, sendo este percurso histórico de fundamental importância para o seu entendimento (URIBE TIRADO, 2012, p. 136). Os períodos, conforme este autor, estão assim divididos: pré-início (1994-1995), início (1995-1999), pré-avanço (2000-2003), avanço (2004-2007), pré-posicionamento (2008-...) e já com visualização do 6º período, por ele denominado “ posicionamento” (a partir 2012 a 2013)18. No Brasil, a primeira tradução da expressão “information literacy” foi feita por Sônia Elisa Caregnato (2000, p. 50), propondo a adoção do termo “alfabetização informacional” conforme assinala Campello (2003, p. 28). 17 18 http://www.ala.org/acrl/sites/ala.org.acrl/files/content/standards/standards.pdf. Trata-se de uma prospecção feita pelo autor, já que ele escreve o texto citado em 2012. 35 A publicação de vários resultados de pesquisa na forma de artigos e outras modalidades de trabalhos científicos, a partir de 2000, destaca-se no trajeto histórico do tema no cenário brasileiro, sendo uma questão evidente nos trabalhos a utilização e tradução da expressão Information Literacy por “letramento informacional”, “habilidade informacional” e “competência informacional”, referindo-se, em geral, à mesma idéia ou grupo de idéias (GASQUE, 2010, p. 83). Como afirmado por Dudziak (2010, p. 8) a questão da tradução da expressão Information Literacy ainda suscita discussão e não há consenso. Num estudo bibliográfico cobrindo o período de 2001 a 2005 (LECARDELLI; PRADO, 2006) apresentam sob a forma de infográficos, um mapa da evolução do tema competência informacional/information literacy. Estes encontram-se apresentados a seguir, nas figuras 1, 2 e 3. Figura 1 - Infográfico sobre competência informacional: de 1974 a 1979 (primeira parte). Fonte: LECARDELLI; PRADO (2006, p. 37) 36 Figura 2 - Infográfico sobre competência informacional de 1980 a 2001 (segunda parte). Fonte: LECARDELLI; PRADO (2006, p. 38) 37 Figura 3 - Infográfico sobre competência informacional de 2003 a 2005 (terceira parte). Fonte: Lecardelli; Prado (2006, p. 39) Recentemente, o pesquisador Forest Woody Horton (2013) publicou pela A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a obra “Overview of information literacy resources worldwide” que apresenta os recursos relevantes sobre “information literacy” em sessenta países revelando a existência de distintas expressões e traduções que indicam a complexidade e a falta de consenso sobre o emblemático tema. Horton reconhece o uso, no Brasil, do termo “competência em informação”, mediante a contribuição de Dudziak, por ele convidada para apresentar uma lista (que ela denomina de parcial) dos principais recursos sobre o tema no Brasil (sites, publicações, documentos etc). Nesta mencionada publicação, autores de outros países são igualmente convidados a identificar o enquadramento do termo em seus respectivos países. Os eventos científicos têm sido um meio utilizado pelos estudiosos, não só para comunicação de suas pesquisas, mas também para avançar com as questões relacionadas com tal temática pelo mundo. Dudziak (2008, p. 43) ressalta o Colóquio de Altos Especialistas em Competência em Informação e Aprendizado ao Longo da Vida “High Level Colloquium on Information Literacy and Lifelong Learning”, ocorrido em novembro de 2005, na Biblioteca 38 de Alexandria, Egito. Os grupos de trabalho regionais e líderes previamente escolhidos pelo evento trabalharam duas vertentes. Na primeira aglutinam-se os países em seções com distribuição por 6 regiões. Na segunda, dividem-se os grupos em distintos eixos temáticos, dentre eles: competência informacional para a saúde e serviços, para a governança e cidadania, e competência informacional para a educação (HIGH-LEVEL, 2006 apud Dudziak, 2008, p. 43). Cada eixo temático foi desenvolvido pelos grupos de trabalho regionais e líderes previamente escolhidos. Dentre os eixos temáticos tratados, evidencia-se, com relação ao presente estudo, o eixo “competência informacional para a saúde e serviços”, sinalizando dentre as ações referendadas pelo evento (HIGH-LEVEL, 2006 apud DUDZIAK, 2008, p. 46) a importância de se valorizar O diagnóstico baseado em evidências e, assim, reconhecer a importância da competência informacional como fator chave de busca, coleta, organização e uso de informações sobre saúde e a implementação de tratamentos e atuação médica e de enfermagem. Deve ser inserida no currículo desses profissionais. Para trazermos a discussão conceitual para o âmbito da literacia em saúde, ressaltamos a especial contribuição de Brún (2013), representante da área de saúde - Health Sector19 - no Cilip Information Literacy Group20, grupo que incentiva o debate e a troca de conhecimento em todos os aspectos da information literacy. Segundo a autora, ao focalizar o aspecto do “encaixe da literacia em informação no setor da Saúde” o termo literacia em informação não é amplamente usado no setor da saúde, mas o conceito é amplamente reconhecido por ser um componente importante da medicina baseada em evidencias. Referindo-se à Medicina Baseada em Evidências - MBE, a autora esclarece que esta consiste em "integrar a experiência clínica individual com a melhor evidência clínica externa, disponível a partir de pesquisas sistemáticas para alcançar a melhor assistência possível ao paciente” (BRÚN, 2013, tradução nossa). Ainda sobre a MBE, Brún (2013) assim resume o significado do termo: “trata-se da experiência (ou expertise) clínica em conjunto com as melhores evidências de pesquisa e as preferências do paciente” (BRÚN, 2013, tradução nossa). Em relação ao papel dos profissionais de saúde, ainda conforme Brún (2013, tradução nossa), estes: 19 20 http://www.informationliteracy.org.uk/information-literacy/il-health-libraries/ http://www.cilip.org.uk/about/special-interest-groups/information-literacy-group 39 Têm que fundamentar as suas decisões clínicas com a melhor evidência disponível. E é aí que a literacia em informação é essencial. Os profissionais de saúde precisam estar cientes de como buscar informações de boa qualidade e serem capazes de apreciar o conteúdo encontrado. Isso leva um longo tempo, e é uma habilidade difícil de aprender. Portanto, os bibliotecários de saúde têm um papel fundamental a desempenhar. Sobre a atuação que lhes é demandada, Brún (2013, tradução nossa) acrescenta que estes Atendem a pedidos de busca (pesquisa) e dão treinamentos para desenvolver habilidades de avaliação crítica ou realizam as pesquisas bibliográficas em nome dos profissionais de saúde. Como consequencia, o papel do bibliotecário de saúde mudou significamente ao longo dos últimos anos, com a introdução de bibliotecários clínicos e bibliotecários de extensão. A atuação destes atores bem como as demandas que lhes são endereçadas na área da saúde, sem dúvida alguma, permitem realçar a importância da discussão sobre a literacia informacional no âmbito desta área, onde se abriga a presente investigação, especialmente no ambiente da biblioteca especializada, hospitalar e universitária do HUCFF da UFRJ. 2.2 Interação informacional no processo de literacia Para discorrermos sobre interação no processo de literacia na área de saúde, inicialmente, tomamos por base Yves-François Le Coadic (2004) e sua clássica obra publicada originalmente com o título La science de l’Information. Conforme lembra o autor, a Ciência da Informação tem por objeto “o estudo das propriedades gerais da informação (natureza, gênese, efeitos), e a análise de seus processos de construção, comunicação e uso”. Nosso foco versa sobre ‘interação informacional’ que ao lado da ‘necessidade de informação’ engloba também a noção de “uso da informação”. Com relação ao uso, Le Coadic afirma que “usar informação é trabalhar com a matéria informação para obter um efeito que satisfaça a uma necessidade de informação” (LE COADIC, 2004, p. 38). Aqui, tal necessidade compreende a tomada de decisão clínica, a atualização profissional e a pesquisa científica, todas referidas ao cuidado e à assistência em saúde num ambiente hospitalar universitário. Considerando as concepções de Le Coadic (2004, p. 43) concernentes à interação informacional, o autor adverte que As consultas que o usuário formulará e a interação informacional que ocorrerá na forma de diálogos em que se alternarão perguntas e respostas constituem a base das dinâmicas características dos fenômenos de uso da informação e também dos diferentes usuários. 40 Nesse sentido, elenca três elementos: a consulta, o diálogo e as interações informacionais. A consulta, um indicador das necessidades de informação. A consulta é uma solicitação que se faz a alguém que pode ser uma pessoa ou um computador, para se informar sobre algo. A consulta é um indicador das necessidades de informação, sendo assim, variável fundamental no setor informação. O diálogo. O componente central de todo sistema de informação é a interação entre o usuário e o sistema, diretamente ou por intermédio de terceiros, de intermediários. Normalmente assume a forma de uma conversa, um diálogo entre os dois participantes: pessoa-pessoa ou pessoa-máquina. As interações informacionais. A interação social, a negociação suscetível de levar a um intercâmbio de informações, é função de certo número de fatores, como as pessoas que participam, as máquinas, as técnicas informáticas e o contexto em que se dá a interação. (LE COADIC, 2004, p. 43-45, grifo nosso) Com relação à consulta, o autor destaca que “se dá ênfase à bibliografia e aos recursos disponíveis no acervo, e se dá pouca atenção à analise da própria consulta”; quanto ao dialógo, interroga: “qual o tipo de diálogo que se trava em um processo de interação informacional?”; e, no tocante às interações informacionais, considera três possibilidades: a) a interação pessoa-pessoa; b) a interação pessoa-computador; c) a interação pessoacomputador-pessoa. (LE COADIC, 2004, p. 45-47). Em relação à interação, tal como é concebida neste estudo, advertimos que se trata da interação pessoa-pessoa. Assim, de acordo com o autor, a “negociação das questões em um processo de interação informacional constitui um dos atos mais complexos de comunicação: uma pessoa U (usuário) tenta descrever para outra D (bibliotecário), não algo que conheça, mas algo que desconhece e que a outra pessoa D necessariamente não conhece”. (LE COADIC, 2004, p. 45). Ainda segundo o autor, “a negociação que então se estabelece não é um processo simples, mas antes uma série de interações entre o usuário e o sistema de informação, mediadas ou não por um intermediário ou uma máquina”. Cabe ao primeiro, quando solicitado (e aqui reafirmamos um papel especial para este profissional) trabalhar com o usuário, para ajudá-lo a desenvolver a estratégia de busca, levando em conta as diferentes etapas que esta envolve. Revela-se aqui o papel importante do intermediário, pois a primeira questão nem sempre expressa as reais intenções do usuário. Ele ajudará o usuário a compreender sua necessidade de informação, ao fazer sua demanda passar por alguns filtros. (LE COADIC, 2004, p. 45) Considerando o pressuposto do estudo em curso, é importante apontar que as questões trazidas pelo usuário, no âmbito do cenário onde se encontram os mencionados atores – bibliotecário e pesquisador ou profissional de saúde – emprestam ainda mais complexidade ao 41 processo de negociação, tendo em vista que a demanda do usuário quase sempre envolve questões que, por serem relativas à saúde e ao cuidado, podem significar cura, vida ou morte de um paciente. Com relação a este ponto, convém apontar o que afirmam Inazawa e Baptista (2012, p.178) sobre interação entre usuário e biblioteca em serviços de referência. Excetuando-se os casos em que o usuário tem a intenção de apenas obter uma síntese do acervo sobre determinado assunto, em bibliotecas especializadas tais como de Medicina, Direito e Agropecuária, presume-se que o levantamento das necessidades informacionais exija maior acurácia na comunicação entre bibliotecário e usuário, por se tratar de demanda bem mais precisa e atualizada. Em algumas situações, se houver erro no fornecimento do produto de informação, isso poderá ocasionar danos consideráveis. Ao ser desencadeado, o processo de interação implicará, segundo Witter (1986, p. 33) Num vasto complexo de variáveis que vão influir decisivamente na quantidade, na qualidade, na direção, no êxito do relacionamento. Entre essas variáveis estão: motivação, necessidades imediatas, atitudes, valores, autocontrole, auto-imagem, sociabilidade, conhecimento, afetividade, e outras tantas características psicológicos que marcam a individualidade de cada pessoa. Tal processo, afinal, demonstra não só um conjunto de variáveis que definem o resultado, mas que ele favorece além de uma aproximação, uma alteração no estágio de conhecimento dos envolvidos que trocam dados e informações, que resultam de uma aprendizagem que consideramos na presente pesquisa ‘literacia em informação’. Outro ponto tratado na literatura diz respeito ao conceito de “interação homeminformação”, abordado por Marchionini (2008, p. 170) que discute as mudanças relativas a cada um desses componentes. Este adverte que a “interação é um tipo especial de ação que envolve duas ou mais entidades. Para caracterizar uma interação, é necessário especificar as entidades, a natureza das ações, a gênese das ações (de iniciação), a amplitude (intensidade) e freqüência dos ciclos de reciprocidade, e as mudanças resultantes nas entidades participantes”. Considerando as importantes características do processo de interação, o autor explica que “experiências de alta interatividade são tipicamente determinadas por altas taxas de reciprocidade” (MARCHIONINI, 2008, p. 170). E acrescenta que “compreender e facilitar a interação informacional requer considerar o processo de interação, bem como as alterações resultantes em ambos, o requerente homem-informação e os objetos de informação (MARCHIONINI, 2008). Ainda com relação a esta abordagem, Marchionini (2008) aponta que: a) o papel da referência passou de pergunta-resposta para treinamento e solução de problemas, b) a ênfase 42 mudou das ferramentas (hardware e software) para as necessidades e experiências que respondam às necessidades dos usuários, e c) pessoas que sabem boas estratégias para interagir com a informação têm vantagens sobre aquelas que “nadam em um mar fluido de recursos de informação”. Um ponto importante e que deve ser sinalizado, considerando-se os dias atuais, tem relação com as TIC: Morigi; Pavan (2004) em estudo que objetivava verificar como são percebidas as novas formas de sociabilidade pelos bibliotecários e analisar, nas relações entre tais profissionais e os usuários, as mudanças decorrentes do emprego das TIC, constataram, a partir de entrevistas com bibliotecários de universidade públicas e privadas de Porto AlegreRS que: O emprego das tecnologias de informação e comunicação nas bibliotecas universitárias torna os usuários mais autônomos em relação à busca de informações em suas fontes. Entretanto, essa autonomia dos usuários não implica, necessariamente, uma substituição das formas “tradicionais” de sociabilidade, nas relações face a face e na comunicação oral. Esses processos interativos entre bibliotecários e usuários podem, inclusive, intensificar-se. Assim, por meio das narrativas, percebeu-se que há coexistência entre as formas “tradicionais” de sociabilidade e as formas “modernas”, denominadas sociabilidades virtuais. (MORIGI ; PAVAN, 2004, p. 125) Tal constatação corrobora o nosso pressuposto, pois o nosso estudo centra-se no processo de literacia em informação que tem início a partir de uma solicitação do usuário. Este, ao requerer um serviço, provoca um processo que implica na interação - “um processo de influência mútua. Na biblioteca ela ocorre quando o usuário busca uma informação solicitando o auxílio do bibliotecário” (CHAGAS; ARRUDA; BLATTMANN, 2000, p. 1). É comum que o usuário conheça o ambiente e os serviços de circulação do acervo, empréstimo, consulta dentre outros, mas normalmente não conhece a totalidade dos serviços de orientação ao usuário. Em relação à nossa pesquisa, esse usuário pode ser alguém em busca, por exemplo, do domínio das técnicas de busca, um funcionário, profissional da saúde (médico, enfermeiro, assistente social, fisioterapeuta etc) que queira uma informação para se atualizar ou para tomar uma decisão clínica; um pesquisador que, no desenvolvimento de seu trabalho, precisa recuperar um artigo e não consegue localizá-lo no portal de periódicos da Capes ou em outros meios eletrônicos. Pode ser também aquele que, ao concluir o trabalho final de sua pesquisa de tese ou dissertação, solicita a ficha catalográfica ou aquele que, ao 43 submeter um artigo, necessita, para atender às normas, indicar os termos MESH ou DECS 21 solicitando, então, na biblioteca, uma orientação para tal identificação. Este conjunto de possibilidades e tipos de demandas revela não só diferentes usuários e respectivas necessidades, como diferentes níveis de solicitação. Tais pedidos, com maior ou menor grau de complexidade, exigem a interação dos atores. A caracterização dos usuários e de suas demandas serão explicitadas nas seções 3 – onde exibimos e descrevemos o campo empírico da pesquisa – e 4 – onde examinamos casos emblemáticos que representam tais demandas. Nesse sentido, recorremos novamente a Le Coadic (2004, p.43) que, em relação à consulta concebe que esta “é um indicador das necessidades de informação, sendo assim, variável fundamental no setor informação”. Podemos completar tal afirmação com o que sinaliza Diaz Bordenave (1995, apud INAZAWA; BAPTISTA, 2012, p. 178) que focalizam a interação informacional baseada em competências conversacionais em serviço de referência: O início da interação linguística se dará quando os usuários e bibliotecários trocarem mensagens entre si. O que é pedido entrará em contato com o repertório mental do bibliotecário, o que gerará uma interpretação com “significado pessoal”. Com o intercâmbio de mensagens, o usuário e o bibliotecário construirão um contexto compartilhado, modificando seus significados pessoais. Assim, a interação incide no fator fundamental para a condução do processo de literacia em informação no campo da saúde. Ressaltamos que “a função mais importante do produto, do sistema é, pois, a maneira como a informação modifica essas atividades. Eles devem, por esse fato, ser “orientados aos usuários” (LE COADIC, 2004b, p. 210). Para tratarmos do que vimos denominando de interação no processo de literacia em informação na área da saúde e tomando como base a referida biblioteca do HUCFF, entendemos que o conceito abarca dois outros: “necessidades de informação” e “mediação da informação”. Para conceituar necessidades de informação, a fonte bibliográfica que sobretudo subsidiou a nossa abordagem, foi o estudo de Juan José Calva Gonzalez (2004). No que se refere ao conceito de “mediação da informação” ou “mediação informacional”, tomamos como base sobretudo os estudos de Kuhlthau (1993) e de Almeida Junior (2009). 2.2.1 Necessidades da informação Os estudos sobre necessidades de informação abarcam, segundo a síntese feita por Dantas (2007) as contribuições de Menzel (1960) até Calva González (2004). Por sua vez, 21 Ambos são vocabulários estruturados que apresentam terminologia padronizada em saúde. MeSH - Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine (NLM) e Descritores em Ciências da Saúde da Bireme. 