Semana de Biblioteconomia da
Universidade Federal Fluminense
OS DESAFIOS NA/DA
INCLUSÃO DIGITAL
Isa Maria Freire
Doutora em Ciência da Informação
Palestra em junho de 2005
Agradecimentos
Ao Diretório Acadêmico de
Biblioteconomia e Documentação da
UFF, pela oportunidade;
A Gisele Camargo Monteiro e Joana C.
Marques dos Santos, pelo convite;
A Maria de Fátima Martins, do PPGCI –
IBICT – UFF, pela revisão do texto.
Aos presentes, pelo presente de
suas presenças.
“Conhecimento é como a luz.
Sem peso e intangível,
pode facilmente viajar o mundo,
iluminando a vida das pessoas
em todos os lugares.”
Relatório do Banco Mundial 1998/1999
“O conhecimento voa
nas asas da informação.”
Isa Maria Freire
Metáfora criada em sala de aula
Quadro de referência
A humanidade entrou em um
período histórico que pode ser
denominado Era do Conhecimento.
Em decorrência, o fenômeno da
informação torna-se elementochave para o processo de
transformação econômica e
cultural da sociedade.
Quadro de referência
A Era do Conhecimento deve ser
vista como um período de
profundas transformações
pessoais e sociais.
Nela, a informação torna-se um
recurso vital e, nesse contexto,
cientistas e profissionais da
informação têm uma
responsabilidade social.
Quadro de referência
Para uma ação social responsável,
“É fundamental que a ciência da
informação se aproxime do
fenômeno que pretende estudar:
o encontro da mensagem com o
receptor, ou seja, informação,
seu uso, implicações e
conseqüências.”
Araújo, 1994
Quadro de referência
“Como definir a sociedade da
informação? A sociedade da
informação é a sociedade que
está atualmente a constituir-se,
na qual são amplamente
utilizadas tecnologias de
armazenamento e transmissão de
dados e informação de baixo
custo.”
Assmann, 2000
“Esta generalização da utilização
da informação e dos dados é
acompanhada por inovações
organizacionais, comerciais,
sociais e jurídicas [estão
alterando] o modo de vida
tanto no mundo do trabalho
como na sociedade em geral.”
Assmann, 2000
VIVEMOS NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
SIM
SIM
“Assistir à televisão em rede
nacional, trocar mensagens no
telefone celular, movimentar a
conta no terminal bancário e, pela
Internet, verificar multas de
trânsito, comprar discos ...
pesquisar e estudar são hoje (set.
de 2000) atividades cotidianas, no
mundo inteiro e no Brasil.”
LIVRO VERDE
SIM
“Rapidamente nos adaptamos a
essas novidades e passamos
[sem maiores questionamentos]
a viver [numa sociedade onde] a
informação flui a velocidades e
em quantidades [inimagináveis]
há apenas poucos anos,
assumindo valores sociais e
econômicos fundamentais.”
LIVRO VERDE
SIM
“A Câmara Brasileira de Comércio
Eletrônico e a E-Consulting divulgaram
ontem que o varejo on line brasileiro
movimentou [em setembro] um volume
20,9% maior do que [em] agosto. ...
baseando-se em dados do IBGE, o
resultado ... é o equivalente a 2,9% do
varejo total no país.
O maior crescimento em setembro foi
no comércio on line de carros, fechando
o mês em ... 50,7% mais que [em]
agosto. ...”
O GLOBO on line, 11.11.2003
SIM
“Segundo o Ibope eRatings, o
número de usuários domiciliares
da Internet no Brasil cresceu 0,7%
em janeiro de 2003, atingindo 7,5
milhões de pessoas. O número de
horas navegadas também cresceu,
atingindo 11 horas e 10 minutos
por mês, um aumento de 7,5% em
relação a dezembro de 2002.”
Rondelli, 2003
SIM
“Esta presença na Web brasileira
esteve concentrada nos sites de
"Carreira e Empregos", visitados
por 1,4 milhão de internautas,
18,8% do total de usuários ativos.
‘Esse aumento mostra não só que a
Internet já se firmou como um dos
principais, senão o principal canal
para a busca de empregos
qualificados’.”
