1 A CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO APÓS A MODERNIDADE1 Ísis Esteves Ruffo2 Resumo: As sociedades humanas se constituem sobre crenças compartilhadas, o mundo Ocidental desenvolveu grande apreço à ciência. As comunidades científicas, por um longo período, pretenderam ser as únicas guardiãs da verdade. Houve um processo de desmistificação em massa e todos os raciocínios que não depreendessem de base científica eram vistos como superstições e lendas que deveriam ser abolidas em nome da razão. Com os avanços da própria ciência, no século XX, tornou-se insustentável tal pretensão de verdade, pois dentro do próprio conhecimento científico os homens se deparam com o impreciso e a incerteza. Diversas obras foram escritas denunciando o caráter provisório das verdades científicas e demonstrando que isso é necessário até mesmo para a expansão do próprio conhecimento. De modo algum a ciência se desvaloriza por reconhecer seu caráter discutível, apenas demonstra que é uma elaboração humana, como todos os outros conhecimentos e que busca invariavelmente a verdade, embora saiba não ser possível alcançá-la. Palavras-chave: Ciência. Conhecimento. Racionalidade. Verdade. 1 Introdução A maioria das culturas antigas tem por base a observação para pretender algum conhecimento. A experimentação metódica e a matematização dos fenômenos são relativamente recentes na história e é a partir delas que se constitui a ciência moderna. A sociedade atual é governada pelo conhecimento científico, mas o pensamento científico é resultado de um esforço do próprio pensamento para “domesticar-se” dentro de padrões que são contrários àqueles que foram sua tendência de dedução até agora, que era bem mais simples e menos precisa. Não recorria a essa esquematização da realidade por meio da matematização e da linguagem e também não exigia uma ampla experimentação dos fenômenos antes de inferir causas ou efeitos. Observando a história das ciências, notamos que essa forma de conhecimento passou por diversas fases, desde a simples contemplação e a criação de explicações mitológicas e muitas outras que se pretendiam capazes de descrever e até dominar a natureza, todas tiveram êxito, ou todas não tiveram êxito ao seu modo. Contudo, a ciência moderna desprezou muitas dessas concepções formadas anteriormente, não reconhecendo aquilo que denominaram pensamento racional nesses conhecimentos. Será apresentado nesse texto um conceito importante de Thomas Kuhn, que ele denominou “paradigmas”, que são um conjunto de regras, leis, conceitos e até mesmo 1 Texto desenvolvido a partir de trabalho entregue para a disciplina Investigação Filosófica, ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Paulo Rouanet. 2 Graduanda do curso de Filosofia da Universidade Federal de São João del-Rei. 2 métodos utilizados por uma determinada comunidade científica em um determinado tempo. A noção de paradigmas inclui na ciência a ideia de progresso não linear, pois demonstra que muitas teorias anteriormente refutadas passaram a ser aceitas posteriormente e muitas tidas como claras verdades puderam ser refutadas. Quando nos referimos aos paradigmas como conceitos importantes das comunidades científicas, devemos lembrar que essas comunidades são formadas por homens e que, portanto, o paradigma é toda uma visão de mundo adotada em uma determinada época, estendendo-se até mesmo ao homem que não é um cientista. O impacto do conhecimento científico vai muito além dos laboratórios de pesquisa e traz mudanças reais no modo de viver das pessoas e também no modo de ver o mundo. Recentes teorias das ciências, principalmente aquelas relacionadas à física quântica, tornaram-nas mais flexíveis com relação a suas próprias verdades e com isso puderam se pretender ainda mais racionais e menos míticas. Entretanto, para o homem comum, o conhecimento se torna cada vez mais distante de sua realidade, transformando-o em um mero repetidor de informações prontas que ele não pode comprovar ou refutar. As pessoas creem na ciência assim como creem em verdades míticas ou religiosas, distanciando-se cada vez mais do espírito inovador que cria explicações, pois se prende a dogmas dos quais não compreende a origem ou finalidade. Devido às implicações das descobertas científicas do último século, diversos filósofos escreveram sobre a construção da ciência e seu valor no Ocidente. Este texto abordará algumas concepções de filósofos cujo pensamento parece coincidir com as noções de Thomas Kuhn. Paralelamente serão apresentados alguns trechos de René Descartes, que foi, certamente, um dos percursores do pensamento científico moderno. 