STC 7
SOCIEDADE, TECNOLOGIA
E CIÊNCIA - FUNDAMENTOS
PROCESSOS E MÉTODOS CIENTÍFICOS
O
QUE É A CIÊNCIA?
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A ciência caracteriza-se como explicação racional de
fenómenos, com vista à resolução dos problemas que
nos afligem. No entanto, o seu papel, e a sua tomada
de posição perante os diversos assuntos que agitam a
sociedade, têm variado de época para época.
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Actualmente, estes parâmetros da ciência ainda não
estão completamente definidos. Este facto deve-se à
crise que abalou a comunidade científica há cerca de
meio século, criando a difícil transição daquela que
era a Ciência Moderna para a actual e ainda pouco
definida Nova Ciência.
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Da Antiguidade até ao séc. XVII (aproximadamente), a ciência e a
filosofia formavam um todo (a ciência tinha, até, o nome de filosofia
natural), muito controlado pela religião.
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O cristianismo limitava as investigações e, consequentemente, todo
o progresso da ciência.
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Contudo, o aparecimento da astronomia e física modernas fazem
diminuir progressivamente o controlo da religião sobre a ciência,
permitindo que esta se torne numa entidade autónoma e
independente.
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É assim que a Ciência Moderna nasce no séc. XVI, quando as
sociedades ocidentais e a Igreja se viram confrontadas com a
importância das descobertas que se faziam. O renascimento cria
uma profunda revolução científica que transtorna os conceitos e as
ideias fundamentais da Natureza, do Homem, e do Universo.
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Estas descobertas devem-se, entre outros, a Copérnico, Galileu,
Newton e Descartes. Todos estes cientistas foram, no fundo, os
fundadores da Ciência Moderna.
ESTA CIÊNCIA ASSENTA EM 2 PRESSUPOSTOS:
O primeiro é a rejeição
absoluta dos dados dos
sentidos (experiência
imediata) e do senso comum
(preconceitos). Ao duvidar
desses dados, a Ciência
Moderna afirmava que estes
eram úteis apenas para o
conhecimento vulgar, mas que
viriam iludir e induzir em erro
o conhecimento científico. A
experiência seria importante
apenas como ponto de partida
para uma investigação, ou
como confirmação das teorias
criadas.
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O segundo pressuposto baseia-se na
Matemática. A Ciência Moderna só
considerava verdadeiro o que era
quantificável: «o rigor científico, só
poderia assentar nos aspectos
quantificáveis dos objectos e, por
consequência, no rigor das medições».
Assim, tudo o que não podia ser
traduzido em números, utilizando a
Matemática, era cientificamente
irrelevante. Hoje, considera-se que
este rigor matemático desqualificou os
objectos, pois tirou-lhes as relações
(parte muito importante do seu
conceito) com o seu meio envolvente.
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A Ciência Moderna também tinha um método próprio,
que consistia em dividir a realidade em porções, de
modo a poder simplificá-las, entendê-las, analisá-las e
classificá-las uma a uma.
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De seguida, voltava a juntar todas estas porções, e
acreditava ter diante de si um estudo fiável que
abrangia toda a realidade.
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Para criar uma verdade absoluta, a Ciência Moderna
isolava-se da realidade, num laboratório, no qual
entendia obter resultados racionais e absolutos.
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O modelo desta ciência designa-se por modelo mecanicista,
que encara o Universo como uma máquina (um mecanismo
de relógio, por exemplo), cujos resultados são previsíveis
através de leis físicas e matemáticas.
O modelo mecanicista baseia-se em três preconceitos, ou
três premissas:
a homogeneidade da matéria,
a regularidade cíclica dos acontecimentos
a causalidade ou racionalidade do Universo.
No geral, estas premissas deixam claro que existe ordem e
estabilidade no mundo (as leis que se verificam aqui,
também se verificam em qualquer outro ponto do Universo),
que os acontecimentos do passado repetem-se no futuro,
sendo assim possível a sua previsão, e que o mundo é
racional, comandado por uma força inteligente. A Ciência
Moderna defende a imutabilidade da espécie humana.
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Pode dizer-se que outra característica da Ciência
Moderna, resultante das grandes descobertas que se
fizeram sob a sua influência, é o facto de ter
proporcionado uma nova visão do mundo.
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Esta visão queria-se racional, sem ilusões, e distinta
da visão medieval do mundo que veio substituir: o
nosso planeta já não era o centro do Universo (graças a
Copérnico), a vida não surge de geração espontânea,
não somos a obra de um ser divino, mas descendemos
do macaco (graças a Darwin), os impulsos
inconscientes da nossa mente (graças a Freud) e
muitas outras descobertas que, de certo modo, vieram
“desencantar” (ou confundir) a sociedade.
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Foi então que todo este conceito de Ciência Moderna,
ao ser posto à prova, falhou.
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O primeiro a contribuir para esta crise foi Albert
Einstein que, ao criar a noção de que não existe
simultaneidade universal (não pode ser verificada a
simultaneidade
de
acontecimentos
distantes),
descredibilizou a existência de espaço e tempo
absolutos, defendidos por Newton.