Rondelli,l 2003
SIM
“Os sites de ‘Notícias e Informações’
também apresentaram
crescimento em janeiro, atingindo
3,2 milhões de internautas. ... ‘No
geral, estes são indicadores de que
a Internet no Brasil vai se
firmando cada vez mais como um
importante canal de serviços e
mídia para os integrantes das
classes A e B’, segundo o IBOPE
eRatings.”
Rodelli, 2003
SIM
Desafios na/da inclusão digital
POPULAÇÃO DE INTERNAUTAS NO BRASIL – Pesquisas selecionadas
Data da
Pesquisa
Usuários Nº de Meses Crescimento Crescimento
% da
(milhões) Acumulado Acumulado médio/mês População
Fev/2002
13,08
55
1034%
18,8%
7,6%
jul/1997
1,15
1
-
-
-
Fonte: www.e-commerce.org.br/stats.htm / base pop. : 172 milhões
SIM
VOCÊ ESTÁ NO ORKUT?
“Afinal, o que é esse tal de
Orkut, que já conquistou mais
de 600 mil usuários brasileiros
em pouco mais de seis meses e
continua crescendo em
progressão geométrica?”
O Globo, 15/08/2004
SIM
“Apesar do estranho nome, o site
de relacionamentos ... é a mais
nova febre da internet brasileira e,
pelo andar da carruagem, promete
fazer tanto ... sucesso quanto os
tão comentados fotologs, que
revolucionaram o mercado da
fotografia, e os blogs, que
revelaram uma leva de novos
escritores.”
O Globo, 15/08/2004
SIM
O nome Orkut
Porque foi criado por Orkut Buyukkokten, um
turco de 29 anos que trabalha como analista de
sistemas no Google.
Quantos já são:
O Orkut já alcançou a incrível marca de 1 milhão
e 200 mil cadastrados. Do total, cerca de 60%
são brasileiros, contra menos de 20% de
americanos. Em terceiro lugar vem do Iraque,
embora a maioria dos cadastrados naquele país
não seja realmente de lá. É que dá para
enganar o site e se declarar originário
de qualquer país.
SIM
“A Federação Israelita do Rio está
tomando providências para tirar do ar
a comunidade ‘Eu odeio judeus’,
instalada no site Orkut, de propriedade
do Google. As autoridades dos EUA,
onde está sediado o site, já foram
acionadas. Os participantes do grupo,
em sua maioria brasileiros, todos
identificados no Orkut, serão
processados criminalmente.”
O Globo 15/08/2004
SIM
“A sociedade da informação [portanto] não
é um modismo.
Representa uma profunda mudança na
organização da sociedade e da economia ...
É um fenômeno global, com elevado
potencial transformador das atividades ...
econômicas, uma vez que a estrutura e a
dinâmica dessas atividades ... serão em
alguma medida afetadas pela infra-estrutura
de informações disponíveis.”
LIVRO VERDE
MAS,
VIVEMOS NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
NÃO
Os dados
“Em um mundo de 5 bilhões e 600
milhões de habitantes, apenas 150
milhões são usuários de PCs.
Menos de 10% dos usuários de
computadores pessoais no mundo
têm correio eletrônico. Menos de
7% têm acesso direto à Rede.
Menos de 5% dos lares dispõem de
PCs. Menos de 1% da população
mundial tem acesso à Internet.”
Amaral, 2003
Os dados
“Uma pesquisa da Fundação Getúlio
Vargas, divulgada no primeiro
semestre de 2003, traçou o ‘mapa da
exclusão digital’ no Brasil. Cerca de
87% da população não possuem PCs.
Apenas 8,3% estão conectados à
Internet. Nove em cada dez
brasileiros não têm acesso a um
computador. Entre os negros, apenas
4% têm um computador em casa.”
Amaral, 2003
Os dados
“Entre a população branca, a
percentagem sobe para 15%. São
poucos os avanços da tecnologia da
informação nos setores de maior
carência social e econômica. A
capacitação brasileira é mais expressiva
nos setores do Governo e dos bancos
(imposto de renda pela Internet,
votação eletrônica, automatização dos
serviços bancários).”
Amaral, 2003
Nesse contexto,
“As ações de inclusão digital
buscam difundir o sucesso
obtido pela tecnologia de
ponta pelos mais
desfavorecidos.”