2 Sobre as crenças e o pensamento ocidental Devemos os primeiros passos da ciência aos homens que amaram o mundo, esses pioneiros perceberam a beleza das estrelas e do mar, dos ventos e dos montes. Amando as belezas do mundo, desejaram entendê-las mais intimamente do que seria possível com mera contemplação. (RUSSELL, 1956, p. 239) Todas as sociedades humanas apresentam certo número de crenças compartilhadas entre seus membros, sejam elas sobre economia, religiões e superstições, ou outras tantas que não cabe numerar. O relevante é que aquilo que entendemos como realidade não se restringe 3 ao que é para um homem individual, é antes um consenso de interpretações. As crenças fundamentam as relações entre os grupos e criam sua identidade. Uma das crenças mais difundidas hoje, no Ocidente, parece ser a equação: conhecimento científico = razão = certeza. Certamente há algo de muito agradável nessa equação. Esse cântico sobre a verdade das coisas do mundo é uma constante na história humana, da qual nunca conseguimos nos libertar. Alcançá-la, ou ao menos pensar vislumbrála tem sobre o homem um efeito confortador. “Não que a ciência seja análoga à verdade; porém, no caso do imaginário coletivo, a crença pode levar ao sentimento de estar diante de uma verdade absoluta” (FRANCELIN, 2005, p. 5). A presença bastante comum de “verdades comprovadas pela ciência” mostra, talvez, um avanço da ciência, mas principalmente uma crença das pessoas comuns nessas palavras de autoridade. Um homem que discorde, ou diga não acreditar em tal afirmação comprovada é visto como ignorante ou estúpido, mas essa certeza cega na ciência não pode ser outra coisa senão um pensamento anticientífico, pelo menos no que se refere ao que entendemos até agora por “científico”. A ciência se especializou de tal forma e se aprofundou tanto em seus métodos e equipamentos tecnológicos que é significativamente difícil que um homem comum possa, por seu empenho próprio, comprovar se uma afirmação científica tem realmente o mínimo de adequação à realidade. A própria indisponibilidade de tempo, como destaca Moles em sua obra (1995), do homem comum resulta em uma dificuldade para pensar mais demoradamente sobre tais afirmações. Isso favorece a consolidação da ciência como verdade. De alguma forma já nos adaptamos com grande confiança ao pensamento científico (MOLES, 1995). “It has been scientifically proved” (tem sido cientificamente provado), [...] nada mais é do que a crença no argumento de autoridade, já que o homem apressado não tem nem o tempo nem os meios de reencontrar e controlar esta prova resta o argumento definitivo de uma sociedade que se acredita científica, mas que se acha coagida, pelo próprio tamanho do edifício realizado, a se remeter a outros [...] (MOLES, 2005, p. 87) A aceitação da ciência como verdade, parece, então, para a maioria dos homens, um fenômeno que mais se assemelha ao irracional do que ao racional, pois pouco necessita de provas e construções lógicas para se fazer valer – a ciência e seus métodos somente serão questionadas, em nosso tempo atual, quando se defrontam com outras crenças de igual força. 3 A ciência moderna 4 Neste artigo abordaremos principalmente a ciência moderna, ou seja, aquela que se configurou ao final do século XVI, embora suas raízes sejam mais remotas. Durante a Idade Média, o conhecimento tinha por base a contemplação. A experimentação para comprovar/refutar uma teoria somente foi introduzida nos séculos XVI e XVII, com o surgimento de uma ciência que utilizava técnica para finalidades práticas. Não serviam mais, ao homem, o modelo de simples observação dos fenômenos, embora a ciência jamais tenha abandonado esse princípio, ele não é o único meio necessário de conhecer. Como veremos mais adiante, entretanto, existem ainda algumas questões puramente abstratas e teóricas que sustentam grande parte das experimentações dos cientistas atuais e fundamentam teorias maiores, mesmo sendo elas próprias um esforço de pensamento e uma regra arbitrária que se tornou necessária em algum ponto da história da ciência. Isso porque o objetivo geral da ciência atual são as soluções que se alcançam pelo método. O método é a busca por uma lei, matematicamente expressável, que forneça ordem, estruturas e relações entre fenômenos. Até mesmo em ciências como sociologia, psicologia e outras ligadas ao homem se busca essa regra. Dessa forma se caminha em um terreno instável, mas com bastante segurança. O fenômeno chamado mecanização e matematização da natureza é característica das ciências que vamos abordar nesse texto, cuja finalidade é promover uma esquematização do universo. A ideia de periodicidade ou de ritmos – retorno de acontecimentos iguais em intervalos de tempos iguais – só pode ser estabelecida com certo rigor desde que se observe um número bastante grande de retornos, para deles tirar uma inferência estatística. Ora, nós sabemos que o espírito humano coloca-se em posição de expectativa de uma repetição, de uma ocorrência renovada ao fim de um número incrivelmente fraco de ocorrências [...] 3 a 5 “períodos” bastam para se acreditar na presunção de ritmo notável, isto é, um jogo de espera do espírito. (MOLES, 1995, p. 26) O pensamento do homem comum raramente utiliza os meios científicos para inferir alguma coisa de uma observação e raramente utiliza experimentação. Na verdade, a ciência é um esforço de pensamento constante para aprimorar ideias como periodicidade e causalidade. “O rigor deve ser uma vontade e não uma condição prévia ao exercício de pensamento.” (MOLES, 1995, p. 109). Os cientistas determinam certas leis e estruturas para o mundo e para a ciência que favorecem a pesquisa e o conhecimento, bem como a produção de equipamentos 5 tecnológicos. Essas leis são chamadas por Thomas Kuhn (2007) de “paradigmas”. Estes, não são determinados de forma totalmente arbitrária, mas também não o são de forma totalmente científica, como veremos posteriormente. 