PERFIL SETORIAL DA CAPRINOVINOCULTURA No Mundo, Brasil, Nordeste e Sergipe Elaboração: Fagner Walleinstein Silveira Correia Consultor SEBRAE / Médico Veterinário CRMV/SE-0185 SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO 03 2 - CENÁRIOS ATUAIS 04 2.1 - NO MUNDO 04 2.2 – NO NORDESTE 06 2.3 – NO BRASIL 09 2.4 – EM SERGIPE 13 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 15 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 16 1 INTRODUÇÃO A caprinovinocultura é uma atividade explorada econômica em todos os continentes, sendo exercidos em distintos ecossistemas com os mais diferentes tipos de clima, solo, topografia e vegetação. No entanto, em alguns países, a exemplo do Brasil esta atividade é desenvolvida de forma empírica e extensiva, com baixos níveis tecnológicos e resultados zootécnicos. O crescimento vertiginoso da exploração de pequenos ruminantes está transformando o cenário dos sistemas produtivos. Ao longo das últimas décadas a caprinovinocultura têm sofrido transformações técnicas nos diversos elos de suas cadeias produtivas. Quanto ao agronegócio brasileiro da caprinovinocultura de corte vem apresentado um significativo crescimento. Segundo COUTO (2001), o mercado da carne de ovinos e caprinos é altamente comprador e a atividade vem crescendo a passos largos, em todas as regiões do país, destacando-se as regiões nordeste, centro-oeste e norte. O consumo de carnes e derivados no país é altamente favorável à caprinovinocultura, e encontra-se em pleno processo de expansão, pois as estatísticas oficiais mostram um consumo de 700g habitante/ano, enquanto que o consumo em países do primeiro mundo varia de 20 a 28 kg/pessoa/ano (SILVA SOBRINHO, 1997). A atividade acena para um negócio altamente lucrativo, porém a falta de organização e de integração da cadeia produtiva acaba dificultando a geração e a difusão de tecnologias, bem como, a estruturação de canais de comercialização necessários para o bom andamento da atividade. É importante enfatizar que numa cadeia produtiva organizada todos ganham com o processo, guardando um equilíbrio entre os seus diversos elos e cada um deles cumpre missão específica. A desejada profissionalização da caprinovinocultura, somente ocorrerá na medida em que alguns modos de governança comecem a estabelecer a idéia de que existe uma missão a ser cumprida pela cadeia produtiva, desta forma desaparece a idéia de unidades autônomas de produção e estabelece-se: colocar carne e pele de caprinos e ovinos no mercado, com padrões de segurança alimentar, de qualidade e de regularidade na oferta do produto. Essa missão não será atingida com ações concentradas especificamente na produção ou na agroindústria, e somente será cumprida se as ações que se desenvolvem nessa cadeia produtiva tiverem um mínimo de coordenação (MEDEIROS, 2003). 2- CENÁRIOS ATUAIS 2.1 - MUNDO A Caprinovinocultura no mundo é uma atividade em franca expansão, já sendo praticada há séculos. Porém, há uma grande concentração de rebanhos em alguns países, em ordem crescente quanto à concentração de rebanhos temos a China, Índia, Austrália, Nova Zelândia e Turquia. Onde somente a China detém quase 36% do total de caprinos e ovinos criados no mundo e responde por mais de 39% da produção de carnes dessas espécies no âmbito mundial. O Brasil atualmente ocupa o 9º lugar. Figura 1: Nível de participação dos maiores rebanhos de caprinos e ovinos no mundo. Fonte: Ponzoni, 2000. Há países que são grandes importadores de carne ovina e caprina, com destaque para os Estados Unidos, Arábia Saudita, China e México, que somados importam aproximadamente 22,5% da carne ovina mundial, e a União Européia que, sozinha, importa 48,7% deste produto Ao se fazer uma relação entre animais/habitantes tem-se uma inversão de colocação, na qual, a Nova Zelândia que ocupa a 4ª colocação no quantitativo de rebanho passa a ocupar a 1ª colocação com 13 cabeças/habitantes, e