NERI et al., 2003
Pois
“... ao afetar a capacidade de
aprendizado, a conectividade e a
disseminação de informações, [o
analfabetismo digital] gera
conseqüências virtualmente em
todos os campos da vida do
indivíduo. ... [Por isso] a inclusão
digital é cada vez mais parceira da
cidadania e da inclusão social.”
NERI et al., 2003
“Inclusão digital é, dentre outras coisas,
alfabetização digital. ... é a
aprendizagem necessária ao indivíduo
para circular e interagir no mundo das
mídias digitais como consumidor e
como produtor de seus conteúdos e
processos.
... a oferta de computadores conectados
em rede é o primeiro passo, mas não é
o suficiente para se realizar a pretensa
inclusão digital.”
Rondelli, 2003
“O segundo passo: ... as pessoas
que serão digitalmente incluídas
precisam ter o que fazer com os
seus computadores conectados ou
com suas mídias digitais.
Portanto, inclusão digital significa
criar oportunidades para que os
aprendizados feitos a partir dos
suportes técnicos digitais possam
ser empregados no cotidiano da
vida e do trabalho.”
Rondelli, 2003
“O terceiro passo ... corolário do
anterior, é que precisa haver todo
um entorno institucional para que
esta se realize. ...
Para isso é preciso muito
investimento financeiro, pois essa
tecnologia não é gratuita, mesmo
que pública. E tal desenho
institucional não se faz de modo
aleatório.”
Rondelli, 2003
“Um quarto passo [é] entender que
inclusão digital pressupõe outras
formas de produção e circulação
da informação e do saber
diferentes destas mais tradicionais
que nos acostumamos a
freqüentar.
Portanto, há também um elemento
importante de inovação no uso das
tecnologias.”
Rondelli, 2003
“As mídias digitais permitem que se
estabeleçam relações descentralizadas
e verticalizadas entre os produtores e
consumidores de conhecimento.
... tais mídias possibilitam maior
interação entre tais agentes. Assim, no
interior delas, podemos ser ora
produtores, ora consumidores dos
conteúdos e dos processos possíveis de
circularem na rede.”
Rondelli, 2003
Mas
“Processos de inclusão só ocorrem se a
ampliação do acesso [às] mídias
existentes for acompanhada da inserção
dos indivíduos em um universo cultural
e intelectual mais rico que os motivem a
utilizá-las. Pois para estar e gostar da
Rede é preciso ter e saber o que buscar.
E só busca informação quem tem algo a
fazer com ela.”
Rondelli, 2003
Por isso
“O governo, nos níveis federal, estadual e
municipal, tem o papel de assegurar o
acesso universal às tecnologias de
informação e comunicação e a seus
benefícios, independentemente da
localização geográfica e da situação
social do cidadão, garantindo níveis
básicos de serviços, estimulando a
interoperabilidade de tecnologias e de
redes.”
LIVRO VERDE
“Além disso, cabe ao governo
estimular e viabilizar a
participação de minorias sociais e
outros segmentos marginalizados,
os pequenos negócios, bem como
as organizações sem fins
lucrativos, de modo a que ...
possam ter acesso aos benefícios
que a sociedade da informação
possa proporcionar.”
LIVRO VERDE
Nesse contexto,
“... as políticas públicas podem
fazer a diferença [pois] a
sociedade da informação deve
assentar nos princípios da
igualdade de oportunidades,
participação e integração de todos,
o que só será possível se todos
tiverem acesso a uma quota parte
mínima dos novos serviços e
aplicações oferecidos.”
Assmann, 2000
“[A inclusão digital] tem
marcante dimensão social, em
virtude do seu elevado
potencial de promover a
integração, ao reduzir as
distâncias entre pessoas e
aumentar o nível de
informação [da população]”.
LIVRO VERDE
Além do acesso a computadores em
rede, inclusão
“significa capacitação para utilizar
estes meios e ..., principalmente,
a possibilidade de uma
incorporação ativa no processo
todo de produção,
compartilhamento e criação
cultural, os chamados ‘conteúdos’”
Lazarte, 2000
“A forma de ... proporcionar este acesso
deve estar integrada às condições
locais existentes, em termos de suas
organizações [e] referenciais culturais.