4 Os paradigmas Conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos misteres de nossos artífices, poderíamos emprega-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores da natureza. (DESCARTES, 1991, p. 63) A busca por um conhecimento cada vez mais preciso tem por força motriz a necessidade de um domínio cada vez maior sobre a natureza, forçando-a a se adaptar a nós e não mais o contrário. Apesar de todos os avanços e de todas as novas áreas que a ciência conquistou nos últimos anos, o homem, entretanto, permanece cheio de dúvidas e incertezas acerca de sua condição no mundo e somente pode acreditar compreender o universo dentro de métodos e paradigmas. A ciência se faz dessa forma. Para que qualquer progresso possa ser feito, é preciso primeiro estabelecer em “qual mundo” serão produzidas as investigações e experiências. [...] Esses compromissos [conceituais, teóricos, metodológicos e instrumentais] proporcionam ao praticante de uma especialidade amadurecida regras que lhe revelam a natureza do mundo e de sua ciência, permitindo-lhe assim concentrar-se com segurança nos problemas esotéricos definidos por tais regras e pelos conhecimentos existentes. (KUHN, 2007, p. 66) Nas ciências conhecidas por seu maior grau de precisão, tais como a matemática e a física, os paradigmas sobre os quais elas atuam são aceitos com grande segurança pelos cientistas da área e por isso se parecem com a própria realidade das coisas, mas eles próprios sofreram grandes alterações ao longo da história. A pesquisa nessas áreas é bastante antiga e se funde, em diversos pontos, com a própria construção do pensamento ocidental atual. 4.1 A construção de um paradigma [...] alguma coisa semelhante a um paradigma é um pré-requisito para a própria percepção. O que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver. (KUHN, 2007, p. 150) 6 O homem ocidental não consegue apreender o mundo como um conglomerado de coisas disformes e aleatórias. Ele cria para elas uma série de relações e conceitos de similaridade, pois não pode entender o mundo a partir de itens isolados. Entre os mitos mais conhecidos que a humanidade criou para justificar a existência do mundo tal como ele é, assume-se que no início tudo era o caos e que o homem, ou Deus, é o único que pode “organizar” a natureza dentro de seus sistemas de medidas e fazê-la mais compreensível. Apresentam o princípio da ordem do universo por meio de um deus, que na verdade é bastante semelhante ao próprio exercício da razão. A ordem e a criação das coisas que existem são ideias que se fundem. Desse modo, o homem se coloca no centro de tudo que existe, pois a partir de sua capacidade única, é o único que pode “criar” as coisas do universo segundo sua vontade. Os paradigmas têm uma função bastante prática dentro da ciência, pois a partir da determinação de um modelo, ao qual o mundo deve se adequar, os cientistas podem guiar suas experiências e construir equipamentos que permitam verificar teorias. 4.2 Características de um período paradigmático [...] certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza, e das quais imprimiu tais noções em nossas almas que, depois de refletir bastante sobre elas, não poderíamos duvidar que não fossem exatamente observadas em tudo o que existe e se faz no mundo. (DESCARTES, 1991, p. 51) Comumente se acredita que as leis científicas têm por base a observação da natureza e são aceitas como independentes, ou seja, são a mais fiel e pura descrição dos fenômenos. Entretanto, a observação é também uma interpretação do observador. “Toda ação é uma ação; é, de maneira muito exata, uma interação entre dois elementos: o observador e o observado” (MOLES, 1995, p. 77). O cientista quando procura observar os fenômenos e construir leis científicas já possui uma ideia daquilo que irá encontrar. [...] supõe-se que, com base em observações, “propõem-se” ou “deduzem” ou se “descobrem” leis científicas. Por exemplo, diz-se que baseando-se na observação de alavancas poder-se-á tirar a lei da alavanca [...] a lei da alavanca, na verdade (já) estava implícita no próprio discurso da observação [...] ela pode ser “verificada”, ou seja, ser constatado seu bom funcionamento, uma vez admitidos um certo número de proposições. (FOUREZ, 1995, p. 63,64) 7 Thomas Kuhn destaca que a própria formação do cientista o fará agir dessa forma. O cientista possuirá tanta convicção nas leis enunciadas em seus manuais que não saberá ver o mundo de maneira diferente (2007). “O cientista que olha para a oscilação de uma pedra não pode ter nenhuma experiência que seja, em princípio, mais elementar que a visão de um pêndulo” (KUHN, 2007, p. 166). A observação do fenômeno parece ser apenas um elemento primário dentro do conhecimento científico que é