44 Gasque (2010) lembra e acrescenta que Menzel (1966) inaugura uma série de revisões sobre necessidades e usos de informação nas áreas de Ciência e Tecnologia. Como mencionamos anteriormente, o estudo realizado por Juan José Calva Gonzalez (2004), que analisou profundamente em sua pesquisa o tema “necessidade de informação”, revestiu-se de grande importância para a nossa abordagem do referido conceito. O autor faz um apanhado histórico sobre o tema, examina como as necessidades de informação se manifestam, como se dá a sua satisfação, propõe um modelo teórico para o entendimento das necessidades informacionais e por fim, apresenta os métodos e técnicas utilizados na investigação realizada sobre tal temática. Com relação, aos fatores que influenciam a aparição das necessidades de informação Calva González (2004, p. 43-44, tradução nossa) sinaliza. O homem irá utilizar qualquer documento para satisfazer suas necessidades, seja áudio-visual, impresso ou eletrônico; ou ainda outro ser humano pode ser uma fonte documental para cobrir sua necessidade de informação. Portanto, somente o homem pode ser ‘portador’ de necessidades de informação. Nele, esse tipo de necessidade se localiza no nível mais alto da hierarquia das necessidades humanas; este tipo de necessidade pode ser considerado como uma das mais importantes, por ser , certamente, aquela que o distingue dos demais organismos vivos. O autor assinala que as necessidades de informação variam de acordo com a natureza do usuário, que pode ser um investigador, docente, administrador etc. Outro fator além de suas características pessoais, tem relação com o meio ambiente e com as condições em que este realiza sua atividade. Ainda sobre os fatores que originam as necessidades, o autor resume que estes podem ser externos e internos (CALVA GONZÁLEZ, 2004, p. 55). Dentre os internos relaciona o conhecimento, a experiência, as habilidades, hábitos, capacidades, interesses pessoais, motivação para suas atividades pessoais e laborais, personalidade, ambições, educação, status social, metas e objetivos pessoais. Os fatores externos são atividades que o sujeito desenvolve no trabalho, lugar onde vive, ambiente em grupo ou social de convivência do sujeito. Calva González (2004, p. 68) define o conceito de necessidades de informação como a carência que um indivíduo tem de conhecimentos e informação sobre um fenômeno, objeto, acontecimento, ação ou fato, produzida por fatores internos e externos que provocam um estado de insatisfação, mesmo que esse indivíduo se sinta motivado para satisfazê-la através de um comportamento de busca. Em resumo (CALVA GONZÁLEZ, 2004, p. 75-76, tradução nossa): 45 Podemos mencionar como um princípio ou fundamento, que as necessidades de informação consistem na carência de conhecimentos e de informação que uma pessoa apresenta sobre um fenômeno, objeto, acontecimento, ação ou feito, razão pela qual ela se coloca em um estado de insatisfação que a motiva a desenvolver um comportamento para buscar a sua satisfação. O autor assinala que tais necessidades decorrem da insatisfação do individuo e que esta se deve à carência de algum conhecimento acerca de uma informação, fenômeno, objeto ou resolução de problema; influência do ambiente (social, político, científico etc), ou às características particulares dos indivíduos que originam as necessidades de informação (CALVA GONZÁLEZ, 2004, tradução nossa). Ao relacionar os tipos de necessidade de informação, aponta a existência das seguintes divisões: por sua função, utilidade e uso; por sua forma de manifestação; por seu conteúdo; por sua posição no tempo e por seu caráter coletivo ou específico. Com relação à função, utilidade e uso, o indivíduo buscará informação para satisfazer suas necessidades ou cumprir suas atividades, incluindo-se as de estudo e pesquisa. Como forma de manifestação, entende que esta se baseia no comportamento apresentado pelas pessoas e pelos tipos de necessidades de informação, classificando-as em sua análise como: a) manifestação expressa (oral ou por meio de um comportamento); b) não expressa, podendo ocorrer devido a diferentes circunstâncias afetivas, psicológicas, cognitivas ou sociais – a necessidade de informação existe, mas o individuo não consegue expressá-la; c) forte e persistente – relaciona-se com a expressa; d) fraca. Em relação à forma do conteúdo o autor remete-se a necessidades que apresentam insuficiência de conhecimento do indivíduo, quando busca satisfazê-las para cobrir lacunas de conhecimento. Estas, então, em relação ao conteúdo, referem-se: a) resultados ou dados de investigações – os cientistas apresentam necessidades de informação cujo conteúdo versa sobre os resultados de outras investigações exclusivamente relacionadas ao seu tema de investigação; b) métodos e procedimentos – as necessidades de informação referem-se aos métodos e procedimentos científicos requerido para levar adiante sua investigação; c) princípios ou fundamentos teóricos – estes apresentam necessidades relacionadas com o tipo de conhecimento requerido pelos princípios e fundamentos teóricos relativos ao tema de sua investigação sobre o qual estão trabalhando. Ainda sobre os tipos de necessidades de informação, o autor adverte que estas dependem da pergunta feita pelo usuário, discriminando necessidades de informação concretas e orientadas para um problema (MENZEL 1966, apud CALVA GONZÁLEZ, 2004). Como necessidades concretas, afirma que estas correspondem ao momento em que o 46 usuário satisfará sua necessidade de um dado ou informação totalmente específicos e que requerem um ou talvez dois documentos para atenderem a sua necessidade. Já a necessidade orientada para um problema indica que, para satisfazer a sua necessidade de informação, o indivíduo irá requer vários documentos, sendo, por vezes, muito extensa a documentação necessária para tal. Por sua posição no tempo, relaciona: a) necessidades presentes (e imediatas) - o indivíduo apresenta uma necessidade de informação cuja satisfação, pela urgência, deverá ser atendida no momento em que essa se origina e b) necessidades futuras e potenciais envolvem a previsão e o aparecimento de pessoas com necessidades futuras. Por fim, no que concerne ao caráter coletivo ou específico das necessidades, o autor esclarece que estas se referem às necessidades de uma organização, setor, área etc. Neste caso sua necessidade se vincula às necessidades do ambiente onde se insere ou se encontra, estando sujeitas a alteração se houver mudança. Em resumo, conforme Calva Gonzalez (2004, p.108): Ao ter uma necessidade de informação, o sujeito manifesta um comportamento informativo que o leva a buscar a satisfação de tal necessidade. Porém ocorrem vários casos de indivíduos que não identificam a sua necessidade de informação, o que resulta o que resulta na expressão ineficiente da sua necessidade, levando-o a procurar um contato ou um serviço de informação. Esta subseção privilegiou o detalhamento do conceito, com vistas a possibilitar melhor entendimento da relação e do peso do mesmo no âmbito da presente investigação. Assim, percebemos que, em relação a este conceito, o aspecto que predomina no texto analisado é que a necessidade de informação é o fator que emula o processo de busca de informação. Este ensejará um outro processo, no qual poderá figurar o bibliotecário que na premissa da presente pesquisa demanda a partir de uma solicitação os trâmites que incluem o conceito de mediação, a ser tratado adiante. 2.2.2 Mediação da informação Para discorrermos sobre o conceito de mediação, com o objetivo de examinar o especial papel do bibliotecário no referido processo, recorremos inicialmente a Souto (2010, p. 75) que considera que a “interação e mediação são conceitos distintos, porém, diretamente relacionados, sendo que o nível de interação proposto, ao se planejar um serviço/sistema, tem influência direta no nível de mediação a ser adotado”. Souto adota a abordagem de Kuhlthau (1993, p. 128 apud SOUTO, 2010, p. 76) para quem a mediação consiste na “intervenção 47 humana para assistir a busca de informação e aprendizagem a partir do acesso à informação e uso”. Ainda segundo Kuhlthau (1993) um mediador é “uma pessoa que ajuda, guia, orienta, intervém no processo de busca de informação de uma pessoa”. Com relação à intermediação, este fenômeno em grande parte é impactado nas atividades da biblioteca pela Internet. Marcondes e Gomes (1997) ponderam, com relação aos recursos informacionais em redes eletrônicas, que “os novos recursos disponíveis via Internet, como os documentos de hipertexto, são acima de tudo novas ferramentas cognitivas, no sentido emprestado a elas por Pierre Lévy (1993 apud MARCONDES; GOMES, 1997, p. 61). Marcondes e Gomes (1997) sinalizam os estágios e impactos da Internet nos serviços tradicionais de informação, especialmente com relação as bibliotecas e serviços de informação acadêmicos ou de pesquisa, arrolando: Número crescente de publicações diretamente eletrônicos disponíveis na rede; enorme facilidade de acesso aos documentos; grande número de usuários acessando diretamente a informação desejada, sem a intermediação da biblioteca; em contraste, dificuldade de identificar a informação relevante na caótica “teia global” da Internet; surgimento dos chamados “agentes inteligentes” e das “meta-ferramentas de busca”, que automatizam muitas das tarefas de busca de informações de forma personalizada para usuários; com consequência da questão anterior, ausência de contato direto com os usuários no caso de uma biblioteca sendo acessada via Internet, novas maneiras de realizar o serviço de referência e necessidade de planejamento cuidadoso da interface usuário biblioteca virtual; diversificação das informações de interesse para pesquisa, extrapolando a tradicional informação bibliográfica; necessidade de novas metodologias ou de extensões das antigas metodologias biblioteconômicas para tratamento destes recursos; decréscimo relativo da importância de políticas de desenvolvimento de coleções e manutenção de acervo próprio, com a conseqüente necessidade de revisar prioridades e realocar recursos. Assim, o avanço da Internet proporciona o surgimento de serviços de informação com interfaces mais amigáveis e que favorecem maior autonomia aos usuários, quando estes decidem buscar a informação sem a intermediação de um bibliotecário. Trata-se, então, da desintermediação, que, segundo Fourie (2001, p. 269, tradução nossa) supõe a busca de informação pelo usuário final sem a necessidade de terceiros. Esta ausência de contato usuário/bibliotecário denomina-se, como visto, desintermediação da informação. O autor argumenta que, Uma vez capacitado, o usuário final poderá ter, por ele mesmo, acesso à informação, sem recorrer a intermediários, de acordo com suas próprias necessidades e habilidades - em outras palavras, ele pode fazer isso sozinho. Com isto é provável que este seja menos dependente do especialista em informação, “o que não significa que o conceito de profissional da informação mediador é obsoleto: nem todos os usuários finais têm tempo ou interesse em fazer suas próprias pesquisas. 48 É importante sinalizar, com apoio de Souto (2010, p. 77) que “embora a independência dos usuários no processo de busca de informação seja algo desejado e estimulado, acredita-se que sempre haverá a abertura para algum nível de mediação e/ou intermediação, dependendo do contexto e da complexidade envolvidos no processo de busca”. Cabe assinalar um outro conceito fundamental - recuperação da informação – no âmbito das áreas da biblioteconomia e da ciência da informação. Termo cunhado por Calvin Mooers (1951 apud SARACEVIC, 1996, p. 44) que destacou que ele "engloba os aspectos intelectuais da descrição de informações e suas especificidades para a busca, além de quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas empregados para o desempenho da operação." Saracevic (1996, p. 45) resume que o trabalho com a recuperação da informação foi responsável Pelo desenvolvimento de inúmeras aplicações bem sucedidas (produtos, sistemas, redes, serviços). Mas, também, foi o responsável por duas outras coisas: primeiro, pelo desenvolvimento da CI como um campo onde se interpenetram os componentes científicos e profissionais. Certamente, a recuperação da informação não foi a única responsável pelo desenvolvimento da CI, mas pode ser considerada como principal; ao longo do tempo, a CI ultrapassou a recuperação da informação, mas os problemas principais tiveram sua origem aí e ainda constituem seu núcleo. Segundo, a recuperação da informação influenciou a emergência, a forma e a evolução da indústria informacional. Novamente, a recuperação da informação não foi o único fator, mas o principal. Como a CI, a indústria da informação atualmente não é apenas recuperação da informação, mas esta é o seu componente mais importante. A figura a seguir destaca o ciclo da comunicação da informação conforme Lancaster (1977 apud FIGUEIREDO, 1979, p. 135). 49 Figura 4 – Ciclo da comunicação da informação. Fonte: Figueiredo, 1979, p. 135, adaptada por Gomes (2010)22 As atividades expostas no ciclo se mantêm, até os dias de hoje, ajustadas à intervenção ou presença das TIC. Com relação à função “organização e controle”, assinalada por Lancaster, nota-se que a atribuição dada a esta função não é exclusividade das bibliotecas e centros de documentação, incluindo-se, portanto, as plataformas eletrônicas23. Uma vez identificadas as suas necessidades de informação, o usuário poderá ou não solicitar auxílio do bibliotecário. Nosso estudo focaliza o usuário que solicita orientação ou ajuda do bibliotecário. Quando isto acontece, temos o bibliotecário atuando como mediador da informação, essência de seu papel, por meio do serviço de referência. 2.2.2.1 Serviço de referência Conforme Grogan (2001, p. 50) a expressão “serviço de referência” aplica-se à assistência efetivamente prestada ao usuário que necessita de informação. Já a expressão processo de referência “passou a ser empregada, ao longo dos últimos 30 anos, para denominar, em sua totalidade, a atividade que envolve o consulente e durante a qual se executa o serviço de referência (GROGAN 2001, p. 50). Ainda segundo este autor, “este processo gravita em torno do ponto de contato inicial, quanto o consulente formula sua consulta ao bibliotecário, mas remonta ao momento em que o consulente reconheceu a 22 Figura original adaptada de Figueiredo (1979, p. 135) e por Gomes (2010) para compor apresentação de aula. No contexto das bibliotecas das universidades e dos centros de pesquisa brasileiros, grande destaque se dá ao Portal de Periódicos da Capes, ficando a cargo das mencionadas bibliotecas o gerenciamento para divulgação, busca e recuperação, bem como acesso a este recurso. 23 50 existência do problema”. O contato inicial indicado por Grogan (2001) se assemelha à maneira como Le Coadic (2004) se refere à “consulta”, apontada por este como um “indicador das necessidades de informação. Para o autor, trata-se “de variável fundamental no setor de informação”. Grogan (2001, p. 51) sinaliza que “é fundamental não perder de vista a transação como um todo”. De acordo com James Retting (apud GROGAN, 2001, p. 51) trata-se de “um processo essencialmente de comunicação interpessoal com a finalidade específica de satisfazer a necessidades de informação de outrem”. Na concepção de Grogan (2001) o processo de referência, que este denomina “processo normal de referência”, é essencialmente uma tarefa ou função do bibliotecário. Composto de oito passos – que podem implicar em sucessivos retornos à consulta ou às vezes podem se fundir – inclui o problema, a necessidade de informação, a questão inicial, a questão negociada, a estratégia de busca, o processo de busca, a resposta e a solução. Mais precisamente Grogan (2001) descreve: a) Problema: o processo é iniciado com um problema que atrai a atenção de um usuário potencial da biblioteca; b) Necessidade de informação: nesse ponto, talvez seja vaga e imprecisa. A motivação pode simplesmente estar no desejo de conhecer e compreender, ou até mesmo numa ‘mera’ curiosidade; c) Questão inicial: o usuário formula a questão. Até aqui, enquanto o processo envolve somente a pessoa que está às voltas com o problema, ocorre uma comunicação intrapessoal, podendo ou não resultar numa relação interpessoal; d) Questão negociada: A questão inicial formulada pelo consulente pode às vezes exigir maiores esclarecimentos ou ajustes, para se ter certeza de que corresponde de forma mais precisa à necessidade de informação subjacente. A questão, em seguida, é comparada com a maneira como as informações são geralmente organizadas na biblioteca e, mais particularmente, nas fontes de informação específicas existentes em seu acervo ou em outros lugares. Tal comparação revela com freqüência que a questão exige uma certa redefinição ou reformulação de modo a permitir um cotejo mais adequado com a terminologia e a estrutura das fontes de informação a serem consultadas; Com relação a este passo, especificamente na área na qual encontra-se focalizado o nosso estudo, os principais recursos disponíveis para recuperação da informação usam tanto os campos para descrição do documento quanto os campos para indexação de assunto, neste caso utilizando o vocabulário controlado DECS. Esta peculiaridade impõe ao pesquisador 51 desta área e aos bibliotecários que nela atuam o domínio para identificar os termos padronizados nesta linguagem, específica da área da saúde. De uma forma geral, esse passo exige negociação porque o usuário não considera, até por desconhecer, em grande parte, a possibilidade de ajuste para uso deste vocabulário, ao expressar a sua necessidade de informação. Dentre o conjunto de passos é sem dúvida o mais complexo; e) estratégia de busca: a primeira decisão diz respeito em grande parte “a uma análise minuciosa do tema da questão, identificando conceitos e suas relações, e, em seguida, traduzindo-os para um enunciado de busca apropriado à linguagem de acesso do acervo de informações. Neste ponto, o consulente pode prestar uma grande ajuda ao bibliotecário” (GROGAN, 2001, p. 53). A segunda decisão Implica escolher entre vários caminhos possíveis. O êxito dependerá do conhecimento íntimo das várias fontes de informação disponíveis para pesquisa, experiência em sua utilização e aquela intuição que todos os bibliotecários de referência reconhecem e que tem sido tão comentada, mas que ninguém consegue explicar. Tal processo envolve três etapas: seleção da categoria da fonte, definição da fonte e, por último, dos pontos de acesso específicos dentro da fonte escolhida. Segundo Grogan (2001) tais etapas consistem nos seguintes passos: formulação do enunciado, a escolha das fontes, a seleção do caminho de busca e o processo da própria busca. Aqui, o usuário e o bibliotecário já têm que estar de posse do conjunto de termos para busca, englobando os conceitos iniciais, os termos padronizados (termos do DECS, descritores), os termos sinônimos, os termos em inglês. Mediante a relação estabelecida entre ambos, estes poderão pensar como as estratégias serão elaboradas bem como controlar as estratégias realizadas. Cada fonte de informação ou base de dados possui suas próprias características, implicando, assim, na adaptação dos termos no momento da seleção dos campos. Algumas bases de dados consideram os descritores de assunto do DECS para recuperação da informação e outras não consideram, porque utilizam, neste caso, a indexação automática. Neste caso, diferentes ajustes deverão ser feitos até que se esgotem as possibilidades de recuperação nas bases f) Processo de busca: para Grogan (2001) As buscas mais eficazes são aquelas em que a estratégia de busca é suficientemente flexível para comportar uma mudança de curso, caso assim o indique o andamento da busca [...] Os puristas alegariam que isso é tática e não estratégia, mas, como muitas das principais fontes de informação são deficientes em termos de estrutura lógica ou coerência interna, a maleabilidade passa a ser um atributo conveniente do bibliotecário de referência. 52 g) Resposta: “na maioria dos casos, o bibliotecário criterioso e experiente encontrará uma ‘resposta’, porém isso não constitui absolutamente o fim do processo. O que o bibliotecário tem em mãos nessa etapa é simplesmente o resultado da busca” (GROGAN, 2001, p. 54). A análise do resultado é uma tarefa do pesquisador/solicitante que pode contar com o bibliotecário na análise. Este pode observar e perceber novos termos que se apresentem nos resultados para composição de novas estratégias de buscas; h) A Solução: se realizada pelo bibliotecário “será somente uma solução potencial [...] Também é de boa prática o bibliotecário e o consulente avaliarem juntos o ‘produto’ da pesquisa, e que ambos o aprovem antes de chegar de comum acordo à conclusão de que o processo foi concluído” (GROGAN, 2001, p. 54). Esta etapa significa identificar, recuperar e acessar uma informação para atender a uma necessidade informacional, que pode ser de atualização, sem obrigação de aprofundamento ou esgotamento das bases de dados ou para fundamentar uma pesquisa, que implica no planejamento, controle e esgotamento dos recursos de informação para compor uma revisão de literatura, fundamentação teórica e/ou revisão sistemática. Com relação ao processo de busca de informação, cumpre acrescentar que, no tocante às teorias e modelos a ele relativos, Euclides e Fujita (2007) mencionam os principais pesquisadores que o examinaram: Tom Wilson (1981), Brenda Dervin (1983), David Ellis (1989) e Carol Kuhlthau (1991). Estes autores aparecem na literatura como os precursores do paradigma orientado ao usuário. O modelo de Tom Wilson24 (1981) aborda information behavior – comportamento informacional; Brenda Dervin25 (1983) elabora a teoria de sensemaking – produção de sentido; David Ellis26 (1989) information seeking Behavior – busca de informação e Carol Kuhlthau27 (1991) information search process (ISP) – processo de busca de informação (ISP). O modelo Information Search Process (ISP), foi desenvolvido pela mencionada Kuhlthau (1991). A “autora é uma das precursoras na área de busca da informação e seu modelo sobre o processo de busca de informações é referenciado na maior parte dos trabalhos 24 WILSON, Tom D. On user studies and information needs. Journal of documentation, v. 37, n. 1, p. 3-15, 1981. Disponível em: http://www.informationr.net/tdw/publ/papers/1981infoneeds.html. Acesso em: 22 mar. 2014. 