Centros de produção, criação e
compartilhamento cultural (e de acesso
à rede) devem estar integrados a
associações comunitárias, centros
religiosos, igrejas etc.”
Lazarte, 2000
Acrescentamos escolas.
ESPÍRITO SANTO e FREIRE, 2004
Pois
“As novas tecnologias da informação e
da comunicação já não são meros
instrumentos no sentido técnico
tradicional, mas feixes de
propriedades ativas.
São algo tecnologicamente novo e
diferente.”
Assmann, 2000
“As tecnologias tradicionais serviam
como instrumentos para aumentar
o alcance dos sentidos (braço,
visão, movimento etc.).
As novas ... tecnologias ampliam o
potencial cognitivo do ser humano
(cérebro/mente) e possibilitam
mixagens cognitivas complexas e
cooperativas.”
Assmann, 2000
É assim que
“Termos como ‘usuário’ já não
expressam bem essa relação
cooperativa entre ser humano e as
máquinas inteligentes. O papel
delas já não se limita à simples
configuração e formatação, ou, se
quiserem, ao enquadramento de
conjuntos complexos de
informação.”
Assmann, 2000
“Em resumo, as novas tecnologias
têm um papel ativo e
coestruturante nas formas do
aprender e do conhecer.
Há nisso ... uma incrível
multiplicação de chances
cognitivas, que convém não
desperdiçar, mas aproveitar ao
máximo.”
Assmann, 2000
Desafios na/da inclusão digital
“Existem poucos diagnósticos ... no
contexto brasileiro sobre ...
inclusão/exclusão digital. ... [E] a
discussão raramente envereda
pelo acesso às tecnologias pelo
lado do ... usuário pobre ...
É preciso desenvolver tecnologias
para o uso da tecnologia da
informação no combate à pobreza
e à desigualdade.”
NERI et al., 2003
Desafios na/da inclusão digital
“O verdadeiro desafio [é] criar
tecnologias, construir ferramentas
e sistemas mais eficazes, não só
para gerenciar informação, mas,
também para facilitar ao ser
humano a transformação da
informação em conhecimento e,
conseqüentemente, em ação na
sociedade.”
ARAUJO, 2001
Desafios na/da inclusão digital
Pois
“Se a informação é a mais poderosa
força de transformação do homem
[o] poder da informação, aliado
aos modernos meios de
comunicação de massa, tem
capacidade ilimitada de
transformar culturalmente [o
indivíduo], a sociedade e a própria
humanidade como um todo”.
ARAUJO, 2001
Desafios na/da inclusão digital
No Brasil,
“Já partimos de cerca de 70% de
pessoas analfabetas funcionais,
isto é, sem condição de ler uma
carta, entendê-la e respondê-la,
necessitando sempre do
personagem de Fernanda
Montenegro em Central do
Brasil.”
Sader, 2004
Desafios na/da inclusão digital
“O acesso à informação torna-se
um fator-chave na luta contra a
pobreza, a ignorância e a
exclusão social.
Por essa razão não se pode deixar
apenas nas mãos das forças do
mercado o cuidado de regular o
acesso aos conteúdos das
‘autovias da informação’”.
QUÉAU, 2001
Desafios na/da inclusão digital
“Pois são esses conteúdos que vão
tornar-se o desafio fundamental do
desenvolvimento humano nos
âmbitos da sociedade da
informação. O ciberespaço deve
permitir ... o acesso às
informações e aos conhecimentos
necessários para a educação e
para o desenvolvimento de todos
os homens. ...”
Quéau, 2001
O que, certamente representa
uma oportunidade histórica para
cientistas e profissionais da
informação trabalharem no
sentido de criar e desenvolver
modos e meios para inclusão
digital de populações social e
economicamente carentes, pari
passu com ações pela cidadania
e inclusão social.
Esta seria, a nosso ver, a nossa
parte na tarefa coletiva de
construir uma ‘sociedade em
rede’ democrática e justa:
transportar, nas asas da
[tecnologia] informação, o
conhecimento para todos
aqueles que dele necessitem,
no processo social (e vital) de
transformar sonhos em
realidade.
Freire, 2004
Grata pela presença e atenção.
Isa Maria Freire
www.isafreire.pro.br
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