visível. Ou seja, a ciência não é uma simples observação, mesmo porque não podemos conceber um observador totalmente indiferente ao observado e, mesmo na experimentação, também não se poderá ser totalmente neutro. A experimentação também estará direcionada. Experimentar é sempre fazer um jogo com os fenômenos e estes podem ser misturados ou dissimulados por fortes causas de flutuação aleatória, tão fortes que desvendar o que se quer achar dentro de uma paisagem experimental perturbada pode participar da arte da conjuração, do rito e quase da encantação, mais do que da sólida racionalidade empírica. (MOLES, 1995, p. 48) O cientista não é treinado para testar o paradigma, mas para torná-lo cada vez mais abrangente. Quando realiza um teste em seu laboratório, o que se procura é a regra enunciada, não uma anomalia. “[...] verificar uma lei é menos um processo puramente lógico do que a constatação de que a lei nos satisfaz” (FOUREZ, 1995, p. 64). O mundo oferece ao observador um grande número de dados, mas as observações que se podem fazer sobre eles são infinitas, dependendo muito de um, como destacou Kuhn, contexto histórico, acidentes pessoais e pré-convicções do próprio observador (2007). Obviamente, isso não significa que a ciência não possua uma base ligada à experimentação, mas não se pode fundamentar as leis científicas somente nisso, pois “não se pode jamais dizer que os resultados empíricos nos ‘obrigam’ a ver o mundo de tal ou tal maneira” (FOUREZ, 1995, p. 65). A observação e a experimentação podem e devem restringir drasticamente a extensão das crenças admissíveis, porque de outro modo não haveria ciência. Mas não podem por si só, determinar um conjunto específico de semelhantes crenças. Um elemento aparentemente arbitrário composto de acidentes pessoais e históricos é sempre um ingrediente formador das crenças esposadas por uma comunidade científica numa determinada época. (KUHN, 2007, p. 23) Quando o cientista se depara com uma situação que difere da esperada como resultado de um experimento, ele tentará encontrar o seu próprio erro, nunca o do paradigma. 8 A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal. Segue-se então uma exploração mais ou menos ampla da área onde ocorreu a anomalia. Esse trabalho somente se encerra quando a teoria do paradigma for ajustada, de tal forma que o anômalo tenha se convertido no esperado. [...] até que o cientista tenha aprendido a ver a natureza de um modo diferente o novo fato não será considerado completamente científico. (KUHN, 2007, p. 78) 5 As revoluções na ciência: mudanças de paradigmas [...] os momentos decisivos essenciais do desenvolvimento científico associado aos nomes de Copérnico, Newton, Lavoisier e Einstein [...] exibem aquilo que constitui todas as revoluções científicas, pelo menos no que concerne à história das ciências físicas. Cada um deles forçou a comunidade a rejeitar a teoria científica anteriormente aceita em favor de outra incompatível com aquela. Como consequência, cada um desses episódios produziu uma alteração nos problemas à disposição do escrutínio científico e nos padrões pelos quais a profissão determinava o que deveria ser considerado como um problema ou como uma solução de problema legítimo. (KUHN, 2007, p. 25) Thomas Kuhn defende que um paradigma só entra em crise quando um grande número de problemas não pode mais ser resolvido por intermédio dele, mas somente por novas regras. Também quando a natureza apresenta uma anomalia muito significativa com relação ao paradigma, de modo que não seja mais possível estendê-lo para abranger a nova situação (2007). Kuhn também afirma que um paradigma, entretanto, por mais anomalias que apresente, somente será substituído quando houver outro. Não é possível um momento sem paradigmas (2007). “Nenhuma história natural pode ser interpretada na ausência de pelo menos algum corpo implícito de crenças metodológicas etéricas interligadas que permita seleção, avaliação e crítica” (KUHN, 2007, p. 37). Ao contrário do que se faz parecer, as provas de validade de uma teoria não estão na natureza como algo puro, elas precisam ser procuradas. “(as) teorias ‘ajustam-se’ aos fatos’, mas somente transformando a informação previamente acessível em fatos que absolutamente não existiam para o paradigma precedente [...] surgem ao mesmo tempo que os fatos aos quais se ajustam [...]” (KUNH, 2007, p. 181). O conhecimento científico pode surgir, como vimos anteriormente, de uma série de fatores e intuições de uma ideia original. Caso se adapte, será ainda mais explorado e se tornará mais complexo e abrangente. O juízo que leva os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente aceita baseia-se sempre em algo mais do que a comparação da teoria com o mundo. Decidir rejeitar um paradigma é sempre simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz a essa 9 decisão envolve comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua. (KUHN, 2007, p. 108) Devemos então assumir que a interpretação do observador sempre parte de um determinado ponto e seguirá em direção a um novo ponto, não podendo por um período ficar