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Este conceito mostrou também que as leis da Física e
da Geometria são baseadas em medições locais, não
podendo ser universalizadas. A premissa do modelo
mecanicista que afirmava a homogeneidade da
matéria estava assim posta em causa.
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Ao provarem-se relativas, as leis de Newton inspiraram o
Princípio da Incerteza, de Werner Heisenberg. Este
princípio traz uma nova visão do conhecimento,
assegurando que este é limitado e aproximado, e que os
resultados que dele obtemos são meramente probabilísticos,
relativos e parcelares. Esta nova caracterização do
conhecimento deve-se ao facto de Heisenberg ter
demonstrado que, ao observar e analisar um objecto, o
sujeito confunde-se com ele, invade-o, influenciando assim o
seu conceito («não conhecemos do real senão a nossa
intervenção nele») .
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Ao provar que, mesmo quando estudamos um objecto em
laboratório, este é manipulado ou alterado pela intervenção
do sujeito, o método “extremista” da Ciência Moderna (que
consistia em isolar-se da realidade num laboratório para
obter um estudo fiável dessa mesma realidade) foi, de certo
modo, posto de lado. As leis da Física foram, também elas,
consideradas probabilísticas, e conclui-se que a totalidade do
real não se reduz à soma das partes em que foi dividido para
análise, inviabilizando a hipótese mecanicista.
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O fim da Ciência Moderna foi então acelerado e marcado
pela 2ª Guerra Mundial. As consequências desta guerra, que
não tinham sido previstas, levaram a comunidade científica
da altura a questionar-se sobre o quão ético e correcto fora o
lançamento das bombas nucleares no Japão. Essas
consequências vieram provar que, para além de não serem
verdadeiros os pressupostos da Ciência Moderna, a ausência
de valores humanos nesses pressupostos tinha levado às
consequências nefastas que se verificaram.
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Em resposta a esta crise, surge um novo movimento
científico, que se destaca pela sua oposição total às bases
que sustentam a Ciência Moderna. Passou a entender-se
que as leis, para além de serem uma simplificação da
realidade, têm um carácter meramente probabilístico e
provisório.
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Considerou-se que o modelo matemático da Ciência
Moderna, isto é, a ideia de que a Matemática pode abranger
tudo, e de que tudo é quantificável, constitui apenas uma
limitação para o nosso conhecimento e para a nossa
apreensão da realidade
Assim, passam-se a utilizar vários métodos para estudar a
realidade, dependendo daquilo que queremos demonstrar.
Considera-se então que não existem ciências exactas, nem
verdades absolutas. O senso comum também foi aceite por
esta nova comunidade científica, tendo em conta que é visto
como “sabedoria da vida”, logo, constitui conhecimento que
se pode revelar útil no entendimento de certos aspectos do
mundo. Assim, a ciência também ela, tem como objectivo
transformar-se em sabedoria da vida. Menos arrogante, esta
nova forma de encarar o conhecimento e a ciência designa-se
por Ciência Pós-Moderna, ou Nova Ciência.
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Mas, e sendo considerado como recente o surgimento desta
Nova Ciência, esta ainda não está completamente definida.
Para que o seu conceito seja estabelecido e aplicado
internacionalmente, é necessário que haja um consenso em
toda a comunidade científica. Só desta forma poderá ser
criado um novo paradigma – conjunto de métodos e critérios
que regem a actividade científica.
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Até que seja definido o paradigma para a Nova Ciência,
pode dizer-se que, actualmente, o mundo científico está em
crise.
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Naturalmente, esta crise não impede o progresso científico e
tecnológico, bem pelo contrário. Vivemos numa época
extremamente criativa e produtiva a estes níveis, em parte
devido à ausência de paradigma, que proporciona uma
maior liberdade.
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No entanto, esta liberdade não implica que qualquer
teoria seja considerada válida!
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Assim, os cientistas têm que ver a sua tese aceite por
toda a comunidade científica para que esta possa ser
vista como uma teoria válida. Para fazer aceitar a sua
teoria, o cientista já não se limita a fazer uma
demonstração:
o
elemento
argumentativo
é
fundamental.
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Verifica-se uma maior exigência e rigor na obtenção do
conhecimento científico e das teorias consideradas
válidas, levando a que se façam menos descobertas
realmente significantes, mas que estas sejam mais
fiáveis.
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O avanço da tecnologia leva a que a verdade, na Nova
Ciência, seja vista como efémera. É aceite apenas
enquanto os seus argumentos são válidos, e antes que
seja substituída por outra teoria (com melhores
argumentos, e menos erros). Esta verdade resulta de
uma relação dialogante entre a realidade e as
competências do homem (lógica, memória, reflexão
crítica,
etc.).
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Desta forma, ao serem agora toleradas as
interferências dos valores humanos, e ao aceitar-se a
efemeridade da verdade, iremos obter um conceito
mais abrangente, viável, e realístico do conhecimento.
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Apresentação 8