25 DERVIN, Brenda. An overview of sense-making research: concepts, methods, and results to date. The Author, 1983. 26 ELLIS, David. A behavioural approach to information retrieval system design.Journal of documentation, v. 45, n. 3, p. 171-212, 1989 27 KUHLTHAU, Carol C. Inside the search process: Information seeking from the user's perspective. JASIS, v. 42, n. 5, p. 361-371, 1991. Disponível em: http://ptarpp2.uitm.edu.my/silibus/insidesearch2.pdf . Acesso em: 22 mar. 2014 53 que incluem estudo de usuários” (ARAÚJO; BRAGA; VIEIRA, 2010, p. 186). Estes observaram em artigo sobre a contribuição de Kuhlthau que “as pesquisas dos autores brasileiros buscam, nos trabalhos da autora, as definições de “incerteza”, “construtivismo”, “letramento”, entre outras (ARAÚJO; BRAGA; VIEIRA, 2010, p. 195). A tabela abaixo expõe o modelo formulado pela autora, composto de seis estágios que representam uma necessidade de informação. São eles: iniciação, seleção, exploração, formulação, coleta e apresentação. Para cada estágio analisa três níveis de percepção: pensamento, sentimento e ação. Garcia (2007) apresenta, na figura 5 a seguir, a tradução da tabela que representa os estágios do modelo de Kuhlthau (KUHLTHAU, 1991 apud GARCIA, 2007, p.99). Figura 5 – Modelo do processo de busca (ISP) Fonte: GARCIA (2007, p.) Garcia (2007, p. 96-99) assim apresenta a descrição dos estágios do modelo de Kuhlthau (KUHLTHAU, 1991 apud GARCIA, 2007, p.99): A ‘iniciação’: é quando uma pessoa percebe uma falta de conhecimento ou entendimento, os sentimentos de incerteza e apreensão são comuns. Neste momento a tarefa é somente reconhecer a necessidade de informação. Durante a ‘seleção’ a tarefa é identificar e selecionar o tópico geral para ser investigado ou a abordagem a ser procurada. Sentimentos de incerteza frequentemente dão lugar para uma perspectiva mais otimista, depois que a seleção é feita, e há um estado de preparo para começar a busca; - A ‘exploração’ é caracterizada por sentimentos de confusão, incerteza, e dúvida os quais freqüentemente aumentam no decorrer do tempo. A tarefa é investigar informação sobre o tópico geral para estender a compreensão pessoal. - ‘Formulação’ é o ponto decisivo do ISP quando sentimentos de incerteza diminuem e aumenta a confiança. A tarefa é formar um foco da 54 informação encontrada. - Coleção é o estágio do processo quando as interações entre o usuário e as funções do sistema de informação estão mais efetivas e eficientes. Neste momento, a tarefa é juntar a informação relacionada com o tópico focalizado - Na ‘apresentação’, sentimentos de ‘alívio’ são comuns com uma sensação de satisfação se a busca for bem sucedida ou decepção se ela não o for. A tarefa é completar a busca e preparar para apresentar ou, caso contrário, usar o que se encontrou. Garcia (2007, p. 100) adverte ainda que: Um outro aspecto que deve ser observado no modelo de Kuhlthau (1991, 1993) é que o modelo indica três pontos principais para os profissionais da informação que trabalham com indivíduos que desenvolvem tarefas complexas (pós-graduandos e pesquisadores, por exemplo). Primeiro, que a busca de informação é um processo ao longo do tempo (contínuo), em lugar de ser um único evento. Segundo, que a busca de informação é um processo holístico de busca de significado. Terceiro, que a busca inicial de informação frequentemente aumenta a incerteza em lugar de diminuí-la. [...] Como os estados de conhecimento mudam para pensamentos mais claramente focalizados, uma mudança paralela ocorre e os sentimentos de confiança aumentam. É a incerteza que, devido a um lapso de entendimento, uma lacuna de significado ou um constructo limitado, inicia o processo de busca de informação. Na abordagem que elegemos para nosso estudo, os procedimentos para recuperar e acessar a informação consistem numa forma de aprendizado. Os atores envolvidos no processo interagem e aprendem conforme cada passo dado, para que haja o sucesso nas buscas e, por conseguinte, a alteração do estágio inicial de conhecimento de ambas as partes. Na seção subsequente, referente ao marco empírico desta investigação, apresentamos a Biblioteca do HUCFF, os serviços por esta oferecidos, as fontes de informação mais utilizadas – ressaltando suas especificidades e recursos em plataformas eletrônicas – e tratamos do detalhamento dos procedimentos envolvidos na recuperação da informação na área da saúde. Para tanto, a seção também contempla a descrição dos perfis dos atores sociais que atuam na referida biblioteca, bem como abordamos a especificidade relacionada às revisões sistemáticas. 55 3 MARCO EMPÍRICO: O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO E A BIBLIOTECA O campo empírico da pesquisa inclui, como o título da presente seção indica, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, vinculado à UFRJ e a Biblioteca do HUCFF e do Instituto de Doenças do Tórax28. Em relação ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) abordamos a sua história e atribuições, condizentes com o contexto do ensino universitário na área da saúde. Na sequência, descrevemos a Biblioteca Setorial do HUCFF, destacando os bibliotecários que nela atuam, em termos das funções que os mesmos exercem, caracterizamos a tipologia do usuários que a frequentam, os serviços de informação por ela prestados, bem como os produtos que desenvolve e as principais fontes de informação utilizadas. Na área da saúde, os princípios da medicina e da prática baseada em evidências (MBE, PBE) são, hoje, as principais influências no que diz respeito aos processos básicos da atividade científica na área, conforme aprofundamos na subseção “Revisão Sistemática”. 3.1 O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Remontando às origens mais antigas do HUCFF, recorremos a Strauss e Leta (2009) que descreveram a história da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e o jovem Hospital Universitário Clementino Fraga Filho29. Com relação a tal historicidade destacamos alguns pontos assinalados pelos autores. Remontando às origens da “bicentenária Faculdade de Medicina da UFRJ”, mostram que esta foi criada “pelo príncipe regente dom João, em 1808, com o nome de Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia e instalada no hospital real militar, no morro do Castelo”. 28 O nome que agora esta biblioteca recebe deve-se à incorporação, no ano 2000, do acervo do Instituto de Doenças do Tórax, outra unidade da UFRJ, situada nas mesmas dependências do HUCFF (IDT, 2014; Saramago, 2007). 29 No mencionado artigo, Strauss e Leta (2009) investigam as relações entre ensino, pesquisa e assistência médica, “buscando compreender como se posicionam sobre o tema alguns dos atuais docentes da Faculdade de Medicina da UFRJ (...) e qual a influência da conquista de um hospital próprio não só para o ensino e assistência como também para a pesquisa”, revelando assim, a ligação dos temas mencionados com o HUCFF. 56 Strauss e Leta (2009, p. 1029) apontam que “os médicos na colônia eram, então, os poucos brasileiros que se tinham graduado na Europa e raros estrangeiros que aqui vinham exercer a profissão”. Eles acrescentam Em 1856, a Faculdade de Medicina foi transferida para o prédio do Recolhimento das Órfãs, na rua Santa Luzia, ao lado da Santa Casa de Misericórdia. Cabe destacar que foi ali, a partir de 1884, na gestão de Vicente Cândido Figueira de Sabóia (1880-1889), que o ensino na faculdade passou por ampla reforma. Seu principal aspecto consistiu na introdução do ensino prático de todas as disciplinas médicas, rompendo com o predomínio, até então vigente, do ensino exclusivamente teórico. Strauss e Leta (2009, p. 1030) indicam também que “só em 12 de outubro de 1918, (...) a centenária instituição teve inaugurado um prédio próprio, o da Praia Vermelha”. Os mesmos autores destacam que “pouco menos de dois anos depois, em 7 de setembro de 1920, essa Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica e a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, agrupadas, formaram a primeira universidade do país, a Universidade do Rio de Janeiro”. A figura 1, a seguir, apresenta o antigo prédio da Faculdade Medicina na Praia Vermelha. Figura 6 - Antigo prédio da Faculdade Medicina na Praia Vermelha. Fonte: Página da Faculdade de Medicina da UFRJ30(2014). Dando um grande salto no tempo, vimos, no texto citado que em 1973 a Faculdade de Medicina foi transferida para o campus da Cidade Universitária, na ilha do Fundão e que em 1º de março de 1978, foi inaugurado o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho 30 http://www.medicina.ufrj.br/colchoes.php?id_colchao=1 57 (HUCFF) (STRAUSS; LETA, 2009, p. 1031). Segundo estes autores o hospital “tornou-se, progressivamente, a construção de maior visibilidade e referência social, em substituição à Faculdade de Medicina” embora “regimental e estatutariamente a Faculdade de medicina e o HUCFF não se confundem. Com relação à denominação do hospital universitário, esclarecem que, conforme Boletim ... (1985, apud STRAUSS; LETA, 2009, p. 1031-1032). A atual denominação foi sugerida ao Conselho Universitário da UFRJ em novembro de 1985, logo após o afastamento, a pedido, do primeiro diretor e criador da instituição. Em ata da reunião está consignado que, após aprovação de voto de louvor ao professor Fraga, o então reitor, professor Horácio Macedo, “propôs que fosse prestada ao ilustre mestre uma homenagem de forma permanente, ou seja, dando-se o nome de Clementino Fraga Filho ao Hospital Universitário, tendo sido a proposta aprovada unanimamente, com aplausos calorosos”. O professor Clementino Fraga Filho foi presidente da comissão de implantação do HUCFF e também seu primeiro diretor. Segundo Fraga Filho (1990) a construção do HUCFF teve início em 1950, após limitações de recursos, mudanças políticas e num período de 28 anos o hospital iniciou seu funcionamento em proporção menor a do seu projeto inicial. A figura 7, apresentada a seguir, mostra a vista aérea do HUCFF na época de sua implantação. Figura 7 - Vista aérea do Conjunto de Ciências e Saúde na época de Implantação Fonte: Página do HUCFF31 (2014) O HUCFF é um centro de excelência em assistência, ensino e pesquisa, definido em seu Regimento como órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Vinculado ao Ministério da Educação e ao Sistema Único de Saúde (SUS) atende, somente, a partir do encaminhamento realizado através da Central de Regulação32, pois são encaminhados para o hospital universitário casos complexos para que sejam tratados e investigados pela instituição. 31 http://www.hucff.ufrj.br/institucional/historico É responsável pelo agendamento das consultas e exames; regulação dos procedimentos ambulatoriais de média e alta complexidade e autorização dos procedimentos de alto custo (APAC). É o local que recebe as solicitações de atendimento, avalia, processa e agenda, garantindo a assistência integral de forma ágil e qualificada aos 32 58 Integra o complexo hospitalar da UFRJ, composto por três hospitais e seis institutos33, ocupa 110 mil metros quadrados na Ilha do Fundão. Atende os pacientes, realiza as aulas práticas e as pesquisas nesta estrutura. Situa-se no campus da Ilha do Fundão, na Rua Rodolpho Paulo Rocco, 255 - Cidade Universitária no município do Rio de Janeiro. Strauss e Leta (2009, p.1031) afirmam que o mesmo “é o maior campo de treinamento dos alunos e local de trabalho da maior parte do corpo docente da Faculdade de Medicina”. De acordo com HUCFF (2014) tem como visão “ser um centro de excelência em assistência, ensino e pesquisa”. Sua missão institucional volta-se para o desenvolvimento de Ações de ensino e pesquisa em consonância com a função social da universidade, articuladas à assistência à saúde de alta complexidade e integradas ao Sistema Único de Saúde, provendo ao seu público atendimento de qualidade de acordo com princípios éticos e humanísticos (HUCFF, 2014). Seus objetivos institucionais são a) Operar de forma articulada, atendendo às demandas técnico-científicas das unidades de saúde do SUS e do Sistema Suplementar; b) Propiciar a realização de cursos de pós-graduação e de especialização das unidades docentes, enfatizando os programas de Residência Médica e Residência Interdisciplinar, atividades educacionais de responsabilidade do HUCFF; c) Propiciar um ambiente de estímulo à pesquisa, dando ênfase à integração nos diversos setores de ciências da saúde; d) Contribuir para a formação da equipe de saúde, graças ao trabalho conjunto e à co-participação nas responsabilidades, dentro do respeito às normas do exercício profissional (HUCFF, 2014). Em junho de 2010, houve um abalo estrutural na construção do hospital, conhecida como “perna seca”, levando à interdição do prédio. A Comissão de Planejamento da Reitoria, a Administração Geral do HUCFF e a Defesa Civil decidiram pela implosão do anexo que aconteceu em 19 de dezembro 2010 (COORDCOM UFRJ, 2010). usuários do Sistema de Saúde, a partir do conhecimento da capacidade de produção instalada nas unidades prestadoras de serviços”. (DENASUS/MS). 33 Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Hospital Escola São Francisco de Assis (HESFA), Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), Maternidade Escola (ME), Instituto de Ginecologia (IG), Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB), Instituto de Doenças do Tórax (IDT), Instituto do Coração Edson Saad (ICES). 59 Figura 8 - Seqüência de imagens da implosão. Fonte: Adriano Ferreira Rodrigues (2010) O HUCFF caracteriza-se pela multidisciplinaridade. Nele atuam servidores, profissionais de variadas formações e funções, como: pesquisadores, professores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros. Atuam também os residentes (médicos e multiprofissionais), estudantes de medicina e estagiários de diversos cursos. Dentre as especialidades médicas e/ou áreas de atuação, podemos mencionar algumas (HUCFF, 2014): Clinica médica, cirurgia geral, cardiologia, cirurgia plástica, cirurgia torácica, coloproctologia, dermatologia, doenças infecciosas e parasitárias, endocrinologia, epidemiologia, gastroenterologia, ginecologia, hematologia, hemoterapia, imunologia, medicina nuclear, medicina física e reabilitação, oftalmologia, nefrologia, neurologia, neurocirurgia, nutrologia, odontologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia e traumatologia, otorrinolaringologia, pneumologia, psiquiatria, psicologia médica, quimioterapia, radioterapia, reumatologia, terapia intensiva, controle de infecção hospitalar, urologia, além de fisioterapia, fonoaudilogia, enfermagem, serviço social etc. A Assistência subdivide-se em (HUCFF, 2014): Ambulatório, divisão médica, divisão de enfermagem, divisão de apoio assistencial, comissão de direitos dos pacientes, coordenação geral de transplantes, Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), Time de Cateter Comissão Multiprofissional de Trabalho voltado à Terapia Intravenosa (TIV). A pesquisa distribui-se em Unidade de Pesquisa Clínica, LaNCE (Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias) e Comitê de Ética em Pesquisa. E o ensino é representado pela Coordenação de Atividades Educacionais – CAE (HUCFF, 2014). Nas instalações do HUCFF são desenvolvidos doze cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde (CCS), programas de pós-graduação Stricto Sensu, sob responsabilidade das unidades acadêmicas, e Lato Sensu, Residência Médica e Multiprofissional, sob a 60 orientação da CAE, além de cursos de aperfeiçoamento e especialização, também sob responsabilidade das unidades acadêmicas (HUCFF, 2014). A CAE organiza, administrativamente, as atividades didáticas fornecendo apoio em salas de aula e cuidando das questões relacionadas ao corpo discente. Organiza-se em coordenações adjuntas, Residência Medica e Multiprofissional, Cursos de Educação Continuada. E ainda secretarias de graduação e pós-graduação (HUCFF, 2014). Suas atividades de maior relevância são as relacionadas aos programas de Residência, sobre os quais exerce influência direta, respeitando a orientação acadêmica do corpo funcional do hospital neles envolvido. A CAE também é responsável administrativamente pela Biblioteca do HUCFF ambiente onde nossa pesquisa se desenvolve e que será apontada na seção seguinte (HUCFF, 2014). No Brasil são oferecidos vários cursos de especialização, em sua maioria, por hospitais universitários desde que estejam habilitados como hospital de ensino. Este é definido pelo Ministério da Saúde (MS) (BRASIL. MS, 2004) como: Hospital certificado em conjunto pelos ministérios da Saúde e da Educação como instituição de assistência que participa da formação de estudantes de graduação e de pós-graduação, contribui para a pesquisa, o desenvolvimento científico e a avaliação tecnológica em saúde e que atende a compromissos de educação permanente em saúde junto ao Sistema Único de Saúde (SUS). O HUCFF é um hospital de ensino “constitui-se num espaço de referência da atenção à saúde para a alta complexidade, a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento tecnológico” (BRASIL, 2004). Para exercer tais atividades, o hospital de ensino precisa ser certificado e avaliado pelos ministérios da Saúde e Educação. Ambos avaliam se a instituição está apta para exercer atividades curriculares nas áreas de Saúde; se aprovado e certificado, as instituições credenciadas terão seus nomes publicados e divulgados no diário oficial da união. Conforme advertem Zicchi, Bittar e Haddad (1998, p. 311) “por sua inserção na atividade universitária, que envolve simultaneamente docência, pesquisa e prestação de serviços de saúde à comunidade, a complexidade inerente deste tipo de hospital é maior do que a de outros tipos de hospital”. Neste campo são oferecidas diversas especializações nas áreas profissionais da saúde, dentre elas destacam-se as modalidades de residência médica e multiprofissional. Para o credenciamento de um hospital de ensino, o mesmo deve incluir uma biblioteca que será avaliada anualmente. O Ministério da Saúde estabelece dentre os requisitos para certificação das unidades hospitalares que as mesmas devem 61 Dispor ou ter acesso à biblioteca atualizada e especializada na área da saúde, com instalações adequadas para estudo individual e em grupo, e para consulta a Bibliotecas Virtuais, de acordo com os critérios vigentes para a avaliação das condições de ensino e da Residência Médica (BRASIL, 2007, p. 1). Dessa forma, a biblioteca não só se insere no contexto do hospital universitário habilitado como hospital de ensino, como consiste em requisito exigido para tal habilitação. 