totalmente privada de paradigmas. O paradigma é, portanto, o “lugar” onde o homem está independente de ser, ou não, um cientista. (olhamos o mundo) com um certo número de ideias na cabeça: ideias preconcebidas, representações, sejam científicos, pré-científicos, ou míticos. Essas representações possuem sempre uma certa coerência [...] quando essas representações não nos convêm, por uma razão ou por outra, nós a substituímos por outras que nos sirvam melhor para fazer o que quisermos. (FOUREZ, 1995, p. 65,66) Existe, portanto, uma objetividade nas representações de mundo. O homem aceitará aquela representação que seja mais útil, embora utilidade não seja um apalavra que abranja todo o sentido que devemos colocar nessa questão. Esse fato nos indica qual a natureza dos problemas relevantes que levariam um paradigma à crise. 5.1 Quais os fatores determinantes para adoção de um paradigma em detrimento de outro? [...] como as ações da vida não suportam qualquer delonga, é uma verdade muito certa que, quando não está em nosso poder o discernir as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis. (DESCARTES, 1991, p. 42) Thomas Kuhn afirma que não é possível apontar entre todas as explicações possíveis em um período de crise aquela que é mais absoluta, pois para isso seria necessário “(comparar) a teoria científica em exame com todas as outras teorias imagináveis que se adaptem ao mesmo conjunto de dados observador.”, e também “(construir) todos os testes que possam ser concebidos para testar determinada teoria” (KUHN, 2007, p. 187). Obviamente não haveria tempo, ou neutralidade do observador que fossem suficientes em tal projeto. Logo, os cientistas procuram por aquela teoria que seja mais viável em uma dada situação. “A verificação é como a seleção natural: escolhe a mais viável entre as alternativas existentes em uma situação histórica determinada” (KUHN, 2007, p. 20). Isso não significa que sejam as mais verdadeiras. Existem vários exemplos na história em que teorias antes rejeitadas foram 10 aceitas posteriormente como verdades, o que não quer dizer também que aquelas que foram rejeitadas eram totalmente falsas. Todas as teorias científicas foram, até certo ponto, adequadas à realidade da natureza. Todos os paradigmas possuem seus problemas que não podem ser resolvidos e possuem, também, algumas soluções e explicações para os fenômenos. Quanto mais cuidadosamente estudam, digamos, a dinâmica aristotélica, a química flogística ou a termodinâmica calórica, tanto mais certos tornam-se do que, como um todo, as concepções da natureza outrora correntes não eram nem menos científicas, nem menos o produto da idiossincrasia do que as atualmente em voga. (KUHN, 2007, p. 20) O que faz um paradigma ser adotado é, portanto, um valor exterior à ciência: “quais são os problemas que é mais significativo ter resolvido?” (KUHN, 2007, p. 145). Mesmo porque “[...] a competição entre paradigmas não é o tipo de batalha que possa ser resolvido por meio de provas” (KUHN, 2007, p. 190). A mudança de paradigma é pouco prática, pois não se trata de passar de uma concepção errada para uma certa, trata-se apenas de mudança de concepção. Muitas vezes essa mudança não parece mais certa que a anterior e convencer a comunidade científica a rever uma parte de suas teorias é algo trabalhoso, pois isso traz problemas para os cientistas, como retardar a construção de novas tecnologias a partir do conhecimento científico, por exemplo. [...] precisa ter fé na capacidade do novo paradigma para resolver os grandes problemas com que se defronta, sabendo apenas que o paradigma anterior fracassou em alguns deles. [...] É igualmente necessário que exista uma base para a fé no candidato específico escolhido, embora não precise ser nem racional nem correta. Deve haver algo que pelo menos faça alguns cientistas sentirem que a nova proposta está no caminho certo e em alguns casos somente considerações estéticas pessoais e inarticuladas podem realizar isso. Homens foram convertidos por essas considerações em épocas nas quais a maioria dos argumentos técnicos apontavam noutra direção. (KUHN, 2007, p. 201) É preciso, portanto, enxergar nessa mudança algo que trará muitos benefícios no futuro. Uma espécie de intuição dos cientistas no início de um período de crise é, portanto, necessária para a construção da ciência. Obviamente ao longo do desenvolvimento do paradigma, das experimentações e construções de equipamentos, o paradigma encontrará bases mais estáveis para se firmar, embora permaneça sempre sendo discutível. Não se pode mais falar, hoje em dia, de uma verdade final. 11 Quando os paradigmas participam – e devem fazê-lo – de um debate sobre a escolha de um paradigma, seu papel é necessariamente circular. Cada grupo utiliza seu próprio paradigma para argumentar em favor desse mesmo paradigma [...] (mas o paradigma) não pode tornar-se impositivo, seja lógica, seja probabilisticamente. (KUHN, 2007, p. 127,128). 