Seminário Nacional Sobre Propaganda
e Uso Racional de Medicamentos
Regional Nordeste
USO RACIONAL E
PROPAGANDA DE
MEDICAMENTOS
Maria Beatriz Cardoso Ferreira
Docente do Departamento de Farmacologia – ICBS/UFRGS
Pesquisadora CNPq na área de Farmacologia
Coordenação e facilitação de Cursos Sobre Ensino Para o Uso
Racional de Medicamentos (ANVISA, OPAS)
Presidente do I Congresso Brasileiro Sobre Uso Racional de
Medicamentos (Porto Alegre – RS, 2005)
Ausência de Conflitos de Interesse
O QUE É PROPAGANDA?
PROPAGANDA/PUBLICIDADE
“Conjunto de técnicas utilizadas com objetivo de
divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a
princípios, idéias ou teorias, visando exercer influência
sobre o público, por meio de ações que objetivem
promover determinado medicamento com fins
comerciais”.
Resolução – RDC No 102, de 30 de novembro de 2000
PROPAGANDA e PUBLICIDADE
Etimologicamente, propaganda deriva de propagar.
Já publicidade tem origem em público.
PROPAGANDA: visa criar opinião favorável a
determinado produto, serviço, instituição ou idéia, de
modo a orientar o comportamento humano em
determinado sentido.
PUBLICIDADE: relaciona-se à promoção de produtos e
serviços, cultivando a preferência pela marca; é a
propaganda com objetivos comerciais.
PROPAGANDA/PUBLICIDADE
“É a técnica de convencer os indivíduos de que
têm a necessidade absoluta, vital, de algo que
jamais imaginaram precisar”.
SEDUÇÃO
PODER DE PERSUASÃO
O QUE É
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS?
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
“Existe uso racional quando os
pacientes recebem os medicamentos
apropriados à sua condição clínica, em
doses adequadas às suas necessidades
individuais, por um período de tempo
adequado e ao menor custo possível
para eles e sua comunidade.”
OMS, Conferência Mundial Sobre Uso Racional de
Medicamentos, Nairobi, 1985.
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
(1985)
Indicação apropriada
Esquema de administração adequado
Paciente em condições de receber o
tratamento proposto: ausência de contra-indicações
e menor possibilidade de efeitos adversos
Dispensação correta, incluindo informação
adequada para o paciente
Seguimento do paciente
EFICÁCIA SEGURANÇA CONVENIÊNCIA ACESSO
VINTE ANOS DEPOIS….
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Qual é a situação atual no mundo?
15% da população consomem mais de 90% da produção farmacêutica.
25-70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a
medicamentos, comparativamente a menos de 15% nos países desenvolvidos.
50-70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa.
50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados
inadequadamente.
75% das prescrições
com antibióticos são errôneas.
Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health.
WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64.
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Qual é a situação atual no mundo?
Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente seus
medicamentos.
Cresce constantemente a resistência da maioria dos microrganismos causadores
de enfermidades infecciosas prevalentes.
Aos dois anos de idade, algumas crianças receberam aproximadamente 20
aplicações medicamentosas injetáveis.
A metade dos consumidores compra medicamentos para tratamento de um só
dia.
53% de todas as prescrições de antibióticos nos EUA
são feitas para crianças de 0 a 4 anos.
Brundtland, Gro Harlem. Global partnerships for health.
WHO Drug Information 1999; 13 (2): 61-64.
USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Uso excessivo faz com que, a cada ano, novos produtos sejam
lançados, sem que isso redunde em proporcional melhora no
estado geral de saúde dos consumidores.
MEDICAMENTOS ME TOO
França, 1975 a 1984: Dos 508 novos produtos farmacêuticos
lançados nesse período, 70% não ofereciam vantagens
terapêuticas.
EUA (FDA), 1981 a 1988: De 348 novos medicamentos, só 3%
representaram contribuição importante em relação aos
tratamentos já existentes.
Canadá (PMPRB), 1990 a 2003: De 1.147 patenteados, apenas
5,9% foram considerados realmente inovadores.
CONSEQÜÊNCIAS DO USO
NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Progressão da patologia.
Iatrogenia.
Aumento da incidência de efeitos adversos
por uso inadequado de doses, vias, intervalos
de administração e/ou tempo de tratamento.
Aumento do tempo de tratamento.
Aumento dos custos.
Não adesão do paciente ao tratamento
e, portanto, insucesso terapêutico.
E QUAL É A RELAÇÃO ENTRE
USO RACIONAL E
PROPAGANDA/PUBLICIDADE
DE MEDICAMENTOS?
Distinção entre
promoção de produtos com objetivos comerciais