3.2 A Biblioteca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho A biblioteca de hospital é conceituada de acordo com Johnson (1967 apud LIMA, 1973, p. 143): Como aquele departamento de um hospital investido da responsabilidade e autoridade para assegurar ao pessoal docente, clínico, pesquisador, auxiliar e administrativo o acesso à informação, com finalidade de habilitá-lo a prover o melhor cuidado possível aos pacientes, dentro de suas limitações de recursos. Ainda com relação à sua definição, Castillo Martín (1998 apud ALMEIDA, 2008, p. 19) assinala: A biblioteca hospitalar difere das demais bibliotecas de Ciências da Saúde, porque, além de apoiar com a informação necessária à pesquisa e docência, que se realiza em um hospital, deve ajudar a melhorar a qualidade dos cuidados ao paciente, exercendo, assim, a sua função social. Em glossário publicado pela International Federation of Library Associations (IFLA), Panella (2009, p. 16, tradução nossa) “considera uma biblioteca de hospital qualquer coleção organizada de materiais bibliográficos, programas e/ou serviços que existem em um hospital para um grupo de usuários em particular”. Salvato (1998, p. 48 apud SALASÁRIO, 2005) alerta quanto ao papel da biblioteca especializada que esta “se baseia no ‘suporte científico e tecnológico’ necessitando de uma constante atualização para atender à demanda”. O autor acrescenta ainda que a biblioteca especializada não deve estar isolada, mas em constante comunicação com outras fontes de informação e fazendo intercâmbio para, assim, suprir as necessidades de informação da instituição e/ou dos seus usuários. No âmbito da universidade, a importância da biblioteca deste ambiente é assim destacada por Ferreira (1980, p. 17, apud DANTAS 2013, p. 20). Se as bibliotecas são importantes para o ensino em geral, no ensino superior seu papel é proeminente em virtude do valor da própria universidade, pois nenhuma outra instituição ultrapassa em magnitude a contribuição universitária, a qual torna possível o formidável avanço tecnológico e científico que se registra atualmente em todos os campos do conhecimento. [...] em todo processo educacional, é decisiva a 62 influência da biblioteca, que se pode constituir num dos principais instrumentos de que a universidade dispõe para atingir suas finalidades. Nesse sentido, a biblioteca enquanto serviço de informação deve apoiar e atender as necessidades informacionais do staff profissional, médicos, enfermeiros, dentre outros, contribuindo para a fundamentação de uma decisão clínica. E, ainda, colaborando para as atividades de ensino e desenvolvimento científico, principal objetivo da universidade, no âmbito da formação e da assistência em saúde, prover e subsidiar o acesso e a recuperação da informação científica. A Biblioteca do HUCFF atende também ao Instituto de Doenças do Tórax (IDT), estando subordinada ao Diretor Executivo do IDT34. Funciona como setorial do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e ainda faz parte do Sistema de Bibliotecas e Informação35 (SIBI) da UFRJ, este, composto por 44 bibliotecas centrais e setoriais. A figura 9 a seguir mostra o layout da inauguração. Figura 9 -Biblioteca do HUCFF – layout da inauguração. Fonte: UFRJ. HUCFF (19--)36. O manual de funcionamento da Biblioteca Setorial (19--, p. 5) apresenta seu objetivo: Possibilitar o acesso a informações técnicas e científicas atualizadas à equipe de profissionais e alunos do Hospital Universitário, contribuindo para a ampliação do campo de conhecimento das diversas áreas profissionais da 34 O Instituto de Doenças do Tórax (IDT) foi fundado em 24 de outubro de 1957, pelo professor Antônio Ibiapina, sob a designação de Instituto de Tisiologia e Pneumologia (ITP), como um instituto especializado que integra o Centro de Ciências da Saúde. Suas origens porém, datam de 1951, quando a Cátedra de Tisiologia foi instalada no Hospital-Santório São Sebastião do Rio de Janeiro, tradicional hospital onde, em 1926, dera-se o início do ensino da Tisiologia no Brasil pelo professor Clementino Fraga. É uma unidade de ensino e compõe o complexo médico-hospitalar da UFRJ. Funcionava no Hospital São Sebastião e Clemente Ferreira, no bairro do Caju. 35 http://www.sibi.ufrj.br/ 36 Não foi possível estabelecer as datas referentes ao período que a foto focaliza, pelo fato desta estar contida em fonte não datada (HOSPITAL ..., sd). 63 instituição e para o desenvolvimento e aprimoramento da formação profissional de seus integrantes. Pouca alteração física ocorreu no ambiente da biblioteca, pois seu layout não permite muitas alterações. Ocorreram somente adaptações no espaço para ajuste de salas (multimídia, laboratório de informática), além de espaço de convivência, onde usuários podem conversar e se alimentar sem prejudicar o estudo dos colegas e/ou oferecer risco para o acervo. Figura 10 – Foto do ambiente atual da biblioteca (laboratório de informática e salão de consulta). Fonte: Página da Biblioteca do HUCFF37 (2014) Nos dias de hoje, a gestão da informação na área da Saúde exige muito mais esforço pela abundância das fontes e recursos informacionais. Assim, este tipo de biblioteca especializada exige que o bibliotecário ofereça serviços que se ajustem às necessidades específicas do usuário. Devendo o bibliotecário compreender o fluxo de informação que lhe é característico. A biblioteca do HUCFF tem por finalidade atender às necessidades de estudo, consulta e pesquisa de professores e alunos, bem como satisfazer as exigências do Ministério da Saúde (MS) e da Educação (MEC) para credenciamento de hospitais de ensino (BRASIL, 2002). Apóia o ensino e as pesquisas desenvolvidas na Instituição, atuando com o objetivo de promover o acesso e o uso das informações técnico-científicas necessárias para atuação e tomada de decisão no hospital. Funciona no 13º andar do HUCFF, de segunda a sexta-feira, de 7h às 16h. Seu acervo é especializado nas Áreas da Saúde e Doenças do Tórax, e é constituído de livros, obras de referência, folhetos, monografias, dissertações, teses, materiais especiais e multimídia. Seu acervo atual, conforme assinalamos anteriormente, resulta da unificação da 37 http://www.bibliotecadohucff.ufrj.br/ 64 Biblioteca do IDT a do HUCFF (Biblioteca do HUCFF, 2014). Da unificação dos acervos algumas peculiaridades de seus serviços se somaram. A biblioteca do IDT atuava como Centro Cooperante da BIREME38, por este motivo tem como responsabilidade indexar a Revista Pulmão RJ39 na base de dados Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS)40, registrar sua coleção de periódicos na Seriados em Ciências da Saúde (SECS)41, atender e solicitar por meio do Serviço de Comutação de Documentos (SCAD)42 pedidos de artigos dos seus periódicos especializados. Já a biblioteca do HUCFF participava do SCAD, sendo esta uma categoria de que só permite a solicitação de artigos para outros acervos. Além do SCAD participa do Programa de Comutação Bibliográfica (COMUT)43 do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), podendo solicitar artigos disponíveis nos acervos de outras bibliotecas universitárias e instituições brasileiras em Ciência e Tecnologia. Estas atividades cooperativas caracterizam a biblioteca do HUCFF como um serviço de informação que estabelece parcerias e trabalha em rede para atender as necessidades de informação de seus usuários. Cunha (2008, p.294) considera um produto informativo ou de informação. Produto cuja função é facilitar ao usuário de um sistema a obtenção da informação, isto é adquirir dados que possam ser usados para decidir ou controlar. Os livros, as bases de dados, os programas de computador e os serviços de consultoria são exemplos deste tipo de produto. Assim, serão apresentados adiante os serviços de informação oferecidos pela Biblioteca do HUCFF e os produtos por ela desenvolvidos, para dar conta da demanda e especificidade de seus usuários. De acordo com os dados de seu relatório anual (BIBLIOTECA DO HUCFF, 2014) em termos da distribuição de setores, encontram-se as seguintes seções: Laboratório de informática – para acesso à Internet e edição de texto. Oferece 06 (seis) computadores para utilização dos recursos eletrônicos de informação e elaboração de trabalhos. Seção de periódicos – acervo especializado do Instituto de Doenças do Tórax. Não corrente, o acervo é mantido para atender as solicitações de SCAD. 38 Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (http://new.paho.org/bireme/) http://www.sopterj.com.br/revista/ 40 http://lilacs.bvsalud.org/ 41 http://portal.revistas.bvs.br/?lang=pt 42 http://scad.bvs.br/php/index.php 43 http://comut.ibict.br/comut/do/index?op=filtroForm 39 65 Seção de acervo geral – composto de livros gerais de medicina e demais áreas da saúde. Setor de serviços técnicos – espaço destinado aos processos técnicos e gestão das atividades e de pessoal. Salão de estudo em grupo e individual – espaço livre destinado ao estudo e consulta do acervo. Serviço de referência e circulação – espaço para orientação dos usuários, empréstimo de publicações, suporte para realização de pesquisas bibliográficas, elaboração de levantamentos específicos e acesso a bases de dados. Sala multimídia – espaço para realização de atividades acadêmicas (aulas, reuniões), treinamento de pesquisa bibliográfica utilizando recursos audiovisuais e de multimídia. Oferece 05 (cinco) computadores, televisão de 32 polegadas, DVD e scanner. Recursos para utilização livre pelos usuários ou uso reservado mediante agendamento. Acomoda até 15 pessoas. Os dois últimos espaços se distinguem, pois requerem contato dos funcionários com os usuários, principalmente nas referidas atividades do serviço de referência. 3.2.1 Atores sociais: bibliotecário e pesquisador Com relação aos profissionais da área da saúde, Giannasi-Kaimen et al (2008, p. 11) assinalam que estes “envolvem-se sempre diante de cada paciente em um ato intelectual e não se restringem apenas à utilização de procedimentos conhecidos, o que implica na necessidade de realização de pesquisa para a obtenção de um maior grau de certeza”. Se soma a esta idéia, uma outra questão suscitada por Ceccim (2012, p. 256) sobre as competências no trabalho em Saúde especificamente relacionadas com a educação, áreas do conhecimento e profissões. O desenvolvimento de competências, no caso do trabalho em saúde, envolve a transmissão de informação, a construção do conhecimento, a aquisição do saber em cenários de prática, a aprendizagem em situações reais de trabalho e a capacidade de ser afetado pelos signos que informam o cotidiano e as necessidades sociais em saúde. Considerando a pesquisa científica e os profissionais de saúde, Giannasi-Kaimen et al (2008, p. 12) ponderam que “o exercício da profissão na área da saúde, na busca da verdade, aproxima-se muito do que se faz na pesquisa científica quando se procuram respostas a questões formuladas”. Estes autores assinalam também que: 66 Em razão da responsabilidade que assumem, os profissionais da saúde buscam descobrir a verdade e, para tanto, colhem informações, observam, criticam, testam e as corrigem quando for o caso. A verdade surge graças à evolução clínica, aos resultados dos exames complementares e a comprovações de biópsias no ato cirúrgico ou mesmo na necropsia. Desse modo, a verdade acaba por ser esclarecida e os acertos e erros revistos e, como resultado da experiência, o conhecimento é ampliado. O enquadramento dos profissionais e pesquisadores desse campo é definido pelo vocabulário controlado – Descritores em Ciências da Saúde (DECS44, 2014): Ocupações em saúde - “profissões ou outras atividades comerciais dirigidas para a cura e a prevenção de doenças”: médicos, especialistas, cirurgião dentre outros. Ocupações relacionadas com saúde -“ocupações de pessoal de saúde que não são médicos e são qualificados, por treinamento especial e freqüentemente por licença, para trabalhar em funções que dão suporte no campo de cuidados de saúde. Essas ocupações incluem, mas não está limitadas a tecnologia médica, fisioterapia, etc”. Sistemas de informação em saúde - “Sistema para a coleta ou processamento de dados a partir de várias fontes e que usa a informação para a execução de políticas em serviços de saúde, bem como para o seu gerenciamento. Pode ter versões eletrônicas ou em papel”. Gestão da informação em saúde - “Gerenciamento da aquisição, organização, recuperação e disseminação da informação em saúde”. Inclui o bibliotecário. No que diz respeito aos bibliotecários e pesquisadores da referida biblioteca, descrevem-se a seguir suas principais características. Os bibliotecários da unidade são dois profissionais, sendo uma, a bibliotecária responsável pela unidade. Suas atribuições consistem na gestão da unidade, o que implica na supervisão do trabalho de seis funcionários (assistentes e auxiliares técnico-administrativos) constando de auxílio a pesquisas, recuperação de artigos e outros documentos, apoio às consultas e uso do acervo, atendimento no setor circulação (empréstimo, devolução, renovação e reserva), comutação, preparo do material catalogado, manutenção da biblioteca, arquivamento de material bibliográfico. Além disso, planejamento e coordenação das atividades, desenvolvimento de produtos e serviços, divulgação de produtos e serviços nos meios de comunicação do hospital, auxílio a pesquisas, orientação para uso das fontes, busca bibliográfica, treinamento de usuários, orientação normativa dos trabalhos acadêmicos, processamento técnico, indexação da revista Pulmão RJ para a base de dados LILACS, 44 http://decs.bvs.br/ 67 desenvolvimento de manuais, identificação de obras raras, aquisição de material para o acervo, análise e seleção de material bibliográfico, elaboração de publicações para divulgação, manutenção da página institucional da biblioteca. No manual de funcionamento da Biblioteca Setorial (HUCFF, 19--?) constam algumas rotinas das atividades de atendimento. Por ser uma biblioteca setorial, suas atividades também compreendem as estabelecidas pela Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde (CCS) à Biblioteca Central do CCS. Como forma de ilustrar as rotinas do bibliotecário, dos auxiliares e assistentes da unidade, apresentamos em Anexo (A, B e C) o pedido de pesquisa bibliográfica à Biblioteca do CCS, o pedido de ficha catalográfica e o pedido de novos livros, periódicos ou afins. Observa-se no registro da rotina que o serviço de pesquisa bibliográfica era pago. Na seção 4, o destacado papel exercido pelos bibliotecários na mediação entre os recursos e os usuários, no processo de referência será examinado detidamente. No que concerne ao pesquisador elencam-se os seguintes perfis: alunos de pós lato sensu (residentes médicos e multiprofissionais) e stricto sensu (alunos de mestrado e doutorado), além de professores e funcionários em atividade de pesquisa. Cabe ressaltar com relação aos residentes médicos e multiprofissionais algumas de suas peculiaridades. Na primeira modalidade, convém considerar que os médicos após graduarem-se devem se especializar em uma área clínica ou de atuação. Esta é uma obrigatoriedade e tem como função complementar a formação acadêmica e também objetiva facilitar sua inserção no mercado de trabalho. O Ministério da Educação (BRASIL, 2012) aponta que a residência médica foi instituída em 1977 e a responsabilidade de seu credenciamento é da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). A residência médica do HUCFF é uma das mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro. Criada em 1978, possui atualmente 297 residentes distribuídos em 48 Programas de Residência Médica em Especialidades e Áreas de Atuação. Os Residentes do HUCFF são motivados a, paralelamente às atividades práticas e teóricas de seus respectivos Programas, participar de linhas de pesquisas dentro dos Serviços e nos laboratórios do Centro de Ciências da Saúde (HUCFF, 2014). A segunda modalidade e mais recente é a residência multiprofissional (RM), promulgada em 2005 e de responsabilidade da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS). Está associada ao movimento promovido pelo Ministério da Saúde, em conjunto com o Ministério da Educação, com vistas à formação de profissionais para atender aos princípios do Sistema Único de Saúde, em especial ao princípio da Integralidade da Atenção à Saúde. Abrange as seguintes áreas: Biologia, Enfermagem, 68 Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. As residências multiprofissionais são Orientadas pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locais e regionais, e abrangem as profissões da área da saúde, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Os programas de residência na sua maioria estão presentes em universidades públicas, mas podem ser oferecidos também por hospitais gerais, federais, estaduais, municipais etc. Ambos os programas de residência são oferecidos pelo HUCFF. Tendo seu ingresso por meio de concurso nacional, os alunos aprovados recebem bolsa de estudo e podem ficar no alojamento do hospital no período da residência. Abordamos a seguir os serviços de informação prestados pela referida biblioteca 3.2.2 Serviços de informação Como referência para descrição dos serviços prestados, utilizamos o relatório anual da Biblioteca do HUCFF (Biblioteca do HUCFF, 2013). São eles: Consulta local - A consulta ao acervo é livre, tanto para os usuários inscritos como para os não cadastrados. O acesso pode ser direto nas estantes. Para localização das obras o usuário pode consultar o Catálogo Minerva - www.minerva.gov.br. Este catálogo permite busca das obras existentes nos acervos das bibliotecas da UFRJ, possibilitando a localização (biblioteca depositária) e a identificação da disponibilidade (para consulta ou empréstimo). Inscrição - Pode inscrever-se os alunos da universidade, funcionários efetivos e extraquadro. Empréstimo domiciliar - O empréstimo de livros é permitido a todos os usuários inscritos. O limite de empréstimo é de 2 (dois) títulos pelo prazo de 3 (três) dias. O empréstimo dos periódicos é permitido para solicitação de cópia de seus artigos. Reserva - É feita, se for do interesse do usuário, sempre que uma obra solicitada estiver emprestada. Renovação – O empréstimo da obra poderá ser mantido desde que a mesma não esteja reservada. 69 Comutação bibliográfica – Solicitação de cópias de artigos de periódicos para bibliotecas de outras instituições. Obtenção pelos serviços cooperativos, COMUT/IBICT e SCAD/BIREME. Orientação normativa – Auxílio aos usuários sobre normalização e apresentação dos trabalhos científicos, de acordo com o Manual de Elaboração e Normatização de Dissertações e Teses do SIBI/UFRJ e Vancouver45. Elaboração de fichas catalográficas – São elaboradas para as dissertações e teses defendidas pela universidade, obedecendo aos padrões de catalogação e indexação. Para padronização das palavras-chave utilizam-se os Descritores em Ciências da Saúde - DECS46. Levantamento e pesquisa bibliográfica – Serviço pelo qual o usuário solicita pesquisas e/ou buscas temáticas nas bases de dados científicas públicas e nas disponíveis pelo Portal de Periódicos da Capes47. Acesso remoto ao portal de periódicos - Orientação do usuário para solicitação de login e senha para acesso em casa ao Portal de Periódicos da Capes. Recuperação de documentos – Obtenção de artigos, teses e outros documentos nos portais de texto completos gratuitos (Scielo, Portal de Periódicos Capes, bibliotecas digitais, solicitações por e-mail aos autores) e/ou pelos serviços de comutação. Impressão – Serviço que possibilita a impressão de trabalhos acadêmicos ou documentos de urgência. A impressão é de no máximo 20 (vinte) páginas, em preto e branco.O serviço deve ser pago – R$ 0,15, por folha – recolhido no setor de cópias da CAE. Apresentamos os resultados de alguns serviços oferecidos, bem como os dados consolidados nos relatórios de atividade a partir de 2010. Tais resultados caracterizam os serviços e sinalizam a sua importância para as atividades desenvolvidas no hospital. Os gráficos de 1 a 6 expressam o movimento e/ou oscilação dos serviços oferecidos na Biblioteca do HUCFF. O gráfico 1, Fluxo de usuários de 2010 a 2013, registra a entrada do usuário no ambiente da biblioteca, considera horário, curso e/ou vinculo institucional (aluno de graduação, pós-graduação, funcionário). Possibilita analisar sua frequência e dinâmica 45 O Estilo Vancouver elaborado por editores científicos da área médica no Canadá estabelece padrões para o formato de originais submetidos a suas publicações. Consta das principais revistas nacionais da área de saúde, regras disponíveis em: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html. Acesso em: 30 maio 2014. 46 http://decs.bvs.br/ 47 www.periodicos.capes.gov.br 70 Gráfico 1 – Fluxo de usuários de 2010 a 2013. . Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). A inscrição na biblioteca é condição para empréstimos dos livros, em tese, todos os inscritos utilizam o acervo e levam livros para consulta em casa. Não é necessário fazer inscrição para consulta local ou utilização dos espaços e serviços. Gráfico 2 – Inscritos na Biblioteca. Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). Os registros de consulta local e de empréstimo de livros são oscilantes e permitem visualizar o movimento de ambos os serviços da circulação do acervo. 71 Gráfico 3 – Consulta e Empréstimo Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). A atividade de recuperação de artigos científicos compreende o atendimento de solicitações de busca bibliográfica (simples e avançada) e recuperação de artigos por comutação nacional e internacional, estas atividades podem ser recebidas presencialmente ou por e-mail. Apresentam-se os registros das solicitações recebidas por e-mail pela relevância deste tipo de atendimento para a referida biblioteca, bem como o vultoso e crescente registro de busca bibliográfica e de comutação. Gráfico 4 – Recuperação de artigos científicos Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). 72 Os dados apresentados a seguir referem-se à orientação para uso da biblioteca, bem como dos recursos de informação para acesso e recuperação das informações disponíveis na internet para a área de saúde. Observa-se um decréscimo nos registros nos anos observados. Gráfico 5 - Orientação e treinamentos no uso das bases de dados, portal etc. Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). Outros serviços que merecem destaque são os de acesso à internet; elaboração de ficha catalográfica – serviço que pode ser solicitado presencialmente ou por e-mail, voltado para a padronização da descrição e dos assuntos das dissertações e teses; impressão de pequenos documentos, trabalhos acadêmicos e/u artigos, até no máximo 30 folhas. Ao usuário, professores e funcionários é permitido também o agendamento da sala de vídeo para estudo, discussão de casos e outras demandas de grupo de estudos. Tais dados apresentam uma oscilação variando no crescimento e decréscimo no período dos anos citados. 73 Gráfico 6 - Outros serviços Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). O quadro de produtos de informação demonstra os oferecidos e versão eletrônica. Recomenda se, nesta área, que os produtos sejam ou estejam em suporte ou formato eletrônico possibilitando alcançar os usuários que não podem ir no ambiente da biblioteca, dessa forma, possibilita se o contato ou informe por meio destes produtos. Quadro 1 – Relação de produtos de informação TIPO Boletins informativos Catálogos Folder Guia de uso da biblioteca Quadro de alerta/mural Relatório de atividades Sumários correntes monografias Sumários correntes periódicos Página institucional - www.bibliotecadohucff.ufrj.br Lâmina de orientação para acesso ao portal capes Lâmina de orientação - ficha catalográfica Lâmina de orientação - uso da sala multimídia OFERECE S/N S S S S S S N N S S S S SUPORTE ELETRÔNICO E E E E E E E Legenda: S – sim, N – Não, E - Eletrônico Fonte: Relatório de atividades da Biblioteca HUCFF (2014). Os resultados do atendimento prestado demonstram de uma forma geral o esforço da biblioteca para bem exercer seu papel de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão. Percebe-se na maioria das atividades o cumprimento de sua função por meio dos serviços e produtos que 74 organiza e oferece. No serviço de referência constata-se uma movimentação no atendimento que cresce e decresce no período de 2012 a 2013. A página institucional da biblioteca, criada no ano de 2013, representa uma ação importante para possibilitar a comunicação, divulgação de serviços e produtos, além de promover a recuperação e o acesso de informações científicas via biblioteca. Figura 11 – Página institucional da biblioteca do HUCFF. URL: www.bibliotecahucff.ufrj.br Fonte: Página institucional da Biblioteca do HUCFF (2014) A biblioteca é o lócus privilegiado para o aludido processo de literacia, e, para o bibliotecário, este passa a ser um compromisso assumido perante os seus usuários. Compromisso ratificado pelas inúmeras declarações e recomendações de órgãos nacionais e internacionais.48. Na seção subseqüente, descrevem se as principais fontes de informação que atendem as demandas relacionadas tanto com os estudos em andamento dos usuários em atividade de pesquisa quantos aos relacionados à atualização e tomada de decisão em saúde. 48 Declaração de Braga. Literacia dos media; Declaração de Moscou; Recomendaciones IFLA sobre Alfabetización Informacional Y Mediática; Declaração de Maceió, Alagoas (Brasil) 75 3.2.3 Fontes de informação na área de Saúde Para Mueller (2000, p. 22) uma pesquisa gera uma diversidade de publicações que variam em formato, suporte e função. Para a autora “o conjunto dessas publicações, que chamamos de literatura científica, permite expor o trabalho dos pesquisadores ao julgamento constante de seus pares, em busca do consenso que confere a confiabilidade” Ainda de acordo com Mueller (2000) é importante considerar que a área científica envolve muitas e diferentes atividades de comunicação entre os pesquisadores que de acordo com suas características podem ser chamadas de comunicação informal (além da formal), sendo que o conjunto das atividades inerentes a estes aspectos se constitui no sistema de comunicação científica de uma determinada área da ciência. Cunha (2008, p. 172) define que as fontes de informação constituem a “origem física da informação, ou lugar onde pode ser encontrada. Tanto pode ser uma pessoa, como uma instituição ou um documento. Podem ser primárias, secundárias ou terciárias de acordo com a natureza da informação”. Uma outra acepção para fonte de informação, destacada por Araújo (2006 apud PAWLOWSKI; ALMEIDA, 2012, p. 2) considera “qualquer documento, dado ou registro que forneça aos usuários de bibliotecas ou de serviços de informação, informações que possam ser acessadas para responder a certas necessidades”. Oliveira, Almeida e Quintela (2013, p. 994) comentam que “atualmente, classificar os tipos de fontes de informação não é uma tarefa fácil. (...) Distinguir com clareza as diferenças entre eles, o volume, o formato em que ocorrem e os tipos de publicações demanda uma avaliação criteriosa”. Na área de saúde existem bases de dados e fontes de informação tradicionais. Na maioria diferem em termos de sua origem organizacional e/ou editorial; podem ser de origem pública ou privada; ser de acesso livre ou controlado. Tal diversidade favorece as pesquisas por um lado e desfavorece por outro, pois seu volume também requer maior capacidade de gestão e entendimento para uso. Considerando a contribuição de Cunha e Cavalcante (2008, grifo nosso) relacionam-se os principais conceitos que o usuário precisa entender para uso dos serviços (tarefa levada a efeito pelos bibliotecários da referida biblioteca, dada à importância do entendimento de tal diferenciação”. Tais conceitos remetem às diferentes características das fontes de informação, incluindo-se as disponibilizadas na Internet. São elas: 76 Biblioteca - “coleção organizada de registros da informação, assim como os serviços e respectivo pessoal, que têm a atribuição de fornecer e interpretar esses registros, a fim de atender às necessidades de informação de seus usuários” (CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 48). Biblioteca virtual - “acervo informacional eletrônico que pode ser acessado, de forma remota, e que está hospedado em diversos computadores”(CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 53). Biblioteca digital - “armazena documentos e informações em forma digital em sistema automatizado” (CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 50). Portal - “principal porta de entrada para navegação. Em geral inclui vários tipos de recursos, tais como: correio eletrônico, fóruns de discussão, mecanismos de busca” (CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 48). Diretório - “lista de pessoas ou organizações, contendo informações como endereço, afiliação, formação profissional, dentre outras” (CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 127). Bases de Dados - “contém registros automatizados, relativos a documentos e itens bibliográficos. Pode, ou não, conter resumos e é formada por Uma série de registros bibliográficos ligados entre si, onde cada um em geral apresenta uma combinação dos seguintes componentes: número do documento, título, autor, referência da fonte, resumos, texto integral, termos ou expressões de indexação, citações ou quantidade de referências, instituição de origem do documento, ou endereço do autor, ou ambos, língua do documento-fonte, informação de uso interno, como números de classificação ou localização. (CUNHA e CAVALCANTE, 2008, p. 44) Neste caso especifico da pesquisa em curso, ambientada na área da saúde cabe a referida diferenciação, pois os recursos utilizam estas nomenclaturas, mesmo que na sua origem reúnam diferentes conceitos e/ou tipos de recursos. Ressaltamos como exemplo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) de responsabilidade da Bireme. Trata-se de uma biblioteca virtual que arranja e disponibiliza diferentes fontes de informação e/ou recursos de acesso, tais como o SCAD (serviço de comutação bibliográfica), o LIS (localizador de informações em saúde), LILACS e MEDLINE (bases de dados), Bibliotecas Virtuais por temas ou países49, Diretório de eventos50, Descritores em Ciências da Saúde (DECS) dentre outros. A BVS também pode ser caracterizada como um portal que agrupa o elenco descrito. 49 50 http://regional.bvsalud.org/php/bvsnet.php?lang=pt&country=BR&network=bvs. http://bvsalud.org/direve/. 77 Cunha (1989, p. 45) define que “as bases de dados são fontes de informação computadorizadas que podem ser pesquisadas num modo interativo ou conversacional através de um terminal de computador”. O autor destaca dois tipos bases de dados: as referenciais e as de fonte (CUNHA, 1989). A figura 12 a seguir apresenta a classificação de Cunha acrescida de uma tipologia considerada por Rowley, conforme adaptação de Gomes (2010): Figura 12 – Classificação de bases de dados Fonte: GOMES, 2010 Segundo Cunha (1989, p. 46) as bases de dados referenciais “são aquelas que contêm referências ou informações secundárias que identificam as várias fontes primárias. Estas bases não dão a resposta completa a uma determinada pergunta, mas informam aonde o usuário pode ir para obtê-la”. O autor as subdivide em bases de dados de diretórios e ou bibliográficos. As bibliográficas “contêm referências ou citações bibliográficas, com ou sem resumos, da literatura publicada em periódicos, livros, jornais, relatórios, patentes ou teses” e as de diretórios “são as que contêm referências, com ou sem resumos ou sumários, de pessoas, organizações, projetos de pesquisa, contratos (CUNHA, 1989, p. 46). Para Cunha (1989, p. 47) as bases de dados de fontes “são aquelas que contêm a informação completa (ou dados primários), as quais não requerem do usuário ir a outras fontes para obter respostas. Elas são de quatro tipos básicos: numéricas, texto completo, dicionário e gráficas” Bases numéricas — são as que contêm séries estatísticas ou dados numéricos. Em certos casos, os dados numéricos podem ser estatisticamente manipulados para produzir tabelas ou gráficos. Elas também podem incluir dados textuais. Bases de texto completo — são as que contêm o texto 78 completo de um documento, tais como decisões judiciais, legislação, artigos de periódicos ou de jornais. Elas também podem conter dados numéricos. Bases de dados de dicionários — são as que contêm manuais ou dicionários, incluindo definições, nomenclatura química, propriedades físicas etc. Base de dados gráficos — são as que contêm, sob a forma gráfica, fórmulas de química orgânica, imagens de logotipos, desenhos, figuras e outros. É o mais novo tipo de base de dados e exige software de comunicação que tenha capacidade gráfica para fazer recuperações eficientes (CUNHA, 1989). Uma questão importante que exerce grande influência ou determina o sucesso ou insucesso do processo de busca é o tipo de indexação utilizada pelas bases de dados. Sem o objetivo de aprofundar este aspecto, apresentamos alguns dos principais conceitos que os envolvem. Lima e Boccato (2009, p. 136) declaram que indexação É o processo de análise documentária que tem por finalidade identificar o assunto de que trata o documento e representá-lo através de descritores de uma linguagem documentária, de maneira a permitir a sua recuperação pelos usuários de um sistema de informação. Ainda no tocante às bases de dados, um aspecto de crucial importância refere-se aos tipos de indexação adotados. Cintra (1983 apud ARAÚJO JUNIOR, 2007, p. 21) define a indexação como “tradução de um documento em termos documentários, isto é, em descritores, cabeçalhos de assunto, termos-chave, que têm por função expressar o conteúdo do documento”. Podem ser do tipo manual e automática. A indexação manual ou intelectual ou códigos de indexação realizada por um ser humano. Estes termos serão selecionados e atribuídos por indexadores com base no julgamento subjetivo realizado acerca do conteúdo do documento, ou escolhem termos que tenham probabilidade de virem a ser procurados por um usuário no futuro (ROWLEY, 2002 apud ARAÚJO JUNIOR, 2007, p. 24). A indexação automática, na visão de Araújo Junior (2007, p. 24) “é qualquer procedimento que permita identificar e selecionar os termos que representam conteúdo dos documentos sem intervenção direta do documentalista”. Podem ser divididas em dois tipos. Na indexação por extração automática, palavras ou expressões que aparecem no texto são extraídas, por um programa de computador, e utilizadas para representar o conteúdo do texto como um todo, adotando-se critérios de freqüência, posição e contexto O programa vai contar as palavras num texto, desde que ele tenha sido cotejado com uma lista de palavras proibidas, a fim de eliminar palavras não-significativas (artigos, preposições, conjunções, etc.), e em seguida ordenar essas palavras segundo a frequência de sua ocorrência. As palavras com maior número de ocorrências são escolhidas como os descritores do documento. Na indexação por atribuição automática é necessário desenvolver, para cada termo a ser atribuído, um "perfil" de palavras ou expressões que costumam ocorrer frequentemente nos documentos às quais um indexador humano 79 atribuiria esse termo. Se a cada termo de um vocabulário controlado correspondesse um perfil desses, seria possível utilizar programas de computador para cotejar as expressões importantes num documento (essencialmente aquelas que fossem extraídas segundo critérios de freqüência) com essa coleção de perfis, atribuindo um termo A respeito da utilidade da terminologia, das palavras-chave e descritores em saúde, Castro (2001, p.51) admite que “o uso do vocabulário estruturado permite ao pesquisador recuperar a informação com o termo exato utilizado para descrever o conteúdo daquele documento científico”. Especificamente na área médica, existem diversos vocabulários: um exemplo é a Classificação Internacional de Doenças (CID) de responsabilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabelece códigos para classificação de doenças. Para recuperação da informação na área da saúde, ressaltamos os vocabulários controlados Medical Subject Headings (MESH )51 e Descritores em Ciências da Saúde (DECS)52. O MESH é um vocabulário controlado especializado em ciências da saúde e produzido pela National Library of Medicine (NLM). É amplamente utilizado na indexação de artigos de revistas biomédicas da base de dados MEDLINE / PubMed além de outras bases de responsabilidade da NLM. Sua estrutura consiste em conjuntos de termos de descritores em uma estrutura hierárquica, que permite pesquisar em vários níveis de especificidade, seus registros apresentam o termo (descritor), qualificadores (aspectos) para os descritores e conceitos complementares. As figuras 13 e 14 a seguir, referem-se ao formulário de consulta do MESH e a estrutura de apresentação dos termos. Figura 13 - Página principal de pesquisa do MESH. URL: http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html Fonte: MESH (2014) 51 52 http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html http://decs.bvs.br/ 80 Figura 14 - Estrutura de apresentação dos termos MESH Fonte: MESH (214) O DECS é um vocabulário estruturado e trilíngüe. Foi criado pela BIREME para uso na indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios técnicos, e outros tipos de materiais, assim como para ser usado na pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica nas bases de dados LILACS, MEDLINE e outras. Foi desenvolvido a partir do MESH, sendo sua finalidade principal servir como uma linguagem única para indexação e recuperação da informação. A Bireme acrescentou os termos específicos das Saúde Pública, Homeopatia, Ciência e Saúde e Vigilância Sanitária. As figuras 15 e 16 apresentam o campo de busca de termos do DECS e layout de apresentação dos termos. A figura 17 tem relação com a figura 16 e mostra a hierarquia do termo Information Literacy. Para ser visualizado o usuário deverá clicar na categoria do descritor. 81 Figura 15 - Página de consulta do DECS URL: http://decs.bvs.br/ Fonte: DECS (2014) Figura 16 - Estrutura de apresentação dos termos DECS Fonte: DECS (2014) Figura 17 – Hierarquia do termo ‘information literacy’no DECS Fonte: DECS (2014) 82 Os vocabulários se diferem no layout e forma de apresentação dos termos, o MESH permite a visualização do termo, conceito, qualificadores (aspectos) e hierarquia. Além disso, permite associar o termo identificado imediatamente à pesquisa no Pubmed. O DECS apresenta o termo em 3 línguas, sinônimos do termos, categoria (hierarquia) definição, qualificadores e frequência nas bases de dados. Ele permite a busca em português, bem como identificar termos relacionados ao tema das Saúde Pública, Homeopatia, Ciência e Saúde e Vigilância Sanitária. Dessa forma, existe uma distinção de forma, mas principalmente de conteúdo real exigindo dos atores sociais, de acordo com suas questões de busca, utilizar ambas as versões do vocabulário. A existência destes vocabulários exige do pesquisador conhecer sua forma de estruturação, organização e sentido de uso nas bases de dados. Estes vocabulários podem apresentar limitações de representação, como a não existência de um termo. De início, o uso dos vocabulários exige a participação efetiva do bibliotecário. Dentre as variadas bases de dados gerais em ciências da saúde, somente utilizam os termos do DECS e MESH a LILACS (Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde) no campo de busca “Descritores de assunto e a MEDLINE/Pubmed (Literatura Internacional em Ciências da Saúde) no campo de busca - MESH Terms. Fig. 18 – Campos de busca da LILACS e Pubmed Fonte: Lilacs e Pubmed (2014). Arrolamos a seguir as principais bases de dados que sustentam as buscas de informação realizadas na biblioteca do HUCFF. 3.2.3.1 As Bases de dados mais utilizadas na Biblioteca do HUCFF Destacamos a seguir os principais recursos de informação na área de saúde utilizados, tendo em vista as demandas dos usuários da referida biblioteca. Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) – de responsabilidade do Centro LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), estabelecido no Brasil desde 1967, em colaboração com Ministério de Saúde, Ministério da Educação, 83 Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo. É uma rede de fontes de informações em ciências da saúde, de livre acesso, reúne bases de dados gerais e especializadas, o vocabulário DECS e bibliotecas virtuais especializadas nas áreas da saúde. A figura 19 refere-se a página principal da BVS, onde são disponibilizadas as bases de dados LILACS, MEDLINE, o DECS dentre outras fontes. Figura 19 – Página da BVS URL: http://regional.bvsalud.org/php/index.php Fonte: BVS (2014) Além das BVS em Ciências da Saúde, outras bibliotecas especializadas são desenvolvidas por instituições nacionais e internacionais, orientadas pelo mesmo modelo LILACS (BVS, 2014). A metodologia LILACS compreende “componentes integradores: normas, padrões, metodologias e aplicativos comuns adotados por todas as instâncias BVS para sua integração numa única rede. Incluem as terminologias, por exemplo, o vocabulário DeCS, manuais e softwares para a gestão e operação das fontes e fluxos de informação na BVS” (BIREME, 2014). As bibliotecas virtuais temáticas são desenvolvidas a partir da Metodologia LILACS e oportunizam visibilidade e acesso para as informações científicas de instituições nacionais e internacionais. Podem ser categorizadas como temáticas ou institucionais. A seguir, na figura 20, apresentamos a BVS temática “Aleitamento Materno” da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e na, figura 21, a BVS institucional do Instituto Evandro Chagas. 