5.2 Um exemplo de paradigma em matemática Ser o mais firme e resoluto possível em minhas ações, e em não seguir menos constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas, sempre que eu tivesse me decidido a tanto. (DESCARTES, 1991, p. 42) A base do funcionamento do paradigma enquanto não estabelecido é a convicção dos cientistas sobre sua validade. Isso porque, antes de se firmar como uma verdade científica, o paradigma é uma espécie de hipótese escolhida entre as possíveis. Ao longo da história, a concepção sobre a própria natureza do número e da matemática transformou-se diante de obstáculos que precisavam ser removidos. Para que a matemática permanecesse sendo útil, os cientistas dessa área se esforçaram para criar novos métodos e modelos que melhor se adequassem às necessidades e não se coagiram ao quebrar e adaptar regras antigas. Mesmo em uma ciência bastante precisa e antiga, como a matemática, existe um esforço constante para fazê-la se adaptar e explicar melhor nosso mundo. Um exemplo relativamente recente da adaptação de novas concepções foi a adoção dos chamados números imaginários, em meados do século XVII. Apesar da estranheza que os matemáticos apresentaram no período, essa foi uma mudança necessária e, hoje em dia, sua adoção, não é mais um problema. Cada vez mais esses números recentes se tornam “naturais” e são incorporados à noção comum de número. O encontro do irracional como obstáculo e a história de sua resolução, com efeito, são particularmente significativos no caso dos números chamados “imaginários”. De início denominados “impossíveis”, eles se apresentam com resultado de operações algébricas, impossíveis com efeito segundo as regras anteriormente admitidas da Álgebra, mas são, entretanto, representados por símbolos vazios e manipulados em cálculos com uma segurança cada vez maior apesar da irracionalidade patente dessas aplicações. (GRANGER, 2002, p. 53) Desde os primórdios da contagem nas sociedades ocidentais até os dias de hoje, observou-se um aumento significativo da complexidade da matemática e das possibilidades de interpretação do universo que ela produz. Certamente há uma necessidade cada vez maior dessa ciência e uma grande valorização em decorrência disso. O esforço para gerar soluções dentro das regras anteriores, apesar de serem impossíveis as soluções geradas, demonstra um grande esforço dos matemáticos em fazer 12 funcionar esse antigo sistema de regras. Os números imaginários permaneceram um problema para os matemáticos até a apresentação de Carl Friedrich Gauss, no século XVIII, segundo Granger O caráter numérico é então definido por Gauss como a possibilidade de uma ordem, que dá sentido ao mais e ao menos: é a partir de um elemento qualquer um de resto, de uma sequência, que os números reais se definem. Ele considera objetos que não poderiam ser ordenados numa única sequência infinita, mas somente em “sequências de sequências” [...] É então que Gauss sugere uma representação intuitiva espacial dessas relações: (numéricas) [...] Assim o grande Gauss reuniu explicitamente num mesmo pensamento duas formas de racionalização já latentes: a racionalização por representação intuitiva num espaço e a racionalização abstrata por formulação de regras de composição algébricas. (GRANGER, 2002, p. 76,78) Essas duas formas de racionalização – representação intuitiva num espaço e racionalização abstrata por regras matemáticas –, citadas por Granger, tornaram-se as duas formas de se produzir conhecimento científico no Ocidente. Adaptando os números imaginários às regras válidas anteriormente, eles se tornaram “racionais”, o que significa “estender a aplicação de uma atividade de pensamento para além dos objetos de domínio para o qual ela foi concebida” (GRANGER, 2002, p. 84), tendo por finalidade uma prática. 6 O progresso da ciência e sua desmitificação O Sol, à tarde, ao invés de “deitar-se”, entra dentro das profundezas da Terra e da Noite e caminha dentro do mundo subterrâneo em um esforço permanente para sobreviver. Para consegui-lo e para devolver-lhe sua forma primitiva, portanto fazêlo reerguer-se em sua potência, é preciso sacrifícios de sangue humano consagrados ao Sol. São somente eles que vão permitir-lhes combater os obstáculos da noite e reviver no dia seguinte. Não se duvida que haja dentro desse desenvolvimento o que se chama, de maneira muito precisa, um raciocínio. E o fato deste raciocínio nos parecer “irracional” significa sobretudo a superioridade daquilo que chamamos de a ciência (a nossa) sobre os sistemas de racionalização de culturas ultrapassadas [...] Nós poderíamos dizer que o que falta é uma experimentação estatística sobre o reaparecimento do Sol em função das quantidades de sangue derramado. (MOLES, 1995, p. 115,116) Esta última seção visa defender uma visão menos superficial sobre aquilo que chamamos científico. Certamente há um denominador comum em todas as posições que são assumidas perante o universo, o homem. Não há nenhuma razão para julgar uma cultura menos racional do que outra somente por esta não praticar a mesma ciência, ou utilizar os mesmo métodos e conceitos. “Os sistemas teóricos aparecem como interpretações que organizam nossa percepção do mundo. São criações do espírito humano, assim como as 13 visões