a Austrália sobe da 3ª colocação para a 2ª colocação com 7 cabeças/habitantes, tendo do ponto de vista econômico uma grande importância devido serem exatamente os dois colocados em cabeças/habitantes os detentores dos melhores resultados por exportação de produtos das espécies em referência, que juntos perfazem mais de 60% da carne ovina. Vale ressaltar que a Nova Zelândia têm o maior consumo per capita, com algo em torno de 32 kg/habitante/ano. Também merece destaque no cenário mundial a França, pela sua expressiva produção de queijo. Já pelo que vem oferecendo ao mundo em termos de pesquisas quanto às raças para produção de carnes, destaca-se a África do Sul. Figura 2: Contribuição para a produção mundial de carne caprina e ovina no mundo. Fonte: Ponzoni, 2000. Apesar dos avanços já alcançados na caprinovinocultura, ainda há países, a exemplo do Brasil, com grandes rebanhos, porém com uma baixa taxa de desfrute determinada pelo sistema de criação adotado pela maioria dos criadores e agravado pela insistência destes em manter uma relação irregular com o mercado. Por outro lado temos alguns países com uma maior visão e integração ao mercado, que neste vazio, se especializam no promissor agronegócio da caprinovinocultura. Portanto podemos concluir que a demanda de carne é sim maior que a oferta, havendo um mercado comprador, em crescimento, apreciado mundialmente. 2.2 – NO BRASIL O Brasil, um país dotado de características edafoclimáticas apropriadas para a criação de caprinos e ovinos. Aonde nos últimos anos vem investindo na caprinovinocultura no incentivo de ações conjuntas de governos estaduais, instituições de pesquisa, empresários rurais e empresas, a exemplo do SEBRAE com o Projeto APRISCO (Apoio a Programas Regionais Integrados Sustentáveis da Caprinovinocultura) que abrange varias regiões do país. A produção de carne e pele de ovinos e caprinos no Brasil apresenta um horizonte de crescimento praticamente sem precedentes em outra cultura do agronegócio. O mercado interno é extremamente ávido por seus produtos e derivados, igualmente o mercado externo é altamente comprador, tanto de carne quanto de peles. O país apresenta todas as condições para uma expansão dos rebanhos e o incremento da produção. Os resultados já alcançados indicam que a caprinovinocultura caminha a passos largos e tem tudo para mudar o perfil da agropecuária nacional, com profissionalismo, tecnologia e organização da cadeia produtiva, porém, atender esse mercado emergente exige quantidade e qualidade, requisitos que seguramente serão alcançados com a estruturação da cadeia produtiva. Figura 3: Efetivo Brasileiro dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos. Fonte: IBGE– Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. O estado do Tocantins, no período de 1998 a 2002 apresentou um crescimento de 87,5 % no rebanho ovino e de cerca de 60 % no rebanho caprino, saltando de 15 mil cabeças em 1998 para 24 mil cabeças em 2002 (O Berro, 2003). Estes números refletem a atual realidade, com empresários da bovinocultura investindo maciçamente na caprinovinocultura, porém os pequenos produtores também já vislumbraram a atividade como uma opção para a diversificação e o aumento da rentabilidade dos seus empreendimentos rurais. Tabela 1: Efetivos dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos, no Brasil, Região e UF. REGIÕES BRASIL NORTE Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins NORDESTE Maranhão Piauí Ceará Caprinos Ovinos 10.306.722 154.678 16.310 8.012 14.740 9.930 80.311 1.668 23.707 9.542.910 395.008 1.389.486 931.634 15.588.041 481.528 99.396 45.920 67.197 203.027 1.270 64.71 9.109.668 226.488 1.511.743 1.909.182 Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia SUDESTE Minas Gerais Espirito Santo Rio de Janeiro São Paulo SUL Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul CENTRO-OESTE Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal 439.400 657.824 1.601.522 67.766 18.292 4.041.978 252.124 126.612 17.694 32.493 75.325 242.713 114.796 41.297 86.620 114.297 31.598 43.220 36.939 2.540 490.310 411.069 1.067.103 203.417 152.053 3.138.303 606.934 188.917 31.630 41.468 344.919 4.452.498 511.801 207.780 3.732.917 937.413 439.782 324.865 156.746 16.020 Fonte: IBGE– Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. Vale ressaltar que o mercado mundial de produtos, da atividade em questão, tem se mostrado altamente comprador, tendo o Brasil já recebido mais de uma proposta para exportar carne ovina para os Emirados Árabes, sem possibilidade de atendimento devido ao volume solicitado ser maiores que nossa organização produtiva. Contudo, essa mesma falta de organização produtiva vêm causando o desabastecimento do mercado com o produto nacional, dando espaço para as importações, que vêem aumentando desde 2002 e, segundo dados do MIDC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio), só no mês de Março de 2007, houve um aumento de 36% em toneladas e 78% em valor quando comparado ao mesmo do período ano passado. Portanto podemos concluir que há uma crescente demanda tanto mercado no interno quanto no externo, então devemos nos organizar e melhor estruturar essa promissora cadeia produtiva, fazendo com que todos os elos, tais como produtores, frigoríficos, comércio, governo e consumidores trabalhem em prol da caprinovinocultura. Foto 1: Unidade Produtiva. Pequena produtora (Sra. Rosa Amada de Jesus) do município de Tobias Barreto/SE. 06/2004. 2.3 – NO NORDESTE O Nordeste possui 1.560.000 km2 (18% da área total do Brasil), onde 75% da área total do Nordeste é Semi-árida e 9,5% da área geográfica nacional é CAATINGA totalizando 800.000 Km2, com uma produção média de carne caprina e ovina de 2,8 kg/ha/ano, entretanto com o uso de técnicas de manipulação da vegetação nativa, essa caatinga poderia chegar a índices entre 31,4kg e 71,2kg Figura 4: Evolução dos Efetivos dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos, no Nordeste, entre os anos de 2000 a 2005. Fonte: IBGE– Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. O problema fundiário do semi-árido Nordestino passa pelas estruturas de produção agrícola, como mostra a figura 5 e 6, onde existem 2,8 milhões de propriedades rurais. Figura 5: Estrutura Fundiária Nordestina. Fonte: FAQ, 2000. Em 77% das unidades produtivas do Nordeste as suas áreas limitam em até 20 ha, e mais 17% das propriedades até 100 ha. Sendo insuficiente para a exploração agrícola, devido o baixo índice pluviométrico e impossibilidade de Irrigação. Figura 6: Nordestina. Tipos de áreas para Exploração Agropecuária Fonte: FAQ, 2000. Figura 7: Evolução dos Efetivos dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos, por Região Geográfica entre os anos de 2000 a 2005. Fonte: IBGE– Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. A região sudeste possui apenas 2,8% dos ovinos e 2,4% dos caprinos do país, tem apresentado os melhores índices de crescimento nessas criações. O segmento tem sofrido transformações, com cruzamento de raças, aprimoramento da qualidade genética e intensificação dos criatórios de modelo empresarial, que buscam atender a demanda por carne em cortes padronizados, leite e queijo de cabra. Além disso, o grande diferencial é que as populações desses estados possuem maior poder aquisitivo podendo pagar mais pelos produtos. Em razão da existência do mercado, os rebanhos aumentam no sudeste. De acordo com os dados do IBGE, em São Paulo o rebanho de ovinos sofreu um aumento de 26,1 % em uma década, por sua vez os caprinos cresceram 26,5 %, no mesmo período. Em Minas Gerais o rebanho de caprinos e ovinos triplicou de 1999 para 2005. Outra região onde se observa crescimento da caprinovinocultura é o centrooeste. Ela Deten 4,9% dos ovinos do país e 15 dos caprinos. A atividade tem se expandido graças a