84 Figura 20 – Página da BVS Aleitamento Materno53. URL: http://www.bvsam.icict.fiocruz.br/php/index.php Fonte: BVS (2014) Figura 21 – Página da BVS Instituto Evandro Chagas URL: http://bvs.iec.pa.gov.br/php/index.php Fonte : BVS (2014) LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. É um índice bibliográfico da literatura relativa às ciências da saúde, publicada nos países da América Latina e Caribe, a partir de 1982. Registros bibliográficos de artigos publicados em periódicos da ciência da saúde, além de outros tipos de literatura científica e técnica como 53 http://www.bvsam.icict.fiocruz.br/php/index.php 85 teses, monografias, livros e capítulos de livros, trabalhos apresentados em congressos ou conferências etc. Endereço eletrônico: http://lilacs.bvsalud.org/. Acesso Público. Utiliza campo descritor de assunto. MEDLINE – Literatura Internacional em Ciências da Saúde. É uma base de dados da literatura internacional da área médica e biomédica, produzida pela NLM (National Library of Medicine, USA) e que contém referências bibliográficas e resumos de títulos de revistas publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 países. As áreas são: medicina, biomedicina, enfermagem, odontologia, veterinária e ciências afins. A atualização da base de dados é mensal. Endereço eletrônico: http://bases.bireme.br/cgi- bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=MEDLINE&lang=p. Acesso Público. Utiliza campo descritor de assunto. BDENF – Base de dados de enfermagem. Fonte de informação composta por referências bibliográficas da literatura técnico-cientifica brasileira em Enfermagem. Sua operação, manutenção e atualização é coordenada pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Centros Cooperantes Rede BVS Enfermagem. Contém artigos das revistas mais conceituadas da área de Enfermagem, e outros documentos tais como: teses, livros, capítulos de livros, anais de congressos ou conferências, relatórios técnico-científicos e publicações governamentais. Endereço eletrônico: http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&base=BDENF&lang=p. Acesso Público. Campo Descritor de assunto. Biblioteca Cochrane – Consiste de uma coleção de fontes de informação atualizada sobre medicina baseada em evidências, incluindo a Base de Dados Cochrane de Revisões Sistemáticas - que são revisões preparadas pelos Grupos da Colaboração Cochrane. O acesso à Biblioteca Cochrane através da BVS está disponível aos países da América Latina e Caribe, exclusivamente. Endereço eletrônico: http://evidences.bvsalud.org/php/index.php?lang=pt. Acesso Público. Não usa termos DECS. PUBMED – Literatura Internacional em Ciências da Saúde. É uma base de dados da literatura internacional especializada em ciências biológicas, medicina, enfermagem, odontologia, medicina veterinária e saúde pública. Produzida pela NCBI da NLM (National Library of Medicine, USA) contém referências bibliográficas e resumos títulos de revistas científicas e diversas bases de dados especializadas de acesso público. Bases especializadas: 86 GENOME – Informações sobre o Genoma; NUCLEOTIDE – Informações sobre Genoma Humano; STRUCTURE - Base especializada em Estruturas Moleculares; PROTEIN Informações sobre Seqüenciamento protéico; TAXONOMY - Base especializada em Taxonomia; PMC - PubMed Central - Busca em Revistas Eletrônicas (texto completo); JOURNALS - Informações sobre Periódicos (título, título abreviado, ISSN, etc.); BOOKS Base de dados especializada em Livros; OMIM - Base específica sobre Genes Humanos e Hereditariedade. Endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrezNLM. Acesso Público. Campo Mesh terms. Portal de Periódicos da Capes, um serviço brasileiro de informação científica desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação. Disponibiliza documentos nacionais e internacionais (periódicos científicos, teses, livros, patentes etc.) de todas as áreas com acesso gratuito. Endereço eletrônico: www.periodicos.capes..gov.br. Acesso controlado. Campo de pesquisa simples e avançada. A figura 22 apresenta o Portal de periódicos Capes que disponibiliza busca por assunto, periódicos, livros e base de dados. As buscas mais recentes são as por assunto e de livros. Observa-se com relação a busca por assunto que esta oportuniza fazer o levantamento em todas as bases de dados presentes no portal ou nas bases selecionadas pelo usuário. Figura 22 – Página do Portal de periódicos Capes. URL: www.periodicos.capes.gov.br Fonte: Portal de Periódicos Capes (2014). 87 Convém apontar com relação às bases de dados e portais até aqui descritos que estes são os recursos com maior reconhecimento na área de saúde para buscas e recuperação da informação técnica científica. A BVS reúne e organiza fontes especializadas na área de saúde e o Portal de Periódicos da Capes reúne e organiza diferentes fontes de todas as áreas do conhecimento oportunizando a identificação por meio da busca avançada, por exemplo, identificar as bases de dados por área do conhecimento e subárea como demonstra a figura 23. Figura 23 – Formulário de busca de bases de dados por área e subárea do conhecimento Fonte: Porta de Periódicos da Capes (2014) SCOPUS. É uma base de dados de resumos e de citações da literatura científica e de fontes de informação de nível acadêmico na Internet. Indexa mais de 15 mil periódicos, cerca de 265 milhões páginas da Internet, 18 milhões de patentes, além de outros documentos. Cobre as seguintes áreas Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Físicas, dentre outras é uma BD multidisciplinar Elsevier. Endereço eletrônico: www.periodicos.capes.gov.br. Acesso restrito. Campos de busca article title, abstract, keywords. Web of Science. É uma base multidisciplinar que indexa somente os periódicos mais citados em suas respectivas áreas. É também um índice de citações, informando, para cada artigo, os documentos por ele citados e os documentos que o citaram. Possui hoje mais de 9.000 periódicos indexados. É composta por: Science Citation Index, Social Sciences Citation Index, Arts and Humanities Citation Index. A partir de 2012 o conteúdo foi ampliado com a inclusão do Conference Proceedings Citation Index- Science (CPCI-S); Conference Proceedings Citation Index - Social Science & Humanities (CPCI-SSH). Thomson Scientific. 88 Endereço eletrônico: www.periodicos.capes.gov.br. Acesso restrito, campos de busca tópico (título, resumo e palavras-chave). CINAHL – Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature. É a base da Ebsco que indexa periódicos científicos sobre enfermagem e áreas correlatas de saúde, fornecendo o texto completo a mais de 630 dos periódicos indexados. Endereço eletrônico: www.periodicos.capes.gov.br. Acesso restrito. PsycINFO (APA). É uma base de dados em psicologia, educação, psiquiatria, ciências sociais. Contém resumos de artigos publicados em periódicos internacionais. (Aproximadamente 1.500.000 registros). PsycINFO indexa periódicos, livros, resenhas e dissertações. American Psychological Association (APA). Endereço eletrônico: www.periodicos.capes.gov.br. Acesso restrito. Banco de Teses - Relaciona as teses e dissertações defendidas a partir de 1987. As informações são fornecidas diretamente à Capes pelos programas de pós-graduação, que se responsabilizam pela veracidade dos dados. Endereço eletrônico: http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/. Acesso livre. Portal Saúde Baseada em Evidências - Criado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) fornece acesso ao conhecimento científico por meio de publicações atuais e sistematicamente revisadas. As informações, providas de evidências científicas são utilizadas para apoiar a prática clínica, como também a tomada de decisão para a gestão em saúde e qualificação do cuidado, auxiliando assim os profissionais da saúde, figura 24. Público-Alvo: Os conteúdos estão disponíveis para os profissionais de saúde vinculados ao respectivo Conselho Profissional. Terão acesso à pesquisa os profissionais das áreas de Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Serviço Social. 89 Figura 24 – Página do Portal Saúde Baseada em Evidências Fonte: Portal Saúde Baseada em Evidências (2014) Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil - Constitui-se no inventário dos grupos de pesquisa em atividade no País. As informações nele contidas dizem respeito aos recursos humanos constituintes dos grupos (pesquisadores, estudantes e técnicos), às linhas de pesquisa em andamento, às especialidades do conhecimento, aos setores de aplicação envolvidos, à produção científica, tecnológica e artística e às parcerias estabelecidas entre os grupos e as instituições, sobretudo com as empresas do setor produtivo. Os grupos de pesquisa inventariados estão localizados, principalmente, em universidades, instituições isoladas de ensino superior, institutos de pesquisa científica e institutos tecnológicos (PLATAFORMA LATTES, 2014). Para a pesquisa científica e para o levantamento da literatura cabe ressaltar que o currículo Lattes (figura 25) constitui-se num importante recurso. Nele recomenda-se o levantamento de um tema e também por especialistas e/ou teóricos. Por meio de pesquisa no currículo Lattes é possível visualizar a produção bibliográfica, técnica e artística de um pesquisador, como demonstra a figura 26. 90 Figura 25 – Currículo Lattes. URL: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=apresentar Fonte: Plataforma Lattes (2014) Figura 26 – Menu para acesso à produção bibliográfica, técnica e artista do currículo lattes URL: http://lattes.cnpq.br/0101373055224300 Fonte: Plataforma Lattes (2014) Tendo arrolado e descrito brevemente as principais bases de dados utilizadas na Biblioteca do HUCFF, apontamos os princípios da prática e da medicina baseada em evidências – MBE com o objetivo de introduzir a subseção tratada a seguir, referente à revisão sistemática, por estes fundamentarem este tipo de publicação que congrega um conjunto de evidências. Tais princípios fundamentam-se no sistema de comunicação na ciência. Em relação a este aspecto, Mueller (2000, p. 21-22) considera 91 Todo trabalho intelectual de estudiosos e pesquisadores depende de um intrincado sistema de comunicação, que compreende canais formais e informais, os quais os cientistas utilizam tanto para comunicar os resultados que obtêm quanto para se informarem dos resultados alcançados por outros pesquisadores. Assim, toda pesquisa envolve atividades diversas de comunicação e produz pelo menos uma publicação formal. Greenhalgh (2008, p. 19) consideram que a MBE É o uso de estimativas matemáticas do risco de benefício e de dano derivadas de pesquisas de alta qualidade sobre amostras populacionais para informar a tomada de decisões clínicas no diagnóstico, na investigação ou no manejo de pacientes individuais. Ainda com relação a MBE Sackett et al (1996 apud BERAQUET; CIOL 2010, p.131) destacam Por dedicar especial atenção à condução do desenho da pesquisa e à análise estatística, baseando-se nos métodos de epidemiologia e na avaliação crítica da literatura, o uso de informação é, segundo Sackett et al. (1996) , a essência da MBE, que, por sua vez, amplia o trabalho dos profissionais da saúde (e da informação) como produtores e consumidores da mesma Já a PBE segundo Atallah (1996 apud BERAQUET; CIOL, 2010, p. 131). “diminui a ênfase da atuação clínica baseada apenas na intuição e em experiências não sistematizadas para fundamentá-la em provas científicas rigorosas e adequadas”. Segundo Beraquet e Ciol (2010, p. 132) a busca para atender aos princípios da PBE e MBE pressupõe conhecimento das estruturas, linguagens e outros elementos essenciais da organização da informação. Do mesmo modo que a pesquisa e recuperação da informação especializada, ou seja, a busca Pressupõe conhecimento das estruturas, linguagens e outros elementos essenciais da organização da informação. O domínio dessas habilidades em níveis mais altos de eficiência pressupõe treinamento especializado e experiência substancial. Também o volume de informação constante na literatura da área da saúde exige habilidades de busca bastante complexas e o médico, ao não encontrar resposta para sua pergunta, normalmente, atribui o fato à inexistência da mesma, quando a razão pode estar nos erros em sua estratégia de busca. Tais princípios estão relacionados a fontes e a buscas destas na complexas plataformas e recursos informacionais. Para a PBE e MBE as fontes são categorizadas de acordo com Greenhalgh numa pirâmide de evidências. Devemos acrescentar que os princípios envolvidos na MBE encontram-se relacionados à revisão sistemática, na medida também em que a 92 elaboração desta publicação impõe a adoção de rigorosos procedimentos metodológicos. A revisão sistemática, por sua importância, será examinada a seguir. 3.2.3.2 A Revisão sistemática A figura 27 a seguir consiste numa pirâmide de evidências que mostra uma hierarquia dos tipos de estudos de evidências. Figura 27 - Pirâmide – hierarquia das evidências Fonte: SAMPAIO; MANCINI (2007, p. 85) Os níveis de evidência estão relacionados à qualidade metodológica dos estudos para tratamento e prevenção. As fontes são hierarquizadas de acordo com o grau de confiança que representa cada tipo de estudo. A revisão sistemática (RS) “constitui um método moderno para a avaliação de um conjunto de dados simultaneamente. [...] é mais freqüentemente utilizada para se obter provas científicas de intervenções na saúde” (ATALLAH; ALDEMAR, 1997, p. 20). De acordo com Greenhalgh (2008, p. 134) a RS: É um resumo de estudos primários que: contém uma descrição de objetivos, materiais e métodos; foi realizada de acordo com a metodologia explícita, 93 transparente e reprodutível, as mais duradouras e úteis, notadamente são aquelas realizadas pela Cochrane Collaboration, são regulamente atualizadas para incorporar novas evidências. Segundo Soares (2013, p. 16) a RS “trata-se de um método sistemático utilizado para encontrar e avaliar criticamente todas as evidências científicas disponíveis sobre uma questão de pesquisa”. Em sua maioria, as RS seguem o modelo Cochrane que recomenda a criação de um protocolo prévio para a seleção e análise dos estudos (SOARES, 2013, p. 16). A figura 28 a seguir consiste no exemplo de uma revisão sistemática. Figura 28 - Delimitação das cinco fases da elaboração de uma revisão sistemática (1) Escolha do tema (4) Elaboração do plano de trabalho (2) Identificação e localização (3) Compilação e leitura (5) Análise e interpretação An Fonte: Esquema baseado e adaptado. Soares (2013, p. 16). An A The Cochrane Collaboration54 oferece no Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions (2011) os passos recomendados para elaboração das RS. Castro (2013) apud (SOARES, 2013, p. 16) apresentam as principais etapas para tal: 1. Formulação da pergunta - questões mal formuladas levam a decisões obscuras sobre o que deve ou não ser incluído na revisão. Na formulação da pergunta deve ser definido o tipo de Paciente, Intervenção, Comparação e Objetivo (PICO), formato também utilizado nas pesquisas baseadas em evidências; 2. Localização e seleção dos estudos; 54 É uma organização independente, sem fins lucrativos da qual fazem parte colaboradores de mais de 120 países que trabalham em conjunto para produzir, as informações sobre saúde de credibilidade acessíveis e estás sejam livres de patrocínios comerciais e outros conflitos de interesse. Fonte: http://www.cochrane.org/about-us. A Cochrane Collaboration, que ganhou notoriedade por produzir as Revisões Cochrane, consideradas por muitos as fontes de evidência mais compreensivas, confiáveis e relevantes da literatura científica. O nome Cochrane é uma homenagem a Archie Cochrane, autor do influente livro Effectiveness and Efficiency: Random Reflectionson Health Services, lançado em 1972 (LADEIRA; ALONSO, 2013, p. 302). 94 3. Avaliação crítica dos estudos - todos os critérios de inclusão e exclusão devem ser descritos e rigorosamente seguidos para determinar a validade dos estudos selecionados e qual a probabilidade de suas conclusões estarem baseadas em dados viciados. 4. Coleta de dados - os formulários de coleta de dados devem ser padronizados e elaborados previamente ao levantamento dos estudos, a fim de garantir que os dados não foram definidos de forma post hoc, pois a exploração das informações em uma busca de resultado favorável à hipótese dos autores pode gerar falso-positivos; 5. Análise e apresentação dos dados; 6. Interpretação dos dados; 7. Aprimoramento e atualização da revisão - uma vez publicada a revisão poderá sofrer críticas e/ou sugestões que devem ser incorporadas às edições subseqüentes, caracterizando uma publicação viva, e ainda ser atualizada cada vez que surjam novos estudos sobre o tema. Este processo tem início na busca das evidências, com a identificação e definição dos termos ou palavras-chave, seguindo da elaboração das estratégias de busca, seleção e definição das bases de dados e outras fontes de informação que serão utilizadas para coleta das fontes a serem pesquisadas. Dentre outras etapas, ilustradas no esquema abaixo (figura 29) elaborado por Oxman (1994) apud (SAMPAIO; MANCINI, 2007, p. 86). 95 Figura 29: Esquema de elaboração das revisão sistemática. Fonte: Oxman (1994) apud Sampaio e Mancini (2007, p. 86). O anexo D mostra em gráfico o fluxograma das fases de uma revisão sistemática sobre não adesão de usuários de drogas em intervenções por telemedicina55 As metanálises, que caracterizam-se como revisões que “lançam mão de métodos estatísticos para sumarizar os resultados dos estudos primários sob parâmetro clínico- 55 MOREIRA, Taís de Campos et al . Não adesão em intervenções por telemedicina para usuários de drogas: revisão sistemática. Rev. Saúde Pública, v. 48, n. 3, June 2014. 96 epidemiológico” (SOARES, 2013, p. 16) aparecem, como visto na figura 26 no topo da pirâmide de evidências. Outra revisão, bastante utilizada, é a integrativa (RI). Segundo Soares (2003, p. 17) trata-se de “um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática”. Diferencia-se da RS, pois o processo de elaboração, ou seja, o protocolo, pode ser definido pelos seus autores. Seguindo a hierarquia mostrada na figura 26 (de cima para baixo) temos o Ensaio Clínico Controlado Aleatório. Segundo o DECS (2014) este Envolve pelo menos um tratamento teste e um tratamento controle, de início e seguimento simultâneos dos grupos teste e controle, e nos quais os tratamentos a serem administrados são selecionados por processo aleatório, como o uso de uma tabela de números aleatórios. A seguir, o Estudo de coorte é o “Estudo epidemiológico analítico caracterizado pela observação de grupos que diferem quanto ao nível de exposição a determinado fator, durante um período longo, para os quais as taxas de incidência podem ser calculadas e comparadas” (DECS, 2014). O Estudo de caso-controle, segundo o DECS (2014) consiste em Estudos epidemiológicos observacionais nos quais grupos de indivíduos com determinada doença ou agravo (casos) são comparados com grupos de indivíduos sadios (controles) em relação ao histórico de exposição a um possível fator causal ou de risco. Epidemiologia experimental é o nome dado pelo DECS ao nível que, na pirâmide de evidências, recebe o nome de “estudos quase experimentais”. Trata-se do “campo da epidemiologia no qual os estudos se caracterizam pelo controle de condições e intervenções por parte do pesquisador” (DECS, 2014). Epidemiologia descritiva refere-se aos “estudos descritivos”, nomenclatura adotada pelo DECS. Refere-se ao “Campo da epidemiologia que visa organizar dados relacionados à saúde de acordo com as variáveis tempo, lugar e pessoa” (DECS, 2014). Na base da pirâmide, encontram-se os “Relatos de Casos”. Segundo o DECS estes são “apresentações clínicas que podem ser seguidas pelos estudos avaliativos que conduzem eventualmente a um diagnóstico (DECS, 2014). As evidências descritas no conjunto desta seção, presentes na pirâmide de evidências e que incluem as RS, são, em sua maioria, artigos de periódicos científicos. O volume destes nas bases de dados compreende milhões de documentos. Por exemplo: no que diz respeito apenas ao tema, “hiv infection”, a base de dados Pubmed disponibiliza, até o presente ano de 97 2014, o total de 3632 RS. De acordo com o protocolo do Cochrane Handbook, a busca e a identificação das fontes deverão privilegiar todas as bases de dados selecionadas e/ou existentes para a área da saúde. O domínio destes recursos é uma das funções do bibliotecário especializado na área da saúde, sendo a biblioteca o ambiente onde tal expertise é requerida. 98 4 INTERAÇÃO DOS ATORES NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE LITERACIA EM INFORMAÇÃO Nesta seção discorremos sobre o processo de interação no âmbito da Biblioteca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, focalizando a mediação realizada pelo bibliotecário junto ao pesquisador no processo de obtenção de literacia em informação. Procura-se demonstrar que a literacia em informação nutre-se necessariamente das interações entre os dois atores sociais envolvidos no processo – bibliotecário e pesquisador – entendendo-se que há papéis distintos, porém complementares, desempenhados por tais atores, destacando-se a mediação a cargo do primeiro. Trata-se de um estudo de caso para o qual recorremos a procedimentos metodológicos a seguir descritos e que consistiram em pesquisa documental e na observação participante para a análise de exemplos considerados emblemáticos. Estes serão apresentados como segunda parte da presente seção. 4.1 Procedimentos metodológicos A metodologia da pesquisa é, segundo Minayo (2010, p.14) “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. A autora mostra que a metodologia “inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade) (MINAYO, 2010, p.14). Ainda de acordo com Minayo (2010) ressaltamos a natureza qualitativa deste estudo, pois conforme lembra a autora, este tipo de pesquisa “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”. Ela também esclarece que “esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes” (MINAYO, 2010, p. 21). De fato, a experiência de trabalho em ambientes de informação na área de saúde, especificamente no Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2010 e no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ desde 2010 até o presente ano de 2014, nos permite formular as questões que se apresentam na presente pesquisa. 