poéticas, artísticas e estéticas etc. Trata-se de construções humanas onde se acaba encontrando o espírito” (FOUREZ, 1995, p. 67). A ciência trouxe muitas melhorias de vida, principalmente quando pensamos na medicina, mas não significa que seja a única opção racional. Mesmo porque a ciência não pode explicar, talvez ainda, toda a amplitude da vida humana. Ao longo de alguns séculos houve uma crescente preocupação em desmitificar o pensamento do homem, tornando-o um ser extremamente prático e talvez apático diante da vida, um verdadeiro processo de “salubridade pública do espírito” (MOLES, 1995, p. 46). Essa crença de que a ciência é um processo de salvação que “substituiriam a ignorância, em vez de substituir outros conhecimentos de tipo distinto e incompatível” (KUHN, 2007, p. 129) fomenta a ideia de que estamos em contínuo progresso, que cada vez mais estamos perto de uma grande verdade e que seguimos em direção a algo. A ciência se apresenta como forma ápice da razão, pois assume para si a função de reunir os fatos conforme sua similaridade e separá-los em categorias específicas, identificar relações entre eles e formular a partir disso teorias que suportem a complexidade da natureza. O impreciso é o contrário do preciso. O pensamento humano, sobretudo no Ocidente, obstinou-se em conquistar a precisão, isto é, em impor ao mundo um sistema de medidas traduzidas por grandezas e números e em encerrar a totalidade do mundo, em todos os seus aspectos, no interior desta rede de medidas que o matemático chamaria dimensões. Será que tivemos razão em ver na precisão o critério geral do que constitui a ciência? (MOLES, 1995, p. 21) Como vimos anteriormente, durante as mudanças de paradigma utilizamos, não exatamente, métodos científicos. Embora exista progresso na ciência, ele não ocorre exatamente nas revoluções e sim nas pesquisas feitas após e antes delas, período que Thomas Kuhn denomina “ciência normal” (2007). A construção de ideias completamente diferentes do paradigma não se constitui em base puramente científica, ou seja, observadora-experimental, pois, embora se possa observar um problema que não se possa resolver, ele somente será uma ameaça ao paradigma por um critério exterior à ciência. Levando em consideração que todos os paradigmas possuem algumas limitações e que a natureza permanece uma fonte inesgotável de enigmas, podemos chegar ao mesmo pensamento de Thomas Kuhn que diz que “[...] embora certamente a ciência se desenvolva em termos de profundidade, pode não desenvolver-se em termos de amplitude” (KUHN, 2007, p. 214). 14 A sucessão de paradigmas não nos leva, portanto, a uma proximidade com a verdade, leva-nos apenas a outra interpretação, mais abrangente e útil para os fins que buscamos. É preciso ter em mente que essa finalidade não é a verdade e sim um domínio cada vez maior sobre o próprio conhecimento. [...] talvez tenhamos que abandonar a noção, explícita ou implícita, segundo a qual as mudanças de paradigma levam os cientistas e os que com eles aprendem a uma proximidade sempre maior com a verdade [...] processo que se caracteriza por uma compreensão sempre mais refinada e detalhada da natureza. Mas nada do que foi ou será dito transforma-o num processo de evolução em direção a algo. (KUHN, 2007, p. 215) Essa falta de direção é impactante sobre a concepção de ciência, porque enfrenta um dos princípios mais enraizados na cultura ocidental, que diz que saímos de um lugar para chegar a outro. Aceitar que o segundo lugar possa ser, essencialmente, semelhante ao primeiro, não sendo idêntico apenas por uma questão de tempo ou técnica, parece desconstruir toda a ideia de significação da ação. Como demonstrou Thomas Kuhn, Todas as bem conhecidas teorias evolucionistas pré-darwinianas – as de Lamarck, Chambers, Spencer e dos “Naturphilosophen” alemães – consideravam a evolução um processo orientado para um objetivo. A “ideia” de homem, bem como de flores e fauna contemporâneas, eram pensadas como existentes desde a primeira criação da vida, presentes talvez na mente divina. Esta ideia ou plano fornecera a direção e o impulso para todo o processo de evolução. Cada novo estádio do desenvolvimento da evolução era uma realização mais perfeita de um plano presente desde o início. Para muitos, a abolição dessa espécie de evolução teleológica foi a mais significativa e a menos aceitável das sugestões de Darwin. [...] a seleção natural, operando em um meio ambiente dado e com os organismos reais disponíveis era o responsável pelo surgimento gradual, mas regular, de organismos mais elaborados, mais articulados e muito mais especializados. [...] A crença de que a seleção natural, resultando de simples competição entre organismos que lutam pela sobrevivência, teria produzido o homem juntamente com os animais e as plantas superiores era o aspecto mais difícil e mais perturbador da teoria de Darwin. O que poderia significar “evolução”, “desenvolvimento” e “progresso” na ausência de um objetivo especificado? (KUHN, 2007, p. 216,217) A forma como a ciência de desenvolveu abrange mais do que um contexto histórico, ilustra como se estruturou o pensamento do homem ocidental atual, seu rigor em separar as coisas em categorias, a busca pela ordem e pela verdade única. O discurso científico nos faz enxergar um progresso diferente na ciência, apresenta os conhecimentos passados como frutos da ignorância e do misticismo e que a ciência serviria para lançar uma luz racional sobre um mundo totalmente desorganizado e subjetivo. 