disponibilidade de pastagem e a partir da criação em consórcios com bovinos, como afirma o pesquisador Enéias Reis Leite, da Embrapa CNPC. Em um dos estados dessa região, Mato Grosso, a ovinocultura cresceu 55 vezes entre 1994 e 2004. Fenômeno inverso ocorreu no Sul, onde o rebanho de ovinos, antes especializado na produção de lã, sofreu redução no número de cabeças, ao mesmo tempo em que foram introduzidas raças especializadas para carne. A região possui 40% dos ovinos do País e apenas 1,9% dos caprinos. O Rio Grande do Sul em especial, tem ensaiado retomado no desenvolvimento da caprinocultura, com a introdução da raça Boer. A presença de novos criadores e a visão empresarial do negocio estão atraindo novos investimentos. 2.4 – EM SERGIPE A caprinovinocultura Sergipana vem buscando sua consolidação, ocupando hoje a última colocação em número de rebanho no Nordeste, como mostra abaixo a Figura 8, contudo seu rebanho de ovinos é bem aceito em nível nacional pela sua qualidade genética, potencializando a comercialização de animais em caráter de matriz e reprodutores a preços diferenciados. Figura 8: Efetivos dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos nas UF do Nordeste. Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. Porém, na década compreendida entre 1996 e 2005 podemos visualizar através dos números que tanto a caprinocultura quanto a ovinocultura vem crescendo em Sergipe como mostra a figura 9. Figura 9: Evolução dos Efetivos dos Rebanhos (cabeças) caprinos e ovinos, em Sergipe. Entre os anos de 1996 a 2005. Fonte: IBGE– Pesquisa Pecuária Municipal, 2005. Quanto à comercialização de carcaças, quase sua totalidade é comercializada no mercado informal “Frigomato” no interior do estado ou em feiras livre na periferia da capital, dificultando o levantamento de dados em nível estadual, sendo o abastecimento das casas comerciais do ramo alimentício feito pela importação de carnes do Uruguai, Argentina e de outros países, contabilizando números em toneladas/carne que aumentam a cada ano. Mesmo sendo uma atividade economicamente rentável ao agronegócio sergipano a produção/oferta de carne caprina e ovina não tem aumentado na mesma proporção da demanda. 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A caprinovinocultura nos últimos anos vem despontando no agronegócio brasileiro como opção de diversificação da produção, assim gerando oportunidades de emprego, renda e fixação do homem no campo, demonstrando seu importante papel no contexto da pecuária brasileira. No entanto, ainda é precário o nível de desfrute, produtividade, gerenciamento e articulação do setor primário da cadeia produtiva em questão. Assim, dificultando melhorias de competitividade e remuneração dos próprios produtores, ameaçado o pleno desenvolvimento e a sustentabilidade da atividade. Há a necessidade de desenvolver a cultura da cooperação nos diversos setores da cadeia produtiva, mais principalmente nos segmentos de transporte, comercialização e beneficiamento, fazendo-os assumir o seu papel de parceiro, pois todos são parte integrantes e deveriam estar interessados no sucesso do setor primário, que é um importante indicador quantitativo e qualitativo do graus de evolução dos demais componentes da cadeia. Finalmente, na ótica do desenvolvimento sustentável é fundamental a implantação e estruturação de um planejamento estratégico, construído de forma conjunta, na discussão de temas e propostas que possibilitem aos diversos atores da cadeia produtiva, novos conhecimentos e tecnologias de produção e gestão dos seus negócios, não necessitando justificar-se na exploração sobre medida do setor Primário. 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COUTINHO, A. A. A evolução da Caprinovinocultura. O Berro, n. 98, p. 146-148, Jan., 2007. IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal - 2005. 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