99 No que se refere ao delineamento deste estudo, concebemos que o mesmo consiste em pesquisa descritiva e exploratória. Segundo Tobar e Yalour (2001, p. 69) e Gil (2002, p. 42) as pesquisas descritivas “expõem características de determinada população ou determinado fenômeno. Podem também estabelecer correlações entre variáveis”. Já a pesquisa exploratória “é aquela realizada em áreas e sobre problemas dos quais há escasso ou nenhum conhecimento acumulado e sistematizado” (TOBAR E YALOUR, 2001, p.69). Assim, a presente pesquisa é descritiva do ponto de vista das características dos atores sociais envolvidos – usuário e bibliotecário. É exploratória do ponto de vista da identificação dos requisitos (conhecimentos) e dos trâmites (procedimentos): no caso deste estudo, como já assinalado, consideramos que o processo de obtenção, pelo leitor, de literacia em informação requer a mediação feita pelo bibliotecário e pressupõe forte interação destes atores. Cabe esclarecer que, na nossa acepção, requisitos referem-se a conhecimentos dos atores sociais, suas “expertises” que fundamentalmente determinam os trâmites do processo em tela. Por parte do bibliotecário, trata-se do conhecimento das fontes, do seu uso, das habilidades na recuperação de documentos relevantes e na experiência que lhe permite compreender os limites e possibilidades, ou seja, as peculiaridades destas fontes para o atendimento das necessidades de informação que a ele se apresentam. Por parte do pesquisador, trata-se da clareza em relação à expressão de sua necessidade de informação ou de aprender a delineá-la, com o apoio do bibliotecário, para uso ativo e adequado dos recursos oferecidos pelas fontes de informação especializadas. O trabalho que vimos desenvolvendo em bibliotecas da área de saúde ao longo de onze anos nos leva a apontar que a dinâmica do trabalho de referência em bibliotecas desta área do conhecimento implica essencialmente na interação que resulta da mediação do bibliotecário junto ao usuário para utilização dos recursos de informação e das tecnologias a estes associadas e disponíveis nas plataformas especializadas, na atividade de busca. Trata-se de estágio crucial para a satisfação da necessidade de informação do usuário. Tal concepção apóia-se em Dias56 (2002, p. 5) segundo o qual A importância da função de busca está diretamente relacionada ao conhecimento dos usuários e, especialmente no caso da informação especializada, das complexas fontes de informação e de seus respectivos instrumentos de acesso. A busca pressupõe um conhecimento das estruturas, linguagens e outros elementos essenciais da organização da informação. O domínio dessas habilidades em níveis mais altos de eficiência pressupõe treinamento especializado e experiência substancial. Dias (2002, p.5), cabe acrescentar, considera a “busca em sistemas de informação uma disciplina básica para pós-graduação em Ciência da Informação. 56 100 Nesse sentido, sublinhamos que o uso de tais plataformas ou recursos informacionais implica na mediação exercida pelo bibliotecário – que interpreta a demanda, localiza e aciona os recursos – e exige uma interação destes atores, cabendo ao usuário o acompanhamento e julgamento de cada procedimento. No conjunto os procedimentos implicam na escolha das fontes de informação, no conhecimento da interface de recuperação (campos de busca), na identificação dos termos/conceitos apropriados para busca (vocabulários controlado) e do conjunto de estratégias de busca elaboradas para o esgotamento das fontes selecionadas. Tais assertivas referem-se à dificuldade enfrentada pelos usuários para lidar com o excesso das fontes de informação, formas de acesso (público, controlado, assinado), recursos de recuperação (campo e terminologia) e interface de apresentação. Estes aspectos relacionam-se também ao mercado editorial que faz surgir novas bases de dados com diferentes recursos e interfaces, com os processos técnicos inerentes à organização destas fontes especializadas e ao avanço das TIC, que em função da obsolescência que as caracterizam, imprimem uma transitoriedade ao conhecimento adquirido para uso destes recursos especializados. O principal método para a coleta de dados foi a pesquisa documental que se apoiou em documentos oficiais gerados na biblioteca HUCFF e que registram as demandas bem como os atendimentos realizados. A observação participante, outro método utilizado, somado à pesquisa documental, apoiou-se no diário de campo, instrumento de fundamental importância, criado para o registro dos acontecimentos observados. Segundo Falkembach (1987, p. 21) o diário de campo é um “instrumento de anotações – um caderno com espaço suficiente para anotações, comentários e reflexão – para uso individual do investigador no seu dia-a-dia”. Os dados recuperados, nas fontes de evidência contempladas na investigação, os formulários de atendimento e solicitação permitem visualizar as complexidades, especificidades, confusões, dentre outros na formulação da necessidade de informação. Admitindo a análise e a reflexão com relação ao que foi expresso, registrado e vivenciado, como também, permitindo a ilustração, a partir das interações dos atores sociais, das possíveis alterações no estágio de conhecimento que na presente pesquisa refere-se a habilitação para uma Literacia em Informação. Para o desenvolvimento da pesquisa, que focaliza a literacia em informação na área da saúde do ponto de vista da interação do bibliotecário e do usuário no processo de mediação 101 das fontes especializadas, a estratégia de investigação adotada pode ser caracterizada de forma mais abrangente, como um estudo de caso. Harley (1994, apud CALAZANS, 2007, p. 54) sugere sua aplicação nos seguintes casos: a) quando a compreensão dos processos sociais em seu contexto organizacional ou ambiental é importante para a pesquisa; b) na exploração de novos processos ou comportamentos. Nesse caso, os Estudos de Caso têm a importante função de gerar hipóteses e construir teorias; c) na captura de aspectos muito recentes, emergentes de uma organização. Uma pesquisa quantitativa seria muito estática para capturar o fluxo de atividades em uma organização; e d) em pesquisas comparativas em que seja essencial compreender os comportamentos e as concepções das pessoas em diferentes localidades ou organizações. Para Yin (2001, p. 32-33) a definição técnica de estudo de caso inclui o escopo, a coleta de dados e as estratégias de análise de dados. O autor o conceitua como: Uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. (...) A investigação enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. Considerando as peculiaridades do ambiente investigado, o estudo de caso se coaduna com a estratégia de investigação aqui utilizada (pesquisa documental e observação participante) ambas apontadas entre as seis distintas fontes de evidências sinalizadas por Yin (2001, p. 105): “documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos”. Tais procedimentos e fontes utilizados na investigação, ensejaram perceber no referido processo de mediação, as ações dos atores envolvidos, suas características, os resultados obtidos a partir da interação, os pontos críticos identificados e os fluxos informacionais existentes por meio das referidas informações registradas. Com base em Gil (2002, p. 45) a pesquisa documental “vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa”. Não exige contato com os sujeitos da pesquisa e as fontes podem ser diversificadas e encontrarem-se dispersas. Algumas delas são: correspondência pessoal, documentos cartoriais, registros variados (GIL, 2002, p. 46). A análise documental foi realizada a partir dos formulários de solicitação/atendimento de pesquisa. Também foram 102 analisadas as solicitações enviadas pelos usuários por e-mails para as bibliotecárias no ano de 2012 até março de 2014, totalizando 2244 formulários e 416 e-mails. A observação participante, segundo Minayo (2010, p.70), pode ser considerada parte essencial do trabalho de campo na pesquisa qualitativa. Sua importância é de tal ordem que alguns estudiosos a consideram (...) um método que, em si mesmo, permite a compreensão da realidade. A observação participante é assim definida por Minayo Como um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observador, no caso, fica em relação direta com seus interlocutores no espaço social da pesquisa, na medida do possível, participando da vida social deles [...], mas com a finalidade de colher dados e compreender o contexto da pesquisa. Por isso, o observador faz parte do contexto sob sua observação e, sem dúvida, modifica esse contexto, pois interfere nele, assim como é modificado pessoalmente. Na concepção de Gil (2002, p. 55) a mesma “caracteriza-se pela interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas”. No caso desta pesquisa, a interação dos atores sociais é um conceito fundamental e que permeia as definições metodológicas, pois o processo para aquisição da literacia em informação depende do convívio e da interlocução destes atores pesquisados. Esta permite a observação no sentido em que as próprias manifestações dos atores expressam os conhecimentos e definem a interação necessária para a mediação dos recursos. Na opinião de Queiroz (2007, p. 277) “é mediante o ato intelectual de observar o fenômeno estudado que se concebe uma noção real do ser ou ambiente natural, como fonte direta dos dados”. E nesse sentido, “a observação ajuda muito o pesquisador e sua maior vantagem está relacionada com a possibilidade de se obter a informação na ocorrência espontânea do fato”. No texto de Queiroz (2007, p. 278) duas menções corroboram com a escolha da observação como método como apoio à presente investigação. Diz o autor: A pesquisa participante que valoriza a interação social deve ser compreendida como o exercício de conhecimento de uma parte com o todo e vice-versa que produz linguagem, cultura, regras e assim o efeito é ao mesmo tempo a causa. Outro princípio importante na observação é integrar o observador à sua observação, e o conhecedor ao seu conhecimento (...) Como a observação participante refere-se a sujeitos sociais, não se pode deixar de considerar esses elementos, no processo de investigação, como resultado dos movimentos dos corpos humanos nas diversas vertentes de sua 103 interação e, a partir daí, construir o corpus de conhecimento do objeto de estudo que é sempre carregado de incerteza. No que se refere à pesquisa documental, Souza et al (2005, p. 142) apontam que “na preparação da investigação, é preciso decidir que documentos listar e de que tipo: escritos, visuais e audiovisuais”. Com relação à natureza de tais informações, os autores salientam que podem ser “oficial; que informam a filosofia dos processos em análise; os relatórios das etapas e desenvolvimento do trabalho; os que narram histórias do cotidiano em torno do objeto de estudo; os orçamentos; os materiais de divulgação e propaganda; as comunicações entre os diferentes atores, são alguns dos que se devem buscar. Frente a casa objeto de estudo e mediante seus objetivos gerais e específicos, é preciso decidir sobre a lista dos que buscar” (SOUZA et al, 2005, p. 142). No caso desta pesquisa, no tocante à pesquisa documental, os documentos utilizados consistiram em: formulários de solicitações dos usuários atendidos pelo bibliotecário tanto pessoalmente quanto por meio eletrônico, dados retrospectivos e que possibilitam análise documental. Em relação aos mencionados formulários, estes oferecem os seguintes dados para análise: tema de pesquisa, termos identificados, descritores em Ciências da Saúde, qualificadores permitidos, período da pesquisa, idioma, gênero (feminino e masculino) e espécie (humano e animal), faixa etária (idade), base de dados de pesquisa. Estes documentos, formulários, reunidos permitem recuperar/traçar o perfil sociológico dos pesquisadores; a vinculação institucional, a identificação dos termos originalmente apresentados por estes, a linguagem artificial empregada por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) ou MESH, tanto pelo bibliotecário quanto pelo usuário. Este conjunto constitui, assim, ricos indicadores para análise das questões da investigação. A análise deste material alia-se à observação participante para demonstrar como se desenvolve, neste caso, o processo de literacia envolvendo o pesquisador e o bibliotecário. A pesquisa se insere num contexto que, além da área da saúde, envolve propósitos relacionados, de certa forma, à área de educação, pela própria natureza dos hospitais universitários. Estes “são centros de formação de recursos humanos e de desenvolvimento de tecnologia para a área de saúde” (BRASIL. MEC, 2012). Dessa maneira, este ambiente abarca tanto o ensino, pesquisa e extensão, missão institucional das universidades, quanto a assistência à saúde, incumbência primordial dos hospitais. Para atingir os objetivos propostos foram utilizados dados captados a partir de três serviços oferecidos no setor de referência da biblioteca do HUCFF. São eles: i) Orientação de 104 pesquisa, ii) Treinamento para pesquisa bibliográfica, iii) Solicitação de artigo ao autor e iv) Pedido de ficha catalográfica. Estes serviços são atividades que requerem o contato direto entre o usuário e o bibliotecário. Os dois primeiros implicam na habilitação dada pelo bibliotecário para esclarecimento das peculiaridades inerentes ao uso dos recursos. Os dois últimos são mais pontuais, mas igualmente requerem atenção especial para o atendimento da solicitação: em relação ao pedido de artigo ao autor explica-se a possibilidade de obtenção de texto não disponível nas bases utilizadas ou ainda não publicado além de o expediente estabelecer, por meio do contato, ampliação da rede de relações (comunicação informal) levando inclusive ao fortalecimento do intercâmbio estabelecido. Quanto à elaboração da ficha catalográfica, serviço tradicionalmente prestado pelos bibliotecários tendo em vista a obrigatoriedade imposta pelos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) para que esta conste da dissertação ou tese, tal prática possibilita esclarecer e informar sobre o uso compulsório de termos padronizados pelo DECS (considerando inclusive tal imposição também por conta das normas editoriais das revistas científicas para a publicação de artigo – palavras-chave junto ao resumo). É notável o desconhecimento do usuário (quase generalizado) da importância do atendimento a esta condição para a ampla divulgação de sua pesquisa, por meio da publicação de artigo, exigência a ser cumprida anteriormente à defesa nos casos de doutorado na área da saúde. Assim, em maior ou menor grau, no conjunto os serviços aqui arrolados implicam num novo conhecimento a ser transferido, exigindo a interação dos atores. Podemos lembrar que estes trâmites indicam um processo de educação do usuário (subjacente ao conceito aqui adotado de literacia em informação). Cumpre acrescentar que todos estes serviços podem ser solicitados tanto na forma presencial quanto por meio eletrônico. Os registros de solicitações e de atendimento, anteriormente mencionados, forneceram os dados utilizados em nossa pesquisa. Anotações no diário de campo são igualmente registros que subsidiaram a pesquisa, como já assinalamos. O universo da pesquisa, como já apresentado, foi constituído por usuários solicitantes dos serviços de informação oferecidos pela biblioteca, alunos de mestrado e doutorado dos programas de pós-graduação stricto sensu da UFRJ, funcionários do hospital em atividade de pesquisa de mestrado ou doutorado, importando para o estudo a sua condição de usuário solicitante formal. Alinhadas aos objetivos específicos e ao pressuposto da investigação, adotamos as seguintes etapas: 105 a) Submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ. Para realizar a pesquisa e atender as exigências instituídas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) foi solicitada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) a avaliação dos procedimentos metodológicos da pesquisa e a dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Devemos acrescentar que as injunções ligadas a tais exigências levaram-nos a alterar os procedimentos metodológicos que anteriormente previam a escuta dos usuários por meio de entrevistas. Neste sentido, abdicando destes referidos trâmites, solicitamos a isenção de uso do TCLE. Todo o processo ocorreu por meio da Plataforma Brasil57 “uma base nacional e unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/CONEP” (BRASIL. SISNEP, 2014); b) Coleta e análise dos dados produzidos com base na pesquisa documental; c) Relato dos casos emblemáticos conforme o procedimento da observação participante apoiado nas anotações feitas no diário de campo. Considerando o serviço de referência que inclui o problema, a necessidade de informação, a questão inicial, a questão negociada, o estabelecimento da estratégia de busca, o processo de busca, a resposta e a solução, etapas anteriormente abordadas na seção dedicada ao marco teórico do estudo, apresenta-se então o que denominamos “casos emblemáticos”. Temos, com tal exposição, o intuito de explicitar a forma de interação dos atores resultantes da mediação, papel no qual o bibliotecário tem protagonismo, com vistas a sustentar as premissas da pesquisa. Pretende-se demonstrar as complexas transações envolvidas em tal processo e requeridas para a obtenção de literacia em informação e, consequentemente, maior competência por parte do usuário. Concebendo que este processo é de “mão dupla”, sustentamos que igualmente o bibliotecário se enriquece com o mesmo, ampliando a sua competência nos termos desta pesquisa, pela via do enriquecimento de sua experiência advinda dos trâmites implicados no problema apresentado e, portanto, da mediação estabelecida. 4.2 Casos emblemáticos Os casos aqui apresentados são considerados emblemáticos, pois resumem uma série de requisitos de demandas que nem sempre reúnem tantas peculiaridades quanto os que aqui 57 http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf 106 são apresentados (sobretudos os dois primeiros relatos analisados). Eles, portanto ilustram o processo de interação que vimos tratando como imprescindível para a obtenção de literacia por parte do usuário. Retomamos os conceitos apresentados no marco teórico do estudo e os empregamos aqui como operadores metodológicos para analisar os mencionados casos, arrolados a seguir. São eles: interação informacional que inclui os conceitos de necessidade de informação e de mediação. Os casos aqui elencados são três. Referem-se, todos eles, a situações freqüentes em termos das demandas e experiências ocorridas na biblioteca do HUCFF. O primeiro deles refere-se a uma pesquisa para a especialização lato sensu na área de nutrição clínica sobre “os efeitos do boldo e da alcachofra no tratamento do fígado”, expressão assim apresentada pelo pesquisador na consulta de referência. Neste caso, houve a solicitação presencial para orientação com relação ao uso dos termos, já que na busca feita pelo usuário este utilizou apenas a combinação dos termos: fígado AND Boldo (primeira tentativa) e Fígado AND alcachofra (segunda tentativa) com resultados muito insatisfatórios, segundo o seu julgamento. A única fonte utilizada pelo usuário foi o Pubmed e este não considerou utilizar outros recursos. A partir disto, iniciou-se a mediação da informação: o primeiro passo foi a negociação e, paralelamente, a reflexão/julgamento relativa à demanda enunciada, buscando-se identificar a real necessidade de informação deste usuário e a expressão que melhor a representasse, mediante a escolha e uso dos termos adequados para tal. Percebeu-se que se fazia necessário não só identificar documentos que incluíssem o fígado tratado enquanto órgão que, por exemplo, sofreria por uma intoxicação alcoólica, mas também os documentos que abordassem o tratamento do fígado com diferentes patologias hepáticas: cirrose hepática, cirrose alcoólica, neoplasias etc. Ou seja, os documentos recuperados deveriam versar sobre o fígado intoxicado e tratado com boldo e alcachofra e ainda sobre diferentes patologias hepáticas tratadas com boldo e alcachofra. Assim, tal necessidade poderia ser inicialmente representada nos sistemas de recuperação da informação das bases de dados consultadas, com a seguinte síntese de busca: Fígado AND Terapia AND (Boldo OR Alcachofra) ou também em inglês: Liver AND Terapy AND Boldon. Tais enunciados e síntese de busca representariam uma intenção inicial do usuário que poderia ou não se satisfazer com os resultados recuperados. Tal compreensão foi estabelecida mediante o diálogo no processo de interação entre os atores sociais envolvidos. O diálogo entre os atores revelou que o usuário naturalizou sua necessidade de informação de tal forma, que não considerou diferentes possibilidades de busca, apesar de têlas em mente, conforme revelou ao final. O processo de interação possibilitou a redefinição e 107 ajuste da expressão inicial. Na etapa que se segue – a de tradução - ambos atores precisam identificar e confirmar os conceitos e suas relações. A interação aqui estabelecida equivale à identificação dos conceitos e tradução para uma linguagem padronizada – neste caso, a terminologia em saúde do DECS - e à busca nos repertórios de pesquisa. Podemos lembrar que este passo é um daqueles que fazem parte da estratégia de busca, equivalendo à formulação do enunciado (GROGAN, 2001). A seleção dos resultados é de responsabilidade do usuário, pois o assunto pesquisado é da alçada do seu conhecimento ou expertise. Ele deve analisar os documentos recuperados para então selecionar os que irão subsidiar o seu estudo ou decidir a sua inclusão ou exclusão no caso deste consistir numa revisão sistemática. O passo seguinte refere-se à obtenção do texto. Este pode requerer ou não o auxílio do bibliotecário. A interação que implicou na expressão da necessidade de informação e na mediação ocorrida no processo de referência pode ser ilustrada mediante os trâmites resumidos a seguir: Usuário: Trata-se de uma pesquisa que investiga os efeitos do boldo e da alcachofra no tratamento do fígado. Bibliotecário: No fígado? Mas o que irá tratar?Refere-se a um fígado doente? Usuário: Sim e não. O estudo inclui as doenças do fígado, por exemplo, a cirrose. Mas o fígado sadio está também incluído, pois este pode estar alterado por toxinas do álcool. Não está doente, mas precisa de tratamento por conta dos efeitos nocivos do álcool no organismo. Uma observação importante com relação à utilização do boldo é que existem dois tipos: o boldo comum e o boldo do Chile, mas não existe comprovação científica para o primeiro, só existem relatos populares com relação à sua eficácia, ou seja, “funciona”. Porém existe comprovação científica quanto à eficácia do boldo do Chile. Bibliotecário: Sendo assim, os termos de pesquisa compreendem tanto o órgão, fígado, quanto as doenças do fígado. Compreendem igualmente as variações de boldo (boldo e boldo do Chile). A próxima etapa consiste em traduzir para identificar os descritores! É importante reunir o conjunto de conceitos e respectiva tradução para agilizar o processo de busca nas bases de dados. 