15 A própria ciência considera seus paradigmas, ou teorias passadas, como erros ou crenças, não como interpretações diferentes. Chama “descobertas” coisas que há muito se conhecia, mas visto de outra forma. Se essas crenças obsoletas (paradigmas anteriores) devem ser chamadas de mitos, então os mitos podem ser produzidos pelos mesmos tipos de métodos e mantidos pelas mesmas razões que hoje conduzem o conhecimento científico. Se, por outro lado, elas devem ser chamadas de ciências, então a ciência inclui conjuntos de crenças completamente incompatíveis com as que hoje mantemos. (KUHN, 2007, p. 21) 7 Considerações finais É bem verdade que há dentro do ser humano uma vontade de apreciar quantitativamente, de julgar a igualdade, que a linguagem mais prosaica contém considerações que se pode chamar de métricas (“é o maior” “é o menor”...) e que é uma constante do nosso espírito desde que ele se queira reflexivo, isto é, desde que ele se volte para suas próprias afirmações. [...] É verdade enfim que ele deve trabalhar perpetuamente dentro do jogo de correlações vagas, de lógica probabilista e que ele se dedica a isso permanentemente – bem entendido que sem saber, na maioria dos casos, o que a própria palavra correlação pode significar, o que não impede de servir-se dela. (MOLES, 1995, p. 147) A ciência não pode ser facilmente definida, ela constitui-se em um conjunto de métodos, teorias e modelos que visam descrever a realidade. Francelin (2005) destaca a citação de Morais em que “[...] ‘mais do que uma instituição, é uma atividade. Podemos mesmo dizer que a ‘ciência’ é um conceito ‘abstrato’. O que se conhece ‘concretamente’, continua o autor, são os cientistas e o resultado de seus trabalhos” (apud MORAIS, 2005, p. 3). Ou seja, uma das maiores dificuldades em definir o que é a ciência está no fato de que podemos compreendê-la por meio de um processo histórico, mas não nela mesma. A ciência não “se reduz a experimentos, pelo contrário, é extremamente abrangente e complexa” (FRANCELIN, 2005, p. 3) e sua abrangência engloba diversos pontos da vida comum, além daqueles denominados científicos. A ciência assume a responsabilidade pela resolução de todos os problemas relacionados à existência humana, ainda que não possua todas as respostas, apresenta-se ao homem comum como possibilidade mais viável para conquistá-las, diante do aparente progresso em direção à verdade. “(Eliminam-se) algumas características fundamentais do cotidiano humano, como mito e crença, a ciência toma-lhes o lugar na tentativa de tudo explicar, de tudo dominar” (FRANCELIN, 2005, p. 4). 16 A posição cientificista oriunda dos séculos XVII e XVIII perdeu forças no século XX, principalmente com as implicações da física quântica. Atualmente a ciência não parece substituir eficazmente todos os outros conhecimentos existentes e isso não é nem mesmo necessário. A partir de finais do século XIX e início do século XX, com a “nova” (re)evolução científica, teve início uma revisão dessa posição com relação à filosofia, ou seja, a concepção de verdade absoluta começa a ser posta em questão devido às lacunas deixadas e que não poderiam ser preenchidas apenas pelas pressuposições científicas modernas. (FRANCELIN, 2005, p. 4) As “verdades” com que o homem trabalha são sempre provisórias, mas são principalmente necessárias. Não se pode construir uma sociedade sem elas, nem encontrar a identidade de um povo ou indivíduo. O nosso conhecimento, seja mítico, seja científico, é extremamente racional e tem por objetivo comum a explicação e o conhecimento e se baseia, em seu início, na observação de um mundo comum, mas que será posteriormente interpretado de maneiras diferentes. Referências DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultura, 1991. FOUREZ, Gérard. A construção das ciências: introdução à filosofia e a ética das ciências. Trad.: Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1995. FRANCELIN, Marivalde M. Ciência senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo?pid=S010019652004000300004&script=sci_arttext>. GRANGER, Gilles G. O irracional. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: UNESP, 2002. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz V. Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 2002. LEE, Jeong-Ook DOCUMENTÁRIO: THE EAST AND THE WEST. Título no Brasil: O ORIENTE E O OCIDENTE. Ano de produção: 2009. Produzido por EBS. País de origem: Coréia do Sul. MOLES, Abraham A. Colaboração de ROHMER, Elisabeth. As ciências do impreciso. Trad.: Glória de C. Lins. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. 17 RUSSELL, Bertrand. A perspectiva científica. Trad. João Batista Ramos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956.