e
disseminação de informações científicas
Distinção entre promoção de produtos
com objetivos comerciais e
disseminação de informações científicas
“... Ethical pharmaceutical companies should communicate
important developments in medical science to the medical
profession. The medical information department at Bayer will be
pleased to supply scientific and technical information relating to
such developments to any member of the profession in Britain
so that individual doctors can assess such information and
formulate their own prescribing policies.”
Graham Leighton, Michael E. Telford. BMJ 1997; 315: 1621 (13 December).
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
“Existe uso racional quando os pacientes
recebem os medicamentos apropriados à sua
condição clínica...”
 Diagnóstico:
 medicalização da vida
 massificação da conduta versus análise de condições específicas do
paciente
 Eficácia clínica:
 uso da melhor evidência disponível (medidas de impacto clínico)
O-4 ANOS
AMOXICILINA
4-12 ANOS
18-24 ANOS
38-65 ANOS
METILFENIDATO
ENERGÉTICOS
RANITIDINA
12-18 ANOS
24-38 ANOS
+ 65 ANOS
ANFETAMINAS
FLUOXETINA
TODOS ELES
INFORMAÇÕES SEM APRESENTAÇÃO
DAS EVIDÊNCIAS
Identificação de propagandas de BMJ em 6 meses
(julho a dezembro de 1996)
 63 medicamentos em 81 diferentes propagandas
 apenas 25% com alto nível de evidência
 50% sem qualquer tipo de evidência para
embasamento da prescrição
Smart S; Williams C. BMJ 1997; 315(7122): 1621
EVIDÊNCIAS GERADAS COM A PROMOÇÃO DAS
INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS
Estudos patrocinados pelas indústrias farmacêuticas
 Análise de estudos publicados em 13 revistas de cirurgia e clínica
- 39% favoráveis ao novo tratamento ou produto da indústria
- estudos envolvendo medicamentos:
- 62% custeados pela indústria;
- razão de chances para resultado positivo nos estudos
promovidos pela indústria = 1,6 (IC95%: 1,1 – 2,8)
(CMAJ 2004; 170(4): 477-480)
 Estimativa
(a partir de metanálise de 1.140 artigos)
RC = 3,60 (IC95%: 2,63 - 4,91)
(JAMA 2003; 289(4): 454-465)
ASSOCIAÇÃO ESTATISTICAMENTE SIGNIFICATIVA ENTRE O PATROCÍNIO DA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E AS CONCLUSÕES OBTIDAS NOS ESTUDOS
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
“Existe uso racional quando os pacientes
recebem os medicamentos... em doses
adequadas às suas necessidades individuais, por
um período de tempo adequado...”
 Doses analisadas
 Tempo de tratamento avaliado nos estudos
EVIDÊNCIAS GERADAS COM A
PROMOÇÃO DAS INDÚSTRIAS
FARMACÊUTICAS
Razões levantadas para a observação de associação
entre patrocínio da indústria farmacêutica e conclusões
positivas de ensaios clínicos
 Qualidade da metodologia empregada: não justifica os
resultados.
 Questionamento de interesse próprio da indústria
farmacêutica.
 Escolha inapropriada da intervenção para ser
comparada ao novo tratamento proposto, sendo
freqüentemente escolhido como controle um grupo que
recebe placebo.
EVIDÊNCIAS GERADAS COM A PROMOÇÃO DAS
INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS
Razões levantadas para a observação de associação entre patrocínio da
indústria farmacêutica e conclusões positivas de ensaios clínicos
 Emprego de doses menores ou maiores
que as recomendadas para o tratamento
padrão (controle), de modo a reduzir a
eficácia ou aumentar os efeitos adversos,
respectivamente.
 Ausência de divulgação de resultados
negativos (pela indústria ou pelas
publicações).
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
“Existe uso racional quando os pacientes
recebem os medicamentos... ao menor custo
possível para eles e sua comunidade.”
 Reações adversas a medicamentos
 Custo econômico
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
E PROPAGANDA/PUBLICIDADE
REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS
Responsáveis por 6,6% das admissões em hospital de Campinas
 Coorte em hospital universitário brasileiro:
- 26% dos pacientes com pelo menos 1 suspeita de RAM definida ou provável.
- 20% relatadas antes e 80% verificadas durante a hospitalização.
- Grupos farmacológicos mais envolvidos: antimicrobianos (18,1%), com ação
em Sistema Nervoso (14,4%).
- Uso de mais de 5 medicamentos na admissão e de mais de 10 medicamentos
durante a hospitalização apresentaram riscos 3 e 2 vezes maiores de suspeita
de RAM.
- Algumas reações graves: hepatotoxicidade, sangramento GI, candidíase
esofágica e insuficiência renal aguda.
- Medicamentos
mais comumente prescritos: metoclopramida (97,9%),
paracetamol (88,6%), dipirona (61,8%), heparina (55,5%), furosemida (34,3%).

USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
E PROPAGANDA/PUBLICIDADE
REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS
Quarta causa estimada de morte em serviços de urgência nos EUA
 Aumento significativo de tempo de internação, custos hospitalares e
individuais

Alertas mínimos ou ausentes sobre sua ocorrência em propaganda de
medicamentos.
 Falsa idéia de segurança: condiciona o profissional de saúde a buscar outras
causas para as manifestações apresentadas (“cascata da prescrição”).

PROPAGANDA/PUBLICIDADE
DE MEDICAMENTOS
CUSTOS
 Mensagens implícitas:
 “o que é bom custa mais caro”
 “o preço não importa, frente à possibilidade de
obtenção do que se deseja (cura dos males ou
cessação do sofrimento)”
Estudo mostrou que contato freqüente com
representantes das indústrias farmacêuticas
associa-se de modo forte e independente com
maiores custos de prescrição.
ANALGÉSICO
MAS SERÁ QUE A PROPAGANDA INFLUENCIA
REALMENTE A PRESCRIÇÃO?
 Visitas de representantes de
laboratórios a consultórios, hospitais
e ambientes acadêmicos
 Patrocínio de eventos científicos
diversos
INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A
PRESCRIÇÃO
Nos EUA, os médicos entrevistados relataram que vêem os representantes
das indústrias farmacêuticas como uma fonte importante de informação.
Para alguns, são sua única fonte de informação.
Em 42% dos casos, informação sobre os últimos fármacos novos
prescritos foi derivada de informações de representantes das indústrias
farmacêuticas.
Jones MI et al. BMJ 2001; 323: 1-7 [4 Aug]
McGettigan P et al. Br J Clin Pharmacol 2001; 51: 184-9
INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A
PRESCRIÇÃO
Estudo sobre o uso de 2 fármacos descritos na literatura como ineficazes, mas
pesadamente promovidos como tendo eficácia
- 68% dos médicos entrevistados consideraram a propaganda minimamente
importante como fonte de influência
- 49% a 71% relataram, porém, informações similares às das indústrias sobre
esses fármacos
Arvon J et al. Am J Med 1982; 73(1): 4-8
Detecção de 11% de afirmativas falsas em apresentações de
representantes farmacêuticos.
Detecção de pelo menos uma dessas incorreções por apenas 26% dos
médicos que assistiram essas apresentações.
Ziegler MG et al. JAMA 1995; 273(16): 1296-1298
INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A PRESCRIÇÃO
Correlação positiva entre número de presentes que o médico recebe com a
crença de que os representantes não exercem impacto no comportamento de
prescrição
Warzana A. JAMA 2000; 283: 373-380
• Associação entre encontros de médicos com representantes da indústria
farmacêutica e:
Maior requisição de inclusão em formulários hospitalares dos
medicamentos promovidos
Alterações na prática de prescrição, incluindo aumento de seu custo e
prescrição menos racional
Warzana A. JAMA 2000; 283: 373-380
INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A
PRESCRIÇÃO
Propaganda de medicamentos para consumidores
Isto pode pressionar o médico a prescrever determinado
medicamento?
• Relato de 57% dos médicos (EUA): pacientes trazem, com freqüência,
propaganda de medicamentos ou referem-se a material promocional
Josefson D. BMJ 1997; 315: 445-448 [23 Aug]
• Percepção do médico sobre as expectativas do paciente: principal
determinante para a decisão de prescrever
Britten N, Ukoumunne O. BMJ 1997; 315: 1506-1510 [6 Dec]
DESAFIOS PARA O USO RACIONAL DE
MEDICAMENTOS
Atenção centrada
na tecnologia de saúde
X
Atenção centrada no paciente
ESTRATÉGIAS PARA O USO RACIONAL DE
MEDICAMENTOS
• Educacionais: profissionais e consumidores
• Gerenciais: comitês de farmácia e terapêutica,
protocolos clínicos, formulário terapêutico, relação de
medicamentos essenciais
• Regulatórias: controle de mercado ou de práticas
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA O
MEIO ACADÊMICO

Ensino de graduação e pós-graduação:
 Solução de problemas
 Aprendizado ativo
 Espírito crítico
 Desenvolvimento de pesquisas que dêem
suporte a ações de saúde

Educação continuada em serviço:
 Busca e leitura crítica da informação científica
 Avaliação constante das ações de saúde
 Atualização em eventos científicos: inserção do tema URM

Educação da população: Automedicação responsável
ESTRATÉGIAS PARA PROMOÇÃO DO URM
ESTIMULAR O USO DE
MEDICAMENTOS ESSENCIAIS
Medicamentos essenciais são aqueles
que satisfazem as necessidades de
saúde prioritárias da população.
Devem estar disponíveis em todos os
momentos, nas quantidades
adequadas, nas formas
farmacêuticas apropriadas, com
assegurada qualidade e adequada
informação, a preço que o indivíduo
e a comunidade possa pagar.
CURSOS SOBRE ENSINO PARA O USO RACIONAL
DE MEDICAMENTOS
SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL
Cursos nacionais, regionais e institucionais sobre Ensino
para o Uso Racional de Medicamentos (2002-2005)
I Congresso Brasileiro Sobre Uso Racional de
Medicamentos (2005)
Parceria
OPAS / Brasil
ANVISA - Gerência de Vigilância em Serviços Sentinela
(GVISS – Núcleo de Vigilância em Eventos Adversos e
Queixas Técnicas/NUVIG) (Projeto URM 2006)
CURSOS SOBRE ENSINO PARA O USO RACIONAL
DE MEDICAMENTOS SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL

PARA FORMAÇÃO DE FACILITADORES
13 cursos
20 estados brasileiros

PARA PRESCRITORES
3 cursos
3 estados brasileiros
PARA PÓLOS e SECRETARIAS DA SAÚDE
3 cursos na Região Sul de Santa Catarina


NÚMERO ESTIMADO DE PARTICIPANTES
750
www.usoracional.com.br
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Criação de nossos slogans publicitários
Medicamento é como gente.
Tem qualidades e defeitos.
Não se deixe enganar!
Seja mais inteligente!
Medicamentos.
Prescreva com moderação!
Medicamento é como gente
Tem qualidades e defeitos.
As qualidades – a gente admira
Os defeitos – a gente agüenta ou não
Por isso, podemos ficar,
(usar eventualmente)
Namorar,
(usar por determinado tempo)
ou até casar com algum medicamento.
(para o resto de nossas vidas)
Mas ele deve atender ao nosso jeito de ser.
(eficácia para a condição clínica),
Deve ter uma convivência regrada.
(dose e tempo de tratamento)
Não deve proporcionar mais problemas do que aqueles
que já temos.
(custo econômico e reações adversas).
O QUE FAZ BEM PRA SAÚDE?
Cada semana, uma novidade. A última foi que pizza previne câncer do
esôfago. Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo,
chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem
problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância,
mas peraí, não exagere... Diante desta profusão de descobertas, acho
mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que
faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler
um bom livro faz eu me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes
de embarcar, mas depois eu rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas
não me incham as pernas, me incham o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de
estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de
cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E
telejornais os médicos deveriam proibir - como doem! Essa história de que
sexo faz bem pra pele acho que é conversa, mas mal tenho certeza de que
não faz, então, pode-se abusar.
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma
discussão está pegando fogo faz muito bem: você exercita o autocontrole
e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de
manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial
à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior
ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate
ou muzzarela que previna. Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas
fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular
tocando e o filme ser espetacular, uau! Cinema é melhor pra saúde do que
pipoca. Conversa é melhor do que piada. Beijar é melhor do que fumar.
Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que
dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Tomo pouca água, bebo mais
que um cálice de vinho por dia, faz dois meses que não piso na academia,
mas tenho dormido bem, trabalhado bastante, encontrado meus amigos,
ido ao cinema e confiado que tudo isso pode me levar a uma idade
avançada. Sonhar é melhor do que nada.
Luis Fernando Veríssimo
Download

Uso racional de medicamentos