108 Quadro 2– Síntese de conceitos, termos e descritores utilizados na busca, no caso relatado Descritores em Ciências da Saúde (2014) Conceitos Descritores identificados Sinônimos Definição Peumus Peumus Não tem Boldo (Homeopatia) Boldon (Homeopathy) Peumusboldus Boldo-do-Chile Alcachofra Cynarascolymus Cynarascolymus Alcachofra Fígado Fígado Liver Hepatopatias/Terapia LiverDiseases/Therapy Qualificadores Hepatopatias Alcoólicas/ Terapia LiverDiseases, Alcoholic/ Therapy Não tem Gênero de plantas (famíliaMONIMIACEAE) cujos membros possuem os ALCALOIDESboldínicos. Algumas espécies PEUMUS foram reclassificadas como CRYPTOCARYA. Medicamento homeopático. Peumusboldus. Boldo-do-Chile. Abrev.: "bold.". Origem vegetal. Hábitat original: Chile. Parte utilizada: folhas. Espécie de planta (gênero CYNARA, famíliaASTERACEAE) cujo botão de flor é a conhecida alcachofra (ingerida como vegetal, [embora seja uma flor]). Não tem Boldo Boldo chile do Doenças Fígado do Doenças Fígado do Processos patológicos do FÍGADO. Doenças hepáticas associadas com ALCOOLISMO. Geralmente se refere à coexistência de duas ou mais subentidades, i. é, FÍGADO GORDUROSO ALCOÓLICO, HEPATITE ALCOÓLICA e CIRROSE HEPÁTICA ALCOÓLICA. Apresentamos a seguir algumas estratégias de busca utilizadas em diferentes bases de dados e os respectivos resultados obtidos para o caso que vimos demonstrando, exemplos que não esgotam as buscas que efetivamente foram feitas conforme a mencionada demanda. As bases utilizadas foram as seguintes: Pubmed, Lilacs, Scopus os respectivos resultados são apresentados nas figuras 30, 31, 32, 33 e 34. Figura 30 – Quatro estratégias de buscas realizadas no Pubmed, registradas no histórico Pubmed: Fonte: Pubmed (2014) Figura 31 – Estratégia realizada na base de dados LILACS - 1ª estratégia Base de dados : Pesquisa : Referências encontradas : LILACS "BOLDO" or "BOLDO (homeopatia)" or "BOLDO-do-chile" [Descritor de assunto] and "FIGADO" or "celulas do FIGADO" or "doencas do FIGADO" [Descritor de assunto] 0 Fonte: LILACS (2014) 109 Figura 32 – Estratégia realizada na base de dados LILACS - 2ª estratégia Base de dados : LILACS Pesquisa : "BOLDO" or "BOLDOA" or "BOLDUS" [Palavras do título] and "FIGADO" or "FIGADOS" [Palavras do título] and hepat$ [Palavras do título] Referências encontradas : 0 Fonte: LILACS (2014) Figura 33 – Estratégia realizada na base de dados SCOPUS Fonte: SCOPUS (2014) No tocante à base Scopus, cabe observar que esta oferece para os registros recuperados o total de citações do artigo. Este recurso agrega valor, pois sinaliza a importância do artigo e seu reconhecimento por meio das citações em outros documentos, possibilitando ao usuário considerar tal informação na sua análise para seleção e obtenção do artigo recuperado. Figura 34 – Estratégia realizada na base de dados SCOPUS com indicação de citação dos artigos Fonte: SCOPUS (2014) 110 O caso ilustra o processo de interação, demonstrando como o conhecimento de ambos os atores é fundamental no processo que exigiu a troca de informações e a participação ativa tanto do usuário que inicia o processo quanto do bibliotecário que interage com ele no conjunto de procedimentos. O segundo caso diz respeito a uma solicitação de artigo científico identificado no Pubmed. O artigo solicitado pelo usuário está descrito nesta base, acompanhado das seguintes notas: PubMed – as suppliedby Publisher (o artigo foi aceito mas está em processo de revisão pelo Publisher) – e, outra nota - “free full text” –(o texto completo do artigo estará disponível em acesso aberto e livre, tão logo o processo de revisão seja finalizado). Diante da urgência da obtenção do mesmo, o bibliotecário sugeriu a solicitação do acesso ao artigo diretamente ao autor pelo e-mail constante do artigo. As figuras a seguir ilustram o pedido do artigo feito pelo bibliotecário diretamente ao autor. O e-mail enviado como resposta pelo autor foi encaminhado para o usuário que demonstrou satisfação com relação a uma possibilidade de obtenção de texto até então desconhecida por ele. Figura 35 - Solicitação pelo bibliotecário de artigo para o autor. Fonte: E-mail institucional do autor, Autor (2014) Figura 36 – Resposta do autor para o bibliotecário com relação ao artigo Fonte: E-mail institucional do autor, AUTOR, 2014 111 Com relação à questão de obtenção de textos junto ao autor, conforme o exemplo acima, podemos sublinhar que os artigos de periódicos podem ser obtidos nas fontes de texto completo (por exemplo, no Portal de Periódicos da Capes), nos serviços de comutação (Scad ou Comut) e, no caso de tais possibilidades terem sido esgotadas e ainda houver o insucesso com relação à obtenção do texto completo, mediante a solicitação do artigo junto ao autor. Esta é uma alternativa que além de resultar na recuperação do artigo, possibilita estabelecer nova rede de relações (contato entre especialistas), uma prática comum, nem sempre acionada, no âmbito do ciclo da comunicação científica (comunicação informal). Esta opção, na maioria das vezes, não faz parte do rol de possibilidades do usuário que ao entendê-la passa a adotá-la com freqüência para obtenção de seus artigos. Por fim, podemos mencionar um outro tipo de demanda que igualmente implica na mediação do bibliotecário para o atendimento da mesma e julgamento por parte do usuário no que diz respeito à representação temática explicitada na ficha elaborada. Aqui, assinalamos que a complexidade deve-se à indicação dos descritores de assunto. Como é sabido, a ficha catalográfica (aqui referente às dissertações e teses) apresenta a descrição das informações bibliográficas necessárias para identificar e localizar o documento. É um item obrigatório na composição dos trabalhos acadêmicos, feita com base no Código de Catalogação Anglo Americano (AACR2). Neste caso, o usuário tem a oportunidade de julgar os termos adotados para a representação do seu trabalho acadêmico, podendo indicar mudanças, se necessárias, para maior precisão. A figura a seguir ilustra os pontos de acesso de assunto, presentes numa ficha catalográfica de tese: Figura 37 – Ponto de acesso de assunto da ficha catalográfica Fonte: acervo de fichas atendidas do serviço de referência do HUCFF Os termos arrolados no exemplo acima mostram a apresentação dos assuntos compreendidos na pesquisa (Tuberculose pulmonar, Infecções por Mycobacterium, Técnicas e procedimentos diagnósticos); os aspectos que os caracterizam (Fisiopatologia, Diagnóstico, Terapia); o tipo do estudo realizado (epidemiologia descritiva e estudo prospectivo) e, por fim, os “limites” compreendidos pelo mesmo - espécie (no caso espécie humana) e gênero (feminino e masculino, neste caso). 112 Os casos aqui apresentados representam, de uma forma geral, algumas atividades do serviço de referência oferecido pela Biblioteca do HUCFF, com vistas a ilustrar diferentes demandas do usuário, a mediação feita pelo bibliotecário, demonstrando a inerente interação dos atores sociais envolvidos para o alcance da literacia por parte do usuário. É sabido que a seção de referência é importante para todos os outros setores de uma biblioteca. Ela pode sinalizar a necessidade de ajustes quanto aos critérios adotados na aquisição, no processamento técnico da coleção, no desenvolvimento dos produtos e serviços e na gestão da unidade como um todo. No caso desta encontrar-se no ambiente de um hospital universitário, chama-se a atenção para as especificidades e complexidades que os trâmites que se apresentam no serviço de referência revelam. Mediante os referidos exemplos dos casos expostos, pretendeu-se ilustrar como se dá a interação informacional entre os referidos atores sociais. Tendo em vista o primeiro caso, o de solicitação de orientação para busca (aqui considerado como o que demonstra maior complexidade), mostrou-se que a interação tem início a partir da apresentação da demanda, que exige do usuário grande esforço de expressão de sua necessidade de informação; do bibliotecário, por sua vez, grande mobilização de seus conhecimentos e experiência profissional para alcançar a explicitação da real necessidade do usuário (mediação); de ambos, tal interação revela-se também nas operações de tradução, definição de estratégias de busca, julgamento dos resultados obtidos e implica nos esforços para obtenção dos artigos recuperados. No tocante a este último aspecto, o sucesso de tal operação, poderá implicar na identificação do contato dos autores e no pedido direcionado aos mesmos (o caso referente a pedido de artigo demonstra também as peculiaridades e complexidades envolvidas). Esperamos ter demonstrado que o aprendizado alcançado pelo usuário, envolvendo todos os aspectos contemplados nos exemplos dados e ressaltados na síntese apresentada acima, possa fundamentar o processo denominado na presente pesquisa de literacia em informação, em toda a sua complexidade, como condição para a aquisição de competência, nos termos deste estudo. 113 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa relatada na presente dissertação situa-se entre a tradição dos ensinamentos e práticas da biblioteconomia como herança do passado e o presente, implicando, sobretudo em função do advento das TIC em redes eletrônicas, na aquisição de novos conhecimentos e na adoção de novas práticas profissionais, no mesmo campo das bibliotecas, centros de documentação e de informação. Assim, nossa investigação contempla o tema da literacia em informação que, conforme concebemos, fundamenta-se no aprendizado obtido pelo usuário para o alcance da satisfação de sua necessidade de informação. Nossa investigação focalizou os usuários atendidos no serviço de referência da Biblioteca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho bem como o trabalho de mediação prestado por seus bibliotecários, visando ao atendimento das necessidades de informação do usuário. Procuramos demonstrar que o primeiro requisito para tal consiste em que este consiga expressar a sua demanda de informação. O papel do bibliotecário na mediação é um segundo passo relevante para o esclarecimento e para a expressão das suas reais necessidades de informação. Tentamos apontar que este processo, como um todo, baseia-se na interação entre os mencionados atores sociais. Conceituamos tal processo, nomeando-o de interação, concebendo, para a sua definição, que o usuário é o requerente de tal mediação e demandante dos serviços oferecidos pela referida biblioteca. Esperamos ter deixado claro que o tratamento dado pelo bibliotecário a tais demandas, mediante o serviço de referência, não pode prescindir dos saberes dos dois atores sociais destacados na investigação, embora estes sejam de ordem diferente. Também procuramos demonstrar a complexidade que envolve os trâmites observados e descritos acentuando, dentre outros, a especificidade da área de saúde, destacando desde o grande volume de informação produzida na área; as diferentes bases de dados e respectivos comandos; a especificidade da linguagem documentária – DECS e MESH – utilizada na indexação das fontes e o imprescindível conhecimento do uso da mesma, o que implica na desnaturalização da expressão e representação da necessidade de informação por meio dos termos e sintaxe utilizados. Procuramos evidenciar que ao demandar a sua necessidade de informação junto ao bibliotecário no serviço de referência, o usuário capacita-se para alcançar, por meio de um passo inicial, porém definitivo para que a literacia aconteça, maior autonomia e, igualmente, habilita-se para desenvolver competências para localizar, recuperar e usar a informação que necessita. 114 Reconhecemos que os operadores teóricos eleitos na investigação possibilitaram a sustentação do exame dos casos emblemáticos, mediante a descrição e análise dos tipos de demandas mais representativas apresentadas no ambiente da Biblioteca do HUCFF, campo empírico da pesquisa. Visamos demonstrar que os fundamentos do estudo abarcam questões relacionadas à biblioteca especializada e ao exercício profissional do bibliotecário, considerando suas práticas e seu papel fundamental de intermediário entre os estoques, os serviços e as necessidades apresentadas pelo seu público. Mediação para a recuperação e acesso à informação. Como não poderia deixar de ser, foi necessário apresentar e descrever os dois ambientes que configuram o campo empírico da pesquisa: o HUCFF, que, por ser um hospital universitário tem como finalidade a pesquisa, o ensino e a formação de médicos e outros profissionais da área de saúde, voltados para seus usuários (pacientes). No tocante à biblioteca do HUCFF, seus usuários voltam-se para o aprimoramento de sua atividade relacionada à saúde e ao cuidado pela via da pesquisa e/ou da fundamentação de uma decisão clínica. Em ambas as situações, tal aprimoramento consiste no maior domínio da capacidade requerida para que tais pesquisadores (profissionais e estudantes) possam identificar e recuperar a informação bem como analisar os resultados obtidos – um conjunto de evidências científicas que possam sustentar uma decisão clínica, estando esta aliada à experiência do profissional e à imperativa necessidade de integridade e saúde do paciente. Devemos acrescentar que tal capacitação inclui o conhecimento e a habilidade no uso da rede eletrônica que, inexoravelmente, passou a abrigar (desde os anos de 1990 e num crescendo) a informação científica, sendo a área da saúde das mais prolíficas em termos da informação disponível na Internet. Cabe, portanto, sublinhar os desafios enfrentados pelos dois segmentos que vimos destacando – bibliotecário e usuário – no aludido processo de interação/mediação. Pretendeuse demonstrar que grande expertise é exigida do primeiro para o pleno atendimento e satisfação das necessidades do segundo, a quem cabe explicitar a sua demanda. Desejamos igualmente salientar a especificidade e a complexidade implicadas na própria natureza da informação em saúde. Tais características dizem respeito à oferta, disponibilização e recuperação dessa informação como inerentes aos desafios enfrentados por ambos os atores sociais. A concepção da informação, principalmente quando se refere a evidências científicas, fontes que expressam e revelam provas para tomada de decisão clínica e gestão em saúde, implica no domínio desta especificidade e atesta a complexidade a que vimos nos referindo. Salientamos também, a partir de tal concepção, que a evidência tomada 115 como exigência fundamental, é uma premissa já implícita na comunicação científica e que está referida à recuperação de fontes de informação de qualidade avaliadas e certificadas pela comunidade científica para então constituir uma outra fonte de informação categorizada como uma força de evidência e/ou prova. Os pressupostos desta investigação englobaram necessariamente as novas configurações de apresentação dos conteúdos informacionais, as complexas plataformas em que eles se encontram, resultando em intricados modos de manuseio e de uso das fontes de informação em saúde que modificam igualmente a forma de mediar a informação. Esse pressuposto completa-se mediante a idéia de que o manuseio de tais recursos não pode prescindir da expertise do profissional da informação no manejo das fontes, no conhecimento da utilização dos recursos eletrônicos, por um lado e, por outro, na participação ativa do usuário com o seu conhecimento sobre a sua questão de pesquisa. Acreditamos ter demonstrado as especificidades do papel do profissional da informação no aludido processo de mediação para a literacia em informação, considerado o contexto da área de saúde, a maneira como se apresentam as demandas de informação do usuário especializado em saúde, as características mais expressivas dos recursos de informação conformados pelas TIC em ambiente de rede eletrônica, e a maneira como os recursos de informação abrigados, organizados e disseminados por meio da rede eletrônica, influenciam e delineiam o processo de literacia em informação na área de saúde. Com relação à abordagem do problema, os métodos utilizados como recurso de pesquisa direta e indireta – a observação participante e a pesquisa documental – descritos em seção dedicada à metodologia empregada na pesquisa permitiram, no caso da observação participante acompanhar e examinar, a partir dos trâmites envolvidos no atendimento do usuário no serviço de referência, os acontecimentos como eles se desenrolaram, possibilitando sua posterior análise. No tocante à pesquisa documental, utilizaram-se fontes produzidas no campo empírico em estudo – relatórios gerenciais, fichas de registros de atendimento, dentre outros – e estas foram igualmente primordiais para a análise realizada. Pelo que foi exposto, pretendemos ter demonstrado que a biblioteca física continua ocupando um lugar de fundamental importância para o ensino e a pesquisa, mesmo considerando os tempos atuais em que a Internet permite e promove grandes facilidades de acesso e uso da informação. Como visto na presente dissertação, o acolhimento por parte dos profissionais bibliotecários do usuário que procura a biblioteca, oferece a este a oportunidade de conhecimento das atividades requeridas para o acesso e recuperação da informação pretendida, resultando num grande aprendizado que este passa a adquirir a partir da expressão 116 de suas necessidades. O processo de interação entre tais atores é requisito fundamental para tal aprendizagem, processo aqui denominado de literacia em informação, propiciando a aquisição fundamentada de um novo saber, que podemos denominar de competência do usuário dialeticamente ligada à competência do bibliotecário. 117 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria da Graça Gomes. O papel do profissional da informação bibliotecário no apoio à prática da medicina baseada em evidências: olhares convergentes entre profissões em Salvador. 2008. 225f. Dissertação (mestrado) - Instituto de Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008. 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Fonte: MOREIRA, Taís de Campos et al . Não adesão em intervenções por telemedicina para usuários de drogas: revisão sistemática. Rev. Saúde Pública